sexta-feira, 5 de junho de 2009

Salada quente de batata e ervilha-torta com queijo de cabra e ovo poché

Quando a batata grande e fatiada com casca está quase cozida, acrescento à água fervente um punhado de ervilhas tortas. Enquanto isso, uma tigela grande aguarda com uma colher (sopa) de azeite, uma colher (chá) de vinagre branco, a mesma quantidade de mostarda de Dijon, algumas folhas de tomilho, um dentinho de alho pequenininho muito bem picadinho, pimenta-do-reino e uma pitada de sal. Escorro os legumes com cuidado para não quebrar (muito) as batatas e volto-as à panela ainda no fogo, apenas o suficiente para fazer evaporar seu excesso de água. Derrubo-as na tigela com o tempero e misturo tudo rapidamente e com cuidado, até que eu possa ver uma fina película de tempero sobre o verde vivo das ervilhas e o amarelo opaco das batatas.

A água da outra panela está fervendo, com uma pitada de sal e um pouco de vinagre. Derramo ali meu ovo e, nos três minutos em que ele cozinha, desfaço em pedaços sobre a salada quente uma fatia de queijo tipo Feta, para que ele derreta ligeiramente com o calor dos legumes.

Disponho a salada quente no centro de meu prato e apanho a espátula para retirar meu ovo poché. Num momento desajeitado, no entanto, minha gema explode, e eu corro para salvá-la e derrubá-la de qualquer jeito sobre a salada.

Jantar rápido e delicioso, mas a linda fotografia que eu planejava com o ovo poché partido ao meio foi arruinada.

É nisso que dá tomar vinho antes de fazer seu ovo poché. :P

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O resultado da massa congelada: croissants

Se, como eu, você fez o dobro de massa para essa receita, e, como eu, embrulhou a metade excedente em filme plástico e deixou no freezer por, não sei, uma semana ou mais, pode fazer como eu novamente e tirar a massa do freezer, deixá-la durante algumas horas na geladeira apenas pelo tempo suficiente para que fique maleável, abri-la e transformá-la em mais cinnamon rolls ou em croissants. Para os croissants, basta abrir um retângulo comprido, cortar triângulos e enrolá-los, levando-os ao forno em uma assadeira sem untar, pelo mesmo tempo e temperatura que os cinnamon rolls. Meus croissants ficaram feinhos, coitados, porque ainda não sou mestre em moldá-los... No entanto, ficaram muito, muito gostosos, e a massa em nada perdeu com o congelamento. Os restinhos dela que sobraram do corte dos croissants e que guardei de volta na geladeira, no entanto, estragaram em poucos dias. :P

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Torta de folhas de cenoura

Como esta é uma ótima época para comprar cenoura com as folhas, escolho sempre um maço bem equilibrado entre lindas cenouras e folhas fresquinhas, bem verdes. Sempre faço bolinhos com elas, o que fica uma delícia, mas desta vez resolvi transformar os bolinhos em torta. O único segredo está em picar as folhas o mais fino possível, até com ajuda de um processador se for o caso. Pois as folhas de cenoura são durinhas e fibrosas, e comê-las em pedaços maiores pode ser desagradável. Para a massa, substituí metade da farinha por integral por mero impulso, mas você pode fazê-la inteira inteira com farinha comum. E chega de jogar folha de cenoura no lixo! ;)

TORTA DE FOLHAS DE CENOURA
Tempo de preparo: 10min + 30min de geladeira + 1 hora
Rendimento: 6-8 fatias


Ingredientes:
(Massa: a de sempre, ou a sua favorita.)
(Recheio)
  • 2 xíc. de folha de cenoura muito, mas muito bem picadas
  • 2 dentes de alho picados
  • 1/2 cebola picada
  • 1 punhado de salsinha picada
  • 3 ovos
  • 1/2 xíc. de creme de leite (normal, fresco, ou mesmo leite apenas)
  • 1/2 xíc. de parmesão ralado na hora
  • sal e pimenta-do-reino ralada na hora

Preparo:
  1. Prepare a massa, embrulhe em filme plástico e leve à geladeira por meia hora. Abra-a numa superfície ligeiramente enfarinhada e forre uma forma de uns 23-25cm. Espete com um garfo toda a superfície. Cubra com papel alumínio, encha a forma com feijões e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 15 minutos. Retire os feijões e o papel alumínio e asse por mais 10-15 minutos, até que a massa pareça sequinha.
  2. Enquanto a massa pré-assa, faça o recheio, misturando todos os ingredientes menos o queijo em uma tigela e mexendo bem.
  3. Retire a massa assada do forno, espalhe o recheio de modo uniforme e polvilhe generosamente com o queijo ralado. Leve ao forno por mais 30-40 minutos, até que o recheio esteja firme e dourado. Sirva quente ou em temperatura ambiente.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Oh, my darling Clementine... cake.


Oh, yeah, eu ousei e fui direto no cliché no título!!! ;)
Bolo de tangerina da Nigella.

Desde que as danadas das mexericas (orgânicas) surgiram no mercado, eu estava pensando em bolo de mexerica. E sempre quis preparar este bolo bizarro de Nigella, que leva mexericas inteiras, com casca, fiozinhos brancos e tudo.

No entanto, como há ainda outras gostosuras na fila, não quis preparar o bolo inteiro, e resolvi cortar a receita pela metade e estrear minha pequenina forma de 16cm. De tudo absolutamente certo, não fosse eu abrir o forno antes do tempo (uma vez que eu não sabia quanto tempo demoraria para assar um bolo tão pequeno), o que fez com que ele afundasse um tantinho no meio.

Sem problemas, o bolo ficou delicioso mesmo assim. Perfumado de mexerica, úmido, macio e com aquele gostinho inconfundível de amêndoas. Ótimo bolo para quem não quiser usar farinha de trigo.

BOLO DE TANGERINA
(adaptado daqui)
Tempo de preparo: 2h + 1h
Rendimento: 6 fatias pequenas ou 4 generosas


Ingredientes:
  • 1-2 mexericas (±190g)
  • 3 ovos
  • 115g açúcar
  • 125g amêndoas moídas
  • 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
Preparo:
  1. Cubra a mexerica inteira com água, leve ao fogo, tampe e deixe cozinhar por 2 horas. Escorra, corte a fruta ao meio e retire as sementes. Bata o restante da fruta (polpa, fiapos, casca) no liquidificador até que fique um purê homogêneo.
  2. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Unte com manteiga e forre com papel-manteiga uma forma redonda e alta, de 16cm de diâmetro.
  3. Bata os ovos na batedeira até que fiquem claros e fofos. Ainda batendo, adicione o açúcar, em seguida as amêndoas e o fermento.
  4. Com uma espátula, incorpore rápida mas delicadamente o purê de mexerica.
  5. Despeje a mistura na forma e leve ao forno por 30-35 minutos, até que esteja dourado e um palito inserido no centro do bolo saia limpo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Crostini de rabanetes e salada quente de funcho e agrião

Não é porque está frio que eu vou sair correndo das saladas. Ah, não. Continuo adorando essa oportunidade diária de combinar uma série de legumes e verduras de modo fácil e rápido, deixando as horas de planejamento e execução na cozinha para momentos mais calmos.

Continuo firme e forte em minha resolução de comer apenas o sazonal, e apenas o forte do mês, e isso tem sido muito mais agradável e muito menos difícil do que imaginava que seria. A primeira boa surpresa é o aumento na variedade de verduras e legumes que ano consumindo. Porque se me deixar sozinha numa feira, eu volto com a sacola cheia das mesmas coisas: pimentões, alface romana, abobrinhas, escarola.

Ontem, apanhei minha listinha de maio/junho e fiquei horrorizada pela ausência das minhas verduras amargas favoritas. E agora? O que eu faço sem escarola? E catalogna? Vocês precisam entender: eu não consigo ficar mais de dois dias sem algo verde escuro no meu prato. Reli a lista, e eis que surge a salvação: agrião. Está aí uma verdura que eu nunca compro. Sempre ali, verdinha e picante, olhando para mim, e eu ignoro seu olhar pidão e apanho alguma outra favorita para levar para casa, como um cãozinho velho e sarnento numa petshop ao lado de filhotes dourados de labrador. [Preciso apenas explicar aqui que eu sou completamente maluca por cachorro velho e sarnento de rodoviária, no entanto. Quero levar todos para casa. Já o agrião, coitado...]

Desta vez, não tive escolha. Ok, agrião, chegou a sua vez. Vamolá! Você é o verde do meu prato no mês de junho. Campeão! Funcionário do mês!

Mas ainda que a geladeira esteja hoje recheada de coisinhas maravilhosas como funcho, abóbora, batata-doce, mostarda (ganhei do feirante um maço enoooooorme, porque ele ficou passado que eu nunca experimentara), cenouras com suas folhas, ervilhas-tortas e afins, eram os rabanetes que continuavam me açoitando com suas acusações de abandono.

*Suspiro*

Foi um misto de gula com falta de inspiração. Quero muito comer rabanetes de outra forma que não crus, mas confesso que desde que experimentei esse jeito de comê-los, não consigo pensar em mais nada. Quando li no Chez Panisse Vegetables sobre esses open-face sandwiches de rabanetes, manteiga e anchovas, pensei: "Íiiiiiiuuuuuuh! Não há meios de isso funcionar!" :P Quão errado pode estar um ser humano?? Eu estava muito, muito errada. Não apenas funciona, como é delicioso! Não importa quão insuportavelmente picantes estejam seus rabanetes. Alguma coisa acontece quando eles tocam a gordura doce da manteiga e a carne salgada das anchovas, e os três ingredientes se fundem num sabor só, completo e suculento sobre a baguette quente.

Sério.

Completamente viciante.

Para não comer uma baguette inteira, um tablete de manteiga, um vidro de anchovas e uns 17 rabanetes no almoço [ah, eu seria totalmente capaz disso], resolvi complementar meus três crostini com uma salada que criasse o mesmo efeito "amálgama de sabores". O agrião, picante como os rabanetes, foi coberto com uma camada de funcho quente, refogado em azeite e sementes de erva-doce, cozido até amaciar e quase caramelizar com um pouquinho de açúcar. No garfo, o agrião perde sua picância e a erva-doce não é assim tão doce, e o equilíbro me pareceu perfeito.

Vale dizer que como fã número 1 de funcho (erva-doce), estou extasiada por ele estar na época! Fiquei meio desconfiada quando vi o tamanhozinho dos bulbos, acostumada àqueles de supermercado, do tamanho da minha cabeça. "Pode levar", disse o feirante. "Este é pequenininho mesmo, mas olha só como são redondinhos! Estão muito saborosos, pode confiar. Toma, faço 6 pelo preço de 5." Confiei, e com razão. Estão mesmo uma delícia! Nada como um bom fornecedor! :)

CROSTINI DE RABANETES
(quase nada adaptado do livro Chez Panisse Vegetables, de Alice Waters)
Toste um pouco fatias de baguette no forno, sob o grill ou numa torradeira, e espalhe um pouco de manteiga sem sal sobre as fatias quentes. Cubra com um, dois ou três filés de anchova (dependendo do tamanho) e então com fatias finas de rabanetes. Tempere com pimenta-do-reino moída na hora.

SALADA QUENTE DE FUNCHO E AGRIÃO
(adaptado do livro Gordon Ramsay's Fast Food)
Fatie a parte branca de um bulbo pequeno de funcho (do tamanho de um punho) e reserve algumas folhinhas. Em um pilão, triture uma pitada de sementes de erva-doce com um pouco de sal grosso. Aqueça um fio de azeite numa frigideira e junte a erva-doce triturada, mexendo com uma colher até que exale aroma. Junte o funcho fatiado, tempere com sal, pimenta-do-reino e 1/2 colh. (chá) de açúcar e mexa, deixando que cozinhe em fogo baixo até que esteja macio e ligeiramente dourado. (Você pode deixar caramelizar mais se quiser.) Coloque um punhado de agrião lavado e seco em um prato, cubra com o funcho quente, tempere com azeite e mais sal e pimenta, se quiser, e as folhinhas reservadas. Serve 1.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Novo FAQ preguiçoso

Com a grande quantidade de emails que recebo perguntando a mesma coisa, ou mesmo perguntando coisas que já foram respondidas um zilhão de vezes no blog, criei uma espécie de FAQ com conversão de medidas e links para os posts que explicam coisas sobre farinhas, cremes de leite, técnicas de bolo e pães, etc. Para ajudar vocês e, confesso, me ajudar também. Pois conforme a coisa foi crescendo (ops!), estou cada vez mais atrapalhada para responder a todos os comentários e emails sem esquecer de ninguém (e eu já me esqueci de vários)...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Retorno com uma sopa de legumes

Depois de três semanas muito, mas MUITO, atribuladas, sinto que estou conseguindo retomar minha rotina. Rotina retomada quer dizer também abrir a geladeira e averiguar o estrago causado por dias sem fazer almoço ou jantar. O stress faz com que comamos muita porcaria, e tudo o que eu queria hoje era voltar aos meus adorados legumes. Quando vi o que sobrara na gaveta da geladeira, lembrei-me imediatamente desta sopa.

Coloquei em uma assadeira 4 cenouras médias cortadas em pedaços de 2cm, um bulbo pequeno de funcho sem as folhas, cortado em fatias grossas, 1 cebola roxa descascada, cortada em quartos e despedaçada com os dedos, 2 dentes de alho inteiros e na casca, 1 batata média cortada em cubos, com casca, alguns ramos de tomilho, pimenta-do-reino, sal e azeite de oliva bastante apenas para recobrir os legumes com uma fina película de óleo. Misturei tudo muito bem e levei ao forno médio (180º) até que os legumes estivessem macios e chamuscadinhos nas pontas (uns 35 minutos).

Retirei os ramos mais lenhosos do tomilho, jogando-os fora, espremi o alho para fora da casca e bati-o no liquidificador com todos os outros legumes e 2 1/2 xícaras de caldo de legumes. Coloquei em uma panela e aqueci, acertando o tempero e servindo com um fio de azeite e fatias de pão. Serve 3 porções.

Exatamente o que eu precisava. Só não sei o que fazer com o enorme ramo de rabanetes que continua na geladeira olhando para mim... :P

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nunca confunda suas pimentas

Chamara minha mãe e minha irmã para um jantarzinho sossegado num domingo sem marido. Um macarrãozinho simples basta, pensamos. Vou para a cozinha, coloco água para ferver, separo o spaghetti, abro a lata de tomates pelados, corto cebola, alho, cato umas ervas nos vasos da sala. Então, ao abrir a geladeira para apanhar o queijo, vejo aquela bandejinha de pimentas sortidas que eu comprara há algum tempo ali, implorando por algum uso.

Veja bem: gosto de pimenta. A convivência com meu marido, que gosta de qualquer comida apimentada, fez com que eu me apaixonasse também pelas danadas. Algumas ali na bandejinha eram velhas conhecidas: dedo-de-moça, malagueta, pimenta-de-cheiro, jalapeño. Outras, bonitinhas e de formatos e cores variadas, eram interessantes desconhecidas despertando suaves dejà vus; já as havia visto em algum lugar.

Achando-me grande conhecedora, apanhei uma pequena, arredondada, enrugadinha, que me lembrava uma pequena abóbora disforme, e pensei: ah, é a cambuci, ela é docinha. Minha irmã não gosta muito de pimenta, então essa vai só dar uma aromatizadinha.

Abri-a com a faca e raspei fora suas sementes, ajudando um pouquinho com a ponta dos dedos. A intenção, como fizera com todas as outras pimentas da bandeja, era plantar aquelas sementes nos vasos da sala (a maioria já brotou, por sinal). Comecei a fatiar a pimenta, e senti seu aroma forte atingir meu nariz. Surgiu a dúvida. Nunca provara a cambuci antes. Talvez fosse melhor experimentá-la antes de colocá-la no molho, só para garantir.

Estiquei meu dedo e pressionei-o contra um pedacinho tão pequeno de pimenta, que tive justamente de apanhá-lo como se fosse um cisco na bochecha de alguém. Botei na boca.

...

Minha mãe correu da sala para a cozinha, tentando entender o que estava acontecendo. Eu arfava, meus olhos derramavam lágrimas grossas, e minha boca inteira parecia estar sendo consumida por um pedaço de carvão em brasa. Curvei-me bruscamente sobre a pia da cozinha, abri a torneira e comecei a lavar a boca com a água, o que, no entanto, só piorou a situação. Meus dedos, que haviam tocado as sementes, agora terminavam de contaminar meus lábios e minhas bochechas, de modo que todo o meu rosto começou a arder como se tivesse passado oito dias exposta ao sol de um deserto. Minha mãe olhava, desnorteada, enquanto minhas bochechas ficavam cada vez mais manchadas de vermelho vivo.

Lembrei-me de um episódio do MithBusters, em que concluíam que o melhor remédio para pimenta era leite. Eu detesto leite puro, e ainda assim tomei dois copos inteiros e, em total desespero, comecei a lavar minhas mãos e meu rosto com o leite. Confesso: melhorou um bocado.

Agora eu podia ao menos respirar com mais calma e explicar à minha mãe, horrorizada, o que havia acontecido.

"O que houve???", perguntou ela, finalmente, me vendo mais calma, ainda que a vermelhidão de meu rosto e o ardor nas pontas dos dedos, na boca e nas bochechas fosse durar até a hora de dormir.
"Confundi minhas pimentas", expliquei, ainda um tanto sem ar, olhos lacrimejando e vias aéreas provavelmente desentupidas até a próxima encarnação.
"Como assim?"
"Pensei que fosse uma cambuci. Mas era uma scotch bonnet."

[Scotch bonnet: parente da habanero, e uma das pimentas mais ardidas do mundo. Tirei ou não tirei a sorte grande...?]

terça-feira, 12 de maio de 2009

Bolo de coco e doce-de-leite para meu pai

Assim que o aniversário de meu pai se aproximou, prontifiquei-me a fazer um bolo. Como meu pai não é muito fã de doces, minha mãe ficou chocada quando ele não só deixou que eu lhe preparasse o bolo como ainda escolheu o sabor. Ele o tinha assim, na ponta da língua, tão logo perguntei: "coco com recheio de doce-de-leite".

Como, mas COMO eu poderia ignorar esse pedido?

Confesso que, como os tempos andam meio conturbados, a escolha do tipo de bolo de coco foi um pouco afetada pelos quesitos "tempo" e "dificuldade"... Havia três opções:
  1. preparar minha génoise clássica, adaptando-a para virar uma génoise de coco;
  2. preparar uma receita de bolo de coco da Nigella, despretensioso;
  3. ou preparar o bolo de coco do livro Sky High, que parecia mais rico, por levar leite de coco na massa.
Pensa, pensa, pensa.
  1. Vai que a adaptação torna o bolo seco demais? Se não der certo, não vai dar tempo de fazer outro.
  2. Tem coco ralado e Malibu (rum de coco) na despensa, ambos itens da receita. E o bolo parece simples e direto ao ponto.
  3. Ando meio desestimulada a usar leite de coco, depois que descobri que todas, TODAS as marcas disponíveis em São Paulo engrossam seu leite de coco com Goma Guar. Engraçado, porque, ao meu ver, quando eu compro leite de coco, eu quero leite de coco, e não leite de coco com sementes, algas ou milho, que são as principais matérias-primas das gomas. Aliás, acho que isso é propaganda enganosa, assim como os iogurtes engrossados com amido. Pois é, iogurte de milho. Assim como por lei, requeijão só pode ter esse nome no rótulo se for uma fórmula XYZ, acho que só podia dizer "leite de coco" ou "iogurte" o que tiver SÓ leite de coco na garrafa e APENAS leite e fermento lácteo no potinho. Estou pensando em reclamar no Procon. Mas estou digredindo. Nada de leite de coco, então.
Ok, receita decidida. Nigella é isso aí. Os bolos foram preparados muito facilmente e, ainda que tenham ficado no forno uns 8 minutos a mais que o tempo estipulado na receita, ficaram macios e perfumados. Fiquei com medo, no entanto, que o coco neles, apenas presente em forma ralada, fosse muito pouco, e resolvi banhá-los num xarope de Malibu antes de montar o bolo. Recheei-os com doce-de-leite puro, sem nada mais, e levei à geladeira enquanto preparava a cobertura.

A receita original de Nigella usava glacê instantâneo. Bem, eu gosto de um desafio, e fui atrás da receita do glacê, que, por acaso, estava em outro livro dela. Acabei optando por misturar sua receita com a do Professional Baking, uma vez que Nigella usava glicerina ao invés de cremor tártaro, e apenas o último constava em minha despensa.


Um erro de cálculo durante o preparo, no entanto, fez com que usasse cerca de metade do açúcar de que eu precisava, e o glacê , apesar de saboroso, não secou como deveria, ficando ainda mole como chantilly firme. No entanto, o erro foi para melhor, uma vez que a cobertura ainda mole tornou o bolo mais úmido. Como ele é doce, porém, e o bolo já levava doce-de-leite, fiquei com receio de que muita cobertura o deixasse enjoativo, e acabei não usando tudo, passando apenas uma fina camada do creme, como é possível ver na foto. Bobagem minha, poderia ter usado tudo tranquilamente. Quem não se sentir confortável em usar claras de ovo cruas, pode simplesmente substituir a cobertura por chantilly caseiro aromatizado com Malibu e polvilhar o coco ralado por cima.

O bolo ficou muito gostoso e o coco ficou sutil, apesar de todo o coco ralado com Malibu, cujo teor alcoólico é imperceptível no contexto. Aprovado e anotado, para ser repetido numa próxima vez.


BOLO DE ANIVERSÁRIO DE COCO E DOCE-DE-LEITE

(adaptado do livro How to be a domestic goddess, de Nigella Lawson)
Rendimento: 16 fatias
Tempo de preparo: 3 horas


Ingredientes:
(bolos)
  • 1 xíc. (200g) de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 3/4 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 4 ovos grandes
  • 1 1/3 xíc. farinha de trigo
  • 2 colh. (sopa) amido de milho
  • 1 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1 pitada generosa de bicarbonato de sódio
  • 1/4 xíc. de coco ralado, de molho em 1/2 xíc. + 2 colh. (sopa) de água fervendo
(xarope)
  • 2 colh. (sopa) açúcar
  • 2 colh. (sopa) água
  • 2 colh. (sopa) Malibu
(recheio)
  • 1/2 xíc. de doce-de-leite
(cobertura)
  • 1 clara de ovo
  • 175g açúcar de confeiteiro
  • 1 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 pitada de cremor tártaro
  • 2 colh. (sopa) Malibu
  • coco ralado para polvilhar
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte duas formas redondas de 20cm com manteiga.
  2. Bata a manteiga e o açúcar na batedeira até ficar cremoso e fofo.
  3. Adicione os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  4. Numa tigela, peneire juntos a farinha, o fermento, bicarbonato e amido. Junte-os em três ou quatro partes ao creme da batedeira, incorporando bem.
  5. Adicione o coco ralado com a água, misture até que fique uniforme e distribua a massa entre as formas. Parecerá que é muito pouco, só um dedinho de massa, mas os bolos vão crescer.
  6. Leve ao forno por 25 minutos, ou até que estejam ligeiramente dourados, afastados das bordas da forma e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe que esfriem na forma por 10 minutos, então desenforme sobre uma grade e deixe que esfriem completamente.
  7. Em uma panela, misture os ingredientes do xarope e leve ao fogo médio até que o açúcar tenha se dissolvido. Desligue o fogo e deixe que esfrie. Banhe os bolos frios com o xarope.
  8. Coloque um dos bolos de cabeça para baixo em um prato. Se o doce-de-leite estiver muito firme, bata com uma colher até que fique mais molinho. Espalhe-o de forma uniforme sobre o bolo, deixando 0,5-1cm de borda. Posicione o segundo bolo de cabeça para cima sobre o recheio, com cuidado. Leve à geladeira enquanto prepara a cobertura.
  9. Bata a clara na batedeira até que comece a espumar, e então acrescente metade do açúcar. Quando a mistura tiver crescido um pouco, vá acrescentando o restante do açúcar aos poucos, adicionando o restante dos ingredientes. Bata até atingir uma consistência firme de suspiro.
  10. Retire o bolo da geladeira. Derrame uma parte da cobertura no centro do bolo e espalhe com uma espátula, puxando para as laterais e deixando que escorra. Alise com a espátula para espalhar o creme pela lateral, sempre no mesmo sentido. Vá derramando mais creme e repetindo, até que todo o bolo esteja coberto de modo uniorme. Polvilhe o coco ralado por cima e um pouco nas laterais (ou muito se você quiser) e leve à geladeira até a hora de servir.

domingo, 3 de maio de 2009

PADARIA DE DOMINGO 33: cinnamon rolls

Depois de tantas saladinhas e sopinhas, era justo que eu falasse sobre algo gordo, bem gordo mesmo. Estava ensaiando há muito tempo essa receita de cinnamon rolls, um dos doces favoritos de meu marido. Mas me lembrava da última hecatombe amanteigada em minha cozinha com certo receio. Quando tentei preparar croissants pela primeira vez, muita coisa deu errado, e ao fim do processo havia mais manteiga em minha bancada do que nos croissants. Sinto cheiro de trauma. No entanto, como eu poderia dormir à noite sabendo que desistira dessa parte tão maravilhosa da culinária, as massas laminadas? E, principalmente, como poderia me olhar no espelho sabendo que escrevo todo o tempo a respeito de tentar novas técnicas, não ter medo de cozinhar, livrar-se de traumas culinários, enquanto eu mesma me via limitada pelo medo irracional de danish pastry?

Hmmm...

Deixei-me levar então por um domingo entediado, apanhei farinha, manteiga, fermento e açúcar e me pus ao trabalho. A massa foi muito simples de se fazer. Bem sequinha, tomou forma rapidamente. A diferença fundamental entre a "danish pastry" [cuja única tradução para o português que encontrei foi "pão doce"] e a massa folhada é que a primeira leva fermento e a segunda, não. Desse modo, enquanto a massa folhada fica apenas flocosa e crocante, a "danish" fica além de tudo macia, parecendo criar camadas de casquinha mais crocantes quanto mais externas.

Após a fermentação, então, estendi-a com facilidade e espalhei a manteiga amolecida sobre ela sem dproblemas. Dobra de um lado, dobra do outro, leva à geladeira. Tudo perfeito. Meia hora de televisão ruim depois, retirei a massa da geladeira e comecei a estendê-la novamente. Com cuidadinho. No entanto, vi logo que as bolhas de ar que haviam ficado presas entre as partes de massa começavam e empurrar a manteiga para fora. Um movimento com um pouco mais de força, e SPLOFT! A manteiga esguichou para fora da massa em direção à bancada.

Hunf.

Sem estresse. Retirei a manteiga fugitiva com uma faquinha e polvilhei o buraco com um pouco de farinha, na esperança de que ela ajudasse a conter aquela "manteigorragia". Dobra de um lado, dobra do outro, geladeira de novo.

Mais meia hora e eu me perguntando por que insistia em tentar ver televisão em um domingo. Mesmo processo, mesma fuga amarela, mesma solução. Voltei a danada para a geladeira apenas para que a massa gelasse o suficiente para que eu a abrisse sem problemas, e comecei a preparar o restante: pré-aqueci o forno, untei as formas de muffin e misturei o açúcar à canela. Dividi a massa ao meio, pois fizera o dobro do necessário, e embrulhei a parte extra em filme plástico, colocando-a no freezer para depois virarem croissants ou outro pão doce qualquer. Então terminei os cinnamon rolls.

O cheiro dos pãezinhos assando era de enlouquecer qualquer ser humano. O perfume da canela e manteiga quentes me fazia querer comer todos eles direto do forno, o que não seria muito esperto – alôo! açúcar pelando! Deixei que os pãezinhos esfriassem e fiz a cobertura.

Comê-los me fez ter certeza do por quê de gostar tanto de manteiga. Não há comparação com um cinnamon roll feito com margarina ou gordura hidrogenada. A massa era macia como uma nuvem, e ainda incrivelmente flocosa, se destacando facilmente a cada mordida, a manteiga carregando o gosto da canela e do açúcar e derretendo na boca. Deu trabalho? Deu. Mas valeu cada minutinho investido, e mesmo limpar a manteiga da bancada foi algo que fiz com satisfação, sabendo que o que me esperava depois era um cinnamon roll fresquinho e uma xícara de café...

Obs: a quantidade de massa abaixo é para apenas uma batelada de rolinhos. Caso deseje, dobre a quantidade de massa para guardar no freezer e proceda da mesma forma.

CINNAMON ROLLS
(ligeiramente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 3h30 (massa) + 50min (rolls)
Rendimento: 12 cinnamon rolls do tamanho de muffins


Ingredientes:
(massa)
  • 45+15g água
  • 10g fermento ativo fresco
  • 35+220g farinha de trigo
  • 17g açúcar cristal orgânico
  • 5g sal
  • 80g leite
  • 140g manteiga
(recheio)
  • 60g açúcar cristal orgânico
  • 2g canela em pó
  • manteiga derretida
(cobertura)
  • 100g açúcar de confeiteiro
  • 18g água quente
  • 6g mel
  • 1/4 colh. (chá) essência de baunilha

Preparo:
(massa)
  1. Numa tigela, misture a primeira parte da água (45g) e o fermento, até dissolvê-lo. Polvilhe a primeira parte da farinha por cima (35g) e deixe descansar por 15 minutos.
  2. Em outra tigela, misture o açúcar, o sal, leite e segunda parte da água (15g), até que os ingredientes secos estejam dissolvidos.
  3. Peneire o restante da farinha e junte-a à mistura de fermento. Adicione a mistura líquida e mexa com as mãos até que se forme uma massa mais ou menos uniforme. Não mexa demais. Termine sovando a massa na bancada por um minuto ou dois. Cubra e deixe fermentar por 40 minutos em temperatura ambiente.
  4. Soque a massa para lhe retirar qualquer ar e leve à geladeira por 1 hora.
  5. Abra a massa na bancada ligeiramente enfarinhada, até ficar no formato de um retângulo grande. Espalhe a manteiga em 2/3 dessa massa, deixando uma borda de uns 2cm.
  6. Dobre o terço sem manteiga sobre a massa com manteiga, como uma carta, e em seguida dobre a segunda aba, exatamente como você faria para dobrar uma folha A4 para inseri-la num envelope.
  7. Gire a massa 90º e abra-a com o rolo, apenas no sentido do comprimento, até formar um retângulo comprido novamente. Faça isso com delicadeza, para não rasgar a massa e expor a manteiga. Dobre novamente, como da primeira vez e leve à geladeira por meia hora.
  8. Retire o retângulo de massa da geladeira e estenda-o mais uma vez com o rolo, encompridando o retângulo. Dobre-o como da vez anterior e leve à geladeira novamente. Repita o processo mais uma vez.
(cinnamon rolls)
  1. Se a massa estiver já quente, leve à geladeira por uns 15 minutos antes de estendê-la. Enquanto isso, ligue o forno a 180ºC e unte uma forma de muffins de 12 buracos com manteiga.
  2. Abra a massa com o rolo até ficar com 23x30cm, e 0,5cm de espessura.
  3. Misture a canela e o açúcar. Espalhe um pouco de manteiga derretida sobre a massa, o suficiente para fazer o açúcar aderir, e polvilhe-o igualmente sobre a massa.
  4. Enrole a massa no sentido da largura, como um rocambole apertado, mantendo o comprimento do rolo em 30cm.
  5. Com uma faca afiada, corte em fatias de 2,5cm de espessura. Com cuidado, para que o recheio não vaze, tranfira os rolinhos para as formas untadas. Deixe descansar por 25 minutos. Leve ao forno por 15-20 minutos, até que a massa pareça seca e as laterais estejam bem douradas.
  6. Retire das formas e deixe esfriar sobre uma grade.
(cobertura)
  1. Em uma tigelinha, misture todos os ingredientes até ficar homogêneo e sem grumos. Na hora de usar, aqueça em banho-maria até que fique morno e líquido novamente e despeje às colheradas sobre os rolinhos, rapidamente, antes que a cobertura endureça novamente. Os cinnamon rolls são melhores comidos no mesmo dia, pois tendem a ressecar mesmo guardados em potes herméticos. Ainda que menos macios, porém, continuam muito gostosos no dia seguinte.

Cozinhe isso também!

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