quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sopa de abóbora-menina pra criança que não come, bebê que começa a comer e mãe que esquece de comer

Thomas de férias.

Pronto, meu sumiço está explicado.

Daí que decidi que esse mês eu começaria a substituir uma mamada da Laura por uma papinha. Ela anda interessada em comida, olhinhos ávidos atentos a tudo que comem na frente dela, e percebi que, por conta da correria, é mais simples começar logo de uma vez a substituição do que continuar tentando inserir papinhas entre mamadas, como eu vinha fazendo.

Aí entra minha loucura.

Pensar em refeições de adultos que pudessem se tornar papinhas, de acordo com as restrições de cada fase (sem queijo, sem ovos, sem peixes, sem castanhas, etc...) foi muito fácil na época do Thomas. Principalmente porque bastava preparar um pouco a mais e eu teria papinhas para aqueles momentos em que você não pode dar um sanduíche de queijo com kimchi batido no liquidificador para seu bebê. Mesmo porque boa parte das refeições vegetarianas dá papinhas bastante nutritivas.

Mas o que fazer quando seu filho mais velho resolve que só come coisa amarela? Macarrão com queijo, pão com queijo, ovo com queijo. Ah, e queijo. Lembra aquela minha alegria de ter filho que comia pad thai com 1 ano e 3 meses? Pois é, passou. Se houver salsinha picada na fritatta, ele simplesmente apanha o prato da bandeja do cadeirão e coloca em cima da mesa. Assim, sem escândalo, apenas com ligeiro olhar de decepção. E então torce o corpo e aponta o dedinho em riste para o prato de bolo, ao que houve um sonoro "não". Explico que só ganha sobremesa quem come o almoço, ele faz bico, chego mesmo a mostrar o livro da gatinha Frida, que comeu a vagem e ganhou biscoito, e, ainda que me peça para ler a história todas as noites, ele não toma Frida de exemplo. Pede para sair do cadeirão e vai brincar, assim, sem almoço.

Tem sido assim quase todos os dias. Minha preocupação com que não morra de inanição me faz preparar uma vitamina de frutas no lanche da tarde, que ele toma com gosto, principalmente se tiver ajudado a escolher as frutas. No fim, não estresso mais, pois ele continua crescendo, é cheio de energia e está saudável. Cansei de berrar, então não berro mais, que não quero que ele associe refeições a momentos desagradáveis. No fim, não é meu lado maníaco-nutricionista que anda chateado, mas meu lado mãe italiana, com filho recusando meu amor em forma de comida.

Então vira questão de honra.

Realmente me recuso a ceder aos caprichos alimentares dos meus filhos. Não cedi aos do meu marido, então não me deixarei dobrar por uma criança de dois anos. Continuo colocando salsinha na comida, até o dia em que, morrendo de fome, ele resolva comer com salsinha e tudo. Quero dizer, minha mãe é enfática ao sugerir que eu simplesmente lhe sirva macarrão e ovo frito pelo resto da vida, porque, tadinho, é só isso que ele come. Mas como eu mesma não suportaria essa dieta por muito tempo, fã de variedade que sou, me veria rapidamente presa à rotina dos múltiplos pratos por refeição, como vi minha mãe fazer a vida toda: arroz com cebola para um, sem cebola para outro, prato que não seja requentado para o terceiro. Tiro no pé.

Depois então de ver meu filho se sustentando a base de suco e pão do café da manhã por alguns dias, resolvi retornar à boa e velha sopa. Chamei-o à cozinha para ver as abóboras inteiras e depois cortadas, seu cheiro, sua cor. Coloquei-o para me ajudar a misturar os pedaços com as ervas que ele fora apanhar comigo no quintal. E quando estava tudo já assado, chamei-o para ligar o botão do liquidificador, o que imediatamente atiça seu interesse pelo conteúdo da jarra. Servi-lhe a sopa na xícara de chá, e ele saiu pela casa bebendo dela feliz e contente, e me devolveu a xícara vazia e lambida.

Para Laura, dei a sopa às colheradinhas, e ela também acabou com toda a sua porção, maior ainda do que eu imaginei que ela tomaria, e, vendo que eu alimentava a irmã com a mesma sopa que ele mesmo ganhara primeiro, Thomas não fez caso de vê-la sentada em seu cadeirão e foi fazer outra coisa.

Feliz com o sucesso de ver meus dois filhos cheios de legumes, fui cuidar da casa e trabalhar um pouco, ao que, lá pelas três da tarde, o ronco do meu estômago me lembrou de que eu mesma não almoçara ainda. A sopinha caiu maravilhosamente bem, quentinha, adocicada, acompanhada da fritatta de tomate que Thomas recusara na noite anterior.

Laura almoçou a mesma sopa por mais dois dias, dando risadinhas e tentando puxar a colher para si. Já avisei o marido que enfrentaremos uma longa temporada de sopas esse ano, e desta vez com certeza não vou sair por aí contando vantagem sobre o apetite aventureiro da minha filha, que sabe-se deus lá até quando isso dura...

SOPA DE ABÓBORA-MENINA E ERVAS
Tempo de preparo: 40-50 minutos
Rendimento: 3-4 porções

Ingredientes:
  • 2 abóboras meninas do tamanho do seu antebraço
  • 2 dentes de alho grandes
  • 1 ramo de sálvia
  • 1 ramo de alecrim
  • 500ml caldo de legumes caseiro
  • azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC.
  2. Lave as abóboras, descasque-as e coloque as cascas numa panela junto com o caldo de legumes e mais 250ml de água. Leve o caldo e as cascas à fervura, com a panela tampada, abaixe o fogo para mínimo e cozinhe por mais uns 15 minutos. Desligue e deixe descansando.
  3. Enquanto isso, corte a abóbora em cubos de cerca de 2-3cm, e coloque numa assadeira onde todos os pedaços fiquem numa camada só. Coloque os dentes de alho ainda com casca e as ervas (sem os galhos, ou lembre-se de tirar os galhos lenhosos depois), tempere com uma pitada de sal, pimenta e um fio generoso de azeite, e misture com as mãos. Leve ao forno por trinta a quarenta minutos, ou até que a abóbora esteja macia e ligeiramente dourada. 
  4. Retire do forno. Coloque na jarra do liquidificador a abóbora, as ervas e os alhos espremidos de suas cascas (descarte as cascas)
  5.  Retire do caldo as cascas de abóbora com uma escumadeira, descartando-as. Coloque o caldo na jarra e bata tudo até que fique homogêneo.
  6. Volte a sopa à panela para reaquecer. Acerte o tempero e acrescente mais água se quiser a sopa mais rala, para beber na xícara, ou deixe apurar no fogo, mexendo sempre, para engrossar um pouco.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sopa de cenoura e tomate na canequinha e panqueca de agrião

Juro que vou voltar a postar com mais regularidade. Juro. O problema não tem sido falta de receitas. Tem saído muita coisa dessa cozinha que chega a passar pelo crivo da fotografia, mas empaca justo na hora do texto. Nenhuma inspiração. E receita por receita, convenhamos que há blogs e livros o bastante por aí apenas com uma receita de sopa, sem mais nada a acrescentar. [Aqui entra minha suprema pretensão de que meus textos de fato agreguem algo ao blog; uso de referência o feedback de vocês, leitores infinitamente pacientes com meus faniquitos.]

Além da falta de inspiração para escrever, andava engolida pela rotina sem rotina, essa coisa enlouquecedora que é tentar manter horários e padrões quando você tem duas crianças pequenas que mudam de comportamento toda semana. E enquanto pequena Laura é iniciada no lindo mundo das papinhas de fruta, meu matador de dragões resolveu ficar enjoado para comer. De novo. E por mais que eu tente manter a calma, oferecer mais de um elemento em seu prato para que pelo menos um ele coma, não surtar quando ele resolve massagear a comida com as mãos, ameaçando comer, e então decidindo que não vai comer nada, depois de ter tornado seu prato imprestável para o consumo de outro ser humano...

...não dá. Eu surto. Um bocado. Eu perco a paciência. Eu dou uns berros. Mando pro banho sem jantar.

Então, uma série de pequenos eventos sem importância sucederam.

Patrícia comentou internet afora sobre adorar assistir aos programas do Nigel Slater. Aquilo me atiçou e, num raríssimo momento de relaxamento, busquei seu programa de TV no YouTube. Assisti a todos os programas numa sentada só, praticamente, com os pimpolhos ao meu lado – atenta ao fato de que Thomas pulou do sofá e correu para a TV, empolgadíssimo com a imagem de peras caramelizadas com queijo Gorgonzola. Nisso, resolvi folhear novamente os livros que possuo dele, em especial o Tender. Eu tinha tudo de que precisava para essa sopa de cenoura e tomate, e sentira-me inspirada pelo fato de ele sair fazendo massinhas de panqueca a torto e a direito para envolver legumes durante o show.

Sopas.

Fiquei muito tempo sem prepará-las, porque Thomas se recusa a me deixar ajudá-lo com a colher, que ele vira de cabeça para baixo ao enfiar na boca, fazendo com que dois terços do conteúdo de sua tigela vão parar no moletom. Então, semana passada, assisti maravilhada enquanto minha mãe servia-lhe sopa de mandioquinha num copinho pequenino, quase do tamanho de um copo de shot.

Gênio.

Comecei a servir-lhe a sopa numa canequinha de ágata branca, pequenina até para suas mãos de filhote de labrador, perfeita para beber a sopa aos goles e para que ele não invente de meter a mão inteira nela, como acontecia com a tigela.


Poder dar-lhe sopa regularmente era a solução para o problema da fase enjoada. Um jeito de garantir que ele comeria mais que pão com ovo. 

Sou totalmente contra enganar crianças, colocando legumes no bolo de chocolate sem contar a elas. Isso só incentiva o hábito da guloseima ao invés de ensinar a comer os deliciosos legumes. No caso do Thomas, percebo que não é o gosto o problema. Às vezes é a textura, como quando descobri que não era da berinjela que ele não gostava, mas do difícil ato de mastigar a casca da mesma. Uma vez sem casca, ele começou a comê-la sem problemas. Outras vezes, ele cisma com o visual do prato. Aquele florete de brócolis não o apetece. Mas em forma de pesto no macarrão, ou como sopa, sim. E picar ou moer algo para inserir em outro prato, para mim, não é enganar a criança: é fazer com que ela tenha a oportunidade de se habituar e gostar do sabor, para que, conforme for crescendo, ir entendendo que aquele molho é feito daquele legume, que assim, inteiro, também é gostoso. Enquanto a lógica ainda não funciona, tasco-lhe sopa de brócolis e gorgonzola, sem a guarnição, e me delicio ao vê-lo ir até o fogão com a canequinha, pedindo repeteco.

A panqueca foi a mesma coisa. Lembrei-me dos blinis de agrião, mas, com pressa, preparei uma massinha básica de panqueca e misturei a agrião muito bem picadinho. Deixei a panqueca no mesmo formato das panquecas doces de café da manhã, e antes que me desse conta, Thomas não apenas comera a sua, assim, com as mãos, como esticava os dedinhos para roubar uma minha e uma do pai. E daí que, numa refeição, o matador de dragões se entupiu de coisinhas saudáveis sem fazer mamãe passar pelo estresse de vê-lo apanhando a folha de agrião e jogando para fora do prato.

Fica a dica. :)

Agora, já que senhor Nigel Slater também foi preguiçoso na hora de escrever a receita, repito a preguiça aqui. Para a sopa, basta refogar uma cebola picada em azeite; juntar um pouco menos de meio quilo de cenoura picada e deixar dourar um pouquinho. Mais meio quilo de tomate picado, uma folha de louro, um pouco de pimenta-do-reino e 1 litro de água ou caldo (usei meio litro de água e meio de caldo de legumes caseiro, que tenho sempre no freezer). Deixe ferver, abaixe o fogo e cozinhe por meia hora. Retire a folha de louro, bata no liquidificador e sirva. Se for usar a estratégia da canequinha, lembre-se de deixar a sopa um pouco mais rala, pois sopas muito cremosas são difíceis de beber na caneca. E também evite qualquer guarnição que possa dificultar para a criança beber a sopa, como ervas picadas.

Para a panqueca, piquei 2 xícaras de agrião muito finamente e juntei a um ovo, uma xícara de leite, uma colher de sopa de manteiga derretida e uma colher de chá de cominho moído. Bati com um fouet e misturei mais 1 xícara de farinha de trigo e 1 colher de sopa de fermento químico em pó. Salguei a gosto (cerca de 1/2 colh. de chá) e fiz as panquecas numa frigideira grande, em porções de 1/4 de xícara cada, mas podem ser preparadas ainda menorzinhas, como bolinhos.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Semana da gororoba e bolo de gengibre fresco


Já devo ter contado essa história antes, mas vamos lá... Há muitos anos atrás, quando comecei a me interessar por cozinha, resolvi preparar lasagne verde com berinjela. A falta de experiência fez com que calculasse errado a quantidade de ingredientes, e acabei fatiando mais berinjela do que o necessário. Fiquei atrapalhada e sem saber o que fazer com aquele excesso, quando meu pai me interrompeu: "Um bom cozinheiro não desperdiça comida", disse ele, imediatamente apanhando as berinjelas para um outro prato improvisado.

Sempre me lembro desse episódio na Semana da Gororoba.

Semana da Gororoba é como eu chamo aquela semana em que você está com o saco na lua, como diria meu pai, e lavar alface recém-comprada na feira parece trabalho demais. E então você olha para sua geladeira e sua despensa e decide que é hora de lançar mão da criatividade e dar cabo daquele queijo mofando, do sauerkraut sem destino, do feijão congelado, da lata de atum fazendo aniversário. A Semana da Gororoba tem duas regras:

1. deve usar apenas o que há em casa, de preferência a maior quantidade de ingredientes velhos e esquecidos possível;
2. deve ser fácil de preparar.

A Semana da Gororoba é ótima para colocar em uso aquele ingrediente que é tão especial que, de tanto ficar reservado para uma boa ocasião, já está vencendo – você finalmente usa porque é só o que sobrou de comestível mesmo. Ou para fazer a rapa no freezer e descongelar aquela sopa que você nunca lembra que está lá. Ou para finalmente testar aquela receita daquele livro para a qual você jamais teria comprado os ingredientes especialmente. É ótima também para testar adaptações e usar aquele queijo meia cura esquecido no lugar do cheddar que a receita pede, ou farinha integral no lugar da branca que acabou.

A Semana da Gororoba produz fritatta de spaghetti de ontem, sopa de sauerkraut, bolo sem farinha, transforma baba ganoush em molho de macarrão, pão velho em pudim, e até pega um molhinho de frutas vermelhas que sobrou da panna cotta e, acrescido de açúcar, transforma em uma geleia rapidíssima, em dez minutos, para ir ao sanduíche do pimpolho na escola. Você fica se sentindo competente e frugal. Às vezes aparecem gororobas que fazem jus ao nome e você come de pura dó, mas, com tantos livros de culinária à disposição, você sempre encontra alguma receita que use três ingredientes bizarros juntos.

O caso é que a Semana da Gororoba tem acontecido com mais frequência nesses tempos corridos. E nunca meu freezer foi tão movimentado e tão importante. Tenho aprendido como é bom fazer o dobro daquelas enchiladas que dão um trabalhão e congelar uma travessona imensa. Ou fazer muffins para o lanche do Thomas para daqui a um mês. Ou cozinhar e congelar todo o saco de feijão de uma só vez. Como alivia saber que um dia da semana você pode ficar pintando ao invés de correr para fazer o jantar.

Esse bolo de gengibre fresco é ótimo para a Semana da Gororoba pois

, além de perigosamente delicioso, usa aquele pedaço gigantesco de gengibre que você comprou na feira um dia e esqueceu, e que aquelas receitinhas asiáticas que pedem por bocadinhos de dois centímetros não deram conta. Além disso, ele é tão úmido, que o fato de eu ter usado metade de farinha integral (pois a branca acabara) não influenciou em nada na textura, e acredito mesmo que poderia tê-lo feito inteiro com ela. O bolo é perfumado, apimentado, estupidamente macio, maravilhoso com uma xícara de chá quentinha nessa friaca ou com uma compota de frutas da estação.

Enquanto o bolo vai sumindo da bancada mais rapidamente do que minhas ancas parideiras gostariam, vou vendo o fundo da geladeira e da despensa aparecendo. Nunca vou entender o prazer que me dá em esvaziar minha geladeira. Se é competência, se sinal de transtorno-obsessivo-compulsivo ou simples falta de coisa melhor com o que se preocupar.

BOLO DE GENGIBRE FRESCO
(do ótimo Ready for Dessert, de David Lebovitz)
 Rendimento: 1 bolo de 23cm, cerca de 10-12 pedaços grandes.

Ingredientes:
  • 115g gengibre fresco (um pedaço do tamanho de uma banana), descascado e picado muito miudinho, com faca ou processador
  • 1 xic (250ml) melaço de cana
  • 1 xic. (200g) açúcar cristal orgânico
  • 1 xic. (250ml) óleo vegetal
  • 2 1/2 xic. (350g) farinha de trigo branca, integral fina ou uma mistura dos dois 
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1/2 colh. (chá) cravo moído
  • 1/2 colh. (chá) pimenta-do-reino moída na hora
  • 1 xic. (250ml) água 
  • 2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 2 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 23cm e 5cm de altura, e forre o fundo com papel manteiga.
  2. Numa tigela grande, misture com um batedor de arame o melaço, o óleo e o açúcar. Numa tigela menor, misture a farinha, a canela, cravo e pimenta. 
  3. Numa panela, ferva a água. Misture o bicarbonato e então junte isso à tigela do melaço, misturando com o batedor de arame. Junte o gengibre picado.
  4. Gradualmente peneire a farinha sobre a tigela de melado, misturando até que esteja incorporada. Junte os ovos e misture com o batedor até que estejam bem incorporados. 
  5. Despeje a massa na forma e asse por cerca de 1 hora, ou até que um palito inserido no meio saia limpo. Tire do forno e deixe esfriar completamente antes de passar uma faca nas laterais e desenformar. O bolo se mantém bem em temperatura ambiente por vários dias, e pode ser congelado por até 1 mês.



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Muffin de mãe surtada

De repente você pára de dar conta. De repente faz três dias que não consegue trabalhar. De repente, há pêlos de cachorro para todos os lados. De repente, sua nenê que passava horas dormindo agora quer brincar de ficar sentadinha, exigindo sua atenção constante. De repente seu mais velho não quer cochilar à tarde e resolve correr enlouquecidamente pelo quintal, catando taturanas, exigindo também sua atenção constante. De repente você olha a geladeira cheia e simplesmente não consegue processar a matemática de combinações que pode gerar uma ideia para o almoço. De repente faz um mês que você não escreve no blog.

E você percebe não só tarefas se acumulando à sua volta, mas caraminholas se embaralhando na sua cabeça.

Surto.

E a criança tem que levar algo de lanche na escola, e não pode ser uma batata crua.

Fica feliz então de ter arrancado do freezer na noite anterior um muffin de quinua, avelã e banana, e deixado descongelar durante à noite. De manhã cedo ele está macio e fresquinho como se tivesse sido assado no dia, e é enfiado na lancheira junto com uma limonada feita às pressas e um potinho com cubinhos de queijo meia-cura.

Criança feliz e alimentada, mãe menos surtada.

Esses muffins foram uma agradável surpresa, pois sempre tive um enorme pé atrás com gluten-free-baking. Na verdade, quando recém-saídos do forno, os muffins são um pouco esfarelentos. Mas uma vez frios, sua textura melhora, e ficam mais densos e gostosos. Mas esses muffins de banana são muito saborosos e complexos, e aplacam a neura nutricionista de mães paranóicas quando seu filho resolve que não quer almoçar – dá um alívio pensar que ele está comendo quinua e trigo sarraceno no lanche. ;)

MUFFINS DE BANANA, AVELÃ, QUINUA E CHOCOLATE
(do livro La Tartine Gourmande, de Béatrice Peltre)
Rendimento: 12 muffins

Ingredientes:
  • 40g avelãs ou nozes
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xic. (100g) açúcar cristal orgânico
  • 8 colh. (sopa) (113g) manteiga sem sal, derretida
  • 1/4 xic. iogurte natural integral
  • 1/2 xic. (70g) farinha de trigo sarraceno
  • 1 xic. (120g) farinha de quinua
  • 1/2 xic. (60g) farinha de avelã (avelãs moídas no processador até virarem uma farinha grosseira)
  • 1 pitada de sal
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3 bananas maduras, amassadas com um garfo
  • 90g chocolate amargo (70%) picado

Preparo:
  1. Toste as avelãs ou nozes numa frigideira em fogo médio até que liberem perfume e dourem ligeiramente. Se estiver usando avelãs, esfregue-as num pano de prato para liberar as cascas e pique-as. Se estiver usando as nozes, apenas pique-as. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC e forre uma forma de muffins com forminhas de papel. 
  3. Na batedeira, bata os ovos e o açúcar até que fique claro e fofo. Junte a manteiga derretida e o iogurte e bata até que fique homogêneo.
  4. Numa tigela, misture as farinhas, o sal, fermento e bicarbonato. Junte à mistura de ovos e misture apenas até que não se veja mais farinha. Junte as bananas, avelãs (ou nozes) e chocolate e misture delicadamente.
  5. Distribua nas forminhas e leve ao forno por 25-30 minutos ou até que uma faca inserida no meio de um deles saia QUASE seca. Remova do forno e deixe que esfriem por alguns minutos antes de desenformar e deixar que esfriem completamente. Depois de frios, podem ser embalados num saco plástico e congelados. Para descongelá-los, asse-os no forno a 150ºC por alguns minutos ou tire do freezer para descongelar dentro de um pote durante a noite.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Trufas de chocolate branco, matcha e pistache e livros que vão e voltam

Nas minhas arrumações catárticas, muitas vezes mando coisas embora das quais depois me arrependo. Como quase tudo o que é para doação passa pelo filtro da casa da minha mãe e ela já me conhece bem, quase sempre as coisas permanecem ali por um tempo, como um purgatório de objetos indesejados antes de seu destino final. E, nisso, acabo arrebanhando de volta algumas tralhas. Às vezes para o bem, às vezes para o mal.

Gostaria de dizer que meu caso com o Larousse do Chocolate era de amor e ódio, mas era mais uma questão de ódio e obsessão mesmo. Se por um lado o livro é absolutamente impreciso e cheio de erros, por outro trazia ideias de guloseimas que se fixaram em minha mente de um jeito que sempre que tento mandar o livro embora, ele acaba voltando. Um bumerangue literário.

Uma das receitas que havia anos estava encravada no meu cérebro eram as trufas de chocolate branco e matcha de Pierre Hermé. A foto era interessantíssima, de trufas cortadas ao meio, mostrando um recheio verde intenso, uma camada de chocolate branco por fora e, encobrindo tudo, pistache picado e um delicado pó verde, como limo fluorescente em pedras de rios cristalinos.

Mas essa era justamente a receita que mantinha o livro indo e vindo da minha casa. Se a foto apetecia, a receita não fazia jus. Não havia indicação nenhuma em toda a receita sobre a tal camada incólume de chocolate branco a cobrir a trufa verdinha. Depois, há duas menções do uso do matcha na receita: uma vez no creme de leite e outra vez junto ao açúcar e pistache, na cobertura. No entanto, o matcha aparece na lista de ingredientes apenas uma vez: junto do creme de leite – e não há nenhuma observação quanto à divisão da quantidade para cada etapa. Fora a quantidade do pó, que me parece muita coisa, ainda o texto informa que deve-se rolar as trufas no cacau. Hein?? Quem foi o revisor dessa joça?

Daí que nessa que foi uma das muitas idas e vindas do livro, resolvi que era hora de preparar as tais trufas e tirá-las do meu caminho. Principalmente porque desta vez me considero gata escaldada o bastante para identificar alguns erros básicos em livros de culinária e corrigi-los antes de estragar toda a receita.

E saí adaptando.

Primeiro, dividi a receita ao meio, pois cinquenta trufas de um sabor tão específico (e uma receita tão inexata) me pareciam demais. Em seguida, diminuí a quantidade de matcha. Ok, desta vez foi porque eu só tinha 4 envelopinhos mesmo. Mas não me arrependo, pois o amargor e o gosto herbáceo do matcha ficaram bastante em evidência já nessa quantidade. Não tinha açúcar de confeiteiro e usei o cristal. Também omiti o matcha da cobertura porque não tinha mais. Por último, usei o pistache cru sem sal, porque era o que eu tinha e porque, convenhamos, pistache é caro pra chuchu. (Já dá pra ver um padrão de preguiça de ir ao supermercado se instalando e sendo o grande causador das adaptações.)

O resultado... ficou MUITO bom! :D Aprovado pela cozinheira, marido e pelo pequeno devorador de trufas verdes. O sabor vem em camadas a cada mordida: primeiro o pistache crocantinho, depois o doce e macio do chocolate branco, então o amargo do matchá, e em seguida o pistache envolto em açúcar de novo. Delicioso para quem não gosta de doces apenas doces, mas com algo mais, e, principalmente, para quem aprecia chá verde. o/

O que vai ser do livro? Provavelmente vai ficar por aqui. Mas completamente rabiscado de correções e adaptações e sob um severo olhar de desconfiança. ¬_¬

TRUFAS DE CHOCOLATE BRANCO, MATCHA E PISTACHE
(adaptado do bizarro e não muito confiável Larousse do Chocolate)
Rendimento: cerca de 25 trufas pequenas

Ingredientes:
  • 100ml creme de leite fresco
  • 6g matcha (chá verde em pó – um pó verde fluorescente)
  • 200g chocolate branco de qualidade (usei Lindt), picado
  • 50g manteiga sem sal, gelada
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/2 xic. pistache cru sem sal (com pele ou não)

Preparo:
  1. Coloque o creme de leite em uma panela e leve à fervura. Desligue o fogo e junte o matchá, misturando bem até que esteja dissolvido. 
  2. Junte o chocolate picado em três levas, mexendo bem até que esteja dissolvido. Junte a manteiga e misture bem com um fouet, até que o creme esteja liso. Despeje num pote, tampe e leve à geladeira por cerca de 2 horas ou até que fique firme. 
  3. Pique finamente o pistache e misture ao açúcar.
  4. Faça bolinhas com o creme mais ou menos uniformes, um pouco maiores que uma bola de gude, e role na mistura de pistache. Mantenha as trufas na geladeira, em pote fechado.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pãozinho com centeio, chocolate e ameixas e saudades de sentar e ler revista

Comecei a ler revistas de culinária na época da faculdade, quando meu interesse por cozinha de fato explodiu. Comprava a Gula e a Cláudia Cozinha, e ficava recortando minhas receitas favoritas e colando num caderno . Mas a Gula fazia vinaigrettes com 25 ingredientes e a Cláudia Cozinha parecia resultar em sobremesas sempre com gosto de amido e pratos salgados que careciam de um algo mais. Acabei trocando tudo pela Gourmet, americana, da qual eu cozinhava de fio a pavio, e tudo era simples, e prático, mas ainda assim com um sabor sofisticado, e casava muito bem com o tipo de comida que eu gostava de preparar todo dia.

Aí mataram a Gourmet e eu fiquei órfã.

Aí me apresentaram a Donna Hay e eu descobri a revista do Jamie Oliver. As duas lindas. A primeira, com o benefício de estar no mesmo hemisfério que eu, e, portanto, ter uma sazonalidade de frutas e verduras semelhante. Bem melhor que ter de esperar meses pra fazer na Páscoa aquela receita de edição especial de Natal. :P

Mas logo percebi que, apesar de linda, eu quase nunca cozinhava nada da revista do Jamie Oliver. Parecia que eu nunca tinha todos os ingredientes, ou a receita não me apetecia como um todo. Talvez seja mais feita para o público britânico do que os livros ou os programas de tv. E a Donna Hay, apesar de linda, é muito superficial: só fotos e receitas, quando eu adoro, na verdade, ler as reportagens que deveriam acompanhar a escolha daquele prato específico. Saudades da Gourmet. E, no fim, a revista é centrada demais em pratos com carne, e eu acabava cozinhando muito pouco dela.

Então que um dia notei na banca que havia mais revistas brasileiras de culinária. Ainda tentei a Gula novamente, mas de fato não é para o meu gosto. Muito cheia de frufru. Ando mesmo é gostando um bocado da Menu, que tem bons textos, e da Casa e Comida, da qual tenho cozinhado um bocado. Parece que as editoras brasileiras acertaram a mão, enfim, entre um conteúdo que case bem ingredientes nacionais com importados, e traga receitas mais interessantes, mais complexas.

Gostei.

Trocando as importadas pelas nacionais. :)

Eu não tenho mais aquele tempo lindo para sentar no sofá e ler revistas. Folheio um pouco por vez (assim como leio livros) enquanto amamento. (Digito esse texto com a mão esquerda, enquanto a pequena amazona se pendura ao peito.) O breve espaço de tempo que tenho pela manhã tenho usado para trabalhar. Considero-me em regime de semi-licença-maternidade. Não estou ativamente correndo atrás de trabalho, mas estou pegando quando aparece. Enquanto isso, a minha loja continua funcionando, inclusive vendendo algumas pinturas originais, a quem interessar. :)

À tarde é de fato mais fácil fazer pão com a pimpolhada do que pintar. Daí que tenho conseguido botar minha padaria em dia. Esse pãozinho saído da Casa e Comida ficou uma delícia, ainda que tenha precisado acrescentar mais água do que pede a receita. Adorei o fato de levar um pouquinho de centeio, que eu adoro, e a mistura de chocolate e ameixas secas. Ele fica particularmente bom quentinho e com requeijão. :)

Obs: fiz metade da receita, pois a original rendia 50 pãezinhos, coisa que não cabe nem no meu freezer. Aliás, os pães congelam bem. Para comer de manhã cedo, basta tirar do freezer e deixar na bancada (ainda embalado em filme plástico ou dentro de um pote) durante a noite. Ah, só achei meio bizarro isso de metade da receita ser em volume, outra em peso, mas beleza. ¬_¬

PÃO DE CHOCOLATE E AMEIXA COM CENTEIO
(ligeiramente adaptado de receita de Julice Vaz, revista Casa e Comida)
Tempo de preparo: 2h30
Rendimento: 16-24 pãezinhos, dependendo do tamanho

Ingredientes:
  • 750g farinha de trigo orgânica ou para pães
  • 1/4 xic. farinha de centeio
  • 1/2 colh. (chá) rasa de sal
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 8g fermento ativo seco instantâneo
  • 1 ovo grande, orgânico
  • 50g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 250ml de água morna (acrescente mais, de colher em colher, se a massa estiver muito seca)
  • 1/2 xic. ameixa seca sem caroço picada
  • 1/2 xic. chocolate meio amargo picado

Preparo:
  1. Polvilhe o fermento sobre a água morna e espere que espume um pouco, cerca de 5-10 minutos.
  2. Numa tigela grande, misture as farinhas, o sal, o açúcar e a manteiga. Junte o ovo e o fermento e misture bem, sovando na bancada por uns 10 minutos até que a massa fique homogênea. A massa deve ficar macia e lisa, sem grudar nas mãos, mas não excessivamente seca, ou pode ficar pesada depois de assada. 
  3. Junte a ameixa e o chocolate e sove novamente, até que os ingredientes estejam bem espalhados na massa. Forme uma bola, coloque de novo na tigela, cubra com um pano e deixe fermentar por cerca de 1 hora.
  4. Retire a massa da tigela e divida a massa em porções iguais. A receita original sugeria cerca de 25 bolinhas, mas por preguiça, dividi em apenas 16. Distribua as bolinhas em duas assadeiras. Cubra com um pano e deixe que fermentem por mais 1 hora. 
  5. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Faça cortes em cruz sobre os pãezinhos com uma faca afiada. Asse uma leva de pães por vez, por cerca de 20 minutos, ou até que estejam dourados e assados. Deixe esfriarem sobre uma grade e só congele os pães depois de completamente frios.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Dadinho" o car*lho! Meu nome é "Peanut Butter Fudge"!

Ainda posso usar essa piada do título ou está datada demais? Hmmm... a outra opção era "Dadinho. Só que não." Mas é muito da modinha. Então fica assim. Consegui enfiar um palavrão pesado no título e, teoricamente, me safar dessa. ;)

Palavrão é o que às vezes tenho vontade de berrar no ouvido de quem entra no blog dos outros para trolar gratuitamente. Já falei e fui (de novo) trolada por isso: não gosta, não lê. Mas tem gente que não entende. De qualquer forma, ando tentando (sem sucesso) controlar a quantidade de palavrões que falo perto do meu filho, para que a primeira frase dele não seja "vá tomar no c*". Confesso que é difícil e agora entendo as expressões engraçadas que ouvi meu pai dizer a vida toda: "Carambola!" e "Os que for da família!" hehe...

O caso é que um comentário extremamente grosseiro no post anterior, ao invés de sucitar em mim a vontade de viver na Idade Média e poder carregar comigo e fazer uso indiscriminado de um mangual, fez com que eu me lembrasse de toda uma categoria de coisas gostosas que eu andava negligenciando.

COMO ASSIM eu tenho uma criança em casa e nunca preparei bombons, caramelos e pirulitos??? o_O

Saí loucamente fuçando em meus livros atrás de docinhos tipo "candy". Afinal, Thomas já está muito bem familiarizado com bolos, biscoitos, pudins e sorvetes (última compra por impulso foi um conjuntinho para picolé pequenininho, perfeito para o tamanho dele). Delícia é ter em casa uma criança que não foi educada na base do "sabor chocolate" e "sabor morango", e que por isso explora de peito aberto a miríade de gostos possíveis numa sobremesa. Vê-lo comendo panna cotta de açafrão e cardamomo, com pistache e canela, foi para mim a prova cabal de que não existe isso de "paladar infantil". O que existe é "paladar estragado". Para ser justa, acho que o moleque comeria até um tablete de manteiga enfiado no açúcar, no melhor estilo Homer Simpson. :P

Daí que quero muito explorar gostos diferentes em docinhos mais porqueira, desses carregados de açúcar, que você serve assim, em bocadinhos bem pequenos. E esse peanut butter fudge é para ser comido com parcimônia. Mesmo por que, se alguém conseguir comer um prato cheio disso de uma sentada, ganha um belo troféu trasheira. Confesso, no entanto, que toda vez que abro a geladeira, roubo um quadradinho. Perigo. Perigo.

Para uma ex-viciada em Dadinhos – já falei quão roliça fui na infância? – esses quadradinhos são nostálgicos, ainda que não exatamente iguais. Usei açúcar cristal ao invés do de confeiteiro, o que deixou a textura um pouco granulosa. Recomendo usar o de confeiteiro mesmo, para que fique bem homogêneo. Também usei manteiga de amendoim natural (amendoim sem pele, torrado no forno e batido no processador até virar manteiga). Provavelmente o resultado com manteiga de amendoim convencional encontrada aqui no Brasil seja completamente diferente, e provavelmente ainda mais doce. O gosto dos quadradinhos é bem esse, manteiga de amendoim doce, como uma paçoca úmida. Não tem a complexidade de sabor que um fudge de chocolate pode ter. mas é viciante para quem gosta de amendoim. Começo os docinhos com algo simples e fácil, mas já ando muito de olho em técnica de temperar chocolate e forminhas de pirulito. A louca.

Só para constar, e em resposta à trolagem gratuita... Thomas foi num bufê infantil e, espontaneamente (para minha franca surpresa), esticou o braço para cima da mesa dos adultos e roubou... um palito de cenoura. Toma essa.

:P

PEANUT BUTTER FUDGE
(Da revista Donna Hay)

Ingredientes:
  • 150g manteiga sem sal, cortada em cubos
  • 1/3 xic (80ml) creme de leite (usei o fresco, mas acho que pode ser o comum)
  • 1 1/2 xic. (390g) manteiga de amendoim
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 2 1/2 xic. (400g) açúcar de confeiteiro, peneirado

Preparo:
  1. Unte ligeiramente uma forma quadrada de 20cm e forre com papel-manteiga. Coloque o açúcar numa tigela grande e reserve.
  2. Coloque a manteiga, creme, manteiga de amendoim e baunilha numa panela e leve ao fogo médio, mexendo sempre até que esteja homogêneo e começando a borbulhar.
  3. Tire do fogo e imediatamente misture ao açúcar, mexendo rapidamente para incorporar e obter uma mistura lisa.
  4. Derrame a mistura na forma preparada e alise a superfície.Coloque uma folha de papel manteiga por cima, terminando de alisar, e leve à geladeira até que esteja firme o bastante (mínimo de 1 hora). Corte em quadradinhos pequenos e guarde em pote fechado na geladeira por até 2 semanas. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Financiers de avelã, chocolate e amaranto

Tenho boas memórias das Páscoas passadas. Ok, talvez menos uma, em que, com o olho maior que a barriga, comi todo o meu chocolate de uma vez e passei mal. Mas ainda assim, as boas memórias superam as ruins. Lembro do bacalhau da Sexta-Feira Santa, coisa mesmo de uma vez ao ano, pois bacalhau era caro, lembro de acordar cedo para encontrar a cestinha de vime com meu nome e com os chocolatinhos do Coelho da Páscoa e de levar pedacinhos do ovo embrulhados em papel alumínio no lanche da escola.

Os eventos religiosos na escola de freiras foram integralmente apagados da minha mente.

O caso é que, assim como aconteceu com o Natal, percebi que minhas memórias mais gostosas e persistentes tinham a ver com a comida. E, por consequência, as pessoas que haviam preparado aquela comida e dividido ela comigo. Mas se eu ganhei um ovo ao leite ou crocante, não sei. A não ser pelos ovinhos que meus pais nos davam todos os anos, pequenos, cobertos de açúcar para parecerem ovos de galinha, e que precisavam ser quebrados com um martelo de cozinha, não me lembro de nenhum outro. Mas esses, talvez pelo inusitado e pelo modo divertido com os comíamos, ficaram marcados.

Essa foi a segunda Páscoa do Thomas. E a segunda Páscoa em que ele não ganhou ovo e eu fiquei, confesso, sem saber o que fazer a respeito. A coisa toda do ovo de chocolate parece ter saído de controle. O que me parecia uma diversão inocente naquela época virou mais um exemplo de excessos. Fui criada como católica, mas hoje me considero muito mais uma pessoa espiritualizada do que pertencendo a qualquer religião organizada. Nesse ínterim, meu marido e eu sabemos exatamente como explicar Natal a nossos filhos, e como incorporar Papai Noel na jogada sem deixar que o feriado seja uma mera questão de soterrar crianças com brinquedos (já pedimos aos familiares que dêem apenas lembrancinhas – qualquer presente grande ou mais caro é pai e mãe que dão). Agora Páscoa... por algum motivo parece mais difícil. Pelo menos por enquanto, em que é complicado explicar o feriado a uma criança de 2 anos, e que, uma vez permitidos os ovos, a coisa foge ao controle. A escola mesma do meu filho distribuiu coelhos de chocolate, que, sem saber o que era, ele simplesmente levou na mochila. Uma vez longe do pimpolho, ele já tendo esquecido do coelho na mala, apanhei o coelho da Lacta para ler os ingredientes. Nada que prestasse. Ainda querendo dar uma chance, abri um pedacinho do papel e tirei um naquinho da orelha do bicho. Gosto de m*rda. Lixo.

Mas eu também não posso exigir que a família saia por aí gastando os tubos para comprar chocolate belga para o menino. Não é justo e também não é o objetivo. Prefiro pedir que não dêem nada a ficar dando uma lista de regras chatas.

O que fazer?

Esse ano, o domingo de Páscoa foi também festinha de aniversário, pois Thomas faz 2 anos na quarta-feira. Daí que seu chocolate de Páscoa foi um enorme pedaço de bolo de brigadeiro e financiers de avelã, chocolate e amaranto, ambos feitos pela mamãe. Ano que vem, no entanto, ele talvez se pergunte a respeito dessa história de coelho, já que a própria escola (que é laica) fica dando liçõezinhas sobre o lado consumista do feriado: fala-se de coelho e chocolate, mas nada sobre a parte religiosa.

Daí que ando pensando em outras atividades para fazer com o pimpolho. Se ano que vem chamo a família para uma caça aos ovos (de verdade, pintados) no jardim, para depois serem trocados por coisinhas gostosas de chocolate, por exemplo. Bom... tenho um ano para matutar. Mas adoraria saber se vocês têm alternativas ao safado do ovo de chocolate, e se as crianças (e o resto da família) abraçam ou não a ideia.

Pois o mais difícil até agora não tem sido educar meus filhos a não relacionarem feriados a consumismo desenfreado. Isso parece fácil. O difícil é convencer os outros. Família e amigos parecem ficar ofendidos quando você explica que não precisa de presente de aniversário, Natal ou o que seja, porque a criança (ou mesmo nós, os pais) não precisa de nada, já tem bastante roupa, brinquedo, o que for, e que a companhia e a brincadeira é melhor do que um objeto. (E sim, eu fico chateada quando vejo que minha irmã, meus pais ou minha sogra ficaram tristes por eu "não deixar" dar presente.) Estamos, como sociedade, tão acostumados a medir nosso amor por uma pessoa pela quantidade de objetos que damos a ela, que nos perdemos um pouco, e nossa boa intenção e nosso amor vira dinheiro que não precisava ser gasto e acúmulo de objetos dos quais não precisamos.

Nessa Páscoa, Thomas não ganhou nenhum ovo. De ninguém. Brincou loucamente com toda a família, e foi dormir feliz e exausto. Os financiers que ele surrupiou da bandeja sem que mamãe visse foram chocolate o bastante pra entretê-lo entre uma brincadeira e outra. ;)

A receita, ótima, é do La Tartine Gourmande, mas ao invés de 8 formas de muffin normal, assei por 5 minutos a menos, na mesma temperatura indicada, 24 financiers em forma de mini-muffin. O perfume de avelã e chocolate que o forno exala é delicioso, e o amaranto se sente muito pouco, mas aplaca aquele pânico materno de nutricionismo. hehehe... (Se não tiver farinha de avelã no supermercado, basta pulsar avelãs no processador até ficar com textura de areia grossa – usei farinha feita com a avelã inteira, com casca e tudo, e ficou uma delícia).

De quebra, Thomas não tinha pedaço de ovo para levar de lanche, mas levou com gosto dois financiers, cujo papelzinho ele aprendeu a tirar com relativo cuidado.

Receita AQUI.

[Em tempo: os pimpolhos eventualmente começarão a ganhar ovos de chocolate. Só estou deixando para quando forem um pouquinho mais velhos. Não tem porque entuchar de chocolate uma criança tão pequena. E essa é minha decisão. Não quer dizer que vá fazer de fato bem para os meus filhos, e com certeza não quer dizer que tem que ser feito assim para todo mundo.]

segunda-feira, 25 de março de 2013

Bolo de azeite, chocolate e alecrim e auto-sabotagem

Desde que me mudei para fora de São Paulo uma coisa interessante tem acontecido. Uma coisa que sempre foi uma verdadeira luta para mim, e, ao contrário de todas as expectativas, aos 33 anos e tendo cuspido para fora duas crianças, tem acontecido com estranha facilidade: estou emagrecendo. Olho no espelho e não acredito que, dois meses e meio depois da Laura nascer, eu estou mais magra do que antes de engravidar do Thomas.

WTF?

Não é novidade que eu me preocupo com a alimentação do meu filho. Quero que ele experimente coisas novas o tempo todo, que seu prato seja sempre colorido e gostoso, e claro que acabo às vezes olhando e decidindo que é melhor que ele coma uma salada de cevadinha com legumes hoje, pois comeu macarrão ontem – o que quero dizer é que de vez em quando entro num pânico de nutricionismo com ele.

O que eu não esperava é que isso fosse representar toda uma miríade de novos grãos, combinações e sabores para mim também. A hora do almoço deixou de ser a hora do omelete solitário para virar mais uma oportunidade de um prato gostoso, interessante e saudável para nós dois. Para aproveitarmos a companhia um do outro e ensiná-lo bons hábitos, comemos sempre à mesa, tv desligada. Ele anda numa fase de nos imitar instantaneamente, então tem se aventurado mais com os talheres, e mesmo experimentado coisas que não gostava, como alface, ao me ver comer e soltar nham-nham's e hummmm's.

Aqui em casa nunca se repetiu prato; faço sempre porções exatas, e o que sobra normalmente é para ser comido no dia seguinte, transformado em outra coisa. Minha filosofia é de que, se você comeu e ainda está com fome, aproveite para preencher o resto do espaço com a sobremesa; assim você não come mais do que deve e fica feliz.

Mas, no caso, por pânico nutricionista, raramente dou doce de sobremesa ao Thomas. Normalmente é fruta, e ultimamente tenho lhe dado também um pedacinho de um queijo diferente se ele continua com fome ou a refeição foi leve demais. Doce reservo para a hora do lanche da tarde. De manhã, o lanche é salgado ou é fruta, às vezes um iogurte. Também durante as refeições, bebe-se água, limonada ou chá gelado. Nunca suco. (Quando dou doce de sobremesa, costumo dividir minha porção com ele.)

Qual não foi minha surpresa quando percebi que, ao comer como eu queria que meu filho comesse, comecei a emagrecer, durante a gravidez e agora, depois do bebê cuspido, sem ter voltado a correr ou fazer nenhum outro exercício além de passear cachorro e cuidar da casa e dos pimpolhos.

Além de comer porções pequenas (normais) de comida de verdade, eliminei totalmente o "snacking", a beliscagem, pois se eu apareço comendo algo na frente do Thomas, ele pede, e fica difícil dizer a seu filho que ele não pode comer bolo antes do jantar se você está comendo.

Daí que percebi que o problema nunca foi a dieta ou minha constituição (conhece aquele papo de "meu metabolismo é assim mesmo, é super difícil para eu emagrecer"?); o problema era que eu não fazia direito, direito mesmo, não tinha tido disciplina o bastante para instaurar o hábito, e estava mais preocupada com os quilos indo embora do que de fato em encontrar equilíbrio e prazer na comida. Nunca pensei que conseguiria emagrecer depois de dois filhos, comendo minha pizza no fim de semana e tomando cerveja, e sem ficar calculando colheradas de azeite na salada. Foi um movimento totalmente natural, simplesmente por querer prover uma boa experiência de comida para meu filho.O pulo do gato foi não entrar no "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço", mas simplesmente fazer eu também o que eu queria que meu filho fizesse.

O que me impediu de emagrecer a vida toda foi uma palavra: auto-sabotagem. A gente sabe exatamente o que tem que fazer. Mas não faz. Ponto.

Nessa vontade de prover experiências diferentes à mesa, por um tantinho de pânico de nutricionismo e também por que às vezes me vejo sem farinha orgânica branca em casa ou enjoada do mesmo arroz integral (que eu aprendi a gostar tanto que acho arroz branco super sem graça), tenho redescoberto os grãos e farinhas integrais. Adorei cozinhar com painço, que tostado e cozido como arroz, fica com textura de couscous marroquino, um perfuminho que lembra milho, e absorve maravilhosamente os sabores do que acompanha. Também tenho usado farinhas diferentes nos doces e pães, para o pimpolho ver que nem só de farinha branca se faz um bolo.

Esse, do sempre ótimo Good to the Grain, leva um pouco de farinha de espelta (farro, em italiano), que acredito que possa ser tranquilamente substituída por farinha integral fina. É um bolo muito macio e perfumado, e ainda que eu estivesse reticente a respeito, interessantíssimo pelo acréscimo do alecrim à massa. Você demora para identificar a erva, mas ela complementa o azeite e o chocolate maravilhosamente.

Outros livros que tenho usado um bocado para aprender a usar mais grãos e farinhas integrais diferentes são esses, todos recomendadíssimos:
Whole Grains for a New Generation
Super Natural Cooking
Super Natural Everyday
La Tartine Gourmande: Recipes for an Inspired Life
Small Plates and Sweet Treats(Os últimos dois são gluten-free; tenho zero interesse em viver sem glúten, mas achei interessante para quando a farinha branca acaba ou para quando quero outros gostos e texturas.)

[Obs: para quem quiser ter uma ideia de "tamanho de porção", junte suas duas mãos em concha, como naquelas fotos batidas de blog de culinária, de gente segurando blueberries. Agora imagine que você passa a régua: o que cabe na suas duas mãos em concha, passada a régua para tirar o excesso, é o que cabe no seu estômago se ele estiver do tamanho normal. Isso vem do Ayurveda, e é lindo, porque respeita as proporções do corpo de cada um e não diz que a minha porção é igual à sua. Essa porção não inclui folhas cruas. Ajuda um bocado, até você se acostumar a porcionar direito, ter uma tigela onde caiba exatamente isso. Ironicamente, quando fiz dieta com uma nutricionista, descobri que essa porção ayurvédica era exatamente o que ela havia recomendado.]

BOLO DE AZEITE, ALECRIM E GOTAS DE CHOCOLATE
(do excelente Good to the Grain, the Kim Boyce)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 1 bolo de 23cm

Ingredientes:
  • 3/4 xic. farinha de espelta (ou integral fina)
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo branca
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 3 ovos, orgânicos
  • 1 xic. azeite de oliva (preferencialmente extra-virgem)
  • 3/4 xic. leite integral
  • 1 1/2 colh. (sopa) alecrim, bem picadinho (não coloque mais do que isso, ou pode ficar com gosto de sabão)
  • 140g chocolate a 70% de cacau picado, ou gotas de chocolate amargo

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC e unte uma forma de 23-24cm com azeite.
  2. Peneire os ingredientes secos numa tigela (junte à tigela qualquer coisa que tenha ficado na peneira – o intuito da peneira é apenas aerar a farinha).
  3. Em outra tigela, bata os ovos cuidadosamente com um batedor de arame. Junte o azeite, o alecrim e o leite e bata novamente, 
  4. Junte os ingredientes secos e misture com uma espátula, apenas até que não se veja mais farinha. Junte o chocolate. 
  5. Despeje a massa na forma e alise a superfície. Asse por 40 minutos, ou até que esteja arredondado em cima e dourado, mais escuro nas bordas, e um palito inserido no meio saia limpo. 
  6. O bolo pode ser comido ainda morno, ou frio.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Favas brancas assadas com tomate e como cozinhar todo dia

Uma das sensações mais estranhas que tenho desde que me mudei para fora de São Paulo é a de correria tranquila. Um paradoxo. Sinto que tenho mais coisas a fazer do que jamais tive, num ponto em que meu cérebro desprovido de boas noites de sono não funciona sem uma lista de tarefas escrita à mão num caderno, que é revista e reescrita diariamente, para que o exercício de reescrever a lista faça com que planeje meu dia mentalmente de acordo com as tarefas pendentes. Já cheguei no absurdo de programar mentalmente uma ida ao banheiro. Ou, para me sentir mais competente, terminar uma tarefa que não estava na lista e escrevê-la ali apenas para ter o prazer de riscá-la fora.

Louca.

Eu sei.

Mas apesar do intrincado quebra-cabeça de tempo que é trabalhar, cuidar de uma casa, de um cachorro e duas crianças pequenas, há uma sensação de tranquilidade na rotina atarefada que eu ainda não sentira. Ok, há o pânico ocasional quando o mais velho resolve fazer uma birra escalafobética de ciúmes enquanto você dá de mamar e começa a chover, e toda a roupa está pendurada no varal lá fora, e a panela do jantar foi esquecida no fogo e está queimando. Mas ainda assim. Talvez seja o silêncio que acompanha as tarefas. Talvez seja a rotina, que, quase imutável, dá ordem ao caos de infindáveis trabalhos.

A verdade é que nunca disciplina foi tão importante para mim e nunca ela me ajudou tanto. Quando parece que há coisas demais a fazer, ainda assim elas são feitas, e de repente não era nada tão grave, e me vejo contente por ter dado cabo de mais uma pilha de afazeres e sei que nesse tempo que restou posso relaxar de verdade, sem me preocupar, abrir uma cerveja e ver Arrested Development com meu marido. Aprendi a duras penas que procrastinação é a pior coisa do mundo. E ainda que às vezes eu seja acusada de não saber gerir meu tempo, pois não consigo largar tudo e ir dormir quando os outros acham que eu deveria, acho que é justamente o contrário: eu priorizo sempre o que PRECISA ser feito em detrimento do que eu QUERO fazer. Uma vez feito tudo aquilo que precisa ser feito, todo o tempo restante é dedicado ao que eu quero. E uma vez que as tarefas que precisam ser feitas são incorporadas na sua rotina, uma vez que você tenha disciplina para sempre priorizá-las, elas deixam de ser um fardo, pois você elimina a escolha, o dilema entre fazê-las agora ou depois. A resposta é sempre: faça agora, tire da frente, não deixe para depois. Acordo às 6h da manhã todo dia, e antes das 8h30, todos já tomaram café, estão vestidos, criança está na escola, já fui à feira, varri a casa, lavei a louça e botei roupa para lavar. Mato tudo o que é tarefa de rotina o mais cedo possível no meu dia, para que no restante do tempo possa intercalar as tarefas extraordinárias com as necessidades das crianças. É menos estressante simplesmente abdicar do tempo para mim enquanto elas estão acordadas. Como Thomas dorme muito cedo (antes das 19h), tenho a noite para relaxar completamente, ler, ver um filme, descansar. Lutar contra as coisas que você precisa fazer, aprendi, é a maior fonte de stress de todas, e totalmente evitável.

Para que tudo funcione bem, e consiga encaixar na rotina as refeições da família, planejamento é sempre essencial. E minha resposta pronta a quem vira para mim e diz que não tem tempo de cozinhar por conta de uma rotina corrida. Se eu tenho tempo, você que tem empregada para lavar sua louça também tem. O que faltou a você foi um planejamento básico. Descobri isso quando um amigo reclamou que não cozinhava porque não tinha paciência para sair do trabalho e passar no supermercado antes de ir para casa para então chegar e cozinhar alguma coisa.

Sejamos francos: sempre que espero sentir fome para decidir o que cozinhar, acabo fazendo um queijo-quente.

Ao contrário do que eu fazia quando morava nos Jardins, atualmente vou à feira (no caminho de volta de deixar Thomas na escola) e ao supermercado uma vez por semana apenas. Antes de fazer essas compras, abro a geladeira e a despensa e faço um inventário mental do que há lá dentro e do que está para estragar e precisa ser consumido mais rapidamente. Uso o eat your books ou uma busca em blogs para rapidamente encontrar algumas receitas rápidas para preparar o que tenho em casa e, se falta algum ingrediente específico ou algo básico de despensa (como leite, manteiga e farinha) já anoto numa lista para dar cabo disso nessa uma visita ao mercado e à feira. Deixo anotadas as receitas da semana, e as leio para ter certeza de que não há nada a ser preparado com antecedência, como deixar feijões de molho. O que posso adiantar num momento de calmaria, adianto (como cozinhar feijões num domingo entediado e deixar congelado em porções menores). Também já me planejo para reaproveitar restos de ontem, como o risotto ou o arroz com legumes feito em maior quantidade para virar arroz de forno amanhã, ou o macarrão para virar fritatta, etc. Dessa forma consigo cozinhar todos os dias e não jogar nada fora. E quando há tempo livre, simplesmente porque curto cozinhar, é quando sai um bolo, um biscoito, um pãozinho, um sorvete, geralmente à tarde, com a ajuda do pimpolho, para distraí-lo.

No fim, a tranquilidade talvez venha da satisfação em cuidar do meu próprio nariz e de minha família, sem depender de ninguém. Ou do fato de ocupar tanto meu tempo com atividades manuais, que têm um ritmo mais tranquilo e contemplativo que ficar no computador, mesmo quando são frenéticas.

A verdade é que sem disciplina, provavelmente iria à loucura. E a disciplina tem me ajudado não apenas a manter a cozinha andando, mas a reincorporar um hábito do qual andava sentindo uma falta brutal: correr. Comecei no domingo, incentivada pelo marido, e agora tenho corrido um pouquinho, dia sim, dia não, à noite, quando ele chega em casa para ficar com as crianças. É um momento bom, de espairecer a cabeça e colocar o corpo para se mexer de outro jeito que não seja carregando criança ou varrendo quintal, e também um momento engraçado da minha rotina, pois correr, assim como cozinhar, é a união perfeita entre uma tarefa que precisa ser feita e algo que quero fazer.

Essas favas brancas com tomate são o exemplo perfeito de uma deliciosa refeição que pode ser feita com antecedência, em várias etapas, para ser reaquecida durante uma semana corrida. Num dia pode deixar de molho as favas e cozinhá-las, congelando para uso posterior. Em outro, pode preparar o molho e deixar o prato montado na geladeira, esperando apenas ir ao forno. Tenho certeza de que pode mesmo ser congelado já quase pronto, indo ao forno apenas para reaquecer e dourar.

FAVAS BRANCAS ASSADAS COM TOMATES
(De um dos meus livros favoritos: Falling Cloudberries, de Tessa Kiros)
Rendimento: 8 como acompanhamento, 6 como principal

Ingredientes:
  • 3 xic. favas brancas, deixadas de molho na noite anterior
  • 1 folha de louro
  • 1/2 xic. azeite de oliva
  • 2 cebolas pequenas, picadas
  • 2 talos de aipo com as folhas mais claras e macias, picados
  • 3 dentes de alho picados
  • 1 lata e meia de tomates sem pele
  • 4 colh. (sopa) salsinha picada
  • 3 colh. (sopa) migalhas de pão amanhecido ou farinha de rosca

Preparo:
  1. Escorra as favas. Coloque-as numa panela com a folha de louro e cubra generosamente com água fria. Leve à fervura. Retire com uma escumadeira qualquer espuma branca que suba à superfície. Abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 1 hora e meia, ou até que estejam muito macias. Tempere com sal no fim do cozimento.
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Escorra as favas, reservando 1 1/2 xicara da água de cozimento (o restante, pode congelar para usar em caldo de legumes), e coloque-as numa travessa refratária ou assadeira (usei uma panela rasa com tampa que pode ir ao forno). 
  3. Aqueça 2 colh. (sopa) de azeite numa frigideira e refogue as cebolas até que estejam ligeiramente douradas, mexendo para que não grudem. Remova do fogo e junte o aipo, o alho, tomates, salsinha e o restante do azeite. Tempere com sal e pimenta.
  4. Junte a água de cozimento reservada, derrame tudo sobre as favas e misture bem. Cubra com papel alumínio e asse por 45 minutos. Remova o papel alumínio, mexa as favas com uma colher, adicionando um pouco de água se parecer muito seco. Polvilhe com as migalhas de pão e retorne ao forno, sem cobrir, por mais 30 minutos. As favas devem estar muito macias, dourada em cima, e ainda com algum molho. Sirva quente, com um pouco de azeite extra.

Cozinhe isso também!

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