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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vai passar. Enquanto não passa, quibe de batata-doce.


Todo mundo já se entupiu de bolo de Guinness? Lambeu a cobertura do prato? Óoooootimo. Vamos voltar às naturebices, então, que tem toda uma fila de posts de coisinhas saudáveis que precisam pipocar por aqui.

De fato, o timming para voltar a variar o cardápio foi perfeito. Talvez tenha sido o aniversário de 3 anos (o fim dos terríveis 2?), talvez tenha sido resultado da insistência materna... não importa: o Matador de Dragões voltou a comer direitinho. Assim, de um dia para o outro, eis que ele senta à mesa e come algo verde sem fazer careta, birra, manha, coisa nenhuma. Achei que tivesse sido sorte, mas na refeição seguinte, largou o desenho, sentou e comeu. Ok, o ciuminho da irmã faz com que eu tenha de ajudá-lo com o garfo mais do que ele de fato precisa, mas ainda assim. Não preciso pedir muito para que ele experimente algo novo. Não precisa gostar, nem precisa comer tudo. Só experimentar. E aí ele vai lá e experimenta. E quase sempre come 80% do que há no prato. (Continuo recomendando o método blasé do Bringing Up Bébé.)

Quando resolvi preparar esse quibe, da revista Casa & Comida, achei que, como muitos outros quibes, ficaria bem sequinho. Como não tinha coalhada para o molho sugerido, montei rapidamente uma saladinha de abacate, tomate, alface e coentro, porção pequena, certa de que eu acabaria comendo tudo sozinha. Sempre coloco no prato das crianças um pouquinho de tudo o que há na mesa, mesmo que eu saiba que eles não gostam, não querem ou não conseguem comer (como alface, no caso da Laura, que ainda não tem todos os dentes de trás). Abacate vinha sendo uma tristeza minha, pois eu adoro de paixão, e Thomas costumava comer até papinha de abacate (guacamole?) – aí um dia decidiu que não queria mais nada a ver com a fruta. Buáaaa. :(

Daí que coloco a comida no prato dos dois, Laura-Ogra começa a devorar tudo, e Thomas observa. Cata o garfo. Pede ajuda. Já suspiro, esperando a recusa, mas ainda assim espeto um tomatinho e um abacate. Ele faz uma careta, olha nos meus olhos, desiste antes de começar a reclamar, e come. "Hmmmmmm.... Tá booom!" Pede mais. E mais. E come o quibe, quase tudo, mas principalmente, come o abacate com tomate do seu prato, do meu, do da Laura e o resto que estava na tigela da mesa. Adora "acacate", como diz.

Aí me surpreendo em outro dia, quando faço pizza, e o vejo roubando azeitonas pretas do prato dos outros.

"Mas você gosta de azeitona?"
"Hum-rum!", responde, com boca cheia e um movimento assertivo de cabeça.
"Mas você odiava azeitona! Como pode?"

Para mim, esse é o conto do "vai passar". Porque sempre que eu tinha um perrengue-de-pimpolho, alguém me dizia "é fase, vai passar". E eu nunca acreditava. E agora acredito. Não come? Vai passar. Não dorme? Vai passar. Não faz xixi no lugar certo? Não conheço um adulto que não tenha eventualmente aprendido a usar o banheiro. Vai passar. E passa. Passou. A gente continua lidando com os perrengues e tentando resolver. Mas o mantra do "vai passar" com certeza dá um alívio imenso. Principalmente quando seu pimpolho está na fase-monstra dos dois anos. Impressionante como passa.

O que me deixa menos tensa ao pensar que dona Laura-Voluntariosa AINDA vai passar por isso. o_O

Afe.

Ao quibe: muito macio e saboroso, fácil, principalmente se você já tiver um resto de quinua de ontem dando sopa, como era o meu caso. A receita original era com mandioquinha, mas recomendava substituir por inhame, batata-doce, cará... Escolhi a batata-doce, que era o que eu tinha sobrando. O recheio de queijo... esse achei desnecessário, e omitiria na próxima vez. Não acho que tenha agregado nada ao prato a não ser torná-lo mais caro. [O preço do queijo está pela hora da morte! O que acontece??]. De qualquer forma, morri de vontade de transformar a mistura em hambúrgueres vegetarianos, pois o que sobrou de quibe num dia, virou recheio de sanduíche em outro, quando costumo ficar o dia todo fora e acabo almoçando no carro, entre um curso e outro.

A receita usava "colheres de sobremesa" e "colheres de café", como medida, o que sempre acho estranhíssimo, e a revista não dava conversão para o clássico "de sopa" e "de chá". Fui lá, Google nisso, achei e converti. Agora e a xícara de café de medida? Qual xícara? A minha de espresso ou a do tiozinho da padaria? Eu tinha 3/4 xic. de quinua cozida na geladeira, e foi isso que usei. Se não tivesse quinua cozida, usaria 1/4 xic. como medida, apesar do volume padrão para espresso (segundo me consta) ser 30ml. Volume da de café com uso culinário, realmente não achei. Confuso, confuso. O bom é que pratos como esse são adaptáveis e, no fim, você tempera a seu gosto, e algumas colheradas a mais ou a menos de quinua não vão fazer diferença.

Se você não tiver sumagre, acho que pode ser substituído por um pouco de suco de limão, sem exagerar, pois o sumagre tem justo esse azedinho cítrico. No lugar de pimenta síria, usei caiena, em quantidades menores, pois tudo o que Laura adora pimenta, Thomas recusa. Mas acho que isso também passa. ;)


QUIBE DE BATATA-DOCE
(Receita de Priscilla Herrera, do Banana Verde, publicada na revista Casa e Comida)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 5 porções fartas

Ingredientes:

  • 700g de batata-doce (ou mandioquinha, inhame, cará, batata inglesa, abóbora kabocha)
  • 1 xic. trigo para quibe
  • 6 colh. (sopa) cebola roxa picada
  • 2 colh. (sopa) hortelã fresca picada
  • 2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (chá)sumagre
  • 2 colh. (chá)zaatar
  • 1/2 colh. (chá) pimenta síria
  • 1 pitada de orégano
  • 1 xic. (café) quinua 
  • 2 colh. (sopa) cebolinha picada
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 xic. (café) azeite de oliva
  • 1 xic. (café) nozes picadas
  • 1 talo de alho poró picado bem fininho
  • 80g queijo mussarela cortado em cubinhos
  • 80g ricotta


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma assadeira retangular pequena ou um refratário quadrado (o da foto tem cerca de 21-22cm de lado)
  2. Cozinhe a batata-doce na água até ficar macia (esfreguei bem para limpar antes, e cozinhei com casca e tudo). Escorra e amasse até virar um purê. Reserve.
  3. Enquanto a batata cozinha, hidrate o trigo em pouca água, deixando-o bem al dente. Escorra e junte ao purê de batata. 
  4. Enquanto isso, cozinhe a quinua em água fervente, até que solte os rabinhos. Escorra em uma peneira, passando sob água fria, para parar o cozimento. Junte ao purê com trigo.
  5. Misture o restante dos ingredientes, menos os queijos, e amassa bem com as mãos, para que tudo fique bem distribuído e consistente. Prove o tempero e corrija.
  6. Espalhe metade da massa na assadeira. Cubra com os queijos e cubra com o restante da massa de quibe. Passe um garfo na superfície, criando um desenho de ranhuras, e leve ao forno até dourar ligeiramente. (A receita não especifica um tempo, e acredito que dependa do tamanho da forma que você usou e do material – vidro, metal, cerâmica. Coloque o timmer para 15 minutos vá ficando de olho.) Sirva quente.

Em tempo, pesquisa feita: 
1 colh. (café) = 1/2 colh. (chá)
1 colh (sobremesa) = 2 colh. (chá)






sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Quibe de ricotta e malte e uma cabeça bagunçada

Escrevi e apaguei o texto desse post um milhão de vezes. Um texto de introdução para um quibe vegetariano. Pode? Pode. Minha cabeça está em outro lugar. Totalmente.

Está na pimpolha agitada dentro de mim, pronta para vir, só esperando começar a ser espremida para fora. Porque me disseram que pode vir uma semana antes, e eu fiquei ansiosa. Porque me disseram que as contrações podem ser mais leves na segunda vez, e eu, que estava até agora tranquila esperando as mesmas dores do Thomas, agora fico confundindo contração com indigestão.

Está no pimpolho que mês que vem começa a escola pela primeira vez, e eu fico paranóica achando que a pequena nascerá antes que eu possa ir comprar o uniforme, e que não há nada pronto, e que ainda não achei a térmica que eu queria para ele levar o lanche, e que não sei como será ter outro ser humano, fora de minha família direta, cuidando da minha cria.

Está na minha dificuldade de encontrar com quem trocar figurinhas, porque maternidade virou essa competição louca de quem está certa e quem está errada, e não existe mais uma troca saudável de experiências diferentes, e não existe mais meio termo. Ou você é totalmente moderninha ou totalmente natureba. E parece que estamos todas nos esgoelando para estarmos certas, seguirmos as técnicas corretas, mostrarmos que nossos filhos serão melhores que os dos outros porque nós fazemos escolhas melhores, ao invés de simplesmente seguirmos nosso instinto e fazermos o melhor possível para aproveitar cada fase das crianças enquanto elas ainda são crianças. E trocarmos figurinhas. E abrirmos nossa mente para outras opções e possibilidades que podem advir de uma conversa saudável com pessoas que fazem diferente de você. Foi libertador dar o braço a torcer durante esses quase dois anos de maternidade, e ver que as teorias que eu tinha firmes em mim nem sempre estavam certas. Pelo menos não para mim e não para o meu filho. E eu dei açúcar ao Thomas antes dos dois anos, e ele usou fraldas descartáveis, chupou chupeta, vê desenhos animados para eu poder trabalhar, come ketchup Heinz com sua fritatta orgânica de talos de espinafre e está indo à escola antes dos três anos.

Sinto que, de modo geral, as mães hoje em dia estão muito radicais e muito na defensiva. E isso só torna a experiência de ser mãe uma coisa extremamente solitária. Principalmente para alguém como eu, cuja irmã, cunhada e amigos mais próximos ainda não têm filhos. E eu já estou no segundo. E acabo tentando trocar figurinhas internet afora ou com mães de parquinho, e me vejo com medo de contar qualquer coisa, dividir qualquer dificuldade ou sucesso, medo de ser massacrada.

E minha cabeça não pensa no quibe vegetariano, pensa nisso. Pensa que serei mãe de dois agora. E que queria companhia para o chá com bolo, como vi minha mãe fazer com as amigas durante minha infância, para dividir sem ser (muito) julgada, para compartilhar informações e, de repente, mudar de ideia, ajudar ou ser ajudada.

Para quem também é mãe e já deu uma olhada feia para outra mãe coitada, fica o apelo: sejamos mais companheiras. Lembremos que somos mulheres diferentes, criando seres humanos diferentes em circunstâncias diferentes, e que não há um jeito certo de fazer as coisas que seja certo para todo mundo em todas as instâncias. Sejamos mais tolerantes umas com as outras e não ilhas de sabedoria suprema.

Foi nesse esquema de divisão de informações durante um cafezinho que essa receita de quibe vegetariano caiu nas mãos de minha mãe, há muitos anos atrás, quando eu era estritamente vegetariana e nem peixe comia, o que a enlouqueceu um pouco, pois não sabia o que cozinhar para mim. Fiz apenas duas adaptações à receita: a original levava um pacote de sopa de cebola, que substituí por 1 colher (chá) de assafétida (opcional), algumas alteraçõezinhas para facilitar a medida da receita, e usei o bagaço de malte da minha cerveja no lugar do trigo para quibe, por sugestão de minha sogra, que fez o mesmo com uma receita de quibre tradicional, com carne. Tanto com o malte como com o trigo esse quibe fica delicioso, muito perfumado de especiarias, e acho até que se fosse servido a um carnívoro, ele não notaria que não há carne na receita. (Também acho que pode ser moldado como quibezinhos para serem fritos.)

Pimpolho devorou sua porção. E enquanto ele comia, "nham-nham", eu já não pensava no quibe, mas na pimpolha por vir, se ela terá o mesmo delicioso apetite, se será risonha, se será sapeca, se vai saber o que fazer com um giz de cera, ao contrário do irmão, que apanha os pedaços coloridos e brinca de jogar embaixo dos móveis. E penso na escola, no muffin de milho que será provavelmente o primeiro lanche do Thomas, se a professora vai ajudar a colocar o chá no copo, se ele vai desembestar a falar, finalmente. E penso nas mães da escola, se haverá alguma com quem eu me dê melhor, se poderei tomar chá com bolo com ela enquanto nossos filhos brincam juntos.

QUIBE DE RICOTTA
Tempo de preparo: 20 min. + 30 min. de forno
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1 xic. trigo para quibe (ou 2 xic. de bagaço de malte)
  • 3 batatas médias
  • 1 colh. (sopa) manteiga
  • 500g ricotta fresca sem sal
  • 1 cebola grande picada
  • 1/2 xic. folhas de hortelã fresca, picadas
  • 1/2 xic. folhas de salsinha, picadas
  • 1 colh. (chá) orégano
  • 1 colh.(chá) canela em pó
  • 1 colh. (chá) noz moscada ralada na hora
  • 1 colh. (chá) assafétida (opcional)
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-da-jamaica moída
  • 1/4 colh. (chá) cravos moídos
  • sal a gosto
  • pimenta-do-reino a gosto

Preparo:
  1. Se estiver usando o trigo, coloque-o de molho em água por 1 hora. Escorra e reserve. No caso do bagaço de malte, apenas esprema numa peneira para retirar o excesso de líquido.
  2. Cozinhe as batatas até que fiquem bem macias. Amasse com um garfo (com casca mesmo), até virar purê, e junte a manteiga, mexendo até que ela derreta.
  3. Junte a ricotta, a cebola, as ervas frescas e os temperos e misture bem. Junte o trigo ou bagaço de malte, misture bem e acerte o tempero. 
  4. Despeje numa travessa refratária untada com azeite, passe um garfo na superfície, criando listras, e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 30 minutos, ou até que a superfície esteja bem dourada.

 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bolinhos de cenoura, o sucesso dos pepinos e a imprevisibilidade do paladar infantil

Já escrevi aqui algumas "dicas anti-stress" para alimentar uma criança pequena (ou pelo menos a MINHA criança pequena). Mas faltou uma. Uma boa para mãe que gosta de cozinhar mas não gosta de comer todo dia a mesma coisa: nunca presumo de antemão que o pequeno caçador de formigas vai recusar a comida que estou fazendo.

Porque é fácil fazer isso. Você, com uma vontade imensa de comer ensopado francês de peixe, imagina a criança lidando com aquele creme, os pedaços do peixe e frutos do mar, as texturas e temperos diferentes, a dificuldade com a colher, e repensa o jantar. E faz macarrão com molho de tomate, que é mais fácil. No dia seguinte, querendo soba com berinjela e manga, aparecem as mesmas inseguranças, seu dia foi cansativo, não está com o menor saco de lidar com criança birrenta... macarrão com molho de tomate. Pro pimpolho, apenas. Depois que ele vai dormir, você prepara seu soba para matar vontade.

Claro que às vezes eu caio nessa. Mas ando tentando não mais entrar na pegadinha da "comida fácil de criança". Principalmente quando Thomas me surpreende ao tomar um copo inteiro de lassi com água de rosas, chá de jasmim sem açúcar nenhum ou castanhas de caju crocantes e cheias de pimenta caiena. Nessas horas me lembro de que simplesmente não dá para prever o que uma criança vai gostar de comer ou recusar.

Tanto que, querendo ainda apresentar alimentos crus ao pimpolho, preparei essa raita? tzatziki? esse... pepino com iogurte para acompanhar os bolinhos de cenoura do Bill Granger. Presumi que ele comeria os bolinhos, pois bolinhos sempre fazem sucesso, e que talvez, se eu desse sorte, se interessasse em experimentar os pepinos, uma vez que estavam envoltos em iogurte e ele adora chuchar comida em molhos de qualquer espécie.

Surpresa: nem tocou nos bolinhos; comeu todo o pepino. o_O

Vai entender.

Fica a dica: não presuma nunca que o pimpolho vai ou não vai comer xis coisa baseado em experiências prévias. Lembra o vício em bananas do pequeno? Sumiu. Anda deixando bananas pela metade. Mas experimente deixar uma caixa de morangos à disposição. Tadinho, vai sofrer quando eles pararem de aparecer na banca orgânica.

Mesmo sem pimpolhos, no entanto, esse é um almocinho leve e muito gostoso. Apesar das inúmeras receitas, acabo fazendo os pepinos meio que sempre da mesma forma: fatiando fino, salgando e deixando numa tigela por um tempo, para sorarem. Espremo e descarto o líquido e misturo os pepinos a iogurte caseiro, um dente de alho bem picadinho, menta seca, cebolinha picada, pimenta-do-reino, um fio de azeite e mais sal, se julgar necessário.

Para os bolinhos, do ótimo livro Bill's Open Kitchen, de Bill Granger, misture numa tigela:
  • 60g (1/2 xic.) farinha de trigo
  • 125ml (1/2 xic.) de água com gás ou tônica
  • 1 ovo
  • 1/4 colh. (chá) de cominho moído
  • 1/4 colh. (chá) de sementes de coentro moídas
  • 1/4 colh. (chá) de cúrcuma
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 1 colh. (chá) de sal
  • 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes e picada (ou a gosto)
  • 235g (1 1/2 xic.) cenoura ralada grosso
  • 8 talos de cebolinha picados
  • 25g (1/2 xic.) de coentro fresco picado
Aqueça uns 60ml de óleo numa frigideira grande e frite os bolinhos em porções de 2 colh. (sopa) cada, sem encher demais a frigideira. Frite por uns 2 minutos cada lado, até que dourem, escorra em papel-toalha e sirva quente, com um molhinho de iogurte à sua escolha ou os pepinos. Faz cerca de 12 bolinhos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Conservando a sanidade mental

Às vezes os clientes tomam chá de sumiço. No meio de um trabalho, prazo apertando, e eles desaparecem sem deixar rastro, a não ser pelo cheiro inconfundível do meu desespero crescente ao me ver abandonada, sem saber se o cliente sumiu porque não gostou, porque morreu ou simplesmente porque está ocupado com outra coisa.

Numa tarde dessas, em que minha mente ociosa começava a inventar caraminholas mil, apanhei um livro qualquer na estante e fui para o sofá. Tratava-se de um livro de conservas. Eu me sentira muito mal comigo mesma por ter desistido das conservas há um tempo atrás. Alguns erros de principiante metida à sabe-tudo botaram a perder minha conserva de ameixas, meu relish de milho e meu picles de melancia. No primeiro, não usei frutas no auge do seu frescor, e não retirei os bolsões de ar que ficaram entre a fruta e o xarope, de modo que ao abrir o frasco ouvi um triste "pssssssfff" ao invés do animador e hermético "poc!"e me deparei com uma conserva obviamente estragada. Quanto ao relish, o problema foi que quis inventar passos onde não havia, e resolvi ferver o relish depois de pronto, para conservá-lo na prateleira. Durante o cozimento extra, o milho antes macio ficou duro feito pedra. No picles de melancia, usei frascos cujas tampas (descobri depois) estavam ligeiramente tortas, de modo que não selaram de modo apropriado. Então me lembrei de que entortara as tampas com uma faquinha para conseguir abrir os vidros quando ainda tinham seus conteúdos originais. O ar lá dentro transformou meu picles em formas cinzentas nadando em um líquido enevoado. Uma tristeza...

É claro que isso desanima qualquer ser humano. Mas nessa tarde caraminholenta, estava decidida a tentar de novo. Algo fácil. Algo simples. Algo feito para ser consumido na hora, e não ser deixado maturando na prateleira, gerando enormes expectativas. Sabia ter encontrado o que queria ao ver a autora do livro falando cheia de amores de uma geleia de framboesas que deveria ser feita em pequenas quantidades, pois era mais saborosa quando ainda tinha gosto de frutas frescas, e não após meses de prateleira.

Tchanans!

E podia ser feita com framboesas congeladas!

Tchananans!

Apanhei meu meio pacotinho de framboesas congeladas, que vieram todas grudadas e em pedacinhos, impossíveis de serem usadas de forma mais decorativa, e misturei ao mesmo peso de açúcar cristal orgânico. Levei ao fogo e foi uma mera questão de mexer, retirar qualquer espuma, e esperar dar o ponto. Suficientemente espessa, considerando que geleias de framboesa não ficam muito espessas sem a adição de pectina, a geleia foi direto para um vidrinho esterilizado no forno (10 minutos a 180ºC, mais prático que ficar retirando vidro de água fervente), e fechada para ser aberta já no dia seguinte.

Na manhã seguinte, espalhei a geleia de cor vibrante e pontilhada de sementinhas num pãozinho com manteiga e passei-o ao meu marido. Algumas mordidas depois, ele veio perguntar que marca de geleia era essa que eu comprara, pois estava sensacional e eu deveria comprá-la sempre. Sucesso total! De fato, a geleia de framboesa feita assim fresquinha tem um gosto diferente do que as que ficaram maturando dentro do pote.

Fiquei empolgada com a possibilidade de produzir pequenas quantidades de geleia, com as frutas da estação, para consumo imediato. Aquilo fazia sentido, mais do que ficar entulhando a despensa. Assim que a de framboesa acabou, apanhei as laranjas-pêra orgânicas que eu tinha e um vidro de gengibre em conserva que já estava aberto e sem uso e, com mais uma receita do mesmo livro, fiz uma de minhas geleias favoritas, com as tirinhas finas de casca. O gengibre foi uma adição muito bem-vinda à geleia de laranja, e fiquei feliz por ter produzido mais de um pote. Tendo rendido três, deixei um na geladeira para consumir imediatamente, dei um à minha mãe e o outro resolvi deixar no armário, para testar. Pedi à minha mãe que prestasse atenção ao som feito pelo pote ao ser aberto, e fiquei feliz em saber que foi "poc!", o maravilhoso som do ar do ambiente entrando de uma vez em um pote fechado a vácuo. Grandes chances para minha geleia no armário, então.

Não contente, apanhei um vidro grande e resolvi fazer os tais limões em salmoura que andam muito na moda em blogs e revistas. Principalmente porque nunca os vi à venda, nem mesmo em lugares bem abastecidos de coisinhas gourmet. Imaginei esses limões lindamente amarelos em pratos de verão (quando estarão maturados), e imediatamente pensei em dias de sol. Bastou esfregar bem os limões (1kg) em água quente, cortá-los em quartos quase até o fim, deixando os quartos ainda presos entre si, e acondicioná-los num pote de vidro esterilizado (tampas de vidro, para evitar corrosão pelo sal), alternando com camadas de sal grosso (250g) e algumas folhas de louro. Empurrei bem os limões para baixo, deixando-os apertadinhos para que não flutuassem depois. Preenchi todos os espaços com água, fechei a tampa e coloquei a data. Esses foram fáceis, e desde que estejam todos bem submersos, tudo indica que terei limões em conserva para temperar meus pratos em janeiro. O pote já tem quase duas semanas e não há nenhum sinal de "atividade indesejada" neles. De vez em quando, basta dar uma chacoalhada no pote e colocar mais sal, caso ele tenha dissolvido. Deve ser guardado em local fresco e escuro por 3 meses antes de ser usado.

Então, na feira, deparei-me com uma caixa inteira de mini-alcachofras, do tamanho de punhos de crianças. Coisinha mais linda. Levei meio quilo por uma ninharia, comprei um potinho hermético de 500ml e segui absolutamente à risca uma receita de Eugenia Bone. E assim, fiz meus primeiros corações de alcachofra em conserva, que devem ficar quietinhos por umas duas semanas antes de serem consumidos, mas também, alguns dias depois, não dão indícios de estarem estragando.

Por fim, quando a geleia de laranja acabou, fiquei com dó de abrir tão já o próximo pote e resolvi produzir outra, com algo da estação: ruibarbos. Antes que perguntem onde os encontrei, o Santa Luzia tem produção própria. E fiz minha geleia de ruibarbos, azedinha-doce, deliciosa sobre uma fatia de broa de milho. A receita é adaptada da revista francesa Saveurs, e fiz apenas metade, rendendo dois potes, pois ruibarbos não são o vegetal mais barato do mundo por aqui. Deixei macerando durante umas duas horas 650g de ruibarbos cortados em pedaços pequenos, 450g açúcar cristal orgânico baunilhado, suco de 1/4 limão siciliano e 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha (para substituir o uso da fava, que eu não tinha), até que o ruibarbo estivesse flutuando em seu próprio caldo. Então levei a panela ao fogo moderado e cozinhei, retirando a espuma com uma escumadeira e mexendo, até dar ponto, uns 20-30 minutos. Ela ficou espessa e deliciosa, cheia de pedacinhos macios de ruibarbo. Como havia muitos talos esverdeados, a geleia não ficou tão rosa. Para intensificar a cor tradicional, a revista sugeria o acréscimo final de 1 colh. (sopa) de Grenadine, um xarope cor-de-rosa de romã. Mas me pareceu bobagem comprar uma garrafa inteira apenas para isso, e mantive minha geleia assim, vermelho-acastanhada. Um pote foi para a geladeira, e outro para o armário.

Meus dedinhos coçam em antecipação para a próxima empreitada. :)

"Se não estiver dando trabalho, pode continuar com as geleias, viu?!", disse o marido outro dia, muito consciente de que eu estou é me divertindo.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Comendo direito: 3º dia


Tenho certeza de que hoje será o dia em que os radicais da dieta rolarão os olhos e dirão horrores a meu respeito. Mas, como eu disse, meu objetivo em me alimentar direito não exclui nenhum grupo alimentar (a não ser por carne vermelha e de ave, mas por outros motivos), e eu acredito que o equilíbrio é a chave para bem estar e saúde, e não a restrição. O alimento não é o vilão: o vilão é você, que não sabe tirar o melhor proveito dos alimentos.

Pensando já na minha auto-indulgente janta de sexta-feira, resolvi manter o almoço o mais leve possível. Alguns dirão leve demais. Mas garanto que essa saladinha marroquina e uma fruta de sobremesa bastam. Aviso, entretanto, que ela é um gosto adquirido, e, para funcionar, precisa de folhas muito frescas e crocantes (nada de hidropônicos, que não têm gosto de nada!) e laranjas bastante doces. Mas justamente por ser comida do deserto, funciona maravilhas nesse calor abissal que estamos vivendo em São Paulo. Ela é muito leve e hidrata! O que poderia ser melhor?

SALADA DE ALFACE E LARANJA
(do livro The New Book os Middle Eastern Food)
Rendimento: 2 porções

Tempo de preparo: 10 minutos


Ingredientes:
  • 4 pés de alface romana baby ou 8-10 folhas de alface romana comum, rasgada em pedaços
  • 2 colh. (sopa) de suco de laranja-pera
  • 1/2 colh. (sopa) de suco de limão
  • 1/4 colh. (sopa) de água de flor de laranjeira (encontrada em supermercados ou lojas árabes)
  • 1 colh. (sopa) de óleo de gergelim
  • Sal a gosto
  • 1 laranja doce

Preparo:
  1. Coloque as folhas de alface lavadas e secas em uma travessa. Regue com os sucos, a água de flor de laranjeira e o gergelim. Salgue ligeiramente e mexa bem. Reserve.
  2. Descasque a laranja e corte-a em gomos. Disponha-as sobre as folhas e sirva.
Para o jantar, continuando a volta ao mundo, Nachos! Parece absurdo, a última coisa que você comeria em uma dieta, mas olhemos os ingredientes mais de perto:
  • as tortillas são feitas de farinha de milho, assadas e fritas em óleo vegeta, e talvez sejam as únicas vilãs por causa dessa fritura;
  • o guacamole nada mais é que um purê de abacate com limão, ervas, sal e pimenta, lembrando que o abacate é cheio de colesterol bom e antioxidantes;
  • a salsa é feita de tomates e cebolas picadas com ervas frescas, pimenta e azeite;
  • o sour cream (comprado pronto ou feito em casa), é creme de leite fresco com limão, que faz com que ele talhe e crie essa consistência de iogurte, e talvez seja o item com mais gordura, sendo, porém, menos calórico do que um pedaço de queijo parmesão;
  • os frijoles refritos nada mais são do que o nosso feijão cozido e refogado com um pouco de cebola, alho, ervas e pimenta.
Não é o prato mais light do mundo, mas tudo depende do tamanho de sua porção. Com mais guacamole e salsa e menos feijões e creme, você tem uma grande salada de abacate e tomates com "croûtons" de milho. Como tenho sido uma boa menina, não vou deixar de colocar um pouco de Cheddar de verdade ralado por cima e algumas azeitonas pretas, mas também não vou obrigar ninguém a ir tão longe... Para não deixar esse post imenso, seguem separadas as receitas de cada molho!

Cozinhe isso também!

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