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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cardápio para um jantar dependurado

Há umas duas semanas atrás, fui convidada com mais outros queridos donos de blog [continuo detestando a palavra "blogueiro" tanto quanto "marketeiro", "cake designer" e "otimizar"] para um jantar dependurado a uns 16 andares de altura. Era o Dinner in The Sky, organizado aqui no Brasil pela Brastemp. A parte o fato de o fotógrafo oficial ter escolhido divulgar todas as fotos em que eu fazia careta e estava com cara de matrona [um dia eu aprendo a ser fotogênica e não parecer que tenho 4 queixos ou bracinho de ciabatta], o jantar foi muito gostoso, a companhia estava muito divertida e a vista noturna da Jockey Club até onde os olhos alcançavam tornou tudo ainda mais interessante.

Mas agora, ao trabalho, certo?

Todos os convidados, incluindo esta preguiça-ambulante que vos fala, foram incumbidos de pensar num cardápio de três pratos que pudesse ser servido nas alturas. Era preciso que fosse bem apresentado, de ingredientes inusitados, e tudo o mais... mas convenhamos: qualquer tentativa minha de misturar priprioca com perna de rã sairia uma nhaca. Quem passa por aqui há muito tempo sabe bem que eu até tive minhas fases de empilhar comida, mas que meu negócio é mesmo comida caseira e combinações clássicas. Porque "clássico é clássico e vice-versa".

Pensei, matutei, planejei, pesquisei, e no fim das contas, resolvi aproveitar a ocasião para duas coisas: primeiro, chamar para jantar um grande amigo meu que eu não via há muito tempo [e que reclamara da última vez que eu só servira macarrão:"Onde estão os jantares de três pratos??", provocara ele]; segundo, testar duas receitas que eu estava me coçando para fazer.

A entrada seria uma Terrine de Legumes, da revista de Jamie Oliver. Porque eu já contornei minha cisma com os assados e os cozidos substanciais sem carne [grazie mille, Deborah Madison!], mas ainda suspirava pelas terrines. Tão lindas, tão montadinhas, comportadas, com carinhas de comida de festa! No Natal, preparara uma terrine de legumes e cream cheese, adaptada da revista Menu; eu incorporara mais meia dúzia de ervas e mudara o preparo dos legumes, de modo que a terrine ficara leve, saborosa, e foi, para minha franca surpresa, o sucesso do almoço. Desta vez, no entanto, o que me chamara atenção era o fato de a terrine ser vegan, e manter seu formato graças ao poder do agar-agar!

A terrine é demorada por conta da preparação dos legumes, mas muito fácil de montar. Meu único erro foi ter comprado legumes muito grandes, ao invés de medianos ou pequenos e de não ter pedido a minha mãe seu mandoline emprestado. Sobraram muitos legumes grelhados (que viraram clafoutis na mesma noite!) e a abobrinha ficou um pouco mais grossa do que eu gostaria, mas não menos deliciosa.

OBS: Desta vez fui menos tchonga e desenformei a terrine na tábua de corte, para poder fatiá-la mais fácil. No Natal, desenformei em uma travessinha de barro linda, mas todo mundo bateu a lâmina de uma de minhas facas na lateral da travessa, arruinando a faca... :P

Com tomates, abobrinhas e berinjelas ditando o tom, não ousei sair do mediterrâneo para o segundo prato. Queria que a refeição fosse inteira vegetariana, mas do tipo que faz com que o convidado sequer perceba que não havia carne em seu prato. Como a entrada é servida bem fria, o prato principal deveria ser deliciosamente quente e aconchegante. A polenta cremosa com ragù de cogumelos e alho-poró que eu vira no Serious Eats era perfeita!

No supermercado, no entanto, não havia cogumelos cremini [os champignon, cremini e portobello são todos o mesmo cogumelo, mas em diferentes estágios de crescimento, variando na intensidade da cor e sabor]. Substituí o cremini por shiitake e o Gorgonzola Dolce (que nunca vi no Brasil, o que é uma pena) por queijo tipo Fontina, que eu adoro e é frequentemente usado junto com polenta. O ragù ficou delicioso com a polenta Bramata quentinha, e o fio de vinagre balsâmico realmente fez toda a diferença. Não usei do porcaria, veja bem: usei uma garrafinha de vinagre comprada na Peck, que há 5 anos atrás era envelhecido 15 anos, e que eu uso com a maior parcimônia do mundo. O vinagre é xaroposo e sensacional, bem diferente daqueles vinagres aguados ditos balsâmicos que hoje ocupam até mesa de lanchonete de clube.


A sobremesa foi o que mais me deu dor de cabeça. Porque eu simplesmente não sabia o que fazer. Primeiro, quis fazer uma sobremesa composta de inúmeros elementos, um semifreddo de castanhas com biscoitos de trigo sarraceno e frufrus a rodo. Então passei na cozinha e o cheiro das pêras maduras em minha bancada me fez esquecer de todas as ideias pretensiosas. Galette de pêras. É isso o que quero comer.

Primeiro pensei num bolo italiano de pêras e cravos, e quis aromatizar minha galette assim. Mas folheando outros livros, deparei-me com o cardamomo, e como adoro seu perfume intenso, ficou sendo uma galette de pêras e cardamomo. Quando fatiei as pêras e misturei-as ao açúcar, lembrei-me de uma receita de Deborah Madison, que usava maçãs e alguma bebida, e decidi enfim incorporar um tantinho de vodka de baunilha à fruta. Se ainda tivesse a aguardente de pêras que costumava usar no lugar de Kirsch em clafoutis... bem... a vodka funcionou muito bem. Quando a torta ficou pronta, dourada, perfumada, de massinha quebradiça e recheio macio, foi coroada com uma bola imensa de sorvete de baunilha. Häagen-Dazs, pois àquela semana não tivera tempo de preparar também o sorvete. Pensara em uma calda qualquer, mas qualquer coisa a mais apenas atrapalharia.

No fim das contas, o jantar correu todo maravilhosamente bem, e depois de devidamente fotografadas as porções, fiquei feliz em ver meu amigo indo até a panela para repetir. :) O mais importante para mim foi minha calma. Foram muitos posts aqui falando sobre a importância de não ser uma anfitriã estressada, e sobre como eu andava preferindo servir um simples macarrão e aproveitar a companhia dos meus amigos a me matar na cozinha apenas para um "olha só como eu sei cozinhar bem!". Acho que depois de tantos anos, finalmente meu corpo se move sozinho na cozinha. Apesar do espacinho minúsculo [ainda hoje muita gente se surpreende com o tamanho da cozinha quando vem em casa pela primeira vez], consegui ficar absolutamente relaxada, mesmo montando os pratos e fotografando tudo antes que esfriasse. :)

Receitas a seguir. Espero que gostem!

TERRINE DE LEGUMES COM MOLHO DE IOGURTE E ZA'ATAR
(da revista Jamie Magazine)
Tempo de preparo: 2 horas + 1 dia de geladeira
Rendimento: 6-8 porções


Ingredientes:
  • 3 pimentões amarelos pequenos
  • 2 berinjelas pequenas, fatiadas fino
  • 130ml azeite
  • 1 1/2 colh. (sopa) tomilho fresco
  • 6 abobrinhas pequenas-médias, fatiadas fino, de preferência com um mandoline
  • 800ml de passata de tomate
  • 4 colh. (sopa) agar-agar
  • 1 colh. (sopa) páprica picante
  • 1 vidro de 180-200g de pimenta piquillo em conserva, drenado
  • (molho)
  • 6 colh. (sopa) azeite de oliva extra-virgem
  • suco de 1 limão siciliano
  • 1 colh. (sopa) za'atar
  • 3 colh. (sopa) iogurte integral

Preparo:
  1. Grelhe os pimentões sob o grill ou na chama do fogão até que fiquem pretos. Feche-os em um saco plástico, deixe que esfriem e então retire a pele e as sementes. Não passe embaixo da água, é melhor que sobre alguma pele e semente do que tirar o óleo natural e saboroso. Reserve.
  2. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Unte duas assadeiras com azeite Espalhe as fatias de berinjela, pincele com azeite e polvilhe com sal e tomilho. Leve ao forno por 10 minutos, ou até que estejam macias. Deixe esfriar.
  3. Faça o mesmo com as abobrinhas. Deixe esfriar.
  4. Coloque a passata em uma panela e ligue o fogo no mínimo. Polvilhe os flocos de agar-agar por cima, mas não mexa, e deixe que aqueça sem ferver. Após 5 minutos de fogo ligado, mexa bem para dissolver os flocos e cozinhe por 3 minutos. Tempere bem e deixe esfriar por 5 minutos.
  5. Forre uma forma de 26x10x7cm com filme plástico. Mergulhe cada fatia de berinjela na passata de tomate e forre o fundo e as laterais da forma, deixando um pedaço da fatia para fora, para fechar a terrine depois. Preencha os espaços entre as fatias com algumas colheradas de passata.
  6. Uma por uma, mergulhe metade das fatias de abobrinha na passata e espalhe no interior da forma, preenchendo espaços com a passata. Polvilhe com um pouco de páprica.
  7. Cubra com metade dos pimentões, pimentas piquillo, o restante das abobrinhas e o restante dos pimentões. Dobre as berinjelas por cima, usando mais fatias no sentido do comprimento, se necessário. Pincele com a passata, cubra bem com filme plástico e coloque algum peso por cima, como latas ou um litro de leite (que foi o que fiz). Deixe na geladeira durante a noite.
  8. Desenforme a terrine numa tábua de corte ou travessa sem laterais, e fatie com uma faca MUITO afiada. Misture todos os ingredientes do molho em uma tigela até que fique homogêneo e sirva a terrine com o molho por cima.


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POLENTA COM RAGÙ DE SHIITAKE, BALSÂMICO E FONTINA

(ligeiramente adaptado do blog Herbivoracius)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 4-6 porções


Ingredientes:
  • 8 xic. água + quanto for necessário
  • 1 colh. (sopa) sal
  • 2 xic. polenta Bramata
  • 50g manteiga
  • 1 xic. queijo parmesão ralado na hora
  • 3 colh. (sopa) azeite de oliva extra-virgem
  • 2 alho-porós grandes, fatiados em meias luas de 1cm de largura, lavados e escorridos
  • 700g cogumelos shiitake frescos, cabos removidos e chapéus fatiados com 3mm de espessura
  • 4 dentes de alho fatiado fino
  • 1/2 colh. (chá) pimenta calabresa
  • 1/2 xic. vinho branco seco
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
  • um punhado de salsinha picada
  • 150g queijo fontina em cubos
  • vinagre balsâmico de qualidade

Preparo:
  1. Leve a água e o sal à fervura. Polvilhe a polenta devagar, mexendo com um batedor de arame, para não empelotar. Abaixe o fogo para o mínimo e cozinhe, mexendo de 5 em 5 minutos com uma colher de pau de cabo longo, para não se queimar com os espirros de polenta fervente. Sempre que a polenta estiver ficando mais espessa que purê de batatas, acrescente mais 1/2 xic. de água e mexa bem para incorporar. Cozinhe por 45 minutos, incorpore a manteiga e o parmesão ralado, desligue o fogo e tampe até a hora de servir.
  2. Enquanto isso, aqueça o azeite. Coloque o alho-poró, o alho, a pimenta-calabresa e 1/2 colh. (chá) de sal na panela e cozinhe, em fogo médio, até amaciar.
  3. Junte os cogumelos e misture bem. Deixe que soltem seu líquido e absorvam de novo, o que pode demorar um pouco. Quando começarem a dourar, derrame o vinho e mexa bem com a colher de pau. Acerte o tempero, desligue o fogo e reserve.
  4. Na hora de servir, junte a salsinha picada aos cogumelos. Espalhe a polenta no prato (aqueça de novo, se for o caso), cubra com os cogumelos, cubinhos do queijo em temperatura ambiente, um fio generoso de vinagre balsâmico e uma pitada de flor de sal, se quiser. Sirva imediatamente.

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GALETTE DE PÊRAS, CARDAMOMO E VODKA

(adaptado do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 6 porções


Ingredientes:
(massa de galette)
  • 2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 12 colh. (sopa) manteiga sem sal gelada
  • 1/3-1/2 xic. água gelada, conforme necessário
(recheio)
  • 3 pêras maduras, fatiadas fino
  • 5 bagas de cardamomo
  • 2 colh. (sopa) vodka Absolut Vanilla
  • 4 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • manteiga derretida para pincelar
  • açúcar demerara para polvilhar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Numa tigela, misture a farinha, o sal e o açúcar. Misture a manteiga gelada com a ponta dos dedos até que pareça uma farofa grossa, rapidamente, e incorpore a água gelada. Com tapinhas, forme uma massa, sem sovar. Amasse em forma de disco e leve à geladeira por 15 minutos.
  2. Abra a massa com o rolo sobre uma superfície enfarinhada, até a espessura de 3mm, sem se importar com um formato muito regular. Transfira a massa para uma assadeira.
  3. Amasse as bagas de cardamomo e remova as cascas. Esmague no pilão as sementinhas pretas, até transformá-las num pó. Misture esse pó às pêras, ao açúcar e à vodka.
  4. Faça um monte com as frutas no centro da massa e dobre a massa por cima, apertando um pouco. Derrame qualquer líquido que tenha restado na tigela das frutas no meio da galette. Pincele a massa com manteiga derretida, polvilhe com açúcar demerara e leve ao forno por 45 minutos ou até que esteja dourada. Sirva quente com sorvete de creme ou chantilly.

PROCESSO:
No dia anterior, prepare a terrine.
2 horas antes dos convidados chegarem, prepare seu mis-en-place do prato principal. Desenforme a terrine, fatie quantas porções precisar e deixe separado, coberto de filme-plástico na geladeira, para apenas transferir para os pratos na hora de servir.
1h30 antes dos convidados chegarem, comece a galette. Coloque-a no forno e imediatamente comece a preparar o prato principal.
Prepare o ragú enquanto cozinha a polenta. Se sua panela for de fundo grosso, não precisa mexer a polenta constantemente, e pode intercalar sua atenção entre ela e o ragù.
Desligue o fogo da polenta, ragù e da torta. Deixe a torta no forno desligado, para mantê-la quente.
Prepare o molho da terrine e sirva.
Reaqueça o ragù e a polenta rapidamente, se necessário, e sirva.
Retire a galette do forno, fatie, e sirva com o sorvete.

:D

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Massa folhada de batedeira

Sabe o que o tédio faz com as pessoas? Massa folhada. Ontem, enquanto esperava emails que não vinham, resolvi testar uma receita de Flo Braker, chamada Pretty Darn Quick Puff Pastry. Porque se tivesse a massa, poderia preparar a torta de abóbora de Gordon Ramsay para o jantar.

Olhei para fora. Estava úmido e abafado. Na minha cozinha, 26ºC. Ventilador ligado na sala, o cachorro dormindo de pernas para o ar, na tentativa de refrescar-se.

Massa folhada?
Nesse calor dos infernos??
Loucura.
Imaginei manteiga derretida por toda parte.

Mas agora a lombriga fora atiçada, e eu não conseguia pensar em outra coisa para o jantar senão a torta de abóbora, e ai de mim se fosse pega comprando massa folhada pronta, cheia de gordura hidrogenada! Depois da torta de pé, tinha prometido nunca mais cometer um pecado desses...

Bom... Massa folhada.
Nesse calor dos infernos.
Loucura.
Mas se for para dar certo, é agora.
Se der certo hoje, essa massa é genial.

A massa É genial. O preparo na batedeira planetária, com a pá, faz com que o calor de suas mãos não interfira na temperatura da manteiga. O fato de não ter de espalhar a manteiga na massa e deixar gelar por meia hora o tempo todo, faz com que o processo seja realmente rápido. Pela primeira vez na minha vida, o preparo de massa folhada na minha bancada não me deu vontade de sentar e chorar. Ela não derreteu, e ao ser assada, inflou e dourou maravilhosamente, e a massa amanteigada e leve derretendo na boca me convenceu de uma vez por todas a nunca, nunca, NUNCA mais comprar massa pronta.

Preparei metade da receita do livro, e usei apenas metade da massa resultante para essa torta quadrada de 20cm. O restante está devidamente embalado no freezer, esperando pela próxima empreitada.

Todas as receitas de batedeira planetária do blog (como os pães) podem ser feitas à mão. Esta, no entanto, eu não sei. Não acho que funcione com uma batedeira comum. Talvez você possa usar um pastry blender ou garfos para produzir a massa e então prosseguir normalmente. Mas não garanto. É que esta receita deu tão certo, que achei que seria egoísta não dividi-la...

MASSA FOLHADA DE BATEDEIRA (planetária)
(ligeiramente adaptado do livro Baking for All Occasions, de Flo Braker)
Rendimento: aproximadamente 500g
Tempo de preparo: 35min. + 1h descanso


Ingredientes:
  • 225g manteiga sem sal bem gelada
  • 170g farinha de trigo comum
  • 60g farinha de trigo para bolos (cake flour) *
  • 1/2 colh. (chá) rasa de sal
  • 1/2 xic. água bem gelada
*Cake Flour: 60g dá mais ou menos 1/2 xíc. de farinha de trigo comum. Meça essa quantidade de farinha comum, depois substitua 1 colh. (sopa) dessa farinha por amido de milho (maizena) e peneire 5 vezes antes de juntar ao resto dos ingredientes.

Preparo:
  1. Corte o tablete de manteiga em fatias de 1cm de espessura e volte-os à geladeira por 10 minutos.
  2. Enquanto isso, misture as duas farinhas e o sal na tigela de batedeira planetária, equipada com a pá. Tenha a água gelada já medida ao seu lado.
  3. Disponha as fatias de manteiga sobre a farinha. Use os protetores de respingo ou um pano de prato enrolado em torno da batedeira, pois mesmo em baixa velocidade, voa farinha para todo lado. Ligue a batedeira na velocidade mais baixa e bata até que a manteiga, ainda em pedaços grandes, esteja apenas recoberta de farinha, uns 10 segundos.
  4. Ainda com a batedeira ligada na velocidade mais baixa, despeje a água gelada num fio constante, demorando uns 10 segundos e imediatamente desligue a batedeira.
  5. Com a mão, rapidamente vire a massa, trazendo as partículas secas do fundo da tigela para cima da massa, e apertando-a ligeiramente, apenas para incorporar essas partículas. Não se importe se sobrarem algumas.
  6. Vire a massa numa superfície enfarinhada e, com as mãos enfarinhadas, forme um retângulo de uns 10x7cm. Com o rolo de macarrão, rapidamente abra a massa num retângulo de uns 20x14cm, polvilhando com pouca farinha, se necessário.
  7. Faça a Primeira Dobra como uma carta comercial: dobre o terço inferior e em seguida o terço superior por cima, e gire 90º, deixando a massa como se fosse um livro virado para você (a última dobra sendo a capa). O desenho abaixo inteiro é uma Dobra.
  1. Abra a massa de novo em 20x14cm e repita o procedimento do desenho, que será a Segunda Dobra. Agora embrulhe em papel alumínio e leve à geladeira por 20 minutos.
  2. Passado esse tempo, desembrulhe a massa, tendo ela como um livro diante de você. Abra a massa de novo em 20x14cm e repita o procedimento do desenho mais uma vez, que será a Terceira Dobra, abra de novo e repita pela última vez, executando a Quarta Dobra. Embrulhe novamente no papel alumínio e leve à geladeira por no mínimo 1 hora antes de utilizar a massa.
  3. Se em qualquer momento durante o processo, você perceber que a manteiga está começando a amolecer ou grudar, embrulhe em papel alumínio e leve ao freezer por 10 a 20 minutos antes de prosseguir. Se apenas a manteiga estiver muito na superfície na hora que você for abrir com o rolo, dê tapinhas com farinha por cima dela, apenas para que não grude no rolo. Depois que a massa descansou por 1 hora, abra-a num formato mais fácil de manipular, como 15x10cm. Corte a quantidade necessária e use-a. O restante, embrulhe em duas camadas de papel alumínio e use em 2 dias se conservar na geladeira, ou 2 meses no freezer. Descongele a massa na geladeira por 24 horas antes de usar.
Na hora de assar, se for uma torta como essa, lembre-se de forrar a forma com papel-manteiga, para que o papel absorva parte da gordura da massa e ela fique mais sequinha.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Para os dias quentes: massa de torta feita com óleo

De vez em quando me escrevem com dúvidas a respeito da massa para tortas que uso sempre. A maior dúvida é sempre na hora de abrir, pois dizem que a massa é mais difícil de manipular do que esperavam. Infelizmente tudo o que posso dizer nessas horas é: pois é, é isso mesmo. Eu uso uma boa quantidade de manteiga na massa, pois gosto dela bastante flocosa. Isso faz com ela seja um desastre em dias (ou mãos) quentes. Ainda assim, é uma massa que perdoa alguns deslizes: se ela estiver se despedaçando ou grudando, você pode jogá-la aos bocados na forma e ir juntando como der, sem pensar no resultado estético, e ela mesmo assim ficará gostosa. Só não terá aquela linda bordinha bem desenhada.

O caso é que nesse calorão, nem eu me atrevo a fazer pâte brisée. É frustração na certa. No desespero por torta, usava a batedeira planetária com a pá. O único problema é que ela demora um pouquinho e acaba deixando os pedacinhos de manteiga muito pequenos e uniformes, e a massa fica um pouco firme demais para meu gosto.

Para dias quentes, muitos recomendam o processador. Ele mistura tudo rápido o suficiente para que a manteiga continue gelada e tudo dá certo no final. Isso anda me dando uma coceirinha atrás da orelha. Isso e a possibilidade de fazer massa folhada e mais um monte de outras receitas dos meus livros que pedem o processador. Além disso, meu liquidificador mequetrefe está à beira do suicídio.

Eu quero um processador. Mas o que eu quero, da Cuisinart, grandão, não encontro, sumiu das lojas por aqui. E fica a pergunta: vocês têm processador? Gostam? Usam? Recomendam?

Enquanto Papai-Noel não me traz um, no entanto, nós seres humanos precisamos de torta. E minha salvação nesse calor infernal foi encontrar uma boa massa de torta feita com óleo, mais fácil de manusear, pois não depende da temperatura. Por isso, também não é preciso gelá-la, e você pode fazer a massa enquanto o forno pré-aquece, e preparar o recheio enquanto a massa assa com feijões dentro. Ou seja, torta de última hora, jantar vapt-vupt! Usem óleo de canola, que tem pouco sabor, ou algum óleo/azeite que vá combinar com o recheio, pois o sabor fica tão forte quanto o gosto de manteiga numa torta comum.

MASSA DE TORTA COM ÓLEO
(do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 1 torta de 20-22cm de diâmetro, rasa.
Tempo de preparo: 10 minutos


Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. óleo de canola
  • 2 colh. (sopa) leite, leite de soja ou água
Preparo:
  1. Misture o sal e a farinha em uma tigela. Em outra, misture o óleo com o leite. Junte os líquidos à primeira tigela e misture até que se pareça com uma massa.
  2. Forme uma bola, achate-a e abra-a no tamanho desejado entre duas folhas de papel-manteiga, até que a massa tenha uns 3mm de espessura.
  3. Retire o papel-manteiga de uma das faces e inverta a massa sobre a forma da torta. Não se preocupe se ela se quebrar, é só juntar na forma, pressionando bem. Remova a segunda folha.
  4. Asse-a como qualquer outra massa, de acordo com a receita original. Você não precisa gelar a massa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Doce como torta doce de batata doce

Eu detestava batata-doce quando pequena. Provavelmente trauma de algum doce de festa junina mal feito. Certo dia, já mais velha e na casa de um amigo, este apareceu à mesa com uma enorme travessa de peixe assado e duas batatas: a comum e a (eca!) doce. Um dos presentes apanhou rapidamente a colher, serviu-se de peixe e, para a surpresa de todos, meticulosamente selecionou e tomou para si todas as batatas comuns da travessa, deixando os outros cinco presentes, inclusive o anfitrião, com as batatas-doces. Ficamos todos atônitos, e a situação foi tão constrangedora, que ninguém teve coragem de comentar coisa alguma. Respirei fundo e, já conformada, servi-me das rodelas macias e douradas de batatas-doces assadas.

Qual não foi minha surpresa, quando descobri que batata-doce era sim muito gostosa, e que minha cisma até então fora completamente infundada!

Desde então as batatas-doces têm aparecido com certa frequência em minha mesa, normalmente assadas inteiras, em papel alumínio, recobertas de temperos e abertas no prato, fumegantes, para serem recheadas com uma bela colherada de requeijão.

No entanto, essa semana fui à feira comprar batata-doce com outro intuito: estava com ideia fixa de fazer uma Sweet-Potato Pie, uma torta, segundo me consta, típica do sul dos Estados Unidos. Eu continuo não sendo lá muito fã do nosso doce de batata-doce, que sempre aparece nas festas juninas. Mas estava curiosíssima para experimentar a batata assim, em forma de torta.

A receita é da dona Martha, é muito fácil e eu gostei bastante do resultado. A torta fica surpreendentemente leve, pouco doce e com um gostinho levemente exótico que eu, particularmente, gosto. Já meu marido... Para quem está acostumado a comer apenas torta de limão ou de chocolate, acho que a de batata-doce é um desafio. Eu não prepararia esta torta para visitas desavisadas, por exemplo. Ela é para fãs de verdade do tubérculo.

Usei as batatas que encontrei primeiro, aquelas de polpa branca e casca cor-de-vinho, mas pela foto da revista e do site, acredito que a receita original utilize das batatas-doces de polpa cor-de-laranja, pois a torta tinha uma cor de caramelo que a minha não adquiriu.

Tive minhas reservas em comprar bolacha de pacote para usar na massa, e quase saí fazendo minhas próprias. Mas é preciso ter limites, e mesmo eu não sou tão louca assim. Ainda. Comprei um pacote de bolachas, moí tantas quanto necessário no meu mini-processadorzinho, e então olhei para o pacote pela metade. "O que eu faço com isso???" Não tive dúvidas: moí todo o resto, guardei num potinho de vidro (onde anotei a data de validade das bolachas) e coloquei na geladeira. Agora, na próxima vez que for fazer uma torta que peça uma "graham cracker crust", já tenho as bolachas moídas e prontas para o uso. Tchanans! Esse foi um momento Nigella. ;)

SWEET POTATO PIE
(da revista Everyday Food)
Tempo de preparo: 30 min. + 50 min. (forno) + 2h (geladeira)
Rendimento: 8 fatias


Ingredientes:
(massa)
  • 1 1/3 xíc. bolachas Maria ou similar, moídas
  • 3 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) gengibre em pó
  • 1 pitada de sal
  • 5 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida
(recheio)
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1 3/4 xíc. purê de batata doce *
  • 1/2 xíc. de creme de leite
  • 1 colh. (sopa) suco de limão siciliano
  • 2 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-da-jamaica moída

*Purê de batata-doce: descasque e corte em pedaços de 5cm 3 batatas-doces grandes. Coloque em uma panela com água bastante para cobri-las e leve à fervura, cozinhando até que um garfo as espete com facilidade (15 minutos). Escorra bem e transforme em purê.

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC, posicionando a grade do forno na parte mais baixa. Misture numa tigela as bolachas moídas, o açúcar, o gengibre e o sal, quebrando com um garfo os pedaços maiores de bolacha.
  2. Junte a manteiga derretida e misture bem, até obter uma aparência de areia molhada.
  3. Pressione a mistura no fundo e nas paredes de uma forma de 21-22cm de diâmetro.
  4. Em outra tigela, bata ligeiramente os ovos e o açúcar, até que fique homogêneo.
  5. Junte o purê de batata-doce, o creme de leite, suco de limão, sal, baunilha e pimenta-da-jamaica. Misture até que o creme esteja completamente sem grumos.
  6. Despeje sobre a massa da torta, alisando o topo se necessário e coloque a torta sobre uma assadeira. Leve essa assadeira ao forno por 40 a 50 minutos, até que o recheio pareça firme. NÃO teste com uma faca ou palito, pois quando a torta esfria, ela contrai, transformando o que era um furo imperceptível em uma cratera.
  7. Transfira para uma grade, para que esfrie completamente, e leve à geladeira por 2 horas ou até 1 dia antes de servir. Sirva fria ou em temperatura ambiente, com chantilly, se quiser.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Torta de folhas de cenoura

Como esta é uma ótima época para comprar cenoura com as folhas, escolho sempre um maço bem equilibrado entre lindas cenouras e folhas fresquinhas, bem verdes. Sempre faço bolinhos com elas, o que fica uma delícia, mas desta vez resolvi transformar os bolinhos em torta. O único segredo está em picar as folhas o mais fino possível, até com ajuda de um processador se for o caso. Pois as folhas de cenoura são durinhas e fibrosas, e comê-las em pedaços maiores pode ser desagradável. Para a massa, substituí metade da farinha por integral por mero impulso, mas você pode fazê-la inteira inteira com farinha comum. E chega de jogar folha de cenoura no lixo! ;)

TORTA DE FOLHAS DE CENOURA
Tempo de preparo: 10min + 30min de geladeira + 1 hora
Rendimento: 6-8 fatias


Ingredientes:
(Massa: a de sempre, ou a sua favorita.)
(Recheio)
  • 2 xíc. de folha de cenoura muito, mas muito bem picadas
  • 2 dentes de alho picados
  • 1/2 cebola picada
  • 1 punhado de salsinha picada
  • 3 ovos
  • 1/2 xíc. de creme de leite (normal, fresco, ou mesmo leite apenas)
  • 1/2 xíc. de parmesão ralado na hora
  • sal e pimenta-do-reino ralada na hora

Preparo:
  1. Prepare a massa, embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por meia hora. Abra-a numa superfície ligeiramente enfarinhada e forre uma forma de uns 23-25cm. Espete com um garfo toda a superfície. Cubra com papel alumínio, encha a forma com feijões e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 15 minutos. Retire os feijões e o papel alumínio e asse por mais 10-15 minutos, até que a massa pareça sequinha.
  2. Enquanto a massa pré-assa, faça o recheio, misturando todos os ingredientes menos o queijo em uma tigela e mexendo bem.
  3. Retire a massa assada do forno, espalhe o recheio de modo uniforme e polvilhe generosamente com o queijo ralado. Leve ao forno por mais 30-40 minutos, até que o recheio esteja firme e dourado. Sirva quente ou em temperatura ambiente.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Uma deliciosa torta de escarola e uma vitória pessoal!

Estou feliz. Muito feliz mesmo. E por dois motivos:
  1. Atingi minha meta. Foram 8 meses de muita corrida e vigilância a meu prato, e, sinceramente, um certo nível de stress em alguns momentos. Mas hoje fui liberada da nutri. Com 10kg a menos, é estranho pensar que os 28% de gordura que tinha antes me diziam que 1/3 do meu corpo simplesmente não deveria estar lá. Agora, com 15%, vejo os músculos que andara trabalhando na corrida finalmente aparecendo, e me sinto mais leve e muito, muito mais saudável.
  2. Atingi minha meta nos MEUS termos, e só Deus sabe como eu gosto de ter razão! Nenhum produto light, nenhuma barrinha, shake ou pilulinha. No meio do caminho, houve muitos bolos, pudins, cookies, sorvetes, pães e iogurtes – com gordura! ;) E, claro, dezenas de saladas multicoloridas, sopas deliciosas, legumes assados, peixinhos, grãos integrais, uma miríade de frutas, e a certeza de que finalmente aprendi a comer não só bem, mas direito. Preciso confessar que pregar um estilo de vida tão natural e ao mesmo tempo estar tão acima do peso fazia com que eu me sentisse uma farsa. Não consigo expressar o tamanho do alívio que sinto hoje. Se eu precisava mostrar ao mundo que a indústria light é uma verdadeira enganação, sinto que cumpri meu papel, senão aqui, ao menos em meu círculo de amigos e familiares. No fim das contas, tudo de que você precisa é tirar a bunda do sofá e comer pratos menores, mais coloridos e mais naturais.
Agora é o momento-chave: a manutenção. Cuidado para não jogar fora o quase um ano de reeducação. No entanto, vendo como me sinto hoje e como me sentia antes, em termos de disposição e energia, não vejo como ousaria voltar a me comportar como antes, faltando na corrida e comendo macarrão todo dia. O fato de estar treinando para uma prova mais longa no segundo semestre, o que tornará meus treinos cada vez mais intensos, certamente me ajudará a manter o que foi transformado e fazer um ajuste fino do que ainda não está lá essas coisas. Sinto finalmente que estou dando a meu corpo o respeito que ele merece. Afinal, seu corpo é apenas um empréstimo. Assim como não se devolve um livro destruído, é muita falta de educação receber um corpo perfeitamente saudável e devolver à terra uma verdadeira tranqueira. ;)

Porque estou feliz, então, presenteio vocês com essa torta italiana incrivelmente deliciosa e fácil de se fazer, retirada do livro Larousse da Cozinha Italiana, que dei à minha irmã certa vez, mas que vira-e-mexe eu surrupio. Sua massa é fermentada como pão e leva muito menos manteiga que uma pâte brisée, e o recheio é uma quantidade enorme de escarola (que está na época, é amarga e eu adoooooro) refogada em alho e misturada a azeitonas pretas, alcaparras, uvas passas e pinoli, criando uma combinação deliciosamente agridoce, complexa e satisfatória. Não vejo a hora de prepará-la de novo, principalmente para minha mãe, que divide comigo o amor pela escarola e chicórias em geral.

TORTA DI SCAROLA E OLIVE
(do livro Larousse da Cozinha Italiana)
Tempo de preparo: 1h40m
Rendimento: 6 fatias


Ingredientes:
(massa)
  • 5g fermento biológico fresco
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 100ml água
  • 250g farinha de trigo
  • 50g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 colh. (chá) sal
  • Pimenta-do-reino moída na hora a gosto
  • azeite e 1 ovo para pincelar
(recheio)
  • 500g escarola cortada em tiras
  • 1 dente de alho grande picado
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • 100g de azeitonas pretas sem caroço
  • 70g uva passa (clara ou escura)
  • 70g pinoli (ou castanha-do-Pará picada)
  • 1 colh. (sopa) alcaparras
  • 3 colh. (sopa) salsinha picada

Preparo:
  1. Dissolva o fermento com o açúcar e a água e deixe descansar por alguns minutos. Junte o restante dos ingredientes da massa e sove até obter uma massa elástica e lisa, por uns 10 minutos. Cubra com um pano e deixe fermentar por 1 hora.
  2. Refogue o alho no azeite até começar a dourar. Junte a escarola aos poucos, mexendo, até que murche e toda a sua água evapore. Pique as azeitonas e as alcaparras juntas e junte à escarola. Junte também os pinoli, a uva-passa e a salsinha e misture muito bem, deixando no fogo por mais um minuto. Experimente para acertar o sal. Se as alcaparras e azeitonas forem bastante salgadas, talvez (como eu) você não precise acrescentar sal nenhum. Tempere com pimenta a gosto e reserve, deixando que esfrie.
  3. Sove a massa fermentada por meio minuto e divida em duas partes. Abra uma das metades com um rolo e forre uma forma de torta (22-23cm) untada com um pouquinho de azeite. Espalhe muito bem o recheio frio, abra a outra parte da massa e cubra o recheio. Dobre e pressione bem as abas das massas, fechando a torta. Pincele com azeite e deixe descansar por meia hora.
  4. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Pincele a torta com um ovo ligeiramente batido e leve ao forno já quente por 45 minutos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Quiche sem massa e Ana sem paciência

Minha vida funciona mais ou menos como no filme O Grande Garoto: atividades estrategicamente divididas em unidades de tempo durante o dia. Correr: 2 unidades. Passear o cachorro: 1 unidade. Meditar: Trabalhar: 4 unidades. Almoçar: 1 unidade. E por aí vai. Além do quebra-cabeça do tempo, em que um dia deve comportar todos os meus compromissos pessoais e profissionais, tarefas domésticas e afins, há ainda o quebra-cabeças do espaço. Há dias em que considero uma benção morar num apartamento pequenininho: ele exige organização, planejamento e auto-controle no quesito consumo. Chega uma hora que não cabe mais tralha e pronto.

No entanto, isso de ter de desmontar toda a despensa e rearrumar tudo pela enésima vez cada vez que vou ao supermercado, para que nada desmonte em minha cabeça, pode ser incrivelmente cansativo. É exaustivo ter de planejar e organizar tudo o tempo todo. A sina da "mulher moderna" [Argh!], que tem de fazer tudo e tem de ser excelente em tudo. Então, de repente, como um PC velho com coisas demais acontecendo ao mesmo tempo, eu travo, dou tilt. De tempos em tempos, minha atitude zen com relação aos quebra-cabeças de minha vida se esvai como areia entre os dedos, e me vejo frustrada, desorientada e sem vontade.

Antigamente, deixava-me levar por essa claustrofobia, mas ao longo do tempo aprendi que ela vem, mas logo vai, e toda a paciência e método retornam com força total para mais uma temporada de tira, põe, organiza, cuida, planeja, arruma, faz listas, gerencia, mantém em ordem.

Aprendi que quando bate essa vontade de deixar tudo desabar, é melhor simplesmente fazer um chá, abrir um livro e ficar quieta, quietinha, durante uns dois ou três dias. Sem compromissos sociais, sem lidar com trabalho (a não ser os mais urgentes), sem arrumar mais sarna para se coçar. Quanto menos gente em volta, melhor. Silêncio, quietude, paz, tempo para mim e apenas para mim. Ok, para o cãozinho que precisa ser passeado também. Ele me deixa de bom humor, então não tem problema.

A única coisa que tenho de fato vontade de fazer é cozinhar. Vai entender.... é o único planejamento que suporto e que me acalma, mesmo em momentos de nervos à flor da pele. De resto, sei que qualquer coisa que tente fazer me irritará sobremaneira. Então, para quê? Melhor deixar para o dia seguinte.

Quando vi uma receita de quiche sem massa numa revista Gourmet, sabia que era aquilo que queria comer. Simples, rápido, leve. No entanto, a receita era carregada em creme de leite e levava carne, de modo que rapidamente apanhei o que havia na geladeira e preparei minha versão, bastante macia e deliciosa, perfeita com uma salada verde e um vinaigrette de mostarda de Dijon. Bom humor instantâneo. Melhor que isso, só com ameixas dulcíssimas de sobremesa.

QUICHE DE ALHO-PORÓ SEM CROSTA
(Adaptado da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 3-4 porções


Ingredientes:
  • 2 alhos-poró grandes, fatiados fino e bem lavados
  • 1 dente de alho picado
  • 1 colh. (sopa) azeite
  • 2 xíc. de queijo parmesão ralado grosso
  • 4 ovos
  • 2 xíc. de leite
  • 2 cebolinhas picadas
  • sal
  • pimenta-do-reino
  • manteiga para untar
  • 1 1/2 colh. (sopa) de farinha de rosca

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 220ºC. Aqueça o azeite numa frigideira e refogue o alho até começar a dourar. Junte o alho-poró, sal e pimenta e cozinhe em fogo médio até que murche bem, mas sem deixar dourar. Desligue o fogo e reserve.
  2. Unte uma travessa de 25cm de diâmetro com manteiga e polvilhe a farinha de rosca, espalhando bem e retirando o excesso. Espalhe o alho-poró no fundo da travessa e polvilhe o queijo por cima. Espalhe as cebolinhas picadas.
  3. Em uma tigela, bata ligeiramente os ovos, o leite, sal e pimenta do reino. Derrame sobre o alho-poró da travessa e leve ao forno por 25 minutos, ou até que a superfície esteja dourada. Deixe amornar um pouco antes de servir.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Torta-mousse de limão e papoula para começar a semana-preguiça

Ontem foi um dia estranho, e hoje promete não ser muito diferente. Segundas-feiras costumam ser agitadas para mim, com uma nova semana começando, treino de corrida, o retorno dos trabalhos interrompidos na sexta. Talvez seja o fato de os treinos do ano terem sido encerrados no domingo, talvez seja meu marido de férias, passeando de um lado para o outro pela casa, ou por fim a bagunça dos dois cães juntos, uma vez que estamos tomando conta da cadelinha dos meus sogros enquanto eles viajam. Saber que o Natal está aí também não me deixa seguir minha vida normalmente.

De qualquer forma, acordei cedo ontem, liguei o computador, e tudo o que consegui fazer foi pagar algumas contas e escrever alguns e-mails para meia dúzia de clientes e fornecedores. Então minha mente começou a se dispersar feito névoa, cada vez mais leve e etérea, e sabia que não conseguiria mais me concentrar em qualquer coisa relativa a trabalho. Confesso ter cruzados os dedos, na esperança de não receber retorno de alguns dos clientes, na certeza então de que eles de fato teriam saído de férias até o ano-novo. Mas sou metódica e organizada demais em meu trabalho, e imediatamente a culpa se instalou por não finalizar todos os meus afazeres do ano.

Olhei para minha lista de tarefas no computador: eu tinha um logo para entregar. Mas depois de uma semana inteira matutando, não conseguira encontrar uma solução que considerasse satisfatória, e o cliente saíra de férias na sexta-feira. Bem... isso pode então esperar pelo menos até depois do Natal. Tinha que finalizar a última ilustração de um conjunto, mas o cliente não me retornou aprovando a cor do desenho anterior, de modo que não seria produtivo da minha parte terminar esta sem saber se a cor está de fato correta. Pula essa, então. Conforme fui passando os olhos pelos itens da lista, me vi compelida a dar vazão à preguiça de fim de ano e de fato adiar todos aqueles trabalhos para o começo de janeiro. Afinal, eu também mereço férias. Trabalhei mais nesse semestre do que em toda a minha vida.

Sinto um alívio imenso hoje ao ver que de fato ninguém respondeu a meus e-mails de ontem, o que automaticamente me libera de meus compromissos e prazos. Meu cérebro relaxando devagar produz estalos, como madeira expandindo. Ontem à noite cumpri meu último compromisso social do ano – cerveja e mini-amigo-secreto, em que ganhei o livro What Einstein Told His Cook (ieeeei!!) – e agora começo a sentir a estranheza do súbito tempo livre. Não ter uma agenda lotada numa terça-feira produz uma desconfortável sensação de que estou esquecendo de alguma coisa. Hmmm...

A melhor coisa a fazer, então, é me ocupar. Posso começar, enfim, a planejar o almoço do dia 25. O cardápio já está montado. Muito simples, principalmente depois da ceia do dia anterior. Os ingredientes já estão comprados. Basta que eu monte a estratégia em minha mente. Ontem: fiz o sorvete de nozes, que já está pronto no freezer. Hoje: farei o recheio e a massa dos tortelli di zucca, que serão congelados, para apenas serem derrubados em água fervente e mergulhados em manteiga e sálvia na hora de servir; amanhã, panettone, calda de chocolate, para ser reaquecida no dia seguinte e a geléia de figos para ser comida com crostini e os queijos que minha mãe trará; dia 25 de manhã, faço o arroz selvagem e as couves de bruxelas, que vão combinar muito bem com o tender de minha mãe (para os não veggies). Pronto. Tudo simples, gostoso e sem pressa.

Mas enquanto isso, um docinho é sempre bem-vindo.

Fizera essa torta de limão facílima para levar ontem à noite na casa do meu amigo. No entanto, um cano estourado e três dedos de água por toda a sala impediram a realização do evento. E como seria estranho levar uma torta-mousse de limão a um bar, ela ficou em casa mesmo. A receita original, de Nigella, não levava sementes de papoula, e era feita com uma crosta de biscoitos ao invés de pâte brisée. Como estivesse com saudades de fazer a massa e não tivesse os biscoitos em casa, preparei minha massa básica, com o acréscimo de açúcar e sementes de papoula. Assei-a sem o recheio e, depois de fria, cobri-a com essa mousse de limão tão fácil que você não acredita que possa ficar gostoso. Tudo para a geladeira, e em pouco mais de meia hora, a torta já estava firme o suficiente para ser salpicada com mais um pouco de sementes e fatiada. Ela é muito leve, cítrica e aveludada, quase como uma mistura de suspiro e cheesecake. As sementes de papoula são opcionais, mas eu gosto de senti-las explodindo entre os dentes e liberando seu sabor suave e exótico no meio da massa amanteigada.


TORTA-MOUSSE DE LIMÃO E PAPOULA
(Adaptado do livro How to Be a Domestic Goddess, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 8-10 porções


Ingredientes:
(massa)
  • 240g farinha de trigo
  • 160g manteiga sem sal, gelada e em cubos
  • 80ml água gelada
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (sopa) sementes de papoula
(recheio)
  • 1 lata de leite condensado (350g)
  • 1 1/3 xíc. creme de leite fresco
  • raspa e suco de 4 limões (cerca de 100g de suco)
  • sementes de papoula para decorar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Misture em uma tigela a farinha, o açúcar, o sal e as sementes. Junte a manteiga gelada e esfregue com as pontas dos dedos até obter uma farofa como farinha de milho grossa.
  2. Junte a água gelada e misture com um garfo até começar a formar uma massa. Sove pouco, juntando os pedaços de massa e farofa aos tapinhas, até formar uma bola.
  3. Embrulhe a bola em filme plástico e leve à geladeira por 30 minutos. Abra a massa, forrando uma forma de quiche com fundo removível. Cubra com papel-alumínio e feijões e asse por 15 minutos. Retire os feijões e o papel e continue assando por mais 30-40 minutos, até que a massa esteja dourada e seca. Retire a massa da forma e deixe esfriar sobre uma grade. Se você nunca fez pâte brisée, veja as instruções mais detalhadas aqui.
  4. Quando a massa estiver fria, faça o recheio. Coloque na batedeira o creme, o leite condensado, o suco de limão e as raspas e bata tudo por cerca de 3 minutos, até que esteja fofo e liso. Derrame na massa e espalhe com uma espátula, deixando a superfície lisa ou criando desenhos. Leve à geladeira por no mínimo meia hora e polvilhe com as sementes antes de servir. Aviso: a mousse derrete se mantida fora da geladeira por muito tempo.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Mais um domingo de comida... erh... quer dizer... advento!

Desta vez os sogros vieram em casa, e eu resolvi dar um tempo nas incursões na culinária alemã e fazer o que faço melhor: comida italiana. Mantendo ainda o espírito de praticidade e vida sem complicações e stress, mantive o cardápio tão simples e delicioso quanto me foi possível, tendo tido a cofirmação da vinda deles na noite anterior e sem sair correndo ao supermercado.

Acordei cedo para passear o cachorro, aproveitando para dar um pulo na padaria do Le Vin e comprar uma baguette de fermento natural, que iria muito bem com o patê de pimentão da Heloísa Bacellar, para o qual fiz a receita de cottage/ricotta caseira da Cris. Enquanto o queijo sorava na peneira, os pimentões enegreciam sob o grill do forno. Deixei que esfriassem em sacos plásticos, retirei-lhes as sementes e a pele chamuscada e reaqueci-os numa frigideira com um pouco de azeite, alho e tomilho fresco. Bati tudo no liqüidificador com o queijo pronto, temperei e levei à geladeira enquanto preparava a sobremesa.

Como tinha ainda amêndoas moídas e um punhado de ameixas muito maduras, resolvi testar uma receita de uma chef da qual já virei fã: Alice Medrich. Suas receitas são deliciosamente simples e saborosas, sem mascarar frutas ou chocolates com açúcar em demasia. Achei que teria dificuldades de preparar a massa da torta, uma vez que as instruções eram para um processador, que não tenho. Mas foi muito fácil usar a batedeira com a pá, principalmente porque não estava usando amêndoas inteiras. Uma pena que minha quantidade de ameixas era muito pouca. Apesar de ser exatamente o número requerido na receita, elas eram pequenas e não preencheram tanto o espaço da massa quanto eu gostaria. No entanto, a torta assou no tempo exato, e ficou crocante e dourada nas bordas, doce e macia no meio, com um agradável mas não dominante aroma de amêndoas, e pontuada pelas ameixas polpudas, molhadas, ácidas o bastante na casca para fazê-lo encolher os ombros, e melíferas no centro. Achei-a perfeita e servi-me de uma fatia acompanhada de sorvete de banana, feito no começo da semana.

Para o almoço em si, decidi homenagear minha sogra com um prato siciliano: Spaghetti alla Norma. Fatias finas de beringela, salgadas, lavadas e grelhadas em azeite, misturadas então a uma lata de tomates italianos inteiros, dois dentes de alho fatiados fino e um bom punhado de manjericão. Deixei cozinhar por uns 10 minutos, temperei com sal e pimenta-do-reino e juntei ao spaghetti recém-escorrido, com mais um generoso fio de azeite e um bom punhado de parmesão ralado na hora.

Tudo correu maravilhosamente bem, e ficamos aliviados em constatar que os dois cães juntos (Gnocchi e a cachorrinha dos meus sogros) não destruíram o apartamento, como imaginávamos. Estou pegando o jeito desses almoços sossegados.


TORTA DE AMÊNDOAS E AMEIXAS
Quase nada adaptado do livro Pure Dessert, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 8 porções


Ingredientes:
  • 70g de farinha de amêndoas ou amêndoas inteiras (com ou sem casca) e moídas em casa, no processador
  • 3/4 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) essência de amêndoas
  • 100g (3/4 xíc.) farinha de trigo
  • 1/4 colh. (chá) bem rasa de fermento químico em pó
  • 1 ovo extra-grande orgânico
  • 3 colh.(sopa) manteiga sem sal não muito gelada, em pedaços menores
  • 4-8 ameixas maduras (dependendo do tamanho), de casca mais ácida
Preparo:
  1. Posicione a grade do forno no terço inferior e pré-aqueça o forno a 190ºC. Junte na batedeira a farinha, as amêndoas moídas, o açúcar, o sal e o fermento. Com a pá, misture um pouco em velocidade baixa. Junte a essência de amêndoas, o ovo e a manteiga e continue misturando até que toda a farinha esteja úmida e comece a formar pelotas em volta da pá da batedeira. Você pode fazer isso à mão, com um garfo, ou com o processador, se quiser.
  2. Unte generosamente com manteiga uma forma de torta com fundo removível de 24cm e despeje a massa nela. Aperte com as mãos até espalhá-la em todo o fundo, mas sem subi-la pelas bordas.
  3. Se as ameixas não tiverem mais de 5cm de diâmetro, apenas corte ao meio e retire os caroços. Se forem maiores, corte em quartos. Disponha as frutas sobre a massa, lado cortado para cima, pressionando-as ligeiramente na massa para que não tombem enquanto assam.
  4. Leve ao forno por 40-45 minutos, até que a massa tenha subido um pouco e esteja dourada nas bordas. Deixe esfriar por alguns minutos e então remova as laterais da forma com cuidado, para que termine de esfriar. Sirva quente ou em temperatura ambiente.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Torta de maçã e muffins de milho, segundo requisições...

Depois das requisições, não podia deixar de colocar as receitas da torta de maçãs e dos muffins de milho.

MUFFINS DE MILHO
(ligeiramente adaptado do livro Baking - From My Home To Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 12 muffins médios


Ingredientes:
  • 1 xíc. de farinha de trigo
  • 1 xíc. de farinha de milho fina orgânica
  • 6 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico claro
  • 2 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) de bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) de sal
  • 1 pitada de noz moscada ralada na hora
  • 2/3 xíc. de iogurte integral (de preferência caseiro)
  • 1/3 xíc. de leite integral
  • 3 colh. (sopa) de manteiga sem sal, derretida
  • 3 colh. (sopa) de azeite de oliva extra-virgem, frutado
  • 1 ovo extra-grande (orgânico)
  • 1 gema grande (de ovo orgânico)
  • 250-290g de milho em conserva (peso drenado)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Unte e enfarinhe 12 formas de muffins, ou forre com forminhas de papel.
  2. Misture em uma tigela as duas farinhas, o açúcar, o fermento, bicarbonato, sal e noz-moscada. Em outra tigela, misture o ovo, a gema, o iogurte, o leite, azeite e manteiga derretida.
  3. Junte a segunda mistura à primeira, mexendo com um uma colher de pau apenas até que fique uniforme, sem se preocupar com pelotas.
  4. Incorpore o milho drenado, cuidadosamente, e divida a massa entre as formas, preenchendo 3/4 da capacidade.
  5. Leve ao forno por 15-18 minutos, até que estejam dourados, fofos e um palito saia limpo quando inserido em um deles. Deixe que esfriem por 5 minutos na forma antes de retirá-los.
Quanto à torta, convém observar alguns detalhes:
  1. a massa é exatamente a mesma de sempre, mas com acréscimo de açúcar, ainda que ele não seja totalmente necessário;
  2. sempre que faço massas para tortas cobertas, tendo a trabalhar com uma quantidade maiorde massa do que o necessário; isso porque é mais fácil fechar a torta se as partes de baixo e de cima têm sobras maiores nas laterais, e porque você não precisa abrir a massa tão fina caso o dia esteja muito quente e a manteiga comece a derreter na sua bancada; amasse novamente as aparas, envolva a bola de massa em filme plástico e use para sua próxima torta (suficiente para uma tarte pequena).
  3. se resolver usar maçãs mais ácidas, é interessante aumentar um pouco a quantidade de açúcar do recheio.
APPLE PIE MY WAY
(recheio livremente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 2 horas

Rendimento: 1 torta de 23cm


Ingredientes:
(massa)
  • 300g de farinha de trigo
  • 200g de manteiga sem sal gelada em pedaços pequenos
  • 100g de água gelada
  • 1/2 colh. (chá) de sal
  • 1 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico claro
(recheio)
  • 5-6 maçãs Fuji grandes, fatiadas fino, com casca
  • 40g de manteiga sem sal
  • 190g de açúcar cristal orgânico claro
  • 4 colh. (sopa) de água fria
  • 30g de amido de milho
  • 2 colh. (chá) de suco de limão
  • 1 colh. (sopa) de pimenta-da-Jamaica em grãos
  • 1 gema de ovo (para pincelar)

Preparo:
  1. Misture a farinha e a manteiga gelada, esfregando com as pontas dos dedos até obter uma textura de farofa bem grossa. Dilua o sal e o açúcar na água gelada e junte à farofa, misturando com um garfo até que comece a formar uma massa. Sove ligeiramente, apenas o suficiente para que a massa forme uma bola. Embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por pelo menos 30 minutos.
  2. Enquanto isso, prepare o recheio. Coloque as maçãs fatiadas e 2/3 da manteiga em uma panela grande, e mexa em fogo médio até que a manteiga esteja derretida e recobrindo ligeiramente as maçãs. Junte metade do açúcar e mexa, até que as maçãs comecem a soltar seu suco. Cozinhe até que elas amaciem ligeiramente, 5-10 minutos.
  3. Dilua o amido de milho na água fria e junte às maçãs. Deixe levantar fervura e misture até que o líquido engrosse e fique brilhante.
  4. Retire do fogo. Junte o suco de limão, o restante da manteiga e do açúcar. Em um pilão, esmague os grãos de pimenta-da-jamaica até que virem pó. Junte às maçãs e misture bem. Deixe que o recheio esfrie completamente antes de prosseguir.
  5. Pré-aqueça o forno a 220ºC. Divida a massa em duas partes. Abra a primeira parte com a ajuda de um rolo, sobre uma bancada enfarinhada. Forre o prato ou forma de torta, deixando uma boa sobra de massa pender nas laterais (uns 5cm). Faça furos com um garfo no fundo da massa.
  6. Despeje o recheio, espalhando-o de forma uniforme. Não deixe que o recheio pingue nas bordas da massa, ou será difícil selá-la. Abra a outra parte de massa e cubra a torta. Com os dedos, aperte bem as laterais das massas, para uni-las e não ocorrer vazamentos. Apare as bordas com uma faca ou pressionando as mãos contra a forma. Com uma faca afiada, faça furos pequenos na massa, para que o vapor escape.
  7. Bata a gema com um pouquinho de água em uma tigelinha e pincele a mistura sobre a torta. Leve ao forno por 30 minutos ou até que a torta esteja dourada. Sirva quente, com sorvete, ou fria, sem acompanhamento.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Quiche de beringela e cogumelos: o fim da maldição da mão do cozinheiro louco

Definitivamente a maldição da mão do cozinheiro louco se foi junto com o último trabalho entregue. Foi o rapaz da gráfica retirar o CD com os arquivos para que eu imediatamente tivesse vontade de cozinhar.

Como a balança estivesse quebrada, abdiquei de minha receita tradicional de pâte brisée e usei uma outra, medida por volume, da revista Blue Cooking, que ainda não experimentara. Ao contrário da que costumo usar, a massa é enriquecida com gema de ovo e aromatizada com ervas frescas (alecrim, no meu caso). Nunca havia usado a pá da batedeira para misturar a massa, e achei interessante ver como de fato funciona, se para você for muito enfadonho ficar esfregando manteiga e farinha entre os dedos. Mas a verdade é que prefiro o método manual, pois resta menos tranqueira suja na pia.

De qualquer forma, a massa ficou bastante leve e flocosa, diferente da maior parte das massas enriquecidas que já experimentara (razão pela qual me atenho à receita básica manteiga-farinha-água).

Como vou viajar na semana que vem e sei que Allex não cortará uma única cebola durante o período, achei pertinente usar tudo o que tenho na geladeira para que eu não volte após 15 dias e encontre toda uma nova civilização desenvolvida dentro da gaveta de legumes. Apanhei uma pequena beringela e meia bandeja de cogumelos de Paris frescos e refoguei-os em alho. Cobri-os com leite, ovos e queijo Gruyère e o resultado foi um quiche perfumado e "carnudo", uma daquelas "receitas de sobras" que garante lugar na minha lista de "a ser repetido".

QUICHE DE BERINGELA E COGUMELOS EM MASSA DE ALECRIM
(Massa retirada da revista Blue Cooking, edição nº 14, Abril de 2007)
Tempo de preparo: 2 horas
Rendimento: 4 -6 pessoas


Ingredientes:
(massa)
  • 1 3/4 xíc. de farinha de trigo
  • 1/4 colh. (chá) de sal
  • 2 colh. (sopa) de alecrim fresco picado
  • 9 colh. (sopa) de manteiga sem sal gelada
  • 3 colh. (sopa) água gelada
  • 1 gema
(recheio)
  • 1 beringela pequena orgânica (cerca de 10-15cm)
  • 150g de cogumelos de Paris frescos
  • 1 dente de alho grande
  • 1 colh. (sopa) de azeite
  • 1 colh. (sopa) de manteiga
  • 3 ovos extra-grandes orgânicos
  • 3/4 xíc. de leite integral
  • 150g de queijo Gruyère ralado grosso
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
  1. Misture a farinha, o sal e o alecrim em uma tigela. Junte a manteiga em pedaços e esfregue com as pontas dos dedos até obter uma farofa grossa. Misture a gema à água e junte à farofa, mexendo com um garfo até começar a formar uma massa. Vá juntando a massa em uma bola aos tapinhas, sovando o menos possível. Embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por meia hora.
  2. Enquanto isso, corte a beringela ao meio no sentido de comprimento, corte novamente, e depois fatie em pedaços "triangulares" de cerca de 0,5cm de espessura. Fatie fino os cogumelos frescos e o dente de alho.
  3. Doure ligeiramente o alho no azeite, apenas para liberar o perfume. Junte a beringela e refogue até começar a amaciar, em fogo médio-baixo. A beringela absorverá todo o azeite. Não junte mais. Acrescente os cogumelos fatiados e tempere com um pouco de sal e pimenta. Quando a beringela estiver cozida, mas não desmanchando, junte a manteiga e misture bem, desligando o fogo assim que ela tiver derretido.
  4. Abra a massa sobre uma forma de quiche de 21-23cm de diâmetro, cubra com papel alumínio e feijões e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 15 minutos. Retire o papel e os feijões e asse por mais 10 minutos.
  5. Espalhe a beringela e os cogumelos sobre a massa semi-assada. Misture em uma tigela os ovos, o leite, o queijo e um pouco de sal e pimenta, e derrame a misture na massa. Leve ao forno por mais 20-30 minutos, até que o recheio esteja firme e a superfície ligeiramente dourada.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Achou o ovo!

Precisava fotografar o que restou da torta de Páscoa, simplesmente pela diversão que é ver esse ovo assim no meio dela. A receita foi uma das poucas que segui sem nenhuma adaptação nos últimos tempos, e por isso, infelizmente, não a colocarei aqui. Por isso, na verdade, e pela chatice que foi abrir a massa. Quatro vezes. Afe!

Se quiser fazer algo parecido, é mais fácil usar sua massa de torta favorita (ou massa folhada comprada pronta), e rechear com um maço inteiro de espinafre aferventado, escorrido e refogado com alho, misturado a ricotta fresca, um punhado de queijo pecorino ralado e um tantinho de creme de leite, só para dar cremosidade. Faça quatro buracos redondinhos no recheio e quebre os ovos lá dentro, polvilhando com queijo por cima. E cubra com a massa com muuuuuuuuito cuidado para não estourar as gemas! hehehe...

quinta-feira, 13 de março de 2008

A torta mais bonita que já fiz

Finalmente encontrei uma massa de tortas dummy-proof para passar a vocês. Ainda que a tradicional continue sendo minha favorita em sabor e leveza por sua quantidade abissal de manteiga, essa é com certeza uma que pretendo repetir nas próximas vezes que quiser uma torta fechada para impressionar. Havia muito tempo que não me deparava com uma massa tão fácil de abrir e modelar. Uma promessa de um jantar sem stress, sem manteiga derretendo na bancada, sem desespero ao ver a massa em pedaços afundando no recheio de ovos. Tanto que, tendo separado menos massa do que deveria para o tampo da torta, consegui abri-la numa espessura fina o bastante para que ficasse ligeiramente transparente contra a luz, e mesmo assim a danada não rasgou.

Novatos no reino das tortas, tentem, por favor.

MASSA SEMI-INTEGRAL DUMMY-PROOF PARA TORTAS COBERTAS
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 4 porções


Ingredientes:
  • 125g de farinha de trigo
  • 35g de farinha integral
  • 65g de manteiga sem sal gelada
  • 40ml de água gelada
  • 1/2 colh. (chá) de sal
  • 1 ovo

Preparo:
Como o dessa massa. Sove apenas o suficiente para que a massa fique homogênea. Separe 1/3 dela, embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por meia hora. O restante, abra com o rolo em uma superfície ligeiramente enfarinhada, até que fique com cerca de 1-2cm maior do que a forma (a da foto é de 20cm). Forre a forma e leve-a à geladeira. Faça o recheio, preencha a forma e abra o restante da massa, também com diâmetro um pouco maior, cobrindo a torta. Aperte bem com os dedos as duas massas, para uni-las e tire o excesso com uma faca. Com um garfo, pressione a beirada da forma, para marcar a massa. Amasse os pedaços e abra o resto de massa novamente, cortando-o da forma que quiser para fazer enfeites, dispondo-o sobre a massa. Bata o ovo e pincele com ele a torta, antes de levá-la ao forno a 180ºC por 45 minutos.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Torta de maçã com caramelo


Não consegui resistir à tentação. Abri o restinho de massa de torta numa forma pequena, assei-a, espalhei sobre ela fatias de maçãs, cortei o resto de caramelo gelado em cubos, espalhei-os sobre a torta e cobri com mais uma camada de maçãs, polvilhando açúcar demerara e dois nacos de manteiga. Direto para o forno. As maçãs cozinharam sobre um tapete de caramelo derretido e uma crosta crocante, que, desta vez, não deixei passar do ponto.

Por que maçã e caramelo combinam tanto?

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Torta "Fui ver Waitress e fiquei morrendo de vontade de fazer torta"

Ontem finalmente consegui ver o filme Waitress, e tive, provavelmente, a mesma reação que todos os outros expectadores: corri para casa e fiz uma torta.

Há pontos positivos e negativos nessa receita inventada à la Jenna. Por um lado, os sabores realmente funcionaram (e não havia por que ser diferente). Por outro, a pressa e a distração quase puseram a torta a perder.

Havia pêras orgânicas na geladeira e um pote de mascarpone pela metade, e imediatamente soube que queria uma torta feita dessa mistura. Descasquei três pêras pequenas, retirei seus miolos e cozinhei-as em fogo baixo em 625ml de água e 150g de açúcar cristal orgânico, até que estivessem macias. Este é o primeiro ponto negativo: tive tanto medo de que as pêras desmanchassem, que não as cozinhei o suficiente, e elas ficaram mais firmes do que eu pretendia. Deixei que elas esfriassem no xarope enquanto preparava a massa.

Esta, por sua vez, foi tirada ipsis literis do livro Jamie At Home, com a única substituição de raspas de limão por noz-moscada. Adianto desde já que não gostei do resultado. Estou acostumada a produzir massas de torta muito leves e flocosas, e esta ficou dura como um biscoito, o que não era meu objetivo quando imaginei essa torta suave e macia. De qualquer forma, fiz metade da receita do livro e forrei com 2/3 da massa (o resto foi para o freezer) uma forma de 21cm. Assei-a no forno a 180ºC, forrada com papel alumínio e feijões por 15 minutos e depois terminei de dourá-la, sem os feijões e o papel, por mais 10 minutos. Retirei-a da forma e deixei que esfriasse sobre uma grade, para que eu aplicasse o recheio.

Em uma tigela, misturei a cerca de 150g de mascarpone 3 colh. (sopa) de açúcar baunilhado, 2 colh. (chá) de aguardente de pera, 1 colh. (chá) de leite e uma pitada de noz-moscada, até que o creme ficasse homogêneo e acetinado. Apliquei essa mistura sobre o fundo da torta fria, espalhando bem. Então fatiei as pêras e as dispus de forma um pouco displicente sobre o mascarpone.

Aí entra a distração que causou o erro no julgamento. A torta estava pronta, e poderia ir à geladeira ou à mesa. No entanto, eu não estava satisfeita com o aspecto pálido das frutas, e queria que elas tivessem as pontas mais coradas. Se tivesse um maçarico e boa pontaria, teria resolvido isso rapidamente, carmelizando apenas as pêras e deixando o creme (que jazia por baixo das fatias de fruta, devidamente escondido e protegido) intacto. No entanto, polvilhei açúcar por cima e coloquei a torta sob o grill do forno, apenas para me dar conta de que as pêras jamais caramelizariam sob o grill tão rapidamente a ponto de não interferir na textura do creme, pelo simples fato de terem sido cozidas, e precisarem de tempo para perder toda a água absorvida até que só restasse o açúcar a ser queimado. Além disso, esqueci-me do fato de que a equação fruta+açúcar+calor geraria um xarope indesejado, que tornaria o queijo aguado. A mistura do queijo, antes firme, de repente não suportava mais o peso das frutas, que afundaram, colocando a perder a minha trabalheira de tentar construir alguma forma geométrica visualmente agradável com três pêras de formatos tão variados.

Na hora de servir, fiquei decepcionada com justamente esses atributos, mas só hoje, depois de uma noite na geladeira, seu sabor suplantou seus defeitos e me arrependi de ter falado tão mal dela ontem ao meu convidado.

É uma torta a ser repetida com certeza, mas com pêras muito bem cozidas, sem a parte do grill e com uma massa melhor.

Cozinhe isso também!

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