sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vermelho assado em molho de tomate

Uma das coisas de que mais gosto no hábito de ir à feira é estabelecer uma relação de confiança com as pessoas que lhe vendem sua comida. Coisa mais difícil de se fazer em determinados supermercados, em que os postos de trabalho são rotativos e ninguém se lembra de que você esteve lá ainda no dia anterior. Um vendedor me ganha normalmente quando ousa falar mal do próprio produto: "Não leve esse brócolis não, que está feio, vou pegar outro em outra banca" ou "A anchova não está nada boa hoje; posso recomendar algo melhor e mais barato?" Quando você entende que pode confiar naquela pessoa atrás da bancada é a melhor coisa do mundo. E agradável é também voltar duas semanas depois (pois como gosto de muita variedade, os legumes acabam durando duas semanas), e o vendedor perguntar se você gostou daquela variedade de mostarda que você nunca provara antes de ele recomendar, ou se aquele peixe assado inteiro deu certo, ou se experimentou a receita dos feijões-de-corda.

Ando gostando de conversar com meu novo peixeiro. Descendente de japoneses, simpático e prestativo, ele me ensina qual peixe usar para a receita que descrevi e sai dando seus pitacos e me repreendendo quando estou prestes a fazer bobagem, o que acho muito engraçado. Foi ele quem sugeriu o uso do Vermelho para esta receita que apenas pedia por "peixe branco firme".

"Nunca comi Vermelho. É bom?"
"É sim. Eu gosto muito."
"Mas ele vai bem com molho de tomate?"
"Vai sim, ele não é suave o suficiente para sumir no molho."
"Você deixa ele preparadinho para mim, só para que eu corte do tamanho certo?"
"Claro, mas vou deixar a pele."
"Não, não precisa, é tipo ensopado."
"Confie em mim, vou deixar a pele. É gostosa!"
"Então tá, né..."

Enquanto converso com ele, um homem mais velho, cabelos brancos na cabeça e nos antebraços, cigarro pendendo do canto dos lábios, abre o peixe inteiro, limpa, retira as escamas, fileta. Ele se movimenta rápida e violentamente com o facão enorme e suas feições me fazem pensar num marinheiro velho de histórias infantis, envolvido em pirataria.

O Vermelho funcionou lindamente nessa receita de Tessa Kiros, que quis preparar assim que comprei o livro. Ela pedia 1kg de filés, o que deve dar o dobro do que usei, mas mantive a mesma quantidade de molho, pois molho de tomate nunca é demais. ;) Parecia perfeito para uma noite quente. O peixe se desmanchando num molho espesso de tomates, limão siciliano e alho, para ser comido aos bocadinhos, usando belos nacos de pão italiano como talheres, e acompanhado de uma cerveja gelada e refrescante. O tipo de refeição que arranca você de repente da cidade cinza e o transporta para qualquer lugar de areia branca, brisa fresca e salgada, sussurros das ondas tocando suas orelhas.

VERMELHO ASSADO COM TOMATES
(quase nada adaptado do livro Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 10 min. + 1h-1h10 de forno
Rendimento: 4 porções se houver acompanhamento, 2-3 se for prato único, com pão


Ingredientes:
  • 2 filés com pele e sem espinhas, de um Vermelho de 1,25kg (pesado inteiro - não pesei os filés)
  • 1 lata de tomates italianos sem pele
  • 1 punhado de salsinha fresca picada
  • 4 dentes de alho grandes, picados
  • suco de 2 limões sicilianos
  • 1 1/2 xic. salsão picado
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 3 colh. (sopa) azeite
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Corte os filés em pedaços de 7cm de largura e os distribua em uma única camada em uma travessa grande refratária, assadeira ou caçarola baixa que vá ao forno.
  2. Em uma tigela, misture todos os outros ingredientes e esmague os tomates com um garfo. Acerte o tempero.
  3. Despeje o molho sobre os peixes e dê uma sacudidela na travessa, para que o molho se espalhe e cubra todos os pedaços de peixe. Cubra com papel alumínio e leve ao forno por 30 minutos.
  4. Retire o papel alumínio, aumente o fogo para 200ºC e asse por mais uns 40 minutos, até que o molho tenha engrossado e o peixe pareça dourado em alguns pontos. Fique de olho para que não fique tão espesso a ponto de queimar o molho (35 minutos foram suficientes no meu forno).
  5. Sirva com mais um fio de azeite e pão com crosta para acompanhar. (A autora diz que fica muito bom frio, também, mesmo direto da geladeira. Vamos ver, pois sobrou um punhadinho que está lá na geladeira...)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Para os dias quentes: massa de torta feita com óleo

De vez em quando me escrevem com dúvidas a respeito da massa para tortas que uso sempre. A maior dúvida é sempre na hora de abrir, pois dizem que a massa é mais difícil de manipular do que esperavam. Infelizmente tudo o que posso dizer nessas horas é: pois é, é isso mesmo. Eu uso uma boa quantidade de manteiga na massa, pois gosto dela bastante flocosa. Isso faz com ela seja um desastre em dias (ou mãos) quentes. Ainda assim, é uma massa que perdoa alguns deslizes: se ela estiver se despedaçando ou grudando, você pode jogá-la aos bocados na forma e ir juntando como der, sem pensar no resultado estético, e ela mesmo assim ficará gostosa. Só não terá aquela linda bordinha bem desenhada.

O caso é que nesse calorão, nem eu me atrevo a fazer pâte brisée. É frustração na certa. No desespero por torta, usava a batedeira planetária com a pá. O único problema é que ela demora um pouquinho e acaba deixando os pedacinhos de manteiga muito pequenos e uniformes, e a massa fica um pouco firme demais para meu gosto.

Para dias quentes, muitos recomendam o processador. Ele mistura tudo rápido o suficiente para que a manteiga continue gelada e tudo dá certo no final. Isso anda me dando uma coceirinha atrás da orelha. Isso e a possibilidade de fazer massa folhada e mais um monte de outras receitas dos meus livros que pedem o processador. Além disso, meu liquidificador mequetrefe está à beira do suicídio.

Eu quero um processador. Mas o que eu quero, da Cuisinart, grandão, não encontro, sumiu das lojas por aqui. E fica a pergunta: vocês têm processador? Gostam? Usam? Recomendam?

Enquanto Papai-Noel não me traz um, no entanto, nós seres humanos precisamos de torta. E minha salvação nesse calor infernal foi encontrar uma boa massa de torta feita com óleo, mais fácil de manusear, pois não depende da temperatura. Por isso, também não é preciso gelá-la, e você pode fazer a massa enquanto o forno pré-aquece, e preparar o recheio enquanto a massa assa com feijões dentro. Ou seja, torta de última hora, jantar vapt-vupt! Usem óleo de canola, que tem pouco sabor, ou algum óleo/azeite que vá combinar com o recheio, pois o sabor fica tão forte quanto o gosto de manteiga numa torta comum.

MASSA DE TORTA COM ÓLEO
(do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 1 torta de 20-22cm de diâmetro, rasa.
Tempo de preparo: 10 minutos


Ingredientes:
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. óleo de canola
  • 2 colh. (sopa) leite, leite de soja ou água
Preparo:
  1. Misture o sal e a farinha em uma tigela. Em outra, misture o óleo com o leite. Junte os líquidos à primeira tigela e misture até que se pareça com uma massa.
  2. Forme uma bola, achate-a e abra-a no tamanho desejado entre duas folhas de papel-manteiga, até que a massa tenha uns 3mm de espessura.
  3. Retire o papel-manteiga de uma das faces e inverta a massa sobre a forma da torta. Não se preocupe se ela se quebrar, é só juntar na forma, pressionando bem. Remova a segunda folha.
  4. Asse-a como qualquer outra massa, de acordo com a receita original. Você não precisa gelar a massa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Amor é receita de sorvete de doce de leite

Para quem anda me achando mal humorada, é verdade, estou meio de pá virada mesmo. Ando com uma preguiça imensa de tecnologia. Preguiça de câmera fotográfica, tratamento de foto, internet, email, twitter... enjoei. Tenho coceira só de olhar para o computador. Estou louca para terminar os trabalhos programados até o fim do ano e dane-se, declaro férias, boto os pés para cima e me esbaldo em litros e litros de sorvete caseiro. Porque, nesse calor, quem quer comer outra coisa?

E esse post é a prova de que eu me importo sim com vocês. Porque se não me importasse, eu guardaria as boas receitas às sete chaves, escreveria num caderninho secreto, ficaria famosa entre família e amigos por preparar essa delícia, e apenas meus netos e bisnetos, após minha morte, é que colocariam suas patinhas na receita. [Meu plano é morrer dormindo, bem velhinha, depois de ter corrido mais uma maratona. 120 anos, aqui vou eu!]

Então, é isso. Se você é um louco desvairado por sorvete de doce de leite, vai me agradecer de pé junto pelo resto da vida, porque esse sorvete não apenas é sensacional, mas é também muito fácil, uma vez que não leva ovos, e você só usa o fogão porque tem que dissolver o doce pronto no leite. Quer coisa melhor? Duro é a paciência para gelar o bichinho antes de colocar na sorveteira, mas é só lembrar do preço do Haagen-Dasz, que você fica calminho, calminho.

Use seu doce de leite favorito. O meu, graças a Deus, é dos mais fubangas. O doce de leite da minha infância sempre foi o da lata de leite Moça cozida na panela de pressão. Então mesmo sabendo que há uns argentinos e afins que são sensacionais, não resisto a esse prazer saudosista e mais barato.

A receita original produzia o dobro de sorvete, que não cabe na minha sorveteira (ela não faz mais de 1,5l) e transbordaria tudo, como já aconteceu uma vez. Eu poderia ter recalculado para usar a lata de doce inteira (os 395g), mas mantive o número quebrado para poder incorporar o resto de doce de leite ao sorvete pronto, produzindo aquelas deliciosas surpresas de doce cremoso no meio do sorvete geladinho. Nham...

SORVETE DE DOCE DE LEITE
(quase nada adaptado do livro Professional Baking)
Rendimento: cerca de 850ml, dependendo do overrrun
Tempo de preparo: 10 min. + 6 horas geladeira


Ingredientes:
  • 375g leite
  • 395 doce de leite cremoso (usei a lata de doce de leite para corte da Nestlé)
  • 95g creme de leite fresco
  • 1/4 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1 pitada de sal
Preparo:
  1. Leve o leite e 280g doce de leite ao fogo em uma panela de fundo grosso, até que o doce esteja completamente dissolvido. Mexa de vez em quando, para não queimar e ajudar a dissolver.
  2. Junte o restante dos ingredientes, misture bem e leve à geladeira por 4 horas ou até que esteja bem gelado.
  3. Prepare o sorvete na sorveteira, de acordo com as instruções do fabricante. Enquanto isso, deixe o pote em que vai guardar o sorvete no freezer, para gelar um pouco. Coloque o sorvete no pote geladinho, intercalando com colheradas do que restou de doce de leite. Leve ao freezer imediatamente, e deixe firmar um pouco por pelo menos 2 horas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Noite de antipasto

Acho que toda família tem a noite do sanduíche. Na casa de meus pais costumava ser aos domingos, quando minha mãe estava sem paciência ou inspiração para cozinhar, e ela passava na padaria, comprava pão francês e frios e jantávamos sanduíches. O caso é que, se você não come frios (peito de peru, presunto, mortadela... tudo carne, claro), a noite do sanduíche pode ser bem, bem chata. Adoro queijo, mas pão com queijo, assim, só, não tem muita graça. E mesmo que você compre mozzarella, provolone, queijo prato... ainda assim, depois de tudo misturado, é só mais um sanduíche de queijo. :P

Por isso eu muitas vezes troco a noite do sanduíche pela noite do antipasto. Monto um prato com berinjela grelhada e temperada com azeite, sal e pimenta (o que sobrou da berinjela da pizza), pimentões sem pele (chamuscados na chama do fogão, descascados e temperados com bastante azeite), tomates bem maduros com sal moído grosso, azeitonas kalamata, mozzarella de búfala fresquinha e macia, e fatias de pão tostadinhas com alho. E é só ir montando pequenas bruschette, ou ir apanhando bocadinhos com um garfo, e bebericando um vinhozinho gostoso. Quem precisa de prato principal?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Pizza alle melanzane para férias que não chegam nunca

Preciso de férias. E já em meados de novembro, acredito que muita gente também precise. Eu particularmente anseio pelas férias entre Natal e Ano-Novo, férias coletivas de muita gente, principalmente clientes, pois, a não ser que eu DECLARE férias e suma de casa por um período pré-determinado, é simplesmente impossível relaxar.

E eu tentei. Noutro dia mesmo, sol de rachar, trabalhos entregues, achei que bem que podia apanhar minhas coisinhas e ir para a piscina do clube. Assim, meia horinha, ninguém vai sentir minha falta. O protetor solar mal secara nos meus ombros, e o celular já estava tocando. "Oi, aquele trabalho que era para semana que vem, pode ser para hoje?"

Pode, pode.

Ficar em casa, então, nem pensar. Computador ligado é sinônimo de estresse. Ou você se estressa porque chegou email de cliente ou porque não chegou. É só decidir se dar dez minutos para sentar a busanfa no sofá e terminar o capítulo do livro, que pimba! aquele trabalho encalhado há meses volta com a força toda. E ainda tem toda a canseira mental de pensar que aquele cliente que tentou entrar em contato com você durante suas auto-declaradas férias pode nunca mais chamá-lo para nada. Bem diferente de sair com férias pagas e saber que seu emprego continua ali esperando por você.

Ok, chega de reclamar. Meu ponto é que, para quem trabalha por conta, principalmente em casa, ou você sai do país, ou aproveita as férias coletivas dos seus clientes.

E conforme a quantidade de trabalho vai diminuindo nessa época, minha mente vai ficando mais ansiosa pelo ritmo de férias. Ontem foi um dia em que não consegui parar de pensar na santa tríade piscina-cerveja-cochilo. Talvez por isso tenha tido tanta vontade de cozinhar algo mais informal, mais divertido. Toda vez que decido preparar pizza, no entanto, é a mesma história: a vontade bate meia hora antes do jantar, e já não dá tempo de preparar a maravilhosa massa de 24 horas, e vai a de 15 minutos mesmo.

Sem problemas. Coloquei o granito na grade inferior do forno e, enquanto ele aquecia no máximo, preparei a berinjela. [Como sempre tem um perdido me mandando email, vá numa marmoraria e peça para cortarem um pedaço de granito do tamanho do seu forno, com 2cm de espessura. Pronto: pedra de forno. Todos os meus outros "equipamentos" estão no FAQ.] Coloquei a grelha no fogo e deixei que soltasse fumaça de tão quente. [Vai, coloca na listinha do Papai-Noel: grelha de ferro fundido. É a MELHOR coisa do mundo para preparar berinjelas, abobrinhas e afins.] Fatiei fino uma berinjela grande e coloquei as fatias na grelha pelando, virando-as quando apresentavam lindas listrinhas pretas em sua carne pálida. Coloquei-as em uma tigela e temperei-as com sal, pimenta-do-reino e um fio generoso de azeite.

Preparei a pizza misturando 400g de farinha de trigo a 1/4 colh. (chá) de sal. Fiz um buraco, coloquei 1/4 colh. (chá) de açúcar, 5g fermento ativo seco instantâneo, 250ml de água e um fio de azeite e deixei quieto por 5 minutos. Então voltei e misturei tudo com um garfo, depois sovando a massa até que ficasse elástica e macia. Polvilhei farinha e embrulhei em filme plástico, deixando repousar por 15 minutos.

Retirei o plástico e abri a massa com um rolo polvilhado de farinha, até que o disco de massa estivesse do tamanho do meu salva-bolos, que uso como pá de pizza (uns 35 a 40cm). Polvilhei o salva-bolos com farinha de milho e coloquei a massa sobre ele.

Já usei vários molhos de tomate nas pizzas, mas meu favorito é o mais simples: apenas misture uma lata de tomates italianos pelados a 1 colh. (chá) de sal e esmague os tomates até obter uma polpa. Isso é suficiente para 4 ou 5 pizzas, mas você pode usar o restante para a próxima macarronada ou mesmo congelar para as próximas pizzas.

Espalhei umas 2-3 colh. (sopa) de molho sobre a massa e salpiquei um dente de alho picadinho. Dispus as fatias de berinjela grelhada, uns 120g de queijo feta esmigalhado, folhas de manjericão e um fio de azeite. Foi para o forno, diretamente sobre a pedra, por 10 minutos, ou o suficiente para que a massa estivesse cozida (algo entre 7 e 10 está bom). Por isso é importante não fazer bordas muito gordinhas. Como o forno caseiro não é tão quente quanto o forno à lenha, até as bordas gordas assarem completamente, a parte de baixo da pizza já estará crocante ao invés de macia. Também já desisti daquele lindo visual de massa dourada e queimadinha. Não rola. Fica pálida mesmo.

O problema da pizza caseira é que ela sai direto do forno para seu prato, bem mais quente do que pizza pedida fora. É batata: vou muito afoita e queimo o céu da boca. Então, cuidadinho... ;)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sorvete de Daiquiri para relembrar vexames adolescentes

Atire a primeira pedra quem nunca na adolescência pediu um drink doce e cremoso num bar. Meus drinks favoritos quando tinha lá meus dezoito anos e não sabia beber [hoje a manguaça corre solta] eram Sex on The Beach e Alexander. Um colorido e outro cremoso. Ambos grandes fornecedores de dores de cabeça no dia seguinte. Esses tempos se foram [graças a Deus], e apenas seriamente coagida eu sentaria num bar e pediria qualquer bebida com leite condensado na fórmula.

Talvez por isso não tenha dado o devido valor a esse sorvete quando passei meus olhos por ele da primeira vez. Quer saber? Não preciso de nenhuma violência para me fazer comer esse sorvete. Ele é delicioso, cremoso, refrescante, e, preparem-se para o cliché dos clichés: tem gosto de verão. [Aah! Você não achou que eu teria coragem de escrever isso, mas ah, eu fui lá e escrevi mesmo assim! It's funny because it's true...!]

Finja que você vai de fato, sem rir nem nada, preparar um Daiquiri. [Se é que Daiquiris são assim, eu nunca tomei um na vida. Ou posso ter tomado mais de um, ter tido uma ressaca imensa e ter convenientemente esquecido que bebera Daiquiri. Vai saber? Bêbado é uma droga, mesmo.] Bata no liquidificador uma lata de leite condensado (395g), 3 xíc. de abacaxi picado em cubos, 1 xic. de banana fatiada, suco de limão a gosto e 1-2 colh. (sopa) de rum escuro. Cuidado com a quantidade de rum, ou o sorvete pode não firmar caso você use demais. Coloque na sorveteira e siga as instruções do fabricante. Se o dia estiver muito muito quente, deixe a mistura na geladeira por algumas horas antes de colocar na sorveteira.

A receita é do livro Cook 1.0, de Heidi Swanson.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Moelleux au chocolat de Ludivine


Há umas duas semanas atrás, Ludivine levou à aula de aquarela um bolo de chocolate intenso e cremoso, do qual comi muitos pedaços, e que ficou ecoando em minha memória gustativa até hoje. Normalmente não gosto de bolos como esse, pois eles tendem a ser enjoativos. Uma fatia e basta, não quero mais. Este, no entanto, é diferente: feito com manteiga francesa salgada e chocolate a 70% de cacau, ele adquire uma complexidade inesperada, dados os tão poucos ingredientes. O sal da manteiga ao mesmo tempo exalta e controla o chocolate, e foi isso o que me conquistou.

Todos pediram a receita, e Ludivine foi ditando, assim de cor, confundindo termos com seu forte sotaque francês. Fui anotando, mas houve contratempos... Primeiro, ela usa uma forma de silicone não untada, coisa que não tenho. Segundo, ela especificou forno baixo, mas não soube dizer por quanto tempo, uma vez que a mesma receita cozinha em tempos diferentes aqui no Brasil e na França. Logo, tive de imaginar um modo de o bolo não grudar em minhas formas de alumínio e ao mesmo tempo desenformar fácil (uma vez que ele é bem molinho) e tive de ficar de olho no tempo de forno.

No fim, tudo deu certo e o danado ficou muito muito bom. Tanto que eu pretendia dividir com vocês o bolo de limão que preparei na semana passada, mas este de chocolate com certeza mereceu a dianteira. Ele é delicioso em temperatura ambiente, na qual pode ser mantido por 3 dias, ou saído direto da geladeira, onde ele firma um pouco. E é sensacional com sorvete de creme, como qualquer bom bolo de chocolate.

Não estranhe a textura. O bolo deve sair do forno firme nas laterais e ainda tremendo no centro, bem molinho (como o próprio nome diz). Ao esfriar, ele afunda e adensa, ficando mais fácil de cortar. MOELLEUX AU CHOCOLAT DE LUDIVINE
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 8 pessoas


Ingredientes:
  • 200g manteiga COM SAL (de preferência President, mas deve funcionar bem com Aviação, que é bastante salgada)
  • 200g chocolate amargo 70% cacau (sem gordura hidrogenada!)
  • 4-5 ovos (usei 4 extra-grandes)
  • 160g açúcar
  • 1 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 50g chocolate amargo, ao leite ou branco para quebrar dentro da massa
  • 1 colh. (sopa) açúcar para polvilhar

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 160ºC. Se usar uma forma de mola, que vede bem, apenas unte e enfarinhe. Se for uma forma de fundo removível (como eu usei) ou comum, forre com papel alumínio que suba além das laterais e unte e enfarinhe o papel (que evita que a massa bem mole vaze no forno e facilita para desenformar). Se a forma for de silicone, não é preciso untar. Qualquer uma das formas deve ter entre 20 e 22cm de diâmetro (mais alta se for menor, mais baixa se for maior – a minha, de fundo removível, tem 20cm de diâmetro e uns 6cm de altura, e o bolo cresceu até uns 5cm antes de afundar).
  2. Corte a manteiga e o chocolate em pedaços e derreta em banho-maria. Enquanto isso, bata os ovos e o açúcar até que fique mais claro e fofo (uns 5 minutos).
  3. Junte o chocolate derretido aos ovos, misturando bem sem perder muito volume, e em seguida a farinha.
  4. Despeje a massa na forma. Quebre ou pique o outro chocolate em pedaços pequenos e distribua sobre a massa. Leve ao forno por 20-30 minutos, ou até que as laterais estejam firmes ao toque, mas o centro balance como um pudim.
  5. Retire do forno e coloque em uma grade para esfriar. Polvilhe o açúcar por cima, para que ele caramelize um pouco com o próprio calor do bolo. Conforme o bolo esfria, ele afunda no centro e se afasta das laterais. Desenforme quando estiver frio, sem virá-lo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Calzone de espinafre e pimentão vermelho

Respirando fundo. Passada a raiva de ontem, vamos voltar ao que interessa e me deixa de bom humor – e não só a mim: comida.

É comum ver por aí receitas cheias de atalhos práticos para o dia-a-dia. Use base de torta comprada pronta, polenta pré-cozida, massa folhada congelada, etc e tal. Eu adoro fazer justamente o oposto. Apanhar o atalho e retorná-lo ao seu processo original. Não por teimosia ou orgulho, mas porque, se eu sei fazer e tenho tempo, não me parece haver motivo para gastar mais dinheiro com o atalho. Pois atalhos são sempre mais caros.

Esta era uma receita rápida da edição de Abril da revista Gourmet. [Para quem perguntou, se sua assinatura ficou pela metade, você vai receber Bon Appétit no lugar.] Usava pimentões em conserva e massa de pizza congelada. Bastante prático. Mas eu tinha enormes pimentões vermelhos na geladeira, e não me parece esforço nenhum chamuscá-los e picá-los. E, ainda que eu ache as massas de longa fermentação mais complexas em sabor e textura, Jamie Oliver tem uma receita de massa de pizza bastante honesta e que fica pronta em meia hora, em seu livro Jamie's Italy.

Iêeei! Calzone!

Para quatro calzones muito bem servidos, chamusque na chama do fogão um pimentão vermelho bem grande até que fique pretinho, pretinho. Feche-o dentro de um saco plástico e deixe que esfrie. Então retire do saco, retire a pele chamuscada e o miolo com as sementes. Se ficar um pouco de pele chamuscada, não se importe, e não passe na água, pois ela levará embora o delicioso óleo natural que o pimentão soltou, além daquele gostinho defumado. Corte em pedaços de cerca de 2cm e reserve.

Corte uma cebola ao meio e fatie fino. Refogue em um pouco de azeite de oliva e uma pitada generosa de sal, até que comece a dourar. Junte 2 dentes de alho picados e cozinhe até ficar aromático. Junte as folhas bem lavadas e escorridas de um maço de espinafre, e mexa até murchar. Acrescente um punhado de azeitonas pretas picadas grosseiramente, meia pimenta dedo-de-moça sem sementes picadinha e o pimentão vermelho reservado. Misture, acerte o tempero, e retire do fogo.

Numa tigela grande, misture 400g de farinha de trigo, 100g de semolina e 1/2 colh. (sopa) de sal. Faça um buraco no meio e coloque ali 7g de fermento ativo seco instantâneo, 1/2 colh. (sopa) açúcar e 325ml de água. Misture esse centro um pouquinho com um garfo e deixe descansar uns 5 minutos. Em seguida volte a misturar com o garfo, trazendo a farinha em torno para dentro do buraco aos poucos, até que a massa fique mais resistente ao movimento. Entorne tudo na bancada e sove por uns 10 minutos, até que a massa fique macia e elástica. Polvilhe de farinha, embrulhe em filme plástico e deixe descansar por 15 minutos em temperatura ambiente.

Passado esse tempo, divida a massa em 4 porções iguais e, na bancada enfarinhada, abra cada uma das porções em discos de cerca de 20cm. Distribua o recheio sobre uma metade dos discos, deixando uma borda de uns 2cm. Corte 250g de mozzarella defumada, cacio cavalo ou provolone em 16 pedaços iguais e distribua sobre o recheio, 4 pedaços em cada calzone. Dobre uma metade sobre a outra, como um pastel, e, a partir de uma das pontas da meia-lua, vá dobrando e apertando a borda, para selá-la completamente. Com uma faquinha, faça 3 cortezinhos sobre cada um deles, para o vapor sair. Passe um fio de azeite sobre eles e, se estiver usando uma pedra no forno, coloque-os diretamente sobre a pedra quente em forno pré-aquecido no máximo. Se não, coloque sobre uma assadeira polvilhada com farinha de milho e leve ao forno pré-aquecido no máximo. Asse até que estejam dourados, uns 15 minutos (depende do forno). Deixe descansar por 5 minutos antes de servi-los.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Direitos Autorais, coisa que ninguém mais parece saber o que é (UPDATED)

A coisa que mais se discute em fóruns de ilustração e design hoje em dia é direito autoral, plágio, apropriação, etc. Para quem não sabe, direito autoral funciona da seguinte forma: eu desenhei/fotografei/criei, é meu, é meu patrimônio, é patrimônio dos meus descendentes. Quer usar? Por um valor X você pode imprimir aquela imagem na sua camiseta, você pode usar num livro, pode tatuar na testa se quiser.

Eu não sou fotógrafa profissional, o que só quer dizer que eu não tenho um cartão de visitas onde se lê "fotógrafa". O que não quer dizer que eu não tenha investido em cursos, equipamento e que eu não trabalhe com isso. Ou mesmo que meu tempo e meu esforço não tenham valor. Para evitar maiores úlceras estomacais de ódio, minhas fotografias e textos do La Cucinetta (MAS NÃO AS ILUSTRAÇÕES) estão sob o Creative Commons. Quer usar a foto no blog? Usa. Coloca um link ou diz que foi a Ana que tirou a foto. Sem problemas. Quer usar o texto? Idem. Não há nenhum problema, ninguém se machuca.

Agora o que fazer quando é uma empresa que resolve usar sua fotografia? Ela está usando para quê? Para deixar a área de receitas de seu site mais vistosa, gerar visitação, empatia com a marca e, logo, mais vendas. ELA ESTÁ LUCRANDO COM A FOTOGRAFIA.

E se alguém está ganhando dinheiro com meu trabalho, nada mais JUSTO do que quem fez o trabalho ganhar uma parte.

LOGO, SE A EMPRESA NÃO ESTÁ ME PAGANDO PELA FOTOGRAFIA (e nem mesmo dando créditos, diga-se de passagem), ELA ESTÁ ME ROUBANDO. E ISSO É CRIME. É VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS.

Eu vivo de criação. Ilustração (e muitas vezes fotografia) paga meu aluguel. Se todo mundo olhar para meu trabalho e achar que "tá na rede, então o uso é livre", COMO SE ESPERA QUE EU PAGUE MINHAS CONTAS????

O pior de tudo, é que a foto roubada nem mesmo corresponde à receita ao lado.

Aos ladrões, queimem no inferno, porque KARMA IS A BITCH!

É por causa dessa gente mesquinha e ignorante que não dá valor para o trabalho alheio, e que gosta do roubo como saída fácil para cortes em verba de comunicação, que a maioria das pessoas que trabalha com qualquer espécie de arte precisa de um segundo emprego para poder pagar as contas. E não se engane: aquela loja legal de camisetas cheia de fotos do Poderoso Chefão, do Homer Simpson e etc, não pagou cessão de direitos de impressão para os donos das imagens também. Essa prática tem se espalhado numa velocidade alarmante, e quando até empresas que deveriam ser nossos clientes estão nos roubando, eu duvido que haja um único ilustrador ou fotógrafo profissional daqui a 200 anos, pois não vai valer a pena financeiramente fazer cursos ou faculdades se ninguém vai te pagar pelo seu trabalho.

Mandei um email à empresa bastante educado, muito mais civilizado do que esse post-desopila-fígado. Mas quero que vocês visitem o site e vejam as imagens das receitas. Pois eu tenho certeza de que encontrarão muitas fotos suas ali também.

VEJA O ROUBO AQUI.

UPDATE: Olha só como a empresa foi LEGAL [note o tom de sarcasmo aqui]. Bastou que eu fosse alertada por uma leitora [obrigada, aliás!], e escrevesse um email reclamando para que eles dessem o devido CRÉDITO AO FOTÓGRAFO. UAU! Quão magnânimo da parte da empresa... Da próxima vez, que tal FAZER ISSO ANTES???? OU QUE TAL PERGUNTAR SE PODE???? Eles me responderam, no entanto? Não. Não recebi NENHUM email pedindo desculpas pelo "mal entendido".

Depois de escrever esse post, contei a meu professor de aquarela, que me aconselhou a processar a empresa. Mas eu sou muito boazinha e me contento com créditos, SÓ PORQUE É FOTO E NÃO ILUSTRAÇÃO. [PORQUE SE EU VIR ALGUÉM USANDO DESENHO MEU SEM MINHA PERMISSÃO, EU VOU ARRANCAR CADA CENTAVO DO FDP E SEUS DESCENDENTES.] Mas dentro do assunto do meu último post do Desenhoquê, ele me contou que quando resolve usar uma fotografia como referência para uma pintura, ele entra em contato com o fotógrafo para pedir permissão primeiro. Afinal, ele só consegue pintar aquela cena ou detalhe por conta do trabalho do fotógrafo, então, nada mais justo. ISSO É ÉTICA.

Pergunta: vocês que também tiveram fotos roubadas... vocês têm créditos ali também?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Risotto de abobrinha e ervilhas com alcachofras fritas

Havia tanto tempo eu não preparava risotto... Mas fiquei vidrada na fotografia do livro Venezia, da Tessa Kiros, assim que o abri. [Livro lindo, lindo, lindo, cheio de fotos maravilhosas e coisas gostosas, principalmente frutos do mar!] A única coisa que não havia em casa eram aspargos, mas aquela última abobrinha esquecida e a pobre e rejeitada alcachofra de minha geladeira imploravam para serem usadas nesse prato.

Tudo muito simples. Arranquei todas as folhas duras da alcachofra, deixando apenas o fundo e aquelas folhinhas bem macias do centro. Cortei-a ao meio, passei uma faquinha afiada na base daqueles espetos cabeludos e os retirei com facilidade. Então fatiei as metades de alcachofra bem fino, 4 ou 5mm, deixando os pedaços imersos em água com limão.

Fatiei uma abobrinha e piquei meia cebola. Refoguei a cebola em azeite até amaciar bem, então juntei a abobrinha e 1/2 xic. ervilhas congeladas. Temperei com sal e pimenta-do-reino e cozinhei por alguns minutos, mexendo sempre. Juntei 1 xic. de arroz arbóreo. Mexe-mexe-mexe. Estala-estala. Uma taça de vinho branco. Ok, uma para mim, uma para o risotto. Deixei evaporar até virar um xarope. Então caldo de legumes caseiro. Cozinha, cozinha, cozinha. Risotto veneziano costuma ser um pouco mais caldaloso do que em outras partes da Itália. All'onda.

Enquanto isso, escorri as fatias de alcachofra, sequei um pouco com uma toalha de papel e passei em umas duas colheres de farinha. Aqueci óleo vegetal numa frigideira grande e fritei as alcachofras por uns 5-7 minutos, até que estivessem macias e douradas. Deixei escorrendo no papel toalha.

Risotto pronto? Um naco generoso de manteiga, um punhado ainda mais generoso de parmesão ralado na hora e um pouco de salsinha picada. Mistura-mistura-tampa-deixa-quieto. Depois de alguns minutos, distribuo colheradas generosas no prato, disponho as alcachofras por cima, polvilho mais parmesão, um fio de azeite e folhas frescas de hortelã.

Um dos melhores risotti que já fiz. Achei que fossem dar 2 porções, uma vez que fiz metade da receita do livro, mas deram três, por conta da abobrinha grande que fez volume. Delicioso, aprovadíssimo e altamente recomendável. Já tenho uma lista mental de pelo menos 80% das receitas do livro que quero testar nos próximos meses. :)

Não descrevi aqui todos os passos do risotto, porque quem já sabe fazer risotto percebeu que a única coisa diferente de um risotto de legumes normal são as alcachofras fritas. Se risotto ainda é um mistério para você, leia isso.

Cozinhe isso também!

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