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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Oh, my darling Clementine... cake.


Oh, yeah, eu ousei e fui direto no cliché no título!!! ;)
Bolo de tangerina da Nigella.

Desde que as danadas das mexericas (orgânicas) surgiram no mercado, eu estava pensando em bolo de mexerica. E sempre quis preparar este bolo bizarro de Nigella, que leva mexericas inteiras, com casca, fiozinhos brancos e tudo.

No entanto, como há ainda outras gostosuras na fila, não quis preparar o bolo inteiro, e resolvi cortar a receita pela metade e estrear minha pequenina forma de 16cm. De tudo absolutamente certo, não fosse eu abrir o forno antes do tempo (uma vez que eu não sabia quanto tempo demoraria para assar um bolo tão pequeno), o que fez com que ele afundasse um tantinho no meio.

Sem problemas, o bolo ficou delicioso mesmo assim. Perfumado de mexerica, úmido, macio e com aquele gostinho inconfundível de amêndoas. Ótimo bolo para quem não quiser usar farinha de trigo.

BOLO DE TANGERINA
(adaptado daqui)
Tempo de preparo: 2h + 1h
Rendimento: 6 fatias pequenas ou 4 generosas


Ingredientes:
  • 1-2 mexericas (±190g)
  • 3 ovos
  • 115g açúcar
  • 125g amêndoas moídas
  • 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
Preparo:
  1. Cubra a mexerica inteira com água, leve ao fogo, tampe e deixe cozinhar por 2 horas. Escorra, corte a fruta ao meio e retire as sementes. Bata o restante da fruta (polpa, fiapos, casca) no liquidificador até que fique um purê homogêneo.
  2. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte com manteiga e forre com papel-manteiga uma forma redonda e alta, de 16cm de diâmetro.
  3. Bata os ovos na batedeira até que fiquem claros e fofos. Ainda batendo, adicione o açúcar, em seguida as amêndoas e o fermento.
  4. Com uma espátula, incorpore rápida mas delicadamente o purê de mexerica.
  5. Despeje a mistura na forma e leve ao forno por 30-35 minutos, até que esteja dourado e um palito inserido no centro do bolo saia limpo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Bolo de coco e doce-de-leite para meu pai

Assim que o aniversário de meu pai se aproximou, prontifiquei-me a fazer um bolo. Como meu pai não é muito fã de doces, minha mãe ficou chocada quando ele não só deixou que eu lhe preparasse o bolo como ainda escolheu o sabor. Ele o tinha assim, na ponta da língua, tão logo perguntei: "coco com recheio de doce-de-leite".

Como, mas COMO eu poderia ignorar esse pedido?

Confesso que, como os tempos andam meio conturbados, a escolha do tipo de bolo de coco foi um pouco afetada pelos quesitos "tempo" e "dificuldade"... Havia três opções:
  1. preparar minha génoise clássica, adaptando-a para virar uma génoise de coco;
  2. preparar uma receita de bolo de coco da Nigella, despretensioso;
  3. ou preparar o bolo de coco do livro Sky High, que parecia mais rico, por levar leite de coco na massa.
Pensa, pensa, pensa.
  1. Vai que a adaptação torna o bolo seco demais? Se não der certo, não vai dar tempo de fazer outro.
  2. Tem coco ralado e Malibu (rum de coco) na despensa, ambos itens da receita. E o bolo parece simples e direto ao ponto.
  3. Ando meio desestimulada a usar leite de coco, depois que descobri que todas, TODAS as marcas disponíveis em São Paulo engrossam seu leite de coco com Goma Guar. Engraçado, porque, ao meu ver, quando eu compro leite de coco, eu quero leite de coco, e não leite de coco com sementes, algas ou milho, que são as principais matérias-primas das gomas. Aliás, acho que isso é propaganda enganosa, assim como os iogurtes engrossados com amido. Pois é, iogurte de milho. Assim como por lei, requeijão só pode ter esse nome no rótulo se for uma fórmula XYZ, acho que só podia dizer "leite de coco" ou "iogurte" o que tiver SÓ leite de coco na garrafa e APENAS leite e fermento lácteo no potinho. Estou pensando em reclamar no Procon. Mas estou digredindo. Nada de leite de coco, então.
Ok, receita decidida. Nigella é isso aí. Os bolos foram preparados muito facilmente e, ainda que tenham ficado no forno uns 8 minutos a mais que o tempo estipulado na receita, ficaram macios e perfumados. Fiquei com medo, no entanto, que o coco neles, apenas presente em forma ralada, fosse muito pouco, e resolvi banhá-los num xarope de Malibu antes de montar o bolo. Recheei-os com doce-de-leite puro, sem nada mais, e levei à geladeira enquanto preparava a cobertura.

A receita original de Nigella usava glacê instantâneo. Bem, eu gosto de um desafio, e fui atrás da receita do glacê, que, por acaso, estava em outro livro dela. Acabei optando por misturar sua receita com a do Professional Baking, uma vez que Nigella usava glicerina ao invés de cremor tártaro, e apenas o último constava em minha despensa.


Um erro de cálculo durante o preparo, no entanto, fez com que usasse cerca de metade do açúcar de que eu precisava, e o glacê , apesar de saboroso, não secou como deveria, ficando ainda mole como chantilly firme. No entanto, o erro foi para melhor, uma vez que a cobertura ainda mole tornou o bolo mais úmido. Como ele é doce, porém, e o bolo já levava doce-de-leite, fiquei com receio de que muita cobertura o deixasse enjoativo, e acabei não usando tudo, passando apenas uma fina camada do creme, como é possível ver na foto. Bobagem minha, poderia ter usado tudo tranquilamente. Quem não se sentir confortável em usar claras de ovo cruas, pode simplesmente substituir a cobertura por chantilly caseiro aromatizado com Malibu e polvilhar o coco ralado por cima.

O bolo ficou muito gostoso e o coco ficou sutil, apesar de todo o coco ralado com Malibu, cujo teor alcoólico é imperceptível no contexto. Aprovado e anotado, para ser repetido numa próxima vez.


BOLO DE ANIVERSÁRIO DE COCO E DOCE-DE-LEITE

(adaptado do livro How to be a domestic goddess, de Nigella Lawson)
Rendimento: 16 fatias
Tempo de preparo: 3 horas


Ingredientes:
(bolos)
  • 1 xíc. (200g) de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 3/4 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 4 ovos grandes
  • 1 1/3 xíc. farinha de trigo
  • 2 colh. (sopa) amido de milho
  • 1 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1 pitada generosa de bicarbonato de sódio
  • 1/4 xíc. de coco ralado, de molho em 1/2 xíc. + 2 colh. (sopa) de água fervendo
(xarope)
  • 2 colh. (sopa) açúcar
  • 2 colh. (sopa) água
  • 2 colh. (sopa) Malibu
(recheio)
  • 1/2 xíc. de doce-de-leite
(cobertura)
  • 1 clara de ovo
  • 175g açúcar de confeiteiro
  • 1 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 pitada de cremor tártaro
  • 2 colh. (sopa) Malibu
  • coco ralado para polvilhar
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte duas formas redondas de 20cm com manteiga.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira até ficar cremoso e fofo.
  3. Adicione os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  4. Numa tigela, peneire juntos a farinha, o fermento, bicarbonato e amido. Junte-os em três ou quatro partes ao creme da batedeira, incorporando bem.
  5. Adicione o coco ralado com a água, misture até que fique uniforme e distribua a massa entre as formas. Parecerá que é muito pouco, só um dedinho de massa, mas os bolos vão crescer.
  6. Leve ao forno por 25 minutos, ou até que estejam ligeiramente dourados, afastados das bordas da forma e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe que esfriem na forma por 10 minutos, então desenforme sobre uma grade e deixe que esfriem completamente.
  7. Em uma panela, misture os ingredientes do xarope e leve ao fogo médio até que o açúcar tenha se dissolvido. Desligue o fogo e deixe que esfrie. Banhe os bolos frios com o xarope.
  8. Coloque um dos bolos de cabeça para baixo em um prato. Se o doce-de-leite estiver muito firme, bata com uma colher até que fique mais molinho. Espalhe-o de forma uniforme sobre o bolo, deixando 0,5-1cm de borda. Posicione o segundo bolo de cabeça para cima sobre o recheio, com cuidado. Leve à geladeira enquanto prepara a cobertura.
  9. Bata a clara na batedeira até que comece a espumar, e então acrescente metade do açúcar. Quando a mistura tiver crescido um pouco, vá acrescentando o restante do açúcar aos poucos, adicionando o restante dos ingredientes. Bata até atingir uma consistência firme de suspiro.
  10. Retire o bolo da geladeira. Derrame uma parte da cobertura no centro do bolo e espalhe com uma espátula, puxando para as laterais e deixando que escorra. Alise com a espátula para espalhar o creme pela lateral, sempre no mesmo sentido. Vá derramando mais creme e repetindo, até que todo o bolo esteja coberto de modo uniorme. Polvilhe o coco ralado por cima e um pouco nas laterais (ou muito se você quiser) e leve à geladeira até a hora de servir.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um bolo de maçã muito fácil para quando tudo de que você precisa é um bolo de maçã

E esfria. E chove. Chove só um pouco. E as nuvens estão inertes agora, ainda que tenham andado de um lado para o outro atarantadas durante toda a manhã. E mesmo observando o movimento contínuo e ensaiado do escritório em frente à janela de minha sala – porque eles estão sempre trabalhando ali, dia e noite, como se salvassem vidas com seus trabalhos – o universo em si parece ligeiramente suspenso. A vida flutua sem direção e sem apoio em torno de mim, talvez esperando por um movimento meu, talvez apenas... sendo. E venho para o computador e respondo alguns e-mails, tentando manter o foco na importância (importância?)
de meu trabalho. Outros e-mails mantêm-se no limbo, no purgatório das bandeirinhas cor-de-laranja, lembrando-me de que preciso respondê-los. Um dia. Não hoje. Duvido que amanhã. Fecho os olhos por um instante, e quando os abro novamente me surpreendo pelo mundo ainda estar ali.

Não há nada para ver na TV. Não quero ler agora. Sento à minha mesa de desenho, puxo uma folha e ela volta quase que imediatamente ao topo do bloco, ligeiramente amassada na ponta. Não há nada a ser desenhado. Não hoje. Duvido que amanhã. Embrenho os dedos nos cabelos, massageando o couro cabeludo, cotovelos apoiados à mesa, e suspiro. O ar entrando e saindo assim controlada e vagarosamente me lembra de que preciso respirar.

Vou à cozinha sem pressa. O cão me segue, se espreguiçando pelo caminho. Ele é controlador, e gosta de saber onde estou o tempo todo. O splash-splash que ele produz ao beber água de sua tigela é reconfortante contra o zumbido contínuo da geladeira. Preparo um chá. Chá verde, meu favorito. Levo comigo a xícara fumegante e um pratinho vazio até a sala e olho por alguns segundos para aquele bolo quadrado, ainda morno. O cão me distrai ao subir no sofá e despencar ruidosamente em uma de suas posições de soneca favoritas. Mas ao invés de fechar os olhos, ele continua ali, me encarando, esperando que eu me decida enfim por um lugar e fique nele. Você vai cortar esse bolo ou não?

O bolo é macio e faz sujeira ao ser cortado, espalhando migalhas macias e redondas pela mesa. O cheiro de maçãs ainda quentes e amêndoas me desperta. Sinto-me satisfeita, uma satisfação serena, como todas as vezes em que meus bolos dão certo. É mais como um alívio, na verdade. Carrego comigo o chá e o bolo e me acomodo no sofá, ao lado do cão, que suspira — meu cão suspira — e fecha os olhos, relaxando sobre as almofadas.

O bolo tem gosto de café-da-manhã. Como uma tigela de aveia, maçãs, passas e amêndoas, mas transformada em algo melhor. Quando você se sente desconectada de tudo, ele a traz de volta à terra apenas o suficiente para apreciar o perfume de canela e baunilha. O chá quente limpa o paladar para que a próxima mordida seja como se fosse a primeira. Por um breve instante isso é a coisa mais importante do mundo para mim: chá e bolo no sofá.


BOLO MUITO FÁCIL DE MAÇÃ

(Ligeiramente adaptado do livro Baking - From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 16 pedaços


Ingredientes:
  • 1 xíc. leite integral
  • 1 ovo grande
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) essência de amêndoas
  • 1 3/4 xíc. farinha de trigo
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 xíc. açúcar mascavo
  • 3/4 xíc. aveia em flocos
  • 1 maçã Gala com casca cortada em cubinhos pequenos
  • 1/2 xíc. amêndoas picadas
  • 1/3 xíc. de uvas-passas

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Unte e enfarinhe uma forma ou assadeira quadrada de 20cm.
  2. Derreta a manteiga e deixe que esfrie. Numa tigela, junte a manteiga derretida, o leite, o ovo, as essências, e misture muito bem.
  3. Em outra tigela, junte a farinha, o fermento, o bicarbonato, canela, açúcar cristal e sal e misture muito bem. Junte o açúcar mascavo e misture bem, não deixando nenhuma pelota. Junte a aveia e misture mais uma vez.
  4. Junte a mistura líquida à seca e misture com uma espátula apenas o suficiente para que fique uniforme. Junte a maçã, as amêndoas e as passas e misture pouco, apenas para espalhá-las.
  5. Espalhe a massa na forma, alisando com a espátula, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Transfira a forma para uma grade e deixe esfriar por alguns minutos antes de desenformar. Sirva morno ou em temperatura ambiente.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Bolo de limão em forma que funciona é bem mais gostoso!

Quem passa por aqui com freqüência e há um certo tempo [e eu sei que a trema caiu, mas eu gosto dela e vou ser que nem aquelas velhinhas que ainda escrevem xícara com "ch", que era tão mais bonito que com "x"]... peraí que esse aposto me fez perder o fio do pensamento. [*Suspiro*] Quem passa por aqui com frequência [ó aí, ó: "frequência???" Coisa feia...] e há um certo tempo sabe do nervoso que passo a cada vez que decido fazer um bolo. Passa manteiga, forra com papel, checa a temperatura... e o bolo sai queimado. Sempre. Achava que o problema era o forno, a cozinheira, a receita, o processo, arrancava os cabelos, ficava com raiva, jogava o bolo na parede. Até o dia em que comprei o livro Sky High, apenas de bolos de camadas, e descobri que meu problema eram as formas. Ou melhor, sua cobertura anti-aderente.

Primeiro, que não são anti-aderentes coisa nenhuma. Você continua tendo de untar tudo, corre o risco do seu bolo grudar e ainda por cima não pode passar faquinha para desgrudar, ou corre o risco de riscar a cobertura anti-aderente e estragar a forma. No entanto, elas são pretinhas e lindas, e quando você olha para elas e não sabe muito sobre o assunto, de fato acredita que delas sairão maravilhas da confeitaria. Eu caí na pegadinha. Várias vezes. Todas as minhas formas de bolo eram pretinhas e lindas.

O que dizia no livro, e fazia todo sentido para mim, era que as formas com anti-aderente preto conduzem o calor de forma diferente, nem sempre por igual, o que faz com que muitas vezes o bolo comece a queimar no fundo e nas laterais antes de estar de fato pronto. A autora recomendava usar boas formas de alumínio, ótimos condutores, ou, pelo menos, formas com anti-aderente cinza, essas sim sensacionais.

De fato, as formas com anti-aderente cinza escuro que possuo (muffins, mini-muffins e bundt de 2 tamanhos) são absolutamente perfeitas. Nunca me deram problema nenhum. Já as pretinhas... foram muitas hecatombes na cozinha até que me desse o siricutico final. Percebi que perdera a vontade de fazer determinados bolos por conta delas, e isso para mim era a gota d'água.

Apanhei meu rico dinheirinho e fui a uma loja especializada em tranqueiras de restaurante com o intuito de substituir as malditas pelas boas e velhas formas de alumínio que nossas avós sempre usaram. Sem frescuras. É lógico que saí da loja com mais do que planejava. Levei para casa 3 formas redondas de 20cm, para que meus bolos finalmente tenham 3 camadas e não apenas 2, uma forma quadrada de 20cm, com fundo removível, para fazer meus brownies devidamente quadradinhos, um salva-bolos (que fará também de pá de pizza), um jogo de canolas de metal para enfim produzir cannoli, uma espátula de confeitar nova, uma assadeira onde de fato cabe meu silpat, um anel de 20cm para montar meus bolos de 3 camadas e uma forma de pão-de-forma com tampa, para que ele fique quadradinho-quadradinho, sem que eu precise ficar empilhando tigelas sobre assadeiras em cima da forma dentro do forno, que além de dar trabalho é um destastre em potencial. [Ainda preciso voltar lá e pegar as redondas de 23cm, e duas de mola, de 20 e 23cm, que eles não tinham àquele dia. Ó o prejú.]

Desde aquele dia estou olhando para minha forminha quadrada, lindinha, esperando que o bustrengo acabasse para que pudesse preparar algo nela. Então, nesse sábado, como quem não quer nada...

"Allex?"
"Diga."
"Se você fosse comer um bolo, ele seria do quê?"
"De limão."
"Limão? Normal? Tipo aqueles de vó? Aqueles de assadeira?"
"É, com a casquinha de açúcar."
"Ok."

Era o bolo perfeito para a forminha quadrada. Fuça, fuça, fuça, procura, procura, procura, e nada de receita de bolinho de limão com casquinha de açúcar. Então lembrei que possuía sim a receita, mas estava nos cadernos de minha avó, emprestados para minha prima. F*ck. Pensa, pensa, pensa. Lembra da minha avó fazendo o bolo. Lembra do bolo em cima da mesa, cortado em quadradinhos. Lembra do gostinho de limão. Lembra da minha vó chamando o bolinho de "pandeló", assim, tudo junto, como ela sempre falava, pronunciando muito bem as consoantes. Pão-de-ló? Sponge cake? Génoise? Ok, é uma receita.

Usei a receita de génoise do Professional Baking, que se tornou minha receita-base sempre que nenhuma receita pronta me satisfaz. Já havia feito as anotações à lápis com as quantidades corretas para um bolo de 20cm, e desta vez apenas acrescentei a manteiga, para uma textura mais fofa, e as raspas de limão. Fiquei insegura em adicionar o suco já na produção, e decidi que seria mais interessante acrescentá-lo como xarope depois do bolo pronto. Isso, no entanto, excluiria automaticamente a casquinha de açúcar que Allex queria. Pensa, pensa, pensa. Ah, vamos fazer o bolo sem o suco. Se ele ficar seco, faço o xarope; se ficar úmido, faço a casquinha.

A génoise assou maravilhosamente bem, desenformou facinho, não queimou [iêeei!!!], e já estava perfumada mesmo sem a adição do suco de limão. No entanto, eu podia ver pela textura que ele se beneficiaria mais da absorção do xarope do que de uma cobertura de açúcar, então abdiquei da casquinha em nome da textura e do perfume. Fiz o xarope, despejei sobre o bolo e deixei que ele o absorvesse durante à noite.

Bom, não preciso falar aqui sobre as maravilhas dos bolos simples de limão. Apenas que é um excelente bolinho de café da manhã. Perfumado, azedinho-doce [refrescante, segundo o marido], e muito, muito leve e macio. Tanto, que se corre o risco de comer o bolo inteiro assim, aos bocadinhos, se ele estiver, digamos, ao seu lado, na mesma mesa em que você deixou seu laptop, e onde está escrevendo um post sobre bolo de limão. Ê, lasqueira. Mas ainda preciso apanhar a receita da vó, para fazer o bolo com a cobertura de açúcar, porque agora quem ficou com saudades daquele bolinho fui eu.

De qualquer forma, agora estou morrendo de vontade de voltar para todas as receitas de bolo que deram errado (em especial as de Pierre Hermé, do livro Larousse do Chocolate), e ver se ele se redime com as formas de alumínio. Será?

BOLO SIMPLES DE LIMÃO
(Adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 1 hora + 4-8 horas para absorção da calda
Rendiemento: 4 fatias


Ingredientes:
  • 2 ovos extra-grandes em temperatura ambiente
  • 110g açúcar cristal orgânico
  • 75g farinha de trigo
  • 25g manteiga sem sal
  • casca ralada de 1 limão grande
  • 1 pitada de sal
(xarope)
  • 4 colh. (sopa) suco de limão
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte uma forma quadrada de 20cm com manteiga.
  2. Se os ovos não estiverem em temperatura ambiente, deixe-os em água morna por 5 minutos. Cuidado, pois se a água estiver muito quente, você cozinhará os ovos. Derreta a manteiga e reserve.
  3. Bata os ovos em velocidade alta na batedeira, até que comecem a aumentar de volume e ficar claros. Enquanto isso, esfregue as raspas de limão com o açúcar, usando as pontas dos dedos, até que esteja bem misturado e aromático. Junte esse açúcar e o sal aos ovos e continue batendo, até que triplique ou até quadruplique de volume.
  4. Peneire a farinha e acrescente-a aos poucos, misturando bem mas tomando cuidado para não perder o volume. Pode fazer isso com uma espátula se preferir. Junte a manteiga, incorporando bem.
  5. Coloque na forma. Leve ao forno por 20 minutos até que o bolo esteja dourado, afastando-se das laterais da forma, e que um palito inserido em seu centro saia limpo. Retire o bolo e deixe descansar por 15 minutos ainda na forma. Desenforme e deixe esfriar sobre uma grade.
  6. Enquanto isso, coloque o açúcar e o suco de limão em uma panela e leve ao fogo baixo até que o açúcar pareça dissolvido. Deixe amornar um pouco. Fure o bolo em diversos lugares com um palito e despeje o xarope por todo ele, de modo uniforme. Deixe que o bolo absorva o xarope por algumas horas antes de cortá-lo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Bustrengo: o doce italiano com jeito de palavrão


Gosto da cozinha sazonal, e por isso mesmo tinha vontade de preparar um bolo de reis no dia 6. No entanto, bateu em parte preguiça e em parte mão-de-vaquice para comprar os ingredientes que faltavam, e acabei preparando um bustrengo no lugar, porque a única coisa que faltava na despensa eram maçãs.

Acordara ontem com uma vontade preocupante de comer algum doce que levasse os deliciosos figos secos que habitavam minha geladeira. Fuçando em todos os meus livros, fiquei entre um bolo simples de Martha Stewart, o bustrengo de Jamie Oliver e o bostrengo do Culinária Italia. Não, não foi um erro de digitação. Apesar de ambos os nomes derivarem de "bustreng", uma palavra dialetal que se diz de origem "bárbara", são doces diferentes de diferentes regiões. O primeiro, típico da Romagna, é um bolo úmido de polenta e frutas secas. O segundo, de Le Marche, mais ao sul, ainda que leve também frutas secas, tem o arroz como base. Pensei ali, pensei aqui, e escolhi o doce romagnolo.

Apanhei meu rico dinheirinho e fui ao supermercado comprar maçãs. Chegando lá, ao me deparar com a gôndola repleta dos diferentes tipos da fruta, lembrei-me do capítulo sobre maçãs do novo livro de Heloísa Bacellar. Confesso que, numa primeira olhada, tinha achado o livro meio "raspa de tacho". Foi só numa segunda folheada mais minuciosa que descobri que ele tem sim muito a oferecer. Só que a maioria das preciosas informações não estão nas receitas, mas nos longos textos que as precedem... No tal capítulo, ela discorre sobre os diferentes tipos de maçãs, suas características e serventias, de um modo que às vezes sinto que falta em outros livros de culinária. Além disso, ensina a congelar cascas, miolos e cabos das maçãs para que depois virem geléia. Isso muito me interessa. Outro dia mesmo congelei as cascas de um abacaxi inteiro, que posteriormente viraram um chá gelado incrivelmente aromático. Nada se joga fora.

Sempre que compro maçãs é a mesma coisa. Vou direto nas Fuji, minhas (até então) favoritas para comer cruas, crocantes e ácidas. Já tinha provado das Gala, e se tenho certeza de uma coisa em minha vida é de que não gosto de maçã Gala: acho sua textura muito granulosa. Se experimentei de outras maçãs, não me lembro, pois nunca havia prestado atenção a seus nomes, e só sabia que havia maçãs "gostosas" e maçãs "não tão gostosas". Resolvi tirar a prova. Apanhei algumas Red Delicious, outras Granny Smith e umas Fuji como grupo de controle. Voltei para casa e abri-as todas, experimentando um pedacinho de cada uma, dando-me conta de que só assim era possível avaliar suas diferenças de forma mais objetiva.

A conclusão foi: adoro a Red. Comeria uma bacia delas. Das Granny Smith (maçã verde), já fui mais fã quando nova; hoje em dia elas são um pouco ácidas demais para mim. Agora espero encontrar outras espécies no mercado, para poder continuar a experiência. Tão besta, tão óbvio, que me sinto uma idiota por ter comprado maçãs tão no piloto automático nos últimos anos.

Voltando ao bustrengo, confesso ter começado a receita com certo receio, uma vez que Jamie Oliver nem sempre acerta a mão quando o assunto é panificação e confeitaria. Desta vez, no entanto, ele acertou em cheio. Esse é exatamente o tipo de doce que adoro [assim como minha mãe, que ganhou metade do bolo]: não muito doce, bastante aromático, cheio de frutas secas, e cuja complexidade vai se revelando aos poucos, a cada mordida. Primeiro a textura da polenta, então as raspas de laranja, a maciez da maçã, as sementinhas dos figos explodindo na boca.

Comi, fotografei e não via a hora de escrever a respeito. Mas antes, um pouco de pesquisa. Sabe como é, eu não queria simplesmente repetir o texto do livro, e queria ter certeza da origem do bolo, uma vez que já conhecia a versão de arroz, mas não a de polenta.

Pesquiso aqui, pesquiso ali, descubro um portal da Romagna. E uma receita de bustrengo. Bem... não uma. "A" receita de bustrengo. Igual à do Jamie. Ou seria o contrário?? Tchan-tchaaaan...!

BUSTRENGO
(do livro Jamie's Italy... ou do site da Romagna. Mistério...)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 8-16 fatias


Ingredientes:
  • 100g farinha de milho para polenta
  • 200g farinha de trigo
  • 100g farinha de rosca
  • 100g açúcar cristal orgânico
  • 500ml leite integral
  • 100g mel
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 55ml azeite extra-virgem
  • 100g figos secos cortados em pedaços
  • 100g de passas (claras ou escuras)
  • 500g maçãs firmes, sem casca, cortadas em pedaços pequenos
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • casca de 2 laranjas
  • casca de 2 limões
  • 1 colh. (chá) sal

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 28cm, de fundo removível.
  2. Misture a polenta, a farinha, a farinha de rosca, o sal, a canela e o açúcar em uma tigela grande. Em outra, misture o leite, os ovos, o mel e o azeite.
  3. Junte a mistura líquida à seca, mexendo até que fique homogêneo. Adicione o restante dos ingredientes, misture novamente e despeje na forma. Asse por 50 minutos, ou até que um palito saia limpo quando inserido no centro. Polvilhe com açúcar de confeiteiro e sirva morno.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Chega de resoluções. Muitos brownies para você.


O ano novo passou [feliz ano novo, aliás!], minhas mini-férias terminaram, estamos no dia 4 de janeiro e me dei conta de que não tenho resoluções de ano novo. As de 2008 continuam coladas à geladeira por pura displicência. E os resultados?

Meditar mais. Meditei mais? Consideravelmente. Ponto positivo para mim. Mas ainda bem que a resolução não era "meditar todo dia".
Beber menos. Hmmm... pula essa.
Emagrecer (meta 62kg). Emagrecer, emagreci. Um bocado. 8,5kg até o momento. [Ou pelo menos até antes do Natal.] A 62kg não cheguei, mas a nutri disse que isso seria difícil, uma vez que ando ganhando musculatura... Ok, então. Dou essa como cumprida.
Não faltar na corrida. Estrelinha dourada na testa dela! Pelo menos no último semestre...
Ler um livro não culinário por mês. Caca. Não deu. Vergonha. Vergonha enorme. Não sou mais a rata devoradora de livros que costumava ser. Mas esse ano eu fui engolida pelo trabalho, então dou um desconto. Era mais fácil ler o dia todo quando minha única obrigação era estudar.
Duplicar faturamento da empresa. Algo está muito errado quando você trabalha mais e ganha a mesma coisa. :P
Comprar uma casa. Pula. Depressão total.
Reclamar menos e agradecer mais. Check that!
Luv, luv, luv. Com certeza ando mais... hmmm... compreensiva com o mundo, suas idiotices e os idiotas que o habitam.
Terminar de usar pelo menos um livro de cozinha. Peraí que eu preciso de um tempo para parar de rir. Não só não consegui terminar livro nenhum, como ainda acrescentei pelo menos mais dez à minha biblioteca. Alguém conhece um Compradores de Livros de Culinária Anônimos?

Foram... [fazendo contas nos dedinhos] cinco sucessos em dez. Hmmmm... Ok, não foi tão ruim. Mas esse ano será diferente. 2009 será o ano em que Ana Elisa cumprirá todas as suas resoluções:

Cozinhar um bocado – Fácil!
Trabalhar o suficiente – Porque trabalhar muito faz mal à saúde.
Ler bons livros – Se eu comprar os livros certos.
Ver bons filmes – Se houverem. Ultimamente tá difícil...
Brincar com o cachorro – Sussa.
Correr um monte – Não vai ser esforço, porque já sinto falta quando não tem treino.
Meditar o quanto baste – Note como é um objetivo suuuuper mensurável...

Tá bom assim?

Ah, claro, ficou faltando uma: testar tantas receitas de brownies quantas existirem no mundo.

Achava que havia encontrado a melhor receita de brownies já inventada. No entanto, conforme fui comprando livros e vendo as sutis ou gritantes diferenças de uma receita para a outra, fui ficando curiosa, e hoje em dia, ainda que repita aquela primeira versão para quem a requisita, gosto de testar cada vez uma diferente, e ir fazendo notas mentais acerca de minhas favoritas.

Para o reveillon na casa de um amigo, eu ficara responsável por levar algumas pastinhas para comer com pãozinho e, não me contendo, resolvi preparar uma receita de brownies de Alice Medrich. No entanto, a receita pedia uma forma quadrada de 8 polegadas, que é bastante pequena, e, na pressa, errei o cálculo mental da conversão de medidas e acabei usando uma forma muito maior do que deveria. Por conta disso, os brownies ficaram finos e densos como cookies, e queimaram um pouco embaixo. Uma pena.

Quando então vieram amigos almoçar conosco [um deles faz faculdade de gastronomia e resolver cozinhar para nós, o que foi ótimo], quis repetir a dose, mas não quis repetir a receita. Usei uma que estava logo ao lado da primeira, no mesmo livro, e que me havia chamado a atenção por ser um brownie feito apenas de cacau em pó, sem chocolate derretido. O processo é muito fácil, como para qualquer brownie, e perfeito para sobremesas de última hora, uma vez que a manteiga é derretida com o cacau e o açúcar e os ovos devem ser gelados. Como não tinha uma forma quadrada de 8 polegadas, usei uma redonda de bolo, e cortei o brownie pronto em fatias ao invés de quadradinhos. O resultado foi um brownie muito denso, úmido, escuro e saboroso, bem menos doce que a versão a que estou acostumada. Nota mental: um dos meus novos favoritos. Preciso dizer para usar o melhor cacau que você encontrar? E, para os desavisados: CACAU EM PÓ NÃO ADOÇADO. Não chocolate em pó. Pelamordedeus.

BROWNIES DE CACAU
(do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 40minutos
Rendimento: 16 brownies


Ingredientes:
  • 10 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1 1/4 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 3/4 xíc. + 2 colh. (sopa) cacau em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/2 colh. (chá) essência de baunilha
  • 2 ovos grandes gelados
  • 1/2 xíc. farinha de trigo
  • 2/3 xíc. nozes picadas (opicional)

Preparo:
  1. Posicione a grade no terço inferior do forno e pré-aqueça a 160ºC. Forre uma forma quadrada de 20cm com papel alumínio. Não é preciso untar.
  2. Coloque a manteiga, o açúcar, o sal e o cacau em uma tigela e leve a banho-maria, mexendo de vez em quando com uma colher até que esteja derretido e homogêneo. Retire e deixe que amorne um pouco.
  3. Junte os ovos, um a um, misturando bem com uma colher ou espátula até que estejam bem incorporados. Junte a farinha e bata vigorosamente com a colher, até que a massa esteja homogênea, brilhante e grossa. Junte as nozes se estiver usando, e despeje a massa na forma, alisando com a colher para que fique bem espalhada.
  4. Leve ao forno por 20-25 minutos. Teste inserindo um palito no meio: ele deve sair ainda um pouco úmido. Retire e deixe esfriar completamente sobre uma grade. Usando as abas do papel alumínio, desenforme e corte em pedaços para servir.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Bolo de nada, ou bolo da meia-noite

Quando mais nova, costumava ter insônia. Uma insônia auto-induzida. Gostava de esperar que todos fossem dormir para ter um espaço – físico e de tempo – apenas para mim. Gostava do silêncio que a noite trazia, da quietude, da solidão voluntária, um momento em que, se eu quisesse, poderia ficar sentada no sofá da sala, ouvindo apenas minha respiração. Ninguém perguntando, pedindo, ordenando, falando, pisando, mexericando em coisas.

Às vezes, aproveitava a noite para ligar a tv e assistir às reprises dos programas que não conseguira acompanhar durante a semana. Outras vezes, apanhava um caderno e começava a fazer contas malucas e planos bizarros, tentando descobrir se aquele mês eu já teria dinheiro suficiente para me alugar um apartamento, pois sempre tive uma espécie de ânsia por independência e auto-suficiência não muito compatível com o resto de minha família. As contas sempre me faziam concluir que eu moraria ainda alguns anos com meus pais.

Na maior parte das vezes, no entanto, eu preparava xícara após xícara de chá e, ou colocava minha leitura em dia, ou me sentava em frente ao computador e escrevia ininterruptamente, uma enxurrada de frases e palavras, trinta, cinqüenta, cem páginas, até o nascer do sol, que eu observava da janela da área de serviço; um braço repousando de forma pouco confortável sobre a esquadria de alumínio, a outra mão segurando uma xícara de café com leite, para a qual usava de apoio provisório meu próprio antebraço. Devagar, enquanto sentia a base quente da xícara começando a queimar a pele de meu braço, o silêncio ia embora, com os primeiros ônibus da avenida às 5 horas da manhã, e então, uma hora depois, minha mãe ou meu pai acordando. Sabia sempre quem levantara primeiro pelo som arrastado ou apressado dos passsos de um e de outro. Reconheceria o som dos chinelos de meu pai batendo em seus calcanhares em qualquer lugar.

Desde que me casei, perdi esse hábito. Talvez trabalhar em casa já satisfaça minha necessidade anti-social de ficar sozinha. Apesar de não ter o silêncio daquela época (nem de dia nem de noite), é a quietude interna que parece restaurar meu cérebro e meu espírito. Pode ser muito relaxante passar um dia inteiro sem abrir a boca ou sem ouvir outra voz humana. Em dias com menos trabalho, sinto-me incrivelmente grata por poder preparar meu chá, sentar-me no sofá com meu laptop e escrever até me esvaziar inteira. Ou talvez eu tenha apenas sido abençoada com um relacionamento saudável, em que nos damos espaço para sermos nós mesmos, individualmente, e não apenas um casal, uma unidade inseparável e mutante, um terceiro, esquizofrênico e interdependente ser, como muitos casais que já conheci.

De qualquer forma, quando cheguei em casa já tarde da noite, surpreendi-me por não ter sono nenhum. Havia muito tempo que isso não acontecia, principalmente depois de ter começado a correr cedo todos os dias. Sentia-me irremediavelmente alerta e desperta, de um modo tal que você sabe que se revirará entre os lençóis por horas até que consiga fechar os olhos. Parei e olhei em torno de mim. Escutei. Era aquele silêncio novamente, a certeza de que o mundo inteiro dormia profundamente menos você. Apenas as luzes coloridas de Natal piscavam na sala. A cidade, do outro lado da janela entreaberta, era em grande parte escura.

Caminhei até o quarto, fechando cuidadosamente a porta para não acordar meu marido, e então fui à cozinha e liguei o forno. Apanhei um livro de Alice Medrich e escolhi um bolo para levar à corrida na manhã seguinte. Um "bolo de nada", como chama meu treinador ao se referir a bolos brancos simples. Enquanto o bolo assava, preparei um chá e liguei a TV para ver as reprises dos seriados que perdera.

BOLO DE AZEITE E MARSALA
(adaptado do livro Pure Dessert, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 1h30m
Rendimento: 1 bolo de 21x10cm (8 porções)


Ingredientes:
  • 1 1/2 xíc. de farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 1 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xíc. de azeite de oliva extra-virgem
  • casca ralada de 1 laranja
  • 2 ovos extra-grandes
  • 1/2 xíc. vinho Marsala

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e posicione a grade no terço inferior do forno. Unte e enfarinhe uma forma de bolo inglês de 21x10cm, mais ou menos.
  2. Misture a farinha, o fermento e o sal e peneire em uma tigela. Reserve.
  3. Na batedeira, bata o azeite, o açúcar e a casca de laranja até que esteja bem misturado. Adicione os ovos, um a um, batendo bem a cada adição, até que a mistura esteja espessa e clara, uns 5 minutos.
  4. Junte 1/3 da farinha, misturando devagar. Acrescente metade do vinho, misturando bem, e então continue intercalando, terminando com a farinha.
  5. Despeje a massa na forma e asse por 50 a 60 minutos, até que um palito saia limpo quando inserido no meio. Deixe esfriar na forma por 15 minutos antes de desenformar. Uma fatia desse bolo tostada na torradeira e com manteiga fica ótimo!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Bolo de maçãs e cramberries da Joy e uma mente sem sossego


Fazia tempo que não me sentia tão exausta. Por um lado, ando completamente elétrica: tenho tido dificuldades de parar, sinto que preciso estar fazendo alguma coisa o tempo todo. [Ayurveda explica: a perda de peso tornou-me uma pessoa menos letárgica, mais bem disposta e enérgica.] Isso tem sido muito conveniente para mim, uma vez que ando com mais tarefas, compromissos e atividades do que meu pobre dia de 24 horas comporta. O que é estranho para uma freelancer como eu, que costumo ter um bocado de tempo livre em relação a meus coleguinhas que trabalham em agências e escritórios. Por outro lado, tanta agitação tem tornado cada vez mais difícil encontrar cinco minutos (quanto mais 45) para meditar direito. E a falta da meditação parece tornar minha mente e meu corpo ainda mais elétricos, mas agora não de um jeito bom [Ayurveda também explica isso. Ayurveda rocks!].

Ontem foi um daqueles dias em que, apesar do cansaço, você se sente muito produtivo. Consegui correr, passear o cachorro, arrumar a casa, fazer pão (que não deu tempo no domingo), pagar minhas contas e trabalhar um bocado. Quando o dia terminou, estava orgulhosa por ter conseguido encaixar todos os trabalhos na semana e ter finalizado tudo dentro do prazo. Foi quando descobri que o arquivo no qual passara boa parte do meu dia trabalhando havia dado pau. Por algum motivo, ele não salvara. Eram nove horas da noite, e eu precisava sentar-me ao computador... e começar tudo de novo.

Como, no entanto, os deuses sabem o que fazem, identifiquei alguns erros que cometera no arquivo com pau e pude pacientemente corrigi-los em sua segunda versão, coisa que não teria dado tempo de fazer hoje. Fui dormir tarde e de mente agitada pela falta do período de desaceleração (aquela tv preguiçosa que você assite após o jantar), para acordar às 5h30 da manhã para meu treino pancada de quarta-feira.

Então, depois do treino, suada e ainda com sono, passeando o cãozinho, comecei a sentir meu corpo e minha mente desligando. Eu estava (estou) exausta. Voltei para casa e, apenas para provar a mim mesma o quanto ando tantan, liguei o computador para passar os arquivos da noite anterior para o lap que vai para o cliente à tarde. Enquanto isso, fui à cozinha, lavei a louça do café e comecei a preparar uma deliciosa receita de chá de Heidi Swanson para que gelasse durante o dia e eu tivesse algo gostoso para beber à noite.

E eu parei. Me vi em pé na cozinha, faca na mão abrindo um melão maduro para a sobremesa do almoço (às 10h da manhã!), e cansada demais para descansar. Eu entrara em um ritmo enlouquecidamente automático, e meu cérebro parecia ter desistido de formar qualquer pensamento contra.

Larguei tudo.

Caminhei até a sala.

Tirei as meias, sentindo a sola do pé no assoalho velho de madeira. Mais fresquinho.

Apanhei a faca, cortei um belo pedaço do bolo de maçãs e cramberries que fizera na segunda de manhã e mordi um pedaço. Hmmmmm...

Levei meu pedaço de bolo para o sofá, sentei e descansei.

Por cinco minutos, até resolver levantar e vir ao computador para escrever esse post.

Tantan. Tantan da silva.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Bolo puxa-saco que acabou não sendo

Dois bolos na mesma semana??? Hmmm... pois é. Fazer o quê? Como não ando podendo preparar doces simplesmente para mim, porque quero, porque sim, acabo usando os outros como desculpa. O de fubá fora a pedido do meu treinador, mas acabou indo aos pedaços para o café-da-manhã. Este é por conta de um aniversário. Há alguns meses tenho trabalhado como "freela-fixo" em uma empresa, e achei que seria bonitinho levar um bolinho sossegado, desses "lanche da tarde" para a cliente/chefe/amiga/aniversariante.

Acordei cedo, passeei o cão e comecei a buscar uma receita. Procura dali, procura de cá, acabei dando de cara com esse simplíssimo bolo de chocolate do How to Be a Domestic Goddess, que eu preparara há vários anos, ainda na casa de minha mãe. Lembro-me bem do bolo por causa da fotografia, mostrando uma série de fatias baixas e tortinhas de um bolo denso e escuro contra um fundo branco. Resolvera fazer o bolo àquele sábado por conta da vinda do Allex em casa. Começo de namoro... Eu ainda era muito pastel e sabia quase nada de cozinha, e hoje sei exatamente o que fiz de errado. Pois o bolo simplesmente não cresceu. Ficou gostoso, o danado, mas ele tinha apenas 3 dedos de altura, e eu insistia, defendendo-me das risadas de todos na casa, que a receita era assim mesmo, e que na foto o bolo também era baixo.

Aaaah... nada como muitos bolos errados para aprender a fazer um certo.

Fora tudo culpa da manteiga. A danada da manteiga que por tantas vezes colocou meus bolos a perder. Tudo porque eu não sabia que ela devia ser batida por muito tempo e devagar, para quebrá-la em partículas de gordura muito pequenas e facilitar sua dispersão na massa. Naquela época (e até pouco mais de um ano atrás) eu ainda incorria no erro de não batê-la o suficiente, ou não usá-la em temperatura ambiente, fazendo com que talhasse ao adicionar os ovos.

É sempre muito bom quando podemos nos livrar do preconceito contra uma receita, consertando nossos erros. No entanto, enquanto eu preparava a massa, um pensamento sutil apitava no fundo de meu cérebro: "Ela não vai comer o bolo. A aniversariante não vai comer o bolo."

Hmmm... Intuição interessante. Será que o bolo não vai dar certo?, pensava. Será que ela é alérgica a alguma coisa nele? Bem... o que quer que fosse, eventualmente viria à tona.

Bolo embalado, laptop na bolsa, cachorro de coleira pronto para passar a tarde na minha mãe, e toca o telefone. Era meu amigo/colega de trabalho, avisando que minha cliente/chefe/amiga/aniversariante resolvera dar-se uma folga e, portanto, cancelara a reunião daquela tarde.

Hmmm...

Olho para o bolo pronto, para o cachorro feliz mordendo a correia, para o telefone nas minhas mãos.

"Mãe? Faz um café que eu estou levando a sobremesa."

BOLO DENSO DE CHOCOLATE
(do livro How to be a Domestic Goddess)
Tempo de preparo:1h20
Rendimento: 1 bolo inglês de 22cm


Ingredientes:
  • 1 xíc. (100g) de manteiga sem sal amolecida
  • 1 2/3 xíc. açúcar mascavo orgânico
  • 2 ovos extra-grandes, orgânicos
  • 1 colh. (chá) essência de baunilha
  • 115g chocolate amargo de qualidade, derretido
  • 1 1/3 xíc. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de bicarbonato de sódio
  • 1 xíc. + 2 colh. (sopa) água fervendo

Preparo:
  1. Unte uma forma de bolo inglês com manteiga, forre com papel-manteiga e unte novamente. Pré-aqueça o forno a 190ºC.
  2. Bata a manteiga por uns 8 minutos na batedeira, até que esteja bem cremosa. Acrescente o açúcar aos poucos, batendo por mais uns 5 minutos.
  3. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição, e então a baunilha e o chocolate. Misture em velocidade mais baixa.
  4. Peneire a farinha e o bicarbonato em uma tigela e acrescente à massa em 4 vezes, alternando com a água fervente. A massa será bastante líquida. Despeje-a na forma e asse por 30 minutos. Abaixe o fogo para 160ºC e asse por mais 15 minutos. Um palito inserido no bolo pronto sairá ainda úmido.
  5. Coloque o bolo sobre uma grade para esfriar e deixe que esfrie completamente na forma por algumas horas ou, se possível, de um dia para o outro. Ele afundará no meio, por ser bastante denso. Desenforme com cuidado.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aaaaah... bolo de fubá...


Depois do chilique histérico que normalmente traz um marido preocupado à cozinha perguntando se eu me machuquei, costumo agradecer quando alguns desastres culinários acontecem. Eles me lembram de que sou humana e de que erro como todo mundo [ó o ego indo lá pra baixo, ó! Meu mestre de yoga ficaria orgulhoso!], e servem para lembrar a alguns amigos e principiantes no mundinho da colher de pau que não importa há quanto tempo você cozinhe: todos nós que pisamos na Terra estamos sujeitos a um vexame gastronômico, um erro crasso, uma vergonha culinária.

E o prêmio burrada do mês vai para a pressa que nos faz desenformar bolo fofo com tapas na forma para ver se ele resolve, assim, de repente, cair de uma vez.

Bom...

Ele caiu.

Metade dele, pelo menos.

Meu lindo, maravilhoso, perfumado e delicioso bolo de fubá foi esquartejado por minhas mãos apressadinhas. O pior de tudo é quando isso acontece não com algo, bem, "difícil" de fazer: mas com um bolo de liqüidificador, daqueles facílimos, infalíveis, ícones de nossa infância. Tudo para fazer o quê? Colocar a gente no nosso devido lugar, baixar nossa bola, desinflar nosso ego inflado, e, de quebra, receber um abraço gostoso do marido que entende — e só ele entende — porque um bolo esquartejado a deixa tão chateada. [E depois dá risada quando a encontra, quinze minutos depois, tentando montar o bolo de novo feito um quebra-cabeças.]

Essa receita básica de bolo foi a que comi, bem, minha vida toda. Minha mãe, que sempre foi adepta da política "se todo mundo gosta, por que vou arriscar novidade?", apenas substituía a xícara de farinha de milho (fubá) por chocolate em pó ou por farinha de trigo, quando queria aromatizá-lo somente com laranja ou limão. E sempre deu certo. E sempre foi ótimo. E eram sempre esses bolos que queríamos comer, e serão sempre esses bolos que me remeterão imediatamente à casa de meus pais.

A receita original era inteira em "copos". Tomei a liberdade de substituir por xícaras, uma vez que me lembrava da medida que minha mãe considerava um "copo".

BOLO DE FUBÁ DA TIA REGINA Rendimento: 1 bolo grande com furo no meio Ingredientes:
  • 3 ovos extra-grandes
  • 1 xíc. de óleo (milho, canola ou outro de sabor suave)
  • 1 xíc. de leite integral
  • 2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1 xíc. de farinha de trigo
  • 1 xíc. de farinha de milho fina
  • 1 colh. (sopa) rasa de fermento
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte e enfarinhe uma forma com furo no meio.
  2. Num liqüidificador potente ou numa batedeira, bata todos os ingredientes líquidos até ficar claro e homogêneo. Peneire em uma tigela os ingredientes secos e, com o liqüidificador ligado, vá acrescentando os secos de colher (sopa) em colher (sopa).
  3. Despeje na forma e leve ao forno por 40 min. a 1 hora.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Bolinhozinhoinho mármore de corrida (e de aniversário), e o bem que um pouco de yoga faz...


Passou, passou...

Era tanta a raiva mal resolvida por uma dezena de diferentes situações, que não me vira disposta sequer para escrever a respeito deste bolinhozinhoinho feito na última quarta-feira. Fico feliz que ao menos o bolo não tenha absorvido meu mal humor. Pudera, foi feito com carinho, num raro momento de paz.

Como não tive tempo nem paciência para preparar um bolo de aniversário para mim, fiz uso das comemorações de um amigo da corrida para sanar minha vontade de cozinhar. Era uma excelente oportunidade de relaxar a mente e estrear minha forma de bolo nova, de apenas 16cm, perfeita para uma casa com apenas uma adoradora de bolos. Escolhi um bolo mármore, com cara de café da manhã, mas tive de fazer algumas adaptações para a forma diminuta. Felicidade é levar bolo no café da corrida e trazer de volta um prato vazio.

Passado o momento de sossego na cozinha e na corrida, já arranjara novas sarnas para me coçar, e foi de muita má vontade que me arrastei para o retiro de yoga programado para o fim de semana. Não queria ver gente e não estava (havia já muito tempo) com vontade de meditar. Todas as vezes que o fizera nas últimas semanas, na tentativa de acalmar a cachola cheia de caraminholas, conseguira apenas ficar mais irritada por minha incapacidade de eliminar os pensamentos conturbados da mente idiota.

Depois de dois dias sentada meditando e olhando para a cara indiana, barbuda e enigmática de meu mestre, só posso dizer uma coisa: era exatamente o que eu precisava. Dois dias em um sítio, ouvindo pássaros e cigarras, pisando na terra e meditando de pernas cruzadas até os joelhos caírem. Tomar uns tabefes espirituais em forma de broncas também deu nova perspectiva a meu mau humor.

Deixei o retiro como outra pessoa, leve, bem humorada, feliz, decidida a não me deixar irritar com pessoas irritantes. E, de quebra, minha força de vontade foi renovada, e prometi a mim mesma tentar ser uma discípula melhor, meditando todos os dias.

Se isso vai fazer com que o número de posts do blog volte a aumentar, isso eu não sei. Afinal, trabalho + cachorro + meditação = menos tempo para escrever. Dieta (ainda em vigor) também me impede de preparar trocentas guloseimas por semana.

Por enquanto, deixo-lhes esse mini-bolo para quatro pessoas, pois foi o número necessário de comensais para destruir o coitado em uma sentada.

BOLO MÁRMORE
(ligeiramente adaptado do livro Baking - From My Home to Yours)
Tempo de preparo: 45 minutos
Rendimento: 1 bolo pequeno para 4 pessoas


Ingredientes:
  • 1 xíc. + 1 colh. (sopa) de farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) de sal
  • 6 colh. (sopa) de mantiega sem sal em temp. ambiente
  • 1/2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos extra-grandes em temp. ambiente
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 1/4 xíc. de leite integral
  • 50g de chocolate amargo

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma forma de bolo de 16cm, com furo no meio e polvilhe com farinha, batendo fora o excesso.
  2. Pique o chocolate e derreta em banho-maria. Deixe esfriar e reserve.
  3. Misture com um garfo a farinha, o sal e o fermento. Na batedeira, bata a manteiga devagar, por 10 minutos, até que fique cremosa e volumosa. Junte o açúcar aos poucos e bata por mais uns 3 minutos. Misture a baunilha. Junte os ovos, um de cada vez, e não se preocupe de a mistura parecer coalhar.
  4. Junte 1/4 da farinha, misturando em velocidade baixa até incorporar. Junte uma parte do leite e continue intercalando os dois até que acabem, misturando apenas até que a massa esteja uniforme, terminando com a farinha.
  5. Divida a massa em duas. Junte o chocolate a uma delas e misture. Coloque metade da massa clara na forma. Cubra com a massa de chocolate e depois com a massa clara e, com a ajuda de uma faca, crie o efeito marmorizado.
  6. Leve ao forno por 30 minutos ou até que o bolo esteja dourado-claro e um palito saia limpo ao ser inserido nele. Desenforme e deixe esfriar. Polvilhe com açúcar de confeiteiro antes de servir.

sábado, 30 de agosto de 2008

Um bolo que quase não foi mas que acabou fondo


Muitas pessoas me dizem que gostam do fato de eu descrever meus fracassos tanto quanto os sucessos, enquanto outras não vêem qual seria o objetivo disso. Minha resposta é sempre a mesma: se meus amigos acharem que acerto sempre, desistirão ao primeiro insucesso, acreditando não terem "mão" para cozinha. E não é isso o que quero. Poderia, portanto, não publicar esse bolo, pelo simples fato de ele não ter ficado com a aparência que tinha em mente. Mas a verdade é que, no melhor estilo "pastelaria Nigella", o bolo ficou muito bom, apesar de desmazelado.

Quinta-feira foi aniversário de minha irmã, e uma semana antes ela já me pedira um bolo. Passei sete dias pensando no que faria, ansiosa por poder voltar à ativa, com saudades da produção de doces que costumava ser mais intensa por aqui. Perguntei-lhe sobre preferências de sabor, ao que ela respondeu: "ou morangos ou doce-de-leite". Morangos? Hmmmm... adoraria, mas o sucesso de um bolo de morangos depende da qualidade das frutas, e ficaria muito frustrada se comprasse cestos e cestos de morangos azedos. Doce-de-leite é mais garantido.

Imediatamente pensei num bolo de "dulce-de-leche" do livro Sky High. Mas quando abri o livro, dei-me conta de que a receita diluía demais o doce-de-leite em creme de leite fresco, e não era isso o que eu queria. A massa do bolo também levava canela, e percebi que aquele não era o bolo de doce-de-leite que minha irmã, por sua vez, queria. Tentei imaginar outra coisa, então. Nós crescemos comendo doce-de-leite feito pelo cozimento de lata de leite condensado, e era isso o que eu desejava: um bolo com gosto da nossa infância: doce, honesto, caseiro, sem firulas ou inovações. Decidi então que apanharia minha receita tradicional de génoise e trocaria uma parte do açúcar por açúcar mascavo escuro, para um sabor caramelado (coisa que depois vi, a autora do livro também faz, mas com açúcar mascavo claro). Para não aplicar o doce-de-leite puro no recheio, diluiria em muito pouco creme de leite fresco, praticamente invertendo as proporções sugeridas no livro. Faria um xarope de açúcar. Hmmmm... ok, vai, vou usar o xarope de rum do livro, que parece interessante. Rechearia os bolos. Para cobertura, faria uma ganache de chocolate branco e doce-de-leite, e criaria um efeito marmorizado com um pouquinho de ganache de chocolate amargo. Na minha mente, aquilo funcionaria e ficaria fantástico.


Um dia antes do aniversário, no entanto, estava atolada em trabalho e com pouco tempo para fazer o bolo. Preparei as génoises e adorei seu resultado. Elas assaram maravilhosamente bem, e o aroma que exalavam era exatamente o que eu buscava: doce-de-leite. Deixei que esfriassem enquanto voltava ao trabalho.

Hora do recheio. Tive medo de cozinhar a lata de leite condensado por horas a fio e não alcançar o ponto desejado, e por isso, contrariando meu comportamento padrão, comprei uma lata de doce-de-leite pronto (a única marca que encontrei que não levava amido ou outros espessantes). Coloquei quase toda a lata na batedeira e um pouco de creme. Eu jurava que o recheio firmaria. Mas claro que isso não aconteceu. Cobri a primeira camada, tomando cuidado para deixar distância entre o recheio e a borda, e repousei suavemente a segunda camada por cima. Tudo ok. Por 10 segundos. E o peso da segunda camada começou a empurrar o recheio para fora.

Apanhei uma espátula e saí recolhendo o doce que fugia pelas laterais, tentando limpar o bolo o máximo possível. Quando tudo parecia bem novamente, coloquei o bolo na geladeira enquanto preparava a cobertura.

E a dúvida surgiu. Sem cacau na fórmula (que contém amido), não sabia se a mistura simples do chocolate branco com o creme de leite firmaria. A única receita que encontrara de ganache branco pedia para batê-lo como chantilly, o que eu não queria: buscava uma cobertura lisa e firme. Sem querer arriscar o bolo de minha irmã e o pouco tempo que eu teria para fazer tudo de novo caso a idéia virasse um desastre, abdiquei de minha cobertura marmorizada e decidi que faria uma linda e brilhante ganache de chocolate, que daria ao bolo inteiro a cara de um alfajor gigante. Pronto. Mais fácil. [Por favor, argentinos, descendentes de argentinos ou pessoas que gostam de coisas argentinas: não me massacrem por comparar o bolo a um alfajor; a referência é puramente visual.]

Retirei o bolo da geladeira apenas para descobrir que o recheio escorrera mais. Lá fui eu novamente, espátula em mãos, limpando a sujeira. Quando tudo parecia bem novamente, comecei a aplicar a cobertura. E tudo ia bem. Consegui aplicar a primeira camada, que, teoricamente, manteria também o recheio em seu lugar, e meti o bolo na geladeira. Meia hora depois, fui aplicar a segunda camada e descobri que a cobertura não contivera coisa nenhuma. Tentei desesperadamente espalhar a ganache sem puxar junto o creme de doce-de-leite, mas foi impossível. Em algumas partes das laterais, a mistura dos dois era evidente. Suspirei. Fazer o quê?

Estava tudo ótimo, e eu deveria ter deixado o bolo do jeito que estava. Mas não, precisava meter o dedo. Esquentei a espátula de metal, querendo dar um acabamento brilhante e um pouco mais profissional e passei-a sobre a ganache. No entanto, ela já endurecera o suficiente para, ao invés de derreter ligeiramente e ficar lisa, dividir-se em placas e arrastar-se como pele queimada na superfície do bolo.

Ah! O horror...

Ok, dá prá salvar, dá prá salvar. O meio está apresentável, apenas as laterais e as bordas estão feias. Vamos cobrir as bordas, então, com a sobra de recheio que ficou na geladeira.

Apanhei a tigela gelada e percebi que o creme firmara, finalmente. A-há! Para o saco de confeitar! Foi formar a quinta estrelinha de creme sobre o bolo, que notei, exasperada, que a primeira começara a derreter. Muito rapidamente. Tentei apressar o trabalho, para voltar o bolo à geladeira, mas ao terminar toda a borda, era tarde demais: as estrelas se haviam derretido e escorriam pelas laterais do bolo.

What the helll...?

Fica assim, então. Espalhei o que restava do recheio e puxei com a ponta de uma faca, para que, agora de propósito, escorrecem pelas laterais.

Olhei para o bolo finalizado. Vergonha. Ai, que vergonha. O da minha mãe tinha ficado tão bonito... Minha irmã vai achar que fiz o dela de qualquer jeito.

Levei-o para a sala, que tinha uma deliciosa luz de fim de tarde, fotografei-o, guardei-o na geladeira e mandei as fotos para minha irmã, por e-mail, perguntando se ela ia mesmo querer o bolo, pois ele tinha ficado feio.

"´Cê tá louca? Manda prá cá!"

Oooooook... Então tá.

No fim das contas, o bolo fez sucesso. Ficou muito bom e valeu completamente a pena furar a dieta e comer dois pedaços. Fiquei com raiva de não poder comer mais. Com certeza terá repeteco. Mas com adaptações: omitiria completamente o creme-de-leite do recheio, espalhando puro doce-de-leite sobre o bolo; e, para evitar que ficasse enjoativo, faria a ganache sem açúcar ou com um chocolate mais amargo. Ou, diminuiria pela metade a quantidade do recheio, de modo que ele não seja suficiente para escorrer. A idéia da ganache branca com doce-de-leite ainda não está descartada, entretanto: apenas precisa de testes. Ou, o que também recomendo, é desencanar completamente de apresentações firulentas e simplesmente deixar que o recheio escorra livremente e despejar a ganache sobre a segunda camada de forma que ela se misture naturalmente ao recheio, deixando entrever as génoises. Pensando bem, acho que farei isso da próxima vez.

De qualquer forma, deixo a receita exatamente como fiz.

Se quiser saber da receita original de bolo de doce de leite que serviu de inspiração, pode ver a linda versão preparada pela Patrícia Scarpin, que, só depois me dei conta, também teve a idéia de finalizar tudo com chocolate.

[P.S.: Antes que eu receba comentários me mandando para os quintos dos infernos, não acho que o bolo tenha ficado "feio-inservível"; apenas não estava de acordo com os meus planos originais... Claro, na minha terra da fantasia, eu tenho muito mais talento para decorar bolos do que na vida real... : P]


BOLO DE DOCE-DE-LEITE E CHOCOLATE
(Inspirado e adaptado do livro Sky High)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: 1 bolo 21cm, de duas camadas


Ingredientes:

(génoises)
  • 4 ovos extra-grandes orgânicos em temperatura ambiente
  • 1 pitada de sal
  • 100g de açúcar cristal orgânico
  • 45g de açúcar mascavo escuro (amassado com um garfo para desfazer as pelotas)
  • 145g de farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de essência de baunilha
(xarope de rum)
  • 1/4 xíc. de rum escuro
  • 1/2 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/4 xíc. de água
(recheio)
  • 300g de doce-de-leite
  • 1/4 xíc. de creme-de-leite fresco
(ganache)
  • 150g de chocolate amargo mínimo de 50% de cacau
  • 150g de creme-de-leite-fresco
  • 15g de mel
  • 30g de açúcar cristal orgânico
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte duas formas de bolo de 21cm, forre-as com papel-manteiga e unte novamente. Em uma batedeira, bata em velocidade alta os ovos, a baunilha e o sal, até começarem a tomar corpo. Vá acrescentando os açúcares aos poucos e continue batendo por cerca de 10 minutos, até que a mistura esteja com 4-5 vezes o volume inicial, bastante fofa e esbranquiçada. Isso é crucial para o sucesso do bolo, uma vez que ele não leva fermento.
  2. Diminua a velocidade da batedeira. Peneire a farinha e junte-a aos poucos à mistura, incorporando bem, tomando cuidado para que a massa não perca volume. Faça isso à mão, com uma espátula, se quiser.
  3. Derrame a massa igualmente nas duas formas, alisando com a espátula (não bata na forma). Leve ao forno por 10-15 minutos, até que estejam dourado-claras em cima e se desprendendo das laterais. Teste com um palito, e se ele sair limpo, está pronto.
  4. Retire do forno, deixe descansarem por 5 minutos e então desenforme, retire cuidadosamente os papéis e deixe que esfriem.
  5. Coloque os ingredientes do xarope numa panela e leve à fervura. Abaixe o fogo e deixe que ferva devagar, até que esteja com metade do volume inicial. Deixe esfriar um pouco.
  6. Enquanto isso, coloque o doce-de-leite e o creme de leite fresco na tigela da batedeira e bata até dissolver o doce e tomar corpo. Se não quiser usar o creme de leite, pule essa etapa.
  7. Coloque um dos bolos num prato, de ponta-cabeça. Regue com metade do xarope frio. Espalhe o recheio por cima. Se pretender dar um acabamento mais refinado com a ganache, deixe 1-2cm de borda, para que o recheio não se misture à cobertura. Se não, use todo o recheio e deixe que escorra naturalmente. Coloque a segunda camada, virada para cima, e regue com o resto do xarope.
  8. Pique o chocolate e coloque em uma tigela. Coloque o creme de leite, o mel e o açúcar em uma panela e leve à fervura. Desligue imediatamente e derrame sobre o chocolate. Deixe por alguns segundos e então misture até que esteja tudo derretido e homogêneo. Deixe esfriar um pouco.
  9. Se quiser um acabamento mais rústico, apenas derrame a ganache no centro do bolo, deixando que escorra naturalmente pelas laterais. Se não, espalhe uma camada fina da cobertura, por todo o bolo, puxando de cima para as laterais e puxando a espátula sempre para a mesma direção. Leve o bolo à geladeira por meia hora.
  10. Derrame o restante da cobertura, puxando com a espátula de cima para as laterais e deslizando-a pela lateral do bolo, num só sentido. Puxe o excesso de cobertura das bordas para o centro do bolo, deixando-o uniforme.
  11. Se tiver feito o recheio com o creme e tiver sobras, use-as para decorar o bolo como quiser.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

La Cucinetta faz anos, e o azar é só dela...


Há dois anos atrás resolvi começar a escrever sobre comida para meus amigos e quem mais caísse por aqui de pára-quedas. Marcara na agenda a data e desde o início de agosto eu tinha planos para um belo bolo de camadas para comemorar o aniversário do blog. Não contava, no entanto, com o advento da dieta. Esta que anda me enlouquecendo por me proibir de preparar e comer doces.

Tenho sido uma boa menina, quero deixar isso claro. Melhor, tenho sido uma paciente exemplar. Tanto, que, num momento meigo, quando o marido comentou que meus olhos estavam com um tom esverdeado bonito, pensei comigo mesma: "são os legumes".

Com minha irmã (que faz aniversário também essa semana) pedindo para que eu fizesse seu bolo, tentei manter a cabeça no lugar e deixar meu "pedaço de doce permitido da semana" para o dia da festa. No entanto, o alien que habita meu estômago ganhou como forte aliado o grilo estridente em meu cérebro, que gritava exasperado que eu já deixara passar em branco o 1º aniversário do La Cucinetta.

Está bem, está bem. Vejam o que não faço por vocês. Maculei minha até então incólume dieta em nome de um post de aniversário mais ou menos decente. Apanhei uma receita do livro da Ghirardelli, adaptei o quanto pude para produzir um único bolinho de tamanho próprio para alguém que quer emagrecer um pouco, troquei alguns ingredientes e tchananans: ele não tem mais manteiga do que você passaria no pãozinho de manhã cedo, não tem quase nada de farinha, contribuindo com sua textura interna cremosa, e leva meu permitido chocolate a 70% de cacau, aromatizado com menta, combinando maravilhosamente com as framboesas surpreendentemente doces. Furei a dieta mas valeu cada colherada...

[E o melhor de tudo é o alívio incrível por ter gasto vinte minutos de meu tempo preparando um doce, ao invés de sonhando com ele... ]


BOLINHO CREMOSO DE CHOCOLATE-MENTA
(livremente adaptado do livro The Ghirardelli Chocolate Cookbook)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 15g de manteiga sem sal, e mais para untar
  • 30g de chocolate amargo 70% de cacau aromatizado com menta
  • 1 ovo extra-grande
  • 2 colh. (sopa) de açúcar baunilhado
  • 1/4 colh. (sopa) de farinha de trigo
  • framboesas
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 230ºC. Unte com manteiga um ramequin de 150ml.
  2. Derreta em banho-maria a manteiga e o chocolate. Enquanto isso, bata na batedeira o ovo e o açúcar por uns 10 minutos, até que esteja muito fofo e esbranquiçado.
  3. Desligue a batedeira e, com uma espátula, incorpore a mistura de chocolate. Junte a farinha e misture.
  4. Derrame no ramequin e leve ao forno por 10-15 minutos. O bolo inflará como um soufflé e será muito mole, tendo apenas uma fina casquinha mais ou menos firme. Retire do forno e deixe descansar por uns 5 minutos. Ele desinflará. Desenforme num prato de sobremesa e sirva com as framboesas.

Cozinhe isso também!

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