quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Paella" vegetariana, ou "arroz de forno tipo paella", para os puristas

Eu não conheço lhufas de cozinha espanhola. Mesmo. Não faço a menor ideia do que esperar de um restaurante espanhol. Não sei por quê, na verdade, uma vez que me parece uma culinária deliciosa. Acho que simplesmente nunca me ocorreu buscar mais informação a respeito. Mas assim como tenho minhas reservas e meus tradicionalismos com relação a determinados pratos italianos, imagino que haja espanhóis e seus descendentes que se mordam de ódio a cada vez que alguém comete alguma espécie de sacrilégio contra seus pratos típicos.
Itálico
Então, espanhóis e descendentes, assim como aqui se vende queijo "tipo parmesão", considerem esse prato como um arroz "tipo paella". Porque é claro que eu também só comi paellas feitas por brasileiros. E é óbvio que eu nunca fiz uma paella tradicional na vida.

O caso é que quando comprei essa panelona verde e rasa, foi a primeira imagem que me veio em mente: paella. E havia arroz arbóreo, e tomates, e páprica e açafrão em casa, e por isso saí em busca de alguma receita vegetariana ou não que eu pudesse adaptar para usar as enormes abobrinhas que habitavam minha gaveta de legumes.

Acabei encontrando uma receita de Mark Bittman – nadinha espanhol é claro – de paella de tomates, feita no forno. Por sua simplicidade e adaptabilidade, foi a escolhida. [Caramba! O corretor ortográfico deixou passar "adaptabilidade". Nunca pensei que isso fosse de fato uma palavra! ;) ] A receita original levava apenas tomates frescos. Na falta deles, usei os em lata, que, da marca que compro, costumam vir inteiros e suficientemente firmes.

A porção é monstruosa, principalmente pensando que a receita original diz ser para 4 ou 6 pessoas. Seis ainda vai. Porque prato é totalmente "repetível". Mas só quatro pedreiros, depois de um dia inteiro carregando tijolos embaixo de um sol de verão, conseguiriam mandar ver 1/4 daquela panela. Ou então são meus hábitos que mudaram. Não sei. De qualquer forma, apesar de acreditar que num jantar normal o panelão alimentaria umas 8 pessoas, numa ocasião especial eu não prepararia para mais do que 6 esfomeados.

Use uma frigideira ou caçarola rasa que de fato possa ir ao forno a altas temperaturas, para não terminar com teflon grudado no arroz ou cabos derretidos. E não use tigelas refratárias, pois o prato é começado e finalizado na chama do fogão.

"PAELLA" VEGETARIANA
(Adaptada daqui)
Rendimento: 6 porções
Tempo de preparo: 15 min. preparo + 30 min. de forno


  • Ingredientes:
  • 3 1/2 xic. caldo de legumes ou água
  • 1 lata de tomates italianos inteiros, sem pele*
  • 1/4 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • 1 cebola média, picadinha
  • 1 colh. (sopa) alho picadinho
  • 1 pitada generosa de açafrão
  • 2 colh. (chá) páprica picante ou pimentón
  • 2 xíc. arroz arbóreo ou arroz curto para paella
  • 2 abobrinhas grandes
  • 250g cogumelos Portobello
  • sal e pimenta-do-reino a gosto
  • salsinha picada para finalizar
*Ou faça como a receita original: use 700g de tomates frescos e maduros, cortados em quartos e use 1 colh. (sopa) de purê de tomate junto com a páprica e o açafrão.

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 230ºC. Aqueça o caldo de legumes em uma panelinha.
  2. Retire os tomates inteiros da lata, deixando o suco de tomate espesso na lata, e coloque-os em uma tigelinha. Regue-os com 1 colh. (sopa) do azeite, polvilhe com sal e pimenta e reserve.
  3. Corte as abrobrinhas em quatro, no sentido do comprimento, e fatie em pedaços de 0,5cm de espessura. Fatie os cogumelos.
  4. Coloque o restante do azeite em uma frigideira grande (uns 30cm), uma panela para paella ou uma caçarola rasa, e leve a fogo médio-alto. Junte o alho e a cebola, tempere com pouco sal e pimenta e cozinhe, mexendo de vez em quando, até amolecer.
  5. Junte as abobrinhas, tempere novamente, e cozinhe por uns 5 minutos, até que fiquem bem macias. Junte os cogumelos fatiados, misture bem e cozinhe por mais uns 3 minutos, até que amoleçam.
  6. Junte o açafrão, a páprica e 2 colh. (sopa) do suco de tomate da lata (ou 1 colh. (sopa) de purê de tomate) e cozinhe por mais um minuto, mexendo. Junte o arroz e mexa, cozinhando por uns dois minutos, até que o arroz esteja brilhante e ligeiramente translúcido nas pontas.
  7. Despeje o caldo quente e misture apenas para combinar bem. Tempere com sal e pimenta. Disponha os tomates sobre o arroz, despejando o líquido que ficou no fundo da tigela, e leve a panela, sem tampa, ao forno por 15 minutos, sem mexer. Dado esse tempo, verifique o arroz. Se estiver seco e al dente, está pronto. Se ainda houver líquido, deixe mais cinco minutos. Se estiver seco mas o arroz não estiver pronto ainda, acrescente mais um pouco de caldo quente ou água e cozinhe mais um pouco.
  8. Quando o arroz estiver pronto, desligue o forno e deixe a panela lá dentro por 5-15 minutos (eu deixei 15). Retire a panela do forno, coloque sobre o fogão e cozinhe sobre fogo alto por 3-5 minutos, para criar a casquinha crocante no fundo, típica da paella. Cuidado para não queimar! Polvilhe salsinha picada por cima e sirva.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fettuccine com atum, beterrabas e radicchio

Depois de um almoço muito leve, minha lombriga pedia alguma coisa mais encorpada para o jantar de ontem. Apanhei um livro que andava há muito tempo encostado na prateleira, tendo sido muito folheado mas jamais usado, e fui direto em uma receita que usava todos os ingredientes que eu tinha na geladeira. O prato é muito fácil e ficou surpreendentemente saboroso; todos os elementos combinaram divinamente! (Deve dar uma ótima salada, aliás...)

Enquanto seu macarrão cozinha (uns 150g de pappardelle, fettuccine ou tagliatelle), derreta uma colher de manteiga numa frigideira grande, polvilhe com bastante pimenta-do-reino moída na hora e coloque um bife de atum de uns 150g para grelhar, uns 2 minutos de cada lado, em fogo médio-alto. Não se incomode se a manteiga escurecer um pouco, só não deixe queimar. Retire o peixe para a tábua de corte.

Derreta na mesma frigideira mais uma colher de manteiga, acrescente o suco de meio limão e umas duas colheres (sopa) de vinagre balsâmico, e junte meio radicchio pequeno cortado em pedaços menores e 1 beterraba pequena cortada em oitavos (eu deixo a casca, que é fininha nas beterrabas menores). Tempere com sal e pimenta e cozinhe até amaciar ligeiramente a beterraba e murchar o radicchio. Enquanto isso, fatie fino o atum.

Escorra a massa, misture à beterraba, radicchio e ao molho xaroposo que ficou na frigideira e disponha o atum por cima. Sirva imediatamente. Dá 2 porções. Mas confesso que comi as duas sozinha! Há! ;)

A receita é do livro Saturdays & Sundays - Seasonal Weekend Menus, de Kay Francis.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Salada quente de atum e favas

Antes que eu me esqueça: obrigada a todos que me mandaram parabéns! :D

Trinta anos. *Suspiro.* Trinta anos e continuo cometendo os mesmos erros, over and over again. Isso de ser uma mera humana é um saco. Eu bem que podia ser um ser místico e fantástico que aprende e muda logo no primeiro erro. Assim eu não precisaria chegar aos trinta anos e escrever de novo sobre a mesma coisa no meu blog. De novo. E de novo. Houve quem tenha se surpreendido no post anterior ao ver que eu colocara Coca-cola no bolo. Refrigerante? Na casa da Ana? *Suspiro de novo.* Pois é. O bolo, assim como o quiche de brócolis, tinha todo um aspecto irônico para mim. Mas de um outro modo. Como uma lembrança para relaxar a bisteca um pouco. Porque eu tanto falo sobre comida de verdade, o nojinho de alguns produtos industrializados e tudo o mais, que acabei criando uma bela duma cama de gato, na qual vez ou outra me vejo irremediavelmente emaranhada.

Não, eu não como pão de forma de pacote. Mas faz já uns dois meses que não faço pão em casa. AAAAh! O choque! O horror! Pois é. Nos últimos tempos ando meio enjoada de fazer pão, e os que fiz assim, sem vontade, ficaram ruins. Porque eu posso cozinhar de braços quebrados, mas não sem vontade. Não, eu não tomo refrigerante regularmente. Mas em dias de ressaca, ou quando o marido é quem pede a pizza e eu não vejo o que ele está fazendo, o danado aparece aqui em casa. No dia-a-dia, prefiro água. Inclusive prefiro água à suco de fruta, natural ou o que for.

O caso é que entrei numa paranóia ferrenha por causa do blog. Cada vez que saio do mercado com uma baguette, acho que vou encontrar alguém conhecido (ou um leitor, como já aconteceu) e pronto, eu serei uma fraude. "Você está COMPRANDO o seu pão???", apontará o transeunte, inconformado e acusador. Se eu quiser manter minha sanidade mental, eu PRECISO relaxar um pouco. Comprar meu pãozinho do Le Vin, que eu tanto gosto, e tomar meu café-da-manhã sem pensar que alguém pode estar olhando e julgando cada passo meu. "Isso não é orgânico? Isso não é natural? Não foi você quem fez??"

Agora, se você esperava que eu confessasse amor por algum chocolate que não deveria se chamar chocolate, ou algum biscoito de pacote, dançou nessa. Para mim, não comer essas coisas não é idealismo, é ter paladar. ;)

Dentro do tópico "relaxar", eu pretendia colocar aqui uma receita muito simples, daquelas com cara de gororoba, mas que dão vontade de comer todo dia, principalmente quando você teve um dia cheio de trabalho. Mas meu almoço ficou tão gostoso, que eu deixo para postar a tal gororoba amanhã. Já havia preparado uma receita semelhante, do Jamie Oliver, do livro Cook With Jamie. Era atum grelhado, com favas, ervilhas e óleo de orégano fresco. No entanto, ela não tinha ficado lá muito saborosa, principalmente por ter usado orégano seco, que não liberou aromas como deveria. Hoje foi dia de feira, e saí de lá com alguns filés de tilápia, um belo bife de atum, aspargos, favas frescas, alcachofras, beterrabas e abobrinhas. Sempre levo minha lista do que está na época no mês, mas nunca tenho um cardápio semanal em mente. Vou comprando de acordo com o que está mais bonito e apetitoso. E assim que cheguei em casa e comecei a debulhar as favas, lembrei-me da receita do Jamie, e resolvi mudá-la um pouco de acordo com o que eu tinha.

Debulhei meio quilo das favas (que dão cerca de 1 xíc. de favas descascadas), mergulhei-as em água fervente por uns 2 minutos e escorri, descascando-as para usar apenas seus miolinhos verde-intensos (as cascas costumam ser duras, a não ser que as favas sejam pequeninas como feijões). Num pilão, amassei um dente de alho bem pequeno com um pouco de sal grosso, e juntei um punhado de folhas de manjericão e outro de hortelã frescos. Amassei bem e juntei azeite suficiente para formar um molhinho ralo. Acertei o sal e a pimenta. Apanhei meu bife de atum, e o cortei numa porção menor, de 150g, mantendo sua altura de uns 2,5cm. Temperei-o com sal e pimenta, esquentei bem um fio de azeite numa frigideira e grelhei o peixe, em fogo médio-alto, cerca de 2 minutos de cada lado. Voltei-o para a tábua e o fatiei. Misturei as favas cozidas e descascadas a uma parte do molho, dispus no prato, colocando o atum fatiado por cima e derramei o restante do molho. Booooom... :)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Um andar de bolo para cada década de vida

Comecei meu aniversário com um enorme cappuccino, brioches e croissants com geleia no Le Vin. No almoço, levíssimos gnocchi gratinados na Osteria del Petirosso, e panna cotta com morangos e calda de chocolate. Ambas as refeições cortesia de meu marido, que sabe como me fazer feliz... :)

Volto para casa para os últimos preparativos para a reuniãozinha. Quase todo mundo compareceu e ajudou a lotar nossa pequena sala. Eu estava tão distraída conversando, que me esqueci de fotografar a comida, e quando apanhei a máquina era tarde demais. Não experimentei do meu próprio quiche, acho que comi duas torradinhas com tapenade de azeitonas e figo e pasta de pimentão, e meus dedos mal alcançaram os espetinhos de tomate e mozzarella. Aliás, o quiche era de brócolis. Uma brincadeira com um amigo meu, que há seis anos atrás levou uma menina ao meu aniversário que, ao ver um pão com recheio de pesto, fez cara de nojo e disse, sem notar que eu estava logo atrás dela: " Íiiiiuuuh! Quem é que serve brócolis numa festa de aniversário???" Hehehe... Bem... eu sirvo.

Do bolo, sobrou um quarto. Também, pudera, cada fatia era um almoço, assim, com três camadas bojudas. Agora posso comê-lo com calma nos dias pós-festa, em pedaços que se aproveitam do fato de não ter ninguém olhando.

A receita é de um de meus livros favoritos, Sky High, e já foi feita também pela Patrícia. Preparei-a exatamente como está em seu blog, com a diferença de ter usado as nozes pecan, como pedia o livro. Pena que deixei a cobertura tempo demais na geladeira, e ela acabou não escorrendo devagar como deveria, mas se dependurando nas laterais de forma pouco estética. Sem problemas, ficou delicioso mesmo assim. :D

Para não deixá-los sem receita nenhuma, no entanto, deixo aqui o que foi o hit da festa, para minha surpresa: a tapenade de azeitonas e figos secos. Achei que seria muito exótico, mas no fim todos gostaram. Como havia uma amiga vegan presente, omiti as anchovas da receita.

TAPENADE DE AZEITONAS PRETAS E FIGOS SECOS
(do livro Sweet Life in Paris, de David Lebovitz)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 1 xícara bem cheia


Ingredientes:
  • 1/2 xic (85g) figos secos, com cabos retirados
  • 1 xic. água
  • 1 xic. (170g) azeitonas pretas, lavadas e sem caroço
  • 1 dente-de-alho descascado
  • 2 colh. (chá) alcaparras, drenadas
  • 2 filés de anchova (opcional)
  • 2 colh. (chá) mostarda de Dijon com grãos
  • 1 colh. (chá) alecrim ou tomilho fresco (usei tomilho)
  • 1 1/2 colh. (sopa) suco de limão siciliano
  • 1/4 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino a gosto

Preparo:
  1. Em uma panela pequena, coloque a água e os figos e cozinhe, parcialmente tampado por 20 minutos, ou até que os figos estejam bem macios. Escorra.
  2. Coloque todos os ingredientes, menos o azeite e o suco, num processador e pulse até obter uma pasta pedaçuda. Junte o azeite e o suco de limão e misture bem, acertando o sal e a pimenta se necessário.
  3. Guarde num pote fechado na geladeira por até 2 semanas. Fica melhor servido pelo menos 1 dia depois de ter sido feita, e combina muito bem com torradas de pão pita. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Almoço às pressas com cevadinha e espinafre

O inferno astral tem sido dantesco. Com direito a topada no dedo do pé, mão colada com superbonder, job que não desempaca... E é claro que é só criar uma agenda mental organizada com todos os afazeres até meu aniversário para surgir um trabalho urgente que me tira dos eixos. [Obrigada, universo, por me mandar trabalho, é claro. Quem sou eu para reclamar?] Trinta anos com certeza exige festa. Mas apartamento pequeno exige festinha miúda. E para a reunião de amigos aqui em casa eu já tenho muitos planos de quitutes. "Pede uma pizza", diz o marido, querendo simplificar. E ele não me conhece?

O problema é que apartamento pequeno é igual a geladeira pequena. E a não ser que eu pretenda servir cerveja quente, é bom abrir espaço na bendita. É isso que tenho feito nos últimos dias: revirado cada cantinho da geladeira em busca de tudo o que resta e ocupa espaço para eliminar toda a comida e ocupar as prateleiras geladas com cerveja, bolo de aniversário e petiscos. Mas principalmente cerveja. ;)

Conforme os ingredientes vãos sumindo, os pratos vão ficando mais simples, mas nem por isso precisam ter gosto de restô d'ontêm. No jantar de ontem, para acabar com os pimentões vermelhos, cortei-os ao meio e os recheei com cevada cozid (que eu adoro!), pimenta dedo-de-moça, alho, salsinha e queijo parmesão, polvilhei mais queijo por cima, reguei com um fio de azeite e levei ao forno até que estivesse douradinho por cima e o pimentão estivesse bem doce e macio, ligeiramente chamuscado. Hoje apanhei o resto da cevada cozida sem tempero e misturei na frigideira a um punhado de espinafre refogado em azeite, alho e pimenta dedo-de-moça, temperei com sal e pimenta-do-reino, ralei grosso um bom punhado de parmesão e temperei com um fiozinho de azeite trufado. Nada mal para um almoço vapt-vupt no meio da entrega de um trabalho.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Feijão fradinho com espinafre, tomate e música porqueira


Detesto Black Eyed Peas. [Pronto! Você que é fã de Black Eyed Peas já pode preparar seu hate mail, vai, use toda a sua maldade, sem dó.] Outro dia mesmo tive uma discussão acalorada com um amigo sobre porque o Will.I.Am é um excelente marqueteiro, mas um músico... nhé. Foi uma sacada genial trazer uma loira vistosa para dar uma graça a uma banda de marmanjos sem destaque nenhum, e acho fantástico como eles conseguem gerar exposição na mídia que demonstra como eles são legais, mas que distrai da qualidade de sua música. [Vide o flash mob na Oprah, que é tão legal, mas tão legal, que você não presta atenção no fato de a música ser fraquinha.]

O caso é que sempre que ouço ou vejo Black Eyed Peas, lembro dos feijões, tão gostosos. E sempre que vejo os feijões, lembro das magníficas contribuições culturais que são Pump It e My Humps. Pontos para o fator chiclete, que faz com que cozinhemos feijões fradinho cantando qualquer uma das duas pérolas sem nem mesmo nos darmos conta.

Pelo menos esses "black eyed peas" eu consigo engolir. Os feijões fradinho com espinafre, tomates, cebola e limão do lindíssimo livro da Tessa Kiros, que até ilustrações já me inspirou, são absolutamente deliciosos, e obrigatórios agora que os maços de espinafre estão lindíssimos e saborosos e que os BONS tomates estão começando a voltar.

Deixe os feijões de molho de um dia para o outro, escorra e coloque numa panela, cobertos com água. Quando ferver, retire a espuma que se formar com uma escumadeira, escorra, lave os feijões, e volte-os à panela cobertos de água limpa, e cozinhe-os destampados até que estejam prontos, mas não desmanchando. O livro indicava 1 hora, mas os meus ficaram prontos em 30 minutos. Quando eles estiverem quase prontos, junte belos punhados de folhas de espinafre rasgadas, tempere com sal e cozinhe por uns 3 minutos. Desligue o fogo e sirva com tomates picadinhos, uma cebola picadinha previamente marinada em água e sal por meia hora e então escorrida, limão para espremer, salsinha picada e um fio de azeite.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ceviche de tilápia e tortillas de milho

Tudo corrido. Tudo muito corrido. Foi parar cinco minutos e abrir o tubo de tinta acrílica para um projeto pessoal, que pronto: entra trabalho novo. Bem... graças a Deus, certo? Trabalho é sempre bem-vindo. Nesta semana, no entanto, faltou-me paciência para fotografar os poucos pratos que cozinhei e os poucos fotografados não me inspiraram texto nenhum. Então hoje, enquanto espero um cliente responder-me sobre um trabalho, plim! Inspiração. Para cozinhar e para escrever.

Quem lê minhas bobagens há tempos sabe da saga do peixe de supermercado, do "fishy fish", do excesso de açougues mas ausência inexplicável de peixarias no meu bairro, da descoberta de uma boa peixaria que entrega em casa e, enfim, da quantidade enorme de peixes que consumi durante os meses de dieta, confundindo badejo com robalo e por aí vai. Muitos de vocês (principalmente os que moram nas redondezas) me aconselharam a comprar peixe na feira. Mas eu tinha um enorme pé atrás pela experiência negativa de minha mãe, tendo comprado peixe com gosto de iodo, e por não saber qual banca escolher. Eu me arrisco com alfaces, mas não com frutos do mar.

Então conheci em minha aula de aquarela Ludivine, uma moça francesa, pequenina e muito simpática, que, por acaso, mora aqui do lado. Conversa vai, conversa vem, comida aqui, comida ali, entramos no mérito dos peixes e ela me diz que costumava comprar na mesma peixaria que eu, mas que agora mudara para uma banca da feira do bairro, muito boa e que entrega em casa. Ah! Uma indicação específica, com nomes e tudo o mais! Agora sim.

Ontem fiquei contentinha, olhando os peixes inteiros ali esparramados no gelo, e pensando "olá, dona Tilápia! Não sabia que você era dessa cor! Oi, senhor Bacalhau Fresco. Será que o senhor é aquele mesmo black cod que comi em San Francisco? Muito prazer, senhora Corvina." Como havia levado pouco dinheiro, escolhi duas tilápias, pedi que filetassem para mim e levei para casa, feliz e contente.

Talvez tenha sido o bar da noite anterior. Mas hoje acordei com uma vontade imensa de comer ceviche. Olhei para o peixe na geladeira. Ceviche de tilápia? Será que fica bom? A tilápia não é um "fishy fish", então deve ficar bem suave. Hmmm...

Eu sei que na última vez que coloquei um ceviche aqui foi uma polêmica só. Pior que isso, acho que só quando fiz a piada dos alemães com as batatas e os repolhos. O que foi lindo, porque quem fez a receita chamou de "ceviche" foi Gordon Ramsay, e quem tomou bordoada fui eu... :P

O caso é... todo episódio de Top Chef tem pelo menos um ceviche sendo feito, e, assim como aconteceu com outros pratos típicos da culinária mundial, a palavra "ceviche" acabou virando sinônimo de "peixe cru cozido em suco de frutas cítricas". E a partir daí a imaginação é o limite. Ou seja, a intenção não é fazer nada autêntico de lugar nenhum. Apenas tentei me lembrar dos gostos e cores dos ceviches que já comi na vida e fiz o que tinha vontade de fazer.

Está claro?

No hate mail?

Ok.

Continuando.

Cortei dois filés de tilápia em pedaços de uns 2cm, e misturei em uma tigela a um punhado de salsinha picada [queria usar coentro, mas não tinha], 1/4 cebola roxa fatiada bem fininho, meia pimenta ardida, um dente de alho e uma cenoura pequena picados bem miudinho, suco de 3 limões [os danados estavam secos de doer], um fio generoso de azeite e sal e pimenta-do-reino a gosto. Misturei e deixei marinando.

Enquanto isso, tive um siricotico e decidi que não seguiria com meus planos originais de comer o peixe acompanhado de brócolis e cevadinha. Neh. Então, rapidamente preparei tortillas de milho, desta vez abrindo-as com mais facilidade ao imitar uma prensa de tortillas ao pressionar a bola de massa bem enfarinhada com uma frigideira pesada e de base lisa (sem reentrâncias e desenhos). Não ficaram tão finas quanto ao abri-las com rolo, mas o processo economizou um tempo incrível, e quando o peixe estava no ponto, eu tinha tortillas quentinhas e quebradiças na mesa e um vidro de Tabasco me esperando.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Spice muffin para um dia de dilúvio

O pão acabou. Preciso fazer pão. Mas olha o tempo lá fora! Olha essa luz cinza-verde-suja-úmida entrando pela janela! Chove horrores. Chove um lago inteiro. Pode ser que todo um mar tenha evaporado ontem, pois é bem um mar que chove lá fora, e minha rua some sob ondas, o que me leva a pensar que, se no meio dos Jardins minha calçada pede por um barco, imagina outros lugares da cidade, alagados, inundados, submersos.

Bertinet e a experiência bem dizem: dia de chuva não é dia de fazer pão. De alguma forma, a umidade do ar interfere de forma negativa na massa, como nenhum frio tilintante ou calor sufocante poderiam.

Penso na alternativa para o café de amanhã. Mas amanhã é dia de acordar mais cedo e decerto não há tempo para panquecas, e ainda que muito me agrade uma tigela de aveia, sei que entre uma tigela de aveia e nada, meu marido vai para o trabalho de estômago vazio.

Muffins. Muffins, com certeza. Mais quais? São tantos! Apanho um livro da Deborah Madison, porque ah! como eu adoro os livros dela!, e pulo direto para sua receita básica. Muito, muito fácil. Vejo as variações. Spice. Ok. Decido por óleo de canola no lugar de manteiga e pela menor quantidade de açúcar, pois quero muffins mais pãezinhos e menos bolinhos. Adoro moer temperos no pilão. Adoro a poeira fina e perfumada se elevando até meu rosto e o cheiro bom que perdura na ponta dos dedos. Mistura isso com aquilo, a massa toma corpo, vai para as forminhas, forno, e o cheiro mais maravilhoso do mundo alaga, inunda minha casa, submersa em especiarias.

Consigo esperar até amanhã para escorregar um naco de manteiga por cima desse muffin tão redondo, moreno e macio?

SPICE MUFFINS
(do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Tempo de preparo: 35 minutos
Rendimento: 12 muffins


Ingredientes:
  • 2 1/2 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (chá) canela em pó
  • 1 colh. (chá) gengibre em pó
  • 1 colh. (chá) noz-moscada em pó (ralada na hora)
  • 1/8 colh. (chá) cravo em pó (moí 2 cravos no pilão)
  • 1/2 a 3/4 xic. açúcar mascavo apertado na xícara
  • 1 1/3 xic. buttermilk
  • 1/3 xic. óleo de canola ou manteiga (derreta depois de medir)
  • 2 ovos
  • 1 1/2 colh. (chá) essência de baunilha
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC, com a grade no terço superior do forno. Forre a forma de muffinsforminhas de papel ou unte-as.
  2. Misture numa tigela grande todos os ingredientes secos.
  3. Em outra tigela, misture o restante. Junte o líquido aos secos e mexa com uma espátula o menos possível, apenas até que não se veja mais farinha.
  4. Distribua a massa pelas formas, enchendo quase até a boca. Leve ao forno por 25 minutos, até que estejam dourados e redondos. Retire das formas e sirva.
OBS: omita a canela, o cravo, gengibre e noz-moscada e você tem a receita básica, para ser adaptada como quiser. Os muffins ficam bem perfumados mas bastante neutros, para serem comidos com manteiga, queijo ou geleia.

Cookies em rolos

Mamãe me ensinou que quando se vai à casa de alguém pela primeira vez é sempre de bom tom levar alguma coisa: um vaso de flores, um vinho, um bolo, o que for. Apesar de ver esse gesto muito pouco difundido entre as pessoas da minha idade, toda a vez que sou convidada com antecedência à casa de alguém levo alguma coisinha. [Às vezes falha, não dá tempo, não tem nenhuma floricultura aberta, etc e tal. Mas os deuses sabem que tento.]

Quando fui convidada para conhecer a casa de uma amiga que também gosta de cozinhar mas trabalha sempre até altas horas, achei que seria uma boa oportunidade para colocar em prática uma dica de um livro de confeitaria que eu comprara alguns meses antes. O livro dizia para preparar uma boa receita de biscoitos tipo "slice and bake" ("fatie e asse"), embrulhar como um bombom e presentear junto com um cartãozinho com instruções de preparo. Pensando nos horários absurdos da minha amiga, achei que seria uma ótima ideia presenteá-la com uma massa de biscoito que ela pudesse tirar do freezer de manhã cedo, ao tomar café, e assar em 15 minutos quando chegasse em casa à noite, cansada e morrendo de vontade de comer um docinho para melhorar um dia supostamente tenso.

A receita é bastante fácil, e rende dois rolinhos como o da foto. Como eu nunca os havia preparado, guardei um rolinho para mim, para ver se funcionava. Os biscoitos ficam deliciosos, e parecem melhorar de textura de um dia para o outro, se guardados em um pote bem fechado.

Uma dica: se o dia estiver muito quente, descongele os biscoitos naquela gaveta mais gelada da geladeira, o cold room, e corte os biscoitos rapidinho, pois eles começam a ficar grudentos em pouco tempo depois de retirados da geladeira. E se a massa estiver grudenta demais na hora de enrolar os biscoitos, polvilhe um pouco – POUCO! – de farinha.

ROLOS DE CHOCOLATE CHIP COOKIES
(do livro Baking for All Ocasions, de Flo Braker)
Tempo de preparo: 15 minutos + 8 horas de geladeira + 15-30 minutos de forno
Rendimento: cerca de 4 dúzias de cookies


Ingredientes:
  • 1 1/3 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 115g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. açúcar
  • 1/3 xic. açúcar mascavo apertado na xícara
  • 1 ovo grande
  • 2 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1/2 xic. chips de chocolate amargo

Preparo:
  1. Numa tigela pequena, misture a farinha, o bicarbonato e o sal. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e os açúcares em velocidade média-baixa apenas até que esteja tudo bem misturado, mas ainda com aparência arenosa, cerca de 45-60 segundos. Não bata em excesso ou os cookies não terão a textura correta.
  2. Em velocidade baixa, adicione o ovo e a baunilha e bata apenas para misturá-los. Desligue a batedeira e passe uma espátula pela lateral da tigela, para misturar melhor.
  3. Na velocidade mais baixa da batedeira, misture a farinha até que fique bem incorporada. Desligue. Usando a espátula, incorpore os chips.
  4. Divida a massa em duas partes iguais. Forme dois rolos de aproximadamente 14cm de comprimento. Enrole em papel-manteiga e role os rolos, tornando-os mais arredondados e com cerca de 18cm de comprimento. Termine de embrulhá-los com o próprio papel e leve à geladeira por várias horas, de preferência durante a noite, para que firmem bem. Se for congelá-los, embrulhe por cima com papel-alumínio, coloque a data e leve ao freezer por até 1 mês. Descongele na geladeira por 8 horas ou durante a noite. (Na fotografia, o rolo congelado foi embrulhado ainda uma terceira vez, com papel-manteiga, apenas para efeito estético.)
  5. Antes de assar, pré-aqueça o forno a 180ºC. Forre duas assadeiras com papel-manteiga (uma para cada rolo). Usando uma faca serrilhada, corte rapidamente o rolo em rodelas de cerca de 0,5cm de espessura e coloque-as na assadeira, com uns 3cm de espaço entre elas.
  6. Leve ao forno por 12-14 minutos, uma assadeira por vez, até que fiquem dourados mas ainda moles. Retire do forno e deixe que descansem na assadeira por 3 minutos. Então transfira os biscoitos com uma espátula de metal para uma grade e deixe que esfriem completamente. Guarde em um pote fechado por até dois dias.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Putchiiiiim...

Meu deus do céu, como eu odiava aquela droga daquela propaganda com a mulher beiçuda pedindo "putchiiiiiim"! Qual era o produto, não sei. [O que me faz adorar publicidade brasileira, em que todo mundo sabe a piada de cor, mas não se lembra do produto. Alôo? Eficiência? Neh.] Só ficou bem gravada em minha memória aquela boca "angelinojolesca" numa atuação digna de Troféu Framboesa, dizendo "pudim". Bem devagar.

Pudim.
Puddddim.
PU-DIM.

Não, não importa. Para sempre, para todo sempre, pudim será "putchiiim". Com beicinho.

Shoot me.
Shoot me now.


E ultimamente os "putchiiins" são uma constante na minha geladeira. Uma vez que tudo o que botei no forno nos últimos tempos foi da forma diretamente para o lixo, saciei meu desespero por coisinhas doces com receitas de pudim. Desses fáceis, creminho engrossado com amido de milho, desses que fazem casquinha na geladeira e que se comem de colher. Tão bom!

Fiz diversos, de chocolate, de caramelo, butterscotch, sementes de cacau, baunilha, lavanda... Quem se divertiu com isso foi o Allex, que adora sobremesas de colher. Mas algumas ficavam muito moles, outras muito duras. Adaptando uma receita de Alice Medrich, encontrei a textura de pudim que mais me agrada, e que, teoricamente, pode ser variada à exaustão. A primeira versão foi feita com sementes de cacau torradas e moídas. Que foram, depois, substituídas por fava de baunilha, produzindo um sensacional pudim de baunilha, salpicadinho de pontinhos pretos. A terceira tentativa foi com lavanda (que é o da foto), que deu certo, mas ficou um pouco exótico, não para todos os paladares. Minha intensão agora é fazer o mesmo com anis, canela, ou mesmo folhas como menta. Ainda que com menta, a infusão seja diferente.

Então, para que também vocês testem outras variações, fica aqui meu pudinzinho de baunilha. Muito rápido e muito fácil. Não recomendo a substituição da fava por essência, a não ser que seja extrato natural. Você quer que a baunilha de fato exploda em sabor no pudim, e não acho que a essência artificial tenha a complexidade da fava. Pense nela como um investimento. Depois de usar, passe embaixo da torneira aberta para tirar o leite, deixe secar no escorredor de pratos e coloque dentro de um pote de açúcar. O açúcar fica mais perfumado que qualquer essência a base de petróleo.

PUTCHIIIIIM DE BAUNILHA
(Adaptado do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Rendimento: 6 porções
Tempo de preparo: 40 minutos


Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1 1/2 xic. leite
  • 1 fava de baunilha
  • 1/2 xic. açúcar
  • 1/4 xic. menos 1 colh. (chá) amido de milho
  • 1/4 colh. (chá) rasa de sal
Preparo:
  1. Com uma faquinha, abra ao meio a fava de baunilha no sentido do comprimento, e raspe para fora as sementes. Coloque as sementes e a fava aberta em uma panela com o creme de leite e o leite e leve à fervura em fogo médio. Assim que começar a ferver nas bordas, desligue o fogo, tampe e deixe em infusão por 20 minutos.
  2. Coe a mistura ou apenas retire a fava.
  3. Em outra panela, coloque o amido, o açúcar e o sal.
  4. Junte a essa panela 1/3 xic. do creme de baunilha e misture até formar uma pasta homogênea.
  5. Junte o restante do creme e ligue o fogo médio, mexendo sempre com uma colher de pau até que comece a ferver e engrossar. Reduza o fogo e deixe ferver, mexendo, por 1 minuto.
  6. Divida o pudim entre potinhos com capacidade para meia xícara. Sirva morno, em temperatura ambiente ou gelado. Na geladeira, eles formam uma película por cima que muita gente gosta e muita gente não gosta. Se você não gosta, basta cobrir com filme plástico, grudadinho no creme.
SUBSTITUÇÕES: Tente substituir a fava de baunilha por canela em pau, anis estrelado, lavanda, sementes de cacau torradas, etc, seguindo o mesmo método. Para folhas, como hortelã, misture as folhas rasgadas ao creme de leite e ao leite (frios) e deixe num pote fechado durante a noite na geladeira. Coe, apertando bem as folhas na peneira, e vá direto para o passo 3 da receita. Essas são sugestões NÃO TESTADAS. Se estiver inseguro dos resultados, faça pouquinho, uma porção para duas pessoas, como fiz com a de lavanda: 1/2 xic. creme de leite, 1/2 xic. leite, 1/6 xic. açúcar, 1 colh. (sopa) rasa amido de milho e 1 pitada de sal. No caso desta, usei 1 colh. (chá) de lavanda/alfazema (comprada na Bombay, porque eu sei que vocês vão perguntar).

Cozinhe isso também!

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