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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Meu primeiro bacalhau, o segundo, o terceiro e o quarto também

Polenta, bacalhau à moda de Vicenza, e radicchio grelhado. NHAM.

Meu primeiro bacalhau à Gomes de Sá.

Noutro dia me dei conta de que nunca fizera bacalhau. NUNCA. E fiquei em choque. Porque bacalhau sempre foi comida da minha mãe. Primeiro, apenas na Páscoa, pois era muito caro. E por isso, era especial. Comida de festa. Pra muita gente, ainda é. Conforme as coisas melhoraram em casa, e minha mãe começou a preparar bacalhau com mais frequência, continuei gostando, mas confesso que perdeu um pouco a graça. Como se desse alcachofra o ano todo. Como comer panettone em junho. Ou tomar quentão em janeiro. Eu curto a sazonalidade das coisas, e para mim, bacalhau era aquela coisa de uma vez por ano, duas se déssemos sorte.

Daí, como minha mãe ainda fizesse bacalhau sempre e eu tivesse onde comê-lo, não me interessei muito em cozinhá-lo eu mesma.

Só que recentemente me deu um tilt, um incômodo, um comichão, de preparar bacalhau. Da mesma forma que anda me dando comichão de fazer pernil. E boeuf borguignon. E eu fico pensando na infinidade de coisas que eu nunca cozinhei na vida, e parece que não há vida bastante para cozinhar tudo.

Fui lá no mercadão, comprei um belo pedaço de bacalhau, voltei pra casa e me vi naquele impasse: o que é que eu preparo com isso agora? Era tanta receita diferente, que minha cabeça girou um pouquinho.

Fechei todos os livros, catei meu caderno e apanhei uma receitinha véia recortada de uma revista Gula antiga, e colada ali numa página qualquer havia milênios: bacalhau à Gomes de Sá. Afinal, sempre digo que é bom fazer o básico antes de sair atrás das invencionices.

E meu deus, como ficou gostoso. Eu lá, morrendo de medo de fazer alguma coisa errada com o bicho, e como é fácil esse prato. No entanto... descobri a duras penas que meu marido não gosta de bacalhau. Bacalhau pronto e ele: "mas eu não gosto de bacalhau". Nem as crianças, que só comeram as batatas.

Eu lá com aquele panelão-delícia para comer sozinha.

Dia seguinte, desfiei melhor o bacalhau, e virou frittata. Tão boa, tão boa, que cogito a possibilidade de fazer bacalhau de novo só pra botar ovo junto. E na frittata, todo mundo comeu o bacalhau. Até o marido, ainda que meio a contragosto.

Agora, sabendo do desafio de fazer algo que só eu gostava, tinha que dar fim logo ao pedação de bacalhau que ainda restava na geladeira.

O que escolhi fazer foi baccalà alla vicentina, uma receita italiana com a qual eu tinha uma história. Na primeira viagem à Itália, em Bologna, ainda meio que vegetariana (só comia peixe quando realmente não havia opção), finalmente encontrei um restaurante que servisse o que viria a se tornar minha massa recheada favorita: tortelli di zucca (tortelli de abóbora, com mostarda di cremona, amaretti e sálvia). Acontece que o restaurante era mais chique do que eu havia previsto, e quando pedi o prato, vieram 5 tortellezinhos do tamanho de uma noz. Que para a fome que eu estava, não dava para nada. Resolvi pedir um segundo prato. No meio de tanta carne, só havia ali bacalhau alla vicentina. Vai tu mesmo. E o que veio foi uma porção de polenta cremosa e o que parecia um purê de bacalhau por cima, com muito mais leite do que peixe, meio farinhento. Não sei dizer o que exatamente havia de errado no prato (além do fato de estar comendo em Bologna um prato de Vicenza); mas na primeira garfada, quase cuspi tudo. Era horrível. E eu lá, morrendo de fome, e gastando mais dinheiro naquele jantar do que eu gostaria. Dá-lhe vinho pra fazer descer aquele grude.

Não é a apresentação mais bonita que eu poderia fazer do prato. Mas tendo uma profusão de receitas do tal bacalhau com polenta, e sendo um prato clássico de uma cidade, eu estava era curiosa para ver se o negócio era mesmo terrível ou se o restaurante errara muito a mão, fazendo algo que não era da sua região.

Com certeza a segunda opção.

Pois bacalhau à moda de Vicenza é uma delícia. Ao menos esse. E completamente diferente daquele purê bizarro. O processo é mais fácil até do que o bacalhau à Gomes de Sá, ainda que parecido. E o peixe fica molhadinho, em lascas macias. Como disse a Tessa Kiros no livro, o bacalhau salgado combina maravilhosamente com a polenta doce e o amargo do radicchio grelhado. O radicchio, na minha opinião, levanta o prato como ninguém, e é crucial.

Desta vez, Thomas comeu o bacalhau. E a polenta. E, veja só, até o radicchio. Laura ficou mais na polenta mesmo. Allex comeu porque era o que tinha. Eu me deliciei. Repeti duas vezes, a gordinha.

E no dia seguinte, o que sobrou do bacalhau foi batido no processador com mais ou menos a mesma quantidade de batata cozida, com casca e tudo, e mais um punhado de salsinha, até virar um purê firme. Passei na farinha de rosca, fritei e servi os bolinhos de bacalhau (de chorar de bom) no almoço, junto com a sopinha de couve-flor e alho-poró da Bela Gil. Molecada devorou os bolinhos. Inclusive a Laura, que até então recusara o peixe.

Frittata de bacalhau e batata. Vale o esforço de preparar o bacalhau.

Um montão de receita aí, ó:

BACALHAU A GOMES DE SÁ:
(de Milu Palmela, publicada numa revista Gula)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1kg bacalhau deixado de molho por 2 dias na geladeira, trocando a água com frequência
  • 200ml azeite de oliva
  • 2 dentes de alho esmagados
  • 4 cebolas médias em rodelas
  • 1kg batatas lavadas e cozidas com a casca
  • 4 ovos cozidos duros
  • Leite quanto baste para cobrir o bacalhau
  • Azeitonas pretas a gosto
  • Salsinha picada para polvilhar
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Escorra o bacalhau, passe para uma panela grande e cubra com água fervente, fora do fogo. Tampe a panela, embrulhe num pano grosso e mantenha assim por 20 minutos.
  2. Escorra novamente, retire a pele e as espinhas, e desfaça em lascas. Passe para um recipiente fundo, cubra com leite quente e deixe em infusão de 1h30-2 horas. 
  3. Retire as cascas das batatas e corte em rodelas.
  4. Numa travessa que possa ir ao fogo e ao forno, coloque o óleo de oliva, alho e cebola. Leve ao fogo, e assim que as cebolas começarem a dourar, junte as batatas
  5. Distribua as lascas de bacalhau já escorridas, tempere com pimenta e sal.
  6. Leve ao forno quente por 15 minutos. Retire do forno, polvilhe com salsinha, distribua os ovos e as azeitonas e sirva bem quente. 

......

FRITTATA DE FORNO DE BACALHAU COM BATATAS
Rendimento: 4-6 pessoas
  • O que sobrou do bacalhau a gomes de sá (cerca de 3 xic.) (se sobrou pouco, pode completar com mais batatas cozidas e fatiadas)
  • 1 1/4 xic. creme de leite fresco
  • 7 ovos
  • sal e pimenta
  • azeite para untar a forma
  • um punhado de salsinha picada

Preparo:
  1. Misture tudo em uma tigela, coloque em uma assadeira untada de cerca de 20-30cm e leve ao forno a 200ºC por cerca de 40 minutos, até dourar.


......

BACCALÀ ALLA VICENTINA
(do lindo livro Venezia, de Tessa Kiros)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 700g bacalhau, deixado de molho por 2 dias na geladeira, água trocada com frequencia
  • farinha de trigo, para polvilhar
  • 5 colh. (sopa) azeite de oliva
  • 1 cebola grande, cortada em meias-luas finas
  • 2 dentes de alho picados
  • cerca de 6 filés de anchova conservados em óleo (alice) grandes, quebrados em pedaços
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 750ml leite


Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Escorra o bacalhau, e corte em pedaços de cerca de 4x5cm, descartando pele e espinhas. Disponha numa assadeira e polvilhe com farinha dos dois lados, chacoalhando para retirar o excesso. 
  2. Aqueça o azeite em uma travessa que possa ir ao fogo e ao forno (uso sempre o panelão baixo e verde da foto, que tem tampa), e refogue a cebola até que fique macia. Junte o alho. Quando perfumar, junte metade da anchova, amassando com uma colher de pau para dissolver. 
  3. Misture bem, junte a salsinha, e arranje os pedaços de bacalhau por cima, misturando com uma colher de pau, para que os temperos recubram o peixe. Adicione umas 2 ou 3 viradinhas do moedor de pimenta.
  4. Junte o leite, movendo os pedaços de peixe para que o leite escorra por baixo deles. Junte o resto da anchova. Cubra a travessa com papel alumínio (ou tampa, se houver) e leve ao forno. 
  5. Asse por 1 hora, então descubra a travessa e asse por mais 30 minutos, ou até que o bacalhau e a cebola tenham absorvido quase todo o líquido e haja uma crosta dourada por cima. (Se o leite talhar, como no meu caso, a aparência não vai ser das mais bonitas, mas o gosto é excelente.)
  6. Remova a panela do forno e deixe descansar alguns minutos, para que o peixe absorva mais líquido. Se ainda estiver muito cheio de líquido, volte para o forno desligado mais um pouco. 
  7. Sirva quente, acompanhado de polenta (mole ou grelhada) e radicchio grelhado (corte o radicchio em quartos no sentido do comprimento, tempere com sal, azeite e pimenta e disponha numa travessa refratária. Leve ao forno e asse até que esteja macio e quase chamuscadinho nas pontas.)





segunda-feira, 14 de abril de 2014

Linguado com espinafre e molho de tomate e meus livros de ilha deserta

Eu já fui melhor em tirar fotos antes do jantar com luz artificial de cozinha. :P
Meus livros de ilha deserta.
O país está desandando num passo tão rápido, que acho que não conheço um único brasileiro de classe média-mequetrefe (quem vos escreve inclusa) que não repita duas vezes ao dia que está na hora de fazer as malas e procurar outro lugar para morar. Discurso antigo, mas que anda tomando força entre quem eu conheço, e ando vendo muita gente de que gosto de fato juntando as coisas e indo embora.

A discussão aqui não é para ser política, isso é um blog de comida. O caso é que toda essa movimentação, é claro, faz a gente olhar em volta e pensar num grandessíssimo "E SE...".

E se eu saísse do Brasil?
Pra onde eu iria?
E as crianças?
E a escola das crianças?
E os avós?
E os meus amigos?
E o cachorro?
E a minha rotina?
E meu trabalho?
E o meu estúdio de pintura?
E a bateria do Allex?
E os meus livros de cozinha?

o_O

Sim, sim, e os meus livros de cozinha? Todos os... [pausa pra checar o número no Eat Your Books] 127 livros de cozinha que habitam desmazeladamente minha casa toda?

Porque não basta empacotar tudo e botar no mochilão. Custa caro levar tralha pra lá e pra cá. E ninguém garante que seu lugar novo vai comportar tudo o que você quer levar.

Ando vendo justamente minha cunhada e seu marido, que estão fazendo o caminho inverso e voltando para cá: como custa uma fortuna desmedida trazer um container de fora para o Brasil, eles tiveram de selecionar a dedo todos os seus pertences e decidir o que de fato era importante e o que poderiam vender ou deixar para trás... para que trouxessem apenas as malas de viagem. Um enorme exercício de desapego, mas que deve ter sido extremamente doído.

E fiquei matutando nisso, pois fora o material de arte, que é meu trabalho, eu não tenho de fato muita coisa. Aliás, depois das últimas rapas, percebi que não tenho praticamente nada além da mobília, das roupas e... dos livros. [Não adianta falar em Tablet, que eu realmente acho muito desconfortável ler nele, pois pesa, e por conta da sensibilidade da tela e de seu formato nada orgânico, meus dedos nunca ficam relaxados à volta dele, e uma vez lendo por meia hora no aparelho, os músculos de minhas mãos doem. Fora que, como Umberto Eco – a-ham... – eu gosto de rabiscar livros.] Dos romances, hoje em dia, acho que só levaria O Senhor Dos Anéis comigo para lá e para cá para sempre. Mas e os livros de cozinha??

Matuta, matuta.

Concluí que ainda que goste muito da minha coleção e que tenha fases de usar mais determinados livros do que outros, estou bem satisfeita com os que tenho, e, não apenas não sinto mais vontade de comprar novos [toda vez que estou fuçando na Amazon me refreio, pois vejo que não sinto mais aquela ilusão de "uau, se eu cozinhar isso, vou ter esse estilo de vida" e que não tem mais muita novidade por aí, na verdade], como também estou meio que pronta para me desfazer de uma parte deles. Mas calma, isso com o tempo. O problema é que, tendo espaço, sei que mandar alguns embora é querer trazer outros no lugar. Então deixa quieto.

Mas no fim das contas, desde que Laura nasceu, pego-me repetidamente abrindo os mesmos livros, atrás do mesmo tipo de prato, e ainda que às vezes eu apanhe algo de diferente num dia mais tranquilo, meus volumes de confiança são sempre os mesmos. No caso, os dois livros que mais desprezei quando abri pela primeira vez, achando que eram excessivamente simples ou derivativos. Acontece que... não.

O Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich, faz jus ao nome. E todos os bolos de aniversário (e de lanche da escola, e de terças-feiras) tem saído daí. Acho que se não fiz todos, falta um ou dois. Meu pudim de chocolate é o desse livro e ponto, porque é o mais simples de todos, mas que entrega complexidade como se eu estivesse usando mais ingredientes. E a panna cotta. Quando vi toda uma sessão "ensinando" a misturar frutas com iogurte, tive vontade de devolver o livro, julgando-me enganada. Até o dia em que fiz seu iogurte com purê de bananas, açúcar mascavo e cardamomo e comi tudo numa sentada só, mal dividindo com as crianças. É o livro de sobremesas que mais tenho usado nos últimos anos, e toda vez que escolho uma receita de outro livro, fuço nesse também para vez se há uma opção mais fácil. Baking com duas crianças pequenas, um trabalho e uma casa pra cuidar não é mole não e se eu puder fazer a receita toda metendo tudo no processador de uma vez só sem perder em qualidade, ah, eu vou.

Daí vem o Apples for Jam, da Tessa Kiros, que foi mais ou menos a mesma história. Como assim, receita de macarrão com  molho de tomate? E lasanha de tomate? E brownie de novo? E, jura?, arroz com ovo frito? Folheando o livro de primeira, você realmente acha que ele é excessivamente simples, básico, monótono. Acontece que... não. A lasanha de tomate tem o gosto da lasanha da minha avó, e virou clássico aqui em casa, com o queijo que tiver, de queijo Serrano até queijo prato de padaria, e sempre fica tão, tão bom. E o "soufflé loaf" de vagem. E os flanzinhos de cenoura e espinafre, que fiz à exaustão na época de papinha do Thomas, e que, quando eu via, o Allex tinha comido tudo. E o risotto branco com ovo frito e sálvia. E o pão de forma. E a focaccia, que já virou minha, de tantas vezes que fiz. E o purê de damascos. E os sorvetes. E a omelete de abobrinha. E as cenouras cremosas. E os croissantzinhos. E o pão de cacau. E o de farinhas integrais. E o gnocchi de beterraba. E o iogurte com laranja e leite condensado. E o iogurte com pecãs e romã. Os risotti, de legumes, de tomate, de espinafre com camarão, e a sopa de peixe. Nunca nada saiu menos do que "gostoso". Nunca nada dá errado. E sempre tem gosto de comida de mãe ou de avó.

A verdade é que me sinto assim com todos os seus livros (o Falling Cloudberries, o da Toscana, o da Grécia, o de Veneza...) mais do que com qualquer outro autor, e acho que se um dia saísse do Brasil, tentaria levar todos comigo, e seus novos seriam os únicos que continuaria comprando. Mas se só pudesse levar um, seria Apples for Jam. Pois ele tem receitas como essa, leves, deliciosas, e surpreendentemente fáceis de fazer, apesar de não parecerem à primeira vista.

Linguado enroladinho com espinafre e molho de tomate. Mesmo tendo feito o molho com tomates frescos, ainda foi fácil. Enrolar o peixe foi bico. Fiz tudo com antecedência, e quinze minutos antes da hora do jantar, esquentei o molho e cozinhei o peixe, que já estava enroladinho na geladeira. Servi com batatas fritas (como ela sugere) e arroz integral, pois eu só tinha três batatinhas minúsculas. Sucesso com todo mundo, até com o pequeno aniversariante do mês, que graças a deus, não está mais dodói e voltou a comer. "Nossa, gostoso, isso. Muito delicado!", foi o veredito do marido, que odeia "fishy fish".

E esses são, portanto, meus livros de ilha deserta, ou de mudar pra fora.

Não, eu não vou mudar pra fora. (Povo lê na diagonal e se confunde.)

Mas o exercício mental foi interessante. :)

ENROLADOS DE LINGUADO E ESPINAFRE COM MOLHO DE TOMATE
(do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 5 colh. (sopa) azeite
  • 2 dentes de alho, descascados e ligeiramente amassados
  • 1/2 lata de tomates italianos picados, ou 4-5 tomates frescos, bem maduros, picados
  • 2 raminhos de manjericão, rasgados
  • sal
  • 3 xic. folhas frescas de espinafre, firmemente apertadas na xícara (cerca de 1 maço pequeno)
  • 1/3 xic. queijo parmesão ralado
  • 8 filés pequenos de linguado, sem pele
  • farinha de trigo, para polvilhar
  • fatias de limão, para servir
  • palitos de dente para prender


Preparo:

  1. Aqueça 4 colh. (sopa0 de azeite e um dente de alho numa frigideira funda com tampa, que consiga acomodar posteriormente todos os rolinhos de peixe. Quando o alho começar a fritar, junte o tomate picado e o manjericão, tempere com um pouco de sal e deixe levantar fervura. Cozinhe em fogo baixo por dez minutos, amassando e mexendo às vezes com uma colher, até que forme um molho. Se começar a pegar na panela, ou secar, junte um pouquinho de água, só pra ajudar o tomate a se desmanchar. 
  2. Enquanto isso, em outra frigideira, aqueça o restante do azeite e o outro dente de alho. Junte o espinafre e cozinhe por alguns minutos até que murche e reduza o volume. Retire do fogo, retire o dente de alho, descartando-o, junte o parmesão e acerte o sal. 
  3. Coloque os filés de peixe na tábua, com a parte que costumava ter a pele virada para baixo. Coloque uma colher (chá) cheia de espinafre no centro de cada um. (Eu coloquei mais, depende do tamanho dos filés.)
  4. Enrole bem apertadinho e passe um palito de dente de um lado ao outro, prendendo firmemente a ponta.
  5. Passe os rolinhos cuidadosamente na farinha de trigo, cobrindo-os ligeiramente. 
  6. Acondicione os rolinhos na panela do molho de tomate já quente, em uma única camada. Polvilhe com um pouco de sal. 
  7. Coloque a tampa e cozinhe em fogo brando por 5 minutos. Destampe, vire os rolinhos cuidadosamente,  polvilhe com sal outra vez, tampe novamente e cozinhe por mais 5 minutos, até que o peixe esteja cozido (dá pra sentir o cheirinho dele cozido, mas é sempre bom testar um e ver se já está opaco por dentro.) Se o molho estiver secando muito antes do peixe ficar pronto, acrescente algumas colheres de água e deixe esquentar outra vez. Sirva com as fatias de limão. 



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cavalinha marinada com beterrabas e um blog


Buscando uma receita melhor de cream cheese caseiro na net, um site levando a outro, levando a mais outro, acabei por acaso no Tipsy Baker, um blog americano de culinária sem receitas. A autora percorre toda a sua enorme coleção de livros de culinária, preparando pratos e fazendo uma crítica ao volume, quase sempre bastante justa e frequentemente bem humorada. Além de uma leitura divertida, é uma boa referência (ainda que não uma palavra final) antes de decidir por comprar ou não determinado livro.

Foi muito interessante, no entanto, ler suas críticas a respeito de livros que também tenho. Fui obrigada a concordar com o que ela diz sobre os livros da David Tanis, que são lindos mas nem sempre práticos para o dia-a-dia. No entanto, enquanto ela não conseguiu encontrar nada ali que valesse o livro, para mim o que vale é a lembrança de que às vezes basta um punhado de uvas de sobremesa ou um belo pedaço de um bom queijo. Em meio a ingredientes caros e cardápios montados, uma ideia de simplicidade fica sobrevoando seus pensamentos.

Foi o A Platter of Figs que me ensinou a cozinhar ovos decentemente, com lindas gemas cor-de-laranja e cremosas, e minha receita favorita de repolho cozido saiu do Heart of The Artichoke. Isso é o bastante para mim.

O efeito mais intrigante de ler as críticas, contudo, foi a vontade que tive de abrir novamente alguns dos livros que andavam empoeirados na estante. Foi o caso de Tender, do Nigel Slater, que ela julga lindíssimo mas nada essencial. Mais informações botânicas do que eu gostaria de ter ao estar morando num apartamento onde não posso plantar aspargos. Mas indiscutivelmente um lindo livro.

Folheando novamente suas páginas, buscando os ingredientes sazonais que me esperavam na cozinha, procurei algo diferente para cozinhar. E encontrei essa receita de cavalinhas (mackerel) marinadas em uma espécie de picles rápido de beterraba. Pareceu suficientemente diferente, eu tinha todos os ingredientes menos o peixe, e era exatamente o tipo de receita estranha tipo "o que eu comi na terça-feria com o que encontrei na geladeira" que ela mencionara no blog.

E lá fui eu. Primeiro fiquei contentíssima por levar minhas cavalinhas já limpas e filetadas para casa por apenas seis reais. Que maravilha é comprar peixes baratos para variar. Então, chegando em casa, liguei o forno para assar minhas beterrabas. E, ao ler a receita mais atentamente... percebi que comeria peixe frio. Hmmmm... ok, então. Era para ser um prato de verão, que coincidentemente tem ingredientes também disponíveis no outono. Bom... peixe frio, então.

Quando o peixe foi para a frigideira, o aroma foi... forte. Bastante forte. A casa toda ficou com o inconfundível cheiro do porto de Santos. [Segundo me lembro do porto de Santos há muitos anos atrás. Se algum santista lendo isso me disser que não, o porto de Santos não tem mais cheiro de porto de Santos, acredito e peço desculpas, mas você há de entender o por quê da comparação e me desculpar também.] Cavalinhas são um fishy fish. Então se você acha que salmão já empesteia o bastante sua casa, ignore essa receita. Se você gosta de comer algo gostoso independente da puzza que fique impregnada nas suas cortinas, vá em frente. ;)

Por um instante suspirei de alívio por ter decidido preparar aquele prato apenas para mim, pois Allex não suporta peixes fortes. Enquanto isso, o aroma da marinada, aquele caldo ácido e cheio de legumes e temperos estava inebriante. Ao menos para alguém que gosta de picles.

Quando me servi do peixe frio, marinado, percebi que seu cheiro não estava mais forte. E seu sabor parecia incrivelmente equilibrado pela acidez do caldo e pela doçura dos legumes. Mesmo num dia frio, aquele "peixe com salada" estava delicioso, e foi apenas por amor que consegui forças para guardar pedacinhos da pele crocante do peixe para meu cachorro salivando ao meu lado.

Referências são boas, mas como se pode ver, não são palavras finais. :)

CAVALINHAS MARINADAS COM BETERRABSAS
Tempo de preparo: 1h para assar as beterrabas, 20 min. para o restante e 30 minutos para deixar esfriar e marinar.
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 4 beterrabas médias
  • 4 cavalinhas, limpas e filetadas e com pele
  • 50ml vinagre de sidra
  • 120ml suco de limão
  • 2 folhas de louro
  • 1 cenoura pequena fatiada bem fino
  • 1 cebola fatiada bem fino
  • 1 dente de alho pequeno, descascado e ligeiramente esmagado
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 1 colh. (chá) sementes de coentro
  • 12 bagos de zimbro
  •  5 bagos de pimenta-do-reino
  • 80ml azeite de oliva
(Obs: o autor usa também 5 bagos de pimenta-do-reino branca, e endro/dill fresco; omiti ambos e não fizeram falta.)

Preparo:
  1. Aqueça o forno a 200ºC, lave bem as beterrabas com casca e embrulhe em papel alumínio. Leve ao forno por uns 50 minutos, até que estejam macias.
  2. Abra o embrulho, deixe que esfriem o bastante para que consiga manipulá-las, retire-lhes a casca e corte-as em fatias redondas.
  3. Numa panela pequena, coloque o vinagre, o suco, a cenoura, a cebola, o alho, o açúcar, o zimbro, o coentro e 150ml de água. Leve à fervura. 
  4. Junte a pimenta e 1 colh. (chá) sal. Junte o azeite e deixe ferver em fogo baixo por um minuto ou dois, até que a cebola pareça macia. Desligue o fogo.
  5. Aqueça um fio de azeite numa frigideira bem grande. Tempere os filés de cavalinha com sal e pimenta-do-reino moída na hora, e coloque-os na frigideira, pele para baixo. Cozinhe em fogo médio-alto até que as peles estejam bem douradas e desgrudem fácil da frigideira. Vire os filés e cozinhe do outro lado até que dourem um pouco. 
  6. Retire e disponha numa travessa rasa. Junte as fatias de beterraba à marinada e despeja-a sobre os peixes. Deixe que esfriem. Sirva com uma salada de agrião e/ou pão preto com manteiga.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Torta de salmão e brócolis

Vira e mexe sou honesta comigo mesma, apanho todas as minhas revistas de culinária e as massacro, arrancando as páginas com as receitas que eu sei que, DE FATO, prepararei um dia, e jogando na reciclagem todo o restante. Não adianta fingir que vou preparar aquele bolo de treze camadas ou uma "espuma" de alguma coisa. [Aliás, levante a mão quem acha que "espumas" parecem cuspes no prato.] O melhor caminho para enxugar aquela prateleira abarrotada é mesmo a sinceridade. Revistas inteiras, guardo apenas as que realmente são forradas de receitas preparáveis, como as minhas Gourmet (já rasgadas, amassadas e manchadas, de tanto uso) e as do Jamie Oliver, que, confesso, guardo principalmente pela qualidade das fotografias, excelentes referências para desenhar.

As chacinadas, noutro dia, foram as francesas Saveurs. Depois de selecionar as receitas testadas e aprovadas [como o arroz doce, meu favorito até agora] e as que pretendo fazer um dia, separei todas por estação do ano e guardei-as num fichário, para fácil acesso. O que de fato contribui para essa limpeza é o fato de colocar na reciclagem todas as receitas com carne (exceto peixes e frutos do mar).

Esta torta, da sessão "Outono", estava me paquerando havia muito tempo, apenas aguardando um belo brócolis, um pouco de ricotta e uma quinta-feira para comprar peixe fresco. Nunca havia preparado uma torta com peixe, veja só, e estava apreensiva com o resultado. Mas ela ficou muito saborosa, substancial, perfeita para um almocinho em dia frio. O peixe cozinhou deliciosamente, e não sobrecarregou o restante da torta com sua "peixisse".

Como sempre acontece com receitas francesas, tive um problema com a temperatura do forno. Resolvi seguir à risca e assar a torta aos indicados 180ºC, mas, sendo mais alta que uma quiche, ela demorou o dobro do tempo para ficar pronta. Talvez seja o caso de aumentar a temperatura uma vez que esteja com o recheio dentro.

TORTA DE BRÓCOLIS E SALMÃO
(ligeiramente adaptado da revista francesa Saveurs)
Tempo de preparo: 2h
Rendimento: cerca de 8 porções

Ingredientes:
(massa)
  • 250g farinha de trigo orgânica
  • 1 colh. (sopa) sementes de papoula
  • 5g sal
  • 125g manteiga sem sal gelada
  • 1 gema
  • 50ml água gelada
(recheio)
  • 4 ovos orgânicos
  • 300g creme de leite fresco
  • 200g ricotta
  • 400g salmão fresco sem pele
  • 1 brócolis pequeno
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Numa tigela, misture a farinha, o sal e as sementes de papoula. Junte a manteiga em cubos e esfregue com as pontas dos dedos até obter uma farofa grossa. Junte a gema e a água e misture com um garfo até começar a formar uma massa. Amasse com as mãos, formando um disco, embrulhe em papel-alumínio e leve à geladeira por 30 minutos. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Abra a massa em uma superfície ligeiramente enfarinhada e forre uma forma de fundo removível de 23-25cm, de bordas altas. Fure o fundo com um garfo, forre a massa com papel-alumínio e cubra com feijões secos. Leve a base da torta ao forno por 30 minutos, removendo os feijões e o papel-alumínio no meio do tempo. 
  3. Enquanto isso, corte o brócolis em floretes pequenos e cozinhe por uns 2 minutos em água fervente com sal. Escorra e reserve. 
  4. Corte o salmão em pedaços de cerca de 2cm, tempere com sal e pimenta e reserve. 
  5. Numa tigela, misture os ovos, o creme de leite e a ricotta. Tempere com sal e pimenta.
  6. Retire a base de torta do forno e espalhe o brócolis e o salmão sobre ela. Cubra com o creme de ovos e leve ao forno por mais 45 minutos, ou até que o recheio esteja dourado e firme. Não se importe com alguns chamuscados nos floretes de brócolis. Sirva imediatamente.

domingo, 13 de março de 2011

Curry de peixe de raspar o prato

Faltam apenas dois dias úteis para minha "licença-maternidade"; assim, entre aspas, porque freelancer tirando licença é quase tão improvável quanto a promessa da Unilever de que se comprando a margarina deles diminue-se a quantidade de doenças cardíacas no mundo. [Aliás, como eles ainda não foram processados por essas campanhas mentirosas, eu ainda não sei.] De qualquer forma, ainda mais agora que temos quase certeza de que o bebê venha um pouco adiantado, não vejo a hora de ter uma semaninha – só uma já estaria bom – de assistir a filmes com pé pra cima e fazer docinhos.

Chega de trabalhar. Já deu.

O quarto do bebê está pronto, a mala da maternidade (finalmente) também, e meu freezer está abarrotado de sopa veneziana de feijão, penne gratinado com espinafre e abóbora, torta de verduras e queijo, burritos, pães integrais, cookies de aveia, bolo de ameixa, de banana, brownies... tudo pra tentar facilitar os momentos sonâmbulos por vir.

Mas independente do que anda acontecendo dentro do freezer, o que tenho tido vontade de comer AGORA são mesmo temperos asiáticos. Já preparei diversas vezes um soba de chá verde com cogumelos e pepinos apimentados, macarrão chinês com peixe grelhado e legumes, e ando maluca para ir comer em um restaurante tailandês que um amigo recomendou.

Quando voltei da feira com dois filés enormes de Namorado, não tinha muita ideia do que fazer com eles. Até entrar no site do Jamie Oliver para reclamar de duas revistas minhas que extraviaram [e que serão enviadas novamente, porque eles são uns fofos e nem colocaram a culpa no correio brasileiro, como normalmente outras empresas fazem] e dar de cara com um Keralan Fish Curry.

Hmmmmmmm....

Cuuuuuurryyyyyyy...

:)

Não deu outra. Seria um excelente prato para estrear a lata de leite de coco tailandês que eu comprara a preço de ouro na Bombay. Explico: fico enfurecida de sermos um país em que se produz tanto coco, e não termos uma desgraça de uma garrafinha de leite de coco que seja de verdade. Todas as marcas têm água como ingrediente principal e gomas e estabilizantes para engrossar o caldo que pouco coco têm. Quando peguei aquela lata de aço na mão e li "extrato de coco, água e ácido cítrico", fechei os olhos para o preço e mandei bala. Sinceramente? Vale cada centavo. A textura é de creme, e o gosto é sensacional: como se eu tivesse aberto um coco maduro e raspado a carne branca para comer. É fresco e delicioso! COMPLETAMENTE diferente da textura aguada e do retrogosto ligeiramente amargo das nossas garrafinhas brasileiras. O que me deixou ainda mais enfurecida.

Sei que posso fazer o leite de coco em casa, muita gente já me disse isso. Mas numa quinta-feira à noite, de supetão, quando não posso sair e comprar um coco fresco, é bom saber que existe uma alternativa que fique me esperando na despensa.

O prato é facílimo de fazer e, enquanto mexia a panela e experimentava o caldo espesso em torno do peixe, não conseguia acreditar em como aquilo estava delicioso! Quando raspei o último resquício do molho da tigela, fiquei triste por não ter feito uma porção maior, pois, contrariando toda a minha política culinária, deus! como queria ter repetido o prato! ;)

CURRY DE PEIXE
(porções adaptadas daqui)
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 2 porções

Ingredientes:
  • 2 filés grandes de namorado (ou outro peixe branco firme), sem pele, cortado em pedaços de 2,5cm
  • óleo vegetal
  • 1/4 colh. (chá) sementes de mostarda
  • 5 folhas de curry (encontradas na loja Bombay)
  • 1 cebola pequena, fatiada fino
  • 1 dente de alho, fatiado
  • 1 pedaço de 2cm de gengibre fresco, ralado
  • 1/2 pimenta chilli verde, sem sementes e picada (usei meio jalapeño)
  • 1/8 colh. (chá) pimenta caiena em pó
  • 1/4 colh. (chá) cúrcuma
  • 1/2 xic. leite de coco
  • 1/2 xic. tomates italianos em lata, com seu suco (amasse um pouco o conteúdo da lata, antes de medir e guarde o que sobrar na geladeira)
  • coentro fresco

Preparo:
  1. Aqueça um fio de óleo numa frigideira grande e junte as sementes de mostarda e as folhas de curry. Sem deixar queimar, espere que as sementes comecem a estourar. 
  2. Junte a cebola, o alho, o gengibre e o chilli e cozinhe em fogo médio-baixo, por uns 5 minutos, até que a cebola amoleça. 
  3. Misture a pimenta caiena e a cúrcuma em uma colherinha de água e junte à panela. Mexa tudo por 1 minuto e junte o peixe. Tempere com sal. 
  4. Junte o leite de coco e os tomates, misture muito bem, e cozinhe em fogo baixo, mexendo de vez em quando para não pegar no fundo, por 15-20 minutos, ou até que o peixe esteja cozido e o líquido, reduzido. 
  5. Acerte o tempero, polvilhe com bastante coentro picado e sirva com arroz basmati. (Ficou ótimo com arroz integral!)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Salada de grão-de-bico, atum e alcachofras

Os afazeres não terminam nunca. Há tantos pequenos reparos ainda a serem feitos no apartamento novo, e, ao mesmo tempo, tanto trabalho para entregar, que tem sido difícil incorporar tudo à nova rotina modificada por meus pés de melão. Tenho contado com a ajuda de minha mãe para correr para cima e para baixo, ao correio, ao supermercado, passeando o cachorro, pois nesse calor não posso dar dois passos fora de casa sem que minha pressão despenque. 

E o bebê não pára quieto na barriga, chutando e se movendo o tempo todo, tentando me lembrar de que preciso, de vez em quando, parar um pouco e descansar (mas quem consegue??).

No espírito vapt-vupt, na tentativa de conseguir quinze minutinhos para colocar os pés de melão para cima, passei no mercado e comprei uma latinha de atum em azeite de oliva e uma lata de grão-de-bico conservado apenas em água e sal. Apanhei uma receita de sanduíche de Giada di Laurentiis e transformei-a em salada. Misturei o grão-de-bico, o atum e alcachofras em conserva numa tigela. Juntei um pouco de azeitona preta picada, um dente de alho minúsculo bem picadinho, raspas e suco de limão, um punhadinho de folhas de hortelã, azeite e pimenta-do-reino. Rúcula teria sido bem-vinda, mas não havia nenhuma em casa. Usei minhas alcachofras em conserva, que, muito menorzinhas do que a receita pedia na época, acabaram meio molenguinhas do cozimento e excessivamente ácidas do vinagre. Ainda assim, a salada ficou ótima. Acompanhei-a de pés pra cima e um copão de suco de laranjas orgânicas recém-espremidas. 

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Spaghetti integral com salmão e espinafre e uma despensa revigorada

Quem passa por aqui há tempos sabe que o blog, assim como eu, caminhou em evolução constante, desde seu primeiro post até hoje. Não sou quem eu era há alguns anos atrás. Minha comida não é a mesma. Bem, apenas o que eu queria que tivesse mudado é o que continua: minha cozinhazinha pequena. O primeiro prato que preparei depois de casada, e pela primeira vez morando fora da casa de meus pais e me vendo na missão de não apenas cozinhar de domingo, ocasião especial, mas todos os dias, duas, até três vezes por dia, foi uma sopa japonesa simples, com macarrão, acelga chinesa, cogumelos shiimeji e cebolinhas. Aquela sopa foi feita com Miojo (sem o saquinho de tempero) e caldo de legumes em cubos.

Naquela época, eu já era um bocado frustrada com o desaparecimento de alguns gostos de infância, como o sorvete de morangos da Kibon, que costumava ter pedacinhos de morango e gosto... bem... de alguma coisa. A frustração do sorvete, aliada à viagem que eu acabara de fazer à Itália, onde pudera experimentar sorvete de verdade, com gosto dos da infância, fez com que eu começasse, muito devagar, a prestar atenção a ingredientes e buscar a relação qualidade/preço ao invés de quantidade/preço

Eu comprara minha primeira faca de chef [sem pretensões, o nome é esse mesmo], e passava um bom tempo prestando atenção aos movimentos das mãos de Jamie Oliver, num dos ainda pouco frequentes programas de culinária na TV. Não queria cortar cebolas como Nigella (ou minha mãe, meu deus!), devagar, com uma faquinha de frutas, quase cortando os dedos fora com a força desnecessária aplicada graças a um instrumento e técnica incorretos. Sabia que cozinhar me tomava mais tempo do que deveria, simplesmente porque algumas tarefas se arrastavam mais do o normal. Devagarinho, como quem aprende um instrumento musical, pratiquei. Adagio, para não cortar os dedos. E conforme acelerava o andamento, conforme a música se tornava familiar e eu já podia ler vários compassos à frente, o ato de preparar uma refeição foi se tornando mais prazeiroso, mais simples, mais fácil.

O tempo ganho na velocidade do mis-en-place diário me possibilitou, eventualmente, começar a abandonar alguns atalhos. Eu poderia preparar meus próprios quibes vegetarianos, ao invés de comprá-los prontos. Pois picar as cebolas, o alho, os cogumelos, a salsinha, não requereria de mim mais que poucos minutos. Mas preparar aqueles quibes todos os dias me parecia dar as costas a uma miríade de outros sabores apenas esperando para se revelarem a mim, e comecei a comprar e devorar livros de culinária como algumas mulheres compram sapatos. Era delicioso descobrir que mesmo alguns clássicos poderiam ser feitos de formas diferentes, e comecei a testá-los, um por um, buscando meus brownies favoritos, meus chocolate chip cookies favoritos, minha panna cotta, meu minestrone, minha polenta (a versão com leite, veneziana, é a favorita aqui em casa)...

Quanto mais lia e praticava, mais compreendia a ciência da cozinha e como as coisas funcionavam. Isso fez com que eu entendesse quais ingredientes devem ou não devem estar em um prato e por quê. E percebi que iogurte que não seja leite e fermento lácteo não é iogurte. Que queijos não devem ter corantes urucum e massas de sêmola de grano duro não devem ter mais absolutamente nenhum outro ingrediente a não ser... sêmolda de grano duro. A curiosidade que me levou aos livros, levou-me aos rótulos, e de repente minha frustração estava explicada, ao passo que me chocava ao me dar conta de que pagamos por comida mas não recebemos comida em troca.

Minha reação, ao contrário do que muitos pensam, não foi racional, mas visceral. Eu tinha verdadeiro nojo de determinados produtos vendidos como alimento, assim como deixara de comer nuggets de frango ainda na adolescência, quando eles começaram a apresentar pedaços de cartilagem não moída. Eu não escolhi parar de comer Bis. Eu não conseguia mais comer Bis. Não me parecia comida. Não era apetitoso.

Acostumada a acreditar que tudo na vida deve ser "super fácil" e "super rápido", porque todo mundo é "super ocupado", não foi fácil começar a encaixar em minha rotina alguns preparos que exigiam mais planejamento, como fazer meu próprio pão toda semana, ou lembrar de deixar os feijões de molho na noite anterior. Durante muito tempo, ainda apelava para produtos prontos, ainda que sem glutamato monossódico [que eventualmente descobri que me causava dores de cabeça], gomas e conservantes.

É difícil incorporar um novo hábito, mas uma vez instalado, ele se torna natural e parte de sua vida. E depois de quase cinco anos, num dia em que resolvi organizar minha despensa e rotular de caneta branca todos os potes de vidro, dei-me conta de que finalmente conseguira. Alcançara meu objetivo. Olhei para aquelas duas prateleiras de vidros rabiscados, e não pude deixar de sorrir orgulhosa. Na prateleira inferior, à esquerda, meu cesto de temperos, repleto de especiarias, ervas secas e pimentas. À direita, vidros com massas de sêmola de grano duro e algumas massas japonesas de que gosto, milho de pipoca orgânico, diferentes tipos de feijões, lentilhas, arroz basmati e arbóreo, cevada, aveia em grão, quinua, couscous marroquino, flocos de amaranto, mel, melaço de cana, tomates italianos em lata e açúcar orgânico. Na prateleira de cima, à esquerda, meu baú de confeitaria, com chocolate orgânico 60%, chocolate 99% de cacau, cacau em pó, bicarbonato de sódio, fermento químico e biológico seco, extrato natural de baunilha, matcha, lavanda, amido de milho, agar-agar, açúcar mascavo e tapioca. Ao lado, vidros com farinha de trigo orgânica, açúcar demerara e baunilhado, polenta, farinha de trigo sarraceno, farinha de farro, centeio e cevada.
Encantada com aquela despensa que jamais, durante toda a sua existência, fora tão absolutamente natural, abri a geladeira. Legumes e frutas frescas, leite, iogurte caseiro, queijos, anchovas, alcaparras, picles, mostarda de Dijon, pimentas variadas, shoyu, mirin, nam pla, maple syrup, óleo de nozes, manteiga de amendoim orgânica, geleia de laranja, gengibre em calda, farinha de castanha portuguesa, uvas passas, cramberries secas, castanha de cacau torrada e picada, ovos, manteiga, nozes, amêndoas, amendoim cru e castanhas de caju. Ali, escondido, meu pote de aparas, para o caldo de legumes da próxima semana. No freezer, caldo de legumes em porções de 500ml, gengibre, capim cidreira, alguns restos de vinho para usar em cozidos, sorvete de castanha portuguesa caseiro, biscoitos caseiros moídos esperando para virar base de torta, claras de ovos, caldo de kombu, framboesas e blueberries. Embaixo da pia, junto das panelas e protegidas da luz, garrafas de diversos vinagres, óleo de amendoim prensado a frio e gergelim, azeite extra-virgem, rum, conhaque e Marsala.

Olhei em volta. Para minha cozinha sem microondas, estranhamente silenciosa àquela hora do dia, o sol entrenuvens daquela tarde refletindo ligeiramente dourado. Pensei em minhas duas avós que já se foram. Que me inspiram tanto. Que me educaram tanto, sem saber, na arte de cozinhar com gosto, comida de verdade, para pessoas com quem me importo. Elas provavelmente ficariam curiosas ao dar de cara com quinua, nam pla ou masa harina. Mas saberiam preparar alguma boa gororoba com qualquer coisa que encontrassem aqui. A despeito do ketchup Heinz e do Toddy que meu marido não larga nem por decreto, estou orgulhosa e tenho certeza de que elas também ficariam.

É absolutamente possível viver sem depender dos produtos industrializados e de baixa qualidade de grandes multinacionais. Não só possível, como muito, muito melhor. O jantar de ontem foi uma coincidência, pois havia na despensa e na geladeira [e no vaso plantado na área de serviço, no caso do manjericão] todos os ingredientes para esta receita simplíssima de Giada di Laurentiis. E eu recomendo. Use spaghetti comum se não tiver o integral, e, se o espinafre estiver já muito adulto, de folhas grandes e espessas, como é no inverno [espinafre é melhor no outono e na primavera, quando é jovem e suas folhas são mais delicadas, melhores para serem comidas cruas], substitua por outra verdura crua semelhante, verde-escura e ligeiramente amarga. O spaghetti não é para ser comido como acompanhamento do salmão, mas sim, esse último deve ser gradualmente despedaçado durante a refeição e incorporado a cada garfada de massa e espinafre. Você pode mesmo despedaçar o salmão já grelhado e misturá-lo à massa antes de servir (nesse caso, retire a pele).

SPAGHETTI INTEGRAL COM SALMÃO E ESPINAFRE
(do livro Giada's Kitchen, de Giada di Laurentiis)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 400g spaghetti integral
  • 1 dente de alho, picado fino
  • 3 colh. (sopa) azeite extra-virgem
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/2 colh. (chá) pimenta do reino moída na hora
  • 4 filés de salmão de cerca de 120g cada
  • 1/4 xíc. manjericão fresco, rasgado com as mãos
  • 3 colh. (sopa) alcaparras
  • raspas de 1 limão (tahiti ou siciliano)
  • 2 colh. (sopa) suco de limão
  • 2 xic. espinafre baby/precoce (ou as menores folhas do maço)

Preparo:
  1. Coloque bastante água para ferver em uma panela grande. Quando ferver, salgue e coloque o spaghetti para cozinhar durante o tempo indicado na embalagem. Enquanto isso, coloque o alho, 2 colh. (sopa) do azeite, sal e pimenta em uma tigela grande.
  2. Tempere o salmão com sal, pimenta-do-reino e esfregue a colher de azeite restante nos filés. Coloque os filés uma frigideira grande, bem quente (cozinhe dois por vez, se a frigideira não for grande, para que eles não fiquem amontoados), pele para baixo, e cozinhe em fogo médio-alto até que o salmão mude de cor até a metade da altura. Reduza o fogo se a pele estiver queimando. O tempo vai depender da espessura do salmão (2-4 minutos, mais ou menos, mas guie-se sempre pela cor e não pelo tempo). Vire e cozinhe o outro lado. Remova da frigideira.
  3. Escorra o spaghetti e misture-o ao conteúdo da tigela. Junte o manjericão, o espinafre, as alcaparras, raspa e suco de limão e misture bem com a ajuda de dois garfos. Distribua em quatro pratos e coloque os filés de salmão em cima. Sirva imediatamente.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Linguado com beterrabas e molho de raiz forte

Esse linguado é um excelente prato para esse inverno ameno em que estamos. É leve, mas não o deixa com fome; apenas aquele saudável apetite por uma sobremesa para encerrar a refeição. E a combinação é maravilhosa. O peixe, depois de ter marinado por uma noite inteira, ficou saborosíssimo. A doçura das beterrabas, amargor da rúcula, a gordura do creme e o ardido da raiz forte se complementam tão bem que será um pecado deixar qualquer desses ingredientes de fora.

Vivo brigando com o marido, no entanto, quando sirvo pratos assim, empilhadinhos. Já lhe disse várias vezes que quando o prato vem empilhado, a intenção é que se coma de todas as camadas em uma só garfada, pois é a combinação de tudo que faz o prato. Mas ele insiste em comer primeiro sua parte favorita e deixar o monte de folhas para comer por último, sozinhas e sem graça. :P Um dia ele me ouve...

LINGUADO COM RÚCULA, BETERRABAS ASSADAS E MOLHO DE RAIZ FORTE
(Ligeiramente adaptado do livro Sunday Suppers at Lucques, de Suzanne Goin)
Tempo de preparo: 1 hora (+ 4 horas para o peixe marinar)
Rendimento: 2 porções

Ingredientes: 
  • 2 filés de linguado
  • raspas de 1 limão
  • 1/2 colh. (sopa) folhas de tomilho (frescas ou secas)
  • 1 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 colh. (sopa) azeite extra-virgem
  • dois punhados generosos de rúcula
(beterrabas e molho)
  • 2-6 beterrabas, dependendo do tamanho, com parte de seus talos (eu gosto das pequeninas)
  • 3 colh.(sopa) azeite extra-virgem
  • 1 colh. (sopa) cebola picada + 1/4 xic. cebola fatiada fino, em meias-luas
  • 1 colh. (chá) vinagre balsâmico
  • 2 colh. (chá) vinagre de vinho tinto
  • 1 colh. (chá) suco de limão
  • 1/4 xic. creme de leite fresco (ou iogurte integral caseiro, se não tiver o creme à mão)
  • 1/2 colh. (sopa) rasa de raiz forte em conserva (raiz forte ralada conservada em vinagre)
  • sal e pimenta-do-reino a gosto

Preparo:
  1. Tempere o peixe com as raspas de limão, o tomilho e a salsinha. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 4 horas ou durante a noite. Remova o peixe da geladeira 15 minutos antes de cozinhá-lo, para que volte à temperatura ambiente.
  2. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Limpe as beterrabas de qualquer resquício de terra e coloque em uma assadeira. Tempere com um fio de azeite e sal. Espirre um pouco de água na assadeira, para que crie vapor depois, cubra firmemente com papel-alumínio e leve ao forno por cerca de 40 minutos (mais ou menos dependendo do tamanho das beterrabas), até que sejam facilmente perfuradas por um garfo.
  3. Enquanto isso, misture a cebola picada, os vinagres, metade do suco de limão e uma pitada de sal em uma tigelinha e deixe descansar por 5 minutos. Junte o azeite e experimente, acertando o tempero.
  4. Em outra tigela, misture o creme de leite, a raiz forte, o restante do suco de limão, sal e pimenta-do-reino. Experimente e acerte o tempero.
  5. Retire as beterrabas do forno e deixe que esfriem um pouco. Quando conseguir manipulá-las, retire a casca com os dedos. Corte as beterrabas em quartos ou fatias de 1cm de espessura, se elas forem maiores. Misture as beterrabas ao vinaigrette. 
  6. Aqueça o azeite em uma frigideira grande. Tempere o peixe com sal e pimenta e coloque cuidadosamente os dois filés lado a lado na frigideira (ou um de cada vez, se a panela não for grande o bastante).  Cozinhe em fogo médio-alto por 3-4 minutos, até que esteja dourado. Vire cuidadosamente com uma espátula e cozinhe o outro lado, agora em fogo médio-baixo, por alguns minutos, até dourar. 
  7. Enquanto isso, arranje uma porção de rúcula em cada prato. Distribua as beterrabas sobre a rúcula e tempere com metade do creme de raiz forte. Retire o peixe do fogo, coloque-o sobre as beterrabas e distribua o restante do creme sobre ele. Tempere com um fio de azeite e uma espremidinha de limão e sirva imediatamente.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Salada de St. Peter, abacate e radicchio, e ah, se arrependimento matasse...

Estou numa corrida para acabar com a comida da geladeira antes de ir viajar, semana que vem. A viagem é curta, mas não quero nenhuma laranja peluda me esperando na volta. Fora que sempre me dá uma sensação de leveza em ver a geladeira e a despensa vazia. Parece um novo começo. Eu sei, não bato bem.

Com meio abacate e 1/4 de radicchio aguardando seu momento, saltitei até a feira para comprar o elemento ausente: peixe. A promessa da Gourmet de que a cremosidade amanteigada do abacate complementaria maravilhosamente a robustez de um bom peixe grelhado me encantou.

Chegando na feira, no entanto, o homem simpático, cujo nome sempre esqueço de perguntar [eu dou dessas gafes sociais de vez em quando, só perdoadas porque sou sempre sorridente e gentil com meus fornecedores], informou-me que as cavalas que eu procurava haviam acabado. Só havia cavalinhas, para serem abertas estilo "borboleta" e não filetadas. Oh, well... Fazer o quê? Sempre confio muito em suas sugestões, então perguntei-lhe qual seria a melhor substituição para as cavalas, dado o prato que eu pretendia preparar. Anchovas, respondeu ele. Busquei-as com os olhos, mas as anchovas, por sua vez, estavam grandes demais. Este mingau está muito frio. Este mingau está quente demais. Que tal o St. Peter? Este mingau está na temperatura perfeita! O St. Peter é sempre meu peixe-salvação.

Enquanto o pirata lá atrás limpava o peixe e tirava os filés com movimentos violentos mas precisos, fiquei jogando conversa fora. Falamos das anchovas, das corvinas, das sardinhas, e o peixeiro me disse que acabara de comer sardinhas escabeche e caldo de piranhas. Que apesar de trabalhar há décadas com peixes, era a primeira vez que tomava o caldo de piranha, e achara delicioso.

"Nossa, mas você comeu peixe agora de manhã??", perguntei. "Você deve acordar cedo, para já estar almoçando..." Eram apenas 9h30.
"Ah, sim. Acordo todos os dias à 1 da manhã, para ir pegar o peixe, montar a banca da feira..."
"Caramba! Então às 5 da tarde já deve estar caindo de sono!"
"É, às 6 já estou dormindo."
"Ah, por isso o peixinho a essa hora..."
"É! Está ali atrás!", disse, apontando para uma panela de pressão ainda fumegante. "Quer experimentar o caldo?"
"Não, obrigada", recusei, ainda empanturrada do bolo de maçãs que levara para o pessoal da corrida.

Os filés ficaram prontos, paguei por eles, despedi-me e fui para casa. No meio do caminho, tudo em que podia pensar era aquele caldo de piranhas, e me senti uma tremenda idiota por tê-lo recusado. Tive de me conter para não girar sobre os calcanhares e pedir uma nova chance de experimentar.

Pelo menos a promessa da Gourmet mostrou-se a mais pura verdade. O peixe e o abacate parecem feitos um para o outro.

SALADA DE ST. PETER, ABACATE E RADICCHIO
(da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 6 filés de St. Peter, Cavala ou Anchova, de cerca de 110-140g cada
  • 1/3 xic. + 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra-virgem
  • 2 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 colh. (sopa) mostarda de Dijon
  • 1 radicchio médio, folhas rasgadas
  • 2 colh. (sopa) salsinha fresca picada
  • 1 abacate médio, descascado e fatiado

Preparo:
  1. Pré-aqueça o grill do forno e posicione a grade na parte superior do forno (ou, se não tiver grill, apenas grelhe os filés numa frigideira bem quente).
  2. Faça vários cortes diagonais na pele do peixe (vocês vão notar que eu esqueci de pedir para deixarem a pele), c/ uns 2cm de distância entre eles. Tempere com sal e esfregue as 2 colh. (sopa) de azeite nos filés. 
  3. Coloque os peixes, pele para cima, em uma assadeira e leve ao forno por cerca de 7 minutos, até que esteja apenas cozido por igual e a pele esteja crocante e dourada em alguns pontos. 
  4. Enquanto isso, misture o restante do azeite, o suco de limão, a mostarda, 1/4 colh. (chá) sal e pimenta-do-reino moída na hora em uma tigela grande. Reserve 2 colh. (sopa) do vinaigrette em um outro potinho, e misture ao vinaigrette restante a salsinha e o radicchio, encobrindo bem as folhas.
  5. Sirva as folhas nos pratos, distribua por cima as fatias de abacate e os filés de peixe, e tempere com o vinaigrette restante.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 9: atum em conserva

Por que alguém quereria fazer sua própria conserva de atum, quando pode comprar a latinha pronta e mais barata no supermecado? Porque essa é uma conserva de atum como nenhuma outra: o peixe fica absolutamente macio e úmido, em comparação com as versões ressecadas de supermercado. Fiquei muito surpresa com o sabor e a textura do atum preparado assim, e é tudo tão incrivelmente fácil...

Em termos de preço, a coisa complica um pouco. Tudo vai depender de onde você compra seu pedaço de atum e em que pote você o guarda depois, pois é o tamanho do pote que vai determinar quanto azeite você vai usar. Quanto mais apertadinho estiver o peixe dentro do pote, menos azeite é usado e mais barato fica. Também não se pode comparar o preço desta conserva com as latas comuns, em que o atum é conservado em "óleo comestível". Aliás, detesto esse termo. Poderia ser mais genérico??? Comparado com algumas marcas de atum em lata italianas e portuguesas, em que o peixe é conservado em azeite de oliva, com certeza sai mais em conta.

Esta receita é uma conserva de geladeira. Porque carnes em conserva em geral devem passar por pressão para selar vidros ou latas e garantir uma temperatura alta o suficiente para matar qualquer porcaria que possa... bem... matar você depois. Na geladeira dura menos (duas semanas) mas é completamente seguro. Na minha casa, no entanto, não durou uma semana, pois o atum estava tão bom que o comi todos os dias.

CONSERVA DE ATUM (de geladeira)
(do livro A16 Food + Wine)
Tempo de preparo: 2h30
Rendimento: 2 xíc.


Ingredientes:
  • 450-500g posta de atum fresco, com uns 3-5cm de espessura
  • sal grosso
  • 1/2 bulbo de funcho, cortado ao meio
  • 1/2 cebola vermelha
  • 1 talo de salsão
  • 3 dentes de alho
  • 1 limão, cortado ao meio (siciliano, de preferência)
  • 1 folha de louro
  • 1 colh. (sopa) de pimenta-do-reino inteira (as bolinhas)
  • Azeite de oliva extra-virgem

Preparo:
  1. Tempere generosamente o atum com o sal, em todos os lados. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 2 horas e no máximo 1 dia.
  2. Numa panela média, misture o funcho, cebola, salsão, alho, limão, louro e pimenta, e coloque água suficiente para cobrir tudo, uns 5cm.
  3. Leve à fervura branda em fogo médio e delicadamente baixe a posta de atum inteira na água. Ajuste o fogo para que a água ferva o mais brandamente possível, para que o atum não se despedace e fique duro, e cozinhe por 8 minutos (ou até 15, se estiver usando um pedaço muito espesso), até que fique entre "no ponto" e "bem passado". O peixe ficará mais firme e a cor mudará de vermelho para acinzentado por fora, e ligeiramente rosado no centro (cheque afastando a carne com a ponta de uma faca).
  4. Com uma escumadeira, retire o atum com cuidado e coloque em um prato limpo. Descarte o líquido de cozimento. Verifique se o atum tem qualquer ponto escuro de sangue e retire-os. Cubra com um pano de prato limpo e úmido e deixe chegar à temperatura ambiente.
  5. Quando o atum estiver frio, experimente um pedacinho. Se estiver sem gosto, tempere com sal. Coloque o atum num recipiente com tampa, o menor possível (pense em como o atum vem apertado nas latas) e cubra com azeite. Tampe e leve à geladeira.
  6. Para usar o atum, retire a quantidade desejada de peixe e raspe o excesso de óleo com uma faquinha (o azeite solidifica na geladeira e fica esbranquiçado, isso é normal e não altera o gosto). Tenha certeza de que o restante do atum continua submerso em azeite antes de voltá-lo à geladeira. Dura 2 semanas.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vermelho assado em molho de tomate

Uma das coisas de que mais gosto no hábito de ir à feira é estabelecer uma relação de confiança com as pessoas que lhe vendem sua comida. Coisa mais difícil de se fazer em determinados supermercados, em que os postos de trabalho são rotativos e ninguém se lembra de que você esteve lá ainda no dia anterior. Um vendedor me ganha normalmente quando ousa falar mal do próprio produto: "Não leve esse brócolis não, que está feio, vou pegar outro em outra banca" ou "A anchova não está nada boa hoje; posso recomendar algo melhor e mais barato?" Quando você entende que pode confiar naquela pessoa atrás da bancada é a melhor coisa do mundo. E agradável é também voltar duas semanas depois (pois como gosto de muita variedade, os legumes acabam durando duas semanas), e o vendedor perguntar se você gostou daquela variedade de mostarda que você nunca provara antes de ele recomendar, ou se aquele peixe assado inteiro deu certo, ou se experimentou a receita dos feijões-de-corda.

Ando gostando de conversar com meu novo peixeiro. Descendente de japoneses, simpático e prestativo, ele me ensina qual peixe usar para a receita que descrevi e sai dando seus pitacos e me repreendendo quando estou prestes a fazer bobagem, o que acho muito engraçado. Foi ele quem sugeriu o uso do Vermelho para esta receita que apenas pedia por "peixe branco firme".

"Nunca comi Vermelho. É bom?"
"É sim. Eu gosto muito."
"Mas ele vai bem com molho de tomate?"
"Vai sim, ele não é suave o suficiente para sumir no molho."
"Você deixa ele preparadinho para mim, só para que eu corte do tamanho certo?"
"Claro, mas vou deixar a pele."
"Não, não precisa, é tipo ensopado."
"Confie em mim, vou deixar a pele. É gostosa!"
"Então tá, né..."

Enquanto converso com ele, um homem mais velho, cabelos brancos na cabeça e nos antebraços, cigarro pendendo do canto dos lábios, abre o peixe inteiro, limpa, retira as escamas, fileta. Ele se movimenta rápida e violentamente com o facão enorme e suas feições me fazem pensar num marinheiro velho de histórias infantis, envolvido em pirataria.

O Vermelho funcionou lindamente nessa receita de Tessa Kiros, que quis preparar assim que comprei o livro. Ela pedia 1kg de filés, o que deve dar o dobro do que usei, mas mantive a mesma quantidade de molho, pois molho de tomate nunca é demais. ;) Parecia perfeito para uma noite quente. O peixe se desmanchando num molho espesso de tomates, limão siciliano e alho, para ser comido aos bocadinhos, usando belos nacos de pão italiano como talheres, e acompanhado de uma cerveja gelada e refrescante. O tipo de refeição que arranca você de repente da cidade cinza e o transporta para qualquer lugar de areia branca, brisa fresca e salgada, sussurros das ondas tocando suas orelhas.

VERMELHO ASSADO COM TOMATES
(quase nada adaptado do livro Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 10 min. + 1h-1h10 de forno
Rendimento: 4 porções se houver acompanhamento, 2-3 se for prato único, com pão


Ingredientes:
  • 2 filés com pele e sem espinhas, de um Vermelho de 1,25kg (pesado inteiro - não pesei os filés)
  • 1 lata de tomates italianos sem pele
  • 1 punhado de salsinha fresca picada
  • 4 dentes de alho grandes, picados
  • suco de 2 limões sicilianos
  • 1 1/2 xic. salsão picado
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Corte os filés em pedaços de 7cm de largura e os distribua em uma única camada em uma travessa grande refratária, assadeira ou caçarola baixa que vá ao forno.
  2. Em uma tigela, misture todos os outros ingredientes e esmague os tomates com um garfo. Acerte o tempero.
  3. Despeje o molho sobre os peixes e dê uma sacudidela na travessa, para que o molho se espalhe e cubra todos os pedaços de peixe. Cubra com papel alumínio e leve ao forno por 30 minutos.
  4. Retire o papel alumínio, aumente o fogo para 200ºC e asse por mais uns 40 minutos, até que o molho tenha engrossado e o peixe pareça dourado em alguns pontos. Fique de olho para que não fique tão espesso a ponto de queimar o molho (35 minutos foram suficientes no meu forno).
  5. Sirva com mais um fio de azeite e pão com crosta para acompanhar. (A autora diz que fica muito bom frio, também, mesmo direto da geladeira. Vamos ver, pois sobrou um punhadinho que está lá na geladeira...)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fettuccine com atum, beterrabas e radicchio

Depois de um almoço muito leve, minha lombriga pedia alguma coisa mais encorpada para o jantar de ontem. Apanhei um livro que andava há muito tempo encostado na prateleira, tendo sido muito folheado mas jamais usado, e fui direto em uma receita que usava todos os ingredientes que eu tinha na geladeira. O prato é muito fácil e ficou surpreendentemente saboroso; todos os elementos combinaram divinamente! (Deve dar uma ótima salada, aliás...)

Enquanto seu macarrão cozinha (uns 150g de pappardelle, fettuccine ou tagliatelle), derreta uma colher de manteiga numa frigideira grande, polvilhe com bastante pimenta-do-reino moída na hora e coloque um bife de atum de uns 150g para grelhar, uns 2 minutos de cada lado, em fogo médio-alto. Não se incomode se a manteiga escurecer um pouco, só não deixe queimar. Retire o peixe para a tábua de corte.

Derreta na mesma frigideira mais uma colher de manteiga, acrescente o suco de meio limão e umas duas colheres (sopa) de vinagre balsâmico, e junte meio radicchio pequeno cortado em pedaços menores e 1 beterraba pequena cortada em oitavos (eu deixo a casca, que é fininha nas beterrabas menores). Tempere com sal e pimenta e cozinhe até amaciar ligeiramente a beterraba e murchar o radicchio. Enquanto isso, fatie fino o atum.

Escorra a massa, misture à beterraba, radicchio e ao molho xaroposo que ficou na frigideira e disponha o atum por cima. Sirva imediatamente. Dá 2 porções. Mas confesso que comi as duas sozinha! Há! ;)

A receita é do livro Saturdays & Sundays - Seasonal Weekend Menus, de Kay Francis.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Salada quente de atum e favas

Antes que eu me esqueça: obrigada a todos que me mandaram parabéns! :D

Trinta anos. *Suspiro.* Trinta anos e continuo cometendo os mesmos erros, over and over again. Isso de ser uma mera humana é um saco. Eu bem que podia ser um ser místico e fantástico que aprende e muda logo no primeiro erro. Assim eu não precisaria chegar aos trinta anos e escrever de novo sobre a mesma coisa no meu blog. De novo. E de novo. Houve quem tenha se surpreendido no post anterior ao ver que eu colocara Coca-cola no bolo. Refrigerante? Na casa da Ana? *Suspiro de novo.* Pois é. O bolo, assim como o quiche de brócolis, tinha todo um aspecto irônico para mim. Mas de um outro modo. Como uma lembrança para relaxar a bisteca um pouco. Porque eu tanto falo sobre comida de verdade, o nojinho de alguns produtos industrializados e tudo o mais, que acabei criando uma bela duma cama de gato, na qual vez ou outra me vejo irremediavelmente emaranhada.

Não, eu não como pão de forma de pacote. Mas faz já uns dois meses que não faço pão em casa. AAAAh! O choque! O horror! Pois é. Nos últimos tempos ando meio enjoada de fazer pão, e os que fiz assim, sem vontade, ficaram ruins. Porque eu posso cozinhar de braços quebrados, mas não sem vontade. Não, eu não tomo refrigerante regularmente. Mas em dias de ressaca, ou quando o marido é quem pede a pizza e eu não vejo o que ele está fazendo, o danado aparece aqui em casa. No dia-a-dia, prefiro água. Inclusive prefiro água à suco de fruta, natural ou o que for.

O caso é que entrei numa paranóia ferrenha por causa do blog. Cada vez que saio do mercado com uma baguette, acho que vou encontrar alguém conhecido (ou um leitor, como já aconteceu) e pronto, eu serei uma fraude. "Você está COMPRANDO o seu pão???", apontará o transeunte, inconformado e acusador. Se eu quiser manter minha sanidade mental, eu PRECISO relaxar um pouco. Comprar meu pãozinho do Le Vin, que eu tanto gosto, e tomar meu café-da-manhã sem pensar que alguém pode estar olhando e julgando cada passo meu. "Isso não é orgânico? Isso não é natural? Não foi você quem fez??"

Agora, se você esperava que eu confessasse amor por algum chocolate que não deveria se chamar chocolate, ou algum biscoito de pacote, dançou nessa. Para mim, não comer essas coisas não é idealismo, é ter paladar. ;)

Dentro do tópico "relaxar", eu pretendia colocar aqui uma receita muito simples, daquelas com cara de gororoba, mas que dão vontade de comer todo dia, principalmente quando você teve um dia cheio de trabalho. Mas meu almoço ficou tão gostoso, que eu deixo para postar a tal gororoba amanhã. Já havia preparado uma receita semelhante, do Jamie Oliver, do livro Cook With Jamie. Era atum grelhado, com favas, ervilhas e óleo de orégano fresco. No entanto, ela não tinha ficado lá muito saborosa, principalmente por ter usado orégano seco, que não liberou aromas como deveria. Hoje foi dia de feira, e saí de lá com alguns filés de tilápia, um belo bife de atum, aspargos, favas frescas, alcachofras, beterrabas e abobrinhas. Sempre levo minha lista do que está na época no mês, mas nunca tenho um cardápio semanal em mente. Vou comprando de acordo com o que está mais bonito e apetitoso. E assim que cheguei em casa e comecei a debulhar as favas, lembrei-me da receita do Jamie, e resolvi mudá-la um pouco de acordo com o que eu tinha.

Debulhei meio quilo das favas (que dão cerca de 1 xíc. de favas descascadas), mergulhei-as em água fervente por uns 2 minutos e escorri, descascando-as para usar apenas seus miolinhos verde-intensos (as cascas costumam ser duras, a não ser que as favas sejam pequeninas como feijões). Num pilão, amassei um dente de alho bem pequeno com um pouco de sal grosso, e juntei um punhado de folhas de manjericão e outro de hortelã frescos. Amassei bem e juntei azeite suficiente para formar um molhinho ralo. Acertei o sal e a pimenta. Apanhei meu bife de atum, e o cortei numa porção menor, de 150g, mantendo sua altura de uns 2,5cm. Temperei-o com sal e pimenta, esquentei bem um fio de azeite numa frigideira e grelhei o peixe, em fogo médio-alto, cerca de 2 minutos de cada lado. Voltei-o para a tábua e o fatiei. Misturei as favas cozidas e descascadas a uma parte do molho, dispus no prato, colocando o atum fatiado por cima e derramei o restante do molho. Booooom... :)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ceviche de tilápia e tortillas de milho

Tudo corrido. Tudo muito corrido. Foi parar cinco minutos e abrir o tubo de tinta acrílica para um projeto pessoal, que pronto: entra trabalho novo. Bem... graças a Deus, certo? Trabalho é sempre bem-vindo. Nesta semana, no entanto, faltou-me paciência para fotografar os poucos pratos que cozinhei e os poucos fotografados não me inspiraram texto nenhum. Então hoje, enquanto espero um cliente responder-me sobre um trabalho, plim! Inspiração. Para cozinhar e para escrever.

Quem lê minhas bobagens há tempos sabe da saga do peixe de supermercado, do "fishy fish", do excesso de açougues mas ausência inexplicável de peixarias no meu bairro, da descoberta de uma boa peixaria que entrega em casa e, enfim, da quantidade enorme de peixes que consumi durante os meses de dieta, confundindo badejo com robalo e por aí vai. Muitos de vocês (principalmente os que moram nas redondezas) me aconselharam a comprar peixe na feira. Mas eu tinha um enorme pé atrás pela experiência negativa de minha mãe, tendo comprado peixe com gosto de iodo, e por não saber qual banca escolher. Eu me arrisco com alfaces, mas não com frutos do mar.

Então conheci em minha aula de aquarela Ludivine, uma moça francesa, pequenina e muito simpática, que, por acaso, mora aqui do lado. Conversa vai, conversa vem, comida aqui, comida ali, entramos no mérito dos peixes e ela me diz que costumava comprar na mesma peixaria que eu, mas que agora mudara para uma banca da feira do bairro, muito boa e que entrega em casa. Ah! Uma indicação específica, com nomes e tudo o mais! Agora sim.

Ontem fiquei contentinha, olhando os peixes inteiros ali esparramados no gelo, e pensando "olá, dona Tilápia! Não sabia que você era dessa cor! Oi, senhor Bacalhau Fresco. Será que o senhor é aquele mesmo black cod que comi em San Francisco? Muito prazer, senhora Corvina." Como havia levado pouco dinheiro, escolhi duas tilápias, pedi que filetassem para mim e levei para casa, feliz e contente.

Talvez tenha sido o bar da noite anterior. Mas hoje acordei com uma vontade imensa de comer ceviche. Olhei para o peixe na geladeira. Ceviche de tilápia? Será que fica bom? A tilápia não é um "fishy fish", então deve ficar bem suave. Hmmm...

Eu sei que na última vez que coloquei um ceviche aqui foi uma polêmica só. Pior que isso, acho que só quando fiz a piada dos alemães com as batatas e os repolhos. O que foi lindo, porque quem fez a receita chamou de "ceviche" foi Gordon Ramsay, e quem tomou bordoada fui eu... :P

O caso é... todo episódio de Top Chef tem pelo menos um ceviche sendo feito, e, assim como aconteceu com outros pratos típicos da culinária mundial, a palavra "ceviche" acabou virando sinônimo de "peixe cru cozido em suco de frutas cítricas". E a partir daí a imaginação é o limite. Ou seja, a intenção não é fazer nada autêntico de lugar nenhum. Apenas tentei me lembrar dos gostos e cores dos ceviches que já comi na vida e fiz o que tinha vontade de fazer.

Está claro?

No hate mail?

Ok.

Continuando.

Cortei dois filés de tilápia em pedaços de uns 2cm, e misturei em uma tigela a um punhado de salsinha picada [queria usar coentro, mas não tinha], 1/4 cebola roxa fatiada bem fininho, meia pimenta ardida, um dente de alho e uma cenoura pequena picados bem miudinho, suco de 3 limões [os danados estavam secos de doer], um fio generoso de azeite e sal e pimenta-do-reino a gosto. Misturei e deixei marinando.

Enquanto isso, tive um siricotico e decidi que não seguiria com meus planos originais de comer o peixe acompanhado de brócolis e cevadinha. Neh. Então, rapidamente preparei tortillas de milho, desta vez abrindo-as com mais facilidade ao imitar uma prensa de tortillas ao pressionar a bola de massa bem enfarinhada com uma frigideira pesada e de base lisa (sem reentrâncias e desenhos). Não ficaram tão finas quanto ao abri-las com rolo, mas o processo economizou um tempo incrível, e quando o peixe estava no ponto, eu tinha tortillas quentinhas e quebradiças na mesa e um vidro de Tabasco me esperando.

Cozinhe isso também!

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