segunda-feira, 12 de maio de 2014

Pão de cenoura e chia para cafés da manhã sem tédio

Meus filhos são como eu: entediam-se muito facilmente com a comida, querem sempre uma novidade. Se isso é fruto da esquizofrenia culinária ou se minha cozinha foi ficando mais esquizofrênica por conta disso... bom, ovo ou a galinha tudo outra vez. Aquilo que costumava funcionar há um tempo atrás, de comprar uma só farinha especial ou um só grão diferente por vez, e preparar todo o pacote antes de passar para o próximo, isso não rola mais aqui. Porque a pimpolhada come no almoço, come requentado no jantar, mas se aquela lentilha aparecer pela terceira refeição seguida, esquece. E ainda que eu ache que isso é uma grandessíssima frescura da parte deles, confesso que entendo, pois eu também olho praquele pãozim francês branco de padaria de segunda a sexta, e quando chega no sábado acordo até sem apetite. (A única coisa que é rotina sagrada para mim é o café. Café sempre, pelamordedeus, senão eu não funciono.)

Para não ficar louca na cozinha, à mercê dos caprichos dos meus dois esfomeados, acabo cozinhando quantidades maiores de um determinado prato e congelando o que não for comido aquele dia, para que possa figurar à mesa novamente numa semana mais preguiçosa ou de almoços menos interessantes.

E, outra vez, a despensa tornou a se encher de grãos, feijões, farinhas, sementes... Porque podemos até comer panqueca o tempo todo, mas ela bem que pode ser de beterraba, de centeio, de quinua, de maçã, de abóbora, o que for. E o pãozinho pode ser de forma, mas não precisa ser branquinho o tempo todo. Pode ser infinitamente variado. E quando vi um pão de cenoura e gergelim no site do Dan Lepard, pirei de vontade de prepará-lo. Não que eu precise esconder cenoura no pão. Cenoura é coisa que os dois catadores de caracóis e montadores de torres de lego comem muito bem, em qualquer formato e preparação. Mas simplesmente porque eu nunca havia feito um pão com cenoura antes. [Também nunca havia preparado bacalhau, veja só, mas isso fica pro próximo post.]

No fim acabei adaptando a receita, pois não tinha laranjas nem gergelim. Omiti as laranjas, trocando o suco por água e troquei o gergelim por semente de chia – falei que andava numa fase naturebinha; comprei a chia para preparar a mousse de chocolate vegan da Bela Gil. E o resultado foi um pão delicioso pra comer torradinho com bastante manteiga e geleia de maçã, e também ótimo para um sanduichinho de queijo pro lanche da escola. Engraçado como o sabor da cenoura é evidente, mas talvez por comer sabendo o que tem dentro. Me pergunto se um desavisado identificaria o gosto.

Agora o que anda me pegando de jeito mesmo é a velocidade com o que os pães desaparecem. Lembro-me de uma vez em que comentaram sobre ter filhos adolescentes, e como a leitora em questão preparava uma quantidade brutal de pães por semana para alimentar os moçoilos. Achava que fosse certo exagero, até ver que um pãozinho de forma como esse acaba em três dias aqui em casa. E só no café da manhã. o_O Como podem os pequenos serem já tão ogros? É bom vender muitas telas, para poder comprar farinha o bastante para poder alimentar os monstrinhos quando tiverem dezesseis anos. ¬_¬

PÃO DE CENOURA E CHIA
(Pouco adaptado daqui.)
Rendimento: faz 1 pão de forma

Ingredientes:

  • 175g cenoura
  • 250ml água morna
  • 7g fermento biológico seco instantâneo
  • 25ml azeite de oliva
  • 450g farinha de trigo
  • 50g farinha integral ou de espelta
  • 2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (sopa) sementes de chia (e mais um pouco para decorar)


Preparo:

  1. Esfregue bem as cascas das cenouras para limpá-las, seque e rale-as bem fininho numa tigela grande. Junte a água morna e o fermento e deixe descansar cinco minutos.
  2. Junte o azeite, as farinhas, o sal e as sementes e misture bem dentro da tigela, incorporando toda a farinha até obter uma massa razoavelmente firme, mas grudenta. Cubra com filme plástico e deixe descansar por 10 minutos.
  3. Sove a massa na bancada ligeiramente untada de óleo por um minutinho ou dois. A massa estará ainda grudenta. Polvilhe com pouca farinha, apenas o bastante para ajudá-lo a formar uma bola. Volte-a para a tigela, cubra, e deixe fermentar por 1 hora.
  4. Unte uma forma de pão de forma (a que eu uso é mais alta, então o pão fica mais quadrado) com manteiga ou azeite. 
  5. Na bancada ligeiramente enfarinhada, achate a massa num formato retangular e dobre as abas para o meio, como um aviãozinho de papel, então uma aba sobre a outra, apertando bem para selar. Coloque a massa com o vinco para baixo na forma, cubra e deixe fermentar por mais uma hora.
  6. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Quando a massa estiver crescido bem, pincela a superfície com água, polvilhe com mais um pouco de chia e faça um corte com 2cm de profundidade na superfície do pão. Leve ao forno por 50 minutos ou até que esteja dourado e emita um som oco quando você bater-lhe com os nós dos dedos. Retire da forma e deixe esfriar completamente sobre uma grade antes de consumir. 





terça-feira, 6 de maio de 2014

Um almoço à indiana, seguindo com a esquizofrenia culinária

Naan, chutney de manga, grão-de-bico no gengibre e couve-flor com verduras.
À noite, uma conversa...
"Sabe o que eu estava pensando?", comecei. Marido olhou para mim. "Que quando você trabalhava com barbeador, ficava trazendo um monte de barbeador pra casa pra testar. Agora que trabalha com cozinha, fica trazendo um monte de eletrodoméstico pra testar. Bem que você podia..."
"Trabalhar num banco?", interrompeu-me, engraçadinho.
"Olha só como a gente pensa diferente: eu ia dizer trabalhar com queijos franceses. Mas banco seria uma boa também." ;)

Há uns meses atrás, o marido começou a trabalhar na parte de cozinha da Philips-Walita. E daí que começou a trazer, mês sim, mês não, uma panela, um liquidificador, um mixer, etc..., para testar em casa e conhecer o produto (olha que conveniente pra mim...). Afinal, é o trabalho dele. A parte engraçada disso é que ele está tendo de aprender a cozinhar e finalmente é obrigado a ouvir os meus pitacos sem revirar os olhos. A outra parte engraçada é vê-lo me explicando as maravilhas da tecnologia, uma vez que sou super a favor da supremacia da colher de pau (apesar de achar que processador e batedeira são uma mão na roda – as discussões a respeito são sempre divertidas por aqui).

Daí que noutro dia ele apareceu com uma panela de pressão elétrica. Eu nunca na vida soubera que isso existia e logo de cara resisti à ideia. Quem conhece o blog há tempos deve-se lembrar de uma enquete e um post que fiz certa vez a respeito do medo mais que medonho da panela de pressão. Eu tenho pavor da bichinha.

Porém, confesso que a possibilidade de fazer um feijãozim de última hora me animou. Para uma família que quase não come carne, faço menos feijão do que deveria. Simplesmente porque me esqueço de deixar o danado de molho na noite anterior.

E lá fui eu. Li o manual. Ok, coisa elétrica desliga quando dá problema, ao contrário da comum que entope e explode. Tá, isso é animador. Respirei fundo, esperei as crianças irem brincar no quintal, coloquei a água, o feijão e os temperos na panela, fechei e liguei. Coração batendo forte.

Olhei em volta. Saí tirando tudo o que tinha da prateleira logo acima da bancada, porque se o bicho explodisse, não queria minha Le Creuset voando e espatifando no chão. Olhei em volta de novo. Fechei as portas e isolei o local. De cinco em cinco minutos, eu voltava à porta da cozinha e pressionava o nariz contra o vidro, tentando enxergar a luzinha verde acesa da panela, e se havia alguma movimentação suspeita.

Passado o tempo de cozimento, o bicho parou de pressurizar (isso é palavra?) e entrou no modo de manter aquecido. Mandei as crianças e o cachorro para longe, abri a porta e me aproximei devagar, pontinha do pé. Com o dedinho cheio de cautela, virei a válvula, ouvindo enfim aquele apitinho peculiar, o vapor saindo, o cheiro do feijão pronto. Alívio infinito. Panela despressurizada, deixei ali fechada, mantendo quente, e fui apanhar o telefone que ficara no escritório, para poder ligar pro marido e dizer o que eu tinha achado de usar a panela dele.

Eu no escritório, ouço um estrondo. AI MEU DEUS. Volto correndo, coração na boca, achando que foi tudo para os ares. E me sinto uma idiota: foi só a porta da cozinha que bateu com o vento. ¬_¬

O feijão ficou ótimo, e aquilo me animou um bocado, e saí comprando todos os tipos de feijão do mercado para voltar a prepará-los com mais frequência.

No feriado, marido quis ver o troço funcionando, e resolvi preparar o grão-de-bico. Fazia tempo que queria preparar Naan, um pãozinho indiano, e a receita do grão-de-bico indicava naan como acompanhamento.

Botei o grão-de-bico para cozinhar e chamei o Pequeno Sovador de Massa para me ajudar com o pãozinho. Enquanto a massa fermentava, preparei a couve-flor com a acelga italiana do quintal (pois não tinha espinafre), batatas e especiarias, e preparei o refogado do grão-de-bico com gengibre. Thomas na cadeira, mexendo a panela. De repente ele ergue a colher de pau, inclinadinho sobre o fogão, traz a outra mão por baixo dela, assopra, assopra, e leva à boca. Todo adulto.

"Hmmmm... Delish!"

*_* Orgulhinho de mãe.

Na hora de moldar os pãezinhos, Thomas voltou à ação, me ajudando do jeito dele a amassar as bolinhas de massa e esticá-las. Assei os naan diretamente sobre a pedra no forno e servi com os dois legumes e o chutney de manga que eu preparara meses antes, numa ocasião em que uma querida amiga nos presenteara com uma sacola imensa de mangas pequeninas, já bastante maduras.

Soprador de Naan Quente e Devoradora de Chutney em ação.
Não é uma refeição para meio da semana, pois sei que é trabalhosa, mas ficou absolutamente deliciosa. Os naan fizeram um sucesso incrível com as crianças, que, surpreendentemente, rasparam o prato de legumes, sem nem se incomodarem com os verdes [cabeça de criança: quem entende?]. Laura apontava para o vidro de chutney, e eu pensava: "ela está achando que é geleia". Resolvi dar um pouquinho para que experimentasse, com medo da reação, uma vez que era bastante picante. A mocinha se esbaldou e pediu mais, e mais, e toda colherada de legumes tinha de ter um pouco de chutney picante por cima. o_O

Naan quentinho, bem de pertinho. Muito fácil e muito bom.
Não sei quão indianas são de fato as receitas (aliás, aceito feedback de quem já foi à Índia, principalmente a respeito do formato dos pãezinhos, pois não havia foto no livro). Apenas o chutney veio de um livro de culinária indiana. Os legumes e o naan saíram de um ótimo livro da Deborah Madison, que é tão autoridade em cozinha indiana quanto eu sou de vietnamita. No entanto, é tudo bom, e aromático, e saboroso, e tem gosto de comida que nutre todas as células do seu corpo, como quase tudo de "indiano" que já comi na vida. Tão bom, que foi almoço e jantar no mesmo dia.

Agora toma esse monte de receita.

NAAN DE IOGURTE
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 8-10 pãezinhos

Ingredientes: 

  • 1/4 xic. água morna
  • 2 1/4 colh. (chá) fermento ativo seco instantâneo
  • 3/4 xic. água quente
  • 3/4 xic. iogurte integral natural
  • 1/4 xic. ghee ou manteiga clarificada (usei manteiga comum, amolecida, e deu certo mesmo assim)
  • 1 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 xic. farinha de trigo integral
  • 1/4 xic. farelo de trigo (se a farinha já tiver bastante fibra, não precisa – não usei, a farinha era já bem grossa)
  • 3 xic. farinha de trigo branca


Preparo:

  1. Polvilhe o fermento sobre a água morna numa tigelinha e deixe espumar por 10 minutos. Enquanto isso, combine a água quente, o iogurte, o ghee e sal numa tigela grande. Junte o fermento, farinha integral e farelo, se estiver usando. Acrescente aos poucos farinha branca, sovando, suficiente para formar uma massa macia e ainda ligeiramente pegajosa. Coloque em uma tigela untada com óleo, cubra e deixe fermentar por 1 hora. 
  2. Pré-aqueça o forno no máximo com a pedra de pizza ou uma assadeira grande invertida. (Cerca de meia hora antes de assar os pães)
  3. Coloque a massa na bancada ligeiramente enfarinhada e divida em 8-10 pedaços. Forme bolinhas, cubra com um pano e deixe descansar por 10 minutos. 
  4. Amasse as bolinhas para formar um disco, puxe suas extremidades para formar um oval de textura irregular e afunde as pontas dos dedos na superfície, como você faria a uma focaccia. 
  5. Coloque os ovais diretamente na pedra de forno ou assadeira quentes e asse por 12-15 minutos, até que estejam  ligeiramente dourados em cima.  Retire do forno e empilhe-os, servindo quente ainda, se possível. 


GRÃO-DE-BICO COM GENGIBRE
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 4-6 porções

Ingredientes:

  • 3 colh. (sopa) óleo vegetal
  • 1 cebola grande, picada
  • 1 folha de louro
  • 3 dentes de alho, picadinhos
  • 2 colh. (sopa) gengibre fresco ralado
  • 2 colh. (chá) semente de coentro moída
  • 2 colh. (chá) cominho moído
  • 1/4 colh. (chá) cardamomo moído
  • sal e pimenta-do-reino
  • 2 tomates, sem pele e em cubos (usei meia lata do italiano)
  • 1 1/2 xic. caldo do cozimento do grão-de-bico ou água
  • 3 xic. grão-de-bico cozido ou 2 latas, escorridas e enxaguadas
  • suco de meio limão


Preparo:

  1. Aqueça o óleo numa frigideira grande em fogo médio. Junte a cebola e cozinhe, mexendo frequentemente, até bem dourada, cerca de 12-15 minutos.
  2. Abaixe o fogo e junte o louro, alho, gengibre, especiarias, 1/2 colh. (chá) cada de sal e pimenta, e os tomates. Cozinhe por 5 minutos, junte o grão-de-bico e o caldo e deixe levantar fervura. Cozinhe até que fique com uma consistência mais grossa, de molho. Acerte o sal e a pimenta e tempere com o suco de limão.


COUVE-FLOR COM VERDURAS, À INDIANA
(Do ótimo Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Rendimento: 4

Ingredientes:

  • 3 batatas médias, descascadas e em cubos
  • 1/4 xic. manteiga clarificada ou ghee (de novo, usei manteiga comum)
  • 1 cebola grande, fatiada fino
  • 1 couve-flor pequena, cortada em quartos e fatiada fino, caule inclusive
  • sal
  • 2 colh. (chá) alho picado
  • 1/2 colh. (chá) cúrcuma
  • 1 colh. (chá) cominho moído
  • 1 colh. (chá) semente de coentro moída
  • 1 colh. (chá) sementes de mostarda inteiras
  • 1 maço de espinafre (usei acelga italiana), apenas folhas 
  • 1 maço de agrião (não usei), apenas folhas
  • 1 cenoura pequena, ralada
  • suco de 1 limão
  • várias pitadas de Garam Masala
  • Coentro picado


Preparo:

  1. Cozinhe as batatas no vapor até que fiquem macias. Reserve.
  2. Aqueça 2 colh. (sopa) da manteiga numa panela grande e baixa, que tenha tampa, em fogo médio-alto. Junte a cebolae cozinhe até que esteja bem dourada. Retire a cebola e reserve. 
  3. Derreta o restante da manteiga em fogo alto e junte a couve-flor e um pouco de sal. Cozinhe até que comece a dourar em alguns pontos, depois de uns minutos.
  4. Junte o alho, as especiarias e as batatas cozidas. Misture bem e abaixe o fogo. Cozinhe por uns 4 minutos.
  5. Junte as verduras, a cenoura e 1/2 xic. água. Cubra com a tampa e cozinhe por cerca de 1 minuto, até que as verduras tenham murchado. Tempere com o suco de limão e o garam masala e polvilhe com coentro picado.


CHUTNEY DE MANGA PICANTE
(Do livro Complete Indian Cooking)
Rendimento: 1,25kg (divida a receita, para produzir pequenas quantidades)

Ingredientes:

  • 500g açúcar
  • 600ml vinagre
  • gengibre fresco ( 1 pedaço de 5cm de comprimento)
  • 4 dentes de alho
  • 1kg manga madura mas firme, descascada e cortada em pedaços pequenos
  • 1/2 a 1 colh. (sopa) pimenta em pó (depende da pimenta que usar – usei 1/2 de caiena)
  • 1 colh. (sopa) sementes de mostarda
  • 2 colh. (sopa) sal
  • 125g passas ou sultanas


Preparo:

  1. Coloque o açúcar e todo vinagre MENOS 1 colh. (sopa) em uma panela, leve à fervura e cozinhe em fervura branda por 10 minutos.
  2. Em um processador de alimentos ou pilão, transforme o gengibre, alho e a colher de vinagre em uma pasta. Junte à panela e cozinhe por mais 10 mintuos, mexendo. 
  3. Junte a manga, o restante dos ingredientes, e cozinhe, destampado, por 25 minutos, mexendo conforme o chutney for engrossando. Remova do fogo e deixe que esfrie um pouco. 
  4. Coloque em vidros esterilizados, fechando bem a tampa. (Como no meu caso, as quantidades foram meio adaptadas de acordo com a quantidade de manga, coloquei nos vidros esterilizados, mas guardei na geladeira. Duram meses.)

Um mini post sobre a balbúrdia anterior

Que eu sabia que daria alguma zica o post anterior, eu sabia. O que me surpreendeu foi o motivo. Mas, vá lá, os comentários têm sido totalmente diferentes desde o dia em que comecei a falar de filho e de ser mãe por aqui. Parece que é mesmo um assunto que deixa o povo ensandecido. Porém, algumas coisas que li tanto nos comentários críticos quanto os de apoio, fizeram-me perceber que talvez seja preciso esclarecer alguns que podem ter ficado confusos ao longo desses anos todos...

Primeiro, nunca fui profissional da área. Nunca fiz gastronomia, nutrição nem nada parecido. Como muita gente dentro e fora da internet, sou apenas uma aficionada por cozinha, cheia de curiosidade. Curiosidade essa que me faz pesquisar um bocado e experimentar muitas coisas. Mas eu não sou nem nunca quis ser autoridade em coisa nenhuma. Aliás, o que é uma "autoridade na cozinha"? Nunca vi presidente do frango assado na vida. Considerando a cozinha essa atividade em constante evolução, indo e vindo da tradição, descobrindo e redescobrindo ingredientes, misturando culturas e novas tecnologias, seria estúpido presumir saber tudo. E eu com certeza não sei. Quando vi esse mês uma reportagem na revista Casa e Comida sobre tipos de creme de leite, corri para ver se havia alguma informação que eu não soubesse e que pudesse acrescentar ou corrigir naquele meu post antigo. Quando alguém me corrige, seja no português ou informação incorreta, eu tento consertar o erro no blog o quanto antes, desde que eu não esqueça de fazê-lo (às vezes acontece). Lembro-me de alguém ter comentado naquele caso da piadina, sobre eu ter dito que era toscana. Sem problemas, presumi que fosse toscana porque um livro meu toscano continha a receita. Me atira uma piadina na testa, então.

O que me leva ao segundo ponto. Durante todo esse processo de buscar informações e aprender a cozinhar, eu me tornei extremamente radical em alguns pontos. Fruto dos vinte e poucos egocêntricos anos, que fazem com que nos achemos donos do mundo e da verdade absoluta (coisa que parece passar conforme envelhecemos, graças aos céus) e fruto da ignorância. Era uma fase muito "quem foi que inventou a maionese? Ah, então essa é a única maionese CORRETA." Resumidamente: eu era uma idiota. E fui idiota com muita gente. E hoje agradeço aos leitores que suportaram toda essa fase, que foi e voltou algumas vezes, e continuaram por aqui. E peço desculpas ~aqueles com quem possa ter sido grosseira ao longo dos anos. De verdade.

Acho que todos nós, quando descobrimos algo novo de que gostamos, mergulhamos um pouco de cabeça. Às vezes nos empolgamos além da conta. Às vezes viramos militantes. Às vezes ficamos chatos. Então descobrimos que estamos chatos e tentamos amenizar um pouco as coisas. E mudamos de ideia.

E este é o terceiro ponto. Quando comecei esse blog, jurava que era a primeira pessoa do mundo a pensar num blog de culinária. Há! Pausa para as risadas. Era a única dentre todos os meus amigos que cozinhava alguma coisa, e realmente me julgava grande coisa. O bastante para ensinar os outros que sabiam menos do que eu. Como muitos outros blogueiros, caí na fantasia de ser "descoberta", publicar livro e virar a próxima Nigella. Coisa que, ainda bem, passou. Passou e o que ficou, quando parei de tentar produzir fotos ou maquiar minha vida, foi um blog extremamente pessoal. Quem lê desde o primeiro post pode identificar todos meus questionamentos e dificuldades, toda a insegurança da adolescente gordinha que a gente carrega dentro de si pelo resto da vida, toda a tentativa de me tornar alguém remotamente melhor do que eu era, todos os meus retumbantes fracassos nessas tentativas e alguns pequenos sucessos.

O blog tornou-se um diário pontuado de receitas, mais do que qualquer coisa. E o que minha cabeça confusa produz às vezes não é consistente, às vezes é esquisito, às vezes não faz o menor sentido. Algumas outras vezes é uma versão romanceada dos fatos, para um efeito mais cômico. Mas com certeza me ajuda a colocar as ideias em ordem. Mesmo que seja para ler de novo um mês depois e me sentir estúpida.

Em suma, não levem muito a ferro e fogo o que escrevo aqui. São apenas crônicas. São apenas receitas. São apenas opiniões de alguém que, como muita gente por aí, não sabe tudo. É para ser divertido. Ligeiramente informativo. Mas não muito. Se deixar de ser divertido para quem lê ou para quem escreve, então acabou. (Só que ainda não acabou, não se preocupem.)

Noutro dia comentei com meu marido: "Às vezes me sinto completamente esmagada pela sensação de não fazer ideia do que estou fazendo."
"Em que sentido?", perguntou.
"Todos. Saber o que estou fazendo presume que tenho controle total sobre os resultados. E eu não tenho. Não faço ideia de que tipo de adultos meus filhos vão ser. Não faço ideia se minhas telas vão vender. Não faço ideia do por quê de continuar escrevendo o blog. Não sei qual vai ser o resultado de tudo isso. Às vezes isso me esmaga. Às vezes é libertador."

[Obs: e se você leu isso e imaginou um tom de voz mi-mi-mi, saiba que não foi com esse tom que escrevi. O próprio post anterior fora para inaugurar uma fase mais leve e despretenciosa no blog. Então leiamos com leveza e um sorrisinho maroto.] 

Obrigada a todos os leitores, críticos, fãs, que vão e voltam, que têm me feito sempre matutar bastante. Porque fica tudo muito chato quando todo mundo concorda em tudo absolutamente e é sempre bom ter o carinho de vocês e também os alertas que me fazem mudar ou reafirmar meu caminho. ;)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Mingau de quinua, pacote-maternidade e cozinha esquizofrênica


Para ser mãe, antigamente, tecnicamente falando, bastava parir um bebê. Ou adotar um. Hoje em dia, ser mãe é como contratar TV à cabo. Acompanhe meu raciocínio...

Mulher resolve que quer ter um filho, e fala com o atendente:
"Oi, moço, bom dia."
"Bom dia, minha senhora. Em que posso estar te ajudando?"
"Então... eu quero ser mãe."
"Perfeito, minha senhora. Confirme alguns dados cadastrais, por favor."(...) "Perfeito. Então, estou vendo aqui no seu cadastro que você é vegetariana."
"Isso."
'Ok... então eu posso estar te oferecendo o pacote Natureba-Master."
"E o que vem nesse pacote?"
"Um momento... O pacote Natureba-Master inclui o vegetarianismo que a senhora quer... e fralda de pano, reciclagem, minhocário, roupinha de algodão orgânico de segunda mão, amamentação até os 3 anos em livre demanda, música de ninar no violão e pandeiro e nome de entidade hindu pra criança, com grafia em português."
"Putz... esse pacote é meio que muita coisa pra mim. Sabe o que é? Eu queria amamentar até 1 ano e meio, e tipo usar fralda descartável. E meu bebê vai ter o nome daquela princesa da..."
"Não, não, minha senhora. Disney não pode."
"Como assim?"
"No pacote Natureba-Master não tem TV nem Disney. Só trabalhos manuais com massinha feita em casa e papel reciclado. E precisa ser fralda de pano. O que eu posso fazer, é a senhora poder estar contratando a amamentação até os 3 anos mas depois dizer que a criança perdeu o interesse com um ano e meio, se quiser."
"Mas continua sendo muita coisa, moço. Não tem uma opção só de vegetariano, mesmo?"
"Um momento, minha senhora..." (...) "Olha, eu tenho aqui um pacote mais simples... o Mini-Hipster. É fralda de pano de noite, fralda descartável de dia... Mas o berço precisa ser de alguma loja de decoração moderna e obscura, o bebê tem que usar camisetas de referências a séries de cultura pop irônicas... ah, mas é vegan."
"Mas e se eu usar o berço que era da minha tia?"
"Não pode, senhora. A senhora precisa estar escolhendo um pacote fechado de estilo de maternidade."
"Mas não pode misturar?"
"Não, minha senhora. Nesse caso, se a senhora estiver tentando misturar, a senhora receberá avisos de que é uma mãe horrível."

...

Esse é o tipo de discussão sem pé nem cabeça entre mães ou entre mães e parentes, que tenho acompanhado na vida real e internet afora ultimamente. Conforme as mulheres que eu conheço vão ficando grávidas, vou proclamando: "Bem-vindas ao reino das mulheres eternamente erradas." ;)

É meio engraçada essa cobrança por uma consistência imaginária. E eu não sou só a vítima – já acusei os outros do mesmo jeito, mães ou não: achava absurdo meu marido vegetariano comer Cheetos e Miojo, como se vegetarianismo fosse sinônimo de naturebice. Povo xinga porque não gosto da onda das princesas, mas se minha filha calha de aparecer vestindo qualquer coisa rosa, xinga de novo porque rosa é coisa de princesa (hein??) e eu disse que não gostava. Xinga porque paro de comer carne, xinga porque volto a comer carne, xinga porque mesmo voltando a comer carne, ainda prefiro passar 90% do meu tempo como vegetariana. E quando digo que naquele dia prefiro não comer a carne, povo xinga porque não me decido. Povo xinga quando você veste camiseta de rock e te pega ouvindo MPB. Povo xinga porque porque saía com aquele short-queijo-suíço na rua, e depois zoa quando resolvo sair de maquiagem. Tem quem me xingasse quando eu tinha cabelo roxo, e teve quem me xingasse quando desencanei do cabelo roxo ("voltou a ser uma mãe 'tradicional'?", tive que ouvir).

Povo xinga. Ponto. Não importa o que você faça, você está sempre em desacordo com alguém. E, principalmente, em desacordo com a expectativa dos outros. Povo não consegue encaixá-la num perfil específico e fica louco porque não sabe o que esperar. Aí vêm as cobranças do que você deveria ou não fazer para voltar a se encaixar no perfilzinho pré-fabricado de mãe.

Vamos todas nos dar as mãos e combinar que isso é ridículo pra chuchu.

Que, no fim das contas, nós somos todos seres em constante mudança, principalmente depois que temos filhos. Pois antes deles chegarem, sempre temos firmes na cabeça todas as nossas regras pessoais. Aí as coisinhas vêm ao mundo com personalidades próprias, e nos vemos obrigadas a desviar daquele caminho rígido que criáramos na nossa imaginação. O que funciona com um, não funciona com o outro, e você mantém o objetivo em mente (seres humanos independentes, inteligentes e bons) e vai adaptando o processo como pode. E o mundo vai mudando em volta e obrigando você a adaptar ainda mais. Porque não dá pra viver numa bolha.

Assim vai sendo a vida e assim vai sendo a minha cozinha. Esquizofrênica, uma hora cheia de doces, outra hora cheia de frutas, uma hora com frango assado, outra hora com tofu, gourmet, natureba, carnívora, vegetariana, internacional, brasileira, complexa, simples, prato único, múltiplos pratos, faz queijo, compra cream cheese, faz ketchup, compra maionese, come ovo de páscoa, faz mingau de quinua.

Hein?

Min-gau-de-qui-nu-a.

Noutro dia eu comecei a assistir a episódios do Bela Cozinha, um programinha lindinho no GNT. E fiquei encantada, lembrando de uma fase "grãos integrais" pela qual passei na véspera de Thomas entrar no Não-Gosto-Não-Quero. E me deu uma saudade daquele tipo de comida, de grãos, de verdes, de frescor, daquela leveza que dá por dentro. Vontade de tomar leite amêndoas. E fazer ghee. Preparei as batatas-doces com o molhinho de coentro e castanha de caju germinada e pirei naquilo. Confesso que doce vegan não me apetece (ainda). Mas como ando com uma vontade quase nula de doce desde o natal passado [uma estranhice tão grande que cheguei a pensar que estava grávida de novo – o que não estou, by the way], achei que era uma boa hora de tentar reintroduzir a naturebice de volta à casa, depois de uma fase tão mortadela, queijo e arroz com ovo. Principalmente pós-Páscoa, com toda a avalanche de chocolate. Que, aliás, precisou ser devidamente escondido, pois pimpolho, se vê chocolate, não quer saber de fruta de sobremesa, o que me deixa louca: nas últimas férias escolares, ele ficava felicíssimo em comer pera e gorgonzola de sobremesa. Bastaram três meses de contato com criança que leva danete pra escola e uma relaxada da minha parte para tentar evitar brigas constantes com familiares, e pimba: criança desaprendeu tudo. ¬_¬

É assim? É assim? Roubando bolacha recheada do amiguinho? Então toma essa, que o cerco vai apertar aqui em casa. Há! Come porcaria na escola, que aqui em casa não tem mais disso não. ;)

Saí alucinada reestocando a despensa de painço, quinua, amaranto, linhaça, cevada, centeio, tudo o que gosto mas andava deixando de lado porque o mocinho andava enjoado para comer. Fiz leite de amêndoas. Aproveitei que o pimpolho gosta de quinua e gosta de mingau de aveia de manhã, e preparei junto com ele mingau de quinua, com leite de amêndoas e cranberries. Thomas comeu tudo. Laura repetiu. Achei estranho aquele gosto de quinua logo de manhã cedo, mas depois da primeira colherada, você se vê raspando a tigela. Café tão alternativo, que me deu vontade de vestir uma saia indiana e fazer trancinha no cabelo.

Thomas levou na lancheira queijinho, uva e água de coco. Quer comer, come, não quer, não come. Já se entupiu de quinua de manhã, então tá bom.

E essa mãe aqui está contente quebrando contrato, independente do revirar de olhos do povo em volta, e pula de galho em galho, conforme a coisa vai funcionando e conforme me dá vontade. Porque já tive muita insônia por tentar me encaixar cem por cento num retrato de perfeição de um estilo específico de uma pessoa que não sou eu. Tive uma epifania esses dias, lendo comentários de mães afoitas a respeito de estilos de ser mãe, o que era certo e o que era errado, todo mundo atacando todo mundo e se defendendo... e pensei: no fim, você cria o seu filho para que melhor se adapte à vida da família. Se você é super regradinha, cheia de horários, amamentação em livre demanda pode tornar sua vida miserável. Se você é tranquila de horários, provavelmente será uma delícia. Se você curte só viajar em família e não se imagina sem a pimpolhada do lado, não precisa se preocupar em acostumar a criança a ficar sem você. Mas se você trabalha fora ou quer viajar só com seu marido de vez em quando, consegue imaginar o sofrimento que vai ser para uma criança acostumada a dormir toda noite na sua cama? Enfim. Dar danete pra criança de três anos eu acho bizarro. Mas se é isso o que se come na sua casa, não adianta tentar dar pudim feito em casa pro bicho. Como aqui se come pudim feito em casa, estou afastando meu filho do danete. E eu sou carnívora, e vegetariana, e carnívora de novo, e dou doce e não dou doce, e faço muffin de painço e bolo de chocolate, e faço arroz integral e macarrão com farinha branca, e compro tomate orgânico, mas uso o cream cheese industrializado para o cheesecake, e a gente faz sanduíche de mortadela e mingau vegan. E é isso aí. A gente faz o que pode, e, principalmente, a gente faz o possível para educar os pimpolhos dentro do NOSSO estilo de vida. Não no dos outros. E o nosso estilo é o nosso e fim. Cheio de mudanças e incongruências, porque ninguém precisa fazer parte de clubinho nenhum. A gente faz o que faz enquanto funciona. E se pára de funcionar, a gente muda. E banca essa mudança.

Enquanto isso, mingau de quinua. Para quem gosta de quinua. E de mingau. E chega de reclamar de cyber-maternidade e afins.

MINGAU DE QUINUA COM LEITE DE AMÊNDOAS
(quase nada adaptada do livro Whole Grains for a New Generation, de Liana Krissoff)
Rendimento: o livro diz 2 porções, mas para minha fome de manhã, e das crianças, eu diria 3-4. 
Tempo de preparo: 20 minutos

Ingredientes:

  • 1 xic. de quinua, bem lavada para tirar o amargor
  • 2 xic. leite de amêndoas caseiro* 
  • 2 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico (usei baunilhado)
  • 1 colh. (chá) extrato natural da baunilha
  • 1/4 xic. cranberries (ou cerejas secas, ou mesmo uvas passas)
  • 2 colh. (sopa) amêndoas picadas ou em lâminas

*Para o leite de amêndoas, deixe 1xic. de amêndoas de molho em água fria durante uma noite. Escorra, e bata no liquidificador com mais 4 xic. de água filtrada. Filtre em um pano limpo, apertando bem para retirar todo o leite. Guarde o leite na geladeira por até 5 dias. Não jogue fora o "bagaço" de amêndoas. Use para cozinhar. 

Preparo:

  1. Coloque a quinua, o açúcar e 2 xíc. de leite de amêndoas numa panela pequena de fundo grosso e leve à fervura. Abaixe o fogo e cozinhe, mexendo de vez em quando, por 15-20 minutos, até que a quinua esteja cozida.
  2. Junte a baunilha e as cranberries e cozinhe por mais uns 3 minutos, para terminar de engrossar.  
  3. Distribua entre as tigelinhas, polvilhe com as amêndoas picadas, e, se quiser, mais um pouco de açúcar e leite de amêndoas. 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Pão de centeio do Thomas. Ou cozinhando com crianças. De verdade.

Pãozim de centeio do Thomas
Levanta a mão quem está grávida agora e suspirando pelos dias em que ficará na cozinha com o futuro pimpolho ao lado, decorando biscoitos caseiros, na maior aura comercial de margarina. Agora levanta a mão quem já tem filho e saiu aos berros cozinha afora, mandando a criança voltar com o pote de farinha, ou pelamordedeus lava essa mão de chocolate antes de subir no sofá, peste dos infernos!

Não há mentira mais bem contada internet afora do que aquela que conta o conto da criança que cozinha fofa com você. Com dedinhos delicados, segurando pequenas framboesas e depositando-as com precisão no centro de panquequinhas redondas e uniformemente douradas. Ou roupinhas lindas e incólumes durante o processo de decorar um cupcake com glacê, e apenas aquela charmosa marquinha de chocolate na ponta do nariz, enquanto a criança lambe o dedão com um sorrisinho satisfeito para a mãe.

Agora, chega aqui prum dedo de prosa, que eu vou te contar que a vida não é bem assim.

Estou certa de que há por aí um punhadinho de criancinhas extremamente focadas e comportadas, que medem colheres de chá de coisas voláteis como cacau em pó sem derramar um grãozinho na mesa. (Ou sem fazer a mãe derramar uma lágrima de raiva.) Mas a maior parte das crianças de dois anos, quando vêem um pote de farinha e uma garrafa de leite, pensam... BAGUNÇA!!!!

¬_¬

É lógico que eu sempre quis que meus filhos interagissem com o preparo da comida desde cedo. Eles sempre ficaram comigo na cozinha, e lhes dava os ingredientes para cheirar, experimentar, manipular. Deixava que colocassem a mão na porta do forno para que sentissem o que queria dizer "quente", e aí nunca mais fazê-lo. Pegava-os no colo para que vissem o que estava acontecendo na panela. O interesse de ambos era visível, mas com certeza volúvel e limitado.

Quando Thomas tinha pouco mais de um ano e meio, comecei a tentar trazê-lo para me ajudar na cozinha. Ah, um muffin de banana deve ser simples o bastante. Veio correndo quando o chamei para ajudar a fazer bolinhos, e adorou tirar farinha dum pote e colocá-la na tigela. Adorou tanto, que não queria parar. Nunca. E quando tirei a colher dele e tentei explicar que já bastava de farinha, ele abriu o berreiro. Mamãe malvada tirou minha colher e não me deixa brincar.

Foram váaaarias tentativas totalmente frustradas da minha parte. Era uma bagunça infernal, uma birra imensa, o doce dava invariavelmente errado e ninguém se divertia. NINGUÉM.

Aí resolvi começar a chamá-lo só na hora de misturar. Deixa que eu meço tudo direitinho e deixo à disposição dele só o que está lá, na ordem certa. E as coisas melhoraram. Ele misturava lá do jeito dele, mas ainda voava massa de bolo para todos os lados, para as roupas, para o cabelo, e ele queria lamber a colher, e queria misturar com a mão, e o cotovelo ia junto. Eu berrava um pouco, respirava fundo, ele fazia birra porque mamãe malvada não deixava enfiar o cotovelo na massa de bolo. Respirava fundo, dava aquela arrumadinha na massa antes de botar na forma, e dava tudo certo. Ele ficava feliz com os treze segundos de ajuda na cozinha, ia brincar lá fora e o jantar não era totalmente arruinado.

Daí ele descobriu as alegrias de abrir massa de torta. E queria ficar comendo as rebarbas. E queria amassar com o rolo do jeito dele. E enfiando o dedo no meio para fazer buracos. E, eventualmente, eu dei de ombros se a massa de torta ficaria perfeita ou não (afinal, éramos nós que comeríamos), e deixei que ele abrisse tudo torto, e colocasse na forma tudo torto, e assasse a torta dele do jeito dele. Não que ele comesse: comia as bordas feito biscoito, mas do recheio, necas. (Daí que comecei a enfiar farinha de quinua, de amaranto, trigo sarraceno, centeio, na massa da torta. Há!)

Uma vez tendo me desapegado completamente do resultado (e da ordem, da higiene, das regras gerais da civilização), foi mais fácil trazê-lo para ajudar na cozinha. E a primeira receita que deixei que ele fizesse quase que sozinho foi panqueca. Porque panqueca não leva tanto ingrediente cujo desperdício dá raiva, e é fácil de consertar. Mas agora, aos três anos, ele de fato me ouve quando digo que basta de farinha, ou que não pode derrubar na mesa. Ele derruba. Mas é sem querer. E eu tenho que ficar medindo a farinha no olho e fazendo contas mirabolantes na cabeça conforme ele vai acrescentando a farinha em 1/4 xic. + 3/8xic. + 19/27 xic... No fim, como eu sei que consistência a meleca tem que ter, eu acerto com mais leite ou mais farinha no final.

A novidade para ele tem sido a atividade no fogão. Sobe na cadeira e deixo que mexa a panela do molho, bote o tempero, quebre o ovo (com ajuda), coloque macarrão na água fervendo – assim, bem de pertinho e devagar, sem medo da água, porque quando a gente tem medo de se queimar e joga de longe e de qualquer jeito, a água espirra em você e você se queima. E a faca. Faca de manteiga. Pra picar banana. E tomate. Do jeito dele. Mamãe conserta depois. Ou a faca de chef, afiada, pra ele saber que as facas são diferentes, e que não pode sair pegando sem a mamãe. Mando que ele coloque a mãozinha solta pra trás do corpo, e eu seguro o legume com  a mão esquerda, enquanto guio com a direita a faca pesada na mãozinha dele. Demora horrores. Mas ele fica contentíssimo. E presta atenção. E aprende o nome das coisas. E o cheiro. E às vezes come. Às vezes não.

Tem sido um aprendizado constante para mim e para ele. Entender até onde vai a atenção da criança e sua capacidade de obedecer ordens e seguir uma receita. Há um ano atrás, era impossível. Principalmente se eu quisesse roupas incólumes e receitas perfeitas. Desapegando do resultado, começa a ficar divertido. Chamando para algumas etapas apenas, melhor ainda. Aí, de repente, o bichinho começa a se interessar e querer fazer direitinho. E fica contente de misturar a aveia com o mel para fazer granola. Ou ficar de olho no termômetro pra fazer iogurte. E fala orgulhoso pra irmã que foi ele quem fez. E aí sim dá um gosto danado, uma alegriazinha de ver aquele pimpolho querendo virar panqueca com a espátula. (Mas não conseguindo, claro.) Rasgar salada, no entanto, ele não quer. Acho que sabe que quero que ele coma alface.

Não dá pra ser assim todo dia. Mas deixar que ele ajude em coisas bestas como colocar o leite na xícara, ou o pão na torradeira, acabou com algumas chateações de manhã cedo, com ele não querendo tomar café e fazendo birra pra sentar na mesa.

Esse pãozinho de centeio veio da revista Menu desse mês, e eu achei o processo ótimo para deixá-lo bagunçar um pouco. A massa é bem molenga, e recomendam que não se sove muito. Então deixei que ele brincasse com a meleca e só dei uma mexidinha nela pra ficar homogênea. Ajudei-o a formar as bolas e a cortar em cima. E ficou muito gostoso. :) Apesar de eu ter sim saído aos berros "volta aqui e lava essa mão de massa antes de subir no sofá, ô peste dos infernos!"

PÃO DE CENTEIO
(da revista Menu, receita de Rogério Shimura, da Levain)
Rendimento: dois pãezinhos pequenos, de 400g cada

Ingredientes:

  • 250g farinha de trigo (preferencialmente orgânica, mas usei a comum)
  • 125g farinha de centeio
  • 125g farinha integral
  • 300g água morna
  • 15g fermento biológico fresco (usei 5g do seco instantâneo)
  • 10g sal
  • 25g manteiga


Preparo:

  1. Em uma tigela grande, misture todas as farinhas. Acrescente a água e o fermento e misture até formar uma massa homogênea. 
  2. Adicione o sal e a manteiga e misture apenas até que a massa fique homogênea novamente. Evite sovar demais, para que a massa não fique pesada. 
  3. Cubra a tigela com filme plástico e deixe descansar por 30 minutos (um pouco mais, se o dia estiver muito frio). 
  4. Divida a massa em 2 partes iguais e forme bolas com elas. Coloque-as numa assadeira grande, ligeiramente enfarinhada. Coloque a assadeira dentro de um saco plástico grande, com cuidado para que o plástico não grude na massa, e deixe fermentar até que as bolas dobrem de volume (cerca de 1 hora). 
  5. Retire a assadeira do plástico, polvilhe as bolas com farinha, faça cortes com 1-2cm de profundidade na superfície (com o desenho que quiser) e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC por 15-20 minutos, até que um toque com os nós dos dedos na parte debaixo dos pães soe oco. Deixe esfriar completamente sobre uma grade antes de comê-los. 




segunda-feira, 14 de abril de 2014

Linguado com espinafre e molho de tomate e meus livros de ilha deserta

Eu já fui melhor em tirar fotos antes do jantar com luz artificial de cozinha. :P
Meus livros de ilha deserta.
O país está desandando num passo tão rápido, que acho que não conheço um único brasileiro de classe média-mequetrefe (quem vos escreve inclusa) que não repita duas vezes ao dia que está na hora de fazer as malas e procurar outro lugar para morar. Discurso antigo, mas que anda tomando força entre quem eu conheço, e ando vendo muita gente de que gosto de fato juntando as coisas e indo embora.

A discussão aqui não é para ser política, isso é um blog de comida. O caso é que toda essa movimentação, é claro, faz a gente olhar em volta e pensar num grandessíssimo "E SE...".

E se eu saísse do Brasil?
Pra onde eu iria?
E as crianças?
E a escola das crianças?
E os avós?
E os meus amigos?
E o cachorro?
E a minha rotina?
E meu trabalho?
E o meu estúdio de pintura?
E a bateria do Allex?
E os meus livros de cozinha?

o_O

Sim, sim, e os meus livros de cozinha? Todos os... [pausa pra checar o número no Eat Your Books] 127 livros de cozinha que habitam desmazeladamente minha casa toda?

Porque não basta empacotar tudo e botar no mochilão. Custa caro levar tralha pra lá e pra cá. E ninguém garante que seu lugar novo vai comportar tudo o que você quer levar.

Ando vendo justamente minha cunhada e seu marido, que estão fazendo o caminho inverso e voltando para cá: como custa uma fortuna desmedida trazer um container de fora para o Brasil, eles tiveram de selecionar a dedo todos os seus pertences e decidir o que de fato era importante e o que poderiam vender ou deixar para trás... para que trouxessem apenas as malas de viagem. Um enorme exercício de desapego, mas que deve ter sido extremamente doído.

E fiquei matutando nisso, pois fora o material de arte, que é meu trabalho, eu não tenho de fato muita coisa. Aliás, depois das últimas rapas, percebi que não tenho praticamente nada além da mobília, das roupas e... dos livros. [Não adianta falar em Tablet, que eu realmente acho muito desconfortável ler nele, pois pesa, e por conta da sensibilidade da tela e de seu formato nada orgânico, meus dedos nunca ficam relaxados à volta dele, e uma vez lendo por meia hora no aparelho, os músculos de minhas mãos doem. Fora que, como Umberto Eco – a-ham... – eu gosto de rabiscar livros.] Dos romances, hoje em dia, acho que só levaria O Senhor Dos Anéis comigo para lá e para cá para sempre. Mas e os livros de cozinha??

Matuta, matuta.

Concluí que ainda que goste muito da minha coleção e que tenha fases de usar mais determinados livros do que outros, estou bem satisfeita com os que tenho, e, não apenas não sinto mais vontade de comprar novos [toda vez que estou fuçando na Amazon me refreio, pois vejo que não sinto mais aquela ilusão de "uau, se eu cozinhar isso, vou ter esse estilo de vida" e que não tem mais muita novidade por aí, na verdade], como também estou meio que pronta para me desfazer de uma parte deles. Mas calma, isso com o tempo. O problema é que, tendo espaço, sei que mandar alguns embora é querer trazer outros no lugar. Então deixa quieto.

Mas no fim das contas, desde que Laura nasceu, pego-me repetidamente abrindo os mesmos livros, atrás do mesmo tipo de prato, e ainda que às vezes eu apanhe algo de diferente num dia mais tranquilo, meus volumes de confiança são sempre os mesmos. No caso, os dois livros que mais desprezei quando abri pela primeira vez, achando que eram excessivamente simples ou derivativos. Acontece que... não.

O Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich, faz jus ao nome. E todos os bolos de aniversário (e de lanche da escola, e de terças-feiras) tem saído daí. Acho que se não fiz todos, falta um ou dois. Meu pudim de chocolate é o desse livro e ponto, porque é o mais simples de todos, mas que entrega complexidade como se eu estivesse usando mais ingredientes. E a panna cotta. Quando vi toda uma sessão "ensinando" a misturar frutas com iogurte, tive vontade de devolver o livro, julgando-me enganada. Até o dia em que fiz seu iogurte com purê de bananas, açúcar mascavo e cardamomo e comi tudo numa sentada só, mal dividindo com as crianças. É o livro de sobremesas que mais tenho usado nos últimos anos, e toda vez que escolho uma receita de outro livro, fuço nesse também para vez se há uma opção mais fácil. Baking com duas crianças pequenas, um trabalho e uma casa pra cuidar não é mole não e se eu puder fazer a receita toda metendo tudo no processador de uma vez só sem perder em qualidade, ah, eu vou.

Daí vem o Apples for Jam, da Tessa Kiros, que foi mais ou menos a mesma história. Como assim, receita de macarrão com  molho de tomate? E lasanha de tomate? E brownie de novo? E, jura?, arroz com ovo frito? Folheando o livro de primeira, você realmente acha que ele é excessivamente simples, básico, monótono. Acontece que... não. A lasanha de tomate tem o gosto da lasanha da minha avó, e virou clássico aqui em casa, com o queijo que tiver, de queijo Serrano até queijo prato de padaria, e sempre fica tão, tão bom. E o "soufflé loaf" de vagem. E os flanzinhos de cenoura e espinafre, que fiz à exaustão na época de papinha do Thomas, e que, quando eu via, o Allex tinha comido tudo. E o risotto branco com ovo frito e sálvia. E o pão de forma. E a focaccia, que já virou minha, de tantas vezes que fiz. E o purê de damascos. E os sorvetes. E a omelete de abobrinha. E as cenouras cremosas. E os croissantzinhos. E o pão de cacau. E o de farinhas integrais. E o gnocchi de beterraba. E o iogurte com laranja e leite condensado. E o iogurte com pecãs e romã. Os risotti, de legumes, de tomate, de espinafre com camarão, e a sopa de peixe. Nunca nada saiu menos do que "gostoso". Nunca nada dá errado. E sempre tem gosto de comida de mãe ou de avó.

A verdade é que me sinto assim com todos os seus livros (o Falling Cloudberries, o da Toscana, o da Grécia, o de Veneza...) mais do que com qualquer outro autor, e acho que se um dia saísse do Brasil, tentaria levar todos comigo, e seus novos seriam os únicos que continuaria comprando. Mas se só pudesse levar um, seria Apples for Jam. Pois ele tem receitas como essa, leves, deliciosas, e surpreendentemente fáceis de fazer, apesar de não parecerem à primeira vista.

Linguado enroladinho com espinafre e molho de tomate. Mesmo tendo feito o molho com tomates frescos, ainda foi fácil. Enrolar o peixe foi bico. Fiz tudo com antecedência, e quinze minutos antes da hora do jantar, esquentei o molho e cozinhei o peixe, que já estava enroladinho na geladeira. Servi com batatas fritas (como ela sugere) e arroz integral, pois eu só tinha três batatinhas minúsculas. Sucesso com todo mundo, até com o pequeno aniversariante do mês, que graças a deus, não está mais dodói e voltou a comer. "Nossa, gostoso, isso. Muito delicado!", foi o veredito do marido, que odeia "fishy fish".

E esses são, portanto, meus livros de ilha deserta, ou de mudar pra fora.

Não, eu não vou mudar pra fora. (Povo lê na diagonal e se confunde.)

Mas o exercício mental foi interessante. :)

ENROLADOS DE LINGUADO E ESPINAFRE COM MOLHO DE TOMATE
(do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 5 colh. (sopa) azeite
  • 2 dentes de alho, descascados e ligeiramente amassados
  • 1/2 lata de tomates italianos picados, ou 4-5 tomates frescos, bem maduros, picados
  • 2 raminhos de manjericão, rasgados
  • sal
  • 3 xic. folhas frescas de espinafre, firmemente apertadas na xícara (cerca de 1 maço pequeno)
  • 1/3 xic. queijo parmesão ralado
  • 8 filés pequenos de linguado, sem pele
  • farinha de trigo, para polvilhar
  • fatias de limão, para servir
  • palitos de dente para prender


Preparo:

  1. Aqueça 4 colh. (sopa0 de azeite e um dente de alho numa frigideira funda com tampa, que consiga acomodar posteriormente todos os rolinhos de peixe. Quando o alho começar a fritar, junte o tomate picado e o manjericão, tempere com um pouco de sal e deixe levantar fervura. Cozinhe em fogo baixo por dez minutos, amassando e mexendo às vezes com uma colher, até que forme um molho. Se começar a pegar na panela, ou secar, junte um pouquinho de água, só pra ajudar o tomate a se desmanchar. 
  2. Enquanto isso, em outra frigideira, aqueça o restante do azeite e o outro dente de alho. Junte o espinafre e cozinhe por alguns minutos até que murche e reduza o volume. Retire do fogo, retire o dente de alho, descartando-o, junte o parmesão e acerte o sal. 
  3. Coloque os filés de peixe na tábua, com a parte que costumava ter a pele virada para baixo. Coloque uma colher (chá) cheia de espinafre no centro de cada um. (Eu coloquei mais, depende do tamanho dos filés.)
  4. Enrole bem apertadinho e passe um palito de dente de um lado ao outro, prendendo firmemente a ponta.
  5. Passe os rolinhos cuidadosamente na farinha de trigo, cobrindo-os ligeiramente. 
  6. Acondicione os rolinhos na panela do molho de tomate já quente, em uma única camada. Polvilhe com um pouco de sal. 
  7. Coloque a tampa e cozinhe em fogo brando por 5 minutos. Destampe, vire os rolinhos cuidadosamente,  polvilhe com sal outra vez, tampe novamente e cozinhe por mais 5 minutos, até que o peixe esteja cozido (dá pra sentir o cheirinho dele cozido, mas é sempre bom testar um e ver se já está opaco por dentro.) Se o molho estiver secando muito antes do peixe ficar pronto, acrescente algumas colheres de água e deixe esquentar outra vez. Sirva com as fatias de limão. 



terça-feira, 8 de abril de 2014

Quitutes de aniversário corrido

O caderninho de onde vieram os quitutes.
O dia seguinte.
Semana passada foi aniversário do Matador de Dragões. Festa infantil definitivamente não é meu forte. Confesso que me sinto imensamente intimidada por todos os relatos de festas infantis que vejo por aí. Principalmente do povo empenhado, que de fato produz todos os enfeites manualmente e afins. Já disse isso uma vez: apesar de trabalhar com arte, trabalhos manuais não são meu maior talento.

Daí que decidi que, ainda tendo mais adultos que crianças na festa (há poucos amigos e familiares com filhos, e achei melhor não chamar ainda os colegas da escola, pois a festa ficaria grande demais para o tamanho da minha conta bancária), manteria as coisas simples. Brinquei com meu marido: é bom nivelar por baixo – no dia em que a festa tiver cupcakes e a gente ligar o video-game, Thomas e Laura vão achar que é festa de milionário. ;)

Resolvi que prepararia um bolinho simples de chocolate para que Thomas levasse na escola, para cantar parabéns com os amigos. Um fácil, de preparar numa tigela só e levar na assadeira, pra cortar em quadradinhos na hora. O bolo do livro Sticky Choowey Messy Gooey, da Jill O'Connor, que já fiz em vários momentos de desespero por chocolate e preguiça monumental de fazer bolo. Receita AQUI.  A cobertura, fudge, do livro de baking que mais tenho usado desde que tive filhos: Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich. Porque a cobertura original do bolo é doce DEMAIS. E essa, da Alice, é perfeita. E fácil. De novo, receita AQUI. Porque como o bolo e a cobertura usam unsweetened chocolate (chocolate a 99%), acho bobagem colocar aqui traduzido algo que muito pouca gente vai encontrar e as autoras não sugerem substituição.

Daí, que para o cardápio da festinha, decidi preparar tudo com antecedência, um quitute por dia, e congelar, para reaquecer no forno no dia da festa. Tudo simples: pão de queijo (receita que já faço de olhos fechados), pastelzinho de palmito, bolinho de mandioca (que acabou saindo de mandioquinha, pois confundi e comprei errado), sanduichinho de presunto cru, cream cheese e alface, e uns patezinhos comprados prontos, com torradinhas compradas prontas.

Faria o pão de queijo num dia, na batedeira, super rápido, e congelaria. A receita que costuma render uns 50 tamanho normal, rendeu o dobro em tamanho coquetel. No mesmo dia, cozinhei as mandioquinhas e fiz os bolinhos, que também foram para o freezer. Enquanto fazia tudo isso, a massa do pão de forma do bertinet crescia, massa sovada por dez minutos e facílima de moldar, e foi ao forno logo antes das crianças dormirem. Do forno para o freezer. Nesse dia, ter mãe aqui em casa pra olhar a pimpolhada ajudou, ainda que boa parte do processo tenha sido feito na hora da soneca.

Os pasteizinhos fiz num fim de semana, num dia em que o pimpolho queria atenção, então o coloquei para ajudar. Ele puxou a cadeira para perto da mesa, colocou os ingredientes na tigela e preparou a massa com minha supervisão. O recheio idem. Na frente do fogão, juntando tudo, mexendo com colher de pau. Agora, com três anos, ele recebe e respeita instruções melhor, e se orgulha do resultado e de ter feito sozinho. Também entende o perigo que é o fogo ou uma faca. Na hora de abrir a massa e rechear, ele ficava com algumas rebarbas e um cortador de biscoito, brincando de massinha enquanto mamãe preparava os pasteis de verdade. Isso foi muito, muito gostoso, e desde então ele tem estado louco de vontade de ajudar na cozinha. ^_^

Para a mãe, pedi que trouxesse seus bolinhos de arroz e os patês comprados.
Para a sogra, pedi que trouxesse brigadeiros e bicho-de-pé.
Minha irmã trouxe balas de coco. E bolinhas de sabão.

O bolo, fiz em ainda outro dia, zás-trás, no processador. Bolo de baunilha pau pra toda obra da Alice Medrich, daquele mesmo livro citado antes. Embalei e botei no freezer, e apenas na noite anterior à festa que abri, reguei com um xarope de açúcar a baunilha, recheei com doce-de-leite comprado e cobri com cobertura de chocolate feita com cacau em pó, também da dona Alice, mas do livro Bittersweet. Não foi o bolo mais bonito que já fiz, mas ficou bem gostoso. Tipo um alfajor gigante. ;)

O entretenimento foi a piscininha de montar que as crianças ganharam da Oma no Natal, cheia de bolinhas de plástico coloridas compradas pela internet. E as bolinhas de sabão da minha irmã. E as poucas bexigas que enchi e joguei dentro do chiqueirinho da Laura. E o excesso de energia de crianças com espaço para correr.

A decoração? Festa aqui em casa não costuma ter disso. Decoração, pra mim, é casa limpa. A mesma toalha xadrez vermelha e branca de sempre, que acho festiva. Algumas louças coloridas que tenho. Mas num momento de calmaria, lembrei-me do bloco de papel colorido que há 8 anos habitava minha gaveta. Empilhei tudo, cortei com estilete em triângulos e grampeei numa linha qualquer. Bingo: bandeirinhas coloridas. Um trabalho de meia hora para um visual festivo. Senti-me super orgulhosa do feito e meus filhos adoraram.

De bebida, cerveja, suco de laranja e água de coco.

Parece muita coisa quando escrevo, mas considerando as festas a que eu tenho ido, ficava com a sensação de que era muito... pouco. Mas se eu tinha intenção de passar por esse processo com sossego ou mesmo fazer mais (juro que eu quis planejar lembrancinhas. Ou comprar guardanapos coloridos. No fim, quem comprou copinhos foi minha mãe), o universo foi muito sacana comigo. Primeiro, me deu um bom trabalho, mas com um prazo metade do prazo mínimo que costumo dar para esse tipo de projeto. Com ele, vieram as reuniões em São Paulo e até em Belém, ainda que o avião tenha pousado primeiro em São Luís por causa da chuva e por lá ficado por cinco horas, além da uma hora e meia de atraso que tivera para sair de Guarulhos.

E eventos na escola e reunião de pais, que me tomaram tempo de trabalho, que tive de compensar em horários em que pretendia cuidar da festa.

Daí que no meio da semana anterior à festa, Thomas pegou um febrão inexplicável, que só deu sossego no dia de seu aniversário, ainda que eu o tenha mandado à escola meio borocoxô, para cortar o bolo de chocolate que fiz com o coração na mão. Queria muito que ele se divertisse um pouco. E ele parou de comer. E de beber água. E eu comecei a ficar louca de preocupação. E depois de muita atenção e tentativa de traduzir o pouco que ele andava falando, pensamos: são os molares terminando de nascer. Aí vieram as aftas. E quando falei com o pediatra, ele explicou que era estomatite. Comum, aparentemente, principalmente quando nascem os dentes, pois a resistência baixa.

E quando vem a festinha, ele se diverte, mas não come. Passa o dia todo com o mesmo pão de queijo na mão, e mamãe de coração partido, vê quando ele distribui brigadeiros para a festa inteira mas não come nenhum. Mas me delicio com sua felicidade ao receber os presentes. Eu, tentando me distrair do fato de que todo aquele trabalho que eu tivera não estava beneficiando meu filhote, que estava doente e amuado, esqueci-me até mesmo de tirar fotos.

A festa é boa, a comida dá certo, povo parece se divertir. Eu, de coração partido por Thomas não ter comido dos pasteizinhos que ele mesmo fez, passei uma noite insone. E na noite insone, fiquei pensando nas conversas que tivera sobre festas feitas em casa, e decoração, e lembrancinhas, e toda a sorte de coisas que eu não fizera. E senti-me completamente inadequada. E me incomodou o fato de estar incomodada. Quando minha irmã me perguntou qual era o tema da festa, respondi: colorido. E qual o esquema de cores? Pra comprar os papeizinhos da bala de coco? Ahn... colorido. Cores. Sei lá. Festa de criança da nossa infância. E pensei que se meus pais alguma vez fizeram uma festa para mim com tema de qualquer coisa, eu não me lembro. A única lembrança forte de aniversários de infância que tenho é de uma amiga de minha mãe passar a tarde toda na cozinha batendo papo e ajudando a enrolar brigadeiros. E essa é uma lembrança muito querida, pois para mim queria dizer dia de festa. Como as frutas espalhadas pela casa no Natal.

E pensei que poderia ter feito muito mais pela festa do meu filho. Mas teria sido uma droga, pois ele estava dodói.

No dia seguinte, Thomas, Laura, papai e mamãe fazendo guerrinha de bolinhas na piscininha. O pequeno, enlouquecido com seus dragões novos. A pequena, no entanto, é quem se anima com o patinete, empurrada pelo papai. A futura skatista da família, minha Laura. Brinca-se horrores. Tiro todas as fotos que me esqueci de tirar na festa. Thomas de bom humor. Tasca remédio. Ele consegue comer alguma coisa. Prova um pastelzinho. "Delish!", diz, sem conseguir pronunciar "delícia". Passa patê nas torradinhas e distribui para papai e mamãe. Janta iogurte caseiro. Está radiante com o dia de brincadeiras.

Melhora mais um pouco no dia que se segue. Quer almoçar brigadeiro? Manda bala. Felicidade é vê-lo comer, graças a deus. Alívio.

As bandeirinhas continuam lá. Ainda não tive tempo de tirá-las. A piscininha de bolinhas ficou montada por três dias. Desde a festinha ele não quer ver desenhos, apenas brincar com os brinquedos novos. Fico orgulhosa de vê-lo emprestar alguns para a irmã.

Para sempre vou me lembrar desse aniversário corrido, feito às pressas, com aniversariante doentinho que me deu uma dor imensa no coração. Mais do que isso, no entanto, vou me lembrar das interjeições de alegria ao vê-lo abrindo os presentinhos e seu olhar de incredulidade ao perceber que aquilo era dele. Ou de sua alegria nas brincadeiras do dia seguinte, família toda junta.

Pergunto-me do quê ele vai se lembrar, se é que se lembrará de alguma coisa. Se vai ver o video do parabéns e se perguntar do por quê de estar chorando. Ou se vai lembrar do dia em que fez pasteizinhos. Ou da bandeirinha tosca da mamãe.

PASTEIZINHOS DE PALMITO
(de uma edição antiga da Cláudia Cozinha)
Rendimento: cerca de 30 unidades

Ingredientes:
(massa)

  • 2 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1/2 xic. manteiga sem sal, gelada
  • 1/2 xic. água gelada

1 gema
(recheio)

  • 1 cebola picada
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 150g palmito em conserva escorrido e picado
  • 3 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 3/4 xic. leite
  • sal a gosto
  • 3 colh. (sopa) salsinha picada
  • 2 gemas para pincelar


Preparo:
(massa)

  1. Misture a farinha, o sal e a manteiga em cubinhos e esfregue com a ponta dos dedos até obter uma farofa. Junte a água e a gema e misture com um garfo, até obter uma massa homogênea. Cubra com filme plástico e deixe descansar na geladeira enquanto faz o recheio.

(recheio)

  1. Numa panela, refogue a cebola no azeite por dois minutos. Acrescente o palmito e mexa bem. 
  2. Misture a farinha com o leite e junte à panela. Cozinhe, mexendo sempre, até engrossar ligeiramente. Tempere com sal e junte a salsa. Deixe esfriar.

(montagem)

  1. Aqueça o forno em temperatura média (180ºC). Abra a massa com um rolo até obter uma espessura de meio centímetro. Corte a massa com um cortador redondo de 9cm de diâmetro (você pode juntar as rebarbas e abrir de novo, para obter mais pastéis).
  2. Recheie cada roda de massa com 1 colh. (chá) da mistura de palmito. Pincele as bordas da massa com um pouquinho de água, e feche em formato de meia-lua. Pressione as bordas com um garfo e coloque o pastel na assadeira. 
  3. Pincele os pastéis com as gemas batidas e leve ao forno por 25 minutos, ou até que estejam levemente dourados. Sirva-os quentes ou deixe que esfriem completamente, guarde em um saco plástico e leve ao freezer por até 3 meses. Basta reaquecê-los em forno médio por alguns minutos.


BOLINHO DE MANDIOCA (ou mandioquinha)
(de uma edição antiga da revista Cláudia Cozinha)
Rendimento: cerca de 60 unidades

Ingredientes:

  • 1kg de mandioca limpa (ou mandioquinha)
  • 1 ovo
  • sal a gosto
  • 2 colh. (sopa) salsinha picada
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1 xic. queijo mussarela cortado em cubinhos
  • 2 ovos batidos ligeiramente, em uma tigela
  • 1 xic. farinha de rosca, em uma tigela
  • óleo para fritar


Preparo:

  1. Corte a mandioca em pedaços, descasque e cozinhe em água suficiente para cobri-la, até ficar macia. 
  2. Escorra e amasse ou esprema no espremedor de batata (ou passa-verdura) para obter um purê. 
  3. Misture ao purê o ovo, a salsinha, sal a gosto e a farinha de trigo. 
  4. Com mãos untadas, ou duas colherinhas de chá, faça bolinhas de meia colh. (sopa) da massa, coloque dentro um cubinho de queijo e feche bem. 
  5. Passe as bolinhas nos ovos batidos e em seguida na farinha de rosca. Reserve em uma assadeira as bolinhas prontas. (Se quiser congelar, leve a assadeira ao freezer por cerca de 2 horas, então retire e coloque as bolinhas congeladas num saco plástico fechado, no freezer, por até 3 meses. Frite-os ainda congelados.)
  6. Frite em óleo quente poucas unidades por vez, até que as bolinhas dourem por igual. Escorra em papel absorvente e sirva quente. 

segunda-feira, 31 de março de 2014

O que eu aprendi em Amsterdam

Waffles com cerejas quentes
A primeira coisa que aprendi em Amsterdam, foi como ser uma companhia de viagem desagradável. Foi entrar no avião, para estourar uma afta na lateral da minha língua do tamanho do Amstel, que tornou qualquer processo de fala e/ou deglutição um flagelo que me produzia lágrimas nos olhos. Yey! Fun! Not. Foram três dias de silêncio e preguiça de comer. Não sabia se me afundava em auto-piedade, ou se ficava com dó do meu marido, que ansiava pela minha normalmente mais efusiva companhia.

Mas ok. Passou. Perrengue faz parte.
Sanduba de salmão defumado num ótimo pão preto. E Witbier.
Sanduba de bolinhos de peixe e camarão com salada. E Witbier. E Torta de maçã. 
Sanduba de presunto com raiz forte. E Witbier.
A segunda coisa que aprendi em Amsterdam, foi o fato de que holandeses não são magros à toa. O fato de serem tão altos a ponto de me fazerem sentir atarracada com meus 1,72m deve ter mais a ver com a qualidade de seus laticínios e alguma negociação bem feita com deuses nórdicos na época da criação do mundo. Mas o fato de serem magros é totalmente resultado de cultura: aprendi que além de pedalarem pra todo canto e subirem muita escada (predinhos antigos sem elevador e você morando no 5º andar), eles também comem de uma forma surpreendentemente leve para um país nórdico onde eu esperava encontrar a velha tríade porco-batata-repolho.

Um café da manhã quase asceta, um trocinho com café chegando no trabalho, um almoço de sanduíche ou sopa, super rápido, uma frutinha à tarde, um trocinho no bar com os amigos, e a primeira refeição quente e decente do dia é o jantar com a família.

Parece estranho dizer que um sanduíche na hora do almoço é coisa leve, e esses da foto realmente parecem imensos. Mas note bem o pão preto cheio de sementes e coisas boas. Note bem a quantidade de salada dentro do pão. Agora note quanto do "elemento principal" há: UMA FATIA. Você pede um sanduba de queijo holandês, esperando aquela experiência "sanduba do mercadão", e vem UMA FATIA de queijo em cima de um monte de salada. E tomate. Sempre tomate. Pede o bagel com queijo no café da manhã. Uma fatia de queijo. E tomate. E FRIO. Cinco graus lá fora, e povo não bota o pão no tostex sabe-se deus lá por quê. o_O

Nos dois supermercados em que entrei, fiquei surpresa em ver gôndolas minúsculas da tralha americana que acostumamos a ver nos nossos mercados. Havia sim muita verdura, muita fruta (muita coisa orgânica), uma infinidade de castanhas, sementes e frutas secas, 30 tipos diferentes de granola, e uma enorme gôndola de laticínios onde não avistei um único iogurte 0% gordura ou que prometa regularidade intestinal – muito pelo contrário, enorme quantidade de potes de chantilly, creme de leite, sour cream, iogurte integral, e tudo com embalagens lindamente simples. O que meu marido achou divertido no mercado, no entanto, foi a Duvel vendida a preço de Itaipava, e a possibilidade de você levar o engradado de plástico junto pra casa. Sabe como é. Pra facilitar ao levar na garupa da bicicleta.

Pintar ao ar livre no inverno é para os fortes de espírito. Ou vikings.
A terceira coisa que aprendi em Amsterdam é que foi ótimo confiar na minha cunhada quando ela me aconselhou a levar mais roupa quente que roupa bonita. Depois de passar uma manhã inteira no museu, sentei num parque para pintar um chorão bonito no lago e estrear meus pincéis novos. Duas horas depois, o sol já estava sumindo atrás dos prédios. Eu lá, sentada no banquinho, na sombra, tentando aplicar os detalhes finais na aquarela, e meu pincel fininho pulava da minha mão, pois meus dedos tremiam de frio e eu não sentia suas pontas. Guardadas as coisas, precisei de dois cappuccinos quentinhos para destravar minha mandíbula.

Faz frio em Amsterdam. Deus do céu.

E falando em roupa bonita, da próxima vez que minha irmã vier me dizer que eu estou estranha usando vestido com calça e coturno, vou dizer que é moda em Amsterdam. Senti-me super em casa nesse quesito, que a mulherada lá tem o mesmo gosto clean, preto-e-branco, jeans e legging, sapato confortável, blusa sem estampa, tô sussa me larga, que eu. Fui toda feliz a uma loja de departamentos ver se finalmente encontrava roupas em conta e que servissem no meu corpo, mas tentar uma saia longa foi a maior frustração, uma vez que eu sou grande como as holandesas, mas muito mais baixa em comparação com os 1,80 delas. Serve no quadril, arrasta no chão. Número 36 obviamente não fechava e mesmo assim arrastava no chão. ¬_¬ Fué.

A quarta coisa que aprendi em Amsterdam, foi que você pode comer muito bem e muito em conta se se mantiver no esquema holandês da sopinha e sanduíche no almoço e cerveja e um pedaço de queijo e salame no jantar. Mas que os restaurantes, mesmo os mais recomendados, são muito caros com o euro ao preço que está para nós, e, no fim, é meio que como comer em São Paulo. Fui a um indonésio com meu marido, inclusive recomendado num programa do Anthony Bourdain, e foi... legal. Ter a porção de arroz e várias mini-porções de pratos indonésios foi interessante, a variação da intensidade da pimenta foi divertida (consegui chegar até a primeira fileira dos pratos mais apimentados, e então decidi que era melhor não abusar - meu marido encontrou sua nêmesis, enfim, ao provar o prato mais apimentado do restaurante; nunca o vi suar no cabelo depois de comer pimenta). Tudo bom, mas concluímos que poderíamos comer coisas semelhantes em São Paulo (ou mesmo em casa) por muito menos.

Rice Plate, num restaurante indonésio. 
Num dia em que ele tinha um jantar da empresa, fui a outro recomendado pelo titio Bourdain. Muito promissor, achei que era a oportunidade de ter a experiência de um menu degustação de 7 pratos, coisa que aqui em São Paulo me custaria muito, muito mais. Algo deu terrivelmente errado, pois os pratos estavam carregados no sal a ponto de matar o gosto de qualquer outro ingrediente. Eu via que tudo era minuciosamente bem planejado e preparado, então realmente não sei o que aconteceu. Foi uma pena.

Em outros dias, preferi matar a fome com salame e queijo e o ocasional bitterballen, que concluí que é produzido por uma empresa só e distribuído para todos os bares da cidade. O croquete de carne mais industrializado do mundo. Mas gostoso. Vai bem com cerveja.

Famigerado arenque. Aventuras culinárias nem sempre bem sucedidas.
 A quinta coisa que aprendi em Amsterdam foi que arenque é gostoso. Mas perigoso. Quer dizer... eu PRESUMO que o sanduíche de arenque cru tenha sido a causa de eu ter perdido minha sexta-feira inteira no hotel, com intoxicação alimentar. Mas difícil dizer. Perrengue. Acontece. Comeria o sanduíche de novo? Eh. Provavelmente. Quem estou tentando enganar?

Pão integral. COISA LINDA.
 A sexta coisa que aprendi em Amsterdam foi que pão preto holandês é uma delícia. Fofo, saboroso, cheio de sementes e coisas boas. Não tem comparação com o pão integral que as padarias brasileiras fazem. Eu vou, VOU, buscar uma receita. Outra coisa que achei mais gostosa que a tal torta de maçã: appelflap. Um turnover de maçã, uma tortinha de massa folhada. Nham.

Sétima coisa aprendida em Amsterdam: arte moderna e contemporânea que me desculpe, mas ver Rembrandt ao vivo me fez chorar feito uma criancinha. Toda besta lá, lágrimas nos olhos, sem querer sair da frente daquilo que foi com certeza uma das coisas mais bonitas que já vi, e que, na minha opinião, vale a visita a Amsterdam. O Night Watch é fantástico, impressionante, deixa você pensando como diabos Rembrandt fez aquilo e como diabos, depois de Rembrandt, podem chamar isso de arte. Não se pode colocar os dois na mesma categoria. É errado. Nein, nein. Ahn, ahn. Tsc, tsc.

Oitava coisa que aprendi é que holandês é impronunciável. Depois de um dia todo praticando falar "van Gogh" corretamente, tive de encarar a chacota dos holandeses quando eu obviamente não consegui falar direito. E eles tiram sarro da sua cara mesmo. Mas não é de maldade. Eles são piadistas. Eventualmente você se conforma e dá risada junto.
Manguaça.
A última coisa que aprendi em Amsterdam, é que cerveja holandesa é sensacional, que as micro-cervejarias são fenomenais, que os pubs minúsculos com 30 tipos diferentes de chopp dão vergonha nos nossos bares superfaturados que se orgulham de vender chopp Brahma, e que uma boa stout no fim do dia alivia qualquer afta, dor-de-estômago ou dedos congelados, e torna tudo muito, muito mais divertido. Viva a manguaça.

Resumo: sim, Amsterdam é linda e super divertida. Me acabei nos museus e em todas as exposições que encontrei no caminho, andei horrores, fotografei referências para aquarelas de Amsterdam pelo resto da vida. Obrigada a todos que me recomendaram lugares para ir e coisas para fazer.

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