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domingo, 21 de setembro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 22: Pão de linhaça


Todos os dias recebo um e-mail de alguém pedindo por uma receita infalível de pão. E nunca sei o que responder a essas pessoas, quase sempre iniciantes ou traumatizados por experiências passadas em panificação. Ainda que já tenha visto muitos blogs, sites e livros dizendo terem encontrado a receita definitiva de pão para quem nunca fez um, não consigo deixar de pensar que o "pão infalível" seja um mito tão difundido quanto o Papai Noel, mas tão verdadeiro quanto o mesmo. [Não duvido da boa intenção desses blogs, sites e livros, no entanto...]

Meus primeiros pães (e por primeiros digo os 20 primeiros) foram um feliz desastre. "Desastre" porque não cresciam direito; os que deveriam ser rústicos não tinham casca grossa e os que deveriam ser delicados eram cascudos; e todos, todos eles, tinham gosto de fermento. Tanto que as pessoas à minha volta, educadas, achavam lindo que eu tentasse fazer pães em casa, mas a verdade é que quase sempre eu os comia sozinha. Mas "feliz" porque eles satisfaziam minha necessidade de produzir alguma coisa, e, naquela época, eu não me cobrava tanto. O fato de tirar um pão feito por mim do forno, não importanto quão "comível", bastava. Não tenho fotos daqueles pães, mas tenho do primeiro pão-de-forma que fiz para o blog, carinhosamente apelidado de "O Pão do Homem-Elefante", não à toa.

Tenho uma característica que beira o defeito, e que muitos atribuem a meu signo, que é o perfeccionismo e a mania de fazer as coisas do "jeito certo", qualquer que seja ele. Sempre gostei de estudar e de entender como as coisas funcionam antes de me meter com elas, e por isso sou um daqueles nerds que lêem o manual de cabo a rabo antes de ligar um aparelho eletrônico, mesmo que ele seja uma simples TV. Na cozinha, funciono da mesma forma. Por isso fui atrás de um "manual" de pães. Não queria mais um livro de receitas, e sim uma fonte de informações que me ensinasse como os pães funcionam, como eles dão certo e como eles dão errado. Comprei alguns livros e não voltei a fazer pães até tê-los lido e entendido. Não satisfeita, busquei diferentes técnicas.

Para ter certeza de que estava tudo dando certo, resolvi ser precisa, e lancei mão da balança digital, do termômetro de parede e do de forno, e gastei alguns reais a mais para ter certeza de que estava usando a farinha apropriada para o processo. E, de repente, eu perdera um pouco o lado "nonna" da coisa toda em nome de uma metodologia mais científica. Porque eu queria fazer meus pães "do jeito certo".

Tive dificuldades em manter a temperatura da cozinha em dias muito frios ou muito quentes.

Tive dificuldades em manter a temperatura do forno por causa do gás de rua, que fica mais baixo quando o prédio inteiro está preparando o jantar.

Tive dificuldades em moldar os pães, que rasgavam e distorciam ao serem assados.

Então, um dia, descobri que nos dias muito frios, poderia pré-aquecer o forno no máximo algumas horas antes e, se isso não bastasse, poderia cobrir a tigela do pão com filme-plástico, criando uma estufa que manteria a massa na temperatura certa. Nos dias muito, muito quentes, cobriria o pão apenas com um pano de prato úmido e o deixaria longe do forno e do sol.

Noutro dia descobri que o que importava era o que o termômetro de forno mostrava, e não o botão do fogão, e era melhor ficar de olho e pré-aquecer o forno sempre no máximo, diminuindo para a temperatura certa só na hora de colocar o pão lá dentro.

Então, em mais outro dia, moldei minha primeira baguette corretamente. A-há!

De repente senti-me mais livre para adaptar receitas, trocar farinhas, gorduras, colocar temperos, ervas, nozes, e criar os pães que eu quisesse, sabendo exatamente que efeito teria em suas cascas e seus miolos. Percebi que, a não ser pela medição ainda precisa dos ingredientes, começara a preparar os pães com menos preocupações científicas e mais intuição. A intuição viera do conhecimento enfim enraizado. Qual a porcentagem de farinha que posso trocar por integral? Não sei. Existe uma regra? Esta receita me parece que se beneficiaria de uma troca de 100%. Nessa outra, tenho certeza de que mais de 30% talvez deixe o pão pesado. Quanto tempo deixo fermentando essa massa que nunca fiz na vida e não tem receita? Não sei. Fico de olho e faço o teste do dedo: se afundar e não voltar, está no ponto. E a segunda fermentação? Se pressionar o dedo e a massa voltar devagar, já chega. Técnica de nonna? Não, mas parece, certo?
E o tempo de forno? Deixo dourar, tiro o pão e bato em baixo. Se não estiver oco, volto para o forno. Ah, mas na receita dizia 20 minutos e já foram 25. Quem se importa? Meu forno é meu forno, com meu gás, assando o pão que fiz com meus ingredientes.

E era nesse ponto que queria chegar. A água de cidades diferentes tem minerais diferentes em diferentes concentrações. Açúcar orgânico e açúcar refinado são diferentes e, quando medidos em volume ao invés de peso, podem dar resultados diferentes. Farinhas variam tanto de marca para marca... e se eu uso farinha para pão e você não... bem, não preciso continuar a frase. Já testei diferentes marcas de fermentos secos e frescos e escolhi minhas favoritas, que podem não ser as suas.

São tantas as variáveis que é impossível existir uma receita de pão que dê certo SEMPRE na minha cozinha, na da minha irmã, na sua e na da minha cunhada na Itália. A única garantia de ter pães caseiros que valham a pena saindo de seu forno é fazê-los sempre e aprender com os próprios erros. Sei que isso desanima quem nunca fez pães, pensar em todos os fracassos antes do primeiro sucesso. Mas a vida não é assim?

Já recebi e-mails de pessoas que gostam que eu dê tantos detalhes na receita, como temperatura da fermentação, minutos de sova, e água medida em gramas, e outras que acham que isso faz a panificação parecer muito complicada. A essas pessoas respondo que estou apenas sendo honesta. Poderia escrever a receita como se fosse a coisa mais simples do mundo (e é, na verdade, uma vez que se entende o funcionamento da coisa). Mas acho desonesto omitir informações na receita apenas para que as pessoas achem-na mais fácil.

Lembro-me de um episódio de um dos inúmeros programas de Jamie Oliver em que ele dizia que para cozinhar você precisa saber controlar o fogo: se estiver queimando, abaixe a chama do fogão! Quão básico é isso? Mas quantas vezes, quando ainda iniciantes na cozinha, não deixamos a comida queimar porque a receita dizia "fogo alto"? É o mesmo princípio: seja flexível dentro de determinados parâmetros da panificação, e adapte ou crie as condições necessárias para produzir seus pães. E não se cobre. Nada com tantas variáveis é infalível, e logo, não é culpa sua se seu primeiro, segundo ou quadragésimo terceiro pão não ficou como você imaginava. E se isso acontecer, você sempre pode descobrir por quê e tentar consertar numa próxima vez.

Enquanto isso, fugindo um pouco dos pães melequentos, deixo aqui uma receita de pão de linhaça cuja consistência é fácil de sovar, à mão ou na batedeira com gancho. A farinha de linhaça confere à massa uma linda cor escura e um sabor complexo e terroso que me dá vontade de comê-lo com algum queijo amarelo forte e mini-picles. Mas ficou delicioso apenas com manteiga.


PÃO DE LINHAÇA
Tempo de preparo: 10 min. + 2h30 de fermentação + 30 min. de forno
Rendimento: 1 pão


Ingredientes:
  • 120g de farinha de trigo para pães
  • 280g de farinha integral
  • 50g de farinha de linhaça
  • 8g de sal
  • 10g de fermento ativo fresco
  • 10g de mel
  • 245g de água

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno no máximo. Misture em uma tigela as farinhas e o fermento e esfregue com as pontas dos dedos para esmigalhá-lo e misturá-lo. Junte o resto dos ingredientes e sove por uns 10 minutos até que a massa esteja elástica. Forme uma bola, coloque numa tigela ligeiramente enfarinhada, cubra com um pano e deixe fermentar por 1h-1h30, até que dobre de tamanho.
  2. Volte a massa para uma superfície ligeiramente enfarinhada e traga as bordas da massa para o centro, fundando com o punho para retirar o ar. Forme uma bola novamente e deixe descansar por 5 minutos.
  3. Molde o pão, afinando as pontas, coloque numa assadeira polvilhada com farinha de milho (ou farinha integral), cubra com um pano e deixe fermentar por mais 30min-1h, até que tenha dobrado de tamanho novamente (ou até que, pressionando de leve o dedo, a massa volte devagar para o lugar).
  4. Faça cortes diagonais na massa com uma faca afiada. Pulverize o pão e o forno com água, coloque o pão rapidamente no forno e abaixe o fogo para 210ºC. Asse por cerca de meia hora, ou até que o pão esteja dourado e um solte um som oco ao bater embaixo dele com os nós dos dedos.

domingo, 14 de setembro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 21: Pão lagarta.. ops! Trançado, quero dizer.


Se você não souber rir de si mesmo, provavelmente não viverá muito tempo. Na cozinha nem sempre tudo são flores, nem sempre tudo sai exatamente como você imagina. Mas muitas vezes, quando tudo parece que dará errado, você descobre que não: eram somente suas expectativas que estavam meio fora do eixo.

Preparei essa massa de pão bastante versátil com intenção de fazer uma trança pela primeira vez. No entanto, alterações para lá e alterações para cá fizeram com que a massa ficasse bastante mole. Tenho apreciado cada vez mais trabalhar com massas mais úmidas, apesar da dificuldade de manipulá-las, pois elas parecem produzir pães mais interessantes. Daí a batedeira vem para ajudar, uma vez que fica com a parte mais chata da sova, quando a massa está ainda insuportavelmente grudenta, e meus dedos ficam apenas com a parte final, quando já posso polvilhar mais farinha para a primeira fermentação e o molde.


Normalmente as massas tendem a ficar mais firmes após a primeira fermentação. Não foi o caso dessa, porém. Ela continuava grudando um bocado em meus dedos e na bancada; tanto que, ao tentar trançá-la, podia ver as duas partes de massa grudando uma na outra e se fundindo em uma só, perdendo todo o desenho bonito que imaginara.


Quando levei aquela trança desmilingüida ao forno, não achei que sairia grande coisa. Cheguei a comentar com meu marido que aquela fornada provavelmente não daria certo. "Que nada! Esse vai ser um dos melhores pães que você já fez", profetizou.


De fato, apesar de parecer uma lagarta gigante, ele ficou delicioso e muito muito macio, com um suave perfume amanteigado de dar água na boca. A casca é fina e molinha, e ele me trouxe à mente um daqueles "pães sovados" de estrada, de miolo denso e macio. Teoricamente, essa massa pode ser moldada em qualquer formato, adaptando-se apenas tempo de forno e temperatura. No entanto, recomendo que seja moldado como pão de forma, ou em bolas, dispostas em uma assadeira bem juntinhas, para que grudem umas às outras e sejam "destacadas" do todo para serem comidas. Trançá-la novamente? Hmmm... acho que não.

PÃO BRANCO MACIO PAU-PRÁ-TODA-OBRA
(livremente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: 1 pão


Ingredientes:
  • 140ml de água
  • 15ml de leite integral
  • 10g de fermento ativo fresco
  • 315g de farinha de trigo para pães
  • 6g de sal
  • 30g de açúcar
  • 30g de manteiga sem sal
  • 1 ovo orgânico
Preparo:
  1. Esfarele o fermento na farinha e esfregue com as pontas dos dedos até que os dois estejam bem misturados. Junte o sal e o açúcar. Junte a água, o leite, o ovo e a manteiga e sove em uma batedeira planetária com gancho por 12 minutos na velocidade 2. (Não recomendo sovar essa massa à mão...)
  2. Coloque a massa numa superfície bem polvilhada de farinha e forme uma bola. Volte à tigela, cubra e deixe fermentando por 1h30.
  3. Volte a massa crescida para a bancada enfarinhada e molde como quiser. Deixe crescer por mais 1 hora.
  4. Leve ao forno pré-aquecido no máximo, abaixe a temperatura para 200ºC e asse por uns 30 minutos, ou até que a casca esteja dourado-escura e o pão esteja assado.

domingo, 7 de setembro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 20: Pão de milho semi-integral

E estamos de volta ao reino do pão-de-forma. O que eu não faço para impedir que meu marido compre pão-de-forma branco industrializado... *Suspiro*

A intenção original era que esse pão de milho fosse integral. No entanto, em pleno domingo, minha farinha integral orgânica acabou, e o lugar que vende minha marca favorita não estava aberto. Consumidora fiel que sou, alterei a receita que tinha em mente para não trair minhas preferências.


O pão resultou macio, leve, de casca fina e macia, saboroso e perfumado pelas sementes de erva-doce bem distribuídas no miolo. Apesar do pão ter superado minhas expectativas, uma vez que eu saí misturando 3 ou 4 receitas diferentes até chegar numa proporção que me parecesse apropriada, não me tira da cabeça ainda a possibilidade de fazê-lo 100% integral.


PÃO-DE-FORMA DE MILHO SEMI-INTEGRAL
Tempo de preparo: 15 min + 2h30 de fermentação + 30 min. de forno
Rendimento: 2 pães médios


Ingredientes:
  • 225g de farinha de milho fina orgânica
  • 125g de farinha de trigo integral orgânica
  • 275g de farinha de trigo para pães
  • 12g de sal
  • 60g de açúcar cristal orgânico
  • 20g de fermento ativo fresco
  • 275ml de água
  • 40ml de leite integral
  • 60g de manteiga sem sal
  • 1 ovo extra-grande orgânico
  • 1 colh. (chá) de sementes de erva-doce

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 250ºC. Junte as farinhas, o açúcar e o sal em uma tigela e misture. Esfarele o fermento com as pontas dos dedos e junte-o à farinha. Junte a água, o leite, a manteiga e o ovo e sove à mão ou na batedeira planetária com gancho por 12 minutos em velocidade 2. No fim da sova, quando a massa estiver elástica mais ainda bastante úmida, incorpore as sementes de erva-doce.
  2. Coloque a massa em uma superfície enfarinhada, forme uma bola e volte-a à tigela enfarinhada, cobrindo com um pano e deixando fermentar por 1h30 min.
  3. Coloque a massa numa superfície enfarinhada, puxe as bordas para o centro, afundando para retirar o ar e forme uma bola. Divida em duas partes, forme bolas e deixe descansar por 5 minutos.
  4. Abra as bolas de massa e molde. Unte as formas com manteiga e coloque os pães ali, cobrindo com um pano e deixando fermentar por mais 1 hora.
  5. Coloque os pães no forno e abaixe a temperatura para 200ºC. Asse por 30 minutos ou até que estejam dourado-escuros. Desenforme e deixe esfriar sobre uma grade. Para mantê-los frescos por 1 semana ou mais, feche-os em sacos plásticos, como os pães industriais.

domingo, 31 de agosto de 2008

PADARIA DE DOMINGO 19: Pão de aveia e passas

Não tenho certeza se aveia foi um gosto adquirido, um gosto surgido com a maturidade ou um gosto empurrado goela abaixo. Quando criança, via propagandas de mingau na TV, molinho, quentinho, apetitoso, com rodelinhas perfeitas de bananas por cima, e pensava: isso deve ser bom. Corria para minha mãe e lhe pedia para que preparasse mingau de aveia. Lá vinha um prato quentinho, molinho, com rodelinhas de banana. Eu colocava na boca e... argh. Detestava. Empurrava. Jogava fora.

Esse deveria ser o fim do mingau de aveia em minha vida. No entanto, por algum motivo infantil que não sei ao certo (mas que deve ter algo a ver com o modo como obrigo as pessoas a comer coisas de que não gostam), não desisti fácil. Algo no mingau de aveia me intrigava. Não me conformava em não gostar. Eu precisava gostar. Então, seis meses depois, tentava de novo.

"Mãe, faz mingau?"
"Você não gosta de mingau."
"Gosto sim."

Lá vinha de novo, e de novo eu tinha a mesma reação. E assim prosseguiu minha infância, com repetidas e falhas tentativas de gostar de mingau de aveia. Até a que a infância passou e desisti temporariamente.

Não me lembro exatamente por que, já no fim da adolescência, resolvi voltar com o embate contra a aveia. Lembro-me, no entanto, de ter comprado a embalagem errada: aveia em flocos em lugar de farinha de aveia. Lá fui eu. Na época, no microondas de minha mãe. Xícara verde cheia de leite e aveia. Um minuto. Pi-pi-piiiiiiiiiii. Adocei a aveia, adicionei uma banana cortada e abocanhei minha primeira colher.

Amor à quadragésima terceira vista. E desde então, não consigo ficar sem aveia na despensa.

Por isso mesmo me animei quando vi a receita de Bertinet para pão de aveia e damascos. Ainda que o pão não seja de fato DE aveia, mas apenas COM aveia, uma vez que é um mero pão integral rolado em flocos da mesma. Ainda assim, adorei. Susbtituí os damascos por passas, pois era o que havia em casa, e fiquei contentíssima com o resultado. O tipo de pão que o faz sentir-se imediatamente uma pessoa saudável.

PÃO DE AVEIA E PASSAS
(quase nada adaptado do livro Dough)
Tempo de preparo: 3h
Rendimento: 2 pães médios


Ingredientes:
  • 2 1/3 xíc. de farinha de trigo integral
  • 1 1/2 xíc. de farinha de trigo para pães
  • 10g de fermento ativo fresco
  • 2 colh. (chá) de sal
  • 1 1/2 xíc. de água
  • 1 xíc. de uvas passas (das mais úmidas)
  • 3/4 xíc. de aveia em flocos

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno no máximo. Misture as duas farinhas e esmigalhe o fermento por cima, esfregando com as pontas dos dedos para misturar bem à farinha. Junte o sal e misture. Junte a água e sove por 10 minutos (ou 10 minutos em velocidade 2 na batedeira com gancho) até que a massa fique elástica. Como todos os pães de Bertinet, esta também é bastante úmida. Ao final da sova, incorpore as passas.
  2. Coloque a massa sobre uma superfície enfarinhada, forme uma bola, coloque-a em uma tigela ligeiramente enfarinhada, cubra com um pano e deixe fermentar por 1h10min.
  3. Coloque a massa numa superfície ligeiramente enfarinhada. Retire o ar dela, trazendo as bordas para o centro e afundando com a mão. Divida a massa em duas porções iguais, forme bolas e deixe descansar por 5 minutos.
  4. Estenda a primeira massa em formato de retângulo. Como quem faz um avião de papel, traga uma das bordas compridas em direção ao centro. Aperte com os dedos para selar. Faça o mesmo com a outra borda. Então dobre uma sovbre a outra, sele bem e role a massa sob as palmas para que fique do tamanho desejado. Faça o mesmo com a outra bola.
  5. Coloque a aveia em um prato grande. Pincele o pão com água e role-o na aveia, cobrindo-o completamente. Coloque os pães em uma assadeira, afastados. Com uma faca afiada, faça cortes diagonais na superfície do pão. Cubra com um pano e deixe que cresçam por mais 1 hora.
  6. Abra o forno, pulverize com um pouco d´água e coloque rapidamente os pães. Abaixe o fogo para 220ºC e asse por 25 minutos.

domingo, 24 de agosto de 2008

PADARIA DE DOMINGO 18: Pão de mel, maple e passas


Estava na hora de deixar aqui algum pão diferente. Ainda que este pareça mais um pão de forma integral, ele é muito macio, ligeiramente adocicado, e o perfume que ele libera já dentro do forno é tão inebriante que pode vir a ser o pão favorito de muita gente. Eu mesma já estou louca para fazê-lo mais uma vez.

Claro, estamos caminhando num reino muito obscuro quando o termo é "pão integral". Veja bem: só posso comer duas fatias por dia, então é bom que seja um pão excelente e saboroso. Por isso estou deixando passar algumas passas ali, um pouco de mel acolá, tudo em nome de algo que faça com que me sinta muito bem nutrida logo de manhã cedo. Afinal, posso até abdicar do açúcar no café; mas meus pães, ah, nesses ninguém mete o dedo.

PÃO INTEGRAL DE MEL, MAPLE E PASSAS
(livremente adaptado do livro O Livro Essencial da Cozinha Vegetariana)
Tempo de preparo: 2h30
Rendimento: 1 pão de forma grande


Ingredientes:
  • 250ml de água
  • 15g de fermento ativo fresco
  • 1 colh. (chá) de açúcar cristal orgânico
  • 300g de farinha de trigo integral
  • 125g de farinha de trigo para pães
  • 1/4 de colh. (chá) de sal
  • 2 colh. (chá) de canela em pó
  • 60g de passas escuras
  • 30g de manteiga sem sal derretida e mais para untar
  • 1 1/2 colh. (sopa) de mel
  • 2 1/2 colh. (chá) de maple syrup
  • 1 colh. (sopa) de leite quente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma forma de bolo inglês grande, forre com papel vegetal, deixando sobrar um pouco nas laterais (para facilitar a retirada do pão) e unte o papel.
  2. Numa tigela, misture as farinhas, a canela e o fermento esmigalhado, esfregando com as pontas dos dedos.
  3. Junte a água, o mel, a manteiga derretida, o sal e 2 colh. (chá) do maple syrup. Misture bem.
  4. Coloque numa superfície ligeiramente enfarinhada ou na batedeira planetária com gancho e sove por 10 minutos. Forme uma bola, coloque numa tigela untada com óleo e deixe fermentar por 1 hora ou até que dobre de volume.
  5. Devolva a massa à superfície enfarinhada, retire-lhe o ar trazendo as bordas para o centro e afundando-a. Acrescente as passas, sovando por uns 3 minutos e incorporando-as de forma uniforme. Forme uma bola novamente e deixe descansar por 5 minutos.
  6. Estenda a massa na forma de um retângulo do comprimento da forma. Dobre uma das bordas em direção ao meio, como quem faz uma avião de papel e aperte bem com os dedos. Repita com o outro lado. Dobre ao meio, sempre mantendo o mesmo comprimento e só trabalhando a largura, aperte bem e role-a sobre as palmas algumas vezes para que fique mais uniforme. Coloque-a na forma, com a fenda para baixo, cubra com um pano e deixe descansar por 40 minutos.
  7. Misture o leite com a 1/2 colh. (chá) de maple restante e pincele o pão com essa mistura. Leve o pão ao forno por 40 minutos. Retire, deixe na forma por 3 minutos e desenforme e retire o papel, deixando esfriar sobre uma grade.

domingo, 17 de agosto de 2008

PADARIA DE DOMINGO 17: mais um pão de forma integral

Se por um lado a dieta me impede de exercitar um de meus maiores prazeres, que é fazer bolos, por outro lado ela não exclue meu amor pela panificação. Eu tinha uma escolha: podia fazer como todos os outros que conheço e comer duas fatias de pão light de manhã [alguém me explica como algo que só leva água, farinha e fermento pode ter versão light?], ou continuar preparando meus pães e me ater a uma fatia apenas.

Adivinha o que foi que escolhi. Vai, uma chance só.

Uma pena que o dia em que fiz o pão era frio, e nem o forno ligado ajudou muito. Preferi interromper a fermentação e ter um pão mais denso a deixá-lo fermentando devagar por tempo demais e interferir no sabor.

PÃO DE FORMA INTEGRAL COM AZEITE DE OLIVA
(Adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 10 minutos + 2h de fermentação + 30-40 minutos de forno
Rendimento: 1 pão de forma


Ingredientes:
  • 150g de farinha de trigo para pães
  • 230g de farinha de trigo integral
  • 210g de água
  • 20g de leite integral
  • 14g de fermento ativo fresco
  • 10g de sal
  • 15g de açúcar cristal orgânico
  • 15g de azeite de oliva extra-virgem
Preparo:
  1. Misture as duas farinhas em uma tigela. Esfarele o fermento com as pontas dos dedos e misture-o às farinhas. Junte o restante dos ingredientes, mexendo bem e sove, sem acrescentar mais farinha, até que a massa esteja lisa, elástica, mas ainda um pouco grudenta. Como alternativa, misture os ingredientes em uma batedeira planetária com gancho, por 10 minutos na velocidade 2.
  2. Em uma superfície ligeiramente enfarinhada, forma uma bola com a massa. Coloque-a em uma tigela enfarinhada, cubra com um pano e deixe fermentar em local quente (25-27ºC) por 1 hora meia. Se o dia estiver frio, deixe o forno ligado para aquecer a cozinha.
  3. Tire o ar da massa, trazendo suas laterais para o centro e afundando-a. Transfira a massa para uma superfície ligeiramente enfarinhada e forme uma bola novamente. Deixe descansar por 5 minutos.
  4. Abra a massa como um retângulo. Traga a beirada mais comprida para o centro, como quem dobra uma folha de papel para um aviãozinho, e aperte bem. Faça o mesmo com o outro lado. Agora dobre ao meio no sentido do comprimento, selando bem as abas com os dedos, e role a massa até atingir o tamanho da forma.
  5. Unte a forma de pão com manteiga ou óleo e coloque ali a massa, com a marca da fenda virada para baixo. Cubra com um pano e deixe dobrar de volume, por não mais que meia hora.
  6. Abra o forno pré-aquecido a 200ºC, pulverize um pouco de água e coloque o pão lá dentro. Asse por 30-40 minutos, ou até que ele esteja bem dourado e soe oco quando batido em baixo com os nós dos dedos.

domingo, 3 de agosto de 2008

PADARIA DE DOMINGO 16: repeteco do pan de mie

Sim, sim, a falta de inspiração bateu, o pedido do marido foi mais forte, e essa é, portanto, uma semana de repeteco. Pão de forma de novo. Pan de mie, de Bertinet, para ser mais precisa. A receita eu já dei por aqui, mas a diferença crucial desta vez foi ter acrescentado à mistura 10g de sal marinho, omitido na receita do livro por algum inexplicável motivo (eu culpo o estagiário de direção de arte a quem incumbiram de revisar as provas da gráfica).

Este pãozinho de forma de casca mais firme entrou na lista dos "faça sempre" que meu marido mantém na cabeça sempre que pergunto que tipo de pão ele gostaria de comer. Como eles são pequenos, faço dois, e mantenho-os muito bem fechados em sacos plásticos durante a semana em que são consumidos.

domingo, 27 de julho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 15: pão de centeio


Há muito tempo olho para uma fotografia do livro Culinária Itália, mostrando um bonito e apetitoso pane nero, um pão de centeio do Val D´Aosta, região pequena e fronteiriça do noroeste da Itália. O pão escuro, denso, macio, com um lindo desenho xadrez em sua crosta, sempre me fascinou e decepcionou ao mesmo tempo, uma vez que não havia receita alguma relacionada. E adoro pães escuros de qualquer espécie, de um simples integral até um sauerbrot alemão, tão denso e nutritivo que uma fatia vale por um almoço. Produzir pães como esse em casa faz com que me sinta, por algum motivo, mais em contato com algo antigo, instintivo e secreto, do que fazendo qualquer variedade de massa branca. Principalmente se o resultado tiver uma aparência rústica, de pane di campagna, como se tivesse saído de um forno comunitário há 800 anos atrás.


Comprei minha farinha de centeio orgânica, de moagem fina, perfumada, e comecei a procurar uma receita. Professional Baking? Não. Bertinet? Neh. Livros aqui, revistas acolá, e não encontrei nada que me satisfizesse 100%. Por isso, saquei da memória tudo o que já aprendi, bem, lendo a respeito e fazendo pães em casa, e coloquei a cachola para funcionar, na tentativa de criar o meu próprio pão de centeio.


"Pode colocar esse na lista dos pães que você pode fazer toda semana", disse Allex, passando uma quantidade preocupante de manteiga em uma fatia do pão pronto. "Ficou animal."

Não é uma crítica gastronômica profissional ou ao menos publicável, mas basta para mim. Nos quesitos pães e sorvetes, meu marido é meu mais severo juiz.


Esse é, portanto, meu pão de centeio, e não pretendo abandoná-lo por outro jamais. Ele é denso, macio, saboroso, com uma casca fina e suficientemente resistente para gradar tanto aos fãs de pães rústicos quanto àqueles que só querem algo para colocar na torradeira.

Experimentem. Para este pão, usei mel de flor de macadâmia, mas acredito que qualquer outro mel escuro sirva.


PÃO DE CENTEIO

(minha receita! minha! só minha!!)
Tempo de preparo: 3 horas
Rendimento: 1 pão de 500g
Ingredientes:
  • 240g de farinha de trigo para pães
  • 160g de farinha de centeio orgânica
  • 240ml de água
  • 8g de fermento ativo fresco
  • 8g de sal
  • 1 colh. (sopa) de mel
Preparo:
  1. Pré-aqueça seu forno no máximo, ou a uns 240ºC.
  2. Junte as duas farinhas em uma tigela. Esmigalhe o fermento sobre as farinhas e misture com as pontas dos dedos, esfregando o fermento para transformá-lo em partículas menores. Dilua o sal e o mel na água e junte às farinhas, misturando bem até formar uma massa. Coloque a massa na bancada e sove por cerca de 10 minutos. (Se estiver usando batedeira planetária, bata na velocidade 2 com o gancho, por 8 minutos). A massa será densa e úmida, sem grudar demais nos dedos.
  3. Forme uma bola e coloque em uma tigela ligeiramente enfarinhada e deixe fermentar a 21ºC por 1h30, até que dobre de tamanho.
  4. Tire o ar da massa puxando suas laterais e afundando-as no centro. Forme uma bola novamente, e coloque em um banneton (foto), cesto redondo ou tigela, qualquer um deles ligeiramente enfarinhado com farinha branca. Deixe fermentando por 30-40 minutos a 21ºC, até que dobre de tamanho e a massa volte devagar quando levemente pressionada (se voltar muito rápido, deixe mais tempo).
  5. Polvilhe farinha de trigo ou farinha de milho numa assadeira. Cuidadosamente, vire o banneton sobre a assadeira, revelando o o lado do pão com os desenhos do cesto. Com uma faca muito afiada, faça 4 cortes superficiais na massa, formando um quadrado (os que fiz ficaram muito fundos, fazendo com que o desenho se abrisse demais).
  6. Rapidamente, abra o forno. Com a ajuda de um pulverizador, espirre água nas paredes e no piso do forno. Coloque a assadeira com o pão na grade central, feche o forno e diminua para 200ºC. Tudo tem que ser rápido, para que o forno não perca mais calor do que o devido. Asse por cerca de 25 minutos, ou até que o pão esteja dourado e emita um som oco ao bater-se com os nós dos dedos embaixo dele.

domingo, 20 de julho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 14: Bagels!

Assim como acredito que muita gente tinha a estranha fantasia de sair pululando pela cidade segurando um enorme copo de café do Starbucks enquanto alguma recém-lançada banda de rock alternativo cantava a trilha sonora de sua agitada mas interessantíssima vida, estou certa de que outro bocado de gente morria de vontade de fazer um "brunch" animadíssimo com amigos descolados, comendo bagels com cream-cheese e salmão defumado. Ok, quem passou metade da adolescência mergulhado em seriados norte-americanos filmados em Nova York tende a ter esse tipo de delírio e acreditar que a vida é apenas um enorme sitcom...

Ao contrário, porém, da enorme e retumbante decepção que foi o café do Starbucks do Brasil (que parece não se decidir se é café de bule ou espresso), os bagels eram tudo o que eu esperava, e caí de amores por eles logo à primeira mordida. Costumava dividir um enorme bagel com minha tia sempre que eles figuravam no café-da-manhã dos hotéis, e achava graça em vê-la dividindo o pão em quartos. Afinal, se ele é cortado ao meio para ser torrado, não é justo que uma fique com a metade com gergelim e a outra, com a metade sem, segundo ela.

Aqui no Brasil encontrei alguns à venda (muito bons), mas a 3,50 a unidade, eles ficam melhores ali mesmo na gôndola, e não em minha humilde torradeira.

O que me levou a deixar a preguiça de lado (pois bagels exigem diversas etapas) foi um pedido de Karen por uma receita de bagel confiável. Bem, coloco minha mão no fogo por essa. Foi incrivelmente fácil de ser feita, principalmente pelo fato de a massa ser tão seca e firme, lembrando a textura de massa de macarrão feita em casa, antes de ser aberta e cortada. Cheguei a pensar em colocar mais água, ainda mais sendo a receita de Richard Bertinet, que usa massas tão úmidas. Resisti à tentação, contudo, ao concluir que a massa talvez precisasse ser seca para suportar o cozimento em água fervente sem se desmanchar. Claro, tudo suposição. Mas a julgar pelo resultado tão denso, macio, úmido e delicioso, não consigo formular outra teoria.

A receita foi cortada pela metade, pois 12 bagels me pareciam demais para apenas duas pessoas, principalmente porque eles ficam secos muito rapidamente. No fim, entretanto, consegui 7 deles.


BAGELS

(Quase nada adaptado do livro Crust, de Richard Bertinet)
Tempo de preparo: 4 horas
Rendimento: 6-7 bagels


Ingredientes:
(biga)
  • 100g de farinha para pão
  • 3g de fermento biológico fresco
  • 50g de água
(bagel)
  • 275g de farinha para pão
  • 5g de sal
  • 10g de mel
  • 125g de água
(cozimento e acabamento)
  • bicarbonato de sódio
  • sementes de gergelim
  • sementes de papoula
Preparo:
  1. Misture numa tigela os ingredientes da biga. Sove por algum tempo até formar uma massa bem firme. Forme uma bola e deixe numa tigela, coberta com um pano, fermentando por no mínimo 2 horas, até que dobre de tamanho.
  2. Pré-aqueça o forno a 240ºC. Forre uma assadeira grande com papel-manteiga e unte com um pouco de óleo.
  3. Misture o restante dos ingredientes do bagel à biga, sovando bem em uma superfície SEM farinha (não será necessária) até que a massa fique uniforme e elástica (ela será ainda bem firme e seca). Forme uma bola, cubra com um pano e deixe descansar por 20 minutos.
  4. Divida a massa em 6 ou 7 pedaços de 80g. Forme com cada pedaço uma bola. Com a ponta do rolo de massa, pressione a bola no centro, fazendo-lhe um furo. Role-o para suavizar as beiradas do furo. Deixe o furo mais aberto do que você gostaria, para evitar que ele se feche quando a massa crescer. Coloque os bagels na assadeira forrada, cubra com um pano ligeiramente úmido e deixe fermentar por 30 minutos a 1 hora, até que dobrem de tamanho.
  5. Coloque água em uma panela grande e leve a ferver. Dissolva na água 1 colh. (chá) de bicarbonato para cada litro de água. Disponha as sementes de gergelim e de papoula em pratos separados.
  6. Coloque quantos bagels couberem na panela de água fervendo e deixe que cozinhem por 30 segundos. Vire-os com uma escumadeira e cozinhe por mais 30.
  7. Retire os bagels, deixe que a água pingue um pouco e mergulhe uma das faces do pão no gergelim ou na papoula. Coloque-os de volta na assadeira forrada, com as sementes para cima. Leve a assadeira ao forno por 10 minutos, até que estejam suavemente dourados. Retire e deixe que esfriem sobre uma grade.
[Update: faça um monte deles, corte-os ao meio quando já estiverem frios, embale-os num saco plástico e congele-os (já ouvi dizer que ficam bom por umas 6 semanas). Para comê-los, coloque o bagel congelado direto na torradeira e deixe tostar um pouco mais do que você normalmente deixaria. Ficam perfeitos de novo!]

segunda-feira, 14 de julho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 13: o pão que quase não foi

Desde o último domingo estava com vontade de testar meu primeiro sourdough. Saí atrás, na quinta-feira, de alguma das receitas e encontrei uma versão aparentemente fácil de iogurte integral, farinha e leite desnatado. Como nunca tenho leite desnatado em casa, resolvi preparar a mistura com o integral mesmo, acreditando que não faria diferença.

Dois dias depois, desembrulhei meu pote de plástico e constatei que a mistura tornara-se aparentemente homogênea e com furos por toda a superfície, como bolhas estouradas. Bom sinal. Só não sabia se o soro amarelo despositado por cima também era... ou não. Apesar do livro que eu estava usando ter a receita do fermento natural feito com iogurte, as receitas de pão propriamente ditas indicavam outros fermentos (de maçã, de batatas, ou mesmo o básico de farinha de centeio e água) mas não o de iogurte. A não ser por uma receita específica que levava uma série de ingredientes que eu não tinha e os quais nem queria sair para comprar. De modo que, mais uma vez, liguei o adaptômetro.

[Você também não acharia que vai tudo bem, olhando para esse fermento? É... sourdough não é tão fácil quanto imaginei...]

Bem... nem sempre o adaptômetro funciona. Após oito longas horas, o pão não dera nenhum sinal de vida. Zero fermentação. Em pleno sábado à noite foi tudo para o lixo, e não sabia se teria paciência para preparar outro pão no dia seguinte. Principalmente porque minhas farinhas estavam acabando.

Na tarde seguinte, entretando, senti-me repentinamente inspirada, e resolvi manter as coisas simples, usando uma das fórmulas mais simples possíveis. Eu queria apenas um pão branco e pronto (fermento comercial mesmo), redondo e de casca quebradiça, para estrear meu banneton.

Enquanto misturava, porém a farinha branca acabou. Sem problemas, pensei, substituo o restante pela integral e adiciono um nadinha a mais de água, para que o pão não fique seco. E meu pão branco virou integral.

Deixei que o pão fermentasse por pouco mais de uma hora, quando meu marido me lembrou de que tínhamos um compromisso dentro em breve. Ok, ok, são mais 20 minutos fermentando novamente e 25 no forno, vai dar tempo, sem problemas.

Vinte minutos depois, virei o banneton sobre a assadeira forrada com o silpat, e fiquei admirando a linda espiral desenhada sobre a massa. Dei dois pulinhos de alegria.

Fiz um corte em cruz sobre o pão, e levei-o ao forno, junto com uma assadeira com água fervente, que deveria ficar ali pelos primeiros dez minutos, para auxiliar na formação da crosta dourada e quebradiça que eu tinha em mente.

Fui fazer outra coisa. E esqueci-me de tirar a assadeira.

Aos vinte minutos de forno é que me dei conta de que a esquecera, e saí correndo para tirá-la. O estrago, porém, já estava feito: o pão, que deveria estar terminando de dourar àquela altura, estava quase tão pálido quanto quando entrara no forno.

M*rda.

Marco mais dez minutos de forno.

Pálido.

Mais dez.

Pálido.

Mais... dez.

"Precisamos sair".
"Espera mais dez que está terminando!"

Pálido.

[*Suspiro*]

Não queria jogar fora mais comida. Mas precisávamos sair. Desliguei o fogo, triste, e saímos, para voltarmos muitas horas depois, já tarde da noite.

Chego em casa e ligo o forno.

"O que você está fazendo??"
"Dourando o pão. Tudo bem que ele vai ficar duro feito pedra, mas até aí, a essa altura, quem se importa?"

Deixei o fogo no máximo e fui tomar um banho. Quando voltei, pijamas e pantufas, o pão estava dourado. Não era nem de longe aquela casca dourada, brilhante, fina e quebradiça que eu tinha planejado. Mas pelo menos não tinha cara de cru. Deixei o maledetto esfriando na grade e fui dormir, culinariamente frustrada.

Hoje de manhã, atrasada, pois deixara o despertador com horário de sábado, cortei uma fatia difícil do pão, com a faca serrilhada abrindo caminho devagar pela espessa casca que o pão desenvolvera. Manteiga aviação salgada e... chomp!

Hmmm...

Ficou bom! Ficou de fato bom, apesar de tudo. Simples, macio e saboroso, apenas com a casca um pouco mais grossa e borrachuda do que eu gostaria. Tudo graças ao forno baixo dos primeiros, sei lá, quarenta minutos, que cozinhou o miolo devagar, sem que ele esturricasse com o tempo extra.

Nem tudo está perdido, afinal, e há ao menos uma história de pão a ser contada por aqui nessa mal-fadada Padaria de Domingo. A receita fico devendo desta vez, pois quero mexer nela um pouco antes, para ter certeza de que está perfeita.

Ufa. Tenho pão essa semana...

domingo, 6 de julho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 12: Pão integral de mel e alecrim

Minha principal frustração a respeito de pães por aqui é a falta de profundidade no sabor. A textura pode ser excelente, mas sempre tenho a impressão de que o sabor da casca e do miolo tem uma camada só. Pães sourdough são normalmente uma agradável surpresa justamente pelo fato de seu fermento natural desenvolver tons diferentes que não conseguimos reproduzir com fermento em tabletes. Acho que foi Jeffrey Steingarten, em um texto seu sobre sourdough, que disse que a mesma receita de pão não terá o mesmo sabor em lugares diferentes, uma vez que, a exemplo do que o terroir faz aos vinhos, as bactérias da minha cozinha no Brasil não são as mesmas de uma cozinha dos Estados Unidos. Daí a diferença sutil mas crucial que me faz querer ter sempre um pedacinho vivo de fermento na minha cozinha. Ainda não me animei, no entanto, a deixar um pedaço de maçã apodrecendo em um pote de farinha e água na estante, porque meu marido ameaçou jogar fora se visse um absurdo desses em nossa casa. Logo, preciso de um momento furtivo e algum planejamento (uma vez que é preciso pelo menos uma semana para curtir bem o fermento) para tentar meu primeiro sourdough.

Enquanto a oportunidade não se apresenta, deixo aqui o pão dessa semana. Queria algo rústico e forte depois dos suaves e branquinhos muffins ingleses. Também tinha em mente o delicioso pão de alecrim que comera em meu primeiro café da manhã na Califórnia, quando minha tia me ensinou a fazer ovos pochés, e achei que a erva com certeza traria mais complexidade a uma massa integral bastante simples, adoçada com um pouco de mel silvestre.

Foi apenas uma pena que, distraída como sempre, esqueci-me da assadeira com água fervente nos primeiros dez minutos de forno, toque que teria deixado a casca do pão mais brilhante e quebradiça, ao invés de macia. Foram ótimos os resultados, no entanto, principalmente porque o alecrim picado muito fino, quase ao ponto de virar um pó verde-bandeira, tornou-se suave e interessante, no aroma e na boca, sem que você morda uma folha inteira de alecrim de uma vez só, o que talvez fosse um gosto um pouco poderoso demais para quem só quer um pão com manteiga junto do café.

PÃO INTEGRAL DE MEL E ALECRIM
(livremente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 2h30 + 30 minutos de forno
Rendimento: 1 pão de 500g


Ingredientes:
  • 225g ou 225ml de água
  • 10g de fermento ativo fresco ou 3g de fermento ativo seco instantâneo
  • 165g de farinha de trigo integral
  • 215g de farinha de trigo para pães
  • 1 colh. (chá) de alecrim fresco muito bem picado
  • 6g de sal
  • 8g de mel (cerca de 1 colh. de chá)
  • 6g de manteiga sem sal em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Misture as duas farinhas, o alecrim e o fermento esmigalhado em uma tigela. Junte o sal, o mel e a menteiga e derrame a água aos poucos, misturando bem. Sove por cerca de 10 minutos em velocidade 2 na batedeira com gancho, ou à mão, até que a massa fique bastante lisa e elástica. Ela terá ainda alguma umidade e continuará pegando um pouco nos dedos. Evite acrescentar mais farinha, uma vez que o pão integral tende a ser mais seco e pesado.
  2. Forme uma bola e deixe descansar em uma tigela enfarinhada, coberta de filme plástico, por cerca de 1h30 a 2 horas, dependendo se o dia está mais morno ou mais frio, respectivamente.
  3. Puxe os cantos da massa para o centro, afundando-a e transfira para uma bancada ligeiramente enfarinhada. Forme uma bola novamente e deixe a massa relaxar por 5 minutos.
  4. Achate a bola com as palmas das mãos e puxe os cantos para dentro, formando um quadrado. Divida a massa mentalmente em 2 partes no sentido do comprimento. Dobre uma das metades, alinhando a aba com uma linha central da massa e faça o mesmo com a outra metade, como abas de um livro, apertando bem para selar as pontas. Dobre uma sobre a outra e aperte bem para selar. Feche bem as pontas e role o pão sob as palmas das mãos, afinando as pontas, até que ele esteja do tamanho desejado (o da foto tinha uns 25cm).
  5. Coloque em uma assadeira grande polvilhada de farinha de milho e cubra com um pano, deixando dobrar de volume (cerca de 30 minutos). Enquanto isso, pré-aqueça o forno a cerca de 230ºC.
  6. Ferva um pouco de água e coloque em uma assadeira funda (apenas para não se queimar quando você for tirar a assadeira do forno). Pulverize ou pincele água sobre o pão e então, com uma faca muito afiada, faça cortes diagonais na massa. Coloque o pão no forno e a assadeira com água na prateleira inferior do forno, e abaixe a temperatura para 220ºC. (Essa é a temperatura correta, mas colocar o pão e a assadeira fervendo vai tomar um certo tempo, e o forno perderá calor, por isso é importante pré-aquecê-lo a uma temperatura mais alta.)
  7. Passados dez minutos, retire a assadeira com cuidado e rapidamente. Deixe o pão no forno por 25 a 35 minutos, dependendo do tamanho em que você o moldou. Ele estará pronto quando estiver dourado e quando, ao bater com os nós dos dedos em baixo dele, o som que sair for oco.



domingo, 29 de junho de 2008

PADARIA DE DOMINGO 11: retorno com muffins ingleses

É com imensa felicidade que declaro o retorno da Padaria de Domingo!

Desde que voltei da Califórnia não conseguia parar de pensar nos muffins ingleses, aqueles pãezinhos de panela, pequenos, achatados e macios, ótimos para tostar e chafurdar na manteiga. Mas batia a preguiça. Todo domingo ela vinha, como quem não quer nada, e sobrepujava meu desejo por english muffins.

Fui salva pelo texto de um blog de que gosto muito, Not Eating Out in New York, que falava sobre o preço crescente da comida nos Estados Unidos e como a autora pretendia gastar menos dinheiro com supermercado. "Fazer meu próprio pão" era um dos itens. De fato, já fiz essa conta: 300-350g de farinha dão, normalmente, para um pão de bom tamanho que mata a fome de um casal no café-da-manhã durante uma semana. Cada quilo de farinha produz, logo, três pães. Cada um desses pães costuma usar por volta de 5g de fermento ativo seco. Cada embalagem vem com dois envelopes de 10g cada. Já fiz as contas com pães básicos, sem gordura, como o italiano, e com leite e manteiga, como o de forma. E o resultado é sempre o mesmo: o pão caseiro costuma custar 1/3 do preço do industrializado (aqui na minha vizinhança, pelo menos).

Com isso, volto de uma vez por todas com o Padaria de Domingo, para garantir o pão nosso de cada dia mais saudável e mais barato. Para começar, então, muffins ingleses.

Decidi fazê-los não apenas devido à voz que sussurrava dentro de minha cabeça, mas também por sua praticidade. Eu costumava ter uma receita recortada de uma Cláudia Cozinha, mas joguei-a fora pensando "nunca vou acordar às 5h da manhã para fazer isso...". Após pesquisar um pouquinho, porém, descobri que eles podem ser congelados e descongelados na própria torradeira. O que poderia ser mais prático? Lá vem o arrependimento por ter jogado a receita fora, que parecia mais simples e mais fácil do que a que resolvi fazer...

Acabei adaptando uma receita do Professional Baking, pois não tinha leite em pó desnatado e não gosto de gordura hidrogenada. A receita, como sempre para batedeiras planetárias, pedia para que a massa fosse sovada com o gancho por quase 25 minutos. Aos 20, resolvi esparramá-la sobre a bancada e terminar de sová-la à mão. Simplesmente porque a massa era uma das mais grudentas com as quais já lidei, e imaginei que talvez o método de Bertinet funcionasse bem nesse caso.

É nesses momentos que acredito que fazer pão é um ato de amor. Porque é preciso muito amor no coração para não surtar ao ver pedaços grudentos de massa voando por cima dos seus ombros e espatifando-se contra a parede da cozinha. De qualquer forma, o método de fato tornou a massa um pouco mais manipulável, ainda que muito MUITO grudenta.

Minha maior dificuldade foi não em moldar os pãezinhos, mas em transferi-los da assadeira onde fermentaram para as frigideiras quentes. Quando li no livro a instrução de fermentar os muffins sobre travessas "covered with cornmeal", não me dei conta da diferença de "dusted with cornmeal". Deveria ter exagerado mesmo na quantidade de farinha de milho, pois os muffins redondos e fofos grudaram na assadeira nos pequenos espaços sem farinha, e caíram desajeitadamente nas frigideiras, deformando-se.

Nada, porém, que influencie no sabor. Os muffins agradaram saídos da frigideira e, hoje de manhã, fiquei extasiada ao ver que eles realmente descongelam e se aquecem sob as resistências da torradeira, tornando-se novamente macios e exalando aquele delicioso perfume de pão fresco quentinho, que apenas um louco não quereria em sua cozinha de manhã cedo.


MUFFINS
INGLESES
(adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 25 minutos + 3 horas e meia + 40 minutos para cozinhar
Rendimento: 18 muffins ingleses


Ingredientes:
  • 500g de farinha de trigo
  • 1 1/2 xíc. de água fria
  • 8g de fermento fresco
  • 1 1/2 colh. (chá) de sal
  • 1 1/2 colh. (chá) de açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (chá) de leite
  • 1/2 colh. (sopa) de manteiga em temperatura embiente
Preparo:
  1. Esfarele o fermento junto com a farinha, junte o açúcar, o sal e a manteiga, e derrame a água e o leite, sovando com o gancho de uma batedeira planetária por 20 a 25 minutos na velocidade 2. A massa será MUITO mole. O longo tempo de mistura e de fermentação é o que dará ao muffin sua textura tradicional.
  2. Deixe fermentando por 2 horas e meia a 3 horas, em local fresco (21ºC).
  3. Retire o ar da massa, afundando-a, e derrame-a em uma superfície com muita farinha. Divida em porções de 45g cada e forme bolas com elas. Deixe descansar por 5 minutos.
  4. Achate as bolinhas de massa com as palmas das mãos e coloque em assadeiras bem cobertas de farinha de milho. Deixe fermentar novamente, por cerca de meia hora.
  5. Aqueça bem tantas frigideiras quantas puder manusear simultaneamente, e deixe-as em fogo baixo. Coloque os muffins nas frigideiras (quantos couberem, sem que se apertem) e cozinhe por 5-8 minutos de cada lado, até que estejam com marcas dourado-escuras.
  6. Sirva imediatamente, ou espere que esfriem, corte-os ao meio e congele-os. Para comê-los, leve do freezer direto para a torradeira por um minuto ou dois.

Cozinhe isso também!

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