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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Planejamento, expectativas e Pizza de Natal


Eu costumava amar Dezembro. Era mês de férias, era mês de cozinhar quitutes de Natal, mês de planejar presentes e cartões... enfim. Aquela coisa toda.

Os anos foram passando e Dezembro começou a me causar sérias ansiedades. Era mês de férias, mas só das crianças, não minhas. Era mês de fazer quitutes de Natal. Mas tem piquenique da escola (prato salgado pra um, prato doce pra outra), tem que fazer biscoito pra dar pros professores, tem que fazer quitutes pra Nikolaus, tem que fazer quitutes pra todos os domingos de advento, tem que planejar a ceia como se fosse um banquete para o papa, tentanto agradar todo mundo mas principalmente tentando provar pra mim mesma que sou capaz de produzir uma ceia absurdamente fantástica, 100% feita em casa e orgânica. Tudo coordenado para não depender da banca de orgânicos que some por quase três semanas nessa época, tudo milimetricamente planejado para dar tempo de preparar todos os detalhes no meio dos amigos-secretos (eu odeio amigo-secreto), confraternizações de fim de ano, cantatas de Natal da escola, aniversários de amigos, trânsito infernal de fim de ano, correria pra comprar presente, e toda aquela expectativa de criar cem por cento de momentos mágicos e memoráveis para as crianças enquanto você tenta entregar rapidamente aquele trabalho super atrasado. E não dá tempo de fazer o calendário de advento que você planejou, ou os cartões de natal em aquarela que você imaginou para mandar para os clientes... Vinte quatro dias de Dezembro passam como se fossem 24 horas. Aquela coisa toda. 

O Gnocchi! Faz tempo que ele não aparece aqui! :D
(A árvore parece gigante. Mas é o ângulo da foto.)

Esse ano Dezembro chegou meio engraçado. Engraçado porque está sossegadíssimo.

Há uns meses atrás, meu HD externo corrompeu. E corrompidos foram os registros de todos os trabalhos que eu produzi nos últimos 5 anos. TUDO. Tentei todos os programas de reparação de HD, mandei pra assistência técnica especializada. NADA. Aquele mês terminou comigo num terreno baldio, gritando com todas as forças de meus pulmões ao atirar o HD quebrado contra um muro de cimento, uma, duas, cinco vezes, até ver aquele pequeno monte de lixo reduzido a pó. 

Se você comprou de mim um original alguma vez na sua vida, por favor me envie um email (lacucinetta@gmail.com) com seus dados (nome, telefone, qual obra foi comprada ou encomendada), para que eu possa ter um registro disso novamente. Agradeço de coração. (Voltei com a loja, agora http://anaelisagg.iluria.com, mas perdi todo o meu banco de dados. Quem já tinha comprado obras minhas e quer mais, fique de olho, que pretendo colocar uma obra diferente em oferta todo mês - está tudo com frete grátis.)

A perda dos trabalhos foi, como muitas outras bizarrices que aconteceram esse ano, um forçado mas positivo recomeço. Mudei meu jeito de ver meu trabalho, defini o que de fato quero, e parei de me estressar pela suposta falta de tempo. Quando chegam as férias, eu não fico mais frustrada por não ter para trabalhar aquelas horas matutinas em que as crianças estariam na escola. Eu dou um jeito, faço quando posso, e as crianças vão se acostumando a deixar mamãe trabalhar um pouco em paz. 

Então estou positivamente ansiosa pelas férias escolares. :)

Para podermos tomar café com calma e sairmos para passear sem hora para voltar, ou mesmo para podermos não fazer coisa nenhuma. Vai ser bom ter as crianças em casa o tempo todo, sem chegarem exaustas e irritadiças da escola. 

Não fiz nenhum quitute de Natal. Ainda. Mas também não acho que vá fazer mais nada além dos spekulatius que o marido pediu. Pensei no torrone, mas há alguns meses, num momento crítico em que havia uma grande necessidade de abrir mão do controle e me tornar uma pessoa mais relaxada, lembro-me de ter ficado fascinada com o senso de humor do universo, que começara a destruir meus instrumentos de medição e controle justo na área em que eu me considerava mais em necessidade de controlar: a cozinha. Derrubei meu termômetro de doces feito de vidro no chão sem querer, no mesmo dia em que minha balança de cozinha quebrou. o_O 

Tinha vontade de fazer panforte de novo para dar de presente, mas além de não ter papel arroz para comprar em nenhum lugar além das lojas do centro de São Paulo (onde eu realmente não quero ir em meados de Dezembro), continuo caindo pra trás com o preço das castanhas e das frutas secas, o que meio que mata qualquer plano meu de fazer... bem... qualquer quitute natalino, na verdade. 

Perdi completamente a vergonha de mandar tomates-cereja como "prato salgado" do piquenique da escola. Hoje entendo totalmente a mãe que manda um pacote de doritos, juro que entendo. Mas prático por prático, ainda prefiro mandar tomates. Não me martirizo mais.

Esse ano, na ceia de Natal, sou convidada. Não vou fazer patavinas. E se antes isso me frustrava, porque eu queria a oportunidade de fazer uma ceia toda imaginada por mim, agora eu realmente não ligo. Vai ser gostoso, vai estar bom, e se as crianças estão contentes, eu estou tranquila. O importante são as pessoas. 

Esse ano eu até consegui fazer cartões de Natal. Meia dúzia, só pros avós e pras tias. Mas fiquei feliz de ter feito com a pimpolhada, inspirada por um cartão lindo e uma série de gravuras que recebi láaaaaa da Inglaterra, de uma amiga querida que adora botar a família toda com a mão na massa. Foi mais legal e mais importante passar essa tarde juntos bagunçando com tinta no papel do que ficar preocupada com grandes produções artísticas impressionantes da minha parte. 

Dezembro está super ocupado daquelas coisas todas que se tem pra fazer nesse mês. Mas esse ano eu não estou estressada a respeito. Não vai ter nada natalino aqui no blog, porque, convenhamos, tem em todos os outros, e eu nunca faço nada de novo, na verdade, até porque essa variação louca de temperatura e a chuva andam me tirando a vontade de ficar fazendo doces sensíveis à umidade e à temperatura, e especiarias não andam me apetecendo muito - estou preferindo sabores mais frescos. Ao invés disso, vai ter pizza. Porque nada diz menos Natal do que pizza. 

Acho lindo (mesmo) esse povo que diz que todo domingo faz pizza, toda segunda faz pão, terça é dia de macarrão, etc. Li um pouco a respeito de planejamento de refeições e por um instante até achei que conseguiria seguir um plano alimentar para tentar reduzir custos e facilitar a vida. Mas a verdade é que se em todo o restante da minha vida eu sou a senhora-listas-e-planilhas, a cozinha hoje é meu cantinho libertário da improvisação. Adoraria saber improvisar em conversas com estranhos com a mesma facilidade e prazer que improviso com ingredientes desconexos da geladeira. Não dá.

Morri de felicidade adolescente ao comprar uma agenda nova para o ano que vem, prevendo o modo como vou organizar meus dias, separando compromissos de tarefas, planejando projetos pessoais... mas na cozinha, ainda que adore minha listinha de ingredientes na porta da geladeira (com tudo o que tem lá dentro de fresquinho, listado em ordem decrescente de validade, para não deixar nada estragar e saber o que tem uso prioritário), confesso que adoro ir à feira sem nenhuma receita em mente, e abrir a geladeira numa terça-feira e decidir fazer pizza porque sim. E chegar na sexta e decidir outra coisa completamente diferente e não planejada. Até porque me parece que toda vez que planejo com muito afinco uma refeição especial, é esse o dia em que o Allex fica preso no trabalho, as crianças estão birrentas de sono, o gás acaba, eu corto o dedo, o ingrediente principal revela-se inexplicavelmente estragado bem no meio do preparo. Então dane-se. Não planejo mais nada, não tenho nenhuma expectativa. Faço pizza quando tem ingrediente de pizza e paciência pra fazer pizza. 

Talvez por isso Dezembro esteja correndo tranquilo. 

Não planejei nada. Não planejei quitutes, não planejei presentes, não planejei calendários de advento. Comprei um chocolate de qualidade para cada filho às oito e meia da noite do dia 5 de dezembro pra botar no sapato deles em Nikolaus. Eles amaram. E eu não fiquei me martirizando para fazer docinhos especiais. No dia em que lembrei da árvore de Natal, saí e comprei a danada na primeira loja de jardinagem que achei e botei as crianças para montar. Todos os enfeites ficaram na frente e embaixo, claro. E eu não liguei. Ficou ótimo, e a pimpolhada ficou super orgulhosa. E conforme o rabo do Gnocchi foi abanando e derrubando os enfeites na parte debaixo, eu fui catando e pendurando em cima.

Aí resolvi fazer sim biscoitos para as professoras. Tinha a expectativa de poder dizer que as crianças haviam feito, pois os dois SEMPRE fazem biscoitos comigo. Só para ser do contra, desta vez, quando chamei para que me ajudassem, toda empolgada, ouvi deles um entendiado "ah, mãe, a gente não está afim agora não..." É o fim do significado especial dos biscoitos e do momento mágico que eu tinha imaginado? Neh. Fiz a massa e disse que avisaria quando fosse cortá-los e assá-los caso mudassem de ideia, e ficou por isso mesmo. Sem grilo. Afinal, bons momentos a gente não cria: eles acontecem porque estamos neles, presando atenção e de coração aberto. 

Eu tinha muitos planos e muitas expectativas para muitas coisas na minha vida. E o engraçado é olhar às vezes e perceber que saiu tudo absolutamente ao contrário do que eu tinha planejado. Ainda bem. :) Esse foi o ano das expectativas frustradas, das grandes decepções, dos pequenos sustos, mas, principalmente, o ano da reconstrução, do fortalecimento e da compreensão. Foi o ano em que percebemos aqui em casa que expectativas são uma grande bobagem e que planejamento não quer dizer firmar cada detalhe em concreto para garantir que a decepção não virá, mas simplesmente estar preparado para os obstáculos e maleável para alterar os detalhes quando necessário. 

Foi o ano em que, depois de vinte anos cozinhando, finalmente aprendi a improvisar na cozinha, aprendi a criar sem precisar de livros, aprendi a fazer pães sem receita, sem balança, sem medidas, apenas sentindo a textura da massa entre os dedos. 

Eu nunca saberei o que é improvisar dessa forma na vida. Mas a pequenos passos, aprendo a manter os olhos fixos nos meus objetivos, mas os pés leves para buscar rotas alternativas que me levarão lá, sem transformar numa muralha uma pequena pedra no meio do caminho. 

Essa pizza que não é pizza vem do meu livro favorito de todos os tempos, como já falei umas oitenta vezes por aqui: da Tessa Kiros, Apples For Jam. O bichinho já tem páginas grudadas por respingos de comida, lombada rasgada de tanto puxar da estante, e eu não me canso de folheá-lo e cozinhar dele. No livro, ela chama de Pizza Rossa uma simples massa de focaccia, bem úmida, esticada bem fininha e coberta de espesso molho de tomate. Ela sugere nas notas cobrir com um punhadinho de queijo no meio do cozimento. Não tive dúvidas, e pus um punhadão de mozzarella de búfala, e parmesão, e manjericão. 

Da primeira vez que fiz, usei uma assadeira menor e ela ficou tão alta que poderia fazer sanduíches. Depois tentei na maior assadeira que tinha, e se meu forno comportasse, poderia ainda fazer maior. A base fica crocante por fora, inacreditavelmente macia por dentro e muito saborosa. A cobertura fica perfeita. O resultado é uma pizza mais bojuda, mas tão gostosa e fácil de fazer, que não quero fazer nenhuma outra. Fácil, porque você prepara a massa na batedeira planetária, deixa fermentando lá mesmo, e então apenas joga tudo na assadeira e, com mãos molhadas, empurra e estica a massa até preencher todo o espaço. Nada de sovar, nada de moldar, abrir, esquentar pedra de forno... Aqui em casa ninguém liga da pizza ser retangular. Mas claro que nada impede alguém de dividir a massa em duas assadeiras e puxá-las e esticá-las até que fiquem arredondadas. 

Você só precisa começar essa pizza cedo. Ela gosta de uma fermentação um pouquinho mais longa do que a outra receita de pizza. Ah. Então um pouquinho de planejamento ainda precisa. Mas as expectativas, nesse caso, se cumprem maravilhosamente. :)

PIZZA
(do livro Apples For Jam, da Tessa Kiros)

Ingredientes:
(massa)

  • 1 3/4 xic água morna
  • 2 1/4 colh (chá) fermento biológico seco
  • 1 colh (chá) mel
  • 1 1/2 colh (sopa) azeite
  • 4 3/4 xic. farinha de trigo
  • 1 1/2 colh (chá) sal

(molho)

  • 6 colh (sopa) azeite
  • 1 dente de alho grande, descascado e ligeiramente amassado
  • 2 latas de tomate pelado (às vezes eu uso uma só e reduzo pouco)
  • 1 colh (chá) sal
  • folhas de manjericão
  • mozzarella ralada grosso, à gosto


Preparo:

  1. Na tigela da batedeira (ou numa tigela grande, se não usar a batedeira), misture a água, o fermento, o mel, o azeite e 3/4xic de farinha até que fique homogêneo. Cubra e deixe fermentando por 20-30 mintuos, até que espume bem. 
  2. Junte o restante da farinha e o sal e sove na batedeira, com o gancho, por uns 5 minutos. Se não tiver a batedeira planetária, apenas jogue a massa de um lado para o outro dentro da tigela por uns 10 minutos. Não coloque mais farinha. A massa deve ficar sim bem melequenta, quase não mantendo forma. É essa umidade que vai deixar a massa macia e a casca crocante. Cubra a tigela com filme plástico e deixe fermentando por 1h30, ou até que dobre de tamanho. 
  3. Unte com azeite uma assadeira grande, a maior que você tiver, de uns 30x40cm, ou maior se tiver. Despeje a massa lá e, com mãos molhadas de água fria, empurre e estique a massa até que ela preencha uniformemente toda a assadeira, tentando não rasgá-la. Se ela ficar encolhendo, deixe que relaxe por uns minutos e tente outra vez. 
  4. Coloque copos ao lado da assadeira, nos cantos, e cubra com um pano, para que o pano não encoste na massa, ou vai grudar. Deixe fermentar por mais 1 hora. 
  5. Enquanto isso, faça o molho: aqueça o azeite e o alho, e quando ele perfumar, junte os tomates, o sal e o manjericão. Cozinhe por uns vinte minutos, até que o molho reduza um pouco. Se quiser, pode passar por um mixer para deixá-lo mais uniforme. Deixe que esfrie antes de usar. 
  6. Pré-aqueça o forno a 250oC. 
  7. Retire o pano de cima da massa. Como a uma focaccia, afunde ligeiramente as pontas dos dedos molhados por toda a massa, para criar bolsõezinhos de molho. Despeje uniformemente o molho por cima. Parece muito, mas fica bom. 
  8. Leve ao forno quente por 10 minutos. Retire, polvilhe com bastante queijo mozzarella (até com fatias de queijo prato eu já fiz, e fica ótimo), e volte ao forno por mais 10-15 minutos, ou até que a massa esteja ligeiramente dourada, crocante ao toque, e o queijo esteja derretido. Retire e corte para servir. 

domingo, 22 de junho de 2008

Bolo de limão siciliano e mirtilos: parabéns para mamãe!


Certo dia minha mãe me telefonou com a pergunta: "Ana, o que é mirtilo?"

"É uma fruta mãe. Blueberry."
"Aaaaaah... Tem chá disso?"
"Acho que tem, mãe. Já vi dessas marcas tchanchantrans."

Pausa.

"Por quê, mãe?"
"Ah, sonhei que me diziam que eu tinha de tomar chá de mirtilo."

Bizarrices à parte, desde então minha mãe passou a comprar o tal chá de mirtilo, e potes da fruta congelada, uma vez que as frescas são excessivamente caras. Foi mera coincidência termos descoberto, logo em seguida, que a danada da fruta é considerada um (detesto o termo) "super-alimento", por causa da quantidade vasta de vitaminas e nutrientes e por conter antioxidantes.

Mas chega disso, pois detesto todo esse aspecto científico-nutricional que tira o gosto da comida e transforma tudo em remédio.

De qualquer forma, foi por conta desse episódio que, no aniversário de minha mãe, achei apropriadíssimo preparar-lhe um bolo de limão e mirtilos, extraído do livro Sky High. No entanto, a ausência de uma terceira forma e a presença de poucas bocas para devorar o bolo mais uma vez me obrigaram a adaptar a receita para apenas duas camadas. E, desta vez, foi de fato adaptado, e não apenas diminuída respeitando as proporções, já que a quantidade de ovos era um diabo de um número primo, e a autora usava extrato de limão. Nunca encontrei extratos naturais no supermercado, e como não queria que o bolo de minha mãe tivesse gosto de detergente de limão, usei suco na quantidade que me pareceu mais interessante.

O bolo resultou numa massa incrivelmente perfumada de limão, macia, com desenhos lilazes ressindindo ligeiramente aos mirtilos (infelizmente aquela batelada dos congelados não estava lá essas coisas). A geléia no centro talvez eu cozinhasse menos numa próxima vez, para que ficasse um pouco mais líquida, mas seu sabor ficou doce na medida e um tantinho ácido, por conta do suco de limão que usara para diluí-la antes de expalhá-la sobre o bolo. O buttercream de limão, no entanto, como eu temia, achei um pouco pesado. Mas é uma questão de gosto, pois nunca fui (nem o pessoal de casa) muito fã de buttercream. Sou uma garota mais glacê ou ganache, quando muito uma cobertura de chantilly. Acho que o bolo ganharia uma nota a mais com uma cobertura de chocolate branco aromatizada com limão no lugar do creme de manteiga.

A alegria extra é devida ao fato de minhas habilidades bolísticas estarem melhorando, e fiquei realmente orgulhosa pela aplicação da cobertura. A dica crucial do livro, usada para melhorar o visual do bolo, foi banhar a espátula em água fervendo e secá-la rapidamente, passando-a sobre a superfície da cobertura, que derrete ligeiramente, tornando-se lisa, uniforme e brilhante. Com certeza o bolo mais bonito que já fiz, considerando que faço muito poucos bolos com cobertura.

Para quem gosta de buttercream, fica a receita. Acredito que, num dia de pressa, o recheio possa ser substituído por boa geléia de mirtilos comprada, apenas misturada a um pouco de suco de limão e uma pitadinha de gengibre em pó.


BOLO DE LIMÃO SICILIANO E MIRTILOS

(Ligeiramente adaptado do livro Sky High)
Tempo de preparo: afe! Uma manhã inteira.
Rendimento: 8-16 pedaços dependendo da gula


Ingredientes:

(bolos)
  • 150g de manteiga em temperatura ambiente
  • 1 1/2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • casca ralada de 1 limão siciliano
  • 3 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • 5 claras de ovo
  • 2 xíc. de farinha de trigo
  • 2 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/3 colh. (chá) de sal
  • 3/4 xíc. + 1 colh. (sopa) de leite
(recheio)
  • 1 1/2 xíc. de mirtilos frescos ou congelados
  • 1/4 xíc. + 2 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
  • casca ralada de 1/2 limão siciliano
  • 1/2 colh. (chá) de gengibre fresco ralado
(cobertura)
  • 2/3 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/6 xíc. de água
  • 1 ovo + 1 gema
  • 225g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1 1/2 colh. (sopa) de suco de limão siciliano
Preparo:
  1. Coloque as frutas, o açúcar, o suco de limão e o gengibre em uma panela de fundo grosso de inox e leve ao fogo médio, levando à fervura, mexendo freqüentemente para dissolver o açúcar. Continue cozinhando por 15 a 20 minutos, até que engrosse e reduza a 1/2 xíc. Mexa sempre, para que não queime. Retire do fogo e deixe esfriar.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga duas formas redondas de 20cm. Forre os fundos com papel manteiga e unte novamente.
  3. Em uma batedeira, bata a manteiga, o açúcar, a casca de limão e o suco até que fique leve e fofo (lembre-se de ir aumentando a velocidade da batedeira aos poucos, e deixar bem uns 10 minutos até ficar bem fofo, pois a manteiga batida muito rápido pode talhar quando os ovos forem acrescentados).
  4. Junte as claras, duas por vez, batendo bem a cada adição.
  5. Peneire a farinha, o sal e o fermento e junte-os à mistura, em 3 vezes, alternando com o leite e deixando misturar bem antes do próximo acréscimo. Bata em velocidade média-alta por 1 minutos, até que fique bem homogêneo.
  6. Separe 1/2 xíc. da massa em uma xícara. Divida o restante entre as formas, alisando a superfície com uma espátula. Junte 1 1/2 colh. (sopa) da geléia de mirtilo à massa reservada e misture bem, até que fique homogêneo. Espalhe essa massa roxa às colheradas sobre os bolos e, com um palito ou a ponta de uma faca, faça desenhos, sem misturar completamente as duas massas.
  7. Leve ao forno por 20 minutos, na grade central, ou até que um palito saia limpo e o bolo comece a se desprender das laterais das formas. Deixe esfriar nas formas por cerca de 10 minutos, então desenforme, retire o papel das bases com cuidado e deixe que esfriem sobre grades por no mínimo 1 hora.
  8. Para a cobertura, leve a água e o açúcar à fervura em uma panelinha sobre fogo médio. Deixe fervendo sem mexer, até que forme um xarope grosso mas ainda claro (115ºC no termômetro para doces). Retire do fogo.
  9. Na batedeira, bata os ovos ligeiramente. Com a máquina ligada, tomando cuidado para não atingir a pá, despeje o xarope ainda quente em um fio constante. Quando todo o xarope tiver sido absorvido, aumente a velocidade para médio-alta e bata por 15 a 20 minutos, até que a mistura esteja leve, fofa e em temperatura ambiente.
  10. Reduza a velocidade para médio-baixa e adicione a manteiga amolecida em 2 ou 3 vezes, batendo bem entre adições. Junte o suco de limão e misture bem.
  11. Coloque o primeiro bolo em um prato, de ponta cabeça. Com um pincel, retire migalhas soltas. Se a geléia estiver muito firme, dilua-a com uma colher de água ou suco de limão, e espalhe-a sobre o bolo, deixando 0,5cm de borda. Posicione o segundo bolo, base para baixo, e coloque um pouco de cobertura em cima, no centro, Vá puxando para fora com a espátula, até as bordas, e depois para baixo, passando a espátula em torno, sempre no mesmo sentido. Quando todo o bolo estiver com uma cobertura fina, leve o bolo à geladeira por meia hora. Então comece tudo de novo, com mais cobertura, até que todo ele esteja uniformemente coberto. Reserve um pouco de cobertura para aplicar com o bico de confeiteiro, se quiser decorá-lo. O bolo pronto precisa ser mantido na geladeira até a hora de servir.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dois livros novos e nenhum tempo para aproveitá-los

Entre três trabalhos encruados, que não terminam nunca, a busca por um apartamento maior, e o cão tomando um remédio que me obriga a passear com ele pelo menos quatro vezes ao dia, é pouco ou nada o tempo (e a força de vontade) que me resta para cozinhar algo que preste. Nestes dias tenho lançado mão da criatividade para criar pratos rápidos para o jantar, em porções que me deixem sobras "requentáveis" para o almoço do dia seguinte.

Minha maior tristeza é ter mantido o blog às moscas, sem conseguir cumprir nem com minhas Padarias de Domingo nem com as Vítimas Culinárias.

E finalmente, após mais de um mês de espera, com porteiros que nunca estão na portaria para receberem pacotes e greves de carteiros, enfim consegui rastrear meu pacote da Amazon e encontrar em uma agência de correios completamente aleatória meus livros encomendados. Desde que vi o vídeo de Bertinet fiquei completamente apaixonada por sua intimidade com a massa, e corri sem dúvidas para comprar seus dois livros: Dough e Crust, ambos acompanhados de DVDs com instruções detalhadas.

Depois de dar a caixa de papelão para Gnocchi destruir, o que me resta é esperar o fim de semana, quando terei um tempinho para testar a primeira receita. Tenho esperanças de que consiga me livrar da recente maldição da ciabatta, e produzir um pão digno de uma boa passadela de manteiga.

Enquanto isso, cruzem os dedos para que eu encontre uma casa nova com uma cozinha decente!!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nóis toma sol na laje: sorvete de ameixas e a fonte do mofo


Com um dia bonito de sol, sem perspectiva de chuva, tiramos o cãozinho e o levamos... para a laje. Não sei se é o vento, o sol, o fato de estar no alto; de qualquer forma, ele parece adorar a laje, e brinca mais ali do que quando o levamos ao parque. Muito prático, já que está a apenas um lance de escada de distância, e não temos de pegar carro de mãe emprestado nem pagar zona azul.

Foi numa dessas que descobrimos o motivo do mofo no nosso armário. Um furinho, coisa pequena, de nada... Só dá para passar um punho inteiro pelo buraco gigante na laje, que fica, por acaso, exatamente sobre a parede do meu quarto onde fica o armário embutido. É mole?

Corre para lá, corre para cá, o cão cansa, e, voltando para o apartamento, feliz e contente, desaba debaixo da mesa, seu lugar favorito para sonecas vespertinas. Enquanto ele dorme e Allex se deixa hipnotizar pelo video-game, resolvo fazer um sorvete de ameixas.

O pacotinho de ameixas da minha despensa era ainda da cesta de Natal de Allex, e eu nunca as teria comprado, pois vinham com caroço. Mas a madame-nada-de-desperdício resolveu descaroçá-las e colocá-las em uso, acreditando que seria uma tarefa fácil.

Para quê? Foi um verdadeiro "ameixacídio", uma carnificina escalafobética, e estou até agora com dorzinhas nas pontas dos dedos por causa de pedaços de ameixa que se enfiaram embaixo das unhas. Faça um favor a você mesmo: deixe o trabalho sujo para outra pessoa e compre ameixas sem caroço.

Havia duas receitas distintas para sorvete de ameixas, mas nenhuma era a que eu queria. Veja bem: no que se refere a sorvetes, nunca fui uma criança muito ortodoxa. Deixe morangos e chocolates para crianças menos aventureiras. Meus verdadeiros amores sempre foram sorvetes de gente grande: pistache, nozes, gianduia, ameixas, entre outros que normalmente fazem Allex torcer o nariz. A primeira receita, do Ultimate Frozen Desserts, usava a base de gelato italiano, com muitas gemas e pouco creme de leite. Mas só havia três ovos na minha geladeira, e eu os estava reservando para outra coisa. A segunda receita, do Perfect Scoop, e levava uma quantidade considerável de Armagnac e creme azedo, nenhum dos dois presentes na despensa. Mesmo porque eu não queria sorvete de ameixas com Armagnac; queria só sorvete de ameixas.

Decidi botar a cachola para funcionar e fazer uma mistureba muito bem feita das duas receitas, e a versão final ficou nem a cara de uma, nem a fuça de outra: acho que é filha do padeiro. Ficou, no entanto, inegavelmente sensacional, com um sabor muito mais rico e interessante do que eu esperava. E acredito que possa ser livremente adaptada para outras frutas secas melequentas, o que me faz olhar com outros olhos para aqueles cajus secos da despensa. Se você for fã de ameixas secas, esse é seu sorvete.

SORVETE DE AMEIXAS SECAS
Rendimento: 1 litro
Tempo de preparo: 30min. + 1 hora para esfriar


Ingredientes:
  • 200g de ameixas secas sem caroço
  • 1 xíc. de creme de leite fresco
  • 1 1/2 xíc. + 2 colh. (sopa) de leite integral
  • 1/2 xíc. de açúcar orgânico claro
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) de rum escuro
  • 1/4 colh. (chá) de sal
Preparo:
  1. Coloque as ameixas, o açúcar, o leite e o creme de leite numa panela e leve ao fogo baixo, até que surjam pequenas bolhas nas laterais. Não deixe que ferva. Desligue o fogo, tampe e deixe descansar por 10 minutos.
  2. Bata o creme com o resto dos ingredientes num liqüidificador até misturar bem, mas deixe ainda alguns pedacinhos de ameixa. Leve à geladeira por 1 hora ou até que esteja bem frio. Coloque na sorveteira e prepare o sorvete segundo as instruções do fabricante.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 5: quando a vida te dá limões, faça limonada; mas não reclame se estiver azeda demais.

Ou, traduzindo: se a vida der a você mofo no armário, goteira no quarto e um modem queimado (é, teve dessas também), faça um pão francês "country-style", mas evite ficar ainda mais estressado se o pão não sair exatamente como você esperava...

O humor aqui em casa até que está muito bom para duas pessoas que dormiram na sala (o pobre marido que dormiu no chão com o cachorro merece um prêmio) por duas noites e passaram os últimos dois dias plantados em casa fedendo a Lysoform e esperando pelo técnico da Net. Modem arrumado, armário limpo, uma tarde descabelada de arrumação de roupas com o cachorro pulando entre os cabides (aproveitando para separar boa parte para doação), e finalmente posso sentar ao computador e escrever um pouco.

Ontem, no auge de um surto psicótico, resolvi arregaçar as mangas, esquecer a dor de cabeça causada pelo spray fungicida e preparar esse pão francês. Não é um pão FRANCÊS, mas um pão que é DA França. Feito em parte com farinha integral e com uma esponja que demora cerca de 4 horas para fermentar. O processo foi todo muito fácil, mas talvez por causa da temperatura baixa na cozinha, da umidade do ar, do fato de haver instruções conflitantes no livro e eu ter decidido por uma delas (aparentemente a errada) e ter assado o pão sem vapor, ele não ficou tão interessante quanto eu gostaria. Apesar de charmoso, seu miolo ficou denso e sua crosta não ficou nem leve e quebradiça nem robusta e crocante, mas apenas borrachuda, como pão italiano amanhecido. O gosto ficou ok.

Em parte culpo a farinha, para falar a verdade. Costumo usar a farinha integral orgânica da Cotrimaio, que, em relação a esta que comprei dessa vez (Jasmine, também orgânica) é mais fina e mais clara. Como guardo farinhas em potes de vidro assim que as compro, não tenho as duas embalagens à mão para comparar seus nutrientes e propriedades, mas fiquei com essa impressão estranha de que a farinha da Jasmine é mais "pesada", e talvez isso tenha influenciado na textura do pão. Pelo menos foi divertido moldá-lo dessa forma.

Acho que fico devendo uma receita mais satisfatória para o domingo que vem. E prometo que será domingo mesmo, e não terça-feira...

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Doce sopa de cenouras para acalmar os nervos






Ê, fase, viu?! Primeiro marido doente, depois excesso de trabalho, agora cãozinho resolveu ficar borocochô (eis uma palavra que nunca pensei que escreveria — será que é assim??). O coitado do bichinho empipocou todo de calor e está sendo entuchado de antibióticos e antialérgicos. Lá vou eu parar de trabalhar e levar o Gnocchi no veterinário (que, ainda bem, é aqui do lado). Toma remédio e... passa mal do estômago. Lá vai a Ana limpar a sujeirada, morrendo de dó do cãozinho, mas simultaneamente pensando no prazo. Ai, o prazo. Tem que terminar a estrutura do painel, tem que ilustrar os edifícios, os veículos, tem que converter os gráficos, e ilustrar as pessoinhas... Ai, as pessoinhas! Tem que escanear e enviar para o cliente para que ele aprove o traço! Mas eu ia fazer isso no fim de semana! Droga. Volta tudo. Refaz o cronograma. Não vai dar tempo, não vai dar tempo...

AAAAAARGH!!!

Preciso de algo gostoso no almoço, pensei. Não quero salada, não quero sanduíche. O que dá prá fazer rapidinho, que seja reconfortante, e que não exija que eu fique muito tempo longe do computador?

Apanhei duas cenouras pequenas, descasquei-as e fatiei-as, cortando também um tomate em bocados. Misturei-os, em uma assadeira, a um pouco de azeite, sal, pimenta moída na hora, uma pitada de cominho em grão, 1/2 colher (chá) de mel e levei ao forno quente, a 220ºC por uns 20 minutos, até que as cenouras estivessem caramelizadas e o tomate, murchinho. (Enquanto isso, volta para o computador e reescreve os contratos para o outro cliente.) Bati tudo no liqüidificador com 125ml de caldo de legumes e 1/4 de xícara de creme de leite fresco. Acertei o tempero, e comi acompanhado de lascas finas de polenta assada, crocantes depois de salteadas no azeite.

Aaaaaaaaaaaah... que booooom... Suquinho de maracujá para acompanhar e terminar de acalmar os nervos.

Agora de volta ao buraco negro que me engole para dentro do universo chamado trabalho.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Padaria de Domingo 2: Pão Vienense e uma vontade repentina de ouvir Mozart

Domingo... Dia de acordar às 7h30 da manhã. Hein???? É, quem tem cachorro que dorme dentro de casa (eu moro em apartamento e não tenho escolha) sabe do que estou falando. Com ou sem despertador, todos os dias no mesmo horário, sou acordada por 20kg de muito pêlo e amor. O primeiro sinal de que é hora de acordar é a falta de sensibilidade nas pernas, porque o cão resolveu subir na cama e dormir sobre elas. Abro os olhos e, inocentemente, ergo-os em direção à fonte do meu desconforto. A fonte percebe e, incrivelmente feliz, pula em minha direção, enchendo meu rosto, meus ombros, meus braços, ou qualquer parte minha que eu não tenha conseguido cobrir a tempo com o lençol, de lambidas melequentas.

O cão se acalma. Acho que conseguirei dormir um pouco mais. Mas Allex, que se sentia um pouco melhor, resolvera levantar e ser fofo, preparando meu café a guardando a louça limpa do escorredor no armário. Porém, ele se atrapalha com o quebra-cabeças de panelas embaixo da pia, e sou novamente despertada, desta vez por sons aflitivos de coisas quebráveis batendo umas nas outras, metais riscando metais e miudezas espalhando-se e tilintando pelo chão.

Ok, hora de levantar, antes que o excesso de gentileza do meu marido quebre alguma coisa.

Antes mesmo de poder terminar meu café, Gnocchi já começara sua dança ritualística "Estou incrivelmente apertado e quero mijar na calçada dos outros AGORA". Pula para lá, pula para cá, grunhi, chora, late.

Estômago vazio, e já passeando com o cachorro embaixo de chuva. Ossos do ofício. Amo meu bichinho, e não quero que seus rins explodam.

Volto, como uma esfiha de ricotta do Rosima direto da geladeira e ouço o marido reclamar que não tem pão. "Não fiz ontem porque você disse que comeria esfiha", respondo. Grunhidos. Abri meu livro e fui ver qual seria o pão deste domingo. "Vienna Bread". Preparei rapidamente a massa, sob o olhar curioso de Allex, e deixei-a fermentando, enquanto começávamos nosso ritual de domingo: limpeza da casa. Pelo menos há uma vantagem em morar num apartamento do tamanho de um ovo: em uma hora você limpa o lugar de fio a pavio. Claro, se o aspirador de pó não superaquecer e resolver desligar no meio da faxina. [Suspiro.] Corremos atrás do manual do desgraçado, para ver se isso era normal ou se acabáramos de fundir nosso aspirador. "Esperar 30 minutos e religá-lo".

Massa fermentada, comecei minha parte favorita: moldar o pão. Para esse tipo de pão de massa simples — ou seja, com pouca ou nenhuma gordura — como pão italiano, de campanha, entre outros, existe uma técnica muito boa de moldagem de baguettes e pães ovais, que parece fazer toda a diferença na textura final do miolo. Depois de tirar todo o ar da massa, você deve formar uma bola e deixá-la relaxando por cerca de 10 minutos. Então, ao invés de simplesmente esticá-la ou rolá-la para deixá-la ovalada ou comprida, você a achata em formato retangular, e começa a enrolá-la como um rocambole, mas a partir do lado mais comprido (ao contrário do rocambole), sempre pressionando bem para que a massa fique bem grudadinha. Só então você a rola sob as palmas, para deixá-la no comprimento e espessura desejadas. Eu pretendia produzir um único pão comprido, mas minha assadeira não era grande o suficiente, de modo que cortei meu rolo de pão pela metade. Eles ficam incrivelmente fininhos (5cm) e parecem que não vão crescer muito, mas já na segunda fermentação mostram a que vieram.

Enquanto fermentavam, cobertos, lavei a cozinha e comi mais uma esfiha. Pincelei-os com água, cortei-os (um de cada modo, para ver como ficavam) e coloquei-os no forno. Desta vez, entretando, quis testar algo que pretendia havia tempos: como as receitas do livro são para profissionais da área, elas se referem a fornos industriais, que têm vapor programável. Este, como muitos pães, necessita de vapor nos primeiros 10 minutos de cozimento. E isso faz TODA a diferença na textura da casca dos pães. Portanto, fervi um pouco d´água e coloquei em uma assadeira, que posicionei na grade inferior do forno, não sem antes queimar meus dedos na água fervente que balançou para um lado, para o outro, e sobre minha mão. Tudo bem, porque já me acostumei com queimaduras o bastante para conseguir dominar meus instintos e friamente finalizar a ação antes de abanar a mão, correr para uma torneira aberta e gritar impropérios para quem quiser ouvir.

Pão no forno. Hora de descansar? Não, hora de fazer sorvete. Creme preparado, já na geladeira para esfriar antes de ir à sorveteira. Agora sim, descanso. Né? Não, hora de preparar o almoço, para comermos rápido e sairmos para ver o cãozinho dos meus sogros, que estão viajando e deixaram o bichinho sozinho em casa. Precisávamos ir até lá, como prometido, para dar atenção e comida ao cão. O almoço foi simples, pois lavara, cortara e branqueara* os brócolis no dia anterior (*cozinhara em água fervente por alguns minutos e mergulhara-os em água gelada, o que os mantém verdes e al dente).

Tirei os pães do forno, lindos, perfeitos, e descobri a maravilha que é obedecer à receita e de fato usar o vapor (retirara a assadeira perigosamente fervente após 10 minutos de forno — nesse tempo, o pão já ganhou estrutura e começa a dourar, então não há perigo de um colapso por causa de uma porta de forno aberta). Apesar da aparência de um pão de casca grossa, ele ficou muito, muito macio, com uma casca fina e quebradiça e um miolo como uma nuvem, ligeiramente adocicada. Com os dois esfriando sobre a mesa da sala, Allex não resistiu a quebrar-lhe um naco ainda quente para passar no molho cremoso do fettuccine.

"Você gosta mais de pão assim do que de casca grossa, né?", perguntei.
"Hm-hum..." (Boca cheia)
"O nome desse é Viennois, quer dizer, é um pão vienense."
"Ah, é da terrinha!"
(Se você não lembra, a família dele é meio alemã, meio austríaca.)

Para quem quiser fazer esse pão, ele é muito simples, já que basta juntar todos os ingredientes de uma vez numa tigela, misturar, sovar, fermentar por 1 hora, moldar (do jeito que já falei), fermentar de novo enquanto o forno aquece a 220ºC e colocar no forno por meia horinha, com a assadeira cheia de água fervente (com cuidado!) pelos primeiros 10 minutos. Quase não merece uma receita formal, pois não difere em nada de um pão comum. No entanto, é só para quem tem balança em casa, pois a receita requer apenas 12g de ovo. É, pois é. Outro motivo pelo qual eu fiz o fettuccine no almoço foram os outros 50g de ovo restantes que ficaram na geladeira, já que um ovo extra-grande costuma ter 65g. Então, se você tiver uma balança em casa, você faz um pão vienense com 175g de água morna, 9g de fermento ativo seco instantâneo, 315g de farinha para pães, 7g de sal, 12g de açúcar, 9g de azeite de oliva e, sim, 12g de ovo batido.

Quem tem o livro em casa, verá que a receita não está igualzinha à publicada. Isso acontece porque, sob as perguntas de Allex, enquanto eu media os ingredientes, me embananei com as contas e usei mais fermento ativo seco instantêno do que o necessário (o correto seria 4g), o que, no entanto, desta vez, não fez diferença, talvez tenha até melhorado o produto final. Também não tinha xarope de malte e nem sei onde consegui-lo, e o substiuí por açúcar, como o próprio livro indica. Como o único óleo disponível era o azeite de oliva extra-virgem, foi esse mesmo que usei.

O resultado ficou sen-sa-cio-nal.

domingo, 23 de dezembro de 2007

E se eu não aparecer por aqui amanhã, Feliz Natal!!

(Clique na imagem para ampliá-la...)

Biscotti de parmesão e pimenta-do-reino para uma tarde com café (Updated)




Meu pai veio a São Paulo para passar o natal, e levará todo mundo embora (minha mãe e minha irmã) para Fortaleza para o Reveillon. Allex e eu ficaremos aqui, pois ele não tem férias coletivas. Como no ano passado passamos o natal com minha família, esse ano é a vez do lado alemão, e por isso mesmo convidei meu pai para passar esta tarde conosco, tomar um café e brincar com o Gnocchi. Cada vez que meu pai vê o cão é um novo susto, pois de mês em mês o bicho cresce horrores. Lembro-me de quando ele ainda conseguia se enfiar no estreito vão entre a parede e a geladeira. Hoje, com 20 quilos, o bichinho desistiu de se espremer em cantos apertados, após entalar embaixo do armário do banheiro.

Bom, voltanto a meu pai... Há já algum tempo ele não pode consumir doces, gordura, sal, ou qualquer coisa que seja gostosa. Não consegui imaginar o que servir a ele nessas condições, mas tendo mais preocupação com o princípio de diabetes do que com o colesterol, e sabendo que ele mesmo trapaceia o regime de vez em quando, resolvi fazer essa receita de biscotti de parmesão e pimenta-do-reino, um pequeno tira-gosto salgadinho e apimentado. Apesar da receita ter queijo e manteiga, a quantidade total não é lá grande coisa, e mesmo que meu pai coma metade dos biscotti, ainda assim não terá consumido quantidades alarmantes dos "perigosos" ingredientes.

Ando um pouco distraída, no entanto, por causa da dor de garganta, que andou piorando, e acabei me esquecendo de achatar os rolos de massa antes de levá-los ao forno. Da mesma forma, esqueci-me de cortá-los na diagonal. Razões pelas quais os biscotti saíram mais rechonchudos e menos estilosos. Isso não influencia em nada, claro, no sabor.

A receita é de um blog que adoro, chamado Smitten Kitchen.

[UPDATE: os biscotti fizeram tanto sucesso, que meu pai levou para casa um saquinho cheio deles para comer depois!]

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Cesta de natal boa prá cachorro



Só o Gnocchi para gostar de cesta de natal de empresa (ele adora destruir qualquer coisa feita de papelão). Acho-as engraçadíssimas, pois sempre me perguntei o que faria se um dia tivesse de preparar uma ceia de natal inteira apenas com o que as empresas de cestas colocam no caixote.

Desta vez, resolvi botar a cachola para funcionar, ainda que não vá de fato fazer nada disso (porque não como salame, coisas industrializadas com glutamato monossódico, azeite de terceira, vinho porcaria e porque o Allex não come — como já ficou muito bem estabelecido aqui — nozes). Se eu tivesse, realmente, que bolar um cardápio apenas com o que há aqui, o que diabos eu faria?

A lista de itens da cesta é a seguinte:
  • 1 pacote de macarrão
  • 1 pacote de farofa de mandioca pronta
  • 1 salame
  • 1 provolone
  • nozes
  • castanhas-do-pará
  • uvas-passas
  • frutas cristalizadas sortidas
  • ameixas secas
  • 1 pacote de amendoim japonês
  • 1 pacotinho de amendoim coberto de chocolate
  • 1 lata de pêssegos em calda
  • 1 panettone
  • 1 pacote de bolachas champagne
  • 1 caixa de bombons
  • 1 pacote de azeitonas verdes
  • 1 salgadinho de queijo
  • 1 torrone
  • 1 pacote de palitos de chocolate
  • 1 pacote de balas de caramelo
  • 1 vidro de geléia de goiaba
  • 1 caixinha de creme de leite
  • 1 caixinha de leite condensado
  • 1 pacote de mistura pronta para bolo de chocolate
  • 1 latinha de azeite
  • 1 garrafa de vinho "de mesa suave" (exatamente a classificação de vinhos brasileiros da qual você deve fugir, porque quer dizer que o vinho foi feito com uvas não viníferas)
  • 1 garrafa de cidra
  • 1 garrafa de suco concentrado de caju
O movimento mais óbvio é abrir o pacote de salgadinhos e o de amendoim japonês e deixar ali de aperitivo, junto com um pouco das nozes e castanhas-do-pará caramelizadas no forno e com o queijo e as azeitonas no azeite. Para beber, bateria os pêssegos em calda e misturaria à cidra, para um bellini abrasileirado. Para as crianças, suco de caju. A farofa pronta, misturaria com um pouco de passas e frutas cristalizadas. Cortaria o salame em cubinhos, refogaria no azeite, juntaria um pouco do vinho porqueira para reduzir bem e faria disso meu molho para o macarrão, se eu comesse carne e... bem... se eu não tivesse outra opção. Sobremesa é o que não falta nessa cesta; é um absurdo a quantidade de doce que veio nela! O pessoal que monta as cestas gosta de um natal bastante enjoativo! O panettone eu deixaria quieto, porque é da Bauducco. Se fosse porqueira, viraria outra coisa. Assim, de cabeça, talvez eu fizesse um pavê bem enjoativo (ou um "triffle" para quem anda viciado em programa da Nigella): bolachas champagne, creme de leite misturado ao leite condensado e às ameixas secas picadas. Se minha geladeira tivesse o que falta à receita, prepararia o tal bolo de chocolate semi-pronto, e cobriria, ainda no forno, com uma farofa dos palitos de chocolate. Só porque o Claude Troisgros fez um estranhíssimo panettone de chocolate e goiabada, eu rechearia o bolo de chocolate com a geléia de goiaba. Serviria os bombons, as balas e os amendoins cobertos de chocolate na hora do cafezinho, e comeria o torrone enquanto lavo louça, porque eu adoro torrone.

É, só forçando um pouco a barra mesmo. Mas fiquei curiosa! Alguém por aí teria outras idéias de refeição usando todos os ingredientes da cesta?
; )

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Gnocchi no parque


Parque Ibirapuera, sol, sorvete, descanso à sombra de uma árvore. Passeio para o cão cheirar outros rabos. Ele ainda tem um looooongo caminho até ficar atlético e louco por bolinhas saltitantes como todo bom border collie. Por enquanto o bicho corre um pouquinho, olha a bolinha rolando na grama e faz essa cara de pastel, como se dissesse "você realmente quer que eu saia correndo atrás duma bola de borracha debaixo desse sol???"

Só porque a Bia andou pedindo mais fotos do cãozinho, e porque eu adoro atrapalhar a vida de pessoas que buscam receitas de "gnocchi" na internet... Maldade...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Uma ajudinha para digitar enquanto eu tomo sorvete

P.S.: o Remy de pelúcia foi presente de aniversário do Erik, amigão meu. Ai, como eu quero uma escrivaninha maior...

Eu não me agüento...


Nessa manhã de chuva, dei-me folga na corrida e na recém-começada musculação. Aproveitei para acordar com calma, brincar com o cão e bater papo com o marido. Ele quis que eu o acompanhasse por metade do caminho até a garagem onde guarda a moto, e que aproveitássemos e tomássemos café-da-manhã na nova padaria local. Bebi um espresso puro (gostoso) e comi uma pequena trança adocicada salpicada de passas úmidas e frescas (saborosa, mas eu bem que gostaria de uma manteguinha salgada para acompanhar). Comentei que estava chovendo?

Acabei acompanhando-o até a garagem, e, estando já no meio do caminho, resolvi subir até a livraria Cultura, só para fuçar e passar o tempo. Ai, ai, ai... Como se eu não me conhecesse. Saí de lá com o novo livro do Jamie Oliver debaixo do braço e uma encomenda que chega daqui a 3 dias. Quando saí da livraria, a chuva apertara e... comentei que não levara guarda-chuva?

Coloquei o livro dentro da mochila e saí andando pela rua, sem pressa, deixando que a chuva gelada me encharcasse como se eu não me importasse. E a verdade é que de fato não me importei. Fazia tanto tempo que não tomava chuva, e esta me fez tão bem, despertando os sentidos e as lembranças de infância, lavando embora todas as minhas preocupações...

Não existe sensação mais reconfortante do que chegar em casa, trocar as roupas molhadas por um moletom quente e seco e tomar um chá de gengibre fumegante no sofá da sala, lendo um livro novo e rindo do cão brincando sozinho, pululando pela sala.

O novo livro está lindo, do jeito que gosto de meus livros de cozinha: lotado de fotografias. Concordo com alguns chefs que acham que Jamie Oliver é um pouco canastrão, no sentido de que sua comida não é nem um pouco revolucionária. It´s all been done before. No entanto, simplesmente adoro o estilo de vida que ele promove, e suas receitas são, de fato, perfeitas para o dia-a-dia. Estas, então, acompanhadas de dicas de jardinagem, parecem ter sido escritas para malucas como eu. Não consigo deixar, porém, de sentir alguma melancolia ao ver as fotos de seu jardim e tudo o que nele é produzido... Pergunto-me se um dia terei condições de ter um espaço assim, cercado de verde, onde possa plantar meus tomates e criar minhas galinhas (pelos ovos, apenas pelos ovos!).

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O assassino

Vai dizer... é difícil ficar brava com um assassino de pimenteiras tão fofo... Essa foto foi o Allex quem tirou.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Gnocchi!



Essa coisinha gostosa é o novo habitante da minha casa. Depois de devolver a cadelinha aos meus sogros, ficamos morrendo de vontade de ter um bichinho fazendo bagunça em casa. Então pegamos esse filhote de 2 meses de Border Collie que estava para adoção. É claro que o nome dele tinha de ser Gnocchi!

Não se deixem enganar pelo olhar verde e dengoso. Ele é uma pestinha hiper-ativa-mega-inteligente, que já roeu plantas, móveis, colchas, tênis, dedos (ai!), mas que em 2 dias (nunca vi coisa igual) já aprendeu onde se aliviar.

Será uma delícia ter a companhia desse gnocchettino de chocolate todos os dias.

Cozinhe isso também!

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