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quinta-feira, 14 de março de 2013

Favas brancas assadas com tomate e como cozinhar todo dia

Uma das sensações mais estranhas que tenho desde que me mudei para fora de São Paulo é a de correria tranquila. Um paradoxo. Sinto que tenho mais coisas a fazer do que jamais tive, num ponto em que meu cérebro desprovido de boas noites de sono não funciona sem uma lista de tarefas escrita à mão num caderno, que é revista e reescrita diariamente, para que o exercício de reescrever a lista faça com que planeje meu dia mentalmente de acordo com as tarefas pendentes. Já cheguei no absurdo de programar mentalmente uma ida ao banheiro. Ou, para me sentir mais competente, terminar uma tarefa que não estava na lista e escrevê-la ali apenas para ter o prazer de riscá-la fora.

Louca.

Eu sei.

Mas apesar do intrincado quebra-cabeça de tempo que é trabalhar, cuidar de uma casa, de um cachorro e duas crianças pequenas, há uma sensação de tranquilidade na rotina atarefada que eu ainda não sentira. Ok, há o pânico ocasional quando o mais velho resolve fazer uma birra escalafobética de ciúmes enquanto você dá de mamar e começa a chover, e toda a roupa está pendurada no varal lá fora, e a panela do jantar foi esquecida no fogo e está queimando. Mas ainda assim. Talvez seja o silêncio que acompanha as tarefas. Talvez seja a rotina, que, quase imutável, dá ordem ao caos de infindáveis trabalhos.

A verdade é que nunca disciplina foi tão importante para mim e nunca ela me ajudou tanto. Quando parece que há coisas demais a fazer, ainda assim elas são feitas, e de repente não era nada tão grave, e me vejo contente por ter dado cabo de mais uma pilha de afazeres e sei que nesse tempo que restou posso relaxar de verdade, sem me preocupar, abrir uma cerveja e ver Arrested Development com meu marido. Aprendi a duras penas que procrastinação é a pior coisa do mundo. E ainda que às vezes eu seja acusada de não saber gerir meu tempo, pois não consigo largar tudo e ir dormir quando os outros acham que eu deveria, acho que é justamente o contrário: eu priorizo sempre o que PRECISA ser feito em detrimento do que eu QUERO fazer. Uma vez feito tudo aquilo que precisa ser feito, todo o tempo restante é dedicado ao que eu quero. E uma vez que as tarefas que precisam ser feitas são incorporadas na sua rotina, uma vez que você tenha disciplina para sempre priorizá-las, elas deixam de ser um fardo, pois você elimina a escolha, o dilema entre fazê-las agora ou depois. A resposta é sempre: faça agora, tire da frente, não deixe para depois. Acordo às 6h da manhã todo dia, e antes das 8h30, todos já tomaram café, estão vestidos, criança está na escola, já fui à feira, varri a casa, lavei a louça e botei roupa para lavar. Mato tudo o que é tarefa de rotina o mais cedo possível no meu dia, para que no restante do tempo possa intercalar as tarefas extraordinárias com as necessidades das crianças. É menos estressante simplesmente abdicar do tempo para mim enquanto elas estão acordadas. Como Thomas dorme muito cedo (antes das 19h), tenho a noite para relaxar completamente, ler, ver um filme, descansar. Lutar contra as coisas que você precisa fazer, aprendi, é a maior fonte de stress de todas, e totalmente evitável.

Para que tudo funcione bem, e consiga encaixar na rotina as refeições da família, planejamento é sempre essencial. E minha resposta pronta a quem vira para mim e diz que não tem tempo de cozinhar por conta de uma rotina corrida. Se eu tenho tempo, você que tem empregada para lavar sua louça também tem. O que faltou a você foi um planejamento básico. Descobri isso quando um amigo reclamou que não cozinhava porque não tinha paciência para sair do trabalho e passar no supermercado antes de ir para casa para então chegar e cozinhar alguma coisa.

Sejamos francos: sempre que espero sentir fome para decidir o que cozinhar, acabo fazendo um queijo-quente.

Ao contrário do que eu fazia quando morava nos Jardins, atualmente vou à feira (no caminho de volta de deixar Thomas na escola) e ao supermercado uma vez por semana apenas. Antes de fazer essas compras, abro a geladeira e a despensa e faço um inventário mental do que há lá dentro e do que está para estragar e precisa ser consumido mais rapidamente. Uso o eat your books ou uma busca em blogs para rapidamente encontrar algumas receitas rápidas para preparar o que tenho em casa e, se falta algum ingrediente específico ou algo básico de despensa (como leite, manteiga e farinha) já anoto numa lista para dar cabo disso nessa uma visita ao mercado e à feira. Deixo anotadas as receitas da semana, e as leio para ter certeza de que não há nada a ser preparado com antecedência, como deixar feijões de molho. O que posso adiantar num momento de calmaria, adianto (como cozinhar feijões num domingo entediado e deixar congelado em porções menores). Também já me planejo para reaproveitar restos de ontem, como o risotto ou o arroz com legumes feito em maior quantidade para virar arroz de forno amanhã, ou o macarrão para virar fritatta, etc. Dessa forma consigo cozinhar todos os dias e não jogar nada fora. E quando há tempo livre, simplesmente porque curto cozinhar, é quando sai um bolo, um biscoito, um pãozinho, um sorvete, geralmente à tarde, com a ajuda do pimpolho, para distraí-lo.

No fim, a tranquilidade talvez venha da satisfação em cuidar do meu próprio nariz e de minha família, sem depender de ninguém. Ou do fato de ocupar tanto meu tempo com atividades manuais, que têm um ritmo mais tranquilo e contemplativo que ficar no computador, mesmo quando são frenéticas.

A verdade é que sem disciplina, provavelmente iria à loucura. E a disciplina tem me ajudado não apenas a manter a cozinha andando, mas a reincorporar um hábito do qual andava sentindo uma falta brutal: correr. Comecei no domingo, incentivada pelo marido, e agora tenho corrido um pouquinho, dia sim, dia não, à noite, quando ele chega em casa para ficar com as crianças. É um momento bom, de espairecer a cabeça e colocar o corpo para se mexer de outro jeito que não seja carregando criança ou varrendo quintal, e também um momento engraçado da minha rotina, pois correr, assim como cozinhar, é a união perfeita entre uma tarefa que precisa ser feita e algo que quero fazer.

Essas favas brancas com tomate são o exemplo perfeito de uma deliciosa refeição que pode ser feita com antecedência, em várias etapas, para ser reaquecida durante uma semana corrida. Num dia pode deixar de molho as favas e cozinhá-las, congelando para uso posterior. Em outro, pode preparar o molho e deixar o prato montado na geladeira, esperando apenas ir ao forno. Tenho certeza de que pode mesmo ser congelado já quase pronto, indo ao forno apenas para reaquecer e dourar.

FAVAS BRANCAS ASSADAS COM TOMATES
(De um dos meus livros favoritos: Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Rendimento: 8 como acompanhamento, 6 como principal

Ingredientes:
  • 3 xic. favas brancas, deixadas de molho na noite anterior
  • 1 folha de louro
  • 1/2 xic. azeite de oliva
  • 2 cebolas pequenas, picadas
  • 2 talos de aipo com as folhas mais claras e macias, picados
  • 3 dentes de alho picados
  • 1 lata e meia de tomates sem pele
  • 4 colh. (sopa) salsinha picada
  • 3 colh. (sopa) migalhas de pão amanhecido ou farinha de rosca

Preparo:
  1. Escorra as favas. Coloque-as numa panela com a folha de louro e cubra generosamente com água fria. Leve à fervura. Retire com uma escumadeira qualquer espuma branca que suba à superfície. Abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 1 hora e meia, ou até que estejam muito macias. Tempere com sal no fim do cozimento.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Escorra as favas, reservando 1 1/2 xicara da água de cozimento (o restante, pode congelar para usar em caldo de legumes), e coloque-as numa travessa refratária ou assadeira (usei uma panela rasa com tampa que pode ir ao forno). 
  3. Aqueça 2 colh. (sopa) de azeite numa frigideira e refogue as cebolas até que estejam ligeiramente douradas, mexendo para que não grudem. Remova do fogo e junte o aipo, o alho, tomates, salsinha e o restante do azeite. Tempere com sal e pimenta.
  4. Junte a água de cozimento reservada, derrame tudo sobre as favas e misture bem. Cubra com papel alumínio e asse por 45 minutos. Remova o papel alumínio, mexa as favas com uma colher, adicionando um pouco de água se parecer muito seco. Polvilhe com as migalhas de pão e retorne ao forno, sem cobrir, por mais 30 minutos. As favas devem estar muito macias, dourada em cima, e ainda com algum molho. Sirva quente, com um pouco de azeite extra.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bolinhos de cenoura, o sucesso dos pepinos e a imprevisibilidade do paladar infantil

Já escrevi aqui algumas "dicas anti-stress" para alimentar uma criança pequena (ou pelo menos a MINHA criança pequena). Mas faltou uma. Uma boa para mãe que gosta de cozinhar mas não gosta de comer todo dia a mesma coisa: nunca presumo de antemão que o pequeno caçador de formigas vai recusar a comida que estou fazendo.

Porque é fácil fazer isso. Você, com uma vontade imensa de comer ensopado francês de peixe, imagina a criança lidando com aquele creme, os pedaços do peixe e frutos do mar, as texturas e temperos diferentes, a dificuldade com a colher, e repensa o jantar. E faz macarrão com molho de tomate, que é mais fácil. No dia seguinte, querendo soba com berinjela e manga, aparecem as mesmas inseguranças, seu dia foi cansativo, não está com o menor saco de lidar com criança birrenta... macarrão com molho de tomate. Pro pimpolho, apenas. Depois que ele vai dormir, você prepara seu soba para matar vontade.

Claro que às vezes eu caio nessa. Mas ando tentando não mais entrar na pegadinha da "comida fácil de criança". Principalmente quando Thomas me surpreende ao tomar um copo inteiro de lassi com água de rosas, chá de jasmim sem açúcar nenhum ou castanhas de caju crocantes e cheias de pimenta caiena. Nessas horas me lembro de que simplesmente não dá para prever o que uma criança vai gostar de comer ou recusar.

Tanto que, querendo ainda apresentar alimentos crus ao pimpolho, preparei essa raita? tzatziki? esse... pepino com iogurte para acompanhar os bolinhos de cenoura do Bill Granger. Presumi que ele comeria os bolinhos, pois bolinhos sempre fazem sucesso, e que talvez, se eu desse sorte, se interessasse em experimentar os pepinos, uma vez que estavam envoltos em iogurte e ele adora chuchar comida em molhos de qualquer espécie.

Surpresa: nem tocou nos bolinhos; comeu todo o pepino. o_O

Vai entender.

Fica a dica: não presuma nunca que o pimpolho vai ou não vai comer xis coisa baseado em experiências prévias. Lembra o vício em bananas do pequeno? Sumiu. Anda deixando bananas pela metade. Mas experimente deixar uma caixa de morangos à disposição. Tadinho, vai sofrer quando eles pararem de aparecer na banca orgânica.

Mesmo sem pimpolhos, no entanto, esse é um almocinho leve e muito gostoso. Apesar das inúmeras receitas, acabo fazendo os pepinos meio que sempre da mesma forma: fatiando fino, salgando e deixando numa tigela por um tempo, para sorarem. Espremo e descarto o líquido e misturo os pepinos a iogurte caseiro, um dente de alho bem picadinho, menta seca, cebolinha picada, pimenta-do-reino, um fio de azeite e mais sal, se julgar necessário.

Para os bolinhos, do ótimo livro Bill's Open Kitchen, de Bill Granger, misture numa tigela:
  • 60g (1/2 xic.) farinha de trigo
  • 125ml (1/2 xic.) de água com gás ou tônica
  • 1 ovo
  • 1/4 colh. (chá) de cominho moído
  • 1/4 colh. (chá) de sementes de coentro moídas
  • 1/4 colh. (chá) de cúrcuma
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 1 colh. (chá) de sal
  • 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes e picada (ou a gosto)
  • 235g (1 1/2 xic.) cenoura ralada grosso
  • 8 talos de cebolinha picados
  • 25g (1/2 xic.) de coentro fresco picado
Aqueça uns 60ml de óleo numa frigideira grande e frite os bolinhos em porções de 2 colh. (sopa) cada, sem encher demais a frigideira. Frite por uns 2 minutos cada lado, até que dourem, escorra em papel-toalha e sirva quente, com um molhinho de iogurte à sua escolha ou os pepinos. Faz cerca de 12 bolinhos.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A melancia da mãe maluca, geleia, picles, suco, o que for

Minha mãe tem uma loucura bastante específica. No universo dela, não há comida na minha casa. Quando morávamos a 3 quarteirões de distância, ela não conseguia aparecer em casa de mãos vazias: trazia sempre alguma fruta, alguma torta, um sorvete favorito, um queijo que o Allex gosta. Mesmo estando cercados de padarias, quando me mudei para longínquos seis quarteirões de distância, ela era incapaz de vir tomar conta do Thomas sem trazer um saco de pão que poderia alimentar uma família de oito pessoas.

Imagine agora que estou em outra cidade.

Apesar de haver três supermercados ao lado do condomínio, uma padaria, e estarmos a dez minutos de carro de mais pelo menos três redes de hipermercados e atacados, ela acredita piamente que é difícil comprar comida aqui. De modo que, mesmo ela perguntando se eu queria algo, e eu atestando que não, que a geladeira estava abarrotada, a mulher trouxe comida.

Uma melancia inteira. Do tamanho da minha barriga quando estava de nove meses do Thomas.

E eu fiquei olhando para aquela mostruosidade, pensando no que fazer com aquilo, uma vez que não podia dividi-la com minha mãe, pois a metade não caberia na geladeira. Mas não podia deixá-la ali, também, fechada, perigando estragar.

Suco. Pronto. Vou fazer suco. Mas 1/4 da melancia encheu minhas duas jarras de suco fresquinho, e eu não sabia o que fazer com aqueles pedaços cortados, já sem casca, pois havia sequer tigelas o bastante para acomodá-las, quando mais espaço dentro da geladeira.

Fiquei olhando para as cascas e decidi que faria picles delas, senão de toda a casca, ao menos de uma parte. Para me redimir daqueles picles que eu havia feito e deixado estragar. Mas e a polpa? Havia tantas frutas já maduras na bancada, que eu não conseguia pensar em simplesmente comer toda aquela melancia.

Foi quando me lembrei de ter visto uma receita de geleia em algum lugar. E estava certa: no livro da Tessa Kiros, que eu adoro, Falling Cloudberries, havia uma receita de geleia de melancia com rosas que usava bem um quilo e pouco da fruta descascada, o que já me livraria de um bom bocado.

Mas não tinha pétalas de rosa. Bom, pensei, tudo bem, quando a geleia estiver pronta, acrescento umas gotinhas de água de rosas, e pronto. Confesso, no entanto, que me esqueci dela. A geleia estava pronta, gostosa, os vidros esterilizados, e foi só quando coloquei as tampas que me dei conta de que não havia colocado a tal da água. Bem, não fez falta.

A geleia é bem molinha, consistência e cor de geleias de pimenta, mas um sabor bastante peculiar. É doce, ligeiramente azedinha do limão, e vai bem no pãozinho com manteiga (e imagino que maravilhosamente com um queijinho de cabra ou um brie), apesar da sugestão do livro ser como molho de um pudim de buttermilk. O interessante é que se me dessem da geleia para provar, jamais diria que era de melancia. Por algum motivo há algo nela que me lembra tomates, e a textura dos pedaços me lembra ameixas firmes, mas é difícil identificar de bate-pronto de onde vem aquele sabor por trás do azedinho-doce. Recomendo, principalmente se você tiver uma melancia gigante ocupando espaço na sua cozinha. ;)

Quanto aos picles, me empolguei e fiz o dobro da receita. Da primeira vez que o fizera, tratava-se de uma conserva ao modo dos pepinos, como eu gosto, bem azedinhos e ácidos. Esta receita, no entanto, bem tradicional do sul dos Estados Unidos, produz picles bem adocicados, e vi americanos sugerindo mesmo comer com sorvete. Hmmm... não era bem o que eu esperava. Não se engane: ficaram ótimos. Mas realmente não era o que eu esperava. Agora tenho três vidros de picles de casca de melancia na geladeira e não sei muito bem o que fazer com eles.

O resto da melancia virou suco. Jarras e jarras e jarras. Quatro dias de suco de melancia. Delícia.

Mãe, tem comida em casa, viu? Relaxa a bisteca. Mas você vai ganhar um vidro de geleia e um de picles. Como "punição". ;)

GELEIA DE MELANCIA
(adaptado do lindo Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 1 hora mais 1 noite de geladeira
Rendimento: 2 1/2 xic.

Ingredientes:
  • 1,2kg de melancia, já sem a casca (cerca de 2kg dela com casca)
  • 1 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 limão
  • 1/2 maçã

Preparo:
  1. Corte a polpa da melancia em pedaços pequenos. (Você pode já retirar as sementes, se quiser, mas elas se soltam sozinhas e sobem à superfície no cozimento, e achei mais fácil simplesmente pescá-las com uma colherinha.) Coloque em uma tigela grande e polvilhe com o açúcar. Corte o limão ao meio. Esprema uma metade, juntando o suco à melancia, e fatie fino a outra metade, cortando as fatias ao meio, também juntando à melancia. Misture, cubra com filme-plástico e leve à geladeira por uma noite. 
  2. Coloque a mistura numa panela grande não reativa (ou seja, que não seja de alumínio). Corte a metade da maçã em cubos pequenos, sem se importar em tirar a casca, e junte à panela. Leve ao fogo alto até que ferva, e então abaixe para o mínimo, cozinhando por cerca de 1 hora, mexendo de vez em quando.
  3. Quando a mistura estiver bem vermelha a melancia em pedaços menores, e você achar que faltam só uns 10 minutinhos para ficar no ponto, leve uns 3/4 da mistura ao liquidificador (tente pescar toda a maçã, mas deixar algumas fatias de limão na panela) e bata até que fique homogêneo.Volte para a panela e continue cozinhando, até que fique mais espesso. A geleia é mais líquida, pois melancia não tem pectina, mas, ao ser gotejada sobre um pires gelado, ela deve escorrer devegar, com certa resistência. 
  4. Distribua em potes esterilizados, preenchendo quase até a boca. Limpe as bordas, tampe e deixe que esfriem completamente. Se estiverem bem selados, guarde na despensa. Na dúvida, deixe na geladeira por tempo indefinido. Conserve em geladeira após aberto.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Salada greco-cipriota

É principalmente durante essas ondas de calor [o mundo está na menopausa???] que dou graças por trabalhar em casa. Sinto calor só em ver meu marido saindo de camisa de manga comprida fechada até o pescoço. Ou ver os pés inchados das mulheres nas ruas, enfiados em sapatos de salto alto, o suor desmanchando a escova de seus cabelos grudados na testa. Trabalhar em casa, de shorts, regata e pés descalços do assoalho de madeira é com certeza um privilégio, e não troco isso por nada.

E se a onda de calor tem algo de positivo é impossibilitar meu paladar de sequer cogitar um almoço quente. Meu corpo pede desesperadamente por saladas, frias, crocantes, refrescantes. Esta é do livro de Tessa Kiros, Falling Cloudberries e foi novidade para mim na adição de coentro fresco e alho à salada grega a qual já estava acostumada. Por que eu não pensei nisso antes?

A salada é uma mistura de alface romana, coração de salsão (aquela parte de folhas clarinhas e deliciosas), pepino cortado em meias luas finas, tomates bem maduros, cebola roxa em meias luas bem fininhas, um punhado de coentro fresco, azeitonas pretas e queijo feta esmigalhado. Para o molho, um pouquinho de alho bem picadinho ou espremido misturado a azeite e vinagre de vinho tinto na proporção de 3 para 1, uma pitada de sal, pimenta-do-reino e orégano.

Tãaaaao bom... :)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vermelho assado em molho de tomate

Uma das coisas de que mais gosto no hábito de ir à feira é estabelecer uma relação de confiança com as pessoas que lhe vendem sua comida. Coisa mais difícil de se fazer em determinados supermercados, em que os postos de trabalho são rotativos e ninguém se lembra de que você esteve lá ainda no dia anterior. Um vendedor me ganha normalmente quando ousa falar mal do próprio produto: "Não leve esse brócolis não, que está feio, vou pegar outro em outra banca" ou "A anchova não está nada boa hoje; posso recomendar algo melhor e mais barato?" Quando você entende que pode confiar naquela pessoa atrás da bancada é a melhor coisa do mundo. E agradável é também voltar duas semanas depois (pois como gosto de muita variedade, os legumes acabam durando duas semanas), e o vendedor perguntar se você gostou daquela variedade de mostarda que você nunca provara antes de ele recomendar, ou se aquele peixe assado inteiro deu certo, ou se experimentou a receita dos feijões-de-corda.

Ando gostando de conversar com meu novo peixeiro. Descendente de japoneses, simpático e prestativo, ele me ensina qual peixe usar para a receita que descrevi e sai dando seus pitacos e me repreendendo quando estou prestes a fazer bobagem, o que acho muito engraçado. Foi ele quem sugeriu o uso do Vermelho para esta receita que apenas pedia por "peixe branco firme".

"Nunca comi Vermelho. É bom?"
"É sim. Eu gosto muito."
"Mas ele vai bem com molho de tomate?"
"Vai sim, ele não é suave o suficiente para sumir no molho."
"Você deixa ele preparadinho para mim, só para que eu corte do tamanho certo?"
"Claro, mas vou deixar a pele."
"Não, não precisa, é tipo ensopado."
"Confie em mim, vou deixar a pele. É gostosa!"
"Então tá, né..."

Enquanto converso com ele, um homem mais velho, cabelos brancos na cabeça e nos antebraços, cigarro pendendo do canto dos lábios, abre o peixe inteiro, limpa, retira as escamas, fileta. Ele se movimenta rápida e violentamente com o facão enorme e suas feições me fazem pensar num marinheiro velho de histórias infantis, envolvido em pirataria.

O Vermelho funcionou lindamente nessa receita de Tessa Kiros, que quis preparar assim que comprei o livro. Ela pedia 1kg de filés, o que deve dar o dobro do que usei, mas mantive a mesma quantidade de molho, pois molho de tomate nunca é demais. ;) Parecia perfeito para uma noite quente. O peixe se desmanchando num molho espesso de tomates, limão siciliano e alho, para ser comido aos bocadinhos, usando belos nacos de pão italiano como talheres, e acompanhado de uma cerveja gelada e refrescante. O tipo de refeição que arranca você de repente da cidade cinza e o transporta para qualquer lugar de areia branca, brisa fresca e salgada, sussurros das ondas tocando suas orelhas.

VERMELHO ASSADO COM TOMATES
(quase nada adaptado do livro Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 10 min. + 1h-1h10 de forno
Rendimento: 4 porções se houver acompanhamento, 2-3 se for prato único, com pão


Ingredientes:
  • 2 filés com pele e sem espinhas, de um Vermelho de 1,25kg (pesado inteiro - não pesei os filés)
  • 1 lata de tomates italianos sem pele
  • 1 punhado de salsinha fresca picada
  • 4 dentes de alho grandes, picados
  • suco de 2 limões sicilianos
  • 1 1/2 xic. salsão picado
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Corte os filés em pedaços de 7cm de largura e os distribua em uma única camada em uma travessa grande refratária, assadeira ou caçarola baixa que vá ao forno.
  2. Em uma tigela, misture todos os outros ingredientes e esmague os tomates com um garfo. Acerte o tempero.
  3. Despeje o molho sobre os peixes e dê uma sacudidela na travessa, para que o molho se espalhe e cubra todos os pedaços de peixe. Cubra com papel alumínio e leve ao forno por 30 minutos.
  4. Retire o papel alumínio, aumente o fogo para 200ºC e asse por mais uns 40 minutos, até que o molho tenha engrossado e o peixe pareça dourado em alguns pontos. Fique de olho para que não fique tão espesso a ponto de queimar o molho (35 minutos foram suficientes no meu forno).
  5. Sirva com mais um fio de azeite e pão com crosta para acompanhar. (A autora diz que fica muito bom frio, também, mesmo direto da geladeira. Vamos ver, pois sobrou um punhadinho que está lá na geladeira...)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Feijão fradinho com espinafre, tomate e música porqueira


Detesto Black Eyed Peas. [Pronto! Você que é fã de Black Eyed Peas já pode preparar seu hate mail, vai, use toda a sua maldade, sem dó.] Outro dia mesmo tive uma discussão acalorada com um amigo sobre porque o Will.I.Am é um excelente marqueteiro, mas um músico... nhé. Foi uma sacada genial trazer uma loira vistosa para dar uma graça a uma banda de marmanjos sem destaque nenhum, e acho fantástico como eles conseguem gerar exposição na mídia que demonstra como eles são legais, mas que distrai da qualidade de sua música. [Vide o flash mob na Oprah, que é tão legal, mas tão legal, que você não presta atenção no fato de a música ser fraquinha.]

O caso é que sempre que ouço ou vejo Black Eyed Peas, lembro dos feijões, tão gostosos. E sempre que vejo os feijões, lembro das magníficas contribuições culturais que são Pump It e My Humps. Pontos para o fator chiclete, que faz com que cozinhemos feijões fradinho cantando qualquer uma das duas pérolas sem nem mesmo nos darmos conta.

Pelo menos esses "black eyed peas" eu consigo engolir. Os feijões fradinho com espinafre, tomates, cebola e limão do lindíssimo livro da Tessa Kiros, que até ilustrações já me inspirou, são absolutamente deliciosos, e obrigatórios agora que os maços de espinafre estão lindíssimos e saborosos e que os BONS tomates estão começando a voltar.

Deixe os feijões de molho de um dia para o outro, escorra e coloque numa panela, cobertos com água. Quando ferver, retire a espuma que se formar com uma escumadeira, escorra, lave os feijões, e volte-os à panela cobertos de água limpa, e cozinhe-os destampados até que estejam prontos, mas não desmanchando. O livro indicava 1 hora, mas os meus ficaram prontos em 30 minutos. Quando eles estiverem quase prontos, junte belos punhados de folhas de espinafre rasgadas, tempere com sal e cozinhe por uns 3 minutos. Desligue o fogo e sirva com tomates picadinhos, uma cebola picadinha previamente marinada em água e sal por meia hora e então escorrida, limão para espremer, salsinha picada e um fio de azeite.

Cozinhe isso também!

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