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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Bolo de pera. A vida é isso aí.

Porque a vida é um saco de velho... er... ops. Quer dizer. Esse texto é de outra pessoa. ;) Mas a vida não é moleza não. A vida é você passar o dia enrolando, escolhendo a dedo uma receita onde usar saborosíssimas peras orgânicas, encontrar uma que usa todos os ingredientes que você tem em casa (avelãs moídas, ameixas secas, açúcar mascavo, extrato natural de amêndoas), deixar a manteiga amolecer direitinho, seguir tudo a risca e obter uma massa linda numa forma cuidadosamente untada, cuidar do bolo no forno na temperatura exata... e ser apressadinha na hora de desenformar e f*der tudo. Aquele momento que te dá preguiça de dar dois passos para o lado e apanhar uma faquinha para cuidadosamente descolar o fundo do bolo, e você resolve que dar uma balangandinha na forma não vai fazer mal. E o bolo sai assim: rachado no meio e com o fundo colado na forma, de modo que uma única fatia não será tirada inteira. Um bolo perfumado, delicioso, completamente destruído por um gesto impensado.

Isso é a vida.

Não é aquele monte de blog que a gente lê que mostra crianças de dois anos de vestidinhos incólumes segurando nas mãozinhas em conchas um punhado de mirtilos frescos recém-colhidos do jardim. A vida é teu filho com o moletom sujo de terra e ranho, arrancando as flores do seu pé de mirtilo e decidindo que, melhor que comer o danado do mirtilo, é esmagá-lo na mão – BEM mais divertido.

A vida não é a casa de revista de decoração, é o rolo de pelo de cachorro passeando pela sala que você acabou de varrer, no melhor estilo bola de feno em filme de velho oeste – só que ao invés de uma cidade empoeirada, é sua sala empoeirada.

Mas a vida é também você dividir os problemas alimentares do seu filho com outras mães na porta da escola, e então o pimpolho chegar em casa e se servir sozinho de um pratão de quinua e salada de cenoura, deixando você com cara de tonta, pensando se havia de fato algum problema.

A vida é você dar morango com chantilly fresquinho para o seu filho mais velho e, ao sair e voltar da sala, dar de cara com a mais nova cheia de chantilly na cara, e o pimpolho feliz da vida por ter mostrado as alegrias do morango com chantilly para a irmã de 7 meses. ¬_¬

A vida é você catar os cacos de bolo do fundo da forma e tentar remontar a atrocidade no prato, e comê-lo assim mesmo, feio e destruído, porque comida está cara pra dedéu, e seu filho vai continuar achando o bolo gostoso mesmo assim.

A vida é seu marido que não gosta de bolos gostar justo desse.


BOLO DE AÇÚCAR MASCAVO, PERAS, AMEIXAS E AVELÃS
(do sempre ótimo Baking, From My Home do Yours, de Dorie Greenspan)

Ingredientes:

  • 2 1/4 xic. farinha de trigo
  • 1/2 xic. avelãs moídas ou nozes (ou 1/4 xic. farinha de trigo)
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 230g manteiga sem sal em temeperatura ambiente
  • 2 xic. açúcar mascavo claro, apertado na xícara
  • 3 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente
  • 1 1/2 colh. (chá) extrato natural da baunilha
  • 1/4 colh. (chá) extrato natural de amêndoas (apenas se estiver usando as avelãs ou nozes moídas)
  • 1 xic. buttermilk, em temperatura ambiente*
  • 2 peras médias, descascadas, sem os miolos e picadas em pedaços de 0,5cm
  • 1/2 xic. ameixas secas macias, sem caroço, picadas em pedaços de 0,5cm
* Buttermilk: junte 1 xic de leite a uma colherinha de vinagre, misture e deixe em temperatura ambiente enquanto a manteiga amolece. Nesse tempo, o leite vai talhar. Use a mistura no lugar do buttermilk. 

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma com furo no meio (Bundt ou comum) com capacidade de 12 xícaras. 
  2. Numa tigela, misture com o batedor de arame a farinha, avelãs, fermento, bicarbonato e sal.
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e o açúcar em velocidade média até que fique claro e fofo.
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem entre cada adição. 
  5. Junte a baunilha e o extrato de amêndoas, se estiver usando. Reduza a velocidade para baixa e adicione 1/3 da farinha, batendo apenas até que incorpore, então 1/2 do buttermilk, e prosseguindo até que tudo esteja incorporado, tomando cuidado para não bater demais.
  6. Com uma espátula, incorpore as peras e as ameixas e espalhe a massa na forma, alisando a superfície. 
  7. Asse por 60-65 minutos, ou até que esteja firme, dourado e um palito inserido nele saia seco. Transfira para uma grade e deixe que esfrie por 10 minutos antes de CUIDADOSAMENTE desenformar. ¬_¬ Se quiser, polvilhe com açúcar de confeiteiro. Bem coberto, o bolo se mantém fresquinho por uns 5 dias ou por 2 meses, se congelado.

(Ela sugere trocar as peras por maçãs e as ameixas por uvas passas, e já fiz isso, omitindo as nozes, mas essa combinação de avelãs, peras, ameixas e o extrato de amêndoas é muito mais saborosa.)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Semana da gororoba e bolo de gengibre fresco


Já devo ter contado essa história antes, mas vamos lá... Há muitos anos atrás, quando comecei a me interessar por cozinha, resolvi preparar lasagne verde com berinjela. A falta de experiência fez com que calculasse errado a quantidade de ingredientes, e acabei fatiando mais berinjela do que o necessário. Fiquei atrapalhada e sem saber o que fazer com aquele excesso, quando meu pai me interrompeu: "Um bom cozinheiro não desperdiça comida", disse ele, imediatamente apanhando as berinjelas para um outro prato improvisado.

Sempre me lembro desse episódio na Semana da Gororoba.

Semana da Gororoba é como eu chamo aquela semana em que você está com o saco na lua, como diria meu pai, e lavar alface recém-comprada na feira parece trabalho demais. E então você olha para sua geladeira e sua despensa e decide que é hora de lançar mão da criatividade e dar cabo daquele queijo mofando, do sauerkraut sem destino, do feijão congelado, da lata de atum fazendo aniversário. A Semana da Gororoba tem duas regras:

1. deve usar apenas o que há em casa, de preferência a maior quantidade de ingredientes velhos e esquecidos possível;
2. deve ser fácil de preparar.

A Semana da Gororoba é ótima para colocar em uso aquele ingrediente que é tão especial que, de tanto ficar reservado para uma boa ocasião, já está vencendo – você finalmente usa porque é só o que sobrou de comestível mesmo. Ou para fazer a rapa no freezer e descongelar aquela sopa que você nunca lembra que está lá. Ou para finalmente testar aquela receita daquele livro para a qual você jamais teria comprado os ingredientes especialmente. É ótima também para testar adaptações e usar aquele queijo meia cura esquecido no lugar do cheddar que a receita pede, ou farinha integral no lugar da branca que acabou.

A Semana da Gororoba produz fritatta de spaghetti de ontem, sopa de sauerkraut, bolo sem farinha, transforma baba ganoush em molho de macarrão, pão velho em pudim, e até pega um molhinho de frutas vermelhas que sobrou da panna cotta e, acrescido de açúcar, transforma em uma geleia rapidíssima, em dez minutos, para ir ao sanduíche do pimpolho na escola. Você fica se sentindo competente e frugal. Às vezes aparecem gororobas que fazem jus ao nome e você come de pura dó, mas, com tantos livros de culinária à disposição, você sempre encontra alguma receita que use três ingredientes bizarros juntos.

O caso é que a Semana da Gororoba tem acontecido com mais frequência nesses tempos corridos. E nunca meu freezer foi tão movimentado e tão importante. Tenho aprendido como é bom fazer o dobro daquelas enchiladas que dão um trabalhão e congelar uma travessona imensa. Ou fazer muffins para o lanche do Thomas para daqui a um mês. Ou cozinhar e congelar todo o saco de feijão de uma só vez. Como alivia saber que um dia da semana você pode ficar pintando ao invés de correr para fazer o jantar.

Esse bolo de gengibre fresco é ótimo para a Semana da Gororoba pois

, além de perigosamente delicioso, usa aquele pedaço gigantesco de gengibre que você comprou na feira um dia e esqueceu, e que aquelas receitinhas asiáticas que pedem por bocadinhos de dois centímetros não deram conta. Além disso, ele é tão úmido, que o fato de eu ter usado metade de farinha integral (pois a branca acabara) não influenciou em nada na textura, e acredito mesmo que poderia tê-lo feito inteiro com ela. O bolo é perfumado, apimentado, estupidamente macio, maravilhoso com uma xícara de chá quentinha nessa friaca ou com uma compota de frutas da estação.

Enquanto o bolo vai sumindo da bancada mais rapidamente do que minhas ancas parideiras gostariam, vou vendo o fundo da geladeira e da despensa aparecendo. Nunca vou entender o prazer que me dá em esvaziar minha geladeira. Se é competência, se sinal de transtorno-obsessivo-compulsivo ou simples falta de coisa melhor com o que se preocupar.

BOLO DE GENGIBRE FRESCO
(do ótimo Ready for Dessert, de David Lebovitz)
 Rendimento: 1 bolo de 23cm, cerca de 10-12 pedaços grandes.

Ingredientes:
  • 115g gengibre fresco (um pedaço do tamanho de uma banana), descascado e picado muito miudinho, com faca ou processador
  • 1 xic (250ml) melaço de cana
  • 1 xic. (200g) açúcar cristal orgânico
  • 1 xic. (250ml) óleo vegetal
  • 2 1/2 xic. (350g) farinha de trigo branca, integral fina ou uma mistura dos dois 
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1/2 colh. (chá) cravo moído
  • 1/2 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora
  • 1 xic. (250ml) água 
  • 2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 2 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 23cm e 5cm de altura, e forre o fundo com papel manteiga.
  2. Numa tigela grande, misture com um batedor de arame o melaço, o óleo e o açúcar. Numa tigela menor, misture a farinha, a canela, cravo e pimenta. 
  3. Numa panela, ferva a água. Misture o bicarbonato e então junte isso à tigela do melaço, misturando com o batedor de arame. Junte o gengibre picado.
  4. Gradualmente peneire a farinha sobre a tigela de melado, misturando até que esteja incorporada. Junte os ovos e misture com o batedor até que estejam bem incorporados. 
  5. Despeje a massa na forma e asse por cerca de 1 hora, ou até que um palito inserido no meio saia limpo. Tire do forno e deixe esfriar completamente antes de passar uma faca nas laterais e desenformar. O bolo se mantém bem em temperatura ambiente por vários dias, e pode ser congelado por até 1 mês.



segunda-feira, 25 de março de 2013

Bolo de azeite, chocolate e alecrim e auto-sabotagem

Desde que me mudei para fora de São Paulo uma coisa interessante tem acontecido. Uma coisa que sempre foi uma verdadeira luta para mim, e, ao contrário de todas as expectativas, aos 33 anos e tendo cuspido para fora duas crianças, tem acontecido com estranha facilidade: estou emagrecendo. Olho no espelho e não acredito que, dois meses e meio depois da Laura nascer, eu estou mais magra do que antes de engravidar do Thomas.

WTF?

Não é novidade que eu me preocupo com a alimentação do meu filho. Quero que ele experimente coisas novas o tempo todo, que seu prato seja sempre colorido e gostoso, e claro que acabo às vezes olhando e decidindo que é melhor que ele coma uma salada de cevadinha com legumes hoje, pois comeu macarrão ontem – o que quero dizer é que de vez em quando entro num pânico de nutricionismo com ele.

O que eu não esperava é que isso fosse representar toda uma miríade de novos grãos, combinações e sabores para mim também. A hora do almoço deixou de ser a hora do omelete solitário para virar mais uma oportunidade de um prato gostoso, interessante e saudável para nós dois. Para aproveitarmos a companhia um do outro e ensiná-lo bons hábitos, comemos sempre à mesa, tv desligada. Ele anda numa fase de nos imitar instantaneamente, então tem se aventurado mais com os talheres, e mesmo experimentado coisas que não gostava, como alface, ao me ver comer e soltar nham-nham's e hummmm's.

Aqui em casa nunca se repetiu prato; faço sempre porções exatas, e o que sobra normalmente é para ser comido no dia seguinte, transformado em outra coisa. Minha filosofia é de que, se você comeu e ainda está com fome, aproveite para preencher o resto do espaço com a sobremesa; assim você não come mais do que deve e fica feliz.

Mas, no caso, por pânico nutricionista, raramente dou doce de sobremesa ao Thomas. Normalmente é fruta, e ultimamente tenho lhe dado também um pedacinho de um queijo diferente se ele continua com fome ou a refeição foi leve demais. Doce reservo para a hora do lanche da tarde. De manhã, o lanche é salgado ou é fruta, às vezes um iogurte. Também durante as refeições, bebe-se água, limonada ou chá gelado. Nunca suco. (Quando dou doce de sobremesa, costumo dividir minha porção com ele.)

Qual não foi minha surpresa quando percebi que, ao comer como eu queria que meu filho comesse, comecei a emagrecer, durante a gravidez e agora, depois do bebê cuspido, sem ter voltado a correr ou fazer nenhum outro exercício além de passear cachorro e cuidar da casa e dos pimpolhos.

Além de comer porções pequenas (normais) de comida de verdade, eliminei totalmente o "snacking", a beliscagem, pois se eu apareço comendo algo na frente do Thomas, ele pede, e fica difícil dizer a seu filho que ele não pode comer bolo antes do jantar se você está comendo.

Daí que percebi que o problema nunca foi a dieta ou minha constituição (conhece aquele papo de "meu metabolismo é assim mesmo, é super difícil para eu emagrecer"?); o problema era que eu não fazia direito, direito mesmo, não tinha tido disciplina o bastante para instaurar o hábito, e estava mais preocupada com os quilos indo embora do que de fato em encontrar equilíbrio e prazer na comida. Nunca pensei que conseguiria emagrecer depois de dois filhos, comendo minha pizza no fim de semana e tomando cerveja, e sem ficar calculando colheradas de azeite na salada. Foi um movimento totalmente natural, simplesmente por querer prover uma boa experiência de comida para meu filho.O pulo do gato foi não entrar no "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço", mas simplesmente fazer eu também o que eu queria que meu filho fizesse.

O que me impediu de emagrecer a vida toda foi uma palavra: auto-sabotagem. A gente sabe exatamente o que tem que fazer. Mas não faz. Ponto.

Nessa vontade de prover experiências diferentes à mesa, por um tantinho de pânico de nutricionismo e também por que às vezes me vejo sem farinha orgânica branca em casa ou enjoada do mesmo arroz integral (que eu aprendi a gostar tanto que acho arroz branco super sem graça), tenho redescoberto os grãos e farinhas integrais. Adorei cozinhar com painço, que tostado e cozido como arroz, fica com textura de couscous marroquino, um perfuminho que lembra milho, e absorve maravilhosamente os sabores do que acompanha. Também tenho usado farinhas diferentes nos doces e pães, para o pimpolho ver que nem só de farinha branca se faz um bolo.

Esse, do sempre ótimo Good to the Grain, leva um pouco de farinha de espelta (farro, em italiano), que acredito que possa ser tranquilamente substituída por farinha integral fina. É um bolo muito macio e perfumado, e ainda que eu estivesse reticente a respeito, interessantíssimo pelo acréscimo do alecrim à massa. Você demora para identificar a erva, mas ela complementa o azeite e o chocolate maravilhosamente.

Outros livros que tenho usado um bocado para aprender a usar mais grãos e farinhas integrais diferentes são esses, todos recomendadíssimos:
Whole Grains for a New Generation
Super Natural Cooking
Super Natural Everyday
La Tartine Gourmande: Recipes for an Inspired Life
Small Plates and Sweet Treats(Os últimos dois são gluten-free; tenho zero interesse em viver sem glúten, mas achei interessante para quando a farinha branca acaba ou para quando quero outros gostos e texturas.)

[Obs: para quem quiser ter uma ideia de "tamanho de porção", junte suas duas mãos em concha, como naquelas fotos batidas de blog de culinária, de gente segurando blueberries. Agora imagine que você passa a régua: o que cabe na suas duas mãos em concha, passada a régua para tirar o excesso, é o que cabe no seu estômago se ele estiver do tamanho normal. Isso vem do Ayurveda, e é lindo, porque respeita as proporções do corpo de cada um e não diz que a minha porção é igual à sua. Essa porção não inclui folhas cruas. Ajuda um bocado, até você se acostumar a porcionar direito, ter uma tigela onde caiba exatamente isso. Ironicamente, quando fiz dieta com uma nutricionista, descobri que essa porção ayurvédica era exatamente o que ela havia recomendado.]

BOLO DE AZEITE, ALECRIM E GOTAS DE CHOCOLATE
(do excelente Good to the Grain, the Kim Boyce)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 1 bolo de 23cm

Ingredientes:
  • 3/4 xic. farinha de espelta (ou integral fina)
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo branca
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 3 ovos, orgânicos
  • 1 xic. azeite de oliva (preferencialmente extra-virgem)
  • 3/4 xic. leite integral
  • 1 1/2 colh. (sopa) alecrim, bem picadinho (não coloque mais do que isso, ou pode ficar com gosto de sabão)
  • 140g chocolate a 70% de cacau picado, ou gotas de chocolate amargo

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte uma forma de 23-24cm com azeite.
  2. Peneire os ingredientes secos numa tigela (junte à tigela qualquer coisa que tenha ficado na peneira – o intuito da peneira é apenas aerar a farinha).
  3. Em outra tigela, bata os ovos cuidadosamente com um batedor de arame. Junte o azeite, o alecrim e o leite e bata novamente, 
  4. Junte os ingredientes secos e misture com uma espátula, apenas até que não se veja mais farinha. Junte o chocolate. 
  5. Despeje a massa na forma e alise a superfície. Asse por 40 minutos, ou até que esteja arredondado em cima e dourado, mais escuro nas bordas, e um palito inserido no meio saia limpo. 
  6. O bolo pode ser comido ainda morno, ou frio.


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Bolinho de aniversário

Esse ano não teve bolo. Como não fiz festa, achei por bem das minhas ancas pular o bolo de três camadas que eu não teria a quem distribuir. Depois de quase duas semanas de sono ruim, por conta de birras na hora de dormir e durante a madrugada, também não me sentia disposta a tanto. Thomas, que desde os oito meses dormia 12 horas por noite ininterruptas, e que sempre foi deixado acordado no berço para dormir sozinho, sem precisar ser ninado ou convencido, agora parecia ter mudado de ideia: era colocar no berço para abrir um berreiro escandaloso, como se o colchão fosse feito de espinhos. E isso valia também para a soneca durante o dia.

Pode imaginar meu cansaço diante da situação.

Então, já chegando num ponto insuportável, meu marido teve uma epifania: "E se transformássemos o berço em mini-cama?"

Pensei.

"Hmmm... talvez ele esteja ficando aflito de ser colocado ali dentro e saber que só vai sair quando quisermos tirá-lo?"
"É, não custa tentar", disse ele.

E lá foi o homem de parafusadeira em punho desmontar o berço e remontá-lo como mini-cama, enquanto Thomas saracoteava em volta, encantado com a movimentação. Foi um momento de orgulho e aperto no coração ver aquela caminha pequena e baixa ali, encostada à parede, com lençoizinhos arrumados e travesseirinho. Como uma das camas dos setes anões. E tendo matriculado meu filho na escola naquele mesmo dia, e sendo meu aniversário de 33 anos no dia seguinte, senti-me incrivelmente velha. Meu filho estava crescendo rápido e o tempo estava passando. Mas era um aperto bom. Pois tem sido melhor a cada dia.

Claro que foi um parto colocá-lo para dormir. Há crianças que não entendem logo de cara que podem sair sozinhas da cama, acostumadas ao confinamento do berço, mas Thomas, que é cabrito de montanha, escalou minha mesa de desenho com 6 meses, e preza por sua liberdade, imediatamente desceu chorando e correndo para a sala, no melhor estilo criança histérica do Supper Nanny.

Bota de volta na cama. Sai da cama. Bota de volta. Sai. Segura um pouco. Tenta acalmar. Trinta e cinco minutos depois, relaxa e dorme. A noite toda.

Na manhã seguinte, sou acordada por um chorinho de 0.3 segundos, que pára de repente, e é seguido de sons de passinhos no assoalho: tomp, tomp, tomp, tomp. Os passos se afastam, em direção à sala, e depois retornam, fazendo surgir ao pé da minha cama um rostinho redondo e amassado de travesseiro, de chupeta e cabelos loiros desgrenhados. Uma risada, e ele volta ao seu quarto, subindo novamente na cama para fazer manha de preguicinha.

Naquela noite, para minha alegria e surpresa, dei-lhe banho, botei-lhe o pijama, e, ao invés de niná-lo no colo até o berço, coloquei-o no chão: e eis que ele caminha rápido até a caminha, sobe sozinho e deita-se. Sento-me ao seu lado, canto um pouco, ele faz uma graça, e quando saio do quarto para atender ao telefone, ao contrário das minhas expectativas, ele não corre chorando atrás de mim. Ele adormece sozinho.

Presente de aniversário como esses eu nunca tive. ^_^

Nos minutinhos restantes do meu dia, que começara bem, com passeio para catar amoras no vizinho e continuara com um almoço gostoso com minha mãe, em São Paulo, resolvo me preparar cupcakes de chocolate. Rapidíssimos e deliciosos. Preparei meia receita, pois seis cupcakes de chocolate com cobertura de chocolate para uma aniversariante, um marido que não come bolo e uma criança que ainda está proibida de comer doces que sejam apenas doces pelo doce, estão mais do que bons.

Caso você não tenha acesso a unsweetened chocolate (chocolate a 99 ou 100% de cacau - já comprei no Sta Luzia várias vezes) use sua cobertura favorita. Os bolinhos em si ainda valem a pena, deliciosos e macios. 

CUPCAKES DE CHOCOLATE
(do livro Sinfully Easy Delicious  Desserts, da Alice Medrich)
Rendimento: 12 cupcakes (mas pode ser feita meia receita, como eu fiz)

Ingredientes:
(bolinhos)
  • 1 xic. farinha de trigo orgânica
  • 1/3 xic. + 1colh (sopa) cacau em pó
  • 1 xic. + 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) cheia de sal
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xic. água quente
  • 1/2 colh.(chá) extrato natural de baunilha
(cobertura)
  • 115g chocolate 99% ou 100% de cacau, picado grosseiramente
  • 5 1/2 colh. (sopa) manteiga sem sal, cortada em pedaços pequenos
  • 1 xic. creme de leite fresco
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh (chá) sal

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e posicione a grade no terço inferior do forno. Forre a forma de muffins com forminhas de papel. 
  2. Numa tigela, misture com o fouet a farinha, cacau, açúcar, bicarbonato e sal.
  3. Junte a manteiga derretida e os ovos e misture com cuidado até formar uma pasta espessa. Então bata com o fouet umas 30-40 vezes, vigorosamente.
  4. Usando uma espátula, misture a água quente e a baunilha, até que a massa esteja homogênea. Distribua nas forminhas e asse por 18-22 minutos, até que um palito saia limpo quando inserido no meio dos bolinhos. Deixe esfriar por 5 minutos ainda na forma, então desenforme e  deixe esfriar completamente numa grade antes de decorar. 
  5. Enquanto os bolinhos estão no forno, faça a cobertura. Coloque o chocolate picado e a manteiga numa tigela resistente a calor.
  6. Numa panela, leve à fervura branda o creme de leite, o açúcar e o sal e cozinhe em fogo baixo por 4 minutos, mexendo sempre.
  7. Derrame a mistura sobre o chocolate e misture com o um fouet até que o chocolate tenha derretido e a mistura esteja homogênea e brilhante. Leve à geladeira, descoberto, por uns 40 minutos, tempo em que os bolinhos também estarão esfriando. Quando a cobertura estiver fria, mas não dura demais, coloque num saco de confeitar e decore os bolinhos.

sábado, 29 de setembro de 2012

Bolo de laranja e chocolate, para deixar as coisas mais leves (e nossas barrigas, mais pesadas)

Despois de desopilar o fígado no outro post, melhor um bolo para adoçar a vida, já que o leite não colabora para tanto.

Ando preparando muito menos doces desde que me mudei. Em parte porque meu apetite anda mais para frutas, em parte porque agora, sem ter para quem ficar distribuindo, é um perigo deixar um bolo inteiro desacompanhado na minha cozinha. Curtindo essa fase em que a futura pequena justiceira ítalo-germânica (falei que era menina?) anda me consumindo e me fazendo emagrecer, estou tentando não abusar daquilo de que minha cintura não precisa. E mais: o pequeno reorganizador de pedrinhas de vasos de jardim já sabe onde bolos, muffins e biscoitos jazem depois de prontos, e, uma vez encontrados, é tudo o que ele quer. Logo, menos bolos, muffins e biscoitos em casa é igual a um pimpolho de 1 ano e meio comendo fruta de lanche ao invés de brownie.

Mas fora um dia frustrante. O vento forte e gelado é constante desde que a chuva começou a ameaçar chegar. E por vento forte, refiro-me àqueles que derrubam regadores e samambaias, daqueles que esvoaçam o cabelo além de qualquer presilha, que zunem nos ouvidos e queimam a ponta do nariz. E, no meu caso específico ainda, transformam minha pele (particularmente minhas mãos) em couro curtido e rachado, seco e dolorido, não importa quanta água eu beba ou quanto creme ultra-forte gaste.

Já ouvi falar de ventos europeus que enlouquecem as pessoas numa estação. Este está me tirando do sério. Ele não pára. Nunca. Zunindo nas janelas, arrancando fora o capuz do Thomas, fazendo entrar poeira no olho, batendo portas violentamente e trazendo toda sorte de folhas e lixo para o quintal e através de qualquer porta que tenha ficado aberta.

Vento idiota.

E quando, junto dele, chove, o pequeno maratonista inquieto fica com formiga na cueca, e eventualmente começa a demonstrar com birra o tédio de estar trancado em casa olhando para a cara da mãe o dia todo. E o cão choraminga que quer sair. E eu, já um tanto barriguda, sentindo a futura pequena lançadora de olhares significativos me chutando loucamente, só queria sentar um pouco. Um pouquinho. Um minutinho. Mas Thomas não deixa. Gnocchi não deixa. E eu penso no trabalho atrasado a entregar, que terei de começar a fazer apenas às sete da noite, quando o pimpolho for dormir.

Cansaço. Frustração. Principalmente cansaço.

Bolo.

É interessante quando a gente percebe nosso padrão de funcionamento. Bolo é definitivamente minha cura número um para dias frustrantes. Bolo e goró, mas do segundo eu não posso. E ando com uma vontade louca de beber margaritas, o que só pode significar que minha filha terá tendências bagaceiras, uma vez que durante a gravidez do Thomas, minha vontade era de martinis, bem mais sofisticados.

Mas bolo. Bolo é o que interessa.

Queria um bolo de laranja. Bolinho simples. Queria que fosse fácil. Vontade nenhuma de amolecer manteiga ou usar a batedeira. Queria que usasse o iogurte viscoso da geladeira. Mas também queria algo mais. Que não fosse... simples demais. Algo que de fato aplacasse minha frustração do modo como apenas chocolate faz.

E, numa busca rápida pela internet, encontrei um bolo de limão e iogurte com mirtilos, no Smitten Kitchen, seguida de uma dezena de sugestões para variações. E dentre elas, lá estava: laranjas no lugar dos limões e gotas de chocolate no lugar dos mirtilos. Bingo!

O bolo foi facílimo de fazer. As laranjas, orgânicas, estavam perfumadas e suculentas, mesmo depois de semanas na geladeira. Usei meia xícara a menos de chocolate do que a medida de mirtilos, com medo de que afundassem na massa, e porque julguei que era já o bastante. O bolo já pronto e frio ficou com aroma e sabor tão intenso de laranja, que me lembrou algum bom licor. Macio e denso, com esse parco pontilhado de chocolate que foi mais do que o bastante para trazer algo de diferente ao bolo, um quê de bombom recheado de infância.

Delícia, delícia. Adoçando dias frustrantes. Devidamente escondido no fundo da bancada, para que Thomas coma seu mamão e deixe todo o bolo para as ancas da mamãe.

BOLO DE IOGURTE COM LARANJA E CHOCOLATE
(Receita original de Ina Garten, adaptada no Smitten Kitchen)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 1 bolo

Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 xic. iogurte integral caseiro
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • casca ralada de 2 laranjas orgânicas
  • 1/2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1/2 xic. óleo vegetal
  • 1 xic. gotas de chocolate amargo (usei 53%)
  • (calda)
  • 1 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/3 xic. suco das laranjas

Preparo:
  1. Unte uma forma de bolo inglês com manteiga. Forre o fundo com papel-manteiga, unte o papel e polvilhe farinha em toda a forma, batendo o excesso. Pré-aqueça o forno a 180ºC. A massa fica pronta muito rápido, então só comece a prepará-la quando o forno estiver na temperatura certa.
  2. Numa tigela, misture a farinha, o fermento e o sal.
  3. Em outra, misture bem o iogurte, o açúcar, os ovos, a casca de laranja, a baunilha e o óleo.
  4. Junte os ingredientes líquidos aos secos e misture com uma espátula até que fique homogêneo. Incorpore as gotas de chocolate.
  5. Espalhe a massa na forma e leve ao forno por 50 minutos, ou até que um palito inserido no centro saia limpo.
  6. Retire do forno e deixe esfriar sobre uma grade, dentro da forma, por 10 minutos. Enquanto isso, junte o suco de laranja reservado e o açúcar restante numa panela pequena e aqueça até que o açúcar dissolva.
  7. Solte as laterais com uma faca e desenforme. Retire o papel da base. Faça furos com um palito na parte de cima do bolo. Regue com a calda (ou pincele, que é mais fácil), deixando que o bolo absorva bem toda ela. Deixe esfriar completamente sobre a grade antes de servir.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Bolo de férias


Não há simplificação de vida que ganhe de merecidas férias. Principalmente quando você é freelancer, não tem férias pagas nem 13º salário, tem clientes com agendas e necessidades diferentes que não fazem pausas simultâneas, não tem babá, empregada ou passeador de cachorro... e não tira férias há quatro anos.

Ah, mas e as pausas de fim de ano?

Repetindo: "freelancer". Escritório no quarto. Imagine se você passasse suas férias inteiras olhando para uma fotografia da pilha de trabalho que espera por você na volta. Ou se suas férias fossem de fato no prédio da empresa.

Ah, mas e a viagem para Nova York?

Foi há 2 anos atrás. E foram cinco dias. Em feriado. Cinco dias não conta. Não são férias, é feriado. Justamente. E menos de uma semana não são férias. Não dá tempo ao cérebro relaxar. Simplesmente não dá.

Minha mãe já dizia quando eu era criança: "A família inteira tem férias; menos a mãe. Mãe nunca tira férias." Sempre achei que fosse um tremendo exagero, até dar de cara com a realidade. Mãe nunca tira férias. Principalmente se as férias forem em casa. Você pode não estar trabalhando no sentido convencional da palavra, mas a casa ainda precisa ser limpa, seu filho ainda precisa comer e tomar banho, seu cão ainda precisa sair para passear. E férias assim seria como seu chefe dizer que você está de férias: vai continuar fazendo todo o seu trabalho menos os memorandos de quinta-feira. ¬_¬

Not fair.

Freelancer precisa de férias. Mãe precisa de férias. All work and no fun makes Ana a dull girl. E eu acho que já usei essa aqui antes.

Por isso literalmente chorei quando meu marido me surpreendeu com uma viagem, assim, de supetão. Dez dias de férias. Não tanto quanto gostaríamos de ficar descansando a cachola, mas o máximo que supomos saudável para ficarmos longe do nosso pequeno caçador de perigos ocultos. Benditos avós à disposição para cuidar de netinho e cachorro.

Empolgada e precisando começar a pensar em esvaziar a geladeira, quis fazer um bolo de laranja. E lembrei-me imediatamente desta receita em que havia passado os olhos há meses atrás, quando ganhei o livro de aniversário. Acho que não há uma cultura ocidental que não tenha uma versão desse bolo, e ele é o símbolo máximo do bolo de vó, que recheia quase todas as infâncias. Bolo simples, de café-da-manhã, feito numa tigela só, sem batedeiras, sem ingredientes especiais, sem técnicas complicadas. Poderia tê-lo feito ainda mais simples, sem a casca de laranja, mas queria definitivamente usar minhas laranjas orgânicas logo, pequenas e doces.

No livro, a autora na verdade usa a batedeira, mas assim que liguei a máquina senti-me um pouco tola; o bolo obviamente poderia ser feito apenas com uma colher, e é como o farei das próximas vezes e como recomendo que você faça. Usei iogurte caseiro, e portanto não tinha um copinho plástico como recipiente-medida. Mas fiz todo ele com os 180ml indicados, cerca de 3/4 xic. A autora, no entanto, diz que o bolo dá certo mesmo usando copos de iogurte um pouco menores ou maiores (de 120 a 240ml), desde que o copo do iogurte seja usado como medida do restante, respeitando as proporções do bolo.

Mas não é apenas por conta de minhas férias que chamei esse bolo de "Bolo de Férias". Também porque mal coloquei o bolo no forno e a receita já estava gravada em meu cérebro para sempre, tornando-se a melhor receita de bolo do mundo para se fazer quando fora de casa, numa praia ou num sítio, quando se quer um bolo mas não se tem nenhum livro de receitas à disposição. E principalmente porque ele é de uma simplicidade de ingredientes e de preparo que traz um grande alívio para quem precisa de férias da cozinha complicada.

Bolo de férias. E porque a origem da receita dá a dica de onde estarei descansando e me inspirando para voltar cozinhando com força total.

Quando esse post for publicado, estarei no avião. Até a volta.  ^_^

TORTA DEI 7 VASETTI
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 10-12 porções

Ingredientes:
  • 1 copo de iogurte natural (de cerca de 180ml) – o copo vira a medida
  • 1 copo de azeite ou óleo vegetal
  • 2 copos de açúcar cristal orgânico
  • 3 copos de farinha de trigo branca orgânica
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • casca ralada de uma laranja grande orgânica, ou duas pequenas
Preparo:
  1. Unte com manteiga ou óleo uma forma redonda, de furo no meio, de capacidade para até 12 xícaras. Pré-aqueça o forno a 180ºC.
  2. Junte todos os ingredientes numa tigela e mexa com uma espátula ou colher de pau (ou na batedeira) até que fique homogêneo e sem grumos.
  3. Transfira para a forma preparada e leve ao forno imediatamente, por cerca de 45 minutos, ou até que um palito saia seco quando inserido no meio. 
  4. Retire do forno e deixe esfriar completamente antes de desenformar. 

Obs: como gosto de bolos de laranja bem úmidos, depois que o bolo esfriou e foi desenformado, aqueci numa panela o suco das laranjas que usei e a mesma quantidade de açúcar (cerca de 1/4 xíc.) apenas até que o açúcar dissolvesse. Fiz alguns furos pelo bolo e derramei a calda por cima, devagar, esperando que o bolo absorvesse toda a calda. Mas a calda não consta na receita original.

*OBS: Post programado para ser publicado durante minhas férias. Comentários só serão moderados após dia 15 de maio.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um bolo de morangos (antes que eles sumam até o ano que vem)

Havia muito tempo não entravam tantas frutas ao mesmo tempo nessa casa. Culpa do pequeno-matador-de-dragões-devorador-de-frutas. Um ogrinho, que assim que me vê picando comida estende os braços e começa a mastigar o vazio. Sim, porque num belo almoço, percebi que ele estava puxando a papinha grossa para a lateral da boca e amassando com as gengivas, boca aberta, como um camelo. Não tive dúvidas e parei imediatamente de moer sua comida. Ela agora é picadinha, em bocados pequeninos, de texturas diferentes, para que ele entenda como melhor mastigar.

O menino é já melhor garfo do que eu ou meu marido jamais fomos quando crianças, e come de absolutamente tudo, desde que dada uma segunda chance para provar. Quase sempre o que tem uma textura nova é ligeiramente rejeitado num dia, para ser devorado no dia seguinte. Nos momentos de rejeição, intercalar colheradas do prato com pedaços de banana, sua fruta favorita, é o melhor truque, e ele raspa o prato.

Fico encantada e orgulhosa com sua curiosidade e seu paladar, vedo-o comer soba com berinjela e manga, flan de cenoura e espinafre, couscous marroquino com tomate, abobrinha e queijo meia-cura, curry de abóbora, batata e tofu, e uma miríade de frutas, das quais até hoje não desgostou de praticamente nenhuma.

Depois de ele já ter comido sua cota de morangos, no entanto, guardei esse punhado para os adultos. Doces e suculentos – obviamente orgânicos –, andavam aparecendo à mesa apenas combinados a chantilly batido na hora, talvez com uma colherinha de vinagre balsâmico. Depois de concluir que já bastava da combinação, resolvi usá-los nesse bolo, cuja fotografia me havia hipnotizado no Smitten Kitchen, há algum tempo atrás.

Na falta de farinha de cevada, acabei preparando a receita original, de Martha Stewart. Fiquei receosa de que meu prato de torta de 9 polegadas fosse muito baixo (com 4,5cm de altura), e que a massa fosse crescer além da conta e se derramar no piso do forno. Mas o tamanho ficou perigosamente exato e o bolo ficou perfeito.

Delicioso era o perfume dele saído do forno, da baunilha e dos morangos quentes. Abri-o apenas no dia seguinte, na ocasião da visita de minha sogra, para descobrir que seu fundo formara uma casquinha açucarada como o bolo de cenoura de minha mãe. Um bolo simples e saboroso a ser repetido muitas vezes. Todos os anos, quando os morangos chegarem. Para mim, um pedaço enquanto o bebê dorme. Pois é agora impossível comer qualquer coisa em frente a ele, sem que aqueles bracinhos alcancem seu prato e as mãozinhas ávidas tentem sequestrar seu jantar.

A receita fica apenas em link para o site original, uma vez que não adaptei nada. FYI, usei açúcar cristal, farinha, ovos e morangos orgânicos, e extrato de baunilha caseiro. Arrisquei e usei uma forma de torta de vidro, de 9" (22-23cm), com 4,5cm de altura, mas como a foto mostra, a massa não vazou por sorte. Recomendo usar uma forma de torta de 10" (25-26cm) ou uma forma de mola de 22-23cm. Vamos evitar desastres e desperdício de morangos. Certo? ;)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

32 e um bolo


Trinta e dois anos.

*Suspiro*

É difícil não lembrar meus dezesseis anos e os anseios que tinha naquela época. Imaginava que depois dos trinta anos eu seria uma grande diretora de criação de uma mega agência de publicidade, dirigiria um carro fenomenal, teria um apartamento sensacional, um(ns) namorado(s) gostosérrimo(s) e seria uma daquelas mulheres poderosas e fod*nas que o mundo de hoje diz que precisamos ser para sermos felizes. Em momento nenhum passou pela minha mente adolescente que aos 32 anos eu estaria casada, com um bebê de 6 meses, um cão, trabalhando em casa como ilustradora e querendo para mim uma vida cada vez mais caseira e simples. Nada poderia estar tão distante da imagem que tinha do meu suposto futuro.

Então, nesse momento, poderia entrar o texto "mas estou feliz por como tudo acabou acontecendo". E não haveria nada de errado com essa frase, a não ser pela adversativa. "Mas" não se encaixa aqui. O que acho realmente interessante ao comparar o cenário fictício com o real, é o fato de que eu em momento nenhum "não consegui" ser a mulher que eu vislumbrava naquela época. Não há frustração nesse quesito. Ao contrário, todas as oportunidades se apresentaram para que seguisse aquele caminho. Interessante mesmo foi ver como, na hora de decidir o que de fato queria para mim, fui declinando essas oportunidades em detrimento dos meus princípios, que foram amadurecendo ao longo dos anos e me mostrando o que era de fato importante para minha felicidade.

Hoje não reconheço mais aquela pessoa que achava que seria "tudo" ter um Porsche. Mas adoro repensar o processo, os estopins de todas as mudanças em mim, e quase posso ouvir o som das engrenagens se movendo e das chaves estalando em meu cérebro, mudando meu raciocínio, evoluindo meus gostos e desgostos, fazendo novas escolhas.



E vejo como justamente hoje é tão mais fácil escolher. Escolher o simples. Escolher verde. Escolher família. Escolher silêncio. Conforme vou simplificando, eliminando o desnecessário, o extra, o entulho, o que importa se torna evidente e preenche todas as frestas inseguras de minha estrutura. Vou indo hoje a passos mais lentos, tentando não me cobrar tanto a perfeição absoluta – tão difícil –, mas vou mudando pequenos hábitos. Nunca pensei que cancelar a TV a cabo fizesse tanta diferença na minha interação familiar e no meu aproveitamento de tempo. Vendi meu computador para ficar apenas com o lap (não havia motivo para ter ambos, a não ser apego), e vi, surpresa, também minha conta de eletricidade despencar. Cancelei minha conta de todas as redes sociais e me vi cercada apenas de meus amigos de verdade e pessoas que sabem meu telefone. Parei de perder tempo na frente do computador e depois reclamar que não havia tempo para outras coisas, como brincar com o cachorro. Propus a meu marido que ficássemos 30 dias sem gastar dinheiro, inspirada no Extreme Frugality, e o resultado foi melhor do que eu esperava. Não apenas financeiro, mas percebemos como encontramos coisas para fazer juntos e aproveitar a companhia uns dos outros quando simplesmente "sair para gastar dinheiro" está fora da mesa. Como entulhamos nosso lar com tralhas inúteis por simples tédio – levante a mão quem dá um pulinho na Amazon quando não tem o que fazer.   o/ 



Simplificar tem sido a melhor escolha que fiz nos últimos tempos. A vida vai ficando mais fácil e mais leve.

Agora, de simples e leve esse bolo não tem nada. Quatro camadas de um bolo intenso e úmido de chocolate, intercaladas com ganache, caramelo com flor de sal e amêndoas. Esse foi um exemplo do esforço oposto a simplificar, uma vez que, confesso, não foi nada fácil preparar e montar um bolo de camadas com um bebê requisitando minha atenção o dia todo. Encaixar as etapas nos cochilos do pequeno foi um exercício de planejamento não muito bem sucedido. Para quem tem uma tarde livre de interrupções, no entanto, ele é um passeio no parque.

BOLO DE CHOCOLATE COM ECHEIO DE CARAMELO SALGADO

Ingredientes:
(caramelo)
  • 1 xic. açúcar
  • 1/4 xic. água
  • 2 colh. (sopa) xarope de glucose
  • 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1/4 xic. manteiga sem sal, em cubos
  • 1/4 xic. sour cream
  • 1/2 colh. (chá) suco de limão
  • Uma pitada grande de flor-de-sal e mais um adicional para a montagem do bolo
(ganache)
  • 650g chocolate meio-amargo picado (não ultrapasse 61% de cacau)
  • 3 xic. creme de leite fresco
(bolo)
  • 2 xic. açúcar
  • 1 3/4 xic. farinha de trigo
  • 3/4 xic. cacau em pó
  • 1 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 1/2 col. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1 xic. leite integral
  • 2 ovos grandes
  • 1/2 xic. manteiga sem sal, derretida e fria
  • 1 xic. água quente
  • 1 colh. (sopa) café instantâneo

  • 1 1/4 xic. amêndoas sem sal, torradas e picadas grosseiramente

Preparo:
(caramelo)
  1. Misture o açúcar, 1/4 xic. água e o xarope de glucose numa panela média sobre fogo baixo até que o açúcar dissolva.
  2. Aumente o fogo para médio, cubra e cozinhe por 4 minutos.
  3. Retire a tampa, aumente o fogo para alto e ferva sem mexer até que esteja com uma cor âmbar intensa, cerca de 6 minutos.
  4. Retire do fogo. Adicione o creme (vai borbulhar vigorosamente). Com um batedor de arame, misture a manteiga, o suco de limão, o sour cream e uma pitada generosa de flor se sal. Deixe esfriar completamente. Pode ser feito até 3 dias antes. Deixe voltar à temperatura ambiente para usar.
(ganache)
  1. Coloque o chocolate numa tigela grande. Leve o creme à fervura e derrame-o sobre o chocolate. Deixe amolecer por 1 minuto e então misture até que esteja homogêneo. Deixe esfriar até que fique numa consistência firme o bastante para espalhar sobre o bolo. PPode ser feito até 3 dias antes. Deixe voltar à temperatura ambiente para usar.
(bolo)
  1. Preaqueça o forno a 180ºC. Unte 2 formas de 21-22cm de diâmetro, forre o fundo com papel-manteiga e unte o papel. Enfarinhe, retirando o excesso. 
  2. Peneire o açúca, farinha, cacau, fermento, bicarbonato e sal numa tigela grande. Junte o leite, ovos e manteiga derretida e bata na batedeira em velocidade baixa até que esteja bem misturado. Aumente a velocidade e bata por 2 minutos. 
  3. Misture o café em pó a 1 xic. de água quente até dissolver e junte à massa, batendo até que fique misturado. A massa será bastante líquida. Divida a massa entre as formas (cerca de 3 xic. cada) e asse até que um palito saia limpo ao ser inserido nos bolos, cerca de 32 minutos. 
  4. Deixe esfriar numa grade por 10 minutos. Passe uma faca nas laterais para soltar os bolos, desenforme, retire o papel e deixe que esfriem completamente. 
(montagem)
  1. Corte cada bolo ao meio. Coloque uma metade de baixo no prato. Espalhe 1/2 xic. de ganache sobre o bolo. Coloque 3/4 xic. de ganache num saco de confeitar com um bico redondo de 0,5cm. Faça um anel de ganache na beirada do bolo. Espalhe 1/4 xic. de caramelo dentro do anel. Polvilhe uma pitada de flor de sal e 1 colh. (sopa) amêndoas. Cubra com outra metade do bolo e repita as camadas, até a última metade. Espalhe o restante da ganache por todo o bolo e pressione as amêndoas picadas nas laterais do bolo. Pode ser feito 2 dias antes. Cubra com uma redoma e leve à geladeira. Retire 1 hora antes de servir.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Bolo de peras ao conhaque e chocolate branco

Existem dicas e existem intromissões.

Dica: bota a banheira do bebê no box do chuveiro que facilita a vida.
Intromissão: bota um casaco no menino que ele tá com frio.

Dica: não lute contra sua nova rotina quando tiver um bebê pequeno em casa; assim você estressa menos.
Intromissão: você PRECISA (insira qualquer predicado irritante que soe como uma lei universal da mãe estressada).

Dica: presuma que tudo é normal e bebês são criaturinhas em formação completamente imprevisíveis; isso também estressa menos (e aborrece menos seu pediatra). Se o bebê tá fofo e feliz, aquele soluço não quer dizer nada.
Intromissão: que ABSURDO você não usar (insira qualquer objeto-tralha de bebê que você considere inútil).

Dica: nos momentos desesperadores, lembre-se de que não é para sempre: um dia seu filho VAI dormir, VAI aprender a ir ao banheiro sozinho e VAI dizer a você o que o está incomodando.
Intromissão: pára de comer chocolate, porque isso é cólica.

Dica: Happiest Baby on The Block. É bizarro, mas FUNCIONA. Fiquei fula de ter descoberto isso só no segundo mês.
Intromissão: peraí que eu sei botá-lo pra dormir (diz a pessoa, desenrolando o bebê, que estava tranquilo e imediatamente desata a chorar).

A lista é infindável. E hoje, andando com o bebê sentadinho no sling, olhando para frente, um homem me abordou, horrorizado: "Ai, mas isso não está apertando o nenê???" INTROMISSÃO. Oi, você não me conhece. Bom dia. Tudo bom?

Claro que há quem vá achar que minhas dicas são também uma intromissão. A verdade é que qualquer coisa que digam a você que seja diferente do que você está fazendo com seu filho vai deixá-la ligeiramente ofendida. Porque por melhor que sejam as intenções, fica sempre aquele gosto amargo de "você acha que não estou fazendo um bom trabalho". E quem é mãe está sempre tentando fazer o melhor possível.

Ainda bem que existem também as dicas inofensivas, que só trazem felicidade. Por exemplo, quando a Pat me mandou uma mensagem me sugerindo que eu preparasse esse bolo, depois de ter comentado que eu tinha peras e chocolate branco dando sopa em casa. Foi bater o olho na receita (facílima) que corri para a cozinha. Talvez tenha sido o fato de usar uma forma 1cm menor do que devia (distração) ou ter aberto o forno 15 minutos antes (outra distração) que fizeram o bolo afundar no meio. Ou talvez ele deva ser assim mesmo, pois a massa ficou muito fofa, deliciosa com o sabor da manteiga noisette. O bolo ficou maravilhoso, macio, molhadinho, perfumado. De comer sozinha e escondido. ;)

Outra dica boa? Essa aqui: http://desenhoque.tanlup.com/
Finalmente produzi uma nova leva de posters de frutas e verduras, e estou testando vendê-los através dessa lojinha. Assim não preciso ficar fazendo novos posts a cada vez que produzir, e fica tudo concentradinho em um lugar só. Então quem estava esperando, vá lá. Se funcionar direitinho, do jeito que espero, mês que vem já coloco à disposição outras coisinhas mais. :)

BOLO DE PERAS AO CONHAQUE COM CHOCOLATE BRANCO
(do livro The Boozy Baker)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 8 fatias gordinhas

Ingredientes:
(peras ao conhaque)
  • 2 colh. (sopa) açúcar
  • 1/4 xic. conhaque
  • 2 colh. (chá) suco de limão
  • 2 xic. peras (cerca de 2 peras) maduras, descascadas e cortadas em cubos de 1cm
(bolo)
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 120g manteiga
  • 3 ovos grandes
  • 2/3 xic. açúcar
  • 1/2 xic. chocolate branco picado

Preparo:
  1. Combine o açúcar, o conhaque e o suco de limão numa tigela pequena e junte as peras em cubos. Deixe macerando por 20 minutos. Então escorra sobre outra tigela, reservando o líquido e as peras separadamente.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte e enfarinhe uma forma redonda de fundo removível de 22-23cm. 
  3. Em uma frigideira pequena, derreta a manteiga em fogo baixo, cozinhando por cerca de 8 minutos, até que fique acastanhada e solte um cheiro de nozes. Cuidado para não queimar. Retire do fogo. 
  4. Numa tigela, misture a farinha, o fermento e o sal. Reserve.
  5. Na tigela da batedeira, bata os ovos em velocidade alta até que fiquem bem claros e fofos. Vá juntando o açúcar aos poucos, batendo por mais uns 2 minutos. 
  6. Baixe a velocidade da batedeira e junte 1 colh. (sopa) do líquido de conhaque reservado (o restante não será usado). 
  7. Alternadamente, junte a farinha e a manteiga, começando e terminando pela farinha. Bata apenas até que a farinha esteja incorporada. 
  8. Espalhe a mistura na forma e espalhe por cima as peras em cubos e o chocolate. Leve ao forno por 45 minutos, ou até que um palito inserido no meio saia limpo e o bolo esteja dourado. Deixe esfriar completamente na forma antes de desenformar. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Bolo de especiarias com maçãs carameladas e chantilly


Está sendo difícil conter minha ansiedade. O pequeno agora quer pegar tudo o que está a seu alcance, incluindo a rúcula do meu prato (que foi jogada no chão da sala), o chantilly do meu morango, o pãozinho com manteiga do meu café da manhã. Ok, talvez eu não devesse comer com ele no colo o tempo todo... ;) Mas a verdade é que ando apaixonada pelo fascínio nos olhinhos dele quando tenho alguma comida nas mãos. Provavelmente mais interessado nas cores e nos cheiros do que de fato no conceito "comida", ele segue ávido os movimentos da comida do prato à boca de quem come, curiosíssimo. Dá aquela vontade louca de mergulhar o dedinho na sopa de legumes e levá-lo à sua boca, para que comece não a comer mas a experimentar alguns sabores. Vamos ver... quem sabe... Enquanto isso, me pergunto se ele terá guardado no inconsciente dele o cheiro dessas maçãs carameladas, que cozinhei enquanto ele me fazia companhia na cozinha, prestando atenção a tudo.

BOLO DE ESPECIARIAS COM MAÇÃS CARAMELADAS E CHANTILLY
(do livro Gourmet Today)
Rendimento: 9 porções

Ingredientes:
(maçãs carameladas)
  • 8 maçãs Gala ou Fuji
  • 6 colh. (sopa) manteiga em temp. ambiente
  • 3/4 xic. açúcar demerara orgânico
(bolo)
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh.(chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/2 colh. (chá) pimenta da jamaica moída
  • 1/2 colh. (chá) noz moscada ralada
  • 1/8 colh. (chá) cravos moídos
  • 8 colh. (chá) manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/3 xic. açucar demerara orgânico
  • 1 ovo grande,em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. maple syrup
  • 1/2 xic. sour cream
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
(chantilly)
  • 1/2 xic. sour cream
  • 1 1/4 xic. creme de leite fresco
  • 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte e enfarinhe ema forma quadrada de 20cm.
  2. Descasque e retire o centro das maçãs. Corte-as em fatias de 1cm de largura. Em uma frigideira grande e de fundo grosso, espalhe a manteiga uniformemente no fundo. Polvilhe o açúcar por cima e disponha as maçãs. Leve ao fogo médio até que o açúcar embaixo tenha dissolvido e as maçãs em cima comecem a soltar líquido, sem misturar, cerca de 10 minutos.
  3. Cozinhe, mexendo de vez em quando, até que o líquido comece a ficar xaroposo, cerca de 30 minutos. Escorra o xarope em uma tigela de metal e volte as maçãs ao fogo até que fiquem caramelizadas, cerca de 30 minutos, mexendo de vez em quando. Volte as maçãs ao xarope e reserve para reaquecer na hora de servir.
  4. Equanto as maçãs cozinham, faça o bolo. Com um fouet, misture numa tigela a farinha, fermento, bicarbonato, sal e especiarias. Reserve. Bata a manteiga e o açúcar em velocidade média até que fique fofo e claro.
    Junte o ovo e a baunilha e bata até que fique homogêneo. Junte o maple syrup e o sour cream e bata até que fique homogêneo novamente. Em velocidade baixa, junte a farinha, batendo apenas até incorporá-la. 
  5. Espalhe na forma e asse por 35-40 minutos, até que um palito saia limpo quando inserido no centro. Esfrie na forma por 10 minutos e então desenforme.
  6. Na hora de servir, corte o bolo em 9 porções e bata o creme, sour cream e açúcar em pobto de chantilly. Sirva com as maçãs aquecidas.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Bolo integral de bananas e framboesas

Tem dias em que queremos fazer tudo direitinho, by the book, dentro das regras, e só tomamos na cabeça. Há outros em que inventamos de fazer tudo do avesso e as coisas inexplicavelmente dão certo. Quando a gambiarra sai melhor do que o esperado. Quando parece que os planetas se alinham e o universo não deixa que você se estrumbique apesar da probabilidade alta.

Parece que com bolos acontece a mesma coisa. Num dia, segue-se a receita à risca e o bolo explode, transborda, afunda, transforma-se numa gororoba incomível de proporções épicas. E noutras vezes, lutando contra todos os instintos, resolvemos fazer uma receita que não especifica tamanho de forma, que usa "pote de iogurte" e "envelope de fermento" como medidas, mudamos o tipo de óleo e a quantidade de frutas, e parece que Murphy dá um tempo, e tudo sai maravilhosamente bem.

Este bolo de bananas ficou muito saboroso com o uso da farinha integral, que tem um gosto naturalmente amendoado, e me fez pensar em, na próxima vez, substituir as framboesas por gotas de chocolate. Na falta de um óleo mais neutro, como canola, acabei arriscando e usando azeite de oliva extra-virgem, bem frutado, não muito forte. Sente-se algo de diferente na massa, mas ficou muito gostoso mesmo assim, ainda que prefira usar um óleo mais suave da próxima vez.

BOLO INTEGRAL DE BANANAS E FRAMBOESAS
(livremente adaptado da revista francesa Saveurs)
Tempo de preparo: 20 minutos + 45 minutos de forno
Rendimento: 1 bolo de 20x30cm

Ingredientes:
  • 1/2 xic. iogurte integral caseiro
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 1/2 xic. farinha integral fina (orgânica)
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) óleo
  • 2-3 bananas, dependendo do tamanho, maduras e amassadas
  • 1 punhado de framboesas
  • manteiga para untar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Unte uma assadeira de alumínio de 20x30cm.
  2. Numa tigela média, misture o iogurte, os ovos e o açúcar, misturando bem com um fouet. Junte a farinha e o fermento, misturando novamente, até que não se vejam mais grumos de farinha, e então junte o óleo, misturando até que fique homogêneo. 
  3. Junte a banana amassada, misturando com uma espátula. Despeje na forma e distribua as framboesas, afundando-as um pouco na massa. 
  4. Leve ao forno por 40-50 minutos, ou até que esteja dourado e um palito saia limpo quando inserido no centro do bolo. Retire do forno e deixe esfriar na forma, sobre uma grade. Passe uma faquinha nas laterais e desenforme.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bolo de ameixas, avelãs e marzipan; para hoje e para depois

Eu não sou idiota. Sei bem que o complexo de mulher maravilha não vai resistir às noites mal dormidas dos primeiros meses de existência de um bebê. E que nem toda a força de vontade do mundo vai me convencer a ficar de pé sovando pão ao invés de cochilar enquanto o pequeno estiver dormindo. Mas isso não quer dizer que eu esteja disposta a abdicar do meu estilo de vida e de tudo aquilo que mais prezo. De nada vai me adiantar amamentar se todo o "combustível" usado para gerar esse leite vier de alimentos que não prestam.

Então elaborei um plano.

Desde que me mudei, tenho preparado muita coisa em dobro. Não os pratos fáceis, desses que preparo mesmo em dias atolados de trabalho, exausta; mas aquilo que mais senti falta durante aqueles trinta dias fora da minha cozinha: pães, bolos, caldos, biscoitos... o tipo de coisa que a maioria compra pronta em embalagens plásticas. E que dão mais trabalho para preparar quando se está cansada.

Toda vez que me disponho a fazer pão, dobro a receita. Um pãozinho vai para a mesa, o outro é embalado em papel-alumínio, rotulado e acomodado no freezer [aqui em casa agora, pra embalar comida, só papel-alumínio ou papel-manteiga; aboli o filme-plástico]. Se eu fizer um bolo cujo texto da receita sugere o congelamento, faço o mesmo. Principalmente pound cakes e quick breads, uma vez que eles congelam muito bem e tenho mais de uma forma de bolo inglês. Tem sido reconfortante saber que quando me der vontade de comer um bolinho caseiro, ou uma fatia de algum pão mais complexo que um pãozinho francês de padaria (o único que ainda compro quando não consigo fazer o meu), é só tirar um dos pacotinhos prateados do freezer e deixá-lo descongelando durante a noite.

Pretendo também deixar algumas refeições encaminhadas. Bases de torta são ótimas para se congelar,  e já tenho uma grande me esperando para quando eu só tiver forças para misturar alguns ovos, creme e qualquer vegetal e jogar dentro da base. Pro forno com ela e pimba! jantar. Quero muito deixar pronta uma travessa de macaroni & cheese com espinafre e abóbora, cuja receita recortei de uma revista inglesa que falava justamente sobre pratos bons para serem congelados. Além de reconfortante, tem gostinho de outono, quando meu mini-metaleiro chegará.

Da mesma reportagem de congelados, eu recortara essa receita de bolo de ameixas, apetitosíssima. Das frutas de caroço, as ameixas são as melhores do momento, e continuarão uma delícia por boa parte do início do outono. Fiquei entusiasmada ao ver sua variedade no mercado, e tenho planos para cada uma delas. Para esse bolo, usei as ameixas Letícia; firmes, azedinhas e que descaroçam facilmente.

Tive de fazer uma adaptação na receita original. Passara no mercado para me abastecer de ovos e farinha orgânicos, e depois de mais um momento frustrante na fila do caixa preferencial, barrigão desconfortável, calor e pés imensos latejando dentro da sandália, cheguei em casa exausta, decidida a não mais sair àquele dia, apenas para descobrir que me esquecera de comprar amêndoas. Mandei tudo às favas e substituí as amêndoas moídas por parte de seu peso em farinha e omiti as amêndoas laminadas no final.

O resultado ficou excelente. Havia uma caldinha de limão e açúcar que omiti: o bolo é já suficientemente saboroso sem ela. Preparei uma assadeira inteira e cortei-o ao meio, congelando uma das metades embalada em papel-alumínio. A outra metade... bem... já está na metade. O bolo é muito macio, sua massa é doce, pontilhada de marzipan que derrete na boca e avelãs picadas, crocantes, e entremeada por fatias azedinhas de ameixa, que se desmancham. Delícia! Não vejo a hora de descongelar a segunda metade... ;)  

BOLO DE AMEIXAS, MARZIPAN E AVELÃS
(ligeiramente adaptado da revista Delicious)
Tempo de preparo: 25 min + 50 min de forno
Rendimento: 1 bolo de 20x30cm ou 23cm2

Ingredientes:
  • 200g manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 200g açúcar cristal orgânico
  • 4 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente
  • 200g farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 50g avelãs
  • 120g marzipan
  • 500g ameixas maduras

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma assadeira (sem antiaderente) de 20x30cm ou uma forma quadrada de 23cm (e 5cm de altura) com manteiga e forre o fundo com papel-manteiga. 
  2. Em outra assadeira, coloque as avelãs e leve ao forno já quente, para tostá-las, por cerca de 15 minutos. Enquanto isso, pique o marzipan e reserve. Corte as ameixas em quartos ou oitavos, dependendo do tamanho, retirando o caroço, e reserve. Quando as avelãs estiverem torradas, coloque-as num pano de prato e esfregue-as para que soltem a pele. Transfira as avelãs para uma tábua e pique-as.
  3. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira até que fique claro e fofo. Acrescente os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Se a mistura começar a talhar, junte um pouquinho da farinha e bata até estabilizar.
  4. Junte a farinha e o fermento aos poucos, batendo em velocidade média até que fique homogêneo. Desligue a batedeira e, com uma espátula, incorpore as avelãs picadas e o marzipan. Espalhe na forma, alisando a superfície com a espátula e distribua as fatias de ameixa, afundando-as ligeiramente na massa.
  5. Leve ao forno por 50 minutos ou até que um palito saia limpo ao ser inserido no centro. Retire do forno e deixe esfriar na assadeira por uns 15 minutos. Então desenforme e deixe que esfrie completamente sobre uma grade antes de servir ou embalar bem e congelar por até 3 meses.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Primeiro bolo da casa nova: banana, coco e pecãs

Eita.

Janeiro foi um mês de correria desenfreada, esforço além da conta, encaixota, desencaixota, arruma, organiza, joga fora, monta, compra, instala, conserta, anda prá lá, corre prá cá, carrega, leva, traz, limpa, esfrega, aspira, coloca no lugar.

E ainda não acabou.

O quarto ainda está sem lustre, minhas tralhas de arte ainda não têm armário, o quarto do bebê ainda é um depósito do que não tem lugar definitivo, o depósito ainda tem latas de tinta, a cozinha não tem prateleira embaixo da pia, e quase todas as minhas formas e panelas continuam dentro de uma enorme caixa de papelão, esperando seu destino final.

Não estivesse grávida, talvez estivesse tirando tudo isso de letra, mas confesso que não foram poucas as noites de pés inchadíssimos em que quis sentar no chão e chorar de exaustão. Não via a hora de poder olhar em volta e começar a me sentir razoavelmente em casa, ao invés de ter aquela estranha e inquietante sensação de estar morando na casa de praia de outra pessoa.

Saí tanto da minha rotina (e sou metódica, lembram?), que quando fui ao mercado pela primeira vez depois da mudança, não fazia a menor ideia do quê comprar para preencher a geladeira vazia. Senti-me como uma mocinha recém-casada que não sabe preparar arroz. Demorei alguns bons dias para restabelecer a força de vontade e a confiança em preparar uma refeição na cozinha nova: esse espaço estranho onde as coisas não estão em seu lugar e onde você ainda não sabe se movimentar direito.

Bem... o resultado da maratona toda foi que, além de desidratar um bocado na onda de calor da semana passada, fiquei anêmica. O médico não acreditava no resultado dos exames, feitos há alguns dias atrás. "Mas você come tão direitinho...", balbuciou ele. "Não esse mês", expliquei. Durante os 30 dias que o processo de mudança levou, vi minha dieta balanceada ser rapidamente substituída pelo que eu chamo de "O Modo Como os Outros Comem": muita comida pronta, muito take-out, muito pão com queijo, suco mequetrefe, refrigerante, comida rápida, restaurante. Detalhe: não estou falando de McDonald's e lasanha congelada, mas as opções TEORICAMENTE mais saudáveis do mundinho do industrializado. Aquelas que dizem não ter gordura trans e estar cheias de vitaminas.

Se por um lado fiquei enfurecida e chateada com o resultado dos exames (sem contar preocupada), por outro senti-me profundamente convicta de meu estilo de vida. Minha comida me deixava saudável. O Modo Como os Outros Comem, não. Para onde foi a vitamina C do suco de laranja de garrafa? Pro meu corpo é que não foi. Enquanto isso, minhas laranjas orgânicas, minha salsinha e meu espinafre nunca me deixaram na mão. Se eu já não acreditava em inserção de nutrientes em alimentos, em vitaminas isoladas, agora o negócio ficou feio.

Era o chute na busanfa que faltava para me jogar de volta ao fogão. Fui ao mercado e comprei tudo o que gostaria de ter preparado em janeiro e não pude, tirei algumas panelas da caixa e mãos à obra. A primeira garfada no arroz integral com noz moscada e pecãs, omelete e salada de tomates orgânicos me fez suspirar e perceber o quanto eu sentira falta de minha própria comida. Há um frescor nela que não encontrei em nenhum outro lugar no mês que se passou.

Isso também me fez correr para minha estante de livros de culinária. Mesmo mandando alguns volumes embora, eu continuava acreditando que havia mais livros ali do que deveria. Eles continuavam ocupando duas fileiras, uma atrás da outra, nas prateleiras, e isso me incomodava. Em contraste com o que já estava organizado na sala, aquilo parecia incrivelmente entulhado. Retirei todos do lugar então, e comecei a guardá-los novamente. Primeiro, meus favoritos. Depois, os que ainda estou explorando. E então me dei conta da quantidade de livros que andava guardando que estava sem uso. Não por serem ruins, mas porque não condiziam mais com o tipo de cozinha que, hoje em dia, mais me agrada. Passara pela fase de exploração de técnicas complicadas de confeitaria ou de pratos "práticos" ou excessivamente rebuscados, e, no meio do processo, encontrara meu nicho: confeitaria americana e italiana, bem confort food, e pratos muito frescos, não necessariamente rápidos de fazer, mas usando ingredientes bons e acessíveis.

Coloquei na pilha do UT todos aqueles que não entravam mais nessas categorias. E vi minhas prateleiras finalmente limpas, em fileira única, contendo apenas os livros que eu de fato uso e aprecio. Mais de 100 livros tornaram-se 70. Um bocado ainda, eu sei, mas eu realmente uso esses 70. Eu juro.

Reenergizada por essa limpeza e pela boa comida, achei que era hora de fazer minha cozinha nova ter cheiro de bolo. Antecipando a nova (e bem-vinda) correria que acontecerá daqui a 8 semanas (e também porque a tomada reservada para minha batedeira ainda não está funcionando), escolhi uma receita simples da dona Martha Stewart, que não apenas pode ser feita com uma colher, como faz dois bolos, um dos quais será congelado para uso posterior.

Foi muito bom ter agora o apoio de uma mesa na cozinha, além da pia e da bancada. Ver o livro de receitas aberto com espaço entre as tigelas, sem ficar caindo da beirada, foi reconfortante. Quando a casa se encheu do perfume quente de banana, coco e nozes, a sensação dos ladrilhos antigos na sola dos pés pareceu subitamente familiar. Ver o cão deitado sob a mesa da cozinha pareceu uma imagem habitual, e eu finalmente me senti em casa.

O bolo ficou fantástico. Muito macio e saboroso, cheio de texturas, perfumadíssimo. Comi duas fatias, uma após a outra. Posso agora retomar minha rotina. Minha cozinha, minha comida, meus legumes, meus bolos. Em dois dias comendo minha comida (que tem muito pouco sal), meus pés desincharam consideravelmente e meu humor melhorou um bocado. Nunca mais. Nunca mais vou comer dO Modo Como os Outros Comem. Principalmente agora, com mais espaço para minhas desventuras culinárias. É hora então de me preparar para mais um período em que não terei tempo ou forças para cozinhar. Mas desta vez, haverá muitos pães, bolos, caldos e bases de torta congelados. Tudo caseiro. Tudo de verdade. E meu bolo de banana.

BOLO DE BANANA, COCO E PECÃS
(do Livro Martha Stewart's Baking Handbook)
Tempo de preparo: 20 min. + 60 min. de forno
Rendimento: 2 bolos ingleses

Ingredientes:
  • 3 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 xic. açúcar orgânico
  • 1 1/3 xic. óleo vegetal
  • 2 colh. (sopa) extrato natural de baunilha
  • 1 1/2 xic. bananas maduras amassadas (cerca de 3 nanicas)
  • 1 xic. coco ralado
  • 1 xic. pecãs, tostadas e picadas
  • 1/2 xic. buttermilk (leite + uma colherinha de vinagre)

Preparo:
  1. Unte com óleo em spray ou manteiga duas formas de bolo inglês e pré-aqueça o forno a 180ºC. 
  2. Numa tigela, misture com um fouet a farinha, o bicarbonato e o sal. Em outra, misture os ovos, o óleo e o açúcar, até que fique homogêneo. 
  3. Junte a farinha à mistura de ovos, misturando com a colher apenas até que não se vejam mais pontos de farinha. Acrescente a baunilha, a banana, o coco, as nozes e o buttermilk e misture apenas o bastante para que fique tudo bem combinado. 
  4. Distribua nas formas, alisando com a espátula de necessário, e leve ao forno por 60-65 minutos, invertendo as formas no meio do tempo. Asse até que um palito inserido no centro dos bolos saia limpo.
  5. Retire do forno e deixe esfriar sobre uma grade por 10 minutos antes de desenformá-los. Remova das formas e deixe que esfriem completamente. Bem embalados, os bolos ficam em temperatura ambiente por 1 semana, ou congelados, por 3 meses.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um bolo de maracujá e uma homenagem aos blogueiros sem criatividade

Havia um maracujá de tempos imemoriais na minha geladeira. Eu lhe lançava um olhar de soslaio, esperando que ele me soprasse alguma ideia, uma inspiração, e nada. Uma andorinha não faz verão, ou, na versão frutífera, um maracujá não faz mousse. Mas ele estava me irritando ali, me olhando da prateleira de acrílico. Cada vez que abria a geladeira, aquela fruta amassada era um tapa na cara, um atestado de incompetência. Vai me deixar estragar? Vai? Pecado, viu?

Até que me lembrei de um conselho que dera há muito tempo atrás, talvez nos comentários do blog, talvez no Formspring. Sobre usar maracujá no lugar do limão em um bolo. E pensei imediatamente no meu bolo de limão siciliano favorito, receita da Nigella que fora minha nêmesis até me dar conta de que bastava deixar a manteiga em temperatura ambiente. De verdade. Não "meio" geladinha. E o bolo foi um sucesso todas as vezes que o preparei desde que aprendi a ser paciente e tirar a manteiga da geladeira com uma hora de antecedência.

Apanhei o livro. Preparei a receita ipsis literis, substituindo as raspas de limão por um nadinha de baunilha. Abri o maracujá quase maduro demais, raspei-lhe a polpa e passei por uma peneira, obtendo exatamente a quantidade de suco de que precisava, nem uma gota a mais, nem uma a menos. Fiz a calda. Hummm... o cheirinho da calda... Despejei no bolo quente e fiquei impacientemente voltando à cozinha por mais de uma hora para ver se o bolo estava completamente frio. O primeiro pedaço foi cheio de expectativa.

Expectativa correspondida. :) O bolo ficou bem molhadinho, perfumadíssimo de maracujá e encharcado aqui e ali de calda amarelo-forte, aromática e doce. Tão bom quanto a versão original, de limão siciliano, e assim como o o original esse foi comido quase que de um dia para o outro, apenas por esta gulosa que lhes escreve. Não podia deixar de dividi-lo aqui.

Agora que o post está escrito, com todas as minhas impressões a respeito do processo da receita, da experiência, do teste... uma pergunta: como alguém pode achar interessante copiar e colar esse texto inteiro em seu próprio blog e deixar passá-lo como seu? Exatamente qual é a vantagem? Pegar foto dos outros, eu até entendo: a pessoa não é boa com a câmera, gostou da foto, às vezes achou no Google Images (a maldição) e o mundo está tão cheio de espertalhões quanto de pessoas que ignoram que direitos autorais vigoram também na Internet, e que nenhuma imagem surgiu por combustão espontânea, elas foram criadas por alguém.

Agora... texto??? Já vi muito passo-a-passo meu (e de outros blogs) espalhados por aí. Com créditos (thank you!) e sem créditos (go f*ck yourself!). Mas quando você copia um texto que diz "eu e meu marido...", "meu cachorro Gnocchi...", "porque eu estava fazendo uma ilustração pra um cliente...", ou mesmo falando sobre experiências pessoais com uma receita, memórias gustativas, livros favoritos e afins... que diabos??? Alguém me explica qual é a vantagem de se roubar o "diário" de outra pessoa?

Até que ponto essa coisa de "ter um blog" chegou? O importante é TER o blog. Gastar meio neurônio e cinco minutos para produzir conteúdo, aí é outra história, acho que é difícil para quem não tem meio neurônio sobrando. Se o seu blog inteiro é feito de conteúdo de terceiros, sem nem mesmo uma opiniãozinha sua a respeito, então, cara, por que diabos você está perdendo seu tempo? Vai fazer outra coisa, vai ler um livro, ver um filme, trabalhar, brincar com o cachorro... ou melhor: que tal começar a de fato cozinhar e criar suas próprias experiências??? Hein?

É uma questão de ego? Você quer falar pros outros que você tem X mil acessos? Uau! Você tem sérios problemas. Do que mais você leva crédito sem merecer?

Crédito. Palavrinha hoje que parece estar associada só a um pedaço de plástico com chip. Que você usa para comprar coisas de que não precisa, para parecer o que você não é. Coisa mais importante do mundo hoje em dia: parecer alguma coisa. Parecer inteligente, parecer bom fotógrafo, parecer bonito, parecer rico. Mas ai de quem de fato se esforça para aprender alguma coisa, fazer um curso, cuidar da alimentação, ganhar dinheiro trabalhando. Mais fácil repetir citações da Veja, usar foto dos outros no seu blog, fazer lipo de vez em quando e comprar bolsa falsificada pra parecer de grife. Coisinha irritante.

O que me impede de ficar de mal humor pelo resto do dia é saber que não importa quantos textos ou imagens você roube. Haverá sempre gente genuinamente inteligente e capaz produzindo mais. E ao produzirem mais, essas pessoas pesquisam mais, experimentam mais e aprendem mais. E apenas por isso estão destinadas a serem seres humanos muito melhores do que você, tadinho, incapaz de escrever uma linha coesa do próprio punho, incapaz de expressar uma opinião que seja verdadeiramente sua, incapaz de criar. Qualquer coisa.

Vocês não precisam ir lá no site da pessoa. Mas esse post é em homenagem a todos os blogueiros (e seres humanos) sem criatividade e vontade de auto-aprimoramento por aí. De culinária ou não.

Agora vamos fazer bolo de maracujá e ficar calminhos, porque stress não leva a nada e o dia está bonito.

BOLO DE MARACUJÁ
(adaptado do livro How to be a Domestic Goddess, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1 hora + tempo para o bolo esfriar
Rendimento: 1 bolo inglês (cerca de 8 porções)

Ingredientes:
  • 1/2 xic. manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. + 1 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1 xic. + 1 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de fermento
  • 1/8 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1 pitada de sal
  • 4 colh. (sopa) leite integral
(xarope)
  • 4-5 colh. (sopa) de polpa de maracujá, sem as sementes (1-2 maracujás, dependendo do tamanho)
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC, unte uma forma de bolo inglês padrão (cerca de 10x21cm), e forre o fundo e as laterais com papel-manteiga, deixando uma boa beirada de papel para facilitar na hora de desenformar.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira em velocidade média, por alguns minutos, até que fique claro e cremoso. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  3. Junte aos poucos a farinha, então o sal, o fermento e o bicarbonato, até ficar homogêneo. Junte o leite e bata apenas até que fique homogêneo.
  4. Despeje na forma, alise a superfície e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado (o bolo pode afundar ligeiramente no centro) e um palito inserido no meio saia limpo. Enquanto o bolo assa, coloque a polpa de maracujá e o açúcar numa panela e leve ao fogo baixo, até que o açúcar esteja completamente dissolvido.
  5. Retire o bolo do forno e espete toda a superfície com o palito, sem dó, até o fundo. Despeje a calda de maracujá de modo uniforme, inclusive nos cantos e laterais (deixe as abas de papel p/ cima, para impedir que escorra p/ fora) e deixe o bolo esfriar completamente e absorver a calda.
  6. Quando estiver totalmente frio, puxe o bolo para fora pelas abas de papel e descole-o com cuidado, pois o bolo é macio e quebradiço.

Cozinhe isso também!

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