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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Uma refeição natureba. Eh, quer dizer... italiana.


Daí que o marido andava meio ressabiado com isso de feijão azuki no café da manhã e qualquer coisa sem glúten, sem lactose, com inhame e painço no jantar. Ainda que eu estivesse me divertindo horrores com os experimentos mega-naturebas, achei que, ok, talvez estivesse abusando da boa vontade do restante da família, que não cozinha e portanto não escolhe. ;)

Calhou de eu ter sido altamente influenciada pelos vídeos recomendados pelo leitor querido Edu Piloni, e quando vi, estava passando minhas noites assistindo a séries e documentários sobre a culinária italiana, com todos, TODOS, os meus livros de cozinha italiana no colo, folheando, relendo, planejando cardápios que eu não preparava havia tempos ou que eu nunca preparara por conta do pseudo-vegetarianismo.

Sou tão influenciável na cozinha, que chega ao ridículo de ter visto a Rita Lobo preparando molho à bolonhesa, e agora acordo e vou dormir pensando nisso, e estou só esperando uma boa oportunidade para preparar o que será o meu primeiro ragù alla bolognese EVER. (O que me surpreende muito, quando paro pra pensar, mas eu já era pseudo-vegetariana quando comecei a cozinhar de verdade e juntei os trapos.)

Sorte da pimpolhada, que voltou a se refestelar com sabores mais familiares, e azar do marido, pobrezinho, que anda trabalhando até altas horas da noite e não tem provado nada da minha comida, desde que eu voltei a cozinhar à italiana. :(

No entanto, se o povo aqui de casa achava que meu retorno às origens era garantia de macarrão todo dia, enganou-se um bocado. Se existe uma cozinha que consegue ser altamente natureba, se você deixar a superficialidade e mergulhar nos legumes, é a italiana.

Um cozido de ervilhas-tortas parece mais natureba do que gostoso, mas o sabor me surpreendeu maravilhosamente. Comi colheradas fartas dos legumes caudalosos, suculentos e perfumados sobre o arroz branco, e, depois, as sobras, sobre polenta veneziana, cozida com leite, o que a torna tão cremosa quanto um purezinho de batatas.

O gratinado de abobrinhas foi feito com certo preconceito. Em geral, não entendo por que alguém cozinharia uma abobrinha no vapor, se pode dourá-la em azeite. No entanto, o prato ficou delicioso, as abobrinhas muito macias, contrastando com o crocantinho da cobertura de pão, queijo e ervas. As sobras foram misturadas a ovos e um pouco mais de queijo, para uma frittata saborosíssima, acompanhada por uma saladinha verde, agora que os pimpolhos viraram, finalmente, devoradores de alface.

A receita original do cozido de ervilhas pedia por guanciale, que é uma carne que vem da bochecha do porco, muito usada nos molhos all' amatriciana e carbonara, em Roma. Na última vez que fui à Itália, pude experimentar o molho feito assim, e, apesar de a descrição da wikipedia dizer que o sabor é mais forte, eu achei o resultado mais suave em sabor e textura do que quando o prato é feito com pancetta ou bacon. Talvez por não ser defumado. Como eu tinha toucinho fresco no freezer, usei uma fatia dele, sem a pele, com ótimos resultados. Se não quiser usar o toucinho ou não encontrar nem guanciale nem pancetta italiana, use um pouquinho de bacon. O sabor do defumado vai ficar mais forte, mas acho que ficará igualmente gostoso.

ZUCCHINE GRATINATE CON OLIVE
(Da revista La Cucina Italiana)
Rendimento: 4 porções grandes ou 6 menores

Ingredientes:

  • 350g abobrinhas em rodelas finas
  • 40g queijo parmesão ralado fino
  • 4 fatias de pão amanhecido ou um punhado de farinha de rosca feita em casa
  • 10 azeitonas sem caroço (pretas ou verdes), cortadas em fatias
  • cebolinha
  • tomilho fresco (só as folhas)
  • manjerona fresca (só as folhas)
  • salsinha fresca
  • azeite de oliva
  • sal e pimenta-do-reino


Preparo:

  1. Cozinhe as abobrinhas no vapor até mais ou menos a metade do cozimento. Elas devem estar cozidas, mas ainda firmes. (Alternativamente, use o microondas.)
  2. No processador, moa o pão amanhecido junto com as ervas e o queijo. (Ou pique na faca as ervas e misture ao queijo e à farinha de rosca, que foi o que eu fiz.)
  3. Numa travessa grande e rasa, disponha as fatias de abobrinha como escamas de peixe. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Espalhe as azeitonas e polvilhe com a mistura de pão e ervas. Tempere com um fio de azeite e leve ao grill do forno por 10 minutos, até que doure. Se você não tiver grill, coloque em forno bem quente. 

.....


TACCOLE IN UMIDO DI POMODORO
(Da revista La Cucina Italiana)
Rendimento: 4 porções fartas, para acompanhar algum carboidrato que absorva o caldo, como arroz, couscous ou polenta.

Ingredientes:

  • azeite de oliva
  • 1 folha de louro
  • 500g ervilha-torta, sem as pontas e filamentos
  • 200g polpa de tomate (usei 2 tomates frescos bem maduros, picadinhos)
  • 40g toucinho sem a pele, cortado em pedaços pequenos (ou bacon, ou pancetta italiana, ou guanciale, se encontrar)
  • 1 talo de aipo em cubinhos
  • 1 cenoura média em cubinhos
  • 1 cebola em cubinhos
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 400g caldo de legumes
  • manjerona fresca (só as folhas)
  • farinha-de-rosca para polvilhar por cima
  • queijo parmesão para ralar por cima
  • sal e pimenta-do-reino


Preparo:

  1. Cozinhe as ervilhas-tortas em água fervente e salgada por 10 minutos, com uma colher de azeite e uma folha de louro. 
  2. Enquanto isso, numa panela grande, refogue o restante dos legumes e o toucinho em um fio de azeite, até amaciar e começar a dourar. 
  3. Escorra as ervilhas e junte-as ao refogado, misturando bem.
  4. Junte a polpa de tomate, a manjerona, o açúcar, o caldo de legumes, e tempere com um pouco de sal e pimenta. Cozinhe em fogo médio-baixo por cerca 40 minutos para que o caldo reduza um pouco.
  5. Sirva bem quente, polvilhado de farinha-de-rosca e parmesão, e mais um fio de azeite.  





quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sopa de lentilha e berinjela, inspirações, aspirações

Tenho gosto pela cozinha desde criança, desde que ganhei meu primeiro livro de culinária, aos 12 anos. (12? Talvez 11. Talvez 10. A memória falha.) Naquela época, folheava as poucas páginas do livrinho de culinária para crianças e minha aspiração máxima era preparar quase tudo o que havia ali e montar um enorme banquete para meus pais e minha irmã. Enchia-me de orgulho ao pensar no jantar pronto e em todos provando e adorando a comida. Claro que a coisa não andou assim. Logo na primeira tentativa, meu brownie solou e houve todo um stress porque saí num domingo de manhã para ir à padaria sozinha pela primeira vez para comprar essência de baunilha (que ninguém na casa sabia o que era e onde se comprava) e corri a vizinhança inteira atrás da danada sem sucesso, demorando uma hora e meia para voltar para casa, do que deveria ter sido um trajeto de dez minutos. Podem imaginar. Agora que tenho filhos, com certeza dou razão aos meus pais pelo tamanho da bronca.

Daí, quando fui à Itália pela primeira vez, encantei-me por toda aquela cozinha não explorada nas cantinas de São Paulo nos anos 80 e 90, ou mesmo por minhas avós, talvez por pura falta do ingrediente certo. Quando voltei, mergulhei nos livros de culinária, com a aspiração de reproduzir aqui o que sentira durante minha viagem, através da comida. Tinha esperança de sentir de novo a brisa marítima da Costa Amalfitana ao cozinhar o mesmo spaghetti alla puttanesca que comera num restaurantezinho de Positano, cujo dono colocara no rádio as mesmas músicas italianas antigas que meu pai ouvia na minha infância, de uma fita cassete que tinha na capinha justamente uma foto... de Positano. Inception.  ;) Uma coincidência e um momento especial que jamais conseguirei reproduzir na vida. E foi o que descobri quando preparei a receita tal e qual os livros mais tradicionais indicavam e, por delicioso que estivesse, a brisa marítima não veio, a canção ao fundo não era a mesma e eu olhava para um dia cinza e paredes de concreto ali fora da minha janela.

Então vieram livros de confeitaria que meus dedos, pouco dados a tarefas minuciosas que não envolvam pincéis, não conseguiam reproduzir em toda a sua perfeição visual. E tantos outros que, lidos, produziam em mim essa aspiração de ser "um tipo de pessoa". "O tipo de pessoa" zen. Não. "O tipo de pessoa" elegante. Not. "O tipo de pessoa que só come o que colhe do quintal". Nein. "O tipo de pessoa que gasta 5 reais por refeição para 6 pessoas." Fué.

Ao longo do tempo, fui percebendo que estava abordando meus livros de forma errada. E que ao invés de ASpirar ser algo através da comida, era mais gostoso me INSpirar pelos livros. E nossa, como alguns livros são de fato inspiradores. Tenho alguns, mesmo, cujas receitas quase nunca preparo, mas que às vezes apanho para folhear e me lembrar de uma sensação de que gosto na cozinha, ou de um estilo, uma visão diferente dos ingredientes. Caso do Nigel Slater, que eu adoro de paixão, mas cujos livros sempre apanho, folheio, folheio, folheio, e parece que nunca tenho todos os ingredientes necessários para nenhum prato seu. No entanto, sua abordagem da cozinha é tão relaxante, que basta uma olhadela num livro seu para que eu mude o rumo de um jantar sem ideias. Quase sempre uso suas receitas como linhas-guias para outra coisa, feita com os ingredientes que tenho em casa.

Outra fonte que tenho devorado nos últimos dias, desde que a Patrícia me indicou, é o site Green Kitchen Stories. Talvez porque eles tenham uma atitude que condiz com o meu momento culinário, de usar diversas farinhas e leites vegetais não por conta de uma alergia ou política pessoal, mas apenas pelo benefício da variedade. É inspirador o modo como eles experimentam com misturas de ingredientes e sabores diferentes, e só de ver as cores dos pratos já tenho vontade de me desafiar a colocar a maior quantidade possível de legumes em uma só refeição. O site é cheio de informações nutricionais, mas sem o tom militante ou terrorista de outros sites do gênero. Os crepes de sarraceno e espinafre, que fiz aqui com leite de amêndoas fresquinho e recheei com queijo minas em cubinhos e abobrinhas refogadas e alho e manjericão, foram devoradas. Engraçado foi ver o Matador de Dragões comendo os crepes super verdes e deixando o queijo (justo o queijo!) no prato. ;) A infusão de mel com gengibre, cúrcuma, limão e pimenta também veio em boa hora, já que a família toda está com tosse, todo mundo junto ao mesmo tempo. Em boa hora, também, porque eu tinha acabado de colher a cúrcuma do quintal, e não sabia bem o que fazer com ela. Hoje à tarde vai também virar uma versão do lassi que eles indicam.

De todos os meus livros, no entanto, os que mais me inspiram são os do David Tanis. Não que eu pretenda a qualquer momento preparar orelha de porco ou risotto de lagosta. Mas no meio dessas receitas menos acessíveis, há um texto maravilhoso que sempre me traz de volta à terra. Seu elogio à simplicidade da refeição (em termos de conceito e não de preço), sempre me coloca de volta no eixo, quando começo a complicar demais e me atrapalhar. Basta olhar para o livro na estante para me lembrar de que posso servir uma fatia de queijo e um pedaço de fruta de sobremesa (e ter essa alegria de ver os pimpolhos curtindo pera com gorgonzola ou banana com queijo branco e canela do mesmo jeito). Que uma mesa bonita não é necessariamente uma profusão de pratos complexos, mas às vezes simplesmente um peixe feito direito e um prato de vagens cozidas al dente e temperadas com bastante azeite e limão. A gente que gosta de cozinhar às vezes se empolga e entra em uma maratona culinária, quando muitas vezes, para aquele almoço bom, aquelas boas memórias, basta tomates maduros com sal, um bom pão. Ao invés de transformar as maçãs que tinha em casa em uma torta, simplesmente coloquei-as no forno, e as crianças se esbaldaram (adultos também). [Só tirar os miolos, colocar um tantinho de açúcar e um splashzinho de conhaque – já usei rum ou calvados –, fechar as tampinhas e levar ao forno médio numa travessa por 45 minutos ou até que as cascas dourem e estourem. Deixar amornar e servir com a caldinha que se forma na travessa. Com iogurte, então, fica uma delícia. Achei mais detalhado aqui.]

Nessa fase em que ando preparando uma sopa atrás da outra, sorri ao ler um trecho de um de seus livros esses dias, em que dizia que poderia facilmente viver de uma dieta de sopa e vinho: um potinho de sopa, uma tacinha de vinho. Bom... eu também.

Essa sopinha de lentilhas e berinjelas é deliciosa, cremosa e satisfaz. E vai bem com uma tacinha de vinho. Não omita o passo de assar as berinjelas, pois isso lhes dá um sabor defumado delicioso. A receita original pedia para que se usasse lentilhas verdes, francesas, caras pra chuchu. Considerando que as lentilhas francesas são boas porque se mantém al dente, mas que estamos falando de uma sopa, em que tudo tem que virar purê, substituí por lentilhas comuns brasileiras, porque eu sou "o tipo de pessoa" que acha que dinheiro não nasce em árvore.

SOPA DE LENTILHAS E BERINJELAS ASSADAS
(de uma antiga revista Food & Wine)
Tempo de preparo: 50 minutos
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 600g berinjela, de preferência maiores, cortadas em quartos no sentido do comprimento
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva
  • sal e pimenta à gosto
  • 1 xic. lentilhas
  • 1 punhado de folhas de sálvia fresca
  • 2 xic. caldo de galinha ou legumes
  • 1 xic. leite
  • 1 colh. (sopa) suco de limão

Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Coloque as berinjelas com a casca para baixo numa assadeira, tempere com sal, pimenta e 1 colh. (sopa) azeite. Asse por 30 minutos ou até que as berinjelas estejam muito macias, mas não queimadas.
  2. Enquanto isso, numa panela média, cubra as lentilhas com 5cm água. Junte 1/2 colh. (chá) sal e 2 folhas de sálvia e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe em fervura branda por 20 minutos. Escorra as lentilhas e descarte as folhas de sálvia. (No meu caso, sobrou tão pouco líquido das lentilhas, que não escorri, simplesmente incorporei à sopa. E recomendo que se faça o mesmo, afinal todo o sabor e nutrientes estão ali.)
  3. Raspe a polpa das berinjelas com uma colher e coloque no jarro do liquidificador. Descarte a casca. Junte o caldo de legumes ou galinha e as lentilhas e bata até que fique homogêneo (faça em partes, se for muito volume para seu liquidificador). 
  4. Volte tudo para a panela, junte o leite e o limão e leve à fervura branda. Ajuste o sal e a pimenta e mantenha a sopa quente enquanto termina a guarnição.
  5. Numa frigideira pequena, aqueça  a outra colher de azeite. Junte as folhas de sálvia restantes e cozinhe em fogo médio até que fiquem crocantes. 
  6. Sirva  a sopa, guarneça com as folhas de sálvia e um fio de azeite. (A sopa pode ser feita no dia anterior.)



quarta-feira, 18 de junho de 2014

Medo da sopinha de inhame e agrião


Noutro dia estava assistindo a um programa em que uma família chamava uma nutricionista em casa para resolver o problema do filho criança que se recusava a comer carne. Achei engraçada a cara dos pais quando a profissional lhes disse que não havia problema nenhum em ser vegetariano – era óbvio que eles esperavam que a nutri forçasse o moleque a comer o estrogonofe que o resto da família comia. Olhando para o pratinho de legumes sem graça do menino, sempre exatamente os mesmos, acompanhado sempre do mesmo ovo cozido, fiquei pensando em como é difícil para quem não curte cozinhar como hobby criar pratos vegetarianos minimamente interessantes. Também pensei em como a família andava perdendo a oportunidade de aproveitar o vegetarianismo do filho para diversificar a alimentação de todos.

Mas é aquilo: tenho sempre de lembrar que existe gente que não gosta de cozinhar e, o que mais me surpreende, gente que não gosta de comer. (Como isso é possível??)

De qualquer forma, pensa nessa dificuldade no preparo dos legumes me lembrou de toda uma época em que eu ainda tinha medo da cozinha. Mais precisamente, na verdade, medo dos ingredientes. Medo de testar uma receita e errar. Medo de não gostar do resultado.

Apesar de minha mãe sempre preparar muitos legumes, eram sempre os mesmos, durante minha infância, e meio que preparados sempre do mesmo jeito. Então muitos legumes e verduras fui experimentar apenas quando adulta. Então quando vi uma receita de sopa de inhame com agrião, a foto me apeteceu o bastante para recortar a receita e colar no caderno, mas o medo do ingrediente desconhecido era tanto, que o prato ficou só no papel durante anos e anos e anos, apenas esperando esse momento mágico em que eu me suficientemente sentisse confortável na cozinha para prepará-lo.

Uma bobagem sem tamanho.

Mas fazer o quê?

Olho para uma dezena de receitas recortadas há 15 anos e ali, coladas no caderno, sem nunca terem sido preparadas, por medo de ingrediente que nem comprar eu sabia. Agora saio correndo atrás do prejuízo, e me perguntando por que diabos deixei passar tantos invernos sem sopa de inhame.

E toda vez que encontro na feira algo que nunca comi na vida, faço questão de levar pra casa para experimentar. Tanta verdura, fruta e legume bom no mundo, que é um crime comer todo dia a mesma coisa!

PS: uma semana cheia de posts, outra não. Culpa da maldição da mão do cozinheiro louco, que fez com que os almoços saíssem meio mequetrefes. Ainda bem que a maldição vem rápido e passa rápido. ;)

SOPA DE INHAME E AGRIÃO
(De uma antiga revista Gula)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

  • 1kg inhame
  • 1 dente de alho picado
  • 1/2 cebola média picada
  • 50g manteiga
  • 2 litros caldo de legumes
  • 1 xic. folhas agrião
  • 1 colh. (sopa) manteiga para refogar o agrião
  • sal e pimenta a gosto


Preparo:

  1. Descasque e pique o inhame. 
  2. Refogue o alho e a cebola nos 50g manteiga até que murchem. 
  3. Junte o inhame e refogue por 3 minutos.
  4. Junte o caldo e cozinhe em fogo baixo até que o inhame esteja macio. 
  5. Deixe esfriar um pouco e bata no liquidificador. Volte à panela, tempere com sal  e pimenta e reserve. 
  6. Em uma frigideira, derreta a manteiga restante e junte o agrião. Refogue até que murche. Volte para a tábua de corte e pique muito bem, voltando para a sopa reservada. 
  7. Volte ao fogo e cozinhe por mais 5 minutos. Sirva quente.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Salada de feijão-manteiguinha, pesto de folha de rabanete e mais um monte de coisa


Era para ser um almocinho vegan. Mas abri a geladeira e dei de cara com aquele maço de folhas de rabanete. Achei uma receita de pesto e, já que Madame Bochechas resolvera não dormir no meu horário de trabalho, resolvi preparar o danado para congelar e usar depois. [Pois há ainda muita verdura na geladeira para ser usada A.S.A.P., já que eu tive um impulso consumista na feira da semana passada e comprei uma variedade e quantidade maior do que consigo consumir de fato.]

Na hora de preparar o pesto, fiz poucas modificações: aferventei as folhas antes para tirar aquela sensação piniquenta, e usei castanhas do pará. O bicho ficou tão gostoso (Laura queria comer de colher), que resolvi usar o pesto na salada de feijão-manteiguinha que planejara para hoje, já que o dia estava bonito e não estava tão frio.

Feijão-manteiguinha: com um nome desse, não dá vontade de levar pra casa quando você vê na gôndola? Eu levei. E achei uma delícia. E fui pesquisar e descobri que ele é famosinho em várias partes do Brasil, mas que eu que era boba e nunca tinha ouvido falar. E é saboroso, e pequenininho, e bom em saladas. Como vi que era parente do feijão-fradinho, achei por bem descartar a água da primeira fervura, lavar e aí sim cozinhar com alguns temperos, para evitar qualquer possível amargor. Quem conhece o moço que me diga se era preciso fazer isso ou se é bobagem minha.

Sabia que queria usar na salada, abacate, que o Matador de Dragões (agora) adora. E tomate, e pepino japonês, e rabanete. Bati o olho numa salada de quinua que levava ingredientes semelhantes, e que levava também amêndoas e tâmaras. Resolvi arriscar, substituindo as amêndoas por castanha-do-pará de novo. Fui comedida e botei só quatro tâmaras, mas da próxima vez, uso mais, muito mais, porque o docinho da tâmara enriqueceu muito o prato.

Madame Bochechas provara do feijão na panela e do pesto no processador. Mas quando lhe apresentei o prato montado, ela torceu o nariz. Expliquei que era a mesma coisa. Mostrei pra ela. Passei o dedo no processador ainda sujo e deixei que lambesse. Fiz o mesmo no molho da salada. Ela apanhou a colher e foi valente, experimentando de tudo, gostando de alguns itens, cuspindo outros, mas, em geral, mandando ver.

Matador de Dragões viu o almoço e não quis sentar à mesa. Disse-lhe, como sempre, que se não queria comer, que não comesse; mas que precisava sentar-se conosco e esperar que todos terminarem. Ele veio, a contragosto. Ficou olhando, bem uns cinco minutos, enquanto Laura e eu comíamos, "hmmms", "aaahs", "boooons". Então apanhou a colher e experimentou. "Gostou, Thomas?" "Hm-rum", disse, continuando a comer. "Quéo mais." "Mais fejão?" "Dãaaao. Esse." Apontou para o rabanete.

Fico contente que ele tenha entendido o esquema e simplesmente experimente metendo o colherão na boca e mastigando. Laura entrou já cedo na fase do Não Gosto, Não Quero, e às vezes, recusa-se a comer, tornando-se minha mais nova Catadora de Salsinha. Hoje foi uma exceção conseguir convencê-la pelos meios da razão. Também não há promessa de chocolate que a faça experimentar algo, já que ela ainda não entende completamente condicionais. [Só promessa de chocolate fez com que Thomas experimentasse a berinjela recheada de painço, que ficou feia como o demônio, mas uma delícia. Experimentou, raspou o prato. Já Laura, não esboçou problemas com a gororoba marrom-acinzentada em seu prato e mandou ver sem manha.]

Vejo que a pequena Catadora de Salsinha ainda tem a dificuldade da mastigação, por não ter todos os dentes, já que o modo como mastigamos muda completamente o gosto que sentimos do alimento. Dependendo de como ela põe a comida na boca, o tamanho do pedaço, ela come ou rejeita. Pensei nisso outro dia, quando Thomas apanhou um legume qualquer para experimentar e apenas tocou-o na ponta da língua e o rejeitou. Tento explicar que desse jeito ele não está sentindo o gosto de nada e que isso é roubar no jogo: experimentar é botar na boca, mastigar e engolir. Imagina apanhar um pepino e encostar a ponta da língua na casca? Nem maçã tem gosto bom assim. o_O

Fiquei contente de ver os dois comendo com gosto, pedindo mais. Também, pudera: saladinha que ficou uma delícia, e eu mesma raspei o prato, repeti e comi o pouco que eles deixaram nas suas tigelinhas. Achei que sobraria pro jantar, mas já vi que vou pra cozinha de novo hoje. ¬_¬

SALADA DE  FEIJÃO-MANTEIGUINHA, PESTO DE FOLHAS DE RABANETE E UM MONTE DE COISA
Rendimento: 2-4 porções, dependendo se prato principal ou acompanhamento

Ingredientes:
(feijão)

  • 1 xic. feijão-manteiguinha seco, deixado de molho na noite anterior e escorrido
  • 1 colh. (sopa) azeite
  • 1 ramo de salsinha
  • 1 folha de louro
  • 1 pitada de pimenta-calabresa seca
  • sal e pimenta a gosto

(pesto)

  • 1 maço de folhas de rabanete bem verdinhas, com os talos
  • 1 dente de alho, descascado
  • 5-6 castanhas-do-pará
  • 1/2 xic. queijo parmesão ralado na hora
  • suco de 1/2 limão
  • azeite de oliva (1/4 xic. ou mais, dependendo da consistência desejada)
  • sal e pimenta a gosto

(salada)

  • 2-3 colh. (sopa) água do cozimento do feijão
  • 1 tomate maduro mas firme, cortado em cubinhos pequenos
  • 1/4 cebola picada
  • 1/2 abacate maduro, cortado em cubos e regado com suco de limão, para não escurecer
  • 2 rabanetes cortados ao meio no sentido do comprimento e fatiados bem fininho
  • 1 pepino japonês fatiado bem fininho
  • 4 castanhas-do-pará picadas
  • 4 (ou mais) tâmaras, sem caroço, picadas
  • sal e pimenta a gosto


Preparo:

  1. Coloque o feijão para cozinhar em água. Quando ferver, escorra, lave, volte à panela com água limpa bastante para cobrir, o azeite, o louro, a salsinha e a pimenta-calabresa. Leve à fervura, abaixe o fogo, e deixe cozinhando com meia-tampa até que o feijão esteja macio (o tempo vai depender da idade do feijão e se você usar panela de pressão ou não).
  2. Retire as ervas, tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto e escorra, reservando o caldo. 
  3. Enquanto isso, faça o pesto: coloque água com sal para ferver em uma panela grande. Coloque as folhas de rabanete e deixe cozinhar por 1 minuto. Retire e deixe que esfriem. Quando estiverem frias, esprema nas mãos até tirar todo o líquido e coloque as folhas no processador com as castanhas, o alho, o limão e o azeite. Pulse até transformar em purê. Acrescente o azeite, o queijo, sal e pimenta e bata novamente até que fique homogêneo. Você terá mais pesto do que precisa. O restante pode ser congelado. 
  4. Numa tigela grande, misture o feijão ainda quente a 1/3 xic. do pesto diluído em 2-3 colh. (sopa) da água do cozimento do feijão. (O restante do caldo do feijão pode ser usado no caldo de legumes, assim como a água do cozimento das folhas de rabanete.)
  5. Quando o feijão estiver bem temperado, junte o restante dos ingredientes da salada, misturando muito bem. Prove e acrescente mais suco de limão, azeite, sal e pimenta a gosto, se precisar. Deixe a salada descansar em temperatura ambiente por 15-30 minutos, para que os sabores se desenvolvam e sirva. 


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sopa de cenoura com castanha de caju e raiz de coentro, para vegans ou não

Amarelinha, ao invés de laranja, por conta da castanha e do caldo.
No fim das contas, ter deixado oficialmente a categoria de vegetariana mudou pouca coisa na minha cozinha. Pelo menos em termos de ingredientes. Primeiro porque vegetariana de verdade fui apenas por uns dois anos da minha vida, em que realmente ficava sem comer nada se fosse a um lugar e só tivesse peixe, que seja. Ah, quantos churrascos de dia inteiro à base de pão e vinagrete...(e cerveja, ok.)

É claro que quando resolvi voltar a comer carne, primeiro de vez em quando, meio escondida, cheia de uma culpinha besta, durante o finzinho da gravidez do Thomas, e depois enfiando o pé na jaca durante a viagem à Itália, já grávida da Laura sem saber, me empaturrei, me esbaldei, fui à forra como quem sai de dieta e teve um dia difícil.

Depois de uns meses de esbórnia culinária, a coisa sossegou. O corpo reclamou. Quase dez anos à base de legumes, o corpo sentiu a vinda daquele monte de mortadela como se eu estivesse comendo tijolos. Deliciosos tijolos. Dei um tempo. Voltei à cozinha vegetariana.

Aí assisti aos programas da Bela Gil, que me trouxeram de volta a vontade de reincorporar umas naturebices que andavam meio largadas. Coisa normal. Pois sou muito influenciável na cozinha. Num dia fico saudosa da Itália e passo um mês cozinhando italiano. Aí compro um gengibre e me jogo no indiano. Lembro de um livro que não usava havia tempos, e me esbaldo nele e só nele. Assisto ao Tales from the River Cottage, e tenho vontade de voltar a comer carne só para preparar partes estranhas de um bicho. o_O

Daí a esquizofrenia gastronômica.

Porém, contudo, entretanto... Houve um episódio da dona Bela, sobre leite, em que ela mencionou sobre os poderes inflamatórios e geradores de muco do mesmo, e tive uma epifania. Fui conferir com minhas fontesinhas ayurvédicas e era isso mesmo. De repente me dei conta da profusão de laticínios que vinha usando na cozinha. Quando você não come carne todo dia, acaba abusando deles mesmo. E dos ovos. Meu deus, quantas fritatas: quando Thomas estava comendo quase nada, eu transformava seu almoço recusado numa frittata à noite, e ele comia no jantar sem problemas. Mas tanto, tanto ovo.

Parei para pensar no tanto que meus pimpolhos andavam fungando; eles que, com sua constituição ayurvédica já têm tendência a isso, quanto mais com o tanto de leite que andavam tomando. Daí que eu, que sempre torci o nariz injustamente para cozinha vegan, me peguei passeando por ela, muito interessada em, de vez em quando, substituir leite por outra coisa.

Bom... funcionou. O funga-funga parou.

E agora paro para pensar o quanto essa trajetória maluca foi libertadora. Isso de comer carne mas fazer sopa vegan. De não ser celíaca mas fazer qualquer coisa sem glúten. Libertadora no sentido de que aquela culpinha besta de vegetariano com vontade de comer frango assado, assim, do nada, sumiu. A polícia alimentícia também desapareceu (aquele povo chato que odeia o fato de você não comer qualquer grupo alimentar e fica só esperando você escorregar para te encher os pacová a respeito). Libertadora também porque se me pego sem ovo para empanar meu chuchu, posso usar uma massinha vegan de água e farinha. Se acabou a farinha de trigo, tem sempre mais um monte de outras para adaptar e criar outra coisa. E, principalmente, libertadora no sentido de que, enfiada numa situação em que só tem carne para comer, eu não passo mais fome nem deixo meu anfitrião desavisado constrangido, como tantas vezes já aconteceu. (Não que todo anfitrião de vegetariano fique constrangido, mas sempre tem aquela situação em que a mãe de alguém fez lasanha de presunto, "já que você não come carne". ¬_¬ )

O caso é que minha visão dos ingredientes e suas combinações de ampliou maravilhosamente. As possibilidades são imensas. E isso tem me deixado mais alegre na cozinha. Como vocês bem puderam notar. ;) Claro, o fato de, por enquanto, a pimpolhada estar comendo bem, ajuda. Muito.

Hoje, meio atarantada pelos afazeres do dia, quis uma sopinha rápida. Sopinha de cenoura, que era tudo o que tinha em mente. Dei uma busca rápida nos meus livros, mas nada me apeteceu completamente. Era dia de feira, o caldo com as aparas de vegetais e água de feijão cozinhava, e resolvi inventar alguma coisa eu mesma. Cortei cebola. Fui jogar manteiga na panela, mas me refreei. Apanhei o óleo de coco, que parece que ele dá uma cremosidade boa à comida refogada nele. Óleo de coco me fez pensar em coentro. Ao invés de picar coentro fresco por cima, resolvi apanhar as raízes com talos que eu tinha acabado de jogar no freezer. Porque eu sempre congelo os talos com raízes de coentro, na esperança de um dia fazer minha própria pasta de curry tailandês. Mas isso nunca acontece. Resolvi picar umas raízes e refogar junto com a cebola. Bom, já que estamos falando de pasta de curry, então jogo gengibre junto. E pimenta? Pimentinha vai bem. Apanhei também do freezer uma única pimentinha vermelha e arredondada, pequenina, que eu comprara na viagem à Belém. Joguei as cenouras lá dentro para refogar tudo junto, com uma pitada de sal. Daí pensei: hmmm... mas talvez não fique muito cremosa. Queria uma sopa cremosa, pois Laura consegue comer sozinha as sopas que meio que se equilibram na colher. Creme? Não queria usar. Leite de coco? Não tinha. Juntei castanhas de caju sem sal, que meu pai sempre traz de Fortaleza. Refoguei tudo, juntei o caldo de legumes que cozinhava ao lado, e quando as cenouras estavam macias, bati tudo no liquidificador.

Ficou uma delícia. DE-LÍ-CIA.

Amarelinha por conta das castanhas e também do caldo, que tinha água de feijão e água de cozimento de folha de beterraba. Mas o sabor era todo cenoura, gengibre, coentro e castanha. (Aliás, nem precisa de folha de coentro por cima). Mas aquela pimentinha danada ficou forte pra chuchu. Laura comeu. Repetiu. Eu também. Thomas experimentou. E comeu assim, feito molho, mergulhando os chips de batata-doce na sopa ante de botar na boca. Porque eu não nasci ontem, e, para evitar problemas no caso de a criançada não gostar da sopa de jeito nenhum, sempre faço algo que acompanhe: torradinhas com queijo, bolinhos de algum grão ou alguma folha, chips de batata-doce, no caso. Sempre algo que possa ser mergulhado na sopa, para incentivá-los a experimentar.

Ah, mas é claro que tem outro benefício na minha vida essa coisa de "como de tudo de novo": viagens de avião. Porque se tinha um negócio que me deixava louca da vida era pedir refeição OVO-LACTO-vegetariana numa viagem de avião e receber comida vegan no lugar. Todo mundo comendo pão com manteiga e iogurte de morango no café da manhã, e você mastigando salada de alface e cenoura ralada. E uma saladinha de frutas que é igual em toda a companhia aérea: melão duro, maçã ácida e uma uva. UMA. UVA. [No vôo de volta de Amsterdam, o povo se confundiu e embarcou pra mim uma refeição comum. Dividi meu sorvete de chocolate e stroopwaffle com o marido triste, comendo a sua uva.]

SOPA CREMOSA DE CENOURA E CASTANHA DE CAJU
Rendimento: 2 porções de adulto (ou 1 porção de adulto e 2 de criança pequena)

Ingredientes:

  • 1 colh. (sopa) óleo de coco
  • 1 cebola pequena, picada
  • 2-3 raízes de coentro, com uns 5-7cm de talos verdes, sem folhas, picado
  • um pedaço de 2cm de gengibre fresco, descascado e picado
  • pimenta fresca (à sua escolha e gosto), picada, com ou sem sementes
  • 1/2 xic. castanha de caju sem sal
  • 2 cenouras médias, fatiadas
  • 500ml caldo de legumes
  • sal a gosto


Preparo:

  1. Aqueça o óleo de coco numa panela pequena. Junte a cebola, as raízes de coentro, o gengibre e a pimenta, e refogue em fogo médio até que a cebola esteja macia e tudo comece a dourar. 
  2. Junte a cenoura e as castanhas e refogue por mais uns minutos, recobrindo tudo com os temperos. 
  3. Junte o caldo de legumes, tampe e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 10-20 minutos, dependendo da idade e do tamanho dos pedaços da cenoura.
  4. Quando a cenoura estiver macia, desligue o fogo e bata tudo no liquidificador até que fique completamente homogêneo. Caso fique muito grosso, acrescente mais meia xícara a 1 xícara de água. Acerte o tempero. Volte para a panela para reaquecer e servir. Fica ótimo com chips de batata-doce (batata doce fatiada bem fina e frita em óleo bem quente). 


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vai passar. Enquanto não passa, quibe de batata-doce.


Todo mundo já se entupiu de bolo de Guinness? Lambeu a cobertura do prato? Óoooootimo. Vamos voltar às naturebices, então, que tem toda uma fila de posts de coisinhas saudáveis que precisam pipocar por aqui.

De fato, o timming para voltar a variar o cardápio foi perfeito. Talvez tenha sido o aniversário de 3 anos (o fim dos terríveis 2?), talvez tenha sido resultado da insistência materna... não importa: o Matador de Dragões voltou a comer direitinho. Assim, de um dia para o outro, eis que ele senta à mesa e come algo verde sem fazer careta, birra, manha, coisa nenhuma. Achei que tivesse sido sorte, mas na refeição seguinte, largou o desenho, sentou e comeu. Ok, o ciuminho da irmã faz com que eu tenha de ajudá-lo com o garfo mais do que ele de fato precisa, mas ainda assim. Não preciso pedir muito para que ele experimente algo novo. Não precisa gostar, nem precisa comer tudo. Só experimentar. E aí ele vai lá e experimenta. E quase sempre come 80% do que há no prato. (Continuo recomendando o método blasé do Bringing Up Bébé.)

Quando resolvi preparar esse quibe, da revista Casa & Comida, achei que, como muitos outros quibes, ficaria bem sequinho. Como não tinha coalhada para o molho sugerido, montei rapidamente uma saladinha de abacate, tomate, alface e coentro, porção pequena, certa de que eu acabaria comendo tudo sozinha. Sempre coloco no prato das crianças um pouquinho de tudo o que há na mesa, mesmo que eu saiba que eles não gostam, não querem ou não conseguem comer (como alface, no caso da Laura, que ainda não tem todos os dentes de trás). Abacate vinha sendo uma tristeza minha, pois eu adoro de paixão, e Thomas costumava comer até papinha de abacate (guacamole?) – aí um dia decidiu que não queria mais nada a ver com a fruta. Buáaaa. :(

Daí que coloco a comida no prato dos dois, Laura-Ogra começa a devorar tudo, e Thomas observa. Cata o garfo. Pede ajuda. Já suspiro, esperando a recusa, mas ainda assim espeto um tomatinho e um abacate. Ele faz uma careta, olha nos meus olhos, desiste antes de começar a reclamar, e come. "Hmmmmmm.... Tá booom!" Pede mais. E mais. E come o quibe, quase tudo, mas principalmente, come o abacate com tomate do seu prato, do meu, do da Laura e o resto que estava na tigela da mesa. Adora "acacate", como diz.

Aí me surpreendo em outro dia, quando faço pizza, e o vejo roubando azeitonas pretas do prato dos outros.

"Mas você gosta de azeitona?"
"Hum-rum!", responde, com boca cheia e um movimento assertivo de cabeça.
"Mas você odiava azeitona! Como pode?"

Para mim, esse é o conto do "vai passar". Porque sempre que eu tinha um perrengue-de-pimpolho, alguém me dizia "é fase, vai passar". E eu nunca acreditava. E agora acredito. Não come? Vai passar. Não dorme? Vai passar. Não faz xixi no lugar certo? Não conheço um adulto que não tenha eventualmente aprendido a usar o banheiro. Vai passar. E passa. Passou. A gente continua lidando com os perrengues e tentando resolver. Mas o mantra do "vai passar" com certeza dá um alívio imenso. Principalmente quando seu pimpolho está na fase-monstra dos dois anos. Impressionante como passa.

O que me deixa menos tensa ao pensar que dona Laura-Voluntariosa AINDA vai passar por isso. o_O

Afe.

Ao quibe: muito macio e saboroso, fácil, principalmente se você já tiver um resto de quinua de ontem dando sopa, como era o meu caso. A receita original era com mandioquinha, mas recomendava substituir por inhame, batata-doce, cará... Escolhi a batata-doce, que era o que eu tinha sobrando. O recheio de queijo... esse achei desnecessário, e omitiria na próxima vez. Não acho que tenha agregado nada ao prato a não ser torná-lo mais caro. [O preço do queijo está pela hora da morte! O que acontece??]. De qualquer forma, morri de vontade de transformar a mistura em hambúrgueres vegetarianos, pois o que sobrou de quibe num dia, virou recheio de sanduíche em outro, quando costumo ficar o dia todo fora e acabo almoçando no carro, entre um curso e outro.

A receita usava "colheres de sobremesa" e "colheres de café", como medida, o que sempre acho estranhíssimo, e a revista não dava conversão para o clássico "de sopa" e "de chá". Fui lá, Google nisso, achei e converti. Agora e a xícara de café de medida? Qual xícara? A minha de espresso ou a do tiozinho da padaria? Eu tinha 3/4 xic. de quinua cozida na geladeira, e foi isso que usei. Se não tivesse quinua cozida, usaria 1/4 xic. como medida, apesar do volume padrão para espresso (segundo me consta) ser 30ml. Volume da de café com uso culinário, realmente não achei. Confuso, confuso. O bom é que pratos como esse são adaptáveis e, no fim, você tempera a seu gosto, e algumas colheradas a mais ou a menos de quinua não vão fazer diferença.

Se você não tiver sumagre, acho que pode ser substituído por um pouco de suco de limão, sem exagerar, pois o sumagre tem justo esse azedinho cítrico. No lugar de pimenta síria, usei caiena, em quantidades menores, pois tudo o que Laura adora pimenta, Thomas recusa. Mas acho que isso também passa. ;)


QUIBE DE BATATA-DOCE
(Receita de Priscilla Herrera, do Banana Verde, publicada na revista Casa e Comida)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 5 porções fartas

Ingredientes:

  • 700g de batata-doce (ou mandioquinha, inhame, cará, batata inglesa, abóbora kabocha)
  • 1 xic. trigo para quibe
  • 6 colh. (sopa) cebola roxa picada
  • 2 colh. (sopa) hortelã fresca picada
  • 2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (chá)sumagre
  • 2 colh. (chá)zaatar
  • 1/2 colh. (chá) pimenta síria
  • 1 pitada de orégano
  • 1 xic. (café) quinua 
  • 2 colh. (sopa) cebolinha picada
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 xic. (café) azeite de oliva
  • 1 xic. (café) nozes picadas
  • 1 talo de alho poró picado bem fininho
  • 80g queijo mussarela cortado em cubinhos
  • 80g ricotta


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma assadeira retangular pequena ou um refratário quadrado (o da foto tem cerca de 21-22cm de lado)
  2. Cozinhe a batata-doce na água até ficar macia (esfreguei bem para limpar antes, e cozinhei com casca e tudo). Escorra e amasse até virar um purê. Reserve.
  3. Enquanto a batata cozinha, hidrate o trigo em pouca água, deixando-o bem al dente. Escorra e junte ao purê de batata. 
  4. Enquanto isso, cozinhe a quinua em água fervente, até que solte os rabinhos. Escorra em uma peneira, passando sob água fria, para parar o cozimento. Junte ao purê com trigo.
  5. Misture o restante dos ingredientes, menos os queijos, e amassa bem com as mãos, para que tudo fique bem distribuído e consistente. Prove o tempero e corrija.
  6. Espalhe metade da massa na assadeira. Cubra com os queijos e cubra com o restante da massa de quibe. Passe um garfo na superfície, criando um desenho de ranhuras, e leve ao forno até dourar ligeiramente. (A receita não especifica um tempo, e acredito que dependa do tamanho da forma que você usou e do material – vidro, metal, cerâmica. Coloque o timmer para 15 minutos vá ficando de olho.) Sirva quente.

Em tempo, pesquisa feita: 
1 colh. (café) = 1/2 colh. (chá)
1 colh (sobremesa) = 2 colh. (chá)






segunda-feira, 14 de abril de 2014

Linguado com espinafre e molho de tomate e meus livros de ilha deserta

Eu já fui melhor em tirar fotos antes do jantar com luz artificial de cozinha. :P
Meus livros de ilha deserta.
O país está desandando num passo tão rápido, que acho que não conheço um único brasileiro de classe média-mequetrefe (quem vos escreve inclusa) que não repita duas vezes ao dia que está na hora de fazer as malas e procurar outro lugar para morar. Discurso antigo, mas que anda tomando força entre quem eu conheço, e ando vendo muita gente de que gosto de fato juntando as coisas e indo embora.

A discussão aqui não é para ser política, isso é um blog de comida. O caso é que toda essa movimentação, é claro, faz a gente olhar em volta e pensar num grandessíssimo "E SE...".

E se eu saísse do Brasil?
Pra onde eu iria?
E as crianças?
E a escola das crianças?
E os avós?
E os meus amigos?
E o cachorro?
E a minha rotina?
E meu trabalho?
E o meu estúdio de pintura?
E a bateria do Allex?
E os meus livros de cozinha?

o_O

Sim, sim, e os meus livros de cozinha? Todos os... [pausa pra checar o número no Eat Your Books] 127 livros de cozinha que habitam desmazeladamente minha casa toda?

Porque não basta empacotar tudo e botar no mochilão. Custa caro levar tralha pra lá e pra cá. E ninguém garante que seu lugar novo vai comportar tudo o que você quer levar.

Ando vendo justamente minha cunhada e seu marido, que estão fazendo o caminho inverso e voltando para cá: como custa uma fortuna desmedida trazer um container de fora para o Brasil, eles tiveram de selecionar a dedo todos os seus pertences e decidir o que de fato era importante e o que poderiam vender ou deixar para trás... para que trouxessem apenas as malas de viagem. Um enorme exercício de desapego, mas que deve ter sido extremamente doído.

E fiquei matutando nisso, pois fora o material de arte, que é meu trabalho, eu não tenho de fato muita coisa. Aliás, depois das últimas rapas, percebi que não tenho praticamente nada além da mobília, das roupas e... dos livros. [Não adianta falar em Tablet, que eu realmente acho muito desconfortável ler nele, pois pesa, e por conta da sensibilidade da tela e de seu formato nada orgânico, meus dedos nunca ficam relaxados à volta dele, e uma vez lendo por meia hora no aparelho, os músculos de minhas mãos doem. Fora que, como Umberto Eco – a-ham... – eu gosto de rabiscar livros.] Dos romances, hoje em dia, acho que só levaria O Senhor Dos Anéis comigo para lá e para cá para sempre. Mas e os livros de cozinha??

Matuta, matuta.

Concluí que ainda que goste muito da minha coleção e que tenha fases de usar mais determinados livros do que outros, estou bem satisfeita com os que tenho, e, não apenas não sinto mais vontade de comprar novos [toda vez que estou fuçando na Amazon me refreio, pois vejo que não sinto mais aquela ilusão de "uau, se eu cozinhar isso, vou ter esse estilo de vida" e que não tem mais muita novidade por aí, na verdade], como também estou meio que pronta para me desfazer de uma parte deles. Mas calma, isso com o tempo. O problema é que, tendo espaço, sei que mandar alguns embora é querer trazer outros no lugar. Então deixa quieto.

Mas no fim das contas, desde que Laura nasceu, pego-me repetidamente abrindo os mesmos livros, atrás do mesmo tipo de prato, e ainda que às vezes eu apanhe algo de diferente num dia mais tranquilo, meus volumes de confiança são sempre os mesmos. No caso, os dois livros que mais desprezei quando abri pela primeira vez, achando que eram excessivamente simples ou derivativos. Acontece que... não.

O Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich, faz jus ao nome. E todos os bolos de aniversário (e de lanche da escola, e de terças-feiras) tem saído daí. Acho que se não fiz todos, falta um ou dois. Meu pudim de chocolate é o desse livro e ponto, porque é o mais simples de todos, mas que entrega complexidade como se eu estivesse usando mais ingredientes. E a panna cotta. Quando vi toda uma sessão "ensinando" a misturar frutas com iogurte, tive vontade de devolver o livro, julgando-me enganada. Até o dia em que fiz seu iogurte com purê de bananas, açúcar mascavo e cardamomo e comi tudo numa sentada só, mal dividindo com as crianças. É o livro de sobremesas que mais tenho usado nos últimos anos, e toda vez que escolho uma receita de outro livro, fuço nesse também para vez se há uma opção mais fácil. Baking com duas crianças pequenas, um trabalho e uma casa pra cuidar não é mole não e se eu puder fazer a receita toda metendo tudo no processador de uma vez só sem perder em qualidade, ah, eu vou.

Daí vem o Apples for Jam, da Tessa Kiros, que foi mais ou menos a mesma história. Como assim, receita de macarrão com  molho de tomate? E lasanha de tomate? E brownie de novo? E, jura?, arroz com ovo frito? Folheando o livro de primeira, você realmente acha que ele é excessivamente simples, básico, monótono. Acontece que... não. A lasanha de tomate tem o gosto da lasanha da minha avó, e virou clássico aqui em casa, com o queijo que tiver, de queijo Serrano até queijo prato de padaria, e sempre fica tão, tão bom. E o "soufflé loaf" de vagem. E os flanzinhos de cenoura e espinafre, que fiz à exaustão na época de papinha do Thomas, e que, quando eu via, o Allex tinha comido tudo. E o risotto branco com ovo frito e sálvia. E o pão de forma. E a focaccia, que já virou minha, de tantas vezes que fiz. E o purê de damascos. E os sorvetes. E a omelete de abobrinha. E as cenouras cremosas. E os croissantzinhos. E o pão de cacau. E o de farinhas integrais. E o gnocchi de beterraba. E o iogurte com laranja e leite condensado. E o iogurte com pecãs e romã. Os risotti, de legumes, de tomate, de espinafre com camarão, e a sopa de peixe. Nunca nada saiu menos do que "gostoso". Nunca nada dá errado. E sempre tem gosto de comida de mãe ou de avó.

A verdade é que me sinto assim com todos os seus livros (o Falling Cloudberries, o da Toscana, o da Grécia, o de Veneza...) mais do que com qualquer outro autor, e acho que se um dia saísse do Brasil, tentaria levar todos comigo, e seus novos seriam os únicos que continuaria comprando. Mas se só pudesse levar um, seria Apples for Jam. Pois ele tem receitas como essa, leves, deliciosas, e surpreendentemente fáceis de fazer, apesar de não parecerem à primeira vista.

Linguado enroladinho com espinafre e molho de tomate. Mesmo tendo feito o molho com tomates frescos, ainda foi fácil. Enrolar o peixe foi bico. Fiz tudo com antecedência, e quinze minutos antes da hora do jantar, esquentei o molho e cozinhei o peixe, que já estava enroladinho na geladeira. Servi com batatas fritas (como ela sugere) e arroz integral, pois eu só tinha três batatinhas minúsculas. Sucesso com todo mundo, até com o pequeno aniversariante do mês, que graças a deus, não está mais dodói e voltou a comer. "Nossa, gostoso, isso. Muito delicado!", foi o veredito do marido, que odeia "fishy fish".

E esses são, portanto, meus livros de ilha deserta, ou de mudar pra fora.

Não, eu não vou mudar pra fora. (Povo lê na diagonal e se confunde.)

Mas o exercício mental foi interessante. :)

ENROLADOS DE LINGUADO E ESPINAFRE COM MOLHO DE TOMATE
(do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 5 colh. (sopa) azeite
  • 2 dentes de alho, descascados e ligeiramente amassados
  • 1/2 lata de tomates italianos picados, ou 4-5 tomates frescos, bem maduros, picados
  • 2 raminhos de manjericão, rasgados
  • sal
  • 3 xic. folhas frescas de espinafre, firmemente apertadas na xícara (cerca de 1 maço pequeno)
  • 1/3 xic. queijo parmesão ralado
  • 8 filés pequenos de linguado, sem pele
  • farinha de trigo, para polvilhar
  • fatias de limão, para servir
  • palitos de dente para prender


Preparo:

  1. Aqueça 4 colh. (sopa0 de azeite e um dente de alho numa frigideira funda com tampa, que consiga acomodar posteriormente todos os rolinhos de peixe. Quando o alho começar a fritar, junte o tomate picado e o manjericão, tempere com um pouco de sal e deixe levantar fervura. Cozinhe em fogo baixo por dez minutos, amassando e mexendo às vezes com uma colher, até que forme um molho. Se começar a pegar na panela, ou secar, junte um pouquinho de água, só pra ajudar o tomate a se desmanchar. 
  2. Enquanto isso, em outra frigideira, aqueça o restante do azeite e o outro dente de alho. Junte o espinafre e cozinhe por alguns minutos até que murche e reduza o volume. Retire do fogo, retire o dente de alho, descartando-o, junte o parmesão e acerte o sal. 
  3. Coloque os filés de peixe na tábua, com a parte que costumava ter a pele virada para baixo. Coloque uma colher (chá) cheia de espinafre no centro de cada um. (Eu coloquei mais, depende do tamanho dos filés.)
  4. Enrole bem apertadinho e passe um palito de dente de um lado ao outro, prendendo firmemente a ponta.
  5. Passe os rolinhos cuidadosamente na farinha de trigo, cobrindo-os ligeiramente. 
  6. Acondicione os rolinhos na panela do molho de tomate já quente, em uma única camada. Polvilhe com um pouco de sal. 
  7. Coloque a tampa e cozinhe em fogo brando por 5 minutos. Destampe, vire os rolinhos cuidadosamente,  polvilhe com sal outra vez, tampe novamente e cozinhe por mais 5 minutos, até que o peixe esteja cozido (dá pra sentir o cheirinho dele cozido, mas é sempre bom testar um e ver se já está opaco por dentro.) Se o molho estiver secando muito antes do peixe ficar pronto, acrescente algumas colheres de água e deixe esquentar outra vez. Sirva com as fatias de limão. 



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Chips de couve criança solta no mundo

Falta uma semana para as férias escolares chegarem ao fim, e já me vejo numa certa ansiedade culinária novamente, pensando no quê posso deixar pronto no freezer para os dias sem pão nem inspiração para o lanche da escola. Daí que há alguns dias uma amiga me escreveu perguntando dos lanchinhos do Thomas, já que sua filha ingressaria na escola esse ano e, como toda mãe natureba, ela estava preocupada. Respondi um email imenso, mas mais imenso foi o tempo em que fiquei matutando no assunto.


Foi um ano de siricuticos mil por pessoas de dentro e fora da família oferecerem ao moleque toda sorte de "coisas-comestíveis-semelhantes-a-alimentos-não-pré-aprovados". Desde o hambúrguer no buffet infantil, ao suco em pó radioativo, danoninho, gelatina diet, refrigerante light, cebolitos e miojo. Os dois últimos, aliás, colaboração do pai, o que causou um siricutico mais intenso que os outros.

Antes do Matador de Dragões começar a escola, eu sofria pensando em como eu não teria mais o controle total e completo (argh) sobre a alimentação dele, como ele experimentaria a bolacha de morango do amiguinho, tomaria suco de caixinha no passeio da escola e coxinha de frango não orgânico na festinha.

Ah, controle.

Sabe o que eu aprendi esse ano?

Que controle não existe.

E que eventualmente você precisa relaxar a bisteca e começar a confiar no trabalho que está fazendo. Tem que confiar que seu filho está, de fato, aprendendo alguma coisa com você. E está. No meio das birras do "não-como-não-gosto-não-quero" às vezes é difícil enxergar um futuro em que o Catador de Salsinhas coma couve-de-bruxelas.

Mas esse futuro está lá.

Porque ele cata a couve refogada de dentro do risotto, mas comeu todos os chips de couve e de lanche ainda apanhou a tigela com o que restara e mandou para dentro basicamente meio maço de couve sozinho.

Daí que foi isso o que matutei:
  • O fato de seu filho comer danoninho na casa do amigo não me obriga a comprar danoninho também. E eu sei que esse é o maior pânico da mãe natureba: que o filho experimente e fique enchendo os pacová no supermercado para você comprar até você ceder.  Pode pedir. Minha resposta será NÃO por toda a eternidade. Come na casa do amigo, então.
  • Experimentar suco de caixinha no passeio da escola não faz seu filho desaprender a beber água ou chá sem açúcar. A não ser que você pare de dar água e chá sem açúcar e comece a embebedá-lo unicamente de suco de caixinha. [Meu maior medo continua sendo encontrar um dedão dentro da caixinha cujo conteúdo não se vê.]
  • Não tem problema se ele experimentar do lanche do amigo. De repente o amigo experimenta do lanche dele, e isso é bom.
  • Ninguém desaprende a gostar de comida de verdade. 
  • Se sua casa for esse oásis de comida boa, lugar onde ele come todos os dias quase todas as refeições, a coxinha mequetrefe do buffet não vai fazer a menor diferença. 
  • Presumir e aceitar o fato de que seu filho não está amarrado no seu pé, tem vida própria, experiências próprias e gostos próprios, e que vai sim comer o sanduíche de pão de forma industrializado, cream cheese light e peito de peru do amigo, e que isso NÃO VAI MATÁ-LO, traz de volta à sua vida aquela leveza da Era Pré-Filhos, quando você tinha menos preocupações.  
  • Se meu filho come chips de couve com a mesma empolgação com que come Doritos quando o pai abre um pacote, então está tudo muito, muito bem.


Está ouvindo isso? Preste atenção! É o som dos  músculos dos meus ombros relaxando. ;)
 CHIPS DE COUVE

Como pude deixar a moda dos "kale chips" vir e ir embora e não preparar isso antes?

Preste atenção, pois é SUPER complicado: lave e seque a couve, retire os talos (guarde para aferventar e refogar como qualquer outro legume, aliás), corte as folhas em quadrados grandes e tempere com azeite, sal, pimenta-do-reino e páprica doce (ou qualquer outra pimenta, ou nenhuma, se preferir); esfregue bem o tempero nas folhas, e espalhe-as em uma assadeira grande; leve ao forno médio (uns 180ºC) por 15-20 minutos, ou até que estejam secas e quebradiças, com cuidado para não queimar (fique de olho no tempo, pois vai depender da quantidade de folhas e se estão empilhadas ou em camada única). Só isso. Elas se mantém crocantes o dia todo, mesmo frias. Maneire no sal no começo, pois conforme elas perdem água, o sal concentra-se. Melhor acertar o sal com elas prontas. 

O risotto de couve foi feito com meio maço de couve (a outra metade virou chips). Enquanto os chips assavam, refoguei a couve fatiada fininho em azeite e um dente de alho, com sal e pimenta-do-reino, e reservei. Na mesma panela, dourei um pouco de speck em cubos em mais um fio de azeite (pode ser bacon defumado; o speck foi trazido da Itália por minha sogra). Retirei, reservando o speck num pratinho e deixando o óleo e gordura do speck na panela. Juntei uma cebola picada e os talos da couve picadas bem miudinho, junto de uma pitada de pimenta-calabresa seca. Refoguei até amolecer e juntei uma xícara e meia de arroz arbóreo e 1/3 de xícara de purê de brócolis que eu tinha descongelado sem querer achando que era pesto de couve (a ideia era um risotto com couve de 4 jeitos diferentes – mas brássica é brássica, e couve e brócolis vão bem juntos – mas ainda quero refazer com o pesto, que teria dado um quê a mais). Prossegui com o risotto normalmente [clique aqui para ver o processo, caso tenha dúvidas], acrescentando caldo de legumes caseiro quanto bastou, e, quando ficou pronto, juntei um naco de manteiga, um punhado de parmesão, a couve refogada e o speck dourado. Tampei, deixei descansar alguns minutos e servi com mais parmesão ralado e os chips de couve por cima. Nham.


[DISCLAIMER: se há uma coisa que você descobre quando vira mãe, é que está SEMPRE errada. Sei que vai ter gente que não concorda comigo e que vai comentar que estou... bem... errada. Então lembre-se de que estou dividindo as MINHAS experiências aqui, e que isso não quer dizer que você tenha de começar a deixar seu filho comer danoninho na casa do amigo e nem que você mais esteja certa ou mais errada do que eu. Vivamos em paz com nossas diferenças.]

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Almoço e jantar na mesa da cozinha, legumes no forno e uma loja nova

Crostini de tomate, polenta e saladinhas diversas.
Daí que nisso de comida estar cara pra dedéu me impus um orçamento mensal do qual não pretendo fugir mais. E daí que nisso de comer coisinhas variadas na mesa da cozinha, muitos dos meus almoços tem tido mais ou menos essa cara. E daí que meus ovos acabaram, não tinha macarrão, e por dez segundos tive um surto psicótico, pois não sabia o que preparar; não havia polenta para um adulto, uma criança e um bebê, e não dava tempo de preparar mais. Também não havia sobrado mozzarelinha o bastante da saladinha de tomate da noite anterior para nada mais substancial. Então o restinho de polenta foi requentado, saladinhas foram montadas e temperadas, e o pão de transantontem, seco e esturricado, virou crostini com tomate bem maduro, alho e bastante azeite.

E esse esquema tem funcionado bem para que o pequeno matador de formigas coma seus legumes. Afinal, está ali, e ninguém o força a pegar, e afinal, papai e mamãe fazem sons de "hmmmm" ao comer rabanete, então rabanete deve ser bom. E come-se cenoura, e come-se rabanete, e come-se pepino, tudo bem temperadinho. Tomate, por algum motivo, não. Só no molho do macarrão. ¬_¬

E esse esquema tem funcionado também para manter o orçamento em dia e em dia também as pelancas da mamãe, que não aumentam com o sorvete de morango da sobremesa porque se entupiram de rabanete, pepino e cenoura antes. Quanto tempo vai durar o interesse pelo "bar de salada"? Vai saber. Mas enquanto durar, a criança [e os pais] come seus legumes.

E a pequena caçadora de rabo de cachorro? Come da mesma coisa. Polentinha, tomate bem picadinho, cenoura ralada fininho, mozzarelinha que derrete na boca. Mas sobremesa pra ela é pera, não sorvete.
Pra não falar que tenho favoritos, tá aqui a foto da Madame Bochechas se refestelando de pera.

Daí que no jantar o pequeno devorador de ovos de codorna está sempre meio sonado e birrento e quase nunca come alguma coisa direito. Então me dou o direito de preparar o que eu bem entender, já que vai ficar no prato mesmo. E de novo: o que é que eu faço sem ovos em casa?? Nunca pensei que ficaria tão perdida.

Bom, faço mais legumes. [Em tempo: não é que acabou o dinheiro para os ovos; é que sei que se for ao mercado comprar, vou acabar levando outra coisa junto pra aproveitar a viagem; e instituí que dia de supermercado é quinta, o mesmo da feira.]

A foto antes de ir ao forno é tão mais bonita...
Abobrinhas e tomates no forno e salada de beterraba e agrião.
A salada foi adaptada daqui, feita apenas sem o vinho e as folhas de beterraba, que já haviam sido consumidas em forma de macarrão na quinta passada. O outro prato é do sempre ótimo e prático I Know How To Cook, a "Dona Benta" francesa. Adoro esse livro pois os pratos levam sempre pouquíssimos ingredientes, e sempre fica bom. 

No caso desse prato específico, no entanto, recomendo apenas se seus tomates estiverem bem maduros e saborosos, pois o sabor do prato finalizado é bem suave, e com os tomates errados, pode beirar o insosso. Também por isso, recomendo carregar no tempero. 

Pode ser mais fácil? Fatie fino 2 abobrinhas médias e meio quilo de tomate, esses fatiados um pouco mais grossos que a abobrinha. Unte uma travessa refratária com azeite e arranje os legumes, alternando as fatias. Tempere generosamente com sal e pimenta-do-reino moída na hora e mais um belo fio de azeite. Salpique folhas de tomilho fresco e leve ao forno pré-aquecido a 190ºC por no mínimo 20 minutos (o tempo pode variar um bocado dependendo da espessura das fatias), até que os legumes estejam macios. Polvilhe com farinha de rosca e mais um fio de azeite e leve ao forno novamente para dourar, ou para baixo do grill, como eu fiz. Sirva quentinho. 

Esse jeito de cozinhar é infinitamente mais simples do que o que fiz nos últimos anos, ainda que eu goste de pratos mais elaborados. Mas além de colaborar para a comilança do pequeno, tem também me dado mais tempo para pintar. O que é ótimo, porque com o mercado de ilustração comercial à beira de um colapso, ando migrando cada vez mais para a venda direta de originais para pessoa física, encomenda ou não, coisa que me deixa muito mais feliz. Sei que quem compra uma aquarela minha vai emoldurar, pendurar e ter muito mais apreço pelo meu trabalho do que uma empresa que me contrata para ilustrar embalagem de biscoito. E satisfação no trabalho é que ando mais buscando.

Assim, remontei minha lojinha e, além das reproduções, estou vendendo mais originais. Ando pintando muitas paisagens e temas culinários, coisas que me agradam muito, e pretendo aumentar rapidamente o número de peças por lá. Gostaria de também colocar a venda novas reproduções, em quantidade limitada, como dessa peça aqui:
Aquarela à venda em http://anegg.iluria.com
Então, quem se interessa por esse tipo de trabalho e quiser ajudar essa pobre ilustradora a comprar ovos para as crianças, dê uma passada lá: 


Ah, e é claro que o Thomas não comeu nem os legumes nem a salada do jantar. ¬_¬


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sopa de abóbora-menina pra criança que não come, bebê que começa a comer e mãe que esquece de comer

Thomas de férias.

Pronto, meu sumiço está explicado.

Daí que decidi que esse mês eu começaria a substituir uma mamada da Laura por uma papinha. Ela anda interessada em comida, olhinhos ávidos atentos a tudo que comem na frente dela, e percebi que, por conta da correria, é mais simples começar logo de uma vez a substituição do que continuar tentando inserir papinhas entre mamadas, como eu vinha fazendo.

Aí entra minha loucura.

Pensar em refeições de adultos que pudessem se tornar papinhas, de acordo com as restrições de cada fase (sem queijo, sem ovos, sem peixes, sem castanhas, etc...) foi muito fácil na época do Thomas. Principalmente porque bastava preparar um pouco a mais e eu teria papinhas para aqueles momentos em que você não pode dar um sanduíche de queijo com kimchi batido no liquidificador para seu bebê. Mesmo porque boa parte das refeições vegetarianas dá papinhas bastante nutritivas.

Mas o que fazer quando seu filho mais velho resolve que só come coisa amarela? Macarrão com queijo, pão com queijo, ovo com queijo. Ah, e queijo. Lembra aquela minha alegria de ter filho que comia pad thai com 1 ano e 3 meses? Pois é, passou. Se houver salsinha picada na fritatta, ele simplesmente apanha o prato da bandeja do cadeirão e coloca em cima da mesa. Assim, sem escândalo, apenas com ligeiro olhar de decepção. E então torce o corpo e aponta o dedinho em riste para o prato de bolo, ao que houve um sonoro "não". Explico que só ganha sobremesa quem come o almoço, ele faz bico, chego mesmo a mostrar o livro da gatinha Frida, que comeu a vagem e ganhou biscoito, e, ainda que me peça para ler a história todas as noites, ele não toma Frida de exemplo. Pede para sair do cadeirão e vai brincar, assim, sem almoço.

Tem sido assim quase todos os dias. Minha preocupação com que não morra de inanição me faz preparar uma vitamina de frutas no lanche da tarde, que ele toma com gosto, principalmente se tiver ajudado a escolher as frutas. No fim, não estresso mais, pois ele continua crescendo, é cheio de energia e está saudável. Cansei de berrar, então não berro mais, que não quero que ele associe refeições a momentos desagradáveis. No fim, não é meu lado maníaco-nutricionista que anda chateado, mas meu lado mãe italiana, com filho recusando meu amor em forma de comida.

Então vira questão de honra.

Realmente me recuso a ceder aos caprichos alimentares dos meus filhos. Não cedi aos do meu marido, então não me deixarei dobrar por uma criança de dois anos. Continuo colocando salsinha na comida, até o dia em que, morrendo de fome, ele resolva comer com salsinha e tudo. Quero dizer, minha mãe é enfática ao sugerir que eu simplesmente lhe sirva macarrão e ovo frito pelo resto da vida, porque, tadinho, é só isso que ele come. Mas como eu mesma não suportaria essa dieta por muito tempo, fã de variedade que sou, me veria rapidamente presa à rotina dos múltiplos pratos por refeição, como vi minha mãe fazer a vida toda: arroz com cebola para um, sem cebola para outro, prato que não seja requentado para o terceiro. Tiro no pé.

Depois então de ver meu filho se sustentando a base de suco e pão do café da manhã por alguns dias, resolvi retornar à boa e velha sopa. Chamei-o à cozinha para ver as abóboras inteiras e depois cortadas, seu cheiro, sua cor. Coloquei-o para me ajudar a misturar os pedaços com as ervas que ele fora apanhar comigo no quintal. E quando estava tudo já assado, chamei-o para ligar o botão do liquidificador, o que imediatamente atiça seu interesse pelo conteúdo da jarra. Servi-lhe a sopa na xícara de chá, e ele saiu pela casa bebendo dela feliz e contente, e me devolveu a xícara vazia e lambida.

Para Laura, dei a sopa às colheradinhas, e ela também acabou com toda a sua porção, maior ainda do que eu imaginei que ela tomaria, e, vendo que eu alimentava a irmã com a mesma sopa que ele mesmo ganhara primeiro, Thomas não fez caso de vê-la sentada em seu cadeirão e foi fazer outra coisa.

Feliz com o sucesso de ver meus dois filhos cheios de legumes, fui cuidar da casa e trabalhar um pouco, ao que, lá pelas três da tarde, o ronco do meu estômago me lembrou de que eu mesma não almoçara ainda. A sopinha caiu maravilhosamente bem, quentinha, adocicada, acompanhada da fritatta de tomate que Thomas recusara na noite anterior.

Laura almoçou a mesma sopa por mais dois dias, dando risadinhas e tentando puxar a colher para si. Já avisei o marido que enfrentaremos uma longa temporada de sopas esse ano, e desta vez com certeza não vou sair por aí contando vantagem sobre o apetite aventureiro da minha filha, que sabe-se deus lá até quando isso dura...

SOPA DE ABÓBORA-MENINA E ERVAS
Tempo de preparo: 40-50 minutos
Rendimento: 3-4 porções

Ingredientes:
  • 2 abóboras meninas do tamanho do seu antebraço
  • 2 dentes de alho grandes
  • 1 ramo de sálvia
  • 1 ramo de alecrim
  • 500ml caldo de legumes caseiro
  • azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC.
  2. Lave as abóboras, descasque-as e coloque as cascas numa panela junto com o caldo de legumes e mais 250ml de água. Leve o caldo e as cascas à fervura, com a panela tampada, abaixe o fogo para mínimo e cozinhe por mais uns 15 minutos. Desligue e deixe descansando.
  3. Enquanto isso, corte a abóbora em cubos de cerca de 2-3cm, e coloque numa assadeira onde todos os pedaços fiquem numa camada só. Coloque os dentes de alho ainda com casca e as ervas (sem os galhos, ou lembre-se de tirar os galhos lenhosos depois), tempere com uma pitada de sal, pimenta e um fio generoso de azeite, e misture com as mãos. Leve ao forno por trinta a quarenta minutos, ou até que a abóbora esteja macia e ligeiramente dourada. 
  4. Retire do forno. Coloque na jarra do liquidificador a abóbora, as ervas e os alhos espremidos de suas cascas (descarte as cascas)
  5.  Retire do caldo as cascas de abóbora com uma escumadeira, descartando-as. Coloque o caldo na jarra e bata tudo até que fique homogêneo.
  6. Volte a sopa à panela para reaquecer. Acerte o tempero e acrescente mais água se quiser a sopa mais rala, para beber na xícara, ou deixe apurar no fogo, mexendo sempre, para engrossar um pouco.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sopa de cenoura e tomate na canequinha e panqueca de agrião

Juro que vou voltar a postar com mais regularidade. Juro. O problema não tem sido falta de receitas. Tem saído muita coisa dessa cozinha que chega a passar pelo crivo da fotografia, mas empaca justo na hora do texto. Nenhuma inspiração. E receita por receita, convenhamos que há blogs e livros o bastante por aí apenas com uma receita de sopa, sem mais nada a acrescentar. [Aqui entra minha suprema pretensão de que meus textos de fato agreguem algo ao blog; uso de referência o feedback de vocês, leitores infinitamente pacientes com meus faniquitos.]

Além da falta de inspiração para escrever, andava engolida pela rotina sem rotina, essa coisa enlouquecedora que é tentar manter horários e padrões quando você tem duas crianças pequenas que mudam de comportamento toda semana. E enquanto pequena Laura é iniciada no lindo mundo das papinhas de fruta, meu matador de dragões resolveu ficar enjoado para comer. De novo. E por mais que eu tente manter a calma, oferecer mais de um elemento em seu prato para que pelo menos um ele coma, não surtar quando ele resolve massagear a comida com as mãos, ameaçando comer, e então decidindo que não vai comer nada, depois de ter tornado seu prato imprestável para o consumo de outro ser humano...

...não dá. Eu surto. Um bocado. Eu perco a paciência. Eu dou uns berros. Mando pro banho sem jantar.

Então, uma série de pequenos eventos sem importância sucederam.

Patrícia comentou internet afora sobre adorar assistir aos programas do Nigel Slater. Aquilo me atiçou e, num raríssimo momento de relaxamento, busquei seu programa de TV no YouTube. Assisti a todos os programas numa sentada só, praticamente, com os pimpolhos ao meu lado – atenta ao fato de que Thomas pulou do sofá e correu para a TV, empolgadíssimo com a imagem de peras caramelizadas com queijo Gorgonzola. Nisso, resolvi folhear novamente os livros que possuo dele, em especial o Tender. Eu tinha tudo de que precisava para essa sopa de cenoura e tomate, e sentira-me inspirada pelo fato de ele sair fazendo massinhas de panqueca a torto e a direito para envolver legumes durante o show.

Sopas.

Fiquei muito tempo sem prepará-las, porque Thomas se recusa a me deixar ajudá-lo com a colher, que ele vira de cabeça para baixo ao enfiar na boca, fazendo com que dois terços do conteúdo de sua tigela vão parar no moletom. Então, semana passada, assisti maravilhada enquanto minha mãe servia-lhe sopa de mandioquinha num copinho pequenino, quase do tamanho de um copo de shot.

Gênio.

Comecei a servir-lhe a sopa numa canequinha de ágata branca, pequenina até para suas mãos de filhote de labrador, perfeita para beber a sopa aos goles e para que ele não invente de meter a mão inteira nela, como acontecia com a tigela.


Poder dar-lhe sopa regularmente era a solução para o problema da fase enjoada. Um jeito de garantir que ele comeria mais que pão com ovo. 

Sou totalmente contra enganar crianças, colocando legumes no bolo de chocolate sem contar a elas. Isso só incentiva o hábito da guloseima ao invés de ensinar a comer os deliciosos legumes. No caso do Thomas, percebo que não é o gosto o problema. Às vezes é a textura, como quando descobri que não era da berinjela que ele não gostava, mas do difícil ato de mastigar a casca da mesma. Uma vez sem casca, ele começou a comê-la sem problemas. Outras vezes, ele cisma com o visual do prato. Aquele florete de brócolis não o apetece. Mas em forma de pesto no macarrão, ou como sopa, sim. E picar ou moer algo para inserir em outro prato, para mim, não é enganar a criança: é fazer com que ela tenha a oportunidade de se habituar e gostar do sabor, para que, conforme for crescendo, ir entendendo que aquele molho é feito daquele legume, que assim, inteiro, também é gostoso. Enquanto a lógica ainda não funciona, tasco-lhe sopa de brócolis e gorgonzola, sem a guarnição, e me delicio ao vê-lo ir até o fogão com a canequinha, pedindo repeteco.

A panqueca foi a mesma coisa. Lembrei-me dos blinis de agrião, mas, com pressa, preparei uma massinha básica de panqueca e misturei a agrião muito bem picadinho. Deixei a panqueca no mesmo formato das panquecas doces de café da manhã, e antes que me desse conta, Thomas não apenas comera a sua, assim, com as mãos, como esticava os dedinhos para roubar uma minha e uma do pai. E daí que, numa refeição, o matador de dragões se entupiu de coisinhas saudáveis sem fazer mamãe passar pelo estresse de vê-lo apanhando a folha de agrião e jogando para fora do prato.

Fica a dica. :)

Agora, já que senhor Nigel Slater também foi preguiçoso na hora de escrever a receita, repito a preguiça aqui. Para a sopa, basta refogar uma cebola picada em azeite; juntar um pouco menos de meio quilo de cenoura picada e deixar dourar um pouquinho. Mais meio quilo de tomate picado, uma folha de louro, um pouco de pimenta-do-reino e 1 litro de água ou caldo (usei meio litro de água e meio de caldo de legumes caseiro, que tenho sempre no freezer). Deixe ferver, abaixe o fogo e cozinhe por meia hora. Retire a folha de louro, bata no liquidificador e sirva. Se for usar a estratégia da canequinha, lembre-se de deixar a sopa um pouco mais rala, pois sopas muito cremosas são difíceis de beber na caneca. E também evite qualquer guarnição que possa dificultar para a criança beber a sopa, como ervas picadas.

Para a panqueca, piquei 2 xícaras de agrião muito finamente e juntei a um ovo, uma xícara de leite, uma colher de sopa de manteiga derretida e uma colher de chá de cominho moído. Bati com um fouet e misturei mais 1 xícara de farinha de trigo e 1 colher de sopa de fermento químico em pó. Salguei a gosto (cerca de 1/2 colh. de chá) e fiz as panquecas numa frigideira grande, em porções de 1/4 de xícara cada, mas podem ser preparadas ainda menorzinhas, como bolinhos.

Cozinhe isso também!

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