sábado, 26 de abril de 2008

O primeiro Apfelstrudel a gente nunca esquece

Desde que conheci Allex, há 7 anos atrás, ouço falar do Apfelstrudel da Oma. Todos os lugares em que comemos Apfelstrudel é a mesma ladainha: "O da Oma é melhor." O receio que tive em tentar preparar um doce tão típico alemão, com meus compridos dedinhos ítalo-brasileiros, é quase palpável.

Mas tendo recebido de minha cunhada a receita de ninguém mais, ninguém menos, que a Oma, e tendo tido um sonho engraçadíssimo em que a irmã de Allex me ensinava como abrir a massa com base em cálculos matemáticos avançadíssimos, resolvi que seria naquele momento ou nunca.

Alguns detalhes da receita, entretanto, eram vagos demais para mim, como é toda receita de família que se aprende olhando o outro fazer. Logo, abri meu Professional Baking para me guiar onde a memória falhava, pois só havia visto Oma abrir a massa de Strudel uma vez. Foi uma excelente idéia, pois as informações se complementavam. Preparei a massa rapidamente e, na hora de deixá-la descansando, ao invés de apenas cobri-la com uma tigela, pincelei-a com óleo e cobri-a com filme plástico, evitando que ela ressecasse.

Como nada em minhas aventuras culinárias é perfeito e sempre há um acidente de percalço, deixei a massa descansando e voltei a trabalhar, apenas para descobrir que eu precisaria sair correndo na hora do almoço para entregar um material à gráfica. E, por causa do trânsito da cidade, minha massa ficou sentada durante 3 horas, ao invés de 30 minutos.

Fiquei com receio de que isso tivesse alguma influência na textura final, mas prossegui. Forrei a mesa da sala com uma toalha e comecei a abrir a massa. A segunda informação interessante do livro foi excelente para minha falta de prática: enquanto a Oma, habilidosa, consegue abrir toda a massa com as pontas dos dedos sem fazer furos, eu, desastrada, preferi o método do livro, que ensina a fazer os movimentos com o dorso das mãos. O dia estava muito quente, então vi a massa esticar-se e tornar-se cada vez mais delicada e translúcida, muito mais rápido do que imaginava. Não posso descrever meu orgulho ao vê-la estendida por toda a mesa. E sei que, não fosse a falta de espaço, poderia tê-la estendido mais, pois as laterais estavam ainda bem espessas.

Enquanto isso, parte de meu recheio esperava pela massa: misturara as maçãs ao suco de limão e metade do açúcar, fazendo com que as maçãs perdessem líquido agora e não no forno, onde poderiam encharcar a massa.

O segundo acidente de percalço foi um pouco mais sério. Voltei à cozinha, escorri as maçãs e misturei o restante dos ingredientes. Atrapalhada pela falta de espaço na sala para deixar o recheio, resolvi levar de volta meu pote de vidro cheio de farinha para a cozinha. Eu não sei o que aconteceu. Não sei se fui eu que tropecei ou o pote que escorregou, assim, sem mais. Sei que o pote voou pelos ares e caiu exatamente no meio da cozinha, espatifando-se em mil pedacinhos e espalhando farinha para absolutamente todos os cantos.

Não tive nem tempo de amaldiçoar minha sorte. Saí correndo para trancar o cachorro no quarto enquanto limpava aquela sujeira.

Resolvido isso, recheei a massa e saí enrolando e espalhando manteiga, achando divertidíssimo o movimento do rolo de massa cada vez que eu puxava a toalha. Lembrou-me daquelas cenas de filme, em que um corpo é enrolado no tapete para ser jogado no mar. Ok, admito que não é a referência mais apetitosa, mas era engraçado o começo lento de movimento causado pela toalha e o "scataplá" repentino do rolar da massa.

Como a Oma, tive de dobrar meu Strudel em forma de ferradura para que coubesse na assadeira. Pudera! Com 70 cm de comprimento, ele não caberia sequer no meu forno, se esticado.

Meu único problema foi com o forno. "Fogo forte por uns vinte minutos" não é preciso o bastante para mim, principalmente conhecendo a idade do forno da dona da receita. No livro, pedia 190ºC por 45 minutos, até dourar. Hmmmm... é mais minha praia. O Strudel dourou e ficou lindo e perfeito, salvo a trabalheira que tive em tirá-lo da assadeira sem quebrá-lo, pois parte do líquido do recheio vazara por um dos lados que eu não fechara direito, fazendo com que ele grudasse ligeiramente. Definitivamente, o que mais gosto nas sobremesas com maçãs é o perfume absolutamente delicioso que elas espalham por toda a casa. Não pode existir nada mais reconfortante.

O veredito do provador oficial de Apfelstrudel:

"Tem cara de Apfelstrudel."
"Tem cheiro de Apfelstrudel."
"Tem gosto de Apfelstrudel."
"Mas a massa está muito quebradiça; ficou demais no forno."

Snif...

"Mas para a primeira tentativa, está muito gostoso!"

A receita fico devendo por enquanto, até pedir autorização à avó do Allex. Nada mais justo. Para orgulho do lado alemão da família, nossos filhos não serão mais obrigados a comer apenas tiramisù. Mas um cappuccino para acompanhar o Apfelstrudel vai bem... ;)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Feliz e de ego inflado...

No último feriado, o caderno Link, do Estadão, publicou uma entrevista com Rita Lobo, falando do crescente sucesso de seu site, Panelinha. Vou lendo, vou lendo... e quem está lá no meio?? La Cucinetta!! Imagine se não fiquei feliz em ser mencionada! Rita, muito obrigada!
Às vezes até me sinto gente grande...
:D

domingo, 20 de abril de 2008

Meu primeiro bolo de camadas perfeito




Admito que muitos amigos meus têm uma visão ligeiramente distorcida de minhas habilidades na cozinha. Meu interesse crescente em aprender e minha ausência de receio em tentar algo novo talvez possam causar confusão: as pessoas sempre falam comigo como se eu realmente soubesse muito mais do que elas.

O maior exemplo disso são bolos de camadas. Ou, para ser justa, qualquer coisa que precise ser cuidadosamente empilhada e decorada, que exija qualquer espécie de paciência e delicadeza. Outro dia meti-me a colar uma xícara quebrada. Passei quinze minutos blasfemando porque deixara a alça ligeiramente torta, e eu podia sentir a junção das peças sob os dedos ao apanhar a xícara. Allex ouviu minhas imprecações, ao que já imendei: "Ficou uma droga! Sou péssima nessas coisinhas de colar..."

"Jura???", disse ele, surpreso. "Sempre pensei que você fosse boa em qualquer coisa desse tipo."
"Ué, por que diabos eu seria?"
"Ah, você desenha, faz um monte de coisas artísticas... Isso também deveria ser fácil para você."

Bem, eu não sei colar coisas quebradas. E tenho uma dificuldade homérica em empilhar camadas de bolos, montar verrines e decorar doces em geral. Desta vez, no entanto, apesar de todos os pepinos, os deuses sorriram para mim.

Já havia visto esse livro numa livraria perto de casa, mas costumo ser muito desconfiada com livros específicos demais, como "137 receitas de biscoitos de chocolate em formatos de bichinhos para serem servidos a crianças de até 8 anos na hora do chá". Por isso, acabei deixando-o de lado. Alguns dias depois, porém, deparei-me com o delicioso post de Patrícia sobre um bolo de Coca-Cola justamente do tal livro, apenas de bolos de três camadas. Saí correndo para folheá-lo novamente, e acabei comprando-o.

Ontem, morrendo de tédio, vontade de comer doce, e ainda com a balança de cozinha quebrada, achei que seria apropriado testar a primeira receita do livro, que, como a maior parte dos livros americanos, tem suas medidas todas em volume, já que o americano comum não costuma possuir balanças de cozinha. No entanto, assim como Patrícia, precisei eliminar uma camada do bolo, por ter apenas 2 formas de 22cm. [*Suspiro* Mais um item para minha infindável lista de compras.] Estava prestes a começar cálculos escalafobéticos, quando lembrei-me da piadinha que repito por aí sempre que a conversa gira em torno da vida de freelancer: "Sou a única designer que conheço que faz planilhas dinâmicas no Excel..." E admito que, tendo deixado meu gene matemático desligado desde o dia em que decidi por uma carreira em Humanas, foi apenas graças ao Excel que pude adaptar toda a receita em 5 minutos; e só assim eu saberia quando é 2/3 de 2 xícaras e 1/4 de farinha (olha os engenheiros dando risada da minha cara).

Resolvido o primeiro problema, parti para a execução do bolo, muito fácil, sem nenhuma técnica complexa. Confesso ter torcido o nariz para o uso de maionese Hellmann´s, e me senti MUITO tentada a produzir minha própria maionese para incorporá-la ao bolo.

Respira, respira. Deixa de ser louca, desvairada, neurótica, e usa a droga da maionese que está na geladeira.

Ok, vai maionese industrializada mesmo... A receita, porém, pedia por "unsweetened chocolate". "Bittersweet chocolate" é o chocolate meio-amargo. "Unsweetened" é 70% de cacau ou mais 100% de cacau, coisa que não havia na despensa. Acabei substituindo pelo amargo a 51%.

Os dois bolos ficaram fantásticos, absolutamente uniformes, macios, perfumados de café e canela, e de uma escuridão sedutora. Fiquei admirando aqueles dois discos perfeitos, negros e macios, enquanto eles esfriavam, absolutamente repleta de orgulho por eles terem crescido por igual, sem lombadas, sem rachaduras, sem pedaços queimados. Uma hora depois, preparei a mousse (estou tentando trocar o "o" pelo "a"...) de chocolate branco, muito semelhante ao último que preparara, e, portanto, feito com os pés nas costas.

Hora de montar o bolo. Virei o primeiro deles de ponta-cabeça, e comecei a espalhar o recheio. Deixei meio centímetro de borda, mas achei que havia usado pouco recheio e resolvi virar toda a vasilha sobre o bolo, achando que assim teria uma camada alta de recheio. [*Suspiro* A gente sabe que está fazendo cag*da no momento em que decidimos por fazê-la, mas vamos em frente mesmo assim, não?] Ao posicionar o segundo bolo, vi aquele creme branco escorrendo como lava, densa e lenta, por entre os bolos escuros. Corri com uma faquinha para recolher o excesso, e tentei limpar as laterais da melhor forma possível, com papel-toalha. Decidi que, antes que o bolo escorregasse todo para fora, expulsando todo o recheio pelas laterais, era melhor levá-lo à geladeira um pouco, para que a mousse assentasse. Vinte minutos depois, preparei a cobertura. Substituí o sour cream e o half-and-half por simples creme de leite fresco, produzindo uma ganache mais clássica, apenas por não ter os outros dois na despensa e por estar sem paciência de esperar mais meia hora para a produção do sour cream.

Foi difícil decorar o bolo com a ganache ainda fresca, pois ela pingava e sujava as bordas do prato (como não tinha um suporte de papelão, não podia decorar o bolo e depois levá-lo ao prato de servir). Também tive de controlar a ansiedade e não correr com a espátula, pois não queria arrastar com ela o creme branco do recheio, maculando a cobertura escura. Levei à geladeira novamente, para que essa primeira parte da cobertura firmasse, fixando possíveis migalhas em seus lugares. Então, meia hora depois, com a cobertura mais espessa, terminei de cobri-lo, produzindo os movimentos que adoro, pois escondem minha inaptidão.

Adorei esse bolo. Adorei o miolo incrivelmente macio e úmido, o contraste com a mousse branca, o conjunto de aromas e sabores. Este livro me conquistou logo de cara, e estou maluca para testar todo o resto dele. Recomendo este bolo para qualquer aniversário, qualquer jantar com amigos, qualquer sábado à tarde.


BOLO TRIPLO DE CHOCOLATE EM DUAS CAMADAS

(Ligeiramente adaptado do livro Sky High)

Tempo de preparo: 3 horas

Rendimento: 1 bolo de duas camadas de 22cm (16 fatias gordas)


Ingredientes:
(bolos)
  • 1 1/2 xíc. de farinha de trigo
  • 2/3 xíc. de cacau em pó
  • 1 1/2 colh. (chá) de bicarbonato de sódio
  • 3/4 colh. (chá) fermento em pó
  • 2/3 colh. (chá) de sal
  • 1/3 colh. (chá) de canela em pó
  • 50g chocolate amargo Callebaut (51%)
  • 2/3 xíc. de leite integral
  • 2/3 + 1/6 xíc. de café espresso quente
  • 1 ovo extra-grande orgânico
  • 2/3 xíc. de maionese Hellmann´s (tradicional, não light!)
  • 1 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 1 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
(mousse de chocolate branco)
  • 50g de chocolate branco de qualidade
  • 1/2 xíc. de creme de leite fresco
  • 1/2 clara (separe a clara e retire metade com uma colher)
  • 1/2 colh. (sopa) de açúcar cristal orgânico
(cobertura)
  • 225g de chocolate meio-amargo ou amargo
  • 75g de manteiga sem sal
  • 1 colh. (sopa) de glucose de milho
  • 1/2 xíc. de creme de leite fresco
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte duas formas de 22cm com manteiga, forre com papel-manteiga e unte com manteiga novamente.
  2. Peneire todos os ingredientes secos em uma tigela. Leve o leite a ferver em uma panela. Desligue, misture o café quente e o chocolate amargo picado e mexa até que esteja homogêneo. Deixe esfriar ligeiramente.
  3. Na batedeira (com a pá), bata o ovo, a maionese e a baunilha, até que fique homogêneo, juntando o açúcar aos poucos. Acrescente os ingredientes secos, alternando com o leite com chocolate, 1/4 de cada vez, incorporando bem antes da próxima adição. Termine com o líquido.
  4. Divida igualmente entre as duas formas e leve ao forno por 25-28 minutos, até que um palito inserido em seus centros saia razoavelmente limpo. Retire do forno e deixe esfriar nas formas por 15 minutos. Então desenforme-os em grades e retire o papel-manteiga cuidadosamente. Os bolos são MUITO macios. Deixe que esfriem por 1 hora.
  5. Para a mousse: derreta em banho-maria o chocolate branco e 1/4 da quantidade de creme, mexendo bem. Deixe esfriar. Bata o restante do creme até formar picos firmes e reserve. Bata a clara com o açúcar até que forme picos firmes e incorpore cuidadosamente ao creme de chocolate. Incorpore o creme batido.
  6. Coloque um dos bolos de ponta-cabeça no prato. Espalhe a mousse com uma espátula, de modo uniforme, deixando meio centímetro de folga nas laterais. Assente o segundo bolo por cima.
  7. Para a cobertura: Derreta o chocolate, a manteiga e a glucose em banho-maria, mexendo sempre. Remova do fogo e misture o creme de leite fresco.
  8. Derrame metade da cobertura sobre o bolo e espalhe cuidadosamente com uma espátula, até cobri-lo todo. Não precisa ficar bonito; essa camada serve apenas para selar as migalhas. Leve à geladeira por meia hora. Deixe o restante da cobertura em temperatura ambiente. Então termine de decorar o bolo, cobrindo-o bem. Mantenha-o na geladeira até a hora de servir.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sorvete de abacate para aliviar as tensões


























Foi só pensar em fazer sorvete de novo e pumba! Frio. Chuva. Mau humor. Falta de vontade. Cansaço. E o abacate ali, coitado, implorando para ser usado antes de tornar-se irremediavelmente imprestável.

Inspira, expira.

Que mal há? Quanto trabalho pode dar um sorvete de abacate? É a coisa mais fácil a se fazer com a fruta depois de guacamole. Mas guacamole nunca vem sozinha: ela exige tortillas, frijoles refritos, salsa, toda a cambada. Sorvete, então. Ok.

Abro o livro. Porque sempre recorro aos livros antes de tudo, mesmo antes de inventar alguma lambança, pois mesmo lambança deve ter técnica — bom, pelo menos a minha lambança. A receita do livro não apresenta nenhuma novidade, a não ser pelo creme azedo.

Suspiro.

Quero mesmo sair para comprar creme azedo? Quero mesmo esperar meia hora para o creme de leite fresco azedar?

Neh.

Pego o abacate. Abacatão, gigante, pesado, molenga de tão maduro. Apanho mais uma vez — cheia de esperança — minha falecida balança de cozinha, tendo fé de que ela milagrosamente voltaria a funcionar, como da última vez.

Neh.

Fico feito uma tonta na cozinha, de pé, um abacate numa mão e um saco de açúcar na outra, tentando deduzir o peso do bendito; tudo porque a receita pedia uma quantidade em gramas.

Desisto. Fecho o livro e faço o que me dá na telha. Vai o acabate inteiro para o liqüidificador. Que mané sour cream, o quê! Vai tudo creme de leite fresco mesmo e amém! E leite, porque não quero meu sorvete com gosto de gordura de creme! Açúcar orgânico, sal e um limãozinho, porque ninguém vai comer um sorvete de abacate marrom-oxidado. Bate tudo, coloca na sorveteira, da sorveteira para o freezer e tchananans: sorvete de abacate estressante para desestressar.

O danado ficou booooom...

SORVETE DE ABACATE
(livremente adaptado do livro The Perfect Scoop)
Tempo de preparo: 20 minutos Rendimento: 1 litro


Ingredientes:
  • 1 abacate grande, daqueles compridos, gigantes (há! Ana Elisa sem balança dá receita assim, ó!)
  • 1 xíc. de creme de leite fresco
  • 1 xíc. de leite integral
  • 3/4 xíc. de açúcar cristal orgânico
  • suco de 1/2 limão
  • 1/4 de colh. (chá) de sal
Preparo:
Retire a polpa do abacate e bata-a com o restante dos ingredientes num liqüidificador até ficar uniforme. Se o dia estiver muito quente, leve o creme à geladeira por algumas horas. Senão, coloque direto na sorveteira e siga as instruções do fabricante.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Mousse de chocolate branco e limão de Hermé: a redenção reside em doces não bolísticos

Lugar comum dos lugares comuns, sempre fui fã de Friends. Há um episódio específico, em que Monica distribui chocolates entre os vizinhos na época de Natal e acaba atolada em pedidos, e Chandler finalmente dá-se conta de que cozinhar, para Monica, é seu modo de tentar desesperadamente ganhar o afeto das pessoas. "That´s why you became a chef!"

Bem, não é segredo que eu cozinhe tanto (ou mais) para os outros do que para mim. Sou obrigada a admitir que quando meu marido faz bico e diz que eu não preparo sobremesas cremosas o bastante para ele... todo meu feminismo cai por terra e eu saio imediatamente adaptando os planos que tinha para a garrafinha de creme de leite fresco guardada na geladeira. Panna cotta? Pudim? Correndo o risco de minha irmã me acusar de estar agindo por picuinha, acabei decidindo por um mousse, simplesmente porque tinha todos os ingredientes em casa e porque essa receita de Pierre Hermé levava apenas claras, que eu tinha congeladas no fundo do freezer, implorando por algum uso antes que seu "prazo" expirasse.

Logo, Giu, desculpe-me pelo mousse que seguirá o seu. Nada pessoal. Sinceramente, eu estava morrendo de preguiça de preparar qualquer coisa mais elaborada. Culpa de toda a correria atrás de casa nova, que andou me tirando a vontade inclusive de fazer jantar. [E quando a vontade não bate — coisa rara — o melhor mesmo é pedir uma pizza, pois desastres virão caso contrário.]

Sim, a receita é do mesmo livro maldito de sempre, que está começando a mostrar-se menos imprestável a cada nova investida. Será que apenas suas receitas de bolo são condenadas ao fracasso, e todo o resto é... ok?

Bom, o mousse ("a" mousse? Sei que em francês é la mousse, mas por algum motivo é de doer os ouvidos em português... os meus, pelo menos...) ficou leve e delicioso, ainda que as raspas de limão sempre me deixem a impressão forte dos suspiros de minha avó e interfiram, por isso, no meu julgamento. Usaria limão siciliano se o preparasse novamente, pois acredito que a combinação seria mais harmônica e o limão não dominaria tanto o chocolate. Ainda assim, é uma sobremesa cremosa, numa porção bastante para satisfazer sem enjoar [a verdade é que eu seria capaz de comer duas porções, uma em seguida da outra], e perfeita para um dia ameno, nem tão frio para se querer um bolo quentinho, nem tão quente para se querer sorvete. Deixou-me, principalmente, com vontade de misturar outros sabores ao chocolate branco, criar versões mais exóticas, ou mesmo usar esse mousse como recheio de um bolo branco simples... Experiências virão.

Minha maior felicidade é tudo ter dado certo a despeito da preguiça, da falta de vontade e do complô de minha balança, que resolveu parar de funcionar, desta vez definitivamente. Tive de deduzir quanto eram 20g de açúcar. Não sei bem se acertei, ainda que o resultado tenha ficado bom mesmo assim. Também foi uma aposta arriscada usar o limão comum, uma vez que a maior parte das receitas estrangeiras refere-se ao limão siciliano quando mencionam "limão", e suas quantidades de casca e de suco e seus sabores são bastante diferentes. Para completar, congelara minhas claras em cubinhos de gelo, mas já não sabia mais se eram 3, 4 ou 5 ali dentro daquele saquinho. Usei o que tinha. Como, porém, havia esquecido de deixá-las na geladeira durante a noite, aqueci-as em banho-maria para que derretessem (correndo o alto risco de elas cozinharem) e, quando comecei a batê-las, sua temperatura era ainda muito baixa, de modo que foi um milagre que montassem corretamente depois da tortura a que as submeti.

Para preparar o mousse, aqueça 150ml de creme de leite fresco com raspas da casca de 2 limões. Quando levantar fervura, despeje o creme sobre 200g de chocolate branco (de qualidade, sem gordura hidrogenada e afins) picado em uma tigela. Mexa até que esteja tudo derretido. Junte o suco desses dois limões e misture bem. Bata 5 claras com 2 colh. (sopa) de açúcar até formar picos firmes e misture cuidadosamente ao creme de chocolate. Distribua em 6 taças e leve à geladeira por uma noite. Antes de servir, decore com raspas de chocolate branco.

domingo, 13 de abril de 2008

Ótimo jantar de Giuliana e um marido desaforado

Minha irmã resolveu preparar um jantar com receitas de uns livros que eu lhe dera, e nos chamou para experimentar os resultados: uma deliciosa e leve torta de ricotta e alcachofras cozidas em vinho, uma travessa de rodelas de beringela com mozzarella de búfala e tomates no forno, e, de sobremesa, um mousse de três chocolates. Estava tudo muito muito bom. Tanto, que Allex resolveu trazer para casa o potinho de mousse que restara.

E ainda tive que ouvir do marido: "Você nunca faz sobremesas assim, tipo creminhos..." Pode??

terça-feira, 8 de abril de 2008

Bolo de bananas para uma cozinheira banana que esquece as coitadas sobre a mesa

Se bobear, todos os doces de frutas que publiquei nesse blog têm a mesma história por trás: "havia [insira o nome da fruta] bobeando na geladeira, já quase passada..."

Por mais vergonha que sinta ao dizer isso, é preciso admitir que como menos frutas do que deveria. Não por não gostar: adoro frutas, assim como Allex. Mas ainda que elas estejam presentes sempre na geladeira ou sobre a mesa, é fácil nos esquecermos delas até o ponto além da salvação. Principalmente com frutas mais comuns, que temos o ano todo, como bananas ou maçãs. As mais sazonais, principalmente depois de ter começado a comprar das orgânicas, que têm sua época mais restringida, acabo tratando com mais cerimônia, como é o caso dos figos, das mangas, dos morangos, das cerejas. Essas, quando surgem no mercado, viram centro da minha refeição, in natura, pois quase não ouso cozinhá-las, tão frescas.

Seguindo a tradição, este foi mais um cacho de bananas pequeninas que ficou ali quietinho sobre a mesa da sala e ninguém viu. Quando percebi, estavam pretinhas, pretinhas, e talvez não agüentassem mais um dia.

Aproveitando o término do bolo de cenoura, corri atrás do bolo de bananas de Nigella que estava maluca para experimentar, mas logo frustrei-me ao ler que ela pedia por meio quilo de bananas. Meio quilo?? Sou muito distraída, mas não a ponto de deixar passar do ponto meio quilo de bananas. Como tinha exatamente 240g de bananas descascadas, liguei o adaptômetro. Cortei a receita pela metade, aumentei a quantidade de ovos por pura preguiça de pesar 1 ovo e meio, e usei o suco de um limão tahiti inteiro ao invés de meio siciliano, também, como sempre, substituindo açúcar refinado pelo cristal orgânico.

A descrição de Nigella, confesso, é um pouco exagerada. Apesar de ter ficado delicioso, ele não tem muito de diferente, em sabor, de todos os outros bolos de banana de vó que já comi em minha vida. A diferença fica por conta do uso do limão e do fato de a massa ficar bastante pálida, ao contrário da maior parte dos bolos de banana, que escurecem bem. Fiquei sim morrendo de vontade de, imitando o sorvete, acrescentar pedacinhos de chocolate à massa em uma próxima vez.

O bolinho assim, pequenino, ficou incrivelmente charmoso, do tamanho de um prato de sobremesa, e muito mais prático, uma vez que não conheço ninguém que deixe passar meio quilo de bananas, mas conheço com certeza muita gente que esquece aquelas duas ou três...


BOLO DE BANANAS
(ligeiramente adaptado do livro Feast)
Tempo de preparo: 50 minutos
Rendimento: 6-8 pedaços gordinhos


Ingredientes:
  • 240g de bananas bem maduras, descascadas
  • 2 colh. (sopa) de óleo de canola
  • 2 ovos
  • suco de 1 limão e metade de sua casca ralada
  • 1/2 colh. (chá) de essência de baunilha
  • 100g de açúcar cristal orgânico
  • 165g de farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) de bicarbonato de sódio

Preparo:
  1. Amasse bem as bananas com um garfo. Acrescente os ovos, o óleo, o suco de limão e sua casca, a baunilha e o açúcar e mexa bem.
  2. Junte a farinha, o bicarbonato e o fermento peneirados e misture até ficar homogêneo.
  3. Coloque em uma forma com furo no meio com capacidade para 1 litro, untada com manteiga, e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 35-40 minutos, até que esteja dourado e um palito saia limpo quando inserido em seu centro. Deixe descansar 5 minutos antes de desenformar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Panquecas de polenta com guacamole

Já devo ter mencionado isso por aqui, mas sempre fico irritada quando alguém me chama para comer e quer me levar a um "restaurante vegetariano". E, com exceção de um ou dois lugares, a maioria desses restaurantes serve comida sem tempero, sem textura, sem vida, o que faz com que realmente muita gente se sinta pouco estimulada a diminuir suas refeições carnívoras.

Está certo, é preciso fazer uma distinção para a culinária vegan. Esses sim se viram para substituir derivados de leite e ovos, e é preciso tirar o chapéu para sua força de vontade. Acho que jamais conseguiria viver mais de uma semana à base de leite se soja e margarina. Mas muita gente olha para mim e diz isso a respeito de bife. De qualquer forma, o que quero dizer é que existe sim "comida vegan". Mas não acredito que exista "comida vegetariana".

Evito comprar livros de receita que se vendam como vegetarianos, pois normalmente eles são abarrotados de receitas criadas para substituir carne. Bifes de soja, hambúrgueres de soja, lasagne de soja, e por aí vai. Quando o que deveriam fazer é mostrar que é possível ter um prato na sua frente absolutamente delicioso, que qualquer carnívoro devoraria, mas... tchananans! sem carne.

Por isso comprei meu primeiro livro de "cozinha vegetariana" (os outros da estante foram presentes), que só tem me dado alegria desde então. Salvo duas receitas de hambúrguer, o livro é recheado de tortas, omeletes, panquecas, saladas, massas, salteados, aperitivos, cheios de legumes, verduras, grãos, ovos e queijos. Recheado de fotos, acho que é o livro mais colorido que tenho, e um dos mais bonitos. E mamãe sempre me ensinou a comer pratos bem coloridos: quanto mais cores diferentes, mais saudável.

Como tinha abacates maduros e um resto de feijão preto cozido na geladeira, apanhei uma receita do livro de panquecas de polenta com guacamole. O livro, em português de Portugal é muito ambíguo ao distinguir polenta (sêmola de milho) de farinha de milho. Por instinto, usei a polenta mesmo, mas acredito que a farinha não produza um resultado muito diverso. Segui a receita das panquecas, mas ignorei a do recheio, preparando o guacamole do meu jeito, e "refritando" os feijões pretos. Cobri tudo com muito Tabasco e creme azedo.

Nham-nham. Quem acha que vegetariano só come salada de alfafa... :P

PANQUECAS DE POLENTA
(quase nada adaptado do livro Culinária Vegetariana)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 5-6 panquecas de 15cm


Ingredientes:
  • 50g de polenta (sêmola de milho)
  • 60g de farinha de trigo
  • 1/4 de colh. (chá) de sal
  • 1/4 de colh. (chá) de fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) de açúcar cristal orgânico
  • 250ml de leite integral
  • 2 ovos
  • 1 colh. (sopa) de manteiga sem sal derretida

Preparo:
  1. Misture os ingredientes secos em uma tigela e os líquidos em outra. Junte as duas e misture com um garfo até ficar homogêneo. Cubra e deixe descansar por 20 minutos.
  2. Aqueça um fio de óleo em uma frigideira pequena. Despeje uma concha da massa, cobrindo todo o fundo e deixe dourar em fogo médio, virando para dourar do outro lado. Mantenha aquecido até servir, e recheie de guacamole, feijões refritos e creme azedo.

Strozzapreti alla carbonara di porro

Na falta do creme de leite para preparar um molho de alho-poró que se tornou figurinha fácil em casa, improvisei uma massa alla carbonara. O prato original, spaghetti alla carbonara ("à moda dos carvoeiros"), leva pancetta salteada em azeite, que é misturada à massa cozida com muito queijo pecorino (ou uma mistura de pecorino e parmesão), gemas cruas (que cozinham ligeiramente com o calor da massa), salsinha fresca e muita pimenta-do-reino. As gemas, unidas à água da massa e ao queijo, formam um molho fino e cremoso que simplesmente adoro. Mas a verdade é que você pode substituir a pancetta pelo que quiser. Muito antes de Jamie Oliver colocar a receita em seu livro, eu já experimentara, em um restaurante à beira mar de Positano, um prato de massa alla carbonara de abobrinhas. Acredito inclusive que o mesmo tenha surrupiado desavergonhadamente sua receita de uma italiana que publicara no fórum de seu site, há anos atrás, uma receita de carbonara de aspargos sensacional que rendera inclusive uma menção especial do chef.

Para preparar essa versão, substitua a pancetta por cerca de 2-3 alhos-poró médios fatiados fino, refogados em azeite e uma pitada de sal até que murchem bem. Cozinhe a massa (usei 200g de strozzapreti porque era o que havia na despensa), escorra, e reserve uma ou duas colheres da água do cozimento. Junte o alho-poró, 2 gemas, um punhado de queijo pecorino ralado, outro de parmesão, salsinha fresca picada e a casca ralada de meio limão. Misture bem, muito rápido, até que toda a massa esteja recoberta por uma fina camada de molho. Polvilhe pimenta-do-reino moída na hora e sirva. As "medidas" são para duas porções.

[Vamos poupar todo o bafafá do "horror das gemas cruas", e simplesmente aceitar que eu não ligo para isso.]

sábado, 5 de abril de 2008

PADARIA DE DOMINGO 10: Pan de Mie, ou meu primeiro pão-de-forma sem defeitos de molde


O marido jogava video-game. O cão dormia confortavelmente sob a escrivaninha. [E antes que me escrevam nos maldizendo pela falta de espaço para o cão cochilar, explico já que, por algum motivo que desconheço, ele adora dormir assim, todo torto, confinado nos espaços menos prováveis.] Eu tivera a oportunidade, logo de manhã cedo, após uma xícara de café e um prato de panquecas, de assistir aos dois breves dvd´s que acompanham os livros de Bertinet. É estranho assisti-lo, acostumada que estou ao estilo histérico da maioria dos chefs-celebridades, que tentam, através de demonstrações efusivas de emoção, despertar no telespectador ocasional algum interesse genuíno por um prato ou ingrediente. Bertinet é muito calmo, sério, fala num tom muito baixo e com um sotaque tão carregado que, para pessoas com ouvidos medianamente sensíveis a idiomas, soa quase ininteligível. É preciso prestar muita atenção para não perder nenhum detalhe.

Entretanto, não é preciso dar pulinhos empolgados na cozinha ou repetir exaustivamente metáforas sexuais ao descrever texturas. Allex parou por um momento ao meu lado enquanto Bertinet moldava seu pão de massa azeda. Ele, que não costuma se interessar mais por comida do que no momento de comê-la, ficou admirado com a intimidade de Bertinet com a massa, com o modo com a manipulava e observava. "Está na cara que ele gosta muito do que faz...", comentou.

Vi nessa tarde a janela de oportunidade que eu precisava para testar a primeira receita do livro. Não pôde ser ciabatta, entretanto, pois ela precisava de uma biga que fermentaria por 24h, e eu queria pão para domingo de manhã. Escolhi, então, pan de mie. Pan de mie é a versão francesa do pão-de-forma, segundo ele, e quer dizer literalmente "pão de miolo", devido à importância do mesmo em detrimento da crosta. O pão é feito de forma que a casca fique muito fina e macia, ao contrário da maior parte dos pães franceses, de crostas crocantes.

A sova da massa foi muito mais simples do que imaginava. O movimento é bastante natural e fluido, e, de fato, ele só funciona com o balcão sem farinha. Onde houver vestígios da mesma, a massa não grudará, e você não conseguirá esticá-la para criar o bolsão de ar. Apesar de ficar longos minutos sovando, este modo é muito menos cansativo do que o tradicional que eu usara até então, com as bases das palmas; talvez porque a massa viscosa não ofereça a mesma resistência da massa seca.

O momento em que a massa muda de consistência é bastante óbvio. O que não é tão claro é o momento de parar de sová-la e moldá-la em forma de bola. Isso porque ela não chega a ficar sequinha como aquela a que estou acostumada. Ela persiste em sua consistência úmida, e é só ao polvilhar um nadinha de farinha e moldá-la que de fato torna-se lisa e incólume, pronta para a primeira fermentação.

Em 1 hora ela mais que dobrou de volume. E moldá-la da forma explicada no livro e no dvd, formando uma "espinha dorsal" na massa, foi muito fácil. Porém, minhas formas de pão eram maiores do que as requisitadas, e o pão não conseguiu preencher todo o espaço, ficando ainda baixo apesar de ter crescido um bocado no forno. Ainda assim ficaram lindos e dourados, sem os rasgos laterais que meus pães-de-forma costumam apresentar, ocasionados por erros na moldagem.

Se ficaram gostosos? Não sei. Não os provei ainda, pois pão quente (ainda que tentador) causa indigestão. Ao tirá-los do forno e colocá-los sobre a grade, seu aroma era muito bom. E pela primeira vez ouvi o som que Bertinet descreve no começo de seu primeiro livro, quando as cascas dos pães quentes começam a rachar em contato com o ar frio, crepitando como o fogo de uma lareira. No silêncio da cozinha, aproximei meu rosto dos pães, e seu calor, aliado ao seu rumor, acalmava, como de fato uma lareira num dia cinza o faz.

Só não sei se deixo ou não a receita, uma vez que você precisa ter visto e entendido a técnica por trás da coisa. Façamos o seguinte: depois que experimentá-lo, decido. Ok?

[UPDATE: a casquinha não ficou macia como eu imaginava, mas fininha e crocante como a do nosso pãozinho francês de todo dia. A textura, o aroma e o sabor também ficaram excelentes! Um ponto a rever, entretanto: falta de sal, que a receita não mencionava, nem na lista de ingredientes nem no processo, mas que eu acrescentarei numa próxima vez. Ainda assim, considerando que comemos nosso pãozinho com manteiga e sal grosso moído na hora, ele com certeza não fará falta no pão em si, que conseguiu ser gostoso mesmo sem esse ingrediente crucial. Aprovadíssimo. Deixou-me ansiosa por testar todo o resto do livro.]

[UPDATE (again):
Ok, ok. Depois do comentário da Laurinha, da Laila e da Camila, senti-me até culpada. Apesar de não gostar de publicar receitas ipsis literis como estão no livro, vou colocar essa só porque, no mínimo você precisa ir lá ver o vídeo do cara, e porque acho que a receita vai convencer o pessoal a comprar o livro. De resto, só colocarei outras receitas dele se forem adaptações ou se já estiverem publicadas na net somewhere, como as que ele publicou na revista Gourmet. Os números são bizarros pois são conversões de onças para gramas. Acrescento aqui a quantidade de sal que há na receita base mas não desta específica (mas se quiser omitir o sal, eu juro que ele não faz falta, e é como está no livro, de qualquer forma).

PAN DE MIE
(literalmente do livro Dough, de Richard Bertinet)
Tempo de preparo: 20 min. + 2h fermentando + 30 min. de forno
Rendimento: 2 pães


Ingredientes:
  • 20g de fermento fresco
  • 510g de farinha de trigo para pães
  • 2 colh. (chá) de manteiga sem sal
  • 10g de sal
  • 297g de água
  • 57g de leite integral

Preparo:
  1. Em uma tigela grande, esfregue a farinha, a manteiga e o fermento até esmigalhá-lo completamente, como você faria para começar a massa de uma torta. Junte o sal e misture. Acrescente a água e o leite e misture com um raspador de plástico ou uma espátula até formar uma massa. Passe-a para o balcão sem farinha e sove conforme a técnica do vídeo. Deixe descansar por 1 hora, coberta com um pano.
  2. Pré-aqueça o forno a 250ºC. Passe a massa para o balcão ligeriamente enfarinhado, e divida a massa em duas partes iguais. Amasse uma das partes com a base da palma da mão, até formar um retângulo. Dobre a parte mais comprida do retângulo sobre seu centro, selando bem com a base da palma. Repita com o outro lado (a massa vai mantendo o mesmo comprimento, mas diminuindo em largura). Repita novamente, dobrando-a ao meio, e selando bem com as pontas dos dedos. Coloque na forma de pão untada com manteiga, com a fenda virada para baixo. Repita com o outro pedaço de massa e deixe descansar coberto por mais uma hora. Se os pães atingirem a borda da forma, cubra com uma assadeira pesada.
  3. Coloque os pães no forno e cubra com a assadeira para que os pães não cresçam além da borda. Se você tiver uma daquelas formas de pão pullman, com tampa, use-a, claro. Tenha certeza de que o pão está bem fechadinho lá dentro. Minha assadeira estava torta e manteve fendas abertas, o que fez com que o pão formasse crosta. Abaixe o fogo para 220ºC e asse por 25 minutos. Retire a assadeira e mantenha por mais 5 minutos. Retire do forno, tire os pães das formas e deixe que esfriem completamente antes de comê-los.]

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Acalmando... acalmando... tô bem, tô bem...

[*Suspiro*].

Finalmente é sexta-feira. Graças aos deuses. Depois de uma semana decididamente infernal, tudo o que posso desejar é um fim de semana tranqüilo. Hoje, pela primeira vez, consegui navegar pelos blogs que costumava visitar diariamente. Consegui também sentar e de fato ler um pouco de um dos livros novos que comprei. Consegui almoçar com calma e até procrastinar um pouco do trabalho para segunda-feira. Porque ninguém é de ferro.

Estou com sérias dificuldades para escolher que pão fazer neste fim de semana. São tantas as opções de Bertinet... Mas decerto fico maravilhada com a capacidade que o mundo culinário tem de me fazer sentir ligeiramente idiota às vezes. Tem tanto que ainda preciso aprender... Achava que a técnica bizarra de sova de Bertinet fosse exclusiva para massas mais grudentas, e eis que leio, atônita, que é ele quem se surpreende quando chefs ensinam a sova comum, com a base das palmas das mãos. Os padeiros franceses, segundo ele, sempre manipulam a massa daquela forma difícil, grudenta, úmida. Daí a qualidade dos pães franceses, tão leves.

Estou absolutamente apaixonada. Suas explicações são exatas sem serem demasiado técnicas. Ele transmite verdadeira paixão nos textos e nas fotografias por todo o livro. Sua "tabela de cores", com fotos dos vários estágios de cozimento do pão, com legendas como "light golden brown" e "dark golden brown", até "burnt", além de uma página dupla comparativa com fotos e ingredientes de um pão de forma caseiro e um industrial, me ganharam definitivamente. Sequer preparei ainda um de seus pães e sou já fã incondicional de Richard Bertinet.

Para quem não se incomoda com instruções em inglês, recomendo seus livros. Ambos. Pois, ao contrário de outros chefs-celebridade por aí, não há reciclagem de receitas, ao contrário do que eu imaginaria em dois livros sobre pães. Um é claramente continuação do outro, apenas com breves explicações no segundo livro, para quem de fato pulou seu predecessor.

Aaaaaaah... isso com certeza acalma meus nervos. Espere... espere... Opa! Os músculos de meus ombros acabaram de relaxar um pouco.

A semana que vem será melhor. Com certeza.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Bolo de cenouras dummy-proof de minha mãe

Pode parecer mentira, mas algumas memórias muito antigas estão tão impressas em meu cérebro que são impossíveis de serem esquecidas, mesmo tendo acontecido há tanto tempo. Lembro-me da primeira vez em que comi chocolate. Um pedacinho, pequenininho, de chocolate meio-amargo. Não sei quantos anos tinha, mas, considerando que me lembro do dia em que minha irmã nasceu (e eu tinha apenas dois anos), imagino que era também muito nova nessa ocasião. Lembro-me perfeitamente de estar sentada no sofá da sala — um sofá cor de burro quando foge, que nem existe mais — perninhas esticadas para frente, quando meu pai apareceu com aquele quadradinho marrom escuro, quase preto, ligeiramente lustroso, que mais me parecia um pedaço de plástico, do que qualquer coisa comestível.

"O que que é isso?", perguntei, muito desconfiada.
"Chocolate", respondeu meu pai.

Não sei dizer exatamente por quanto tempo resisti a experimentar aquela coisa de aparência pouco apetitosa. Meu pai gostava de pregar peças em mim desde pequena, e por isso eu olhava para aquilo como algumas crianças olham para uma couve-de-bruxelas. Recusei.

Num outro momento, não sei nem se no mesmo dia ou no mesmo ano, pois a memória é boa mas não tanto, meu pai se aproveitou do fato de estar completamente hipnotizada pela televisão, e aproximou-se sorrateiramente, dizendo "abre a boca!". Obedeci sem pensar nem olhar o que ele tinha na mão, e quando mastiguei, senti todo um mundo de novos sabores se abrindo diante de mim. Imediatamente a televisão perdeu o encanto. "Hmmmm! Que é isso???" Chocolate. Foi paixão à primeira mordida.

Claro, em outra ocasião, só para provar que televisão não fazia bem para meu cérebro, meu pai aplicou a mesma técnica e colocou uma rolha de garrafa na minha boca, que cuspi imediatamente, revoltadíssima, em meus sei lá quantos poucos anos.

Quanto ao bolo da fotografia, trata-se do bolo de cenoura que comi durante toda a minha vida. Receita de minha mãe, apanhada não se sabe onde, anotada num caderno velho, naquele velho estilo impreciso que tanto me enerva. Não me lembro da primeira vez em que comi do bolo, mas recordo quando primeiro o contestei:

"Do que que é esse bolo?"
"Cenoura", disse minha mãe.
"Ah, vá? Cenoura é legume! Do que que é? Fala a verdade!"
"Cenoura, juro! Olha aqui os pedacinhos!"

A verdade é que já testei diversos bolos de cenoura; com farinha de amêndoas, com nozes, com laranja, com cobertura de cream-cheese, versões italianas, inglesas, receita de tia, de amiga... Mas nunca nenhum bateu a simplicidade, a doçura e a infalibilidade do bolo de minha mãe. Porque mesmo quando ele dá errado, ele dá certo. Desta vez mesmo, atrapalhada por ter esquecido de marcar o tempo de forno e ter ido trabalhar, fui confundida pelo aroma doce que invadia a sala e o princípio de casquinha dourada por sobre o bolo, e abri o forno para testá-lo com o palito, ao que o danado respondeu imediatamente desinflando como um soufflé fracassado. Feiúra solucionada virando-se o bolo de ponta-cabeça, escondendo-se a parte em colapso.

Este é o bolo de cenoura mais fácil, mais rápido e também o mais gostoso que já fiz ou comi em minha vida. Seu miolo é muito macio e úmido, contido por uma ligeira crosta quase caramelizada que nunca vi repetida em receitas mais sofisticadas. Deixo aqui, então, essa simples mas carinhosa "herança de família", que foi para o meu caderno, acompanhado de uma ilustração, para que eu ache a receita mais facilmente, dentre tantas outras.


BOLO DE CENOURA (Updated)
Tempo de preparo: aprox. 1 hora
Rendimento: 8-10 porções


Ingredientes:
  • 2 cenouras médias raladas bem fino
  • 3 ovos
  • 1 xíc. de óleo (canola ou girassol)
  • 2 xíc. de açúcar
  • 2 1/2 xíc. de farinha de trigo
  • 1 colh. (sopa) de fermento químico em pó

Preparo:
  1. Em um liqüidificador muito potente ou um processador, bata todos os ingredientes até que fique homogêneo.
  2. Coloque em uma forma de cerca de 20cm de diâmetro com furo no meio, untada e enfarinhada, e leve ao forno médio (180ºC) pré-aquecido por 45-50 minutos, até que fique dourado e um palito saia limpo quando inserido no bolo (insira o palito na rachadura central, em que se pode ver o miolo, pois muitas vezes ele está pronto nas laterais mas cru nesse meio, apesar da casquinha dourada em volta).
  3. Deixe esfriar completamente numa grade antes de desenformar. Se quiser, cubra com ganache, mas ele é perfeito assim, sem nada.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dois livros novos e nenhum tempo para aproveitá-los

Entre três trabalhos encruados, que não terminam nunca, a busca por um apartamento maior, e o cão tomando um remédio que me obriga a passear com ele pelo menos quatro vezes ao dia, é pouco ou nada o tempo (e a força de vontade) que me resta para cozinhar algo que preste. Nestes dias tenho lançado mão da criatividade para criar pratos rápidos para o jantar, em porções que me deixem sobras "requentáveis" para o almoço do dia seguinte.

Minha maior tristeza é ter mantido o blog às moscas, sem conseguir cumprir nem com minhas Padarias de Domingo nem com as Vítimas Culinárias.

E finalmente, após mais de um mês de espera, com porteiros que nunca estão na portaria para receberem pacotes e greves de carteiros, enfim consegui rastrear meu pacote da Amazon e encontrar em uma agência de correios completamente aleatória meus livros encomendados. Desde que vi o vídeo de Bertinet fiquei completamente apaixonada por sua intimidade com a massa, e corri sem dúvidas para comprar seus dois livros: Dough e Crust, ambos acompanhados de DVDs com instruções detalhadas.

Depois de dar a caixa de papelão para Gnocchi destruir, o que me resta é esperar o fim de semana, quando terei um tempinho para testar a primeira receita. Tenho esperanças de que consiga me livrar da recente maldição da ciabatta, e produzir um pão digno de uma boa passadela de manteiga.

Enquanto isso, cruzem os dedos para que eu encontre uma casa nova com uma cozinha decente!!

Cozinhe isso também!

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