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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sopa de cenoura com castanha de caju e raiz de coentro, para vegans ou não

Amarelinha, ao invés de laranja, por conta da castanha e do caldo.
No fim das contas, ter deixado oficialmente a categoria de vegetariana mudou pouca coisa na minha cozinha. Pelo menos em termos de ingredientes. Primeiro porque vegetariana de verdade fui apenas por uns dois anos da minha vida, em que realmente ficava sem comer nada se fosse a um lugar e só tivesse peixe, que seja. Ah, quantos churrascos de dia inteiro à base de pão e vinagrete...(e cerveja, ok.)

É claro que quando resolvi voltar a comer carne, primeiro de vez em quando, meio escondida, cheia de uma culpinha besta, durante o finzinho da gravidez do Thomas, e depois enfiando o pé na jaca durante a viagem à Itália, já grávida da Laura sem saber, me empaturrei, me esbaldei, fui à forra como quem sai de dieta e teve um dia difícil.

Depois de uns meses de esbórnia culinária, a coisa sossegou. O corpo reclamou. Quase dez anos à base de legumes, o corpo sentiu a vinda daquele monte de mortadela como se eu estivesse comendo tijolos. Deliciosos tijolos. Dei um tempo. Voltei à cozinha vegetariana.

Aí assisti aos programas da Bela Gil, que me trouxeram de volta a vontade de reincorporar umas naturebices que andavam meio largadas. Coisa normal. Pois sou muito influenciável na cozinha. Num dia fico saudosa da Itália e passo um mês cozinhando italiano. Aí compro um gengibre e me jogo no indiano. Lembro de um livro que não usava havia tempos, e me esbaldo nele e só nele. Assisto ao Tales from the River Cottage, e tenho vontade de voltar a comer carne só para preparar partes estranhas de um bicho. o_O

Daí a esquizofrenia gastronômica.

Porém, contudo, entretanto... Houve um episódio da dona Bela, sobre leite, em que ela mencionou sobre os poderes inflamatórios e geradores de muco do mesmo, e tive uma epifania. Fui conferir com minhas fontesinhas ayurvédicas e era isso mesmo. De repente me dei conta da profusão de laticínios que vinha usando na cozinha. Quando você não come carne todo dia, acaba abusando deles mesmo. E dos ovos. Meu deus, quantas fritatas: quando Thomas estava comendo quase nada, eu transformava seu almoço recusado numa frittata à noite, e ele comia no jantar sem problemas. Mas tanto, tanto ovo.

Parei para pensar no tanto que meus pimpolhos andavam fungando; eles que, com sua constituição ayurvédica já têm tendência a isso, quanto mais com o tanto de leite que andavam tomando. Daí que eu, que sempre torci o nariz injustamente para cozinha vegan, me peguei passeando por ela, muito interessada em, de vez em quando, substituir leite por outra coisa.

Bom... funcionou. O funga-funga parou.

E agora paro para pensar o quanto essa trajetória maluca foi libertadora. Isso de comer carne mas fazer sopa vegan. De não ser celíaca mas fazer qualquer coisa sem glúten. Libertadora no sentido de que aquela culpinha besta de vegetariano com vontade de comer frango assado, assim, do nada, sumiu. A polícia alimentícia também desapareceu (aquele povo chato que odeia o fato de você não comer qualquer grupo alimentar e fica só esperando você escorregar para te encher os pacová a respeito). Libertadora também porque se me pego sem ovo para empanar meu chuchu, posso usar uma massinha vegan de água e farinha. Se acabou a farinha de trigo, tem sempre mais um monte de outras para adaptar e criar outra coisa. E, principalmente, libertadora no sentido de que, enfiada numa situação em que só tem carne para comer, eu não passo mais fome nem deixo meu anfitrião desavisado constrangido, como tantas vezes já aconteceu. (Não que todo anfitrião de vegetariano fique constrangido, mas sempre tem aquela situação em que a mãe de alguém fez lasanha de presunto, "já que você não come carne". ¬_¬ )

O caso é que minha visão dos ingredientes e suas combinações de ampliou maravilhosamente. As possibilidades são imensas. E isso tem me deixado mais alegre na cozinha. Como vocês bem puderam notar. ;) Claro, o fato de, por enquanto, a pimpolhada estar comendo bem, ajuda. Muito.

Hoje, meio atarantada pelos afazeres do dia, quis uma sopinha rápida. Sopinha de cenoura, que era tudo o que tinha em mente. Dei uma busca rápida nos meus livros, mas nada me apeteceu completamente. Era dia de feira, o caldo com as aparas de vegetais e água de feijão cozinhava, e resolvi inventar alguma coisa eu mesma. Cortei cebola. Fui jogar manteiga na panela, mas me refreei. Apanhei o óleo de coco, que parece que ele dá uma cremosidade boa à comida refogada nele. Óleo de coco me fez pensar em coentro. Ao invés de picar coentro fresco por cima, resolvi apanhar as raízes com talos que eu tinha acabado de jogar no freezer. Porque eu sempre congelo os talos com raízes de coentro, na esperança de um dia fazer minha própria pasta de curry tailandês. Mas isso nunca acontece. Resolvi picar umas raízes e refogar junto com a cebola. Bom, já que estamos falando de pasta de curry, então jogo gengibre junto. E pimenta? Pimentinha vai bem. Apanhei também do freezer uma única pimentinha vermelha e arredondada, pequenina, que eu comprara na viagem à Belém. Joguei as cenouras lá dentro para refogar tudo junto, com uma pitada de sal. Daí pensei: hmmm... mas talvez não fique muito cremosa. Queria uma sopa cremosa, pois Laura consegue comer sozinha as sopas que meio que se equilibram na colher. Creme? Não queria usar. Leite de coco? Não tinha. Juntei castanhas de caju sem sal, que meu pai sempre traz de Fortaleza. Refoguei tudo, juntei o caldo de legumes que cozinhava ao lado, e quando as cenouras estavam macias, bati tudo no liquidificador.

Ficou uma delícia. DE-LÍ-CIA.

Amarelinha por conta das castanhas e também do caldo, que tinha água de feijão e água de cozimento de folha de beterraba. Mas o sabor era todo cenoura, gengibre, coentro e castanha. (Aliás, nem precisa de folha de coentro por cima). Mas aquela pimentinha danada ficou forte pra chuchu. Laura comeu. Repetiu. Eu também. Thomas experimentou. E comeu assim, feito molho, mergulhando os chips de batata-doce na sopa ante de botar na boca. Porque eu não nasci ontem, e, para evitar problemas no caso de a criançada não gostar da sopa de jeito nenhum, sempre faço algo que acompanhe: torradinhas com queijo, bolinhos de algum grão ou alguma folha, chips de batata-doce, no caso. Sempre algo que possa ser mergulhado na sopa, para incentivá-los a experimentar.

Ah, mas é claro que tem outro benefício na minha vida essa coisa de "como de tudo de novo": viagens de avião. Porque se tinha um negócio que me deixava louca da vida era pedir refeição OVO-LACTO-vegetariana numa viagem de avião e receber comida vegan no lugar. Todo mundo comendo pão com manteiga e iogurte de morango no café da manhã, e você mastigando salada de alface e cenoura ralada. E uma saladinha de frutas que é igual em toda a companhia aérea: melão duro, maçã ácida e uma uva. UMA. UVA. [No vôo de volta de Amsterdam, o povo se confundiu e embarcou pra mim uma refeição comum. Dividi meu sorvete de chocolate e stroopwaffle com o marido triste, comendo a sua uva.]

SOPA CREMOSA DE CENOURA E CASTANHA DE CAJU
Rendimento: 2 porções de adulto (ou 1 porção de adulto e 2 de criança pequena)

Ingredientes:

  • 1 colh. (sopa) óleo de coco
  • 1 cebola pequena, picada
  • 2-3 raízes de coentro, com uns 5-7cm de talos verdes, sem folhas, picado
  • um pedaço de 2cm de gengibre fresco, descascado e picado
  • pimenta fresca (à sua escolha e gosto), picada, com ou sem sementes
  • 1/2 xic. castanha de caju sem sal
  • 2 cenouras médias, fatiadas
  • 500ml caldo de legumes
  • sal a gosto


Preparo:

  1. Aqueça o óleo de coco numa panela pequena. Junte a cebola, as raízes de coentro, o gengibre e a pimenta, e refogue em fogo médio até que a cebola esteja macia e tudo comece a dourar. 
  2. Junte a cenoura e as castanhas e refogue por mais uns minutos, recobrindo tudo com os temperos. 
  3. Junte o caldo de legumes, tampe e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 10-20 minutos, dependendo da idade e do tamanho dos pedaços da cenoura.
  4. Quando a cenoura estiver macia, desligue o fogo e bata tudo no liquidificador até que fique completamente homogêneo. Caso fique muito grosso, acrescente mais meia xícara a 1 xícara de água. Acerte o tempero. Volte para a panela para reaquecer e servir. Fica ótimo com chips de batata-doce (batata doce fatiada bem fina e frita em óleo bem quente). 


terça-feira, 13 de maio de 2014

Caldo de abóbora japonesa, inhame e cogumelos com macarrão

Foto de improviso de um prato de improviso que ficou melhor que o planejado.
Você viu? Você viu como eu me safei no título? Não vou chamar de "sopa japonesa", porque sei que o original não é assim e não quero irritar ninguém hoje. O caso é que de vez em quando eu me empolgo na feira orgânica e levo para casa mais vegetais do que consigo consumir na semana, e então fico à procura, internet afora (incluindo o site que procura nos meus livros), algo que use a maior quantidade de qualquer coisa que eu tenha de uma vez só.

Quando caí nessa sopa, no site da Dona Martha, fui lendo os ingredientes e pirei. Tenho abóbora japonesa? Tenho. Tenho inhame? Tenho. Tenho cebolinha? Tenho. Tenho shoyu? E mirin? E kombu? E cogumelo shiitake seco? E cenoura? Tenho! Tenho! Tenho! Mas... nada de udon. O que eu tenho é um pacotão imenso de somen. E nada de nabo japonês. Ou acelga. Ou esse temperinho que mandam botar no final que não faço a mais tenra ideia do que seja. O mercado aqui do lado também não tinha. Aliás, fiquei triste de ouvir da funcionária que eles pararam de comprar nabo, porque não vendia. E eu sei que o inhame que eu tinha não era o japonês. Ou a cebolinha.

Resolvi trabalhar com o que tinha, pois era melhor meia sopa de um monte de coisa do que um monte de coisa estragando porque eu não quis usar em meia sopa. Principalmente os cogumelos, aliás, cujo sacão imenso comprei há muito tempo, para usar em várias receitas vegetarianas do livro do Mark Bittman, só para meu marido decidir, dois dias depois, que não gosta mais de cogumelos. Então, qualquer prato onde eu possa usá-los, mas que ele possa separar e não comer, está bom para mim. Preciso dar fim àquele sacolão.

Deixei os cogumelos de molho em água quente assim que voltei de deixar o Thomas na escola, e preparei todo o resto cerca de meia hora antes de buscá-lo. Como era muito caldo, resolvi cozinhar o macarrão em água separada. Assim, poderia requentar o caldo no dia seguinte ou congelá-lo, e só cozinhar mais macarrão na hora, direitinho, sem ter de catar fiozinho de macarrão desmanchando na panela.

Confesso que dessa vez olhei para o panelão e pensei: esses moleques não vão comer isso. O cheiro estava uma delícia, mas eu sei que forço a barra de vez em quando, que quando falo "macarrão", Thomas sempre espera molho de tomate por cima.

Para minha surpresa os dois atacaram seus potinhos sem pestanejarem. Laura, como sempre, usando as patinhas para catar tudo e levar à boca, o garfo às vezes numa das mãos como mero objeto de decoração. Thomas, pedindo ajuda com o somen escorregadio. Os dois comeram todos os legumes menos os cogumelos shiitake. E o menino pirou com a colher da sopa, principalmente quando disse que ele podia sorver o líquido fazendo barulhinho. Tomou tudo e pediu mais caldo.

O que eu achei? É tão gostoso, tão gostoso, que parei de comer e catei a câmera para tirar uma foto e postar aqui. Se essa meia sopa com macarrão errado ficou desse jeito, imagina com o udon e os legumes que faltaram? ^_^

Então, espero que os filhos e netos de japoneses por aqui não se ofendam com a adaptação. Aliás, até mesmo deixo aqui uma pergunta, pois, fora a espessura e textura das duas massas que são claramente diferentes, nunca entendi exatamente quando se usa o somen. Pois há pacotes de somen que mostram o macarrão sendo comido frio e outros que mostram dentro de uma sopinha quente. Se alguém souber, agradeço o esclarecimento. Pois no fim, eu uso quando a receita pede (não necessariamente uma receita japonesa), mas queria poder inventar em cima sem sentir as avós dos meus amigos japoneses revirando no túmulo.

Bom caldinho para vocês. A receita abaixo está completa e correta, apenas traduzida do site da Dona Martha, que por sua vez tirou do livro Japanese Hot Pots. Minha versão omitiu o nabo, a acelga, o shimeji fresco e usou inhame brasileiro (o pequeno) e somen no lugar de udon.

CALDO DE ABÓBORA JAPONESA, INHAME E COGUMELOS COM MACARRÃO
(Original aqui.)
Rendimento: 4 porções generosas

Ingredientes:

  • 8 cogumelos shiitake secos
  • 1/2 xic. shoyu
  • 1/2 xic. mirin
  • 2 pedaços de 13cm de kombu
  • 1/2 abóbora japonesa (kabocha) pequena (cerca de 500g), descascada, sem sementes, e cortada em pedaços pequenos
  • 115g nabo japonês, descascado, cortado ao meio no sentido do comprimento e cortado em fatias de 1cm
  • 3 inhames japoneses pequenos (cerca de 250g), descascados, cortados em quartos e em pedaços menores se forem mais longos que 5cm
  • 1 cenoura média (cerca de 115g), descascada, cortada ao meio no sentido do comprimento e cortada em fatias de 1cm
  • 1 cebolinha japonesa, fatiada na diagonal, em pedaços de 1cm
  • 115g acelga, fatiada
  • 100g cogumelos shimeji, separados
  • 225g udon
  • Shichimi togarashi, para guarnecer


Preparo:

  1. Coloque os cogumelos shiitake secos em uma tigela, cubra com 5 xic. de água (quente ou fervendo, se não tiver tanto tempo) e deixe por 5 horas em temperatura ambiente. 
  2. Retire os cogumelos, reservando o caldo. Ao caldo, acrescente o shoyu e o mirin. Os cogumelos, apare os talos, se houver, descartando, e corte os chapéus na metade ou em quartos se forem grandes.
  3. Em uma panela grande (de preferência barro ou ferro esmaltado), coloque o kombu, e então cubra com a abóbora, o nabo, o inhame, a cenoura, a cebolinha, a acelga e os cogumelos frescos e os secos hidratados e cortados.
  4. Cubra com o caldo reservado, tampe a panela e leve à fervura. Abaixe para fogo médio e cozinhe por 10 minutos. Destampe, junte o macarrão e cozinhe até que o macarrão esteja cozido. (No meu caso, cozinhei os legumes por vinte minutos, e o macarrão sozinho, para que tudo estivesse no ponto certo, já que somen cozinha mais rápido.) Sirva imediatamente, guarnecido de shichimi togarashi.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Um almoço à indiana, seguindo com a esquizofrenia culinária

Naan, chutney de manga, grão-de-bico no gengibre e couve-flor com verduras.
À noite, uma conversa...
"Sabe o que eu estava pensando?", comecei. Marido olhou para mim. "Que quando você trabalhava com barbeador, ficava trazendo um monte de barbeador pra casa pra testar. Agora que trabalha com cozinha, fica trazendo um monte de eletrodoméstico pra testar. Bem que você podia..."
"Trabalhar num banco?", interrompeu-me, engraçadinho.
"Olha só como a gente pensa diferente: eu ia dizer trabalhar com queijos franceses. Mas banco seria uma boa também." ;)

Há uns meses atrás, o marido começou a trabalhar na parte de cozinha da Philips-Walita. E daí que começou a trazer, mês sim, mês não, uma panela, um liquidificador, um mixer, etc..., para testar em casa e conhecer o produto (olha que conveniente pra mim...). Afinal, é o trabalho dele. A parte engraçada disso é que ele está tendo de aprender a cozinhar e finalmente é obrigado a ouvir os meus pitacos sem revirar os olhos. A outra parte engraçada é vê-lo me explicando as maravilhas da tecnologia, uma vez que sou super a favor da supremacia da colher de pau (apesar de achar que processador e batedeira são uma mão na roda – as discussões a respeito são sempre divertidas por aqui).

Daí que noutro dia ele apareceu com uma panela de pressão elétrica. Eu nunca na vida soubera que isso existia e logo de cara resisti à ideia. Quem conhece o blog há tempos deve-se lembrar de uma enquete e um post que fiz certa vez a respeito do medo mais que medonho da panela de pressão. Eu tenho pavor da bichinha.

Porém, confesso que a possibilidade de fazer um feijãozim de última hora me animou. Para uma família que quase não come carne, faço menos feijão do que deveria. Simplesmente porque me esqueço de deixar o danado de molho na noite anterior.

E lá fui eu. Li o manual. Ok, coisa elétrica desliga quando dá problema, ao contrário da comum que entope e explode. Tá, isso é animador. Respirei fundo, esperei as crianças irem brincar no quintal, coloquei a água, o feijão e os temperos na panela, fechei e liguei. Coração batendo forte.

Olhei em volta. Saí tirando tudo o que tinha da prateleira logo acima da bancada, porque se o bicho explodisse, não queria minha Le Creuset voando e espatifando no chão. Olhei em volta de novo. Fechei as portas e isolei o local. De cinco em cinco minutos, eu voltava à porta da cozinha e pressionava o nariz contra o vidro, tentando enxergar a luzinha verde acesa da panela, e se havia alguma movimentação suspeita.

Passado o tempo de cozimento, o bicho parou de pressurizar (isso é palavra?) e entrou no modo de manter aquecido. Mandei as crianças e o cachorro para longe, abri a porta e me aproximei devagar, pontinha do pé. Com o dedinho cheio de cautela, virei a válvula, ouvindo enfim aquele apitinho peculiar, o vapor saindo, o cheiro do feijão pronto. Alívio infinito. Panela despressurizada, deixei ali fechada, mantendo quente, e fui apanhar o telefone que ficara no escritório, para poder ligar pro marido e dizer o que eu tinha achado de usar a panela dele.

Eu no escritório, ouço um estrondo. AI MEU DEUS. Volto correndo, coração na boca, achando que foi tudo para os ares. E me sinto uma idiota: foi só a porta da cozinha que bateu com o vento. ¬_¬

O feijão ficou ótimo, e aquilo me animou um bocado, e saí comprando todos os tipos de feijão do mercado para voltar a prepará-los com mais frequência.

No feriado, marido quis ver o troço funcionando, e resolvi preparar o grão-de-bico. Fazia tempo que queria preparar Naan, um pãozinho indiano, e a receita do grão-de-bico indicava naan como acompanhamento.

Botei o grão-de-bico para cozinhar e chamei o Pequeno Sovador de Massa para me ajudar com o pãozinho. Enquanto a massa fermentava, preparei a couve-flor com a acelga italiana do quintal (pois não tinha espinafre), batatas e especiarias, e preparei o refogado do grão-de-bico com gengibre. Thomas na cadeira, mexendo a panela. De repente ele ergue a colher de pau, inclinadinho sobre o fogão, traz a outra mão por baixo dela, assopra, assopra, e leva à boca. Todo adulto.

"Hmmmm... Delish!"

*_* Orgulhinho de mãe.

Na hora de moldar os pãezinhos, Thomas voltou à ação, me ajudando do jeito dele a amassar as bolinhas de massa e esticá-las. Assei os naan diretamente sobre a pedra no forno e servi com os dois legumes e o chutney de manga que eu preparara meses antes, numa ocasião em que uma querida amiga nos presenteara com uma sacola imensa de mangas pequeninas, já bastante maduras.

Soprador de Naan Quente e Devoradora de Chutney em ação.
Não é uma refeição para meio da semana, pois sei que é trabalhosa, mas ficou absolutamente deliciosa. Os naan fizeram um sucesso incrível com as crianças, que, surpreendentemente, rasparam o prato de legumes, sem nem se incomodarem com os verdes [cabeça de criança: quem entende?]. Laura apontava para o vidro de chutney, e eu pensava: "ela está achando que é geleia". Resolvi dar um pouquinho para que experimentasse, com medo da reação, uma vez que era bastante picante. A mocinha se esbaldou e pediu mais, e mais, e toda colherada de legumes tinha de ter um pouco de chutney picante por cima. o_O

Naan quentinho, bem de pertinho. Muito fácil e muito bom.
Não sei quão indianas são de fato as receitas (aliás, aceito feedback de quem já foi à Índia, principalmente a respeito do formato dos pãezinhos, pois não havia foto no livro). Apenas o chutney veio de um livro de culinária indiana. Os legumes e o naan saíram de um ótimo livro da Deborah Madison, que é tão autoridade em cozinha indiana quanto eu sou de vietnamita. No entanto, é tudo bom, e aromático, e saboroso, e tem gosto de comida que nutre todas as células do seu corpo, como quase tudo de "indiano" que já comi na vida. Tão bom, que foi almoço e jantar no mesmo dia.

Agora toma esse monte de receita.

NAAN DE IOGURTE
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 8-10 pãezinhos

Ingredientes: 

  • 1/4 xic. água morna
  • 2 1/4 colh. (chá) fermento ativo seco instantâneo
  • 3/4 xic. água quente
  • 3/4 xic. iogurte integral natural
  • 1/4 xic. ghee ou manteiga clarificada (usei manteiga comum, amolecida, e deu certo mesmo assim)
  • 1 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 xic. farinha de trigo integral
  • 1/4 xic. farelo de trigo (se a farinha já tiver bastante fibra, não precisa – não usei, a farinha era já bem grossa)
  • 3 xic. farinha de trigo branca


Preparo:

  1. Polvilhe o fermento sobre a água morna numa tigelinha e deixe espumar por 10 minutos. Enquanto isso, combine a água quente, o iogurte, o ghee e sal numa tigela grande. Junte o fermento, farinha integral e farelo, se estiver usando. Acrescente aos poucos farinha branca, sovando, suficiente para formar uma massa macia e ainda ligeiramente pegajosa. Coloque em uma tigela untada com óleo, cubra e deixe fermentar por 1 hora. 
  2. Pré-aqueça o forno no máximo com a pedra de pizza ou uma assadeira grande invertida. (Cerca de meia hora antes de assar os pães)
  3. Coloque a massa na bancada ligeiramente enfarinhada e divida em 8-10 pedaços. Forme bolinhas, cubra com um pano e deixe descansar por 10 minutos. 
  4. Amasse as bolinhas para formar um disco, puxe suas extremidades para formar um oval de textura irregular e afunde as pontas dos dedos na superfície, como você faria a uma focaccia. 
  5. Coloque os ovais diretamente na pedra de forno ou assadeira quentes e asse por 12-15 minutos, até que estejam  ligeiramente dourados em cima.  Retire do forno e empilhe-os, servindo quente ainda, se possível. 


GRÃO-DE-BICO COM GENGIBRE
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 4-6 porções

Ingredientes:

  • 3 colh. (sopa) óleo vegetal
  • 1 cebola grande, picada
  • 1 folha de louro
  • 3 dentes de alho, picadinhos
  • 2 colh. (sopa) gengibre fresco ralado
  • 2 colh. (chá) semente de coentro moída
  • 2 colh. (chá) cominho moído
  • 1/4 colh. (chá) cardamomo moído
  • sal e pimenta-do-reino
  • 2 tomates, sem pele e em cubos (usei meia lata do italiano)
  • 1 1/2 xic. caldo do cozimento do grão-de-bico ou água
  • 3 xic. grão-de-bico cozido ou 2 latas, escorridas e enxaguadas
  • suco de meio limão


Preparo:

  1. Aqueça o óleo numa frigideira grande em fogo médio. Junte a cebola e cozinhe, mexendo frequentemente, até bem dourada, cerca de 12-15 minutos.
  2. Abaixe o fogo e junte o louro, alho, gengibre, especiarias, 1/2 colh. (chá) cada de sal e pimenta, e os tomates. Cozinhe por 5 minutos, junte o grão-de-bico e o caldo e deixe levantar fervura. Cozinhe até que fique com uma consistência mais grossa, de molho. Acerte o sal e a pimenta e tempere com o suco de limão.


COUVE-FLOR COM VERDURAS, À INDIANA
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 4

Ingredientes:

  • 3 batatas médias, descascadas e em cubos
  • 1/4 xic. manteiga clarificada ou ghee (de novo, usei manteiga comum)
  • 1 cebola grande, fatiada fino
  • 1 couve-flor pequena, cortada em quartos e fatiada fino, caule inclusive
  • sal
  • 2 colh. (chá) alho picado
  • 1/2 colh. (chá) cúrcuma
  • 1 colh. (chá) cominho moído
  • 1 colh. (chá) semente de coentro moída
  • 1 colh. (chá) sementes de mostarda inteiras
  • 1 maço de espinafre (usei acelga italiana), apenas folhas 
  • 1 maço de agrião (não usei), apenas folhas
  • 1 cenoura pequena, ralada
  • suco de 1 limão
  • várias pitadas de Garam Masala
  • Coentro picado


Preparo:

  1. Cozinhe as batatas no vapor até que fiquem macias. Reserve.
  2. Aqueça 2 colh. (sopa) da manteiga numa panela grande e baixa, que tenha tampa, em fogo médio-alto. Junte a cebolae cozinhe até que esteja bem dourada. Retire a cebola e reserve. 
  3. Derreta o restante da manteiga em fogo alto e junte a couve-flor e um pouco de sal. Cozinhe até que comece a dourar em alguns pontos, depois de uns minutos.
  4. Junte o alho, as especiarias e as batatas cozidas. Misture bem e abaixe o fogo. Cozinhe por uns 4 minutos.
  5. Junte as verduras, a cenoura e 1/2 xic. água. Cubra com a tampa e cozinhe por cerca de 1 minuto, até que as verduras tenham murchado. Tempere com o suco de limão e o garam masala e polvilhe com coentro picado.


CHUTNEY DE MANGA PICANTE
(Do livro Complete Indian Cooking)
Rendimento: 1,25kg (divida a receita, para produzir pequenas quantidades)

Ingredientes:

  • 500g açúcar
  • 600ml vinagre
  • gengibre fresco ( 1 pedaço de 5cm de comprimento)
  • 4 dentes de alho
  • 1kg manga madura mas firme, descascada e cortada em pedaços pequenos
  • 1/2 a 1 colh. (sopa) pimenta em pó (depende da pimenta que usar – usei 1/2 de caiena)
  • 1 colh. (sopa) sementes de mostarda
  • 2 colh. (sopa) sal
  • 125g passas ou sultanas


Preparo:

  1. Coloque o açúcar e todo vinagre MENOS 1 colh. (sopa) em uma panela, leve à fervura e cozinhe em fervura branda por 10 minutos.
  2. Em um processador de alimentos ou pilão, transforme o gengibre, alho e a colher de vinagre em uma pasta. Junte à panela e cozinhe por mais 10 mintuos, mexendo. 
  3. Junte a manga, o restante dos ingredientes, e cozinhe, destampado, por 25 minutos, mexendo conforme o chutney for engrossando. Remova do fogo e deixe que esfrie um pouco. 
  4. Coloque em vidros esterilizados, fechando bem a tampa. (Como no meu caso, as quantidades foram meio adaptadas de acordo com a quantidade de manga, coloquei nos vidros esterilizados, mas guardei na geladeira. Duram meses.)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Chips de couve criança solta no mundo

Falta uma semana para as férias escolares chegarem ao fim, e já me vejo numa certa ansiedade culinária novamente, pensando no quê posso deixar pronto no freezer para os dias sem pão nem inspiração para o lanche da escola. Daí que há alguns dias uma amiga me escreveu perguntando dos lanchinhos do Thomas, já que sua filha ingressaria na escola esse ano e, como toda mãe natureba, ela estava preocupada. Respondi um email imenso, mas mais imenso foi o tempo em que fiquei matutando no assunto.


Foi um ano de siricuticos mil por pessoas de dentro e fora da família oferecerem ao moleque toda sorte de "coisas-comestíveis-semelhantes-a-alimentos-não-pré-aprovados". Desde o hambúrguer no buffet infantil, ao suco em pó radioativo, danoninho, gelatina diet, refrigerante light, cebolitos e miojo. Os dois últimos, aliás, colaboração do pai, o que causou um siricutico mais intenso que os outros.

Antes do Matador de Dragões começar a escola, eu sofria pensando em como eu não teria mais o controle total e completo (argh) sobre a alimentação dele, como ele experimentaria a bolacha de morango do amiguinho, tomaria suco de caixinha no passeio da escola e coxinha de frango não orgânico na festinha.

Ah, controle.

Sabe o que eu aprendi esse ano?

Que controle não existe.

E que eventualmente você precisa relaxar a bisteca e começar a confiar no trabalho que está fazendo. Tem que confiar que seu filho está, de fato, aprendendo alguma coisa com você. E está. No meio das birras do "não-como-não-gosto-não-quero" às vezes é difícil enxergar um futuro em que o Catador de Salsinhas coma couve-de-bruxelas.

Mas esse futuro está lá.

Porque ele cata a couve refogada de dentro do risotto, mas comeu todos os chips de couve e de lanche ainda apanhou a tigela com o que restara e mandou para dentro basicamente meio maço de couve sozinho.

Daí que foi isso o que matutei:
  • O fato de seu filho comer danoninho na casa do amigo não me obriga a comprar danoninho também. E eu sei que esse é o maior pânico da mãe natureba: que o filho experimente e fique enchendo os pacová no supermercado para você comprar até você ceder.  Pode pedir. Minha resposta será NÃO por toda a eternidade. Come na casa do amigo, então.
  • Experimentar suco de caixinha no passeio da escola não faz seu filho desaprender a beber água ou chá sem açúcar. A não ser que você pare de dar água e chá sem açúcar e comece a embebedá-lo unicamente de suco de caixinha. [Meu maior medo continua sendo encontrar um dedão dentro da caixinha cujo conteúdo não se vê.]
  • Não tem problema se ele experimentar do lanche do amigo. De repente o amigo experimenta do lanche dele, e isso é bom.
  • Ninguém desaprende a gostar de comida de verdade. 
  • Se sua casa for esse oásis de comida boa, lugar onde ele come todos os dias quase todas as refeições, a coxinha mequetrefe do buffet não vai fazer a menor diferença. 
  • Presumir e aceitar o fato de que seu filho não está amarrado no seu pé, tem vida própria, experiências próprias e gostos próprios, e que vai sim comer o sanduíche de pão de forma industrializado, cream cheese light e peito de peru do amigo, e que isso NÃO VAI MATÁ-LO, traz de volta à sua vida aquela leveza da Era Pré-Filhos, quando você tinha menos preocupações.  
  • Se meu filho come chips de couve com a mesma empolgação com que come Doritos quando o pai abre um pacote, então está tudo muito, muito bem.


Está ouvindo isso? Preste atenção! É o som dos  músculos dos meus ombros relaxando. ;)
 CHIPS DE COUVE

Como pude deixar a moda dos "kale chips" vir e ir embora e não preparar isso antes?

Preste atenção, pois é SUPER complicado: lave e seque a couve, retire os talos (guarde para aferventar e refogar como qualquer outro legume, aliás), corte as folhas em quadrados grandes e tempere com azeite, sal, pimenta-do-reino e páprica doce (ou qualquer outra pimenta, ou nenhuma, se preferir); esfregue bem o tempero nas folhas, e espalhe-as em uma assadeira grande; leve ao forno médio (uns 180ºC) por 15-20 minutos, ou até que estejam secas e quebradiças, com cuidado para não queimar (fique de olho no tempo, pois vai depender da quantidade de folhas e se estão empilhadas ou em camada única). Só isso. Elas se mantém crocantes o dia todo, mesmo frias. Maneire no sal no começo, pois conforme elas perdem água, o sal concentra-se. Melhor acertar o sal com elas prontas. 

O risotto de couve foi feito com meio maço de couve (a outra metade virou chips). Enquanto os chips assavam, refoguei a couve fatiada fininho em azeite e um dente de alho, com sal e pimenta-do-reino, e reservei. Na mesma panela, dourei um pouco de speck em cubos em mais um fio de azeite (pode ser bacon defumado; o speck foi trazido da Itália por minha sogra). Retirei, reservando o speck num pratinho e deixando o óleo e gordura do speck na panela. Juntei uma cebola picada e os talos da couve picadas bem miudinho, junto de uma pitada de pimenta-calabresa seca. Refoguei até amolecer e juntei uma xícara e meia de arroz arbóreo e 1/3 de xícara de purê de brócolis que eu tinha descongelado sem querer achando que era pesto de couve (a ideia era um risotto com couve de 4 jeitos diferentes – mas brássica é brássica, e couve e brócolis vão bem juntos – mas ainda quero refazer com o pesto, que teria dado um quê a mais). Prossegui com o risotto normalmente [clique aqui para ver o processo, caso tenha dúvidas], acrescentando caldo de legumes caseiro quanto bastou, e, quando ficou pronto, juntei um naco de manteiga, um punhado de parmesão, a couve refogada e o speck dourado. Tampei, deixei descansar alguns minutos e servi com mais parmesão ralado e os chips de couve por cima. Nham.


[DISCLAIMER: se há uma coisa que você descobre quando vira mãe, é que está SEMPRE errada. Sei que vai ter gente que não concorda comigo e que vai comentar que estou... bem... errada. Então lembre-se de que estou dividindo as MINHAS experiências aqui, e que isso não quer dizer que você tenha de começar a deixar seu filho comer danoninho na casa do amigo e nem que você mais esteja certa ou mais errada do que eu. Vivamos em paz com nossas diferenças.]

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Spätzle de alcachofra para bebê comilão e família

Na esperança de que o bebê fofo distraia o povo da foto horrível de comida.
Um dia a frescura passa. Aí ela volta. Mas parece de fato ter passado. Aquela criança que catava salsinha do prato e jogava na mesa, com cara de nojo, tentando desvencilhar das pontinhas dos dedos os pedacinhos verdes, não existe mais. O Matador de Dragões agora experimenta. Pode não gostar. Pode não comer tudo. Mas fica curioso. Quer saber que gosto tem. Quase não preciso oferecer. É ver a mãe, o pai e a irmã comendo e, devagarinho, lá vai ele experimentar. Enchi-me de orgulho e alívio ao vê-lo matando uma pratada de salada de farro com tomate e pimentão-verde, e fritatta cheinha de couve, um pote inteiro de pepinos e cenouras, soba com gergelim, e até fundo de alcachofra, essa coisa cinza com cara de nada mas que é uma delícia. Quando se fala de criança enjoada para comer, agora fico quieta, porque o pequeno parece ter tomado jeito, movido talvez pelo ciúme da irmã, apesar de esse mesmo ciúme às vezes provocar birras à mesa.

Daí que eu preparara alcachofras, e sempre que limpo as danadas morro de dó de jogar todas aquelas folhas fora. E esse livrinho que eu adorei, de uma italiana louca com a coisa toda do desperdício de comida (e que tem um blog em inglês e um em italiano, que é mais atualizado), tinha justamente a solução – não uma solução simplesinha, convenhamos, mas uma que eu estava disposta a bancar: bastava apanhar as folhas e os talos das alcachofras e cozinhar por uns 40 minutos, até amaciarem um pouco e então passar aos pouquinhos pelo passa-verdura, para espremer a polpa para fora e separar das partes fibrosas [essa, por acaso, é a parte "não-simplesinha", porque haja braço para virar a manivela do passa-verdura...]. Fiz isso e consegui de aparas de 3 alcachofras um purê cinzento mas saboroso, equivalente a mais uns 3 fundos de alcachofra extras amassados. Havia ainda instruções para colocar as fibras no forno muito baixo (60ºC) por várias horas até secarem bem e então moer no processador para obter uma farinha de alcachofra, pela qual muito me interessei. Mas meu forno não mantém temperaturas tão baixas, e eu sabia que ia esturricar as fibras e gastar gás à toa. As fibras foram para o minhocário, alimentar minhocas felizes, para depois virarem adubo feliz para plantinhas felizes.

Congelei meu purezinho com intenção de usar num molho de macarrão, mas ele acabou virando receita do mesmo livro: Spätzle de alcachofra com sálvia. O livro (traduzido para o português) falava de usar uma "nhoqueira", mas eu sabia que ele se referia mesmo àquele utensílio engraçado de se fazer essa massinha alemã, e que já vi ser vendido no Brasil como se fosse um ralador (!!!). Não é um ralador. Eu tinha menos purê do que a receita pedia, e minha massa ficou muito espessa, e tive de acrescentar um nadinha de água só para dar o ponto.

Ficou uma delícia, sucesso com o pequeno guerreiro ítalo-germânico, pequena justiceira ítalo-germânica e com o marido... germânico. O fato de ter polvilhado com parmesão por cima foi o toque italiano, mas segundo os três germânicos da casa, tudo fica bom com parmesão por cima. ;)

Spätzle andou aparecendo bastante por aqui nos últimos meses, sempre na versão com espinafre na massa, rendendo bolotinhas muito verdes que eram sempre devoradas pelo meu filho numa época em que nem salsinha ele comia. Era o jeito de enfiar alguma folha verde em sua dieta. Toda vez que preparava, fotografava para publicar aqui, mas esse Spätzle de maquininha nunca fica bem na foto. Além de poder meter na massa verduras e legumes, ele ainda supre a necessidade de independência da pequena-gigante-Madame-Bochechas. Ela quer comer tudo sozinha, e as bolotinhas douradas na manteiga são perfeitas para seus dedinhos desajeitados.

Aliás, no post anterior me perguntaram sobre a alimentação da pequena, e a resposta ficou tão longa que achei mais fácil colocá-la aqui. Laura ficou pouco mais de um mês naquele esquema de papinhas mais simples, para apresentar os sabores diferentes do leite materno a um bebê que ainda mama. Mas logo que metade de suas refeições eram feitas conosco, comecei a preparar nosso jantar pensando nos elementos que eu queria em sua papinha. Comemos muito minestrone nesse inverno, com legumes, feijões, grãos, caldo caseiro, ervas, couves e queijo. Risotto também. Qualquer prato único onde eu pudesse colocar vários elementos e que ficasse bem transformado em papinha. E ela sempre comia o que nós comíamos. Ou o contrário.

Assim que seu primeiro dente nasceu, percebi que ela começava a fazer um movimentozinho de camelo com a mandíbula, tentando mastigar com as gengivas, levando a língua de um lado ao outro da boca. A partir desse dia parei de amassar sua comida e comecei a testar as texturas. Ela conseguia comer fritatta de legumes, ela deixava nacos de parmesão derreterem na boca, ela comia frutas moles em pedaços, e eventualmente aprendeu, como o irmão, a comer uma banana inteira sozinha. Ela come spaghetti que nem adulto [um adulto sem talheres e sem educação, que eventualmente acha graça em chacoalhar os fios de spaghetti no ar como uma cheerleader italiana louca e jogá-los no chão].

Tenho quase certeza de que ela descobriu Deus no dia em que comeu pão pela primeira vez, pois pãozinho em suas mãos (qualquer tipo) é felicidade instantânea, com direito a gritinhos agudos que sempre me lembram gatos brigando.  E come qualquer pão, até italiano, deixando a casquinha dura derreter na boca. Ela come soba com gergelim, acelga gratinada, queijo roquefort, salada de tomates, ovo frito e pizza feita em casa.

Ela tem 10 meses e já faz uns dois que eu simplesmente dou a ela um prato exatamente igual ao nosso (quase sempre com uma porção maior que a do irmão, cujo apetite diminuiu muito depois dos 2 anos, ainda que sempre haja espaço para sobremesa, o safado). Ainda bem, pois ela fica visivelmente brava quando estamos comendo algo diferente.

O que ela pode cortar ou amassar com as gengivas, dou em pedaços maiores. O que pode engasgá-la, corto em pedacinhos bem pequenos, principalmente folhas cozidas. Mas de vez em quando deixo que engasgue um pouquinho, e aprenda a não ser tão esganada. Ou que aprenda a desengasgar sozinha. Parece horrível, mas funciona. E eu nunca deixo ela sozinha comendo qualquer coisa que possa engasgá-la.

Nunca forcei meus filhos a comer feito adultos. Apenas fui observando e testando, observando e testando. Seguindo o ritmo deles. Isso foi ótimo, pois quão fácil é pensar num jantar único para dois adultos, uma criança e um bebê? Também nunca achei que fazia muito sentido ficar dando purê de berinjela sem tempero. Que ser humano come berinjela sem tempero? Se você sempre faz berinjela com missô na sua casa, quanto antes seu filho aprender a comer berinjela com missô, melhor.

Isso me facilitou muito com o Thomas, pois notei que, na fase mais chatinha dele, o que ele recusava não eram os sabores, mas a aparência da comida. Daí comer o Spätzle verde de espinafre mas não as folhas de espinafre, por exemplo.

Eventualmente Laura chegará na fase do não quero, não gosto. Mas agora estou mais escolada e já sei que vai rolar muito Späztle nesse época também. Ninguém reclama, pois é sempre uma delícia. Com ou sem alcachofra.

SPÄTZLE DE FOLHAS DE ALCACHOFRA
(do ótimo Cozinhando sem Desperdício, de Lisa Casali)
Rendimento: 3-4 porções pequenas

Ingredientes:
  • Folhas externas e talos de 4 alcachofras
  • 200g farinha de trigo
  • 2 ovos grandes
  • sal e noz-moscada a gosto
  • 100g manteiga
  • algumas folhas de sálvia
  • queijo parmesão ralado na hora, para polvilhar
  • pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Ferva as folhas e os talos das alcachofras em pouca água, na panela de pressão, por 20 minutos, contados a partir do momento em que a panela começar a chiar, ou em panela comum por 40 minutos. Escorra, e passe aos poucos por um passa-verdura, obtendo um purê (cerca de 1/2 xícara). 
  2. Coloque o purê numa tigela e adicione a farinha, os ovos, sal e noz moscada, e misture vigorosamente com uma espátula até obter uma mistura homogênea, com textura de massa de panqueca americana. Se ficar líquida demais, junte um pouquinho de farinha extra. Se ficar muito espessa, difícil de mexer, junte umas colheradinhas de água. 
  3. Ferva bastante água numa panela grande e cozinhe o spätzle com a ajuda da maquininha ou à mão, despejando um pouquinho de massa numa tábua e cortando fiozinhos com a faca, direto para dentro da panela
  4. Em uma frigideira grande, que comporte todo o Spätzle depois, derreta a manteiga com a sálvia. Conforme o Spätzle for ficando pronto, vá retirado uma escumadeira e jogando na frigideira, para que doure. 
  5. Distribua nos pratos e sirva com o parmesão e a pimenta por cima. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sopa de abóbora-menina pra criança que não come, bebê que começa a comer e mãe que esquece de comer

Thomas de férias.

Pronto, meu sumiço está explicado.

Daí que decidi que esse mês eu começaria a substituir uma mamada da Laura por uma papinha. Ela anda interessada em comida, olhinhos ávidos atentos a tudo que comem na frente dela, e percebi que, por conta da correria, é mais simples começar logo de uma vez a substituição do que continuar tentando inserir papinhas entre mamadas, como eu vinha fazendo.

Aí entra minha loucura.

Pensar em refeições de adultos que pudessem se tornar papinhas, de acordo com as restrições de cada fase (sem queijo, sem ovos, sem peixes, sem castanhas, etc...) foi muito fácil na época do Thomas. Principalmente porque bastava preparar um pouco a mais e eu teria papinhas para aqueles momentos em que você não pode dar um sanduíche de queijo com kimchi batido no liquidificador para seu bebê. Mesmo porque boa parte das refeições vegetarianas dá papinhas bastante nutritivas.

Mas o que fazer quando seu filho mais velho resolve que só come coisa amarela? Macarrão com queijo, pão com queijo, ovo com queijo. Ah, e queijo. Lembra aquela minha alegria de ter filho que comia pad thai com 1 ano e 3 meses? Pois é, passou. Se houver salsinha picada na fritatta, ele simplesmente apanha o prato da bandeja do cadeirão e coloca em cima da mesa. Assim, sem escândalo, apenas com ligeiro olhar de decepção. E então torce o corpo e aponta o dedinho em riste para o prato de bolo, ao que houve um sonoro "não". Explico que só ganha sobremesa quem come o almoço, ele faz bico, chego mesmo a mostrar o livro da gatinha Frida, que comeu a vagem e ganhou biscoito, e, ainda que me peça para ler a história todas as noites, ele não toma Frida de exemplo. Pede para sair do cadeirão e vai brincar, assim, sem almoço.

Tem sido assim quase todos os dias. Minha preocupação com que não morra de inanição me faz preparar uma vitamina de frutas no lanche da tarde, que ele toma com gosto, principalmente se tiver ajudado a escolher as frutas. No fim, não estresso mais, pois ele continua crescendo, é cheio de energia e está saudável. Cansei de berrar, então não berro mais, que não quero que ele associe refeições a momentos desagradáveis. No fim, não é meu lado maníaco-nutricionista que anda chateado, mas meu lado mãe italiana, com filho recusando meu amor em forma de comida.

Então vira questão de honra.

Realmente me recuso a ceder aos caprichos alimentares dos meus filhos. Não cedi aos do meu marido, então não me deixarei dobrar por uma criança de dois anos. Continuo colocando salsinha na comida, até o dia em que, morrendo de fome, ele resolva comer com salsinha e tudo. Quero dizer, minha mãe é enfática ao sugerir que eu simplesmente lhe sirva macarrão e ovo frito pelo resto da vida, porque, tadinho, é só isso que ele come. Mas como eu mesma não suportaria essa dieta por muito tempo, fã de variedade que sou, me veria rapidamente presa à rotina dos múltiplos pratos por refeição, como vi minha mãe fazer a vida toda: arroz com cebola para um, sem cebola para outro, prato que não seja requentado para o terceiro. Tiro no pé.

Depois então de ver meu filho se sustentando a base de suco e pão do café da manhã por alguns dias, resolvi retornar à boa e velha sopa. Chamei-o à cozinha para ver as abóboras inteiras e depois cortadas, seu cheiro, sua cor. Coloquei-o para me ajudar a misturar os pedaços com as ervas que ele fora apanhar comigo no quintal. E quando estava tudo já assado, chamei-o para ligar o botão do liquidificador, o que imediatamente atiça seu interesse pelo conteúdo da jarra. Servi-lhe a sopa na xícara de chá, e ele saiu pela casa bebendo dela feliz e contente, e me devolveu a xícara vazia e lambida.

Para Laura, dei a sopa às colheradinhas, e ela também acabou com toda a sua porção, maior ainda do que eu imaginei que ela tomaria, e, vendo que eu alimentava a irmã com a mesma sopa que ele mesmo ganhara primeiro, Thomas não fez caso de vê-la sentada em seu cadeirão e foi fazer outra coisa.

Feliz com o sucesso de ver meus dois filhos cheios de legumes, fui cuidar da casa e trabalhar um pouco, ao que, lá pelas três da tarde, o ronco do meu estômago me lembrou de que eu mesma não almoçara ainda. A sopinha caiu maravilhosamente bem, quentinha, adocicada, acompanhada da fritatta de tomate que Thomas recusara na noite anterior.

Laura almoçou a mesma sopa por mais dois dias, dando risadinhas e tentando puxar a colher para si. Já avisei o marido que enfrentaremos uma longa temporada de sopas esse ano, e desta vez com certeza não vou sair por aí contando vantagem sobre o apetite aventureiro da minha filha, que sabe-se deus lá até quando isso dura...

SOPA DE ABÓBORA-MENINA E ERVAS
Tempo de preparo: 40-50 minutos
Rendimento: 3-4 porções

Ingredientes:
  • 2 abóboras meninas do tamanho do seu antebraço
  • 2 dentes de alho grandes
  • 1 ramo de sálvia
  • 1 ramo de alecrim
  • 500ml caldo de legumes caseiro
  • azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC.
  2. Lave as abóboras, descasque-as e coloque as cascas numa panela junto com o caldo de legumes e mais 250ml de água. Leve o caldo e as cascas à fervura, com a panela tampada, abaixe o fogo para mínimo e cozinhe por mais uns 15 minutos. Desligue e deixe descansando.
  3. Enquanto isso, corte a abóbora em cubos de cerca de 2-3cm, e coloque numa assadeira onde todos os pedaços fiquem numa camada só. Coloque os dentes de alho ainda com casca e as ervas (sem os galhos, ou lembre-se de tirar os galhos lenhosos depois), tempere com uma pitada de sal, pimenta e um fio generoso de azeite, e misture com as mãos. Leve ao forno por trinta a quarenta minutos, ou até que a abóbora esteja macia e ligeiramente dourada. 
  4. Retire do forno. Coloque na jarra do liquidificador a abóbora, as ervas e os alhos espremidos de suas cascas (descarte as cascas)
  5.  Retire do caldo as cascas de abóbora com uma escumadeira, descartando-as. Coloque o caldo na jarra e bata tudo até que fique homogêneo.
  6. Volte a sopa à panela para reaquecer. Acerte o tempero e acrescente mais água se quiser a sopa mais rala, para beber na xícara, ou deixe apurar no fogo, mexendo sempre, para engrossar um pouco.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sopa de cenoura e tomate na canequinha e panqueca de agrião

Juro que vou voltar a postar com mais regularidade. Juro. O problema não tem sido falta de receitas. Tem saído muita coisa dessa cozinha que chega a passar pelo crivo da fotografia, mas empaca justo na hora do texto. Nenhuma inspiração. E receita por receita, convenhamos que há blogs e livros o bastante por aí apenas com uma receita de sopa, sem mais nada a acrescentar. [Aqui entra minha suprema pretensão de que meus textos de fato agreguem algo ao blog; uso de referência o feedback de vocês, leitores infinitamente pacientes com meus faniquitos.]

Além da falta de inspiração para escrever, andava engolida pela rotina sem rotina, essa coisa enlouquecedora que é tentar manter horários e padrões quando você tem duas crianças pequenas que mudam de comportamento toda semana. E enquanto pequena Laura é iniciada no lindo mundo das papinhas de fruta, meu matador de dragões resolveu ficar enjoado para comer. De novo. E por mais que eu tente manter a calma, oferecer mais de um elemento em seu prato para que pelo menos um ele coma, não surtar quando ele resolve massagear a comida com as mãos, ameaçando comer, e então decidindo que não vai comer nada, depois de ter tornado seu prato imprestável para o consumo de outro ser humano...

...não dá. Eu surto. Um bocado. Eu perco a paciência. Eu dou uns berros. Mando pro banho sem jantar.

Então, uma série de pequenos eventos sem importância sucederam.

Patrícia comentou internet afora sobre adorar assistir aos programas do Nigel Slater. Aquilo me atiçou e, num raríssimo momento de relaxamento, busquei seu programa de TV no YouTube. Assisti a todos os programas numa sentada só, praticamente, com os pimpolhos ao meu lado – atenta ao fato de que Thomas pulou do sofá e correu para a TV, empolgadíssimo com a imagem de peras caramelizadas com queijo Gorgonzola. Nisso, resolvi folhear novamente os livros que possuo dele, em especial o Tender. Eu tinha tudo de que precisava para essa sopa de cenoura e tomate, e sentira-me inspirada pelo fato de ele sair fazendo massinhas de panqueca a torto e a direito para envolver legumes durante o show.

Sopas.

Fiquei muito tempo sem prepará-las, porque Thomas se recusa a me deixar ajudá-lo com a colher, que ele vira de cabeça para baixo ao enfiar na boca, fazendo com que dois terços do conteúdo de sua tigela vão parar no moletom. Então, semana passada, assisti maravilhada enquanto minha mãe servia-lhe sopa de mandioquinha num copinho pequenino, quase do tamanho de um copo de shot.

Gênio.

Comecei a servir-lhe a sopa numa canequinha de ágata branca, pequenina até para suas mãos de filhote de labrador, perfeita para beber a sopa aos goles e para que ele não invente de meter a mão inteira nela, como acontecia com a tigela.


Poder dar-lhe sopa regularmente era a solução para o problema da fase enjoada. Um jeito de garantir que ele comeria mais que pão com ovo. 

Sou totalmente contra enganar crianças, colocando legumes no bolo de chocolate sem contar a elas. Isso só incentiva o hábito da guloseima ao invés de ensinar a comer os deliciosos legumes. No caso do Thomas, percebo que não é o gosto o problema. Às vezes é a textura, como quando descobri que não era da berinjela que ele não gostava, mas do difícil ato de mastigar a casca da mesma. Uma vez sem casca, ele começou a comê-la sem problemas. Outras vezes, ele cisma com o visual do prato. Aquele florete de brócolis não o apetece. Mas em forma de pesto no macarrão, ou como sopa, sim. E picar ou moer algo para inserir em outro prato, para mim, não é enganar a criança: é fazer com que ela tenha a oportunidade de se habituar e gostar do sabor, para que, conforme for crescendo, ir entendendo que aquele molho é feito daquele legume, que assim, inteiro, também é gostoso. Enquanto a lógica ainda não funciona, tasco-lhe sopa de brócolis e gorgonzola, sem a guarnição, e me delicio ao vê-lo ir até o fogão com a canequinha, pedindo repeteco.

A panqueca foi a mesma coisa. Lembrei-me dos blinis de agrião, mas, com pressa, preparei uma massinha básica de panqueca e misturei a agrião muito bem picadinho. Deixei a panqueca no mesmo formato das panquecas doces de café da manhã, e antes que me desse conta, Thomas não apenas comera a sua, assim, com as mãos, como esticava os dedinhos para roubar uma minha e uma do pai. E daí que, numa refeição, o matador de dragões se entupiu de coisinhas saudáveis sem fazer mamãe passar pelo estresse de vê-lo apanhando a folha de agrião e jogando para fora do prato.

Fica a dica. :)

Agora, já que senhor Nigel Slater também foi preguiçoso na hora de escrever a receita, repito a preguiça aqui. Para a sopa, basta refogar uma cebola picada em azeite; juntar um pouco menos de meio quilo de cenoura picada e deixar dourar um pouquinho. Mais meio quilo de tomate picado, uma folha de louro, um pouco de pimenta-do-reino e 1 litro de água ou caldo (usei meio litro de água e meio de caldo de legumes caseiro, que tenho sempre no freezer). Deixe ferver, abaixe o fogo e cozinhe por meia hora. Retire a folha de louro, bata no liquidificador e sirva. Se for usar a estratégia da canequinha, lembre-se de deixar a sopa um pouco mais rala, pois sopas muito cremosas são difíceis de beber na caneca. E também evite qualquer guarnição que possa dificultar para a criança beber a sopa, como ervas picadas.

Para a panqueca, piquei 2 xícaras de agrião muito finamente e juntei a um ovo, uma xícara de leite, uma colher de sopa de manteiga derretida e uma colher de chá de cominho moído. Bati com um fouet e misturei mais 1 xícara de farinha de trigo e 1 colher de sopa de fermento químico em pó. Salguei a gosto (cerca de 1/2 colh. de chá) e fiz as panquecas numa frigideira grande, em porções de 1/4 de xícara cada, mas podem ser preparadas ainda menorzinhas, como bolinhos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Favas brancas assadas com tomate e como cozinhar todo dia

Uma das sensações mais estranhas que tenho desde que me mudei para fora de São Paulo é a de correria tranquila. Um paradoxo. Sinto que tenho mais coisas a fazer do que jamais tive, num ponto em que meu cérebro desprovido de boas noites de sono não funciona sem uma lista de tarefas escrita à mão num caderno, que é revista e reescrita diariamente, para que o exercício de reescrever a lista faça com que planeje meu dia mentalmente de acordo com as tarefas pendentes. Já cheguei no absurdo de programar mentalmente uma ida ao banheiro. Ou, para me sentir mais competente, terminar uma tarefa que não estava na lista e escrevê-la ali apenas para ter o prazer de riscá-la fora.

Louca.

Eu sei.

Mas apesar do intrincado quebra-cabeça de tempo que é trabalhar, cuidar de uma casa, de um cachorro e duas crianças pequenas, há uma sensação de tranquilidade na rotina atarefada que eu ainda não sentira. Ok, há o pânico ocasional quando o mais velho resolve fazer uma birra escalafobética de ciúmes enquanto você dá de mamar e começa a chover, e toda a roupa está pendurada no varal lá fora, e a panela do jantar foi esquecida no fogo e está queimando. Mas ainda assim. Talvez seja o silêncio que acompanha as tarefas. Talvez seja a rotina, que, quase imutável, dá ordem ao caos de infindáveis trabalhos.

A verdade é que nunca disciplina foi tão importante para mim e nunca ela me ajudou tanto. Quando parece que há coisas demais a fazer, ainda assim elas são feitas, e de repente não era nada tão grave, e me vejo contente por ter dado cabo de mais uma pilha de afazeres e sei que nesse tempo que restou posso relaxar de verdade, sem me preocupar, abrir uma cerveja e ver Arrested Development com meu marido. Aprendi a duras penas que procrastinação é a pior coisa do mundo. E ainda que às vezes eu seja acusada de não saber gerir meu tempo, pois não consigo largar tudo e ir dormir quando os outros acham que eu deveria, acho que é justamente o contrário: eu priorizo sempre o que PRECISA ser feito em detrimento do que eu QUERO fazer. Uma vez feito tudo aquilo que precisa ser feito, todo o tempo restante é dedicado ao que eu quero. E uma vez que as tarefas que precisam ser feitas são incorporadas na sua rotina, uma vez que você tenha disciplina para sempre priorizá-las, elas deixam de ser um fardo, pois você elimina a escolha, o dilema entre fazê-las agora ou depois. A resposta é sempre: faça agora, tire da frente, não deixe para depois. Acordo às 6h da manhã todo dia, e antes das 8h30, todos já tomaram café, estão vestidos, criança está na escola, já fui à feira, varri a casa, lavei a louça e botei roupa para lavar. Mato tudo o que é tarefa de rotina o mais cedo possível no meu dia, para que no restante do tempo possa intercalar as tarefas extraordinárias com as necessidades das crianças. É menos estressante simplesmente abdicar do tempo para mim enquanto elas estão acordadas. Como Thomas dorme muito cedo (antes das 19h), tenho a noite para relaxar completamente, ler, ver um filme, descansar. Lutar contra as coisas que você precisa fazer, aprendi, é a maior fonte de stress de todas, e totalmente evitável.

Para que tudo funcione bem, e consiga encaixar na rotina as refeições da família, planejamento é sempre essencial. E minha resposta pronta a quem vira para mim e diz que não tem tempo de cozinhar por conta de uma rotina corrida. Se eu tenho tempo, você que tem empregada para lavar sua louça também tem. O que faltou a você foi um planejamento básico. Descobri isso quando um amigo reclamou que não cozinhava porque não tinha paciência para sair do trabalho e passar no supermercado antes de ir para casa para então chegar e cozinhar alguma coisa.

Sejamos francos: sempre que espero sentir fome para decidir o que cozinhar, acabo fazendo um queijo-quente.

Ao contrário do que eu fazia quando morava nos Jardins, atualmente vou à feira (no caminho de volta de deixar Thomas na escola) e ao supermercado uma vez por semana apenas. Antes de fazer essas compras, abro a geladeira e a despensa e faço um inventário mental do que há lá dentro e do que está para estragar e precisa ser consumido mais rapidamente. Uso o eat your books ou uma busca em blogs para rapidamente encontrar algumas receitas rápidas para preparar o que tenho em casa e, se falta algum ingrediente específico ou algo básico de despensa (como leite, manteiga e farinha) já anoto numa lista para dar cabo disso nessa uma visita ao mercado e à feira. Deixo anotadas as receitas da semana, e as leio para ter certeza de que não há nada a ser preparado com antecedência, como deixar feijões de molho. O que posso adiantar num momento de calmaria, adianto (como cozinhar feijões num domingo entediado e deixar congelado em porções menores). Também já me planejo para reaproveitar restos de ontem, como o risotto ou o arroz com legumes feito em maior quantidade para virar arroz de forno amanhã, ou o macarrão para virar fritatta, etc. Dessa forma consigo cozinhar todos os dias e não jogar nada fora. E quando há tempo livre, simplesmente porque curto cozinhar, é quando sai um bolo, um biscoito, um pãozinho, um sorvete, geralmente à tarde, com a ajuda do pimpolho, para distraí-lo.

No fim, a tranquilidade talvez venha da satisfação em cuidar do meu próprio nariz e de minha família, sem depender de ninguém. Ou do fato de ocupar tanto meu tempo com atividades manuais, que têm um ritmo mais tranquilo e contemplativo que ficar no computador, mesmo quando são frenéticas.

A verdade é que sem disciplina, provavelmente iria à loucura. E a disciplina tem me ajudado não apenas a manter a cozinha andando, mas a reincorporar um hábito do qual andava sentindo uma falta brutal: correr. Comecei no domingo, incentivada pelo marido, e agora tenho corrido um pouquinho, dia sim, dia não, à noite, quando ele chega em casa para ficar com as crianças. É um momento bom, de espairecer a cabeça e colocar o corpo para se mexer de outro jeito que não seja carregando criança ou varrendo quintal, e também um momento engraçado da minha rotina, pois correr, assim como cozinhar, é a união perfeita entre uma tarefa que precisa ser feita e algo que quero fazer.

Essas favas brancas com tomate são o exemplo perfeito de uma deliciosa refeição que pode ser feita com antecedência, em várias etapas, para ser reaquecida durante uma semana corrida. Num dia pode deixar de molho as favas e cozinhá-las, congelando para uso posterior. Em outro, pode preparar o molho e deixar o prato montado na geladeira, esperando apenas ir ao forno. Tenho certeza de que pode mesmo ser congelado já quase pronto, indo ao forno apenas para reaquecer e dourar.

FAVAS BRANCAS ASSADAS COM TOMATES
(De um dos meus livros favoritos: Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Rendimento: 8 como acompanhamento, 6 como principal

Ingredientes:
  • 3 xic. favas brancas, deixadas de molho na noite anterior
  • 1 folha de louro
  • 1/2 xic. azeite de oliva
  • 2 cebolas pequenas, picadas
  • 2 talos de aipo com as folhas mais claras e macias, picados
  • 3 dentes de alho picados
  • 1 lata e meia de tomates sem pele
  • 4 colh. (sopa) salsinha picada
  • 3 colh. (sopa) migalhas de pão amanhecido ou farinha de rosca

Preparo:
  1. Escorra as favas. Coloque-as numa panela com a folha de louro e cubra generosamente com água fria. Leve à fervura. Retire com uma escumadeira qualquer espuma branca que suba à superfície. Abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 1 hora e meia, ou até que estejam muito macias. Tempere com sal no fim do cozimento.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Escorra as favas, reservando 1 1/2 xicara da água de cozimento (o restante, pode congelar para usar em caldo de legumes), e coloque-as numa travessa refratária ou assadeira (usei uma panela rasa com tampa que pode ir ao forno). 
  3. Aqueça 2 colh. (sopa) de azeite numa frigideira e refogue as cebolas até que estejam ligeiramente douradas, mexendo para que não grudem. Remova do fogo e junte o aipo, o alho, tomates, salsinha e o restante do azeite. Tempere com sal e pimenta.
  4. Junte a água de cozimento reservada, derrame tudo sobre as favas e misture bem. Cubra com papel alumínio e asse por 45 minutos. Remova o papel alumínio, mexa as favas com uma colher, adicionando um pouco de água se parecer muito seco. Polvilhe com as migalhas de pão e retorne ao forno, sem cobrir, por mais 30 minutos. As favas devem estar muito macias, dourada em cima, e ainda com algum molho. Sirva quente, com um pouco de azeite extra.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Frenesi e conservinha de abobrinha


O quintal era feiosinho, até minha sogra aparecer com um lindo manacá que não pára de florir. Então, num frenesi de plantação, plantei gardênias. E romã, e meu pé de maracujá moribundo que me segue desde o primeiro apartamento. E um pessegueiro cujo galho solitário comprei por uma ninharia e achei que fosse morrer em uma semana, mas que está repleto de novos brotos. E como forração do vaso amplo, plantei alfaces e rúcula, para colher logo. E também num outro vaso grande, onde plantei duas batatas que estavam brotando na cozinha. E usei as jardineiras velhas e abandonadas que vieram com a casa para plantar minhas ervas: alecrim, cebolinha, sálvia, manjericão, tomilho, coentro, manjerona e duas mudinhas de espinafre, que a moça me garantiu que cresceriam a ponto de não precisar mais comprar espinafre na feira. As duas mudinhas de morango também me paqueraram direito, e ganharam uma jardineira com sol matutino e temperaturas amenas no terraço. E plantei berinjelas. E pitanga, que minha mãe plantou de uma sementinha que lhe dei, vinda de uma pitanga roubada de calçada de São Paulo. E uma enorme muda de limão siciliano, e uma pequenina de mirtilos. No fim do ano, o limão ganhará como forração em seu imenso vaso sementes de radicchio de Treviso, que minha cunhada me deu. As sementinhas de manjericão genovês já brotaram, e esperam o momento certo de serem transplantadas, para o mesmo vaso onde plantarei meus tomates (um repele a praga do outro). Ainda não sei onde colocarei os feijões rajados que germinaram num vidro na cozinha e as favas que estão chegando pelo correio, junto com os tais tomates (variedades selvagens, diferentes), os rabanetes-melancia, o tomatillo mexicano, o manjericão tailandês e as acelgas coloridas. Fiz um enorme vaso de melissas, confundindo com um de hortelã, e depois fiz um de hortelã, agora sim ele mesmo. Plantei begônias num canto sombreado. Há ainda uma bandejinha de pimentas sortidas que serão semeadas, pois eu quero mudas de jalapeño e habanero. E ainda quero plantar abobrinhas, muito mais pelas flores frescas que pelas ditas-cujas.



Frenesi de plantação.
E tem meu pinheiro, minha tuia-maçã, que está entrando no lugar de uma touceira que só servia para acumular aranhas e pernilongos.

Quem lê, pensa que moro num sítio. Quem me dera. Meu frenesi é em vasos, todos acumuladinhos contra as paredes ensolaradas. Vamos ver no que vai dar. Adoraria ter uma produção tão prodigiosa de frutos ou legumes a ponto de precisar produzir conservas para não colocar a perder os alimentos. No entanto, sei que se minhas duas mudinhas de berinjela produzirem cada uma um único fruto, ficarei um bocado contente.

Enquanto isso, minhas conservas vêm de geladeira cheia. É o que dá quando você diz aos amigos e família que podem "trazer o que quiserem para colocar na grelha", e, todos muito generosos trazem o bastante para cada um produzir seu próprio churrasco veggie. A geladeira lotou e quem me conhece sabe que geladeira cheia me dá siricutico. Daquelas que você abre a porta e não enxerga o que está no fundo. Você sabe que não vai dar tempo de consumir tudo, e se há algo que me enerva profundamente é jogar comida fora. Num ponto que já cheguei a usar a sardella que sobrou de um encontro com amigos como molho de macarrão. Só para não ir para o lixo. (Daí que pretendo me arranjar um minhocário, para unir o útil ao agradável, e o que não virar molho de macarrão ou caldo de legumes, pelo menos vira composto para adubar o jardim e, quem sabe, produzir mais de uma berinjela por muda.)

Nisso, me vi com uma braçada inteira de abobrinhas e lembrei imediatamente de uma conservinha rápida (rápida de fazer e de consumir) da Marcella Hazan, que sempre quisera preparar. Fiz o dobro da receita e ficou uma delícia (a transcrição abaixo é da quantidade original da receita), apesar de ter usado vinagre branco, pois não havia do tinto na despensa. A hortelã veio direto do quintal, essa sim, quentinha de sol e tinindo de fresca.

Retire as extremidades de meio quilo de abobrinhas, e corte-as em palitos finos, de de uns 6-7cm de comprimento. Coloque em uma frigideira grande com 1/3 xic. de azeite de oliva, 1/3 xic. de vinagre de vinho tinto (ou branco, como usei), 3 dentes de alho descascados e meio amassados e sal a gosto. Leve ao fogo baixo por cerca de 30 minutos, ou até que todo o vinagre tenha evaporado e as abobrinhas estejam macias, mas ainda um pouco firmes. Você vai saber que o vinagre evaporou porque o óleo que sobra começa a dourar os vegetais. Coloque numa tigela e misture a umas 10 folhas de hortelã fresca. Essa não é uma "conserva" propriamente dita, de meses ou de prateleira de armário: pode ser consumida na hora ou ficar até uma semana na geladeira, coberta.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Muttar Paneer e birra de criança


E quando você tem um blog de culinária há tantos anos que já não se lembra de ter ou não publicado uma receita? Isso acontece com frequência comigo quando se trata de pratos que já preparei várias vezes. Não consegui encontrar no blog nenhuma referência a mutaar paneer, mas se parecer familiar a alguém, considere isso um reforço na minha recomendação. ;)

Adorei o conceito desse prato desde a primeira vez que vi Nigella preparando-o em seu programa de TV, e adorei ainda mais quando o fiz em casa, a primeira, a segunda e a décima oitava vez. É rápido, prático, e costumo ser tendenciosa no meu julgamento de qualquer coisa que tenha sotaque indiano.

Thomas, que desde as papinhas come temperos fortes como curries e pimentas, não estranhou. Comeu metade do prato com gosto, mas depois fez birra e não quis sobremesa. Simplesmente tirei o prato dele, lavei suas mãozinhas e deixei que saísse para brincar. Sem estresse.

O que me fez lembrar de quando ele fez birra a primeira vez. E como fiquei maluca com isso. O choro histérico (de mãe e filho), a comida no chão, a colher voando longe, e eu sem entender por que diabos meu filho recusava algo que até o dia anterior ele comera com gosto.

Isso passou.

Não a birra. O drama.

Birras existem e sempre vão existir. Um dia, é sono. Esse é fácil de reconhecer: não quer comer (nem mesmo a favorita e irrecusável banana), não quer beber água, no colo está ruim, no chão está pior. Chupeta e berço. Resolvido. Come um lanche reforçado quando acordar.

Noutro dia, é o dente. Qualquer comida que ofereça a menor resistência machuca. Irrita. Não quer comer, não quer colo e colocar no berço achando que é sono piora as coisas. Choro incessante. Pura histeria. Sofá e desenho. Distrai da dor. Resolvido. Mamãe faz um arrozinho com tomate, bem molinho, gostoso e fácil de comer, de jantar.

Num terceiro dia, é simplesmente falta de apetite. Porque adulto às vezes está sem fome, e olha para a comida e não quer nada. Tem dia em que ele comeu meio pãozinho a mais no café da manhã e na hora do almoço não tem fome. Brinca com o garfo, tira a comida do prato e coloca na bandeja do cadeirão, aperta nos dedos, bota de volta no prato. Comer, nada. Dois bocadinhos, se tudo isso. Ele se diverte, mas não come nada. Sem drama. Tira o prato, deixa a criança sair pra brincar. Lanchinho reforçado depois. Resolvido.

Às vezes, pelo meio da refeição, a birra vem. Brincadeira com a comida, garfo jogado no chão, prato virado ao contrário. Não é sono, não é dente, não é falta de apetite. É frustração. Frustração porque quer comer sozinho mas a mãe não está deixando, ou frustração porque quer comer sozinho mas suas habilidades ainda são parcas e dá muito trabalho colocar o arroz na colher e a colher na boca sem derrubar tudo pelo caminho. Nessa hora, pergunto: "posso ajudar?", e tento pegar o garfo da mãozinha dele. Se ele deixar, ele come ainda boas garfadas com mamãe ajudando.

Ou, para distrair da brincadeira da comida, de fazer montanha com purê de batata, basta um copo d'água. E, saciada a sede, ele volta a comer.

Ninguém está morrendo de fome, ninguém está desnutrido, ninguém deixa de comer a coisa certa na hora certa. Mas, principalmente, ninguém está estressado: nem mãe nem criança.

Normalmente, a não ser que o atirador de garfos tenha feito muita porcaria com sua comida, simplesmente guardo o pratinho na geladeira e dou de novo no jantar. Quase sempre ele come aquilo que ele recusou no almoço. Principalmente se eu, espertalhona, jogar algumas uvas-passas no meio (que o bicho adora) para abrir-lhe o apetite.

Então deixo aqui essas duas dicas. Claro, nem toda criança é igual. Mas birra de criança na hora de comer irrita qualquer mãe. Se você começou a lidar com isso pela primeira vez, a primeira dica: não estresse. Quanto mais irritada você ficar, mais a criança vai captar essa irritação e responder a ela. Não quer comer, não come. Come depois. Come amanhã. De modo geral, criança com fome come. A não ser que ela esteja incomodada com outra coisa (sono, dente, fralda cheia, etc...) ou que a comida seja difícil de ela comer (alface para quem não tem molares, por exemplo). Thomas detestava feijão quando menor, porque não conseguia triturar a casca do feijão e se engasgava. Hoje come qualquer tipo. Ainda não é fã de grão-de-bico, que é mais firme. Num dia ficou irritado por não conseguir comer milho. Na semana seguinte, andava por aí com a espiga na mão, metendo-lhe os dentinhos.

E sim, no dia seguinte, Thomas comeu todo o seu mutaar paneer.

E a segunda dica é: faça muttar paneer. Já fiz duas versões: a de um livro indiano, com mais ingredientes e etapas, e a versão adaptada da Nigella, que eu, no meu direito, adapto também. Como nunca tenho extrato de tomate, uso um ou dois tomates de alguma lata que eu tenho aberto. Nunca uso caldo de legumes, não precisa, o prato já é saboroso só com água. E uso queijo-coalho no lugar do indiano paneer, sempre com sucesso. Aliás, ele é ótimo para substituir o grego haloumi também. Não é a mesma coisa, mas tenho um amigo que fazia o inverso: morando em Londres, desejando queijo-coalho, usava o haloumi no lugar.

MUTTAR PANEER
(Adaptado do livro Feast, de Nigella Lawson)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 250g queijo coalho (retire os palitos, se houver, e corte em cubos pequenos)
  • 1 cebola, picada
  • 2 dentes de alho, picados
  • Gengibre fresco (cerca de 2,5cm), descascado e picado
  • 1 colh. (chá) garam masala ou curry em pó
  • 1 colh. (chá) cúrcuma
  • 350g ervilha congelada
  • 1 tomate fresco bem maduro picado ou retirado de uma lata
  • 250ml água
  • óleo vegetal

Preparo:
  1. Aqueça um fio de óleo numa frigideira ou panela grande. Doure o queijo no óleo, tomando cuidado, pois pode espirrar um pouco na hora de virar os cubinhos. Retire os queijos dourados com uma escumadeira e reserve. 
  2. No mesmo óleo (acrescente mais um fio, se precisar), refogue a cebola, o alho e o gengibre até que fiquem macios. Tempere com um pouco de sal e junte o garam masala e a cúrcuma. Mexa bem, deixando os temperos tostarem um pouco no óleo, por 1-2 minutos.
  3. Junte as ervilhas, mexa, e junte o tomate e a água, amassando o tomate com a colher e mexendo bem. Abaixe o fogo e deixe apurar por uns cinco minutos, até que a água tenha reduzido bem e formado um molhinho grosso, uns cinco minutos. 
  4. Desligue o fogo e junte o queijo reservado. Sirva com arroz. Delicioso com arroz integral. (Transformado em purê, com o arroz, fica uma ótima papinha.)

Cozinhe isso também!

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