quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bolo de carne sem carne num belo de um sanduíche


Tem coisa mais caseira que "bolo de carne"? Num dia desses, perguntei ao Allex se ele sentia falta de algum prato específico de sua infância, que ele não comia mais, e bolo de carne foi a resposta, quase imediata.

Para ser sincera, não me lembro de minha própria mãe preparando bolo de carne com muita frequência. Carne moída, em casa, tinha quase sempre outros destinos: lasagne, polpette, e, principalmente, aquela "torta" de carne moída e purê de batatas, que muitos anos depois, quando minha mãe se lamentava que sua comida não era "sofisticada" como a minha (até parece!), contei-lhe que se tratava de Hachis Parmentier, o que a deixou muito contente e orgulhosa. ;)

O caso é que desde que comprei esse livro da Deborah Madison, que apesar de trabalhoso é um dos melhores que tenho, estava de olho nessa receita de "Cheese and Nut Loaf", uma versão vegetariana do bolo de carne, que prometia ser tão "meaty" e satisfatória quanto o original. Mas eu nunca tinha todos os ingredientes em casa, e eu sempre arranjava uma desculpa para não prepará-lo.

Até ontem.

Se arrependimento matasse... como é que eu não fiz esse prato no dia em que comprei o livro?? Ele é de preparo fácil, principalmente se você tiver sobras de arroz integral. E a única parte chatinha é picar as nozes, mas isso você pode fazer num processador, com cuidado para não transformá-las em farinha: você quer pedaços irregulares para conferir textura ao bolo.

Além do fato de ele ficar a cara de um meatloaf de verdade (inclusive mesma textura), fica absolutamente delicioso. E eu me diverti com a carinha caseira dele e o fato de seus ingredientes serem tão naturebas: parece o tipo de prato que uma mãezona "hipponga", de saia indiana e lenço na cabeça, faria. Imagino que seja uma receita dada a adaptações, também, trocando-se os tipos de nozes (com castanha-do-Pará deve ficar bom!), variando os tipos de queijo ralado, as ervas (acho que dá pra simplificar), os cogumelos... Se duvidar, deve continuar gostoso mesmo sem o gosto forte dos cogumelos secos. Ah, e funciona mesmo quando o arroz fica empapado. :D

O resultado é um bolo de queijo e nozes bastante substancial, então uma saladinha basta para acompanhá-lo. Deborah Madison sugere servi-lo com molho branco com ervas, mas eu sabia que o condimento principal aqui em casa estava fadado a ser o ketchup. O melhor de tudo, ele é facilmente "requentável", e fica ótimo dentro de um belo sanduíche com alface, tomate, mostarda e maionese, que foi, por acaso, meu almoço. :)

BOLO DE QUEIJO E NOZES (bolo de carne vegetariano)
(do livro The Greens Cookbook, de Deborah Madison)
Tempo de preparo: 40 min + 1h15min de forno
Rendimento: 1 bolo de cerca de 21x10cm

Ingredientes: 
  • 1 1/2 xic. de arroz integral (orgânico) já cozido (Cerca de 1/2 xic. de arroz integral cru rendem o suficiente para a receita)
  • 1 1/2 xic. nozes
  • 1/2 xic. castanhas de caju
  • 1 cebola média, picada
  • 2 colh. (sopa) manteiga
  • sal
  • 2 dentes de alho, picados
  • 1/2 xic. cogumelos (à sua escolha), limpos e picados
  • 15-30g cogumelos shiitake ou porcini secos
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 2 colh. (chá) folhas de tomilho, ou 1/2 colh. (chá) tomilho seco
  • 1 colh. (sopa) manjerona fresca, ou 1 colh. (chá) manjerona seca
  • 1 colh. (chá) sálvia fresca picada, ou 1/2 colh. (chá) sálvia seca
  • 4 ovos orgânicos
  • 1 xic. queijo cottage (caseiro ou comprado pronto, sem gomas)
  • 250-350g queijo ralado grosso que derreta bem (como Parmesão ralado na hora, Gruyère, Ementhal, Fontina, Prato, Mussarela, Cheddar... dependendo do que você tiver à mão)
  • Pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Comece cozinhando o arroz, caso você não o tenha pronto. Enquanto o arroz cozinha, deixe os cogumelos secos de molho em água quente. Toste as nozes e castanhas numa frigideira grande e quente, até que fiquem perfumadas, sem deixar queimar. Pique e reserve. 
  2. Pré-aqueça o forno a 190ºC.
  3. Limpe os resquícios de nozes da frigideira e derreta a manteiga em fogo moderado. Junte a cebola, uma pitada de sal, e cozinhe até amaciá-la. Enquanto isso, rapidamente escorra os cogumelos secos e pique-os grosseiramente. Junte-os à cebola com o alho, os cogumelos frescos e as ervas. Cozinhe até que todo o líquido liberado pelos cogumelos se evapore. 
  4. Bata ligeiramente os ovos numa tigela grande. Junte o arroz cozido, os cogumelos refogados, as nozes, os queijos e misture muito bem. Experimente, tempere com pimenta e acerte o sal se necessário.
  5. Unte uma forma de bolo inglês com manteiga. (A receita original pede para forrar com papel-manteiga untado, mas ele grudou no bolo. Eu faria novamente sem o papel, pois fica mais fácil de apenas passar uma faquinha nas laterais e desenformar. Só fique de olho para não queimar.) Espalhe uniformemente a mistura na forma, preenchendo bem e alisando a superfície com uma colher.
  6. Asse por 1h-1h15m, ou até que o bolo esteja inflado, bem dourado e pareça firme ao balançar a forma. Retire do forno e deixe descansar por 10 minutos antes de desenformar e servir. Para reaquecer as sobras, pegue a fatia que você quer, embrulhe em papel alumínio e leve ao forno médio por uns 15 minutos. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Torradas de Endívia e Gruyère: quando o pouco promissor fica fantástico

É ligeiramente irritante quando o que há na cozinha são apenas sobras desparelhadas: uma endívia já não tão crocante para uma salada, um pedaço de queijo que não dá pra muita coisa, um pãozinho meio amanhecido, e coisinhas deprimentes do gênero. E bate uma preguiça fenomenal de ir ao mercado para se abastecer de qualquer coisa fresca que possa complementar essa refeição tristinha. Então, fuçando em livros como quem não quer nada, você dá de cara com uma receita que usa absolutamente todos aqueles seus restos de forma gloriosa, sem que você precise sequer pensar em tirar o pé de casa para comprar ingredientes extras. E você volta a se empolgar com as perspectivas do almoço.

O pãozinho foi fatiado e disposto numa assadeira. Liguei o grill do forno (mas poderia tê-lo pré-aquecido em temperatura média caso não tivesse o grill). Cortei a endívia triste em quartos, no sentido do comprimento, e então cortei-a em pedaços de 1cm. Aqueci um pouco de manteiga numa frigideira em fogo alto e refoguei a endívia até que estivesse macia e ligeiramente dourada em alguns pontos. Desliguei o fogo e temperei com sal, pimenta-do-reino moída na hora e uma espremidinha de limão. Ralei tanto queijo Gruyère quanto as fatias de pão contivessem de forma segura e levei os pãezinhos ao forno, até que suas beiradas estivessem douradas e o queijo estivesse muito bem derretido. Retirei do forno, espalhei colheradas de endívia sobre as torradas quentes e salpiquei nozes picadas, um toque meu, que não estava na receita de Deborah Madison (do livro Local Flavors).

Tão bom... pode virar fácil o antepasto da próxima reunião de amigos, ou mesmo prato principal bem leve, com uma saladinha verde com molho de mostarda. Para acompanhar, suco de uva isabel orgânico e de sobremesa, fatias de abacaxi salpicadas de manjericão roxo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Waffles de banana para a fase 2

A Fase 1 parece ter acabado. O que havia de azia das cinco da tarde e "apetite seletivo" – ainda que não tenha havido enjôos – parece ter ficado para trás. O sono monstruoso, que me colocava na cama, derrubada, impreterivelmente às sete da noite, também foi embora, ainda que eu tenha algumas recaídas que me deixam pescando nos fins de tarde em frente ao computador.

Agora, conforme uma inconfundível protuberância arredondada começa a aparecer cercando meu umbigo (finalmente!), pareço ter entrado definitivamente na Fase 2. Ah, Fase 2. Quando choro vendo desenhos animados, choro porque o pão de queijo acabou, choro porque... é terça-feira. O marido assiste inconformado, enquanto tento, soluçando, explicar o novo motivo esdrúxulo que me leva às lágrimas. Às vezes minha mente deturpada inventa que a culpa é dele. E mesmo enquanto o acuso me dou conta de que o fato de ele não ter levado a xícara de café para a cozinha não é motivo grande o bastante para 35 minutos de choro barulhento e ininterrupto. Então choro porque me dou conta de que estou à mercê dos hormônios e choro por me sentir ridícula.

Para aplacar toda essa choradeira, lambida de cachorro, abraço de marido e waffles de banana com nozes. Ah, waffles de banana. Se me dissessem que nunca mais poderia comê-los, choraria por isso também, mas o motivo seria mais do que justo. Porque eles são de fato uma delícia, fofos e com aquele delicioso perfume de bolo de banana. Feitos para uma manhã sossegada de fim de semana, pés cruzados em cima da mesinha, uma xícara de café quente, nenhuma pressa de tirar o pijama. De chorar, de tão bom.

WAFFLES DE BANANA E NOZES
(do livro KitchenAid - Best Loved Recipes)
Tempo de preparo: 25 minutos
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 3/4 xic. nozes ou pecãs
  • 2 xíc. farinha de trigo
  • 1/4 xic. de açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) sal
  • 2 ovos, clara e gemas separadas
  • 2 xic. buttermilk
  • 2 bananas médias, bem maduras, amassadas (cerca de 1 xíc.)
  • 4 colh. (sopa) manteiga, derretida
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha

Preparo:
  1. Toste as nozes em fogo baixo numa frigideira, até que fiquem perfumadas, com cuidado para não queimá-las. Pique-as e reserve.
  2. Pincele um ferro de waffles com manteiga e aqueça-o (ou siga as instruções do fabricante, no caso dos elétricos).
  3. Enquanto isso, misture a farinha, o açúcar, fermento e sal numa tigela grande e reserve. Bata as gemas em outra tigela e adicione o buttermilk, bananas amassadas, baunilha e nozes picadas, misturando bem. Junte a mistura líquida à seca, mexendo com uma espátula apenas até não haver mais pontos de farinha. 
  4. Bata as claras na batedeira em velocidade alta, até que forme picos firmes, mas não ressecados. Misture as claras ao restante da massa, aos poucos, em movimentos de baixo para cima, girando a tigela, rapidamente. 
  5. Cozinhe os waffles até que fiquem dourados, com cuidado para não queimá-los. Sirva-os quentes, com maple syrup ou mel, e, se quiser, fatias extras de banana e nozes picadas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Microtortinhazinhas bonitinhas de cogumelos ou do que você quiser

E resolvi fazer meu bolo de aniversário [31 anos, para quem estiver curioso]. E resolvi que seria um bolo de chocolate com recheio e cobertura de marshmallow e uma "pintura" de chocolate ao leite. Receita de um livro que jamais me decepcionou.

No entanto, algo deu errado.

A receita citava o chocolate, mandava derretê-lo, mas não dizia quando incorporá-lo à massa. Sem pânico, tendo já feito muitos bolos, misturei-o à massa junto com o café, no final do processo. Bolos no forno, muitos minutos passados. Eles estão sequinhos, palitos saindo limpos, mas suas superfícies não estão tão firmes quanto a receita sugere. Estão fofos. Perigosamente fofos. Longe de mim reclamar de um bolo fofo, mas quando estamos pensando em camadas, pensamos em bolos firmes o bastante para suportarem a manipulação e empilhamento sem grandes problemas. Bem... problemas. Os bolos são tão fofos que ameaçam partirem-se ao meio quando tento levantá-los da grade para empilhá-los. Foi uma lambança movê-los sem maiores prejuízos.

Hora da cobertura. O marshmallow vai bem, lindo, branco e fofo. Mas a receita pede para batê-lo por 2-3 minutos para esfriá-lo até determinada temperatura. Tenho de ficar parando a batedeira para inserir o termômetro eletrônico e checar. Desastre: não se passaram 2 minutos e o marshmallow já está mais frio do que deveria. Corro para espalhá-lo no primeiro bolo. Tudo ok. Atrapalhada, posiciono o segundo bolo em cima do recheio. Começo a espalhar a cobertura. O bolo é macio demais. A espátula cheia de marshmallow quase frio e não tão cremoso começa a arrastar migalhas e verdadeiros pedacinhos de bolo junto, arruinando a alvura angelical que eu almejava e transformando o bolo num pequeno dálmata circular. Não consigo alisar a cobertura sem correr o risco de desmontar todo o bolo. Ele fica assim, rebarbento, pontilhado. Nhé.

Suspiro. Fazer o quê? Agora é deixá-lo secar umas duas horas para pincelar o chocolate ao leite. Passam-se duas horas e o marshmallow continua mole. Passam-se três. Quatro. Apanho o secador de cabelos e ligo o botão de ar frio para ver se resolve alguma coisa. Nada. O vento move a cobertura mas ela não resseca. Coloco o bolo na geladeira. E devagar, muito devagarinho, ele começa a secar. Mas não o suficiente. Não vai dar tempo. Apanho o pincel e o chocolate derretido e faço minha arte. Arte de criança de 3 anos, que pinta fora da linha. O chocolate claro, mal pincelado sobre uma cobertura branca, irregular e grudenta, faz o bolo parecer feito de neve suja. Manchas marrons pouco atraentes num solo branco mal acabado e pontilhado.

Feio. Muito feio. Nem fotografo. Vocês me matam se precisarem passar pelo que passei para provarem um bolo que ficou gostoso, mas não vale tanto esforço e stress.

No fim, olho minhas tortinhas. Lindas, perfeitas, simples. Diferentes do bolo. Receita tirada de um livro que ganhei na quinta-feira meio que de surpresa, de uma boa amiga da corrida, incrivelmente doce e gentil. As tortinhas foram tão fáceis de fazer que achei que não dariam certo. Vão grudar na forma. Nunca mais vou tirá-las daí. Não vão ficar gostosas. Mas ficaram tão boas que minha irmã, famigerada "detestadora" de cogumelos, comeu, gostou e repetiu.

Tão poucos ingredientes rendem uma fornada inteira de microtortinhas. Fica fácil e em conta fazer mais fornadas e servir as delicadezas numa festa, e elas têm carinha de comida de buffet, de cocktail party. Mas não foram bandejas prateadas que me vieram à mente. Meu cérebro, que anda muito focado em uma coisa e uma coisa apenas, imediatamente transportou as tortinhas para o futuro, para as festinhas infantis, e fiquei cogitando recheios que as outras crianças comeriam. [Por que afinal, sonho meu, meus filhos vão comer cogumelos; mas filho dos outros, já não sei não... ;) ]

Quando digo fácil, digo fácil mesmo. A massa fica pronta em instantes e você não precisa sequer abri-la com rolo. Basta separar em bolinhas e pressioná-las com os dedos diretamente na forma de minimuffins (ou forminhas pequenas de empada) sem sequer untar. Distribuir o recheio causa pânico. Você não acredita que seja o bastante. Mas milagrosamente aquelas poucas gotas de creme de ovo em volta dos cogumelos de fato infla, e as tortinhas saem lindas, douradas, recheadas, com um cheiro maravilhoso.

Se é para dividir algo com vocês, uma receita de aniversário, prefiro que seja algo que deu certo de primeira e que pretendo repetir à exaustão. Essas prometem virarem um clássico. :)


MICROTORTINHAS DE COGUMELOS
(do livro KitchenAid Best Loved Recipes)
Tempo de preparo: 5 minutos + 1 hora de descanso + 20 minutos de forno
Rendimento: 24 tortinhas

Ingredientes:
(massa)
  • 115g cream cheese
  • 3 colh. (sopa) manteiga em temperatura ambiente
  • 3/4 xic. + 1 colh. (chá) farinha de trigo
(recheio)
  • 250g cogumelos, picados grosseiramente
  • 1/2 xic. cebolinha picada
  • 1 ovo grande, orgânico
  • 1/4 xic. tomilho seco
  • 1/2 xic. queijo suiço ralado grosso (Gruyère, Ementhal, etc...)

Preparo:
  1. Coloque o cream cheese e 2 colh. (sopa) da manteiga na tigela da batedeira e bata em velocidade médio-baixa por 1 minuto. Pare, raspe com uma espátula e adicione 3/4 xic. da farinha. Reduza a velocidade para baixa e bata por 1 minuto, ou até que a massa esteja bem misturada. Forme uma bola, embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por 1 hora. Enquanto isso, faça o recheio.
  2. Derreta a colher (sopa) restante de manteiga numa frigideira grande, em fogo médioo. Junte os cogumelos e a cebolinha. Tempere com sal e pimenta e cozinhe, mexendo de vez em quando, até que os cogumelos estejam macios, ligeiramente dourados e toda a água que eles liberarem tiver evaporado. Remova do fogo e deixe esfriar um pouco.
  3. Coloque o ovo, a colher (chá) restante de farinha e o tomilho na tigela da batedeira e bata em velocidade média por 30 segundos. Com uma colher, misture o queijo e os cogumelos.
  4. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Retire a massa da geladeira e divida-a em 24 pedaços iguais. Pressione cada pedaço em uma cavidade da forma de minimuffins, formando cestinhas, e divida o recheio entre elas, com a ajuda de uma colherzinha de chá ou café. Asse por 15-20 minutos, até que o recheio tenha inflado e dourado. Desenforme imediatamente com a ajuda de uma colher e sirva morno. 

Obs: eu dobrei a receita para servir em casa, fazendo 48 tortinhas. Fiz toda a massa (o dobro) de uma vez, colocando para gelar apenas uma vez, e dividindo ao meio na hora de fazer as tortas. Metade da massa ficou na geladeira enquanto dividia e assava a primeira fornada. Assim que a forma esfriou (rapidamente), preparei a segunda fornada.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

I'm-having-a-baby pie

Lá estava eu numa sexta-feira com pouco trabalho, quando resolvo ligar a tv e pego The Waitress no comecinho, no canal da Fox. Aninhei-me no sofá com o cachorro, fiz um chá e me dei o direito de passar a tarde vendo um filme que eu adoro. É claro que as consequências de se assistir um filme tão ligado à comida são óbvias: saí desesperada atrás de uma torta para fazer.

Bananas são frutas que sempre me pareceram meio obrigatórias numa casa brasileira, e elas sempre estão lá, mesmo quando eu não sei bem o que fazer com elas, mesmo quando só servem de acompanhamento para uma fruta "mais interessante". No último mês, no entanto, ao invés de serem apenas a fruta-obrigação do lado da fruta-especial-da-estação, elas andam com status de estrela. Ando comendo muitas bananas, em vitaminas, com iogurte e granola, de qualquer jeito. Talvez por isso tenha decidido fazer uma torta que sempre me despertou curiosidade: Banoffee Pie.

Banoffee Pie nasceu na Inglaterra, na verdade, e não nos Estados Unidos, e é uma torta de banana e caramelo (toffee) coberta de chantilly. Apanhei a receita do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, que sempre entrega o que o título promete. De modo geral, suas receitas são bastante doces, mas sempre saborosas. Apenas fico atenta às coberturas de bolo. Qualquer calda ou buttercream que leve mais açúcar do que o próprio bolo is a no-no. Aprendi isso ao fazer um delicioso bolo de chocolate e estragá-lo com uma calda de chocolate tão doce que me lembrou as dores de dente que tinha quando criança ao mastigar aquele chiclete Pong. :P

De qualquer forma, era essa torta que eu queria. Na intenção de permanecer fiel às raízes da receita, a autora sugere o uso de Digestive Biscuits no lugar de Graham Crackers para a base da torta. Eu já aprendera que as Graham Crackers na verdade nada têm a ver com as bolachas Maria que usamos por aqui para bases de cheesecake, uma vez que a tal Graham Flour, usada nos biscoitos, aparentemente é farinha de trigo integral grossa. Noutro dia, vendo um episódio antigo de Nigella preparando cheesecake, num close da câmera, consegui ver impresso no biscoito o nome da marca de Digestive Biscuits que ela estava usando. E aquilo para mim foi uma revelação, pois me dei conta de que o Santa Luzia tinha aqueles biscoitos sempre. Corri para o mercado e comprei-os.

São definitivamente mais caros que a bolacha Maria, mas o lado bom é não ter nenhum ingrediente bizarro ou conservante. Se você tem acesso a esses biscoitos, vale a pena comprá-los uma vez, ao menos para ter uma base de comparação e poder buscar opções semelhantes nacionais. De qualquer forma, um pacote grande rende 2 ou 3 bases de torta.

Ao experimentá-los, percebi que sua textura de fato é mais grosseira, por conta do farelo de trigo, e seu sabor, ainda que suavemente adocicado, é definitivamente salgado. Logo, em seu próximo cheesecake ou torta, experimente usar algum biscoito de farinha integral de sabor neutro.

Bom, comprei logo um pacote grande e já deixei-o totalmente moído num vidro na geladeira.

Quanto ao recheio... ao ver a pataquada de cozinhar o leite condensado no forno, meu primeiro impulso foi comprar doce de leite e pronto. Mas confesso que fiquei curiosa ao ver a manteiga, baunilha e o dark brown sugar no meio. E fiz a receita ipsis literis. Acabei usando o açúcar demerara no lugar do mascavo, pois fiquei com receio de que o mascavo fosse forte demais. Mas você pode fazer seu próprio light brown sugar ou dark brown sugar, apenas misturando melado a um pouco de açúcar cristal, segundo a Joy ensina aqui. Também, depois de 2 horas, o caramelo não estava tão "tostadinho" quanto deveria, mas fiquei com muito receio de que ele endurecesse demais na geladeira caso cozinhasse mais, e preferi-o mais claro.

De qualquer forma, na pressa, acho que doce de leite claro e cremoso é uma opção totalmente válida para substituir o caramelo.

O chantilly. Da próxima vez, faria metade da quantidade ou apenas 3/4 dela. Conforme fui empilhando o creme em cima da torta, comecei a entrar em pânico, acreditando que ele transbordaria. De fato, é uma enorme quantidade de chantilly, que é puxado para baixo pela faca na hora de cortar a fatia, escondendo as camadas de caramelo e banana que eu tanto queria fotografar. Tanto que essa foto foi tirada dois dias depois, quando FINALMENTE consegui tirar uma fatia limpa. Daí o fato de o chantilly estar meio caidinho. Mas a boa notícia é que a torta de mantém super bem na geladeira por alguns dias, e o gostinho da banana só vai intensificando. A crosta não perde a crocância e o caramelo não endurece.

Veredito final: super doce, faz sujeira, mas é uma delícia! Matou completamente a minha vontade por uma torta melequenta. :)

E para quem ficou curioso com o título do post, tenho mais uma coisa em comum com Jenna além do gosto por tortas. E não é o marido patife, porque, graças a Deus, o meu marido é o melhor do mundo.

Pirulito de nabo pra quem acertar. ;)

Obs: Para quem acertou, fica a dica... já aprendi que gravidez é pior que futebol: todo mundo tem uma opinião. Quem já teve filhos se lembra de todas as histórias terroristas que gostaria de não ter ouvido. Então sejam solidárias e não as passem para frente. Tenho de ler todos os comentários para decidir se são ou não publicáveis. Mas se sentir que vem história terrorista pela frente, vou apagar, estando certa ou não, sem nem terminar de ler. Ok? Espero que gostem da notícia. Papinhas, aqui vou eu.


BANOFFEE PIE
(do livro Sticky, Chewy, Messy, Gooey, de Jill O'Connor)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: a autora diz 6-8, mas eu arriscaria uns 10 pedaços, pela torta ser bem doce

Ingredientes:
(recheio)
  • 2 latas de leite condensado (395g cada)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1/4 xic. açúcar demerara ou mascavo orgânicos(o mascavo fica mais forte e mais escuro)
  • 4 colh. (sopa) manteiga sem sal derretida
  • 1/4 colh. (chá) sal
(base)
  • 2 1/2 xic. de Digestive Biscuits ou Graham Crackers (algum biscoito de farinha integral de sabor neutro, nem excessivamente doce nem com grãos de sal)
  • 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. (120g) manteiga sem sal derretida
(cobertura)
  • 3 bananas médias, maduras mas firmes (ou o bastante p/ uma camada única)
  • 2 xic. creme de leite fresco
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 colh. (chá) de grânulos de café instantâneo dissolvido em 1 colh. (chá) extrato de baunilha
Preparo:
  1. Posicione uma grade no meio do forno e pré-aqueça a 205ºC. 
  2. Para fazer o recheio, misture todos os ingredientes numa tigela refratária com capacidade para 6 xícaras, cubra a tigela com papel alumínio e coloque-a em uma assadeira média (20x30cm, mais ou menos). Preencha a assadeira com água fervente até metade da altura da tigela e leve ao forno com cuidado, e asse por 1h30 a 2h, mexendo com uma colher de pau a cada 15 minutos, até que esteja reduzido e caramelado. Retire do forno, retire a tigela da água e deixe esfriar. 
  3. Abaixe a temperatura do forno para 180ºC. Enquanto o caramelo esfria, faça a base. Misture numa tigela o biscoito moído, o açúcar e a manteiga derretida, até que todo o farelo pareça úmido. Despeje numa forma de torta ou de bolo, de fundo removível, de cerca de 23cm de diâmetro e 7cm de altura. Aperte contra o fundo e as laterais (é mais fácil usando um copo de laterais retas) de forma uniforme. Leve ao forno por 5-7 minutos, ou até que os farelos pareçam secos e dourado-escuros. Retire e deixe esfriar. 
  4. Quando a base estiver fria, espalhe o caramelo numa camada uniforme. Nesse ponto, você pode cobrir com filme plástico e levar à geladeira por até 24h para terminar depois. Senão, apenas leve à geladeira o suficiente para o caramelo terminar de esfriar. 
  5. Corte as bananas em rodelas de cerca de 0,5mm e arranje-as sobre o caramelo, formando uma camada única. Parece pouca banana, mas é o suficiente para um sabor acentuado. 
  6. Na batedeira, bata o creme de leite, o açúcar e o café dissolvido na baunilha, até obter picos firmes. Espalhe o chantilly sobre as bananas, cobrindo-as totalmente, para evitar que escureçam. Refrigere a torta até a hora de servir.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um bolo de maracujá e uma homenagem aos blogueiros sem criatividade

Havia um maracujá de tempos imemoriais na minha geladeira. Eu lhe lançava um olhar de soslaio, esperando que ele me soprasse alguma ideia, uma inspiração, e nada. Uma andorinha não faz verão, ou, na versão frutífera, um maracujá não faz mousse. Mas ele estava me irritando ali, me olhando da prateleira de acrílico. Cada vez que abria a geladeira, aquela fruta amassada era um tapa na cara, um atestado de incompetência. Vai me deixar estragar? Vai? Pecado, viu?

Até que me lembrei de um conselho que dera há muito tempo atrás, talvez nos comentários do blog, talvez no Formspring. Sobre usar maracujá no lugar do limão em um bolo. E pensei imediatamente no meu bolo de limão siciliano favorito, receita da Nigella que fora minha nêmesis até me dar conta de que bastava deixar a manteiga em temperatura ambiente. De verdade. Não "meio" geladinha. E o bolo foi um sucesso todas as vezes que o preparei desde que aprendi a ser paciente e tirar a manteiga da geladeira com uma hora de antecedência.

Apanhei o livro. Preparei a receita ipsis literis, substituindo as raspas de limão por um nadinha de baunilha. Abri o maracujá quase maduro demais, raspei-lhe a polpa e passei por uma peneira, obtendo exatamente a quantidade de suco de que precisava, nem uma gota a mais, nem uma a menos. Fiz a calda. Hummm... o cheirinho da calda... Despejei no bolo quente e fiquei impacientemente voltando à cozinha por mais de uma hora para ver se o bolo estava completamente frio. O primeiro pedaço foi cheio de expectativa.

Expectativa correspondida. :) O bolo ficou bem molhadinho, perfumadíssimo de maracujá e encharcado aqui e ali de calda amarelo-forte, aromática e doce. Tão bom quanto a versão original, de limão siciliano, e assim como o o original esse foi comido quase que de um dia para o outro, apenas por esta gulosa que lhes escreve. Não podia deixar de dividi-lo aqui.

Agora que o post está escrito, com todas as minhas impressões a respeito do processo da receita, da experiência, do teste... uma pergunta: como alguém pode achar interessante copiar e colar esse texto inteiro em seu próprio blog e deixar passá-lo como seu? Exatamente qual é a vantagem? Pegar foto dos outros, eu até entendo: a pessoa não é boa com a câmera, gostou da foto, às vezes achou no Google Images (a maldição) e o mundo está tão cheio de espertalhões quanto de pessoas que ignoram que direitos autorais vigoram também na Internet, e que nenhuma imagem surgiu por combustão espontânea, elas foram criadas por alguém.

Agora... texto??? Já vi muito passo-a-passo meu (e de outros blogs) espalhados por aí. Com créditos (thank you!) e sem créditos (go f*ck yourself!). Mas quando você copia um texto que diz "eu e meu marido...", "meu cachorro Gnocchi...", "porque eu estava fazendo uma ilustração pra um cliente...", ou mesmo falando sobre experiências pessoais com uma receita, memórias gustativas, livros favoritos e afins... que diabos??? Alguém me explica qual é a vantagem de se roubar o "diário" de outra pessoa?

Até que ponto essa coisa de "ter um blog" chegou? O importante é TER o blog. Gastar meio neurônio e cinco minutos para produzir conteúdo, aí é outra história, acho que é difícil para quem não tem meio neurônio sobrando. Se o seu blog inteiro é feito de conteúdo de terceiros, sem nem mesmo uma opiniãozinha sua a respeito, então, cara, por que diabos você está perdendo seu tempo? Vai fazer outra coisa, vai ler um livro, ver um filme, trabalhar, brincar com o cachorro... ou melhor: que tal começar a de fato cozinhar e criar suas próprias experiências??? Hein?

É uma questão de ego? Você quer falar pros outros que você tem X mil acessos? Uau! Você tem sérios problemas. Do que mais você leva crédito sem merecer?

Crédito. Palavrinha hoje que parece estar associada só a um pedaço de plástico com chip. Que você usa para comprar coisas de que não precisa, para parecer o que você não é. Coisa mais importante do mundo hoje em dia: parecer alguma coisa. Parecer inteligente, parecer bom fotógrafo, parecer bonito, parecer rico. Mas ai de quem de fato se esforça para aprender alguma coisa, fazer um curso, cuidar da alimentação, ganhar dinheiro trabalhando. Mais fácil repetir citações da Veja, usar foto dos outros no seu blog, fazer lipo de vez em quando e comprar bolsa falsificada pra parecer de grife. Coisinha irritante.

O que me impede de ficar de mal humor pelo resto do dia é saber que não importa quantos textos ou imagens você roube. Haverá sempre gente genuinamente inteligente e capaz produzindo mais. E ao produzirem mais, essas pessoas pesquisam mais, experimentam mais e aprendem mais. E apenas por isso estão destinadas a serem seres humanos muito melhores do que você, tadinho, incapaz de escrever uma linha coesa do próprio punho, incapaz de expressar uma opinião que seja verdadeiramente sua, incapaz de criar. Qualquer coisa.

Vocês não precisam ir lá no site da pessoa. Mas esse post é em homenagem a todos os blogueiros (e seres humanos) sem criatividade e vontade de auto-aprimoramento por aí. De culinária ou não.

Agora vamos fazer bolo de maracujá e ficar calminhos, porque stress não leva a nada e o dia está bonito.

BOLO DE MARACUJÁ
(adaptado do livro How to be a Domestic Goddess, de Nigella Lawson)
Tempo de preparo: 1 hora + tempo para o bolo esfriar
Rendimento: 1 bolo inglês (cerca de 8 porções)

Ingredientes:
  • 1/2 xic. manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 1/2 xic. + 1 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 1 xic. + 1 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) de fermento
  • 1/8 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1 pitada de sal
  • 4 colh. (sopa) leite integral
(xarope)
  • 4-5 colh. (sopa) de polpa de maracujá, sem as sementes (1-2 maracujás, dependendo do tamanho)
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC, unte uma forma de bolo inglês padrão (cerca de 10x21cm), e forre o fundo e as laterais com papel-manteiga, deixando uma boa beirada de papel para facilitar na hora de desenformar.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira em velocidade média, por alguns minutos, até que fique claro e cremoso. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  3. Junte aos poucos a farinha, então o sal, o fermento e o bicarbonato, até ficar homogêneo. Junte o leite e bata apenas até que fique homogêneo.
  4. Despeje na forma, alise a superfície e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado (o bolo pode afundar ligeiramente no centro) e um palito inserido no meio saia limpo. Enquanto o bolo assa, coloque a polpa de maracujá e o açúcar numa panela e leve ao fogo baixo, até que o açúcar esteja completamente dissolvido.
  5. Retire o bolo do forno e espete toda a superfície com o palito, sem dó, até o fundo. Despeje a calda de maracujá de modo uniforme, inclusive nos cantos e laterais (deixe as abas de papel p/ cima, para impedir que escorra p/ fora) e deixe o bolo esfriar completamente e absorver a calda.
  6. Quando estiver totalmente frio, puxe o bolo para fora pelas abas de papel e descole-o com cuidado, pois o bolo é macio e quebradiço.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Salada Waldorf com atum, ou sem, ou com frango, ou peça uma pizza

Para quem anda achando meus posts um pouco esporádicos demais, uma "explicação": nóis é fia de deus e de vez em quando dá uma canseira de cozinhar.


Óh!

O choque.


E por que não, afinal? Por que não, de vez em quando, se dar umas férias das panelas e pedir uma pizza? Ir até um árabe/libanês e comprar excelentes esfihas de verdura? Dar um pulo numa rotisserie de bairro, sair para almoçar fora ou simplesmente comer um sanduíche despretencioso e fácil de preparar? No pressure. Cozinhar deve ser um prazer, não uma obrigação. Principalmente porque, se você for como eu, cozinhar sem vontade é garantia de comida queimada, sem gosto, esquisita.

A primeira vez em que ouvi falar de Salada Waldorf foi com uns 19 anos, quando queria muito emagrecer uns vários quilos e comprei um livrinho de receitas light.

Óh!
Mais um choque.

É, meus amores, também padeci desse mal um dia. Mas vou dizer que muito do que sou hoje devo a esse livrinho nada a ver. Pois na época minha mãe deixara bem claro que não faria refeições especiais para ninguém, e que se eu quisesse comer diferente, teria de cozinhar eu mesma. Dito e feito. De repente lá estava eu preparando peito de frango grelhado com molho de laranja, salada de qualquer coisa com algum molho de iogurte desnatado, gazpacho, etc e tal. Minha mãe ficou ligeiramente impressionada. Mais ainda porque eu limpava a bagunça que fazia na cozinha depois. ;)

O livro tinha bem seus méritos: os diferentes molhos para o danado do frango grelhado de fato tornavam a dieta bem menos tediosa. E aquela variedade dentro do mundinho restrito da dieta me atiçou um pouco mais a curiosidade pela cozinha e a vontade de comer pratos diferentes todos os dias, sem cair na rotina do arroz e feijão.

Eventualmente acabei mandando o livro embora, uma vez que se tratava apenas de receitas clássicas exageradamente simplificadas e com pouca gordura. O que hoje, convenhamos, não faz sentido nenhum na minha cabeça.

E lá estava a salada Waldorf. Na sua versão que conheci pela primeira vez e que passei a acreditar que era a única e original: alface, maçã, aipo, nozes, frango e maionese. (Acho que no livro era iogurte, mas a memória me falha agora.) De modo que todas as vezes, depois disso, em que me deparei com uma Salada Waldorf num livro ou num cardápio, passei reto sem nem uma segunda olhadela, uma vez que não como mais frango.

Então, num belo dia, abro uma revista do Jamie Oliver e me deparo com uma salada Waldorf em formato de wrap... com atum no lugar do frango. Claro! Como não havia pensado nisso antes? E então, querendo ver se a versão mais "clássica" continha mais ingredientes do que apenas aqueles cinco citados na revista, abri meu Professional Chef e surpresa! Salada Waldorf não leva frango coisa nenhuma. :P

E eu ignorando a coitada ate´ hoje.

Para esse almoço sossegado, rasgue algumas folhas de alface e misture a 1/2 maçã verde em cubinhos, 1 talo pequeno de salsão em cubinhos, um punhado de nozes ligeiramente tostadas e picadas, 1 colh. (sopa) de maionese (caseira, de preferência, mas se não for, não conto prá ninguém), e 1/2 lata de atum escorrido. Tempere com sal e pimenta-do-reino e misture muito bem. Com as mãos é bem mais fácil, para que tudo fique muito bem coberto pela pequena quantidade de maionese, e se você só estiver fazendo essa porção para seu almoço solitário, ninguém vai ver se você lamber os dedos. ;)

Claro, sinta-se à vontade para omitir o atum ou mesmo trocá-lo por peito de frango (orgânico, please!) grelhadinho e cortado em cubos. Ou faça como o Jamie diz e embrulhe em pão pita ou pão-folha e leve para o almoço.

Para acompanhar, suco de uva concord orgânico, que descobri que produz um excelente picolé. Só o suco direto na forminha e bum! no freezer. Delícia. Dá um couro nos Frutare da vida.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Salada de escarola, funcho, maçã verde e queijo coalho

Para que ninguém acredite que ando vivendo à base de bolo, pão e pudim, essa é uma de minhas novas saladas favoritas. Na hora do almoço, a não ser que esteja um frio de rachar nariz, nada me apetece mais do que uma salada. Um hábito que tinha na época em que morava com meus pais e que retornou com força na época da dieta. Só uma refeição leve impede meu cérebro de desligar completamente após o almoço e me permite trabalhar, tranquila porém alerta.

Trata-se de uma mistureba de outras várias saladas de escarola que já comi. Apenas algumas folhas de escarola rasgadinhas, um talo bonito de funcho fatiado fino, meia maçã verde picada grosseiramente, cebolinha, salsinha e estragão frescos picados, tudo temperado com azeite de oliva extra-virgem, um pouco de vinagre de sidra, sal e pimenta-do-reino. A graça fica por conta do bastão de queijo coalho, desses de churrasco, cortado em cubos e dourado em um fiozinho de azeite em uma frigideira bem quente, até que quase todos os lados dos cubos estejam bem dourados e ligeiramente crocantes.

Essa salada ficou tão boa, que a comi durante quase a semana toda, apenas acompanhada de um belo suco de laranja feito na hora. As laranjas orgânicas estão feias de dar dó, mas incrivelmente doces e suculentas, e apenas duas delas renderam mais de meio copo de suco. Mesmo completando o copo com água o suco continua denso e doce como se fosse apenas fruta. Felicidade total!

De sobremesa, jabuticabas. ;)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Gordices e bolo de chocolate e manteiga de amendoim (sem farinha)

É claro que os quilos de morango orgânico que saí comprando feito uma louca varrida viraram sorvete. Hmmmm... delicioso sorvete de morango. Morango, creme de leite bem gordo e açúcar. Ninguém vai me convencer de que há algo melhor no mundo.

No entanto, minha cabeça cheia de gordices estava alucinadamente buscando algo achocolatado para combinar com o sorvete refrescante. Fui direto na minha bíblia de tudo o que é de chocolate, o livro da minha diva da confeitaria, Alice Medrich: Bittersweet. Fuça, fuça, fuça, dei de cara com uma de suas inúmeras variações do bolo "Rainha de Sabá", que levava manteiga de amendoim e pedia para ser servido com sorvete de creme e calda de morango. Há!, esquece o sorvete de creme e a calda de morango, junta tudo numa coisa só e esse bolo ficará ótimo com meu adorado sorvetinho que me aguarda no freezer.

Dito e feito.

O bolo é fácil, delicioso, e, de fato, como diz Alice no livro, parece um desastre "inservível" depois que desinfla, como um soufflé fracassado. Mas é tão bom... Não imaginei que tão pouca manteiga de amendoim contribuísse de forma significativa no sabor do bolo, mas você pode sim senti-la galgando seu lugar ao sol em meio ao chocolate. Se você não é fã de um bolo com textura tão "mousse", basta guardá-lo na geladeira para que fique mais firme e não menos gostoso.

E para quem sempre me pede receitas sem glúten, esse bolo não leva nem um grama de farinha. :)

Quando uma menina que estava ao meu lado outro dia recusou-se a tomar um sorvete porque tinha X número de calorias e ai dela que não queria engordar um grama, pensei com meus botões se seria sábio de minha parte dividir com ela que não só eu fazia questão de que meus sorvetes tivessem muita gordura, como eu ainda inventara de fazer bolo de chocolate para acompanhar.

Resolvi deixar quieto, uma vez que esse tipo de pessoa ainda não entendeu que não é o leite integral no bolo que a faz engordar, mas o fato de ela comer o bolo inteiro sozinha. :P

BOLO DE CHOCOLATE E MANTEIGA DE AMENDOIM (sem farinha)
(do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Tempo de preparo:  35-40 minutos
Rendimento: 12-14 porções comedidas

Ingredientes:
  • 115g chocolate meio-amargo, picado (usei 60% de cacau)
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (sopa) manteiga de amendoim natural*
  • 1/8 colh. (chá) sal
  • 6 colh. (sopa) de manteiga sem sal em pedaços, ligeiramente amolecida
  • 4 ovos grandes, tirados direto da geladeira
  • 1 colh. (sopa) de Bourbon ou Whiskey (usei rum escuro)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
*Para fazer manteiga de amendoim natural em casa, apenas bata no processador de alimentos amendoins sem pele e torrados sem sal até que se transformem numa pasta, em alguns minutos. Transfira para um pote bem fechado e mantenha na geladeira. Caso a manteiga se separe (óleo de amendoim fique na parte de cima), basta misturar novamente com uma colher antes de usar. Fonte: Joy The Baker

Preparo:
  1. Posicione a grade na parte mais baixa do forno e pré-aqueça a 180ºC (parece estranho não assar o bolo no meio do forno, mas acredite na receita). Escolha uma forma de fundo falso ou de mola de 20cm de diâmetro por uns 7,5cm de altura. Se não pretende servir direto no fundo de metal da forma, forre esse fundo com papel-manteiga. Não é preciso untar a forma.
  2. Aqueça o chocolate em banho-maria até que esteja quase totalmente derretido. Remova do fogo e mexa com uma espátula para terminar de derretê-lo e transfira para a tigela da batedeira. (Se a tigela da sua batedeira for de metal, coloque-a direto em banho-maria, como eu fiz, evitando sujar uma tigela extra.)
  3. Junte o açúcar, a manteiga de amendoim e o sal ao chocolate, e bata por alguns segundos em velocidade baixa, com o batedor de arame de batedeira, só para misturar.
  4. Junte a manteiga e bata em velocidade média, até que esteja cremoso e homogêneo.  
  5. Junte os ovos, um a um, batendo em velocidade média-alta, por cerca de 2-3 minutos, até que a massa esteja clarinha e muito leve, com consistência de cobertura amanteigada de bolo. 
  6. Transfira para a forma, espalhando com uma espátula e alisando a superfície tanto quanto possível, e leve ao forno por 25-30 minutos, ou até que um palito inserido a 5cm da borda da forma saia limpo, e inserido no centro do bolo saia ainda com gruminhos de massa grudados. 
  7. Retire do forno e coloque em uma grade para esfriar, período durante o qual o bolo vai desinflar completamente e desgrudar das laterais da forma.
  8. Para desenformar, passe uma faquinha na lateral da forma para terminar de soltar o bolo. Inverta-o numa grade, retire o papel-manteiga e inverta-o novamente num prato de servir. Polvilhe com açúcar de confeiteiro, se quiser. O bolo frio pode ser coberto por filme plástico até a hora de servir ou desenformado, embrulhado em filme plástico e conservado em temperatura ambiente por 3 dias ou congelado por 3 meses. Para descongelar, basta desembrulhar e deixar voltar à temperatura ambiente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Padaria de quinta-feira: Pão de forma com quinua (ou sem)

Foi por culpa da Fer que corri atrás dos livros da Tessa Kiros. Como ela, fico completamente encantada pelo resultado fenomenal de suas receitas enganosamente simples, pelas fotografias, pela delicadeza da edição. Quando comprei o Apples for Jam, no entanto, tive medo de ter me empolgado demais e ter levado para casa um livro talvez... básico demais. Mas é sempre bom dar uma chance, às vezes duas, a alguém, e o livro se revelou ao longo do tempo uma excelente aquisição. A primeira receita que testei foi para dar fim a alguns damascos importados e sem graça que eu tinha em casa. Nada melhora frutas meio sem gosto como cozinhá-las, e o Apricot Sauce me fez querer comprar mais damascos sem graça para comer aquele purezinho doce e alaranjado pelo resto da vida. Então foi a vez do iogurte com mel, canela, pecans e romã. E o delicioso "pão-soufflé" de vagens. E a focaccia. E tantas outras coisas.

Até chegar a esse pão de forma.

Sempre fico ligeiramente irritada com pães de forma feitos sem a tampa, quando suas laterais ficam lindas, douradas e apetitosas e a parte de cima, mesmo pincelando com ovo, parece não acompanhar aquele delicioso tom castanho. Não é o caso deste. O ovo, a manteiga e a bela quantidade de leite na receita tornam a massa bastante propícia a dourar lindamente sem ajuda nenhuma. E o miolo fica muito muito macio, e com um fantástico perfume amanteigado. A casca fica apenas ligeiramente crocante.

Não apenas isso, ele é FÁCIL de fazer. A massa é um nadinha grudenta, e por isso você a sova dentro da própria tigela [portanto escolha uma tigela bem grande], e mesmo sovando com uma só mão, do modo mais mequetrefe e desleixado do mundo, depois de dez minutos ela de fato fica mais macia, elástica e começa a desgrudar dos dedos. E como cresce, a danada! Portanto, se sua casa estiver beirando os 30ºC durante o verão (como acontece com a minha), use o leite em temperatura ambiente, ou mesmo gelado, para retardar um pouco a fermentação.

Quando resolvi preparar esse pão, estava um pouco atarantada na cozinha. Tinha muito trabalho para entregar, uma reunião no fim do dia, mas estava decidida a comer pão caseiro na manhã seguinte. Sabia que a massa não me roubaria mais do que 15 minutos de mistura, sova e molde, o que me fez sentir menos irresponsável enquanto ouvia o som tilintante de aviso de recebimento de emails que meu computador emitia a alguns metros de distância.

No entanto, faltando 2/3 de xícara de farinha para pães... bem, faltaram 2/3 de xícara de farinha para pães. O pote estava vazio, assim como o de farinha branca comum. Pensei no que fazer. Não tinha tempo para ir ao mercado. O pão não seria branco, então. E ao observar minha seleção de farinhas, foi a de quinua que escolhi. Por um momento temi que a massa sofresse pela falta de glúten da quinua, mas 1 hora e meia depois, ao ver o tamanho da massa crescida, joguei as preocupações para o alto.

O pão ficou ótimo, com um gosto bastante acentuado de quinua. Caso você ache a quinua muito forte, use apenas 1/3 de xícara, ou substitua esses 2/3 de xícara pela farinha que quiser, pois estou chegando à conclusão que essa é uma receita que aceita muitas variações. Segundo Tessa, você pode moldar a massa em vários pãezinhos, também, se quiser.

Alguns dias depois, o pão desaparecera da cozinha. Então, já munida de farinha tipo 1 orgânica (minha favorita para pães), resolvi fazer a receita original, sem mudar nada. Nham! Delícia!


PÃO COM QUINUA (ou não)
(ligeiramente adaptado do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 3h30
Rendimento: 1 pão de forma grande

Ingredientes:
  • 1 xic. de leite integral morno (não deixe passar de 60ºC)
  • 1 tablete de 15g de fermento fresco
  • 1 colh. (chá) mel
  • 3 xic. farinha de trigo para pães ou orgânica (ou 3 2/3 xic. para a receita original, omitindo a quinua)
  • 2/3 xic. farinha de quinua orgânica
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 ovo, ligeiramente batido
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida

Preparo:
  1. Coloque o leite, o mel e o fermento numa tigela grande, misture até o mel derreter e deixe fermentar por 5-10 minutos. Junte o ovo e a manteiga e misture bem.
  2. Junte as farinhas e o sal e misture até formar uma massa grudenta. Então com as mãos ligeiramente enfarinhadas, sove a massa por aproximadamente 10 minutos, dentro da própria tigela, até que ela pareça mais uniforme e elática, não necessariamente deixando de grudar nos dedos. Resista à tentação de adicionar mais farinha. 
  3. Forme uma bola, cubra a tigela com um pano de prato, e deixe em local morno e sem vento  (cerca de 21ºC, longe do sol direto) por 1h30 a 2h, até que a massa tenha dobrado de tamanho e seu dedo levemente pressionado na massa deixe uma marca que não volta para o lugar. 
  4. Unte ligeiramente uma forma de pão com manteiga e enfarinhe. Afunde a massa com o punho, forme uma bola novamente e então molde no formato da forma. Coloque a massa lá dentro, com a superfície mais lisa para cima, cubra com um pano e deixe fermentar novamente, por 40-60 minutos, ou até que a massa ultrapasse a borda da forma e seu dedo levemente pressionado nela deixe uma marca que volte lentamente para o lugar. Se a marca sumir imediatamente, deixe mais 10-15 minutos. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 190ºC. 
  5. Asse o pão por 25 minutos ou até que esteja castanho em cima e emita um som oco ao bater na parte de baixo com os nós dos dedos. Se o pão não estiver pronto, volte-o para forma e asse mais um pouco. Retire do forno, remova da forma e deixe esfriar sobre uma grade. Quando completamente frio, guarde-o em um saco ou pote bem fechado, em local fresco e longe do sol e consuma em poucos dias.

Cozinhe isso também!

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