Ok, talvez eu tenha ficado um pouco... alarmada (alucinada? aterrorizada?) com a quantidade de tralha que os lojistas e os médicos sem noção (além de algumas mães malucas) dizem que um bebê precisa. Na minha inocente concepção, acreditava que, contanto que eu mantivesse meu filho quentinho, alimentado e limpo, tudo estaria bem. Mas ai de mim se não tiver as tralhas máximas da modinha que o último psicopedagogo disse que são primordiais para o desenvolvimento "correto" do meu pequeno. Bastou uma visita a uma grande loja de tralhas de bebê para sair de lá com alergia de tanto plástico rosa e azul claro.
Em tempo: não é falta de amor, e não é uma crítica a quem montou o enxoval todo no primeiro mês de gravidez. Cada um na sua. Tem gente que compra roupinha porque gosta de roupinha. Eu, que poderia vestir um saco de batatas, ando colecionando receitas de papinha e juntando meus brinquedos antigos [aleluia! eu guardei minha coleção do He-Man e todo o meu Lego] e todos os meus livros de infância, louca para lê-los para o pequeno. O caso é que sou uma pessoa essencialmente prática. E não vi muita (ou qualquer) utilidade na maioria dos objetos vendidos na loja. O que vai tornar a lista do chá de bebê pequena e estranha.
Desde a fatídica visita à loja, tenho olhado em torno e, pensando já numa mudança de casa e na vinda das inevitáveis tralhas infantis, tenho sentido necessidade de "desentralhar" meu lar. Ou, como diria a Oprah, "unclutter". Vira e mexe me dá um siricotico de arrumação e, quando não posso resolver algum problema maior imediatamente, saio organizando aquilo que está ao meu alcance. É um processo catártico, no mínimo.
Semana passada foi meu armário: eu, que não sou lá muito ligada em moda, fiquei surpresa de ver quanta roupa havia no meu armário que não usava há mais de um ano. Encontrei um casaco que estava no cabide há mais de 6 anos. Foi tudo passado para frente, para quem puder aproveitar melhor as peças. Sem dó. Desapego total.
Depois, veio o banheiro. Mesmo não tomando mais do que um Tylenol a cada morte de papa, fiquei besta com a quantidade de remédios vencidos embaixo da pia. E creminhos que nunca usei nem nunca vou usar. E amostras grátis de perfume que já perderam o cheiro. Consegui até abrir espaço para minha caixinha de laços e papéis de presente. [A exemplo da minha cunhada, eu tento reaproveitar os papéis de presente, quando não embrulho presentes em páginas coloridas das revistas que não quero mais. Uma vez dei a um amigo um livro embrulhado em uma entrevista da Fergie, com uma foto sua de lingerie. Ele guardou o embrulho.]
Depois, os livros. Apesar de ter feito uma rapa há uns 6 meses, ainda consegui encontrar livros que nunca mais vou ler de novo ou mesmo alguns de culinária que simplesmente não uso e SEI que não vou usar.
E a cozinha. Surpreendentemente, uso toda a louça que tenho. A falta de espaço não me permite ficar colecionando muitos pratos e potes diferentes. As coisas já estão perigosamente empilhadas do jeito que estão. O que vai embora é o miniprocessador, que nunca mais usei depois de ganhar o grande no último Natal, dois potes de plástico impossíveis de desengordurar e que já estavam me enervando, e a cafeteira Bialetti, inutilizada depois do advento da máquina de espresso. O que me surpreendeu sim foram os ingredientes vencidos (REALMENTE vencidos, e não o velho "ainda dá pra comer") e aqueles escondidos no fundo da geladeira, sem uso nenhum por falta de conhecimento de sua existência.
Isso trouxe à luz um péssimo hábito meu, e grande responsável por, vira e mexe, eu estourar o orçamento do supermercado: comprar ingredientes específicos para uma receita só. Aquilo de ter um pé de alface e sair para comprar o queijo, o pão, o ovo e a anchova para fazer salada Ceaser, ao invés de combinar o alface com o que tem na despensa. Quando me dei conta, além de gastar mais dinheiro, estava com uma despensa abarrotada de itens que uso a cada morte de papa e que ocupam precioso espaço na minha geladeira pequena e em minhas diminutas prateleiras. Tenho certeza de que não sou a única a levar um pacote de sagu pra casa para "o dia em que quiser fazer tapioca pudding". Preciso dizer que o sagu estragou e eu nunca fiz tapioca pudding na vida? Bom...
Basta.
Trouxe à frente todos os "itens especiais" dentro das datas de validade, e estabeleci a meta de usá-los todos em detrimento de qualquer novo item. E se acabou o leite, voltar do mercado apenas com leite. E se não tem queijo para o soufflé, fazer uma omelete. Parece muito, muito óbvio, mas eu NUNCA havia me dado conta do meu erro, tão absorta no prazer de cozinhar e de testar novas receitas.
O almoço de hoje foi nesse espírito. Numa revista do Jamie Oliver, havia uma reportagem sobre "Chopped Salads", e vi uma que levava quatro coisinhas viventes em minha geladeira: alface romana, erva-doce, cenouras e rabanetes. Meu primeiro impulso foi sair para comprar o salmão defumado e as endívias que faltavam, mas me estapeei mentalmente. Nein, nein. Bad Ana.
Piquei a cenoura, alguns rabanetes e um pouco de erva-doce, em pedacinhos pequenos. Então apanhei uma mistura de alfaces romana, roxa e frisée e piquei com um pouco de rúcula. Misturei tudo a cubos de um queijo Feta que precisava ser terminado, e temperei com uma espremida de limão siciliano, sal, pimenta-do-reino e uma bela quantidade de azeite. Ficou ótimo e leve, com diferentes texturas, e me esqueci completamente do salmão e das endívias.
Estrelinha dourada na testa.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Pão de cerveja que ninguém bebeu e mudanças de hábitos
Não sei se foi saudável a leitura dinâmica que fiz no blog Zero Waste Home. Por um lado, fez com que me sentisse menos alien. Porque você há de convir... aqui em São Paulo, parece que ainda não "pegou" isso de voltar ao esquema antigo de se fazer as coisas. Aliás, parece que não pegou nem o esquema "ecológico" de se fazer as coisas. Fala-se muito, vendem-se muitas "eco-bags", mas no fim das contas, eu nunca vi mais ninguém a não ser minha mãe e eu levando nossas próprias sacolas ao Santa Luzia. Muita gente ainda me olha torto quando digo o que como e o que não como, o que faço ou deixo de fazer em termos de ter a qualidade de vida que nossos avós tiveram, e eu tenho certeza absoluta de que essa sensação de solidão alienígena num mundo de ações automáticas não pensadas não acontece só comigo. E qualquer esforço em direção a mais mudanças de hábitos não condizentes com a conveniência moderna corre o risco de aumentar ainda mais essa sensação de ostracismo. Porque quem tenta uma vida mais natural é "ecochato", é "extremista", é "do-contra".
Ler o blog me fez ver o quanto ainda me falta fazer. Senti-me muito idiota em alguns aspectos, e percebi quão mal-informados podemos ser. Sempre achei que reciclando aquela embalagem plástica onde colocam meu queijo, tudo estaria bem. Até descobrir que a maior parte dos plásticos só pode ser reciclada uma ou duas vezes, e então vai para o lixo com todas as outras porcarias não biodegradáveis. Fiquei em choque, confesso.
Pensei no quanto ainda trago embalagens para casa. Apesar de prestar muita atenção a isso, ainda coloco na reciclagem um saco grande de embalagens toda semana. De lixo orgânico, são um ou dois saquinhos pequenos por semana, do tamanho de lixinhos de banheiro, mas bem que eu gostaria de ter uma lata de compostagem para dar cabo disso. Um dia, quando tiver mais espaço.
O hábito da mocinha do blog de comprar coisas a granel e levar seus próprios potes me pareceu, em princípio, difícil de executar aqui. Mas eu já vinha há algum tempo levando de volta os saquinhos das frutas (as que não são vendidas em bandejas de isopor) para reutilizá-los, ou pedindo para o rapaz que as pesa colar a etiqueta de preço diretamente nas bananas ou no abacaxi. Na feira, há já muitos meses o pessoal sabe: direto na sacola, nada de saquinhos (mas eles ainda riem de mim e da minha "mania"). Meus chás já são todos soltos, sem saquinhos individuais, e o café, agora que pretendo começar a comprá-lo recém-moído, num café aqui perto, será posto direto no meu potinho. Então me pus a pensar... Poderia voltar a comprar minhas nozes e queijos no Mercadão, e alguns ingredientes de confeitaria em lojas do centro. Mas e os grãos? Prefiro meus feijões orgânicos sempre que possível, e não imagino que a zona cerealista os tenha. Tenho de escolher entre orgânico com embalagem ou não-orgânico sem embalagem. O que me pareceu bizarro e contraditório.
Então, hoje, no supermercado, lembrei-me de que eles vendem manteiga por quilo. Poderia bem economizar naquele montaréu de papéis metalizados que vão para o lixo com frequência aqui em casa. Enquanto o rapaz pesava 600g de manteiga sem sal para mim (que ainda saiu mais barata do que comprada em porções de 200g com embalagem), perguntei-lhe, meio sem graça, meio envergonhada, se seria possível que eu trouxesse meu próprio pote da próxima vez que eu quisesse comprar, por exemplo, ricotta ou cream cheese ou qualquer outro queijo, mesmo os fatiados. "Claro que não tem problema!", ele respondeu. "Jura?" Fiquei em êxtase. "Pode trazer!", confirmou ele.
Confesso que ainda não sei bem como operacionalizar isso. Qual pote eu vou levar, e se vou manter algum sempre dentro da minha sacola. Se vai ser de vidro ou de inox. Sei que vou fazer a mesma pergunta prá mocinha das frutas secas da próxima vez. E já sei que esse novo hábito eliminará muitas das compras por impulso, uma vez que precisarei planejar e levar o pote de acordo. Ótimo, vai ser bom para economizar uns trocados além de tudo.
Nesse espírito, quando fui comprar mais fermento ativo seco, deparei-me com um pacote de 500g. O preço era ótimo em relação aos envelopinhos de 10g, e, claro, era muito menos matéria-prima de embalagem do que para 50 envelopinhos individuais. Mas fiquei pensando se ele duraria tempo o bastante para usá-lo todo. Costumo abrir os envelopinhos, usar uma parte e fechá-los bem com pregadores de roupa, e eles duram muitos meses. Nunca nenhum deles estragou. Como o pacote expirava no fim de 2012, resolvi arriscar. Levei o pacotão comigo, abri-o e já despejei-o em um pote muito bem fechado, guardando-o no escuro, para que não estrague. Esse meio quilo de fermento é minha promessa de não comprar pão nem em emergências, para não deixar o fermento estragar, e economizando em embalagens de papel ou celofane. ;)
O fermento novo foi estreado justamente num dia de reaproveitamento. O marido abrira uma garrafa de cerveja grande, mas desistira dela na metade. Sem minha companhia para beber (cerveja, pra mim, só sem álcool por enquanto), ele ficou sem saber o que fazer com o que sobrara da cerveja, com dó de jogá-la fora. Tranquilizei-o, então, dizendo que transformaria aquela cerveja em pão.
Dito e feito.
Procurei por alguma receita que usasse cerveja e encontrei várias, mas todas usando cerveja escura, que não era o caso da pobre Original abandonada na porta da geladeira. Então me lembrei de uma de Jamie Oliver, de um de seus primeiros livros, que simplesmente trocava a água de sua "massa básica" por cerveja. O pão da foto era muito bonito, bolinhas de pão dourado em círculo dentro de uma forma de metal. No entanto, eu me lembrava bem do gosto dos pães de Jamie. Por mais que o adore e adore suas receitas, as de pão deixam um pouco a desejar em termos de sabor e textura em relação a outros pães que já fiz de outros livros.
Apanhei então uma receita que já preparara algumas vezes, com base em uma proporção básica do Professional Chef, e inventei em cima. O pão ficou muito saboroso e macio, com a casca fina e levemente crocante. O sabor da cerveja não é perceptível, mas conferiu algo de ligeiramente caramelizado ao gosto do pão que ficou muito bom.
PÃO DE CERVEJA CLARA
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: 1 pão de cerca de 22cm
Ingredientes:
- 275g cerveja pilsen
- 1g fermento ativo seco instantâneo (ou 3g de fermento fresco)
- 360g farinha de trigo orgânica
- 65g farinha de trigo orgânica integral
- 1g sal
Preparo:
- Se tiver uma batedeira planetária com gancho, coloque todos os ingredientes na tigela e ligue em velocidade baixa por 1 minuto, até que a massa esteja razoavelmente misturada. Aumente a velocidade um pouco e sove por 10 minutos, até que a massa esteja elástica, a tigela esteja limpa, mas a massa esteja ainda ligeiramente pegajosa ao toque. Se estiver muito seca, acrescente mais uma colher de cerveja.
- Se não tiver a batedeira, dissolva o fermento na cerveja, misture ao restante dos ingredientes numa tigela grande, e quando a massa começar a se formar, sove numa bancada por 10 minutos, tentando não acrescentar mais farinha, até que a massa esteja elástica, a tigela esteja limpa, mas a massa esteja ainda ligeiramente pegajosa ao toque. Se estiver muito seca, acrescente mais uma colher de cerveja.
- Forme uma bola e coloque a massa numa tigela ligeiramente untada com óleo. Cubra com um pano e deixe fermentar por cerca de 1h30, até que a massa tenha crescido e seu dedo deixe uma marca que não volta ao pressioná-lo ligeiramente na massa.
- Afunde a massa, transforme-a novamente numa bola e divida-a em 8 pedaços iguais, rolando-os em formato de bolas. Unte com óleo uma forma alta de bolo de cerca de 21-22cm de diâmetro, e disponha as bolas em formato de flor. Cubra com um pano e deixe fermentar por 25-30 minutos, até que ao pressionar o dedo na massa, ela volte devagar para o lugar.
- Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 190ºC. Se tiver uma pedra de forno na grade inferior, pode deixá-la. No meu forno, a grade inferior é sempre melhor para assar pães. Mas pode assá-lo na grade do meio, se lhe parecer mais confiável.
- Quando tiver fermentado, abra o forno quente e pulverize- com água, umas 15 espirradelas. Coloque a forma com a massa no forno e pulverize mais duas vezes com água, rapidamente. Feche e asse por 5 minutos. Abra o forno rapidamente e pulverize mais duas vezes com água. Feche novamente, sem bater a porta, e termine de assar por mais cerca de 30-35 minutos, ou até que o pão esteja dourado e soe oco ao bater no fundo com os nós dos dedos. Se tiver desenformado e ainda não estiver pronto, volte-o para a forma e termine de assá-lo.
- Desenforme e deixe esfriar completamente sobre uma grade antes de comê-lo.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Conservando a sanidade mental
Às vezes os clientes tomam chá de sumiço. No meio de um trabalho, prazo apertando, e eles desaparecem sem deixar rastro, a não ser pelo cheiro inconfundível do meu desespero crescente ao me ver abandonada, sem saber se o cliente sumiu porque não gostou, porque morreu ou simplesmente porque está ocupado com outra coisa.
Numa tarde dessas, em que minha mente ociosa começava a inventar caraminholas mil, apanhei um livro qualquer na estante e fui para o sofá. Tratava-se de um livro de conservas. Eu me sentira muito mal comigo mesma por ter desistido das conservas há um tempo atrás. Alguns erros de principiante metida à sabe-tudo botaram a perder minha conserva de ameixas, meu relish de milho e meu picles de melancia. No primeiro, não usei frutas no auge do seu frescor, e não retirei os bolsões de ar que ficaram entre a fruta e o xarope, de modo que ao abrir o frasco ouvi um triste "pssssssfff" ao invés do animador e hermético "poc!"e me deparei com uma conserva obviamente estragada. Quanto ao relish, o problema foi que quis inventar passos onde não havia, e resolvi ferver o relish depois de pronto, para conservá-lo na prateleira. Durante o cozimento extra, o milho antes macio ficou duro feito pedra. No picles de melancia, usei frascos cujas tampas (descobri depois) estavam ligeiramente tortas, de modo que não selaram de modo apropriado. Então me lembrei de que entortara as tampas com uma faquinha para conseguir abrir os vidros quando ainda tinham seus conteúdos originais. O ar lá dentro transformou meu picles em formas cinzentas nadando em um líquido enevoado. Uma tristeza...
É claro que isso desanima qualquer ser humano. Mas nessa tarde caraminholenta, estava decidida a tentar de novo. Algo fácil. Algo simples. Algo feito para ser consumido na hora, e não ser deixado maturando na prateleira, gerando enormes expectativas. Sabia ter encontrado o que queria ao ver a autora do livro falando cheia de amores de uma geleia de framboesas que deveria ser feita em pequenas quantidades, pois era mais saborosa quando ainda tinha gosto de frutas frescas, e não após meses de prateleira.
Tchanans!
E podia ser feita com framboesas congeladas!
Tchananans!
Apanhei meu meio pacotinho de framboesas congeladas, que vieram todas grudadas e em pedacinhos, impossíveis de serem usadas de forma mais decorativa, e misturei ao mesmo peso de açúcar cristal orgânico. Levei ao fogo e foi uma mera questão de mexer, retirar qualquer espuma, e esperar dar o ponto. Suficientemente espessa, considerando que geleias de framboesa não ficam muito espessas sem a adição de pectina, a geleia foi direto para um vidrinho esterilizado no forno (10 minutos a 180ºC, mais prático que ficar retirando vidro de água fervente), e fechada para ser aberta já no dia seguinte.
Na manhã seguinte, espalhei a geleia de cor vibrante e pontilhada de sementinhas num pãozinho com manteiga e passei-o ao meu marido. Algumas mordidas depois, ele veio perguntar que marca de geleia era essa que eu comprara, pois estava sensacional e eu deveria comprá-la sempre. Sucesso total! De fato, a geleia de framboesa feita assim fresquinha tem um gosto diferente do que as que ficaram maturando dentro do pote.
Fiquei empolgada com a possibilidade de produzir pequenas quantidades de geleia, com as frutas da estação, para consumo imediato. Aquilo fazia sentido, mais do que ficar entulhando a despensa. Assim que a de framboesa acabou, apanhei as laranjas-pêra orgânicas que eu tinha e um vidro de gengibre em conserva que já estava aberto e sem uso e, com mais uma receita do mesmo livro, fiz uma de minhas geleias favoritas, com as tirinhas finas de casca. O gengibre foi uma adição muito bem-vinda à geleia de laranja, e fiquei feliz por ter produzido mais de um pote. Tendo rendido três, deixei um na geladeira para consumir imediatamente, dei um à minha mãe e o outro resolvi deixar no armário, para testar. Pedi à minha mãe que prestasse atenção ao som feito pelo pote ao ser aberto, e fiquei feliz em saber que foi "poc!", o maravilhoso som do ar do ambiente entrando de uma vez em um pote fechado a vácuo. Grandes chances para minha geleia no armário, então.
Não contente, apanhei um vidro grande e resolvi fazer os tais limões em salmoura que andam muito na moda em blogs e revistas. Principalmente porque nunca os vi à venda, nem mesmo em lugares bem abastecidos de coisinhas gourmet. Imaginei esses limões lindamente amarelos em pratos de verão (quando estarão maturados), e imediatamente pensei em dias de sol. Bastou esfregar bem os limões (1kg) em água quente, cortá-los em quartos quase até o fim, deixando os quartos ainda presos entre si, e acondicioná-los num pote de vidro esterilizado (tampas de vidro, para evitar corrosão pelo sal), alternando com camadas de sal grosso (250g) e algumas folhas de louro. Empurrei bem os limões para baixo, deixando-os apertadinhos para que não flutuassem depois. Preenchi todos os espaços com água, fechei a tampa e coloquei a data. Esses foram fáceis, e desde que estejam todos bem submersos, tudo indica que terei limões em conserva para temperar meus pratos em janeiro. O pote já tem quase duas semanas e não há nenhum sinal de "atividade indesejada" neles. De vez em quando, basta dar uma chacoalhada no pote e colocar mais sal, caso ele tenha dissolvido. Deve ser guardado em local fresco e escuro por 3 meses antes de ser usado.
Então, na feira, deparei-me com uma caixa inteira de mini-alcachofras, do tamanho de punhos de crianças. Coisinha mais linda. Levei meio quilo por uma ninharia, comprei um potinho hermético de 500ml e segui absolutamente à risca uma receita de Eugenia Bone. E assim, fiz meus primeiros corações de alcachofra em conserva, que devem ficar quietinhos por umas duas semanas antes de serem consumidos, mas também, alguns dias depois, não dão indícios de estarem estragando.
Por fim, quando a geleia de laranja acabou, fiquei com dó de abrir tão já o próximo pote e resolvi produzir outra, com algo da estação: ruibarbos. Antes que perguntem onde os encontrei, o Santa Luzia tem produção própria. E fiz minha geleia de ruibarbos, azedinha-doce, deliciosa sobre uma fatia de broa de milho. A receita é adaptada da revista francesa Saveurs, e fiz apenas metade, rendendo dois potes, pois ruibarbos não são o vegetal mais barato do mundo por aqui. Deixei macerando durante umas duas horas 650g de ruibarbos cortados em pedaços pequenos, 450g açúcar cristal orgânico baunilhado, suco de 1/4 limão siciliano e 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha (para substituir o uso da fava, que eu não tinha), até que o ruibarbo estivesse flutuando em seu próprio caldo. Então levei a panela ao fogo moderado e cozinhei, retirando a espuma com uma escumadeira e mexendo, até dar ponto, uns 20-30 minutos. Ela ficou espessa e deliciosa, cheia de pedacinhos macios de ruibarbo. Como havia muitos talos esverdeados, a geleia não ficou tão rosa. Para intensificar a cor tradicional, a revista sugeria o acréscimo final de 1 colh. (sopa) de Grenadine, um xarope cor-de-rosa de romã. Mas me pareceu bobagem comprar uma garrafa inteira apenas para isso, e mantive minha geleia assim, vermelho-acastanhada. Um pote foi para a geladeira, e outro para o armário.
Meus dedinhos coçam em antecipação para a próxima empreitada. :)
"Se não estiver dando trabalho, pode continuar com as geleias, viu?!", disse o marido outro dia, muito consciente de que eu estou é me divertindo.
Numa tarde dessas, em que minha mente ociosa começava a inventar caraminholas mil, apanhei um livro qualquer na estante e fui para o sofá. Tratava-se de um livro de conservas. Eu me sentira muito mal comigo mesma por ter desistido das conservas há um tempo atrás. Alguns erros de principiante metida à sabe-tudo botaram a perder minha conserva de ameixas, meu relish de milho e meu picles de melancia. No primeiro, não usei frutas no auge do seu frescor, e não retirei os bolsões de ar que ficaram entre a fruta e o xarope, de modo que ao abrir o frasco ouvi um triste "pssssssfff" ao invés do animador e hermético "poc!"e me deparei com uma conserva obviamente estragada. Quanto ao relish, o problema foi que quis inventar passos onde não havia, e resolvi ferver o relish depois de pronto, para conservá-lo na prateleira. Durante o cozimento extra, o milho antes macio ficou duro feito pedra. No picles de melancia, usei frascos cujas tampas (descobri depois) estavam ligeiramente tortas, de modo que não selaram de modo apropriado. Então me lembrei de que entortara as tampas com uma faquinha para conseguir abrir os vidros quando ainda tinham seus conteúdos originais. O ar lá dentro transformou meu picles em formas cinzentas nadando em um líquido enevoado. Uma tristeza...
É claro que isso desanima qualquer ser humano. Mas nessa tarde caraminholenta, estava decidida a tentar de novo. Algo fácil. Algo simples. Algo feito para ser consumido na hora, e não ser deixado maturando na prateleira, gerando enormes expectativas. Sabia ter encontrado o que queria ao ver a autora do livro falando cheia de amores de uma geleia de framboesas que deveria ser feita em pequenas quantidades, pois era mais saborosa quando ainda tinha gosto de frutas frescas, e não após meses de prateleira.
Tchanans!
E podia ser feita com framboesas congeladas!
Tchananans!
Apanhei meu meio pacotinho de framboesas congeladas, que vieram todas grudadas e em pedacinhos, impossíveis de serem usadas de forma mais decorativa, e misturei ao mesmo peso de açúcar cristal orgânico. Levei ao fogo e foi uma mera questão de mexer, retirar qualquer espuma, e esperar dar o ponto. Suficientemente espessa, considerando que geleias de framboesa não ficam muito espessas sem a adição de pectina, a geleia foi direto para um vidrinho esterilizado no forno (10 minutos a 180ºC, mais prático que ficar retirando vidro de água fervente), e fechada para ser aberta já no dia seguinte.
Na manhã seguinte, espalhei a geleia de cor vibrante e pontilhada de sementinhas num pãozinho com manteiga e passei-o ao meu marido. Algumas mordidas depois, ele veio perguntar que marca de geleia era essa que eu comprara, pois estava sensacional e eu deveria comprá-la sempre. Sucesso total! De fato, a geleia de framboesa feita assim fresquinha tem um gosto diferente do que as que ficaram maturando dentro do pote.
Fiquei empolgada com a possibilidade de produzir pequenas quantidades de geleia, com as frutas da estação, para consumo imediato. Aquilo fazia sentido, mais do que ficar entulhando a despensa. Assim que a de framboesa acabou, apanhei as laranjas-pêra orgânicas que eu tinha e um vidro de gengibre em conserva que já estava aberto e sem uso e, com mais uma receita do mesmo livro, fiz uma de minhas geleias favoritas, com as tirinhas finas de casca. O gengibre foi uma adição muito bem-vinda à geleia de laranja, e fiquei feliz por ter produzido mais de um pote. Tendo rendido três, deixei um na geladeira para consumir imediatamente, dei um à minha mãe e o outro resolvi deixar no armário, para testar. Pedi à minha mãe que prestasse atenção ao som feito pelo pote ao ser aberto, e fiquei feliz em saber que foi "poc!", o maravilhoso som do ar do ambiente entrando de uma vez em um pote fechado a vácuo. Grandes chances para minha geleia no armário, então.
Não contente, apanhei um vidro grande e resolvi fazer os tais limões em salmoura que andam muito na moda em blogs e revistas. Principalmente porque nunca os vi à venda, nem mesmo em lugares bem abastecidos de coisinhas gourmet. Imaginei esses limões lindamente amarelos em pratos de verão (quando estarão maturados), e imediatamente pensei em dias de sol. Bastou esfregar bem os limões (1kg) em água quente, cortá-los em quartos quase até o fim, deixando os quartos ainda presos entre si, e acondicioná-los num pote de vidro esterilizado (tampas de vidro, para evitar corrosão pelo sal), alternando com camadas de sal grosso (250g) e algumas folhas de louro. Empurrei bem os limões para baixo, deixando-os apertadinhos para que não flutuassem depois. Preenchi todos os espaços com água, fechei a tampa e coloquei a data. Esses foram fáceis, e desde que estejam todos bem submersos, tudo indica que terei limões em conserva para temperar meus pratos em janeiro. O pote já tem quase duas semanas e não há nenhum sinal de "atividade indesejada" neles. De vez em quando, basta dar uma chacoalhada no pote e colocar mais sal, caso ele tenha dissolvido. Deve ser guardado em local fresco e escuro por 3 meses antes de ser usado.
Então, na feira, deparei-me com uma caixa inteira de mini-alcachofras, do tamanho de punhos de crianças. Coisinha mais linda. Levei meio quilo por uma ninharia, comprei um potinho hermético de 500ml e segui absolutamente à risca uma receita de Eugenia Bone. E assim, fiz meus primeiros corações de alcachofra em conserva, que devem ficar quietinhos por umas duas semanas antes de serem consumidos, mas também, alguns dias depois, não dão indícios de estarem estragando.
Por fim, quando a geleia de laranja acabou, fiquei com dó de abrir tão já o próximo pote e resolvi produzir outra, com algo da estação: ruibarbos. Antes que perguntem onde os encontrei, o Santa Luzia tem produção própria. E fiz minha geleia de ruibarbos, azedinha-doce, deliciosa sobre uma fatia de broa de milho. A receita é adaptada da revista francesa Saveurs, e fiz apenas metade, rendendo dois potes, pois ruibarbos não são o vegetal mais barato do mundo por aqui. Deixei macerando durante umas duas horas 650g de ruibarbos cortados em pedaços pequenos, 450g açúcar cristal orgânico baunilhado, suco de 1/4 limão siciliano e 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha (para substituir o uso da fava, que eu não tinha), até que o ruibarbo estivesse flutuando em seu próprio caldo. Então levei a panela ao fogo moderado e cozinhei, retirando a espuma com uma escumadeira e mexendo, até dar ponto, uns 20-30 minutos. Ela ficou espessa e deliciosa, cheia de pedacinhos macios de ruibarbo. Como havia muitos talos esverdeados, a geleia não ficou tão rosa. Para intensificar a cor tradicional, a revista sugeria o acréscimo final de 1 colh. (sopa) de Grenadine, um xarope cor-de-rosa de romã. Mas me pareceu bobagem comprar uma garrafa inteira apenas para isso, e mantive minha geleia assim, vermelho-acastanhada. Um pote foi para a geladeira, e outro para o armário.
Meus dedinhos coçam em antecipação para a próxima empreitada. :)
"Se não estiver dando trabalho, pode continuar com as geleias, viu?!", disse o marido outro dia, muito consciente de que eu estou é me divertindo.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Salada quente de lentilhas, queijo feta, rabanetes e suas folhas
A perspectiva das mudanças por vir (físicas, emocionais, de rotina, de hábitos, de casa, talvez...) me trazem ao mesmo tempo prazer e ansiedade. Meu eu-metódico fica apavorado com a possibilidade de ter de mudar o horário do treino de corrida, por exemplo, ao mesmo tempo em que meu outro eu, o com bom senso, explica que a vida é assim mesmo, e que eu vou precisar me adaptar.
Enquanto isso, para não surtar muito, para não me ver planejando uma agenda virtual do futuro baseada em variáveis imprevisíveis, atenho-me ao prazer de saber que teremos um rapazote saudável, quiçá inteligente, e bonito não dói, então, por que não bonito também?! Grandes esperanças de que puxe o cabelo do pai, que é lisinho e sem mistério, porque se o moleque inventar de usar chapinha, vai apanhar de chapinha quente. ;) Emo não!
Para trazer o conforto daquilo que não muda, ontem preparei lentilhas do meu jeito. Não importa quantas receitas teste, volto sempre para essa, a melhor, mais saborosa, favorita de todos os tempos. Para duas pessoas, refoguei meia cebola média em uma colher de manteiga, até amaciar. Juntei alguns raminhos de tomilho, uma folha de louro e 1/2 xic. de lentilhas verdes e 1 xic. de água. Deixei levantar fervura e então cozinhei semitampado, em fogo baixo, por cerca de 20 minutos. O importante é o ponto da lentilha, que deve estar macia, mas ainda mantendo sua forma. Se já estiver pronta e ainda restar líquido na panela, é só escorrer. Se a água estiver quase no fim e elas ainda estiverem duras, junte mais água quente. Quando estão prontas, tempero com sal e pimenta-do-reino moída na hora, a gosto, um fio generoso de azeite, uma colherinha de vinagre (tinto, branco, tanto faz), 1/2 colh. (sopa) de mostarda de Dijon e um belo punhado de salsinha e cebolinha picados. Tãaao bom...
E para mudar um pouquinho, misturei as lentilhas a rabanetes pequenos fatiados, queijo feta esmigalhado e um maço de folhas de rabanete picadas grosseiramente e refogadas em alho e azeite. Caso seus rabanetes venham sem as folhas, ou elas estejam muito amarelas e murchas, substitua por folhas de nabo, espinafre, ou mesmo folhas de mostarda, que são uma delícia.
Enquanto isso, para não surtar muito, para não me ver planejando uma agenda virtual do futuro baseada em variáveis imprevisíveis, atenho-me ao prazer de saber que teremos um rapazote saudável, quiçá inteligente, e bonito não dói, então, por que não bonito também?! Grandes esperanças de que puxe o cabelo do pai, que é lisinho e sem mistério, porque se o moleque inventar de usar chapinha, vai apanhar de chapinha quente. ;) Emo não!
Para trazer o conforto daquilo que não muda, ontem preparei lentilhas do meu jeito. Não importa quantas receitas teste, volto sempre para essa, a melhor, mais saborosa, favorita de todos os tempos. Para duas pessoas, refoguei meia cebola média em uma colher de manteiga, até amaciar. Juntei alguns raminhos de tomilho, uma folha de louro e 1/2 xic. de lentilhas verdes e 1 xic. de água. Deixei levantar fervura e então cozinhei semitampado, em fogo baixo, por cerca de 20 minutos. O importante é o ponto da lentilha, que deve estar macia, mas ainda mantendo sua forma. Se já estiver pronta e ainda restar líquido na panela, é só escorrer. Se a água estiver quase no fim e elas ainda estiverem duras, junte mais água quente. Quando estão prontas, tempero com sal e pimenta-do-reino moída na hora, a gosto, um fio generoso de azeite, uma colherinha de vinagre (tinto, branco, tanto faz), 1/2 colh. (sopa) de mostarda de Dijon e um belo punhado de salsinha e cebolinha picados. Tãaao bom...
E para mudar um pouquinho, misturei as lentilhas a rabanetes pequenos fatiados, queijo feta esmigalhado e um maço de folhas de rabanete picadas grosseiramente e refogadas em alho e azeite. Caso seus rabanetes venham sem as folhas, ou elas estejam muito amarelas e murchas, substitua por folhas de nabo, espinafre, ou mesmo folhas de mostarda, que são uma delícia.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Só manteiga salva
No supermercado, cestinha de metal na mão, tomei uma decisão impulsiva. Consciente de que restava apenas um naco de manteiga na geladeira, suficiente para as torradas do dia seguinte, respirei fundo e apanhei uma garrafa de 1kg de creme de leite fresco. Imbuída de orgulho e expectativas, voltei para casa decidida a fazer manteiga.
Apesar de já ter visto uma centena de blogs falando a respeito e outra dezena de livros com instruções precisas, foi o Forgotten Skills of Cooking que abri para ser meu guia. Ando apaixonada por esse livro, suas histórias e suas preciosas informações a respeito de comida de verdade. Não apenas a autora nos fornece relatos apaixonados sobre uma vida mais natural – que vou começar a chamar de uma vida "normal", porque a vida que se têm hoje em dia simplesmente não é –, mas ela também se apoia em estudos recentes que corroboram com o retorno do leite cru, das gorduras naturais, dos orgânicos, do ritmo mais lento, do feito em casa, do artesanal. Não é apenas moda, é uma necessidade.
É claro que na minha cozinha pequena e ainda um pouco atrapalhada – a gravidez parece ter colocado alguns neurônios meus para dormir, e ando distraída e sem foco – acabei fazendo bagunça e sujando mais louça do que o necessário. O que tornou o processo de limpeza da bagunça, desengordurando todos os utensílios que usei sem precisar deles, um pouco chato. Fazer a manteiga, no entanto, é um prazer, e é tão fácil que me sinto tentada a nunca mais comprar os tabletes prontos. A única coisa de que você precisa se lembrar é de encher algumas garrafas com água e colocar para gelar no dia anterior. E comprar seu creme de leite fresco. O seu favorito. O mais saboroso. O que bate o melhor chantilly. Pois sua manteiga, obviamente, só será tão boa quanto o creme que você usar. Se puder, compre um que seja apenas pasteurizado, e não homogeneizado. Aliás, isso vale para seu leite também. A textura e o sabor são melhores. Se puder colocar suas patinhas em creme de leite fresco de verdade, ainda cru, melhor ainda. Mas, voltando a nós pobres mortais que vivemos em São Paulo e só temos o pasteurizado nas gôndolas do supermercado. CLARO: estou falando de creme de leite de garrafa, aquele que fica na geladeira. Pelamordedeus, não vá me tentar fazer manteiga com o creme de lata ou o de caixinha. Muito menos com aqueles de caixinha que dizem que são feitos para chantilly. Aquilo é um creme mequetrefe misturado a gomas para criar textura e não deve nunca entrar na sua cozinha. Eca... :P
Bom... a manteiga. Você só precisa de creme de leite. Com 1kg de creme, produzi 2 tabletes de 210g e cerca de 500ml de buttermilk. Mas isso, acredito, vai depender do teor de gordura do seu creme, assim como a cor do produto final. Se o dia estiver quente, coloque a tigela da batedeira para gelar um pouco antes de começar. Tenha à mão uma outra tigela de inox e uma peneira fina ou um escorredor forrado com um pano fino (cheesecloth). Tenha certeza de que há água gelada o bastante na geladeira (uns 3 litros) e mãos à obra.
Bata o creme de leite em velocidade média na batedeira. Dependendo da quantidade de creme e de sua batedeira, pode demorar um pouco, mas ele vai ficar com consistência de chantilly, vai começar a ficar granulado e, de repente, você verá que os glóbulos de gordura se separaram do líquido, parecendo ovos mexidos nadando em leite. Pare a batedeira. Esse líquido esbranquiçado é o buttermilk, e você quer retirá-lo da manteiga e guardá-lo. Passe todo o conteúdo da batedeira pela peneira e escorra bem, recolhendo o buttermilk na tigela. Volte a manteiga para tigela da batedeira e bata por mais 30-60 segundos, para ter certeza de que todo o buttermilk saiu. Se algum líquido se desprender, escorra novamente pela peneira e volte a manteiga para a tigela da batedeira. Pronto, você já tem seu buttermilk e pode guardá-lo numa garrafinha fechada na geladeira.
Cubra a manteiga com água gelada. Mergulhe suas mãos (limpas, claro) na água gelada, e amasse, sove a manteiga, para desprender qualquer buttermilk que tenha sobrado. Quando a água parecer um pouco turva, escorra (agora na pia! Essa água não deve ser acrescida ao buttermilk!) e coloque mais água gelada. Repita a sova – é mais uma massagem espremendo do que uma sova propriamente dita – e a troca de água até que a água permaneça cristalina. Tenha certeza de que a água e suas mãos, principalmente, estão bem geladas, ou a manteiga começará a se liquefazer.
Escorra a água e divida a manteiga em pedaços de 100g ou 200g, lembrando-se de que a manteiga fresca vai durar alguns dias apenas na sua geladeira, então é melhor deixar na mantegueira apenas o que conseguirá consumir rapidamente e embrulhar as porções restantes em papel-manteiga ou filme plástico e guardar no freezer. Se quiser salgar sua manteiga, preservando-a por 2 ou 3 semanas, espalhe-a numa camada fina e salpique 1/4 colh. (chá) de sal fino para cada 100g de manteiga. Misture "sovando" com as mãos molhadas e geladas e então divida nas porções desejadas.
Se você tiver daquelas espátulas de madeira com ranhuras, próprias para a produção de manteiga, deixe-as de molho em água gelada por meia hora antes de começar e use-as para moldar a manteiga em tabletes e misturar o sal. Eu não tenho. Meus tabletes ficaram tortos, mas quem se importa?!
O resultado, feito com um creme bastante gorduroso, foi uma manteiga muito clara, delicadamente amarelada, e muito doce, mesmo o tablete que salguei para deixar na mantegueira (o tablete sem sal foi para o freezer, para ser usado depois). Ficou deliciosa, e não vejo a hora de tentar variações sobre o tema, como a manteiga "azeda", estilo francês, feita com creme azedo, quase um crème fraîche.
Achara estranho ler no livro que eu poderia usar o buttermilk em receitas ou para beber. "Manias irlandesas estranhas", pensei. Mas ao prová-lo entendi. É delicioso. Guarde-o na geladeira e use em poucos dias. O meu provavelmente virará Irish Soda Bread, só para manter a linha do livro. ;)
Apesar de já ter visto uma centena de blogs falando a respeito e outra dezena de livros com instruções precisas, foi o Forgotten Skills of Cooking que abri para ser meu guia. Ando apaixonada por esse livro, suas histórias e suas preciosas informações a respeito de comida de verdade. Não apenas a autora nos fornece relatos apaixonados sobre uma vida mais natural – que vou começar a chamar de uma vida "normal", porque a vida que se têm hoje em dia simplesmente não é –, mas ela também se apoia em estudos recentes que corroboram com o retorno do leite cru, das gorduras naturais, dos orgânicos, do ritmo mais lento, do feito em casa, do artesanal. Não é apenas moda, é uma necessidade.
É claro que na minha cozinha pequena e ainda um pouco atrapalhada – a gravidez parece ter colocado alguns neurônios meus para dormir, e ando distraída e sem foco – acabei fazendo bagunça e sujando mais louça do que o necessário. O que tornou o processo de limpeza da bagunça, desengordurando todos os utensílios que usei sem precisar deles, um pouco chato. Fazer a manteiga, no entanto, é um prazer, e é tão fácil que me sinto tentada a nunca mais comprar os tabletes prontos. A única coisa de que você precisa se lembrar é de encher algumas garrafas com água e colocar para gelar no dia anterior. E comprar seu creme de leite fresco. O seu favorito. O mais saboroso. O que bate o melhor chantilly. Pois sua manteiga, obviamente, só será tão boa quanto o creme que você usar. Se puder, compre um que seja apenas pasteurizado, e não homogeneizado. Aliás, isso vale para seu leite também. A textura e o sabor são melhores. Se puder colocar suas patinhas em creme de leite fresco de verdade, ainda cru, melhor ainda. Mas, voltando a nós pobres mortais que vivemos em São Paulo e só temos o pasteurizado nas gôndolas do supermercado. CLARO: estou falando de creme de leite de garrafa, aquele que fica na geladeira. Pelamordedeus, não vá me tentar fazer manteiga com o creme de lata ou o de caixinha. Muito menos com aqueles de caixinha que dizem que são feitos para chantilly. Aquilo é um creme mequetrefe misturado a gomas para criar textura e não deve nunca entrar na sua cozinha. Eca... :P
Bom... a manteiga. Você só precisa de creme de leite. Com 1kg de creme, produzi 2 tabletes de 210g e cerca de 500ml de buttermilk. Mas isso, acredito, vai depender do teor de gordura do seu creme, assim como a cor do produto final. Se o dia estiver quente, coloque a tigela da batedeira para gelar um pouco antes de começar. Tenha à mão uma outra tigela de inox e uma peneira fina ou um escorredor forrado com um pano fino (cheesecloth). Tenha certeza de que há água gelada o bastante na geladeira (uns 3 litros) e mãos à obra.
Bata o creme de leite em velocidade média na batedeira. Dependendo da quantidade de creme e de sua batedeira, pode demorar um pouco, mas ele vai ficar com consistência de chantilly, vai começar a ficar granulado e, de repente, você verá que os glóbulos de gordura se separaram do líquido, parecendo ovos mexidos nadando em leite. Pare a batedeira. Esse líquido esbranquiçado é o buttermilk, e você quer retirá-lo da manteiga e guardá-lo. Passe todo o conteúdo da batedeira pela peneira e escorra bem, recolhendo o buttermilk na tigela. Volte a manteiga para tigela da batedeira e bata por mais 30-60 segundos, para ter certeza de que todo o buttermilk saiu. Se algum líquido se desprender, escorra novamente pela peneira e volte a manteiga para a tigela da batedeira. Pronto, você já tem seu buttermilk e pode guardá-lo numa garrafinha fechada na geladeira.
Cubra a manteiga com água gelada. Mergulhe suas mãos (limpas, claro) na água gelada, e amasse, sove a manteiga, para desprender qualquer buttermilk que tenha sobrado. Quando a água parecer um pouco turva, escorra (agora na pia! Essa água não deve ser acrescida ao buttermilk!) e coloque mais água gelada. Repita a sova – é mais uma massagem espremendo do que uma sova propriamente dita – e a troca de água até que a água permaneça cristalina. Tenha certeza de que a água e suas mãos, principalmente, estão bem geladas, ou a manteiga começará a se liquefazer.
Escorra a água e divida a manteiga em pedaços de 100g ou 200g, lembrando-se de que a manteiga fresca vai durar alguns dias apenas na sua geladeira, então é melhor deixar na mantegueira apenas o que conseguirá consumir rapidamente e embrulhar as porções restantes em papel-manteiga ou filme plástico e guardar no freezer. Se quiser salgar sua manteiga, preservando-a por 2 ou 3 semanas, espalhe-a numa camada fina e salpique 1/4 colh. (chá) de sal fino para cada 100g de manteiga. Misture "sovando" com as mãos molhadas e geladas e então divida nas porções desejadas.
Se você tiver daquelas espátulas de madeira com ranhuras, próprias para a produção de manteiga, deixe-as de molho em água gelada por meia hora antes de começar e use-as para moldar a manteiga em tabletes e misturar o sal. Eu não tenho. Meus tabletes ficaram tortos, mas quem se importa?!
O resultado, feito com um creme bastante gorduroso, foi uma manteiga muito clara, delicadamente amarelada, e muito doce, mesmo o tablete que salguei para deixar na mantegueira (o tablete sem sal foi para o freezer, para ser usado depois). Ficou deliciosa, e não vejo a hora de tentar variações sobre o tema, como a manteiga "azeda", estilo francês, feita com creme azedo, quase um crème fraîche.
Achara estranho ler no livro que eu poderia usar o buttermilk em receitas ou para beber. "Manias irlandesas estranhas", pensei. Mas ao prová-lo entendi. É delicioso. Guarde-o na geladeira e use em poucos dias. O meu provavelmente virará Irish Soda Bread, só para manter a linha do livro. ;)
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Bolo de carne sem carne num belo de um sanduíche
Para ser sincera, não me lembro de minha própria mãe preparando bolo de carne com muita frequência. Carne moída, em casa, tinha quase sempre outros destinos: lasagne, polpette, e, principalmente, aquela "torta" de carne moída e purê de batatas, que muitos anos depois, quando minha mãe se lamentava que sua comida não era "sofisticada" como a minha (até parece!), contei-lhe que se tratava de Hachis Parmentier, o que a deixou muito contente e orgulhosa. ;)
O caso é que desde que comprei esse livro da Deborah Madison, que apesar de trabalhoso é um dos melhores que tenho, estava de olho nessa receita de "Cheese and Nut Loaf", uma versão vegetariana do bolo de carne, que prometia ser tão "meaty" e satisfatória quanto o original. Mas eu nunca tinha todos os ingredientes em casa, e eu sempre arranjava uma desculpa para não prepará-lo.
Até ontem.
Se arrependimento matasse... como é que eu não fiz esse prato no dia em que comprei o livro?? Ele é de preparo fácil, principalmente se você tiver sobras de arroz integral. E a única parte chatinha é picar as nozes, mas isso você pode fazer num processador, com cuidado para não transformá-las em farinha: você quer pedaços irregulares para conferir textura ao bolo.
Além do fato de ele ficar a cara de um meatloaf de verdade (inclusive mesma textura), fica absolutamente delicioso. E eu me diverti com a carinha caseira dele e o fato de seus ingredientes serem tão naturebas: parece o tipo de prato que uma mãezona "hipponga", de saia indiana e lenço na cabeça, faria. Imagino que seja uma receita dada a adaptações, também, trocando-se os tipos de nozes (com castanha-do-Pará deve ficar bom!), variando os tipos de queijo ralado, as ervas (acho que dá pra simplificar), os cogumelos... Se duvidar, deve continuar gostoso mesmo sem o gosto forte dos cogumelos secos. Ah, e funciona mesmo quando o arroz fica empapado. :D
O resultado é um bolo de queijo e nozes bastante substancial, então uma saladinha basta para acompanhá-lo. Deborah Madison sugere servi-lo com molho branco com ervas, mas eu sabia que o condimento principal aqui em casa estava fadado a ser o ketchup. O melhor de tudo, ele é facilmente "requentável", e fica ótimo dentro de um belo sanduíche com alface, tomate, mostarda e maionese, que foi, por acaso, meu almoço. :)
BOLO DE QUEIJO E NOZES (bolo de carne vegetariano)
(do livro The Greens Cookbook, de Deborah Madison)
Tempo de preparo: 40 min + 1h15min de forno
Rendimento: 1 bolo de cerca de 21x10cm
Ingredientes:
- 1 1/2 xic. de arroz integral (orgânico) já cozido (Cerca de 1/2 xic. de arroz integral cru rendem o suficiente para a receita)
- 1 1/2 xic. nozes
- 1/2 xic. castanhas de caju
- 1 cebola média, picada
- 2 colh. (sopa) manteiga
- sal
- 2 dentes de alho, picados
- 1/2 xic. cogumelos (à sua escolha), limpos e picados
- 15-30g cogumelos shiitake ou porcini secos
- 2 colh. (sopa) salsinha picada
- 2 colh. (chá) folhas de tomilho, ou 1/2 colh. (chá) tomilho seco
- 1 colh. (sopa) manjerona fresca, ou 1 colh. (chá) manjerona seca
- 1 colh. (chá) sálvia fresca picada, ou 1/2 colh. (chá) sálvia seca
- 4 ovos orgânicos
- 1 xic. queijo cottage (caseiro ou comprado pronto, sem gomas)
- 250-350g queijo ralado grosso que derreta bem (como Parmesão ralado na hora, Gruyère, Ementhal, Fontina, Prato, Mussarela, Cheddar... dependendo do que você tiver à mão)
- Pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
- Comece cozinhando o arroz, caso você não o tenha pronto. Enquanto o arroz cozinha, deixe os cogumelos secos de molho em água quente. Toste as nozes e castanhas numa frigideira grande e quente, até que fiquem perfumadas, sem deixar queimar. Pique e reserve.
- Pré-aqueça o forno a 190ºC.
- Limpe os resquícios de nozes da frigideira e derreta a manteiga em fogo moderado. Junte a cebola, uma pitada de sal, e cozinhe até amaciá-la. Enquanto isso, rapidamente escorra os cogumelos secos e pique-os grosseiramente. Junte-os à cebola com o alho, os cogumelos frescos e as ervas. Cozinhe até que todo o líquido liberado pelos cogumelos se evapore.
- Bata ligeiramente os ovos numa tigela grande. Junte o arroz cozido, os cogumelos refogados, as nozes, os queijos e misture muito bem. Experimente, tempere com pimenta e acerte o sal se necessário.
- Unte uma forma de bolo inglês com manteiga. (A receita original pede para forrar com papel-manteiga untado, mas ele grudou no bolo. Eu faria novamente sem o papel, pois fica mais fácil de apenas passar uma faquinha nas laterais e desenformar. Só fique de olho para não queimar.) Espalhe uniformemente a mistura na forma, preenchendo bem e alisando a superfície com uma colher.
- Asse por 1h-1h15m, ou até que o bolo esteja inflado, bem dourado e pareça firme ao balançar a forma. Retire do forno e deixe descansar por 10 minutos antes de desenformar e servir. Para reaquecer as sobras, pegue a fatia que você quer, embrulhe em papel alumínio e leve ao forno médio por uns 15 minutos.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Torradas de Endívia e Gruyère: quando o pouco promissor fica fantástico
É ligeiramente irritante quando o que há na cozinha são apenas sobras desparelhadas: uma endívia já não tão crocante para uma salada, um pedaço de queijo que não dá pra muita coisa, um pãozinho meio amanhecido, e coisinhas deprimentes do gênero. E bate uma preguiça fenomenal de ir ao mercado para se abastecer de qualquer coisa fresca que possa complementar essa refeição tristinha. Então, fuçando em livros como quem não quer nada, você dá de cara com uma receita que usa absolutamente todos aqueles seus restos de forma gloriosa, sem que você precise sequer pensar em tirar o pé de casa para comprar ingredientes extras. E você volta a se empolgar com as perspectivas do almoço.
O pãozinho foi fatiado e disposto numa assadeira. Liguei o grill do forno (mas poderia tê-lo pré-aquecido em temperatura média caso não tivesse o grill). Cortei a endívia triste em quartos, no sentido do comprimento, e então cortei-a em pedaços de 1cm. Aqueci um pouco de manteiga numa frigideira em fogo alto e refoguei a endívia até que estivesse macia e ligeiramente dourada em alguns pontos. Desliguei o fogo e temperei com sal, pimenta-do-reino moída na hora e uma espremidinha de limão. Ralei tanto queijo Gruyère quanto as fatias de pão contivessem de forma segura e levei os pãezinhos ao forno, até que suas beiradas estivessem douradas e o queijo estivesse muito bem derretido. Retirei do forno, espalhei colheradas de endívia sobre as torradas quentes e salpiquei nozes picadas, um toque meu, que não estava na receita de Deborah Madison (do livro Local Flavors).
Tão bom... pode virar fácil o antepasto da próxima reunião de amigos, ou mesmo prato principal bem leve, com uma saladinha verde com molho de mostarda. Para acompanhar, suco de uva isabel orgânico e de sobremesa, fatias de abacaxi salpicadas de manjericão roxo.
O pãozinho foi fatiado e disposto numa assadeira. Liguei o grill do forno (mas poderia tê-lo pré-aquecido em temperatura média caso não tivesse o grill). Cortei a endívia triste em quartos, no sentido do comprimento, e então cortei-a em pedaços de 1cm. Aqueci um pouco de manteiga numa frigideira em fogo alto e refoguei a endívia até que estivesse macia e ligeiramente dourada em alguns pontos. Desliguei o fogo e temperei com sal, pimenta-do-reino moída na hora e uma espremidinha de limão. Ralei tanto queijo Gruyère quanto as fatias de pão contivessem de forma segura e levei os pãezinhos ao forno, até que suas beiradas estivessem douradas e o queijo estivesse muito bem derretido. Retirei do forno, espalhei colheradas de endívia sobre as torradas quentes e salpiquei nozes picadas, um toque meu, que não estava na receita de Deborah Madison (do livro Local Flavors).
Tão bom... pode virar fácil o antepasto da próxima reunião de amigos, ou mesmo prato principal bem leve, com uma saladinha verde com molho de mostarda. Para acompanhar, suco de uva isabel orgânico e de sobremesa, fatias de abacaxi salpicadas de manjericão roxo.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Waffles de banana para a fase 2
A Fase 1 parece ter acabado. O que havia de azia das cinco da tarde e "apetite seletivo" – ainda que não tenha havido enjôos – parece ter ficado para trás. O sono monstruoso, que me colocava na cama, derrubada, impreterivelmente às sete da noite, também foi embora, ainda que eu tenha algumas recaídas que me deixam pescando nos fins de tarde em frente ao computador.
Agora, conforme uma inconfundível protuberância arredondada começa a aparecer cercando meu umbigo (finalmente!), pareço ter entrado definitivamente na Fase 2. Ah, Fase 2. Quando choro vendo desenhos animados, choro porque o pão de queijo acabou, choro porque... é terça-feira. O marido assiste inconformado, enquanto tento, soluçando, explicar o novo motivo esdrúxulo que me leva às lágrimas. Às vezes minha mente deturpada inventa que a culpa é dele. E mesmo enquanto o acuso me dou conta de que o fato de ele não ter levado a xícara de café para a cozinha não é motivo grande o bastante para 35 minutos de choro barulhento e ininterrupto. Então choro porque me dou conta de que estou à mercê dos hormônios e choro por me sentir ridícula.
Para aplacar toda essa choradeira, lambida de cachorro, abraço de marido e waffles de banana com nozes. Ah, waffles de banana. Se me dissessem que nunca mais poderia comê-los, choraria por isso também, mas o motivo seria mais do que justo. Porque eles são de fato uma delícia, fofos e com aquele delicioso perfume de bolo de banana. Feitos para uma manhã sossegada de fim de semana, pés cruzados em cima da mesinha, uma xícara de café quente, nenhuma pressa de tirar o pijama. De chorar, de tão bom.
Agora, conforme uma inconfundível protuberância arredondada começa a aparecer cercando meu umbigo (finalmente!), pareço ter entrado definitivamente na Fase 2. Ah, Fase 2. Quando choro vendo desenhos animados, choro porque o pão de queijo acabou, choro porque... é terça-feira. O marido assiste inconformado, enquanto tento, soluçando, explicar o novo motivo esdrúxulo que me leva às lágrimas. Às vezes minha mente deturpada inventa que a culpa é dele. E mesmo enquanto o acuso me dou conta de que o fato de ele não ter levado a xícara de café para a cozinha não é motivo grande o bastante para 35 minutos de choro barulhento e ininterrupto. Então choro porque me dou conta de que estou à mercê dos hormônios e choro por me sentir ridícula.
Para aplacar toda essa choradeira, lambida de cachorro, abraço de marido e waffles de banana com nozes. Ah, waffles de banana. Se me dissessem que nunca mais poderia comê-los, choraria por isso também, mas o motivo seria mais do que justo. Porque eles são de fato uma delícia, fofos e com aquele delicioso perfume de bolo de banana. Feitos para uma manhã sossegada de fim de semana, pés cruzados em cima da mesinha, uma xícara de café quente, nenhuma pressa de tirar o pijama. De chorar, de tão bom.
WAFFLES DE BANANA E NOZES
(do livro KitchenAid - Best Loved Recipes)
Tempo de preparo: 25 minutos
Rendimento: 4 porções
Ingredientes:
- 3/4 xic. nozes ou pecãs
- 2 xíc. farinha de trigo
- 1/4 xic. de açúcar cristal orgânico
- 2 colh. (chá) fermento químico em pó
- 1 colh. (chá) sal
- 2 ovos, clara e gemas separadas
- 2 xic. buttermilk
- 2 bananas médias, bem maduras, amassadas (cerca de 1 xíc.)
- 4 colh. (sopa) manteiga, derretida
- 1 colh. (chá) extrato de baunilha
Preparo:
- Toste as nozes em fogo baixo numa frigideira, até que fiquem perfumadas, com cuidado para não queimá-las. Pique-as e reserve.
- Pincele um ferro de waffles com manteiga e aqueça-o (ou siga as instruções do fabricante, no caso dos elétricos).
- Enquanto isso, misture a farinha, o açúcar, fermento e sal numa tigela grande e reserve. Bata as gemas em outra tigela e adicione o buttermilk, bananas amassadas, baunilha e nozes picadas, misturando bem. Junte a mistura líquida à seca, mexendo com uma espátula apenas até não haver mais pontos de farinha.
- Bata as claras na batedeira em velocidade alta, até que forme picos firmes, mas não ressecados. Misture as claras ao restante da massa, aos poucos, em movimentos de baixo para cima, girando a tigela, rapidamente.
- Cozinhe os waffles até que fiquem dourados, com cuidado para não queimá-los. Sirva-os quentes, com maple syrup ou mel, e, se quiser, fatias extras de banana e nozes picadas.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Microtortinhazinhas bonitinhas de cogumelos ou do que você quiser
E resolvi fazer meu bolo de aniversário [31 anos, para quem estiver curioso]. E resolvi que seria um bolo de chocolate com recheio e cobertura de marshmallow e uma "pintura" de chocolate ao leite. Receita de um livro que jamais me decepcionou.
No entanto, algo deu errado.
A receita citava o chocolate, mandava derretê-lo, mas não dizia quando incorporá-lo à massa. Sem pânico, tendo já feito muitos bolos, misturei-o à massa junto com o café, no final do processo. Bolos no forno, muitos minutos passados. Eles estão sequinhos, palitos saindo limpos, mas suas superfícies não estão tão firmes quanto a receita sugere. Estão fofos. Perigosamente fofos. Longe de mim reclamar de um bolo fofo, mas quando estamos pensando em camadas, pensamos em bolos firmes o bastante para suportarem a manipulação e empilhamento sem grandes problemas. Bem... problemas. Os bolos são tão fofos que ameaçam partirem-se ao meio quando tento levantá-los da grade para empilhá-los. Foi uma lambança movê-los sem maiores prejuízos.
Hora da cobertura. O marshmallow vai bem, lindo, branco e fofo. Mas a receita pede para batê-lo por 2-3 minutos para esfriá-lo até determinada temperatura. Tenho de ficar parando a batedeira para inserir o termômetro eletrônico e checar. Desastre: não se passaram 2 minutos e o marshmallow já está mais frio do que deveria. Corro para espalhá-lo no primeiro bolo. Tudo ok. Atrapalhada, posiciono o segundo bolo em cima do recheio. Começo a espalhar a cobertura. O bolo é macio demais. A espátula cheia de marshmallow quase frio e não tão cremoso começa a arrastar migalhas e verdadeiros pedacinhos de bolo junto, arruinando a alvura angelical que eu almejava e transformando o bolo num pequeno dálmata circular. Não consigo alisar a cobertura sem correr o risco de desmontar todo o bolo. Ele fica assim, rebarbento, pontilhado. Nhé.
Suspiro. Fazer o quê? Agora é deixá-lo secar umas duas horas para pincelar o chocolate ao leite. Passam-se duas horas e o marshmallow continua mole. Passam-se três. Quatro. Apanho o secador de cabelos e ligo o botão de ar frio para ver se resolve alguma coisa. Nada. O vento move a cobertura mas ela não resseca. Coloco o bolo na geladeira. E devagar, muito devagarinho, ele começa a secar. Mas não o suficiente. Não vai dar tempo. Apanho o pincel e o chocolate derretido e faço minha arte. Arte de criança de 3 anos, que pinta fora da linha. O chocolate claro, mal pincelado sobre uma cobertura branca, irregular e grudenta, faz o bolo parecer feito de neve suja. Manchas marrons pouco atraentes num solo branco mal acabado e pontilhado.
Feio. Muito feio. Nem fotografo. Vocês me matam se precisarem passar pelo que passei para provarem um bolo que ficou gostoso, mas não vale tanto esforço e stress.
No fim, olho minhas tortinhas. Lindas, perfeitas, simples. Diferentes do bolo. Receita tirada de um livro que ganhei na quinta-feira meio que de surpresa, de uma boa amiga da corrida, incrivelmente doce e gentil. As tortinhas foram tão fáceis de fazer que achei que não dariam certo. Vão grudar na forma. Nunca mais vou tirá-las daí. Não vão ficar gostosas. Mas ficaram tão boas que minha irmã, famigerada "detestadora" de cogumelos, comeu, gostou e repetiu.
Tão poucos ingredientes rendem uma fornada inteira de microtortinhas. Fica fácil e em conta fazer mais fornadas e servir as delicadezas numa festa, e elas têm carinha de comida de buffet, de cocktail party. Mas não foram bandejas prateadas que me vieram à mente. Meu cérebro, que anda muito focado em uma coisa e uma coisa apenas, imediatamente transportou as tortinhas para o futuro, para as festinhas infantis, e fiquei cogitando recheios que as outras crianças comeriam. [Por que afinal, sonho meu, meus filhos vão comer cogumelos; mas filho dos outros, já não sei não... ;) ]
Quando digo fácil, digo fácil mesmo. A massa fica pronta em instantes e você não precisa sequer abri-la com rolo. Basta separar em bolinhas e pressioná-las com os dedos diretamente na forma de minimuffins (ou forminhas pequenas de empada) sem sequer untar. Distribuir o recheio causa pânico. Você não acredita que seja o bastante. Mas milagrosamente aquelas poucas gotas de creme de ovo em volta dos cogumelos de fato infla, e as tortinhas saem lindas, douradas, recheadas, com um cheiro maravilhoso.
Se é para dividir algo com vocês, uma receita de aniversário, prefiro que seja algo que deu certo de primeira e que pretendo repetir à exaustão. Essas prometem virarem um clássico. :)
Obs: eu dobrei a receita para servir em casa, fazendo 48 tortinhas. Fiz toda a massa (o dobro) de uma vez, colocando para gelar apenas uma vez, e dividindo ao meio na hora de fazer as tortas. Metade da massa ficou na geladeira enquanto dividia e assava a primeira fornada. Assim que a forma esfriou (rapidamente), preparei a segunda fornada.
No entanto, algo deu errado.
A receita citava o chocolate, mandava derretê-lo, mas não dizia quando incorporá-lo à massa. Sem pânico, tendo já feito muitos bolos, misturei-o à massa junto com o café, no final do processo. Bolos no forno, muitos minutos passados. Eles estão sequinhos, palitos saindo limpos, mas suas superfícies não estão tão firmes quanto a receita sugere. Estão fofos. Perigosamente fofos. Longe de mim reclamar de um bolo fofo, mas quando estamos pensando em camadas, pensamos em bolos firmes o bastante para suportarem a manipulação e empilhamento sem grandes problemas. Bem... problemas. Os bolos são tão fofos que ameaçam partirem-se ao meio quando tento levantá-los da grade para empilhá-los. Foi uma lambança movê-los sem maiores prejuízos.
Hora da cobertura. O marshmallow vai bem, lindo, branco e fofo. Mas a receita pede para batê-lo por 2-3 minutos para esfriá-lo até determinada temperatura. Tenho de ficar parando a batedeira para inserir o termômetro eletrônico e checar. Desastre: não se passaram 2 minutos e o marshmallow já está mais frio do que deveria. Corro para espalhá-lo no primeiro bolo. Tudo ok. Atrapalhada, posiciono o segundo bolo em cima do recheio. Começo a espalhar a cobertura. O bolo é macio demais. A espátula cheia de marshmallow quase frio e não tão cremoso começa a arrastar migalhas e verdadeiros pedacinhos de bolo junto, arruinando a alvura angelical que eu almejava e transformando o bolo num pequeno dálmata circular. Não consigo alisar a cobertura sem correr o risco de desmontar todo o bolo. Ele fica assim, rebarbento, pontilhado. Nhé.
Suspiro. Fazer o quê? Agora é deixá-lo secar umas duas horas para pincelar o chocolate ao leite. Passam-se duas horas e o marshmallow continua mole. Passam-se três. Quatro. Apanho o secador de cabelos e ligo o botão de ar frio para ver se resolve alguma coisa. Nada. O vento move a cobertura mas ela não resseca. Coloco o bolo na geladeira. E devagar, muito devagarinho, ele começa a secar. Mas não o suficiente. Não vai dar tempo. Apanho o pincel e o chocolate derretido e faço minha arte. Arte de criança de 3 anos, que pinta fora da linha. O chocolate claro, mal pincelado sobre uma cobertura branca, irregular e grudenta, faz o bolo parecer feito de neve suja. Manchas marrons pouco atraentes num solo branco mal acabado e pontilhado.
Feio. Muito feio. Nem fotografo. Vocês me matam se precisarem passar pelo que passei para provarem um bolo que ficou gostoso, mas não vale tanto esforço e stress.
No fim, olho minhas tortinhas. Lindas, perfeitas, simples. Diferentes do bolo. Receita tirada de um livro que ganhei na quinta-feira meio que de surpresa, de uma boa amiga da corrida, incrivelmente doce e gentil. As tortinhas foram tão fáceis de fazer que achei que não dariam certo. Vão grudar na forma. Nunca mais vou tirá-las daí. Não vão ficar gostosas. Mas ficaram tão boas que minha irmã, famigerada "detestadora" de cogumelos, comeu, gostou e repetiu.
Tão poucos ingredientes rendem uma fornada inteira de microtortinhas. Fica fácil e em conta fazer mais fornadas e servir as delicadezas numa festa, e elas têm carinha de comida de buffet, de cocktail party. Mas não foram bandejas prateadas que me vieram à mente. Meu cérebro, que anda muito focado em uma coisa e uma coisa apenas, imediatamente transportou as tortinhas para o futuro, para as festinhas infantis, e fiquei cogitando recheios que as outras crianças comeriam. [Por que afinal, sonho meu, meus filhos vão comer cogumelos; mas filho dos outros, já não sei não... ;) ]
Quando digo fácil, digo fácil mesmo. A massa fica pronta em instantes e você não precisa sequer abri-la com rolo. Basta separar em bolinhas e pressioná-las com os dedos diretamente na forma de minimuffins (ou forminhas pequenas de empada) sem sequer untar. Distribuir o recheio causa pânico. Você não acredita que seja o bastante. Mas milagrosamente aquelas poucas gotas de creme de ovo em volta dos cogumelos de fato infla, e as tortinhas saem lindas, douradas, recheadas, com um cheiro maravilhoso.
Se é para dividir algo com vocês, uma receita de aniversário, prefiro que seja algo que deu certo de primeira e que pretendo repetir à exaustão. Essas prometem virarem um clássico. :)
MICROTORTINHAS DE COGUMELOS
(do livro KitchenAid Best Loved Recipes)
Tempo de preparo: 5 minutos + 1 hora de descanso + 20 minutos de forno
Rendimento: 24 tortinhas
Ingredientes:
(massa)
- 115g cream cheese
- 3 colh. (sopa) manteiga em temperatura ambiente
- 3/4 xic. + 1 colh. (chá) farinha de trigo
(recheio)
- 250g cogumelos, picados grosseiramente
- 1/2 xic. cebolinha picada
- 1 ovo grande, orgânico
- 1/4 xic. tomilho seco
- 1/2 xic. queijo suiço ralado grosso (Gruyère, Ementhal, etc...)
Preparo:
- Coloque o cream cheese e 2 colh. (sopa) da manteiga na tigela da batedeira e bata em velocidade médio-baixa por 1 minuto. Pare, raspe com uma espátula e adicione 3/4 xic. da farinha. Reduza a velocidade para baixa e bata por 1 minuto, ou até que a massa esteja bem misturada. Forme uma bola, embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por 1 hora. Enquanto isso, faça o recheio.
- Derreta a colher (sopa) restante de manteiga numa frigideira grande, em fogo médioo. Junte os cogumelos e a cebolinha. Tempere com sal e pimenta e cozinhe, mexendo de vez em quando, até que os cogumelos estejam macios, ligeiramente dourados e toda a água que eles liberarem tiver evaporado. Remova do fogo e deixe esfriar um pouco.
- Coloque o ovo, a colher (chá) restante de farinha e o tomilho na tigela da batedeira e bata em velocidade média por 30 segundos. Com uma colher, misture o queijo e os cogumelos.
- Pré-aqueça o forno a 190ºC. Retire a massa da geladeira e divida-a em 24 pedaços iguais. Pressione cada pedaço em uma cavidade da forma de minimuffins, formando cestinhas, e divida o recheio entre elas, com a ajuda de uma colherzinha de chá ou café. Asse por 15-20 minutos, até que o recheio tenha inflado e dourado. Desenforme imediatamente com a ajuda de uma colher e sirva morno.
Obs: eu dobrei a receita para servir em casa, fazendo 48 tortinhas. Fiz toda a massa (o dobro) de uma vez, colocando para gelar apenas uma vez, e dividindo ao meio na hora de fazer as tortas. Metade da massa ficou na geladeira enquanto dividia e assava a primeira fornada. Assim que a forma esfriou (rapidamente), preparei a segunda fornada.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
I'm-having-a-baby pie
Lá estava eu numa sexta-feira com pouco trabalho, quando resolvo ligar a tv e pego The Waitress no comecinho, no canal da Fox. Aninhei-me no sofá com o cachorro, fiz um chá e me dei o direito de passar a tarde vendo um filme que eu adoro. É claro que as consequências de se assistir um filme tão ligado à comida são óbvias: saí desesperada atrás de uma torta para fazer.
Bananas são frutas que sempre me pareceram meio obrigatórias numa casa brasileira, e elas sempre estão lá, mesmo quando eu não sei bem o que fazer com elas, mesmo quando só servem de acompanhamento para uma fruta "mais interessante". No último mês, no entanto, ao invés de serem apenas a fruta-obrigação do lado da fruta-especial-da-estação, elas andam com status de estrela. Ando comendo muitas bananas, em vitaminas, com iogurte e granola, de qualquer jeito. Talvez por isso tenha decidido fazer uma torta que sempre me despertou curiosidade: Banoffee Pie.
Banoffee Pie nasceu na Inglaterra, na verdade, e não nos Estados Unidos, e é uma torta de banana e caramelo (toffee) coberta de chantilly. Apanhei a receita do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, que sempre entrega o que o título promete. De modo geral, suas receitas são bastante doces, mas sempre saborosas. Apenas fico atenta às coberturas de bolo. Qualquer calda ou buttercream que leve mais açúcar do que o próprio bolo is a no-no. Aprendi isso ao fazer um delicioso bolo de chocolate e estragá-lo com uma calda de chocolate tão doce que me lembrou as dores de dente que tinha quando criança ao mastigar aquele chiclete Pong. :P
De qualquer forma, era essa torta que eu queria. Na intenção de permanecer fiel às raízes da receita, a autora sugere o uso de Digestive Biscuits no lugar de Graham Crackers para a base da torta. Eu já aprendera que as Graham Crackers na verdade nada têm a ver com as bolachas Maria que usamos por aqui para bases de cheesecake, uma vez que a tal Graham Flour, usada nos biscoitos, aparentemente é farinha de trigo integral grossa. Noutro dia, vendo um episódio antigo de Nigella preparando cheesecake, num close da câmera, consegui ver impresso no biscoito o nome da marca de Digestive Biscuits que ela estava usando. E aquilo para mim foi uma revelação, pois me dei conta de que o Santa Luzia tinha aqueles biscoitos sempre. Corri para o mercado e comprei-os.
São definitivamente mais caros que a bolacha Maria, mas o lado bom é não ter nenhum ingrediente bizarro ou conservante. Se você tem acesso a esses biscoitos, vale a pena comprá-los uma vez, ao menos para ter uma base de comparação e poder buscar opções semelhantes nacionais. De qualquer forma, um pacote grande rende 2 ou 3 bases de torta.
Ao experimentá-los, percebi que sua textura de fato é mais grosseira, por conta do farelo de trigo, e seu sabor, ainda que suavemente adocicado, é definitivamente salgado. Logo, em seu próximo cheesecake ou torta, experimente usar algum biscoito de farinha integral de sabor neutro.
Bom, comprei logo um pacote grande e já deixei-o totalmente moído num vidro na geladeira.
Quanto ao recheio... ao ver a pataquada de cozinhar o leite condensado no forno, meu primeiro impulso foi comprar doce de leite e pronto. Mas confesso que fiquei curiosa ao ver a manteiga, baunilha e o dark brown sugar no meio. E fiz a receita ipsis literis. Acabei usando o açúcar demerara no lugar do mascavo, pois fiquei com receio de que o mascavo fosse forte demais. Mas você pode fazer seu próprio light brown sugar ou dark brown sugar, apenas misturando melado a um pouco de açúcar cristal, segundo a Joy ensina aqui. Também, depois de 2 horas, o caramelo não estava tão "tostadinho" quanto deveria, mas fiquei com muito receio de que ele endurecesse demais na geladeira caso cozinhasse mais, e preferi-o mais claro.
De qualquer forma, na pressa, acho que doce de leite claro e cremoso é uma opção totalmente válida para substituir o caramelo.
O chantilly. Da próxima vez, faria metade da quantidade ou apenas 3/4 dela. Conforme fui empilhando o creme em cima da torta, comecei a entrar em pânico, acreditando que ele transbordaria. De fato, é uma enorme quantidade de chantilly, que é puxado para baixo pela faca na hora de cortar a fatia, escondendo as camadas de caramelo e banana que eu tanto queria fotografar. Tanto que essa foto foi tirada dois dias depois, quando FINALMENTE consegui tirar uma fatia limpa. Daí o fato de o chantilly estar meio caidinho. Mas a boa notícia é que a torta de mantém super bem na geladeira por alguns dias, e o gostinho da banana só vai intensificando. A crosta não perde a crocância e o caramelo não endurece.
Veredito final: super doce, faz sujeira, mas é uma delícia! Matou completamente a minha vontade por uma torta melequenta. :)
E para quem ficou curioso com o título do post, tenho mais uma coisa em comum com Jenna além do gosto por tortas. E não é o marido patife, porque, graças a Deus, o meu marido é o melhor do mundo.
Pirulito de nabo pra quem acertar. ;)
Obs: Para quem acertou, fica a dica... já aprendi que gravidez é pior que futebol: todo mundo tem uma opinião. Quem já teve filhos se lembra de todas as histórias terroristas que gostaria de não ter ouvido. Então sejam solidárias e não as passem para frente. Tenho de ler todos os comentários para decidir se são ou não publicáveis. Mas se sentir que vem história terrorista pela frente, vou apagar, estando certa ou não, sem nem terminar de ler. Ok? Espero que gostem da notícia. Papinhas, aqui vou eu.
Bananas são frutas que sempre me pareceram meio obrigatórias numa casa brasileira, e elas sempre estão lá, mesmo quando eu não sei bem o que fazer com elas, mesmo quando só servem de acompanhamento para uma fruta "mais interessante". No último mês, no entanto, ao invés de serem apenas a fruta-obrigação do lado da fruta-especial-da-estação, elas andam com status de estrela. Ando comendo muitas bananas, em vitaminas, com iogurte e granola, de qualquer jeito. Talvez por isso tenha decidido fazer uma torta que sempre me despertou curiosidade: Banoffee Pie.
Banoffee Pie nasceu na Inglaterra, na verdade, e não nos Estados Unidos, e é uma torta de banana e caramelo (toffee) coberta de chantilly. Apanhei a receita do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, que sempre entrega o que o título promete. De modo geral, suas receitas são bastante doces, mas sempre saborosas. Apenas fico atenta às coberturas de bolo. Qualquer calda ou buttercream que leve mais açúcar do que o próprio bolo is a no-no. Aprendi isso ao fazer um delicioso bolo de chocolate e estragá-lo com uma calda de chocolate tão doce que me lembrou as dores de dente que tinha quando criança ao mastigar aquele chiclete Pong. :P
De qualquer forma, era essa torta que eu queria. Na intenção de permanecer fiel às raízes da receita, a autora sugere o uso de Digestive Biscuits no lugar de Graham Crackers para a base da torta. Eu já aprendera que as Graham Crackers na verdade nada têm a ver com as bolachas Maria que usamos por aqui para bases de cheesecake, uma vez que a tal Graham Flour, usada nos biscoitos, aparentemente é farinha de trigo integral grossa. Noutro dia, vendo um episódio antigo de Nigella preparando cheesecake, num close da câmera, consegui ver impresso no biscoito o nome da marca de Digestive Biscuits que ela estava usando. E aquilo para mim foi uma revelação, pois me dei conta de que o Santa Luzia tinha aqueles biscoitos sempre. Corri para o mercado e comprei-os.
São definitivamente mais caros que a bolacha Maria, mas o lado bom é não ter nenhum ingrediente bizarro ou conservante. Se você tem acesso a esses biscoitos, vale a pena comprá-los uma vez, ao menos para ter uma base de comparação e poder buscar opções semelhantes nacionais. De qualquer forma, um pacote grande rende 2 ou 3 bases de torta.
Ao experimentá-los, percebi que sua textura de fato é mais grosseira, por conta do farelo de trigo, e seu sabor, ainda que suavemente adocicado, é definitivamente salgado. Logo, em seu próximo cheesecake ou torta, experimente usar algum biscoito de farinha integral de sabor neutro.
Bom, comprei logo um pacote grande e já deixei-o totalmente moído num vidro na geladeira.
Quanto ao recheio... ao ver a pataquada de cozinhar o leite condensado no forno, meu primeiro impulso foi comprar doce de leite e pronto. Mas confesso que fiquei curiosa ao ver a manteiga, baunilha e o dark brown sugar no meio. E fiz a receita ipsis literis. Acabei usando o açúcar demerara no lugar do mascavo, pois fiquei com receio de que o mascavo fosse forte demais. Mas você pode fazer seu próprio light brown sugar ou dark brown sugar, apenas misturando melado a um pouco de açúcar cristal, segundo a Joy ensina aqui. Também, depois de 2 horas, o caramelo não estava tão "tostadinho" quanto deveria, mas fiquei com muito receio de que ele endurecesse demais na geladeira caso cozinhasse mais, e preferi-o mais claro.
De qualquer forma, na pressa, acho que doce de leite claro e cremoso é uma opção totalmente válida para substituir o caramelo.
O chantilly. Da próxima vez, faria metade da quantidade ou apenas 3/4 dela. Conforme fui empilhando o creme em cima da torta, comecei a entrar em pânico, acreditando que ele transbordaria. De fato, é uma enorme quantidade de chantilly, que é puxado para baixo pela faca na hora de cortar a fatia, escondendo as camadas de caramelo e banana que eu tanto queria fotografar. Tanto que essa foto foi tirada dois dias depois, quando FINALMENTE consegui tirar uma fatia limpa. Daí o fato de o chantilly estar meio caidinho. Mas a boa notícia é que a torta de mantém super bem na geladeira por alguns dias, e o gostinho da banana só vai intensificando. A crosta não perde a crocância e o caramelo não endurece.
Veredito final: super doce, faz sujeira, mas é uma delícia! Matou completamente a minha vontade por uma torta melequenta. :)
E para quem ficou curioso com o título do post, tenho mais uma coisa em comum com Jenna além do gosto por tortas. E não é o marido patife, porque, graças a Deus, o meu marido é o melhor do mundo.
Pirulito de nabo pra quem acertar. ;)
Obs: Para quem acertou, fica a dica... já aprendi que gravidez é pior que futebol: todo mundo tem uma opinião. Quem já teve filhos se lembra de todas as histórias terroristas que gostaria de não ter ouvido. Então sejam solidárias e não as passem para frente. Tenho de ler todos os comentários para decidir se são ou não publicáveis. Mas se sentir que vem história terrorista pela frente, vou apagar, estando certa ou não, sem nem terminar de ler. Ok? Espero que gostem da notícia. Papinhas, aqui vou eu.
BANOFFEE PIE
(do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, de Jill O'Connor)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: a autora diz 6-8, mas eu arriscaria uns 10 pedaços, pela torta ser bem doce
Ingredientes:
(recheio)
- 2 latas de leite condensado (395g cada)
- 1 colh. (chá) extrato de baunilha
- 1/4 xic. açúcar demerara ou mascavo orgânicos(o mascavo fica mais forte e mais escuro)
- 4 colh. (sopa) manteiga sem sal derretida
- 1/4 colh. (chá) sal
(base)
- 2 1/2 xic. de Digestive Biscuits ou Graham Crackers (algum biscoito de farinha integral de sabor neutro, nem excessivamente doce nem com grãos de sal)
- 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
- 1/2 xic. (120g) manteiga sem sal derretida
(cobertura)
- 3 bananas médias, maduras mas firmes (ou o bastante p/ uma camada única)
- 2 xic. creme de leite fresco
- 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
- 1/4 colh. (chá) de grânulos de café instantâneo dissolvido em 1 colh. (chá) extrato de baunilha
Preparo:
- Posicione uma grade no meio do forno e pré-aqueça a 205ºC.
- Para fazer o recheio, misture todos os ingredientes numa tigela refratária com capacidade para 6 xícaras, cubra a tigela com papel alumínio e coloque-a em uma assadeira média (20x30cm, mais ou menos). Preencha a assadeira com água fervente até metade da altura da tigela e leve ao forno com cuidado, e asse por 1h30 a 2h, mexendo com uma colher de pau a cada 15 minutos, até que esteja reduzido e caramelado. Retire do forno, retire a tigela da água e deixe esfriar.
- Abaixe a temperatura do forno para 180ºC. Enquanto o caramelo esfria, faça a base. Misture numa tigela o biscoito moído, o açúcar e a manteiga derretida, até que todo o farelo pareça úmido. Despeje numa forma de torta ou de bolo, de fundo removível, de cerca de 23cm de diâmetro e 7cm de altura. Aperte contra o fundo e as laterais (é mais fácil usando um copo de laterais retas) de forma uniforme. Leve ao forno por 5-7 minutos, ou até que os farelos pareçam secos e dourado-escuros. Retire e deixe esfriar.
- Quando a base estiver fria, espalhe o caramelo numa camada uniforme. Nesse ponto, você pode cobrir com filme plástico e levar à geladeira por até 24h para terminar depois. Senão, apenas leve à geladeira o suficiente para o caramelo terminar de esfriar.
- Corte as bananas em rodelas de cerca de 0,5mm e arranje-as sobre o caramelo, formando uma camada única. Parece pouca banana, mas é o suficiente para um sabor acentuado.
- Na batedeira, bata o creme de leite, o açúcar e o café dissolvido na baunilha, até obter picos firmes. Espalhe o chantilly sobre as bananas, cobrindo-as totalmente, para evitar que escureçam. Refrigere a torta até a hora de servir.
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