sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tirando trauma: ceviche de salmão

Certa vez, quando ainda morava com meus pais, minha mãe e eu resolvemos tentar uma dieta estranha feita por um Instituto do Coração XYZ, já não me lembro mais qual. A dieta começava com uma espécie de minestrone sem pão, feijões, batatas ou macarrão. Deveríamos tomar a sopa todos os dias, almoço e jantar, e ir, a cada dia, completando com alguma coisa mais, segundo a lista.

Eu fui a responsável pelo preparo do sopão. Caldeirão em mãos, fui acrescentando os ingredientes. Por distração, entretando, acabei usando extrato de tomate no lugar de polpa, e juntei uma quantidade muito maior de repolho do que deveria. Resultado: gostos muito fortes e conflitantes que por muito tempo provocaram em mim uma certa repulsa por repolho.

Cada um na família reagiu de uma forma diferente àquele estranho experimento: meu pai adorou a sopa e tomava baldes dela todos os dias, e até hoje, segundo minha mãe, pede para que a preparem novamente; eu consegui segui-la por 5 dias, e então atingi meu limite, pois andava me sentindo muito enfraquecida com a falta de carboidratos; minha mãe não suportou mais de 3, e diz que até hoje engasga ao lembrar-se da sopa; minha irmã nem chegou perto e não me lembro de sequer vê-la experimentando.

O que me leva ao ponto principal: no segundo ou terceiro dia do sopão, podíamos comer um pouquinho de peixe. Ao que tive a brilhante idéia de passar no supermercado tranqueira e pedir ao peixeiro que me cortasse um pouco de salmão para sashimi. Lembro-me até hoje da menina que me atendeu, claramente desconfortável com seu posto de trabalho, e como ela assassinou aqueles meros 100g de peixe com seu facão de cabo branco e sua óbvia inabilidade. Minha pobre bandeja de salmão parecia mais um amontoado de iscas de frango que um prato de sashimi. Mas, como na época eu não era chata e exigente, deixei passar e fui feliz e contente para casa para entuchar meus sashimi-meleta no shoyu. Se ficou bom? Neh. Tinha gosto de peixe.

Essa experiência negativa somada à minha pobre faca incapaz de fatiar um peixe com delicadeza se meu pescoço estivesse na reta foram responsáveis por nunca mais pensar em preparar qualquer coisa remotamente semelhante a peixe cru.

Até o dia do milagre do peixe que não fede. Não há como dizer isso de outra forma: eu não fazia idéia de quão ruins eram minhas facas e do quanto elas me atrapalhavam na cozinha até ter em mãos uma de qualidade. Sei que parece propaganda, mas não me importo. Facas boas e afiadas não são perigosas: elas facilitam o trabalho e tornam todo o ato do mis-en-place mais prazeroso. Não pude acreditar quão fácil foi cortar o couro daquele peixe, e me senti num programa do Jamie Oliver, em que ele manuseia a faca como se fosse parte de seu corpo.

Empolgada com os resultados obtidos àquele dia, resolvi tirar o trauma de vez: apanhei meu salmão restante, deitei-o na tábua e, num movimento sem esforço, cortei-lhe a pele fora e fatiei-o tão fino quanto julguei apropriado para meu paladar. Se há alguma técnica nisso? Duvido muito. Tenho certeza de que há muitos sushimans se contorcendo ao olhar para minhas fotos. Ainda assim, aquelas delicadas e pequenas fatias de salmão prestavam-se para o que eu pretendia: ceviche.

Ainda que acredite que isso vá implícito quando falamos de peixe cru, o seguro morreu de velho: só prepare esse prato se tiver em mãos um pedaço de salmão fresquíssimo e de boa procedência. Salmon is a very fishy fish, e não vai ficar legal se seu cheiro já estiver mais forte.


CEVICHE DE SALMÃO
(Quase nada adaptado do livro Gordon Ramsay´s Fast Food)
Tempo de preparo: 15 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 90g de salmão sem pele em fatias de 0,5cm
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça sem as sementes
  • 1 cebolinha
  • 1/2 dente de alho pequeno
  • 1/2 colh. (sopa) de suco de limão
  • 1 colh. (chá) de shoyu (um bom, não porcaria, que é salgado demais)
  • 1 colh. (chá) de azeite de oliva extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
  • coentro fresco
Preparo: Disponha as fatias de peixe ligeiramente sobrepostas em um prato. Fatie fino a pimenta, a cebolinha e o alho e distribua sobre o peixe. Numa tigelinha, misture o shoyu, o limão, o azeite, o sal e a pimenta. Derrame sobre as fatias de peixe de forma homogênea e deixe marinando por 10 minutos. Na hora de servir, pique um pouco de coentro fresco e coloque-o sobre o peixe.

Para acompanhar o ceviche, preparei uma salada verde simples e outra de mini-abobrinhas cruas fatiadas fino com o descascador de legumes, milho em conserva, tomates-cereja e queijo feta.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cena de um casal no shopping e uma sopa picante com queijo

Um casal passeia despreocupadamente no shopping, quando, de repente, a mulher agarra seu companheiro pelo braço e o puxa em direção a uma loja de cozinha em liquidação. O homem, acostumado já aos rompantes consumistas de sua esposa, não faz caso e se deixa levar. Ela aponta para uma travessinha cor de tomate maduro, apanha a peça nas mãos e solta um longo, dengoso e inapropriado-para-sua-idade: "onhonhóoooooooh, que butitchiiiinhu.... cutchi-cutchi..." O marido, sem saber onde enfiar a cara, concorda discretamente, na tentativa de acalmar a mulher maluca, e observa que há já muitas travessas em casa.

"Mas essa é piquinininha...!", tenta a mulher, com olhos pidões.
"E o que você faria nela?", perguntou ele, resistindo, buscando um furo em sua estratégia.
"Aaaaaaaah... um monte de coisa...! Um clafoutizinhozinhoinho, por exemplo... porção para dois!", retrucou, com uma cara de pamonha que sempre fazia seu marido rir. "Eu sei que não tem mais espaço", continuou ela, mostrando ainda estar em pleno domínio de suas faculdades. "Mas é tãaaaaaaao bonitinho... Eu vou levar, vai! Fica aí, que vou no caixa."

Ele apanha a peça de suas mãos, e, num menear de cabeça, sorri e diz: "Dá aqui. Vou te dar de presente, porque sei que você fica toda feliz quando tem coisa bonita onde fotografar sua comida."

: )

O mais incrível é que, na verdade, não fazia idéia do que faria com a tal travessa quando a ganhei. Mas desde que ela chegou à cozinha, foi usada praticamente todos os dias, justamente por ser pequena o suficiente para comportar porções para um casal. E, desta vez, com poucos ingredientes para uma sopa para dois, não foi diferente.

Queria uma sopa de legumes que pudesse ser feita com o que havia em casa, e sem nenhum grão ou cereal. Admito: é muito difícil pensar em uma sopa que não leve nenhum feijão, ervilha, pão ou batata, ou que não seja engrossada com farinha. Quando encontrei essa receita no livro de Heidi Swanson, sabia que teria um jantar delicioso. A sopa é mais rala, por não ter nenhum agente espessante (leia-se ingrediente com amido), então a quantidade de caldo é crucial para determinar sua consistência. Vá acrescentando aos poucos até chegar no ponto desejado. Aviso: ela é bem picante, mas o queijo equilibra bem a força da pimenta.

SOPA DE PIMENTÕES ASSADOS E TOMATE
(Adaptado do livro Super Natural Cooking, de Heidi Swanson)
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 2 porções


Ingredientes:
  • 1/2 lata de tomates italianos pelados, com seu suco
  • 1/2 pimentão vermelho sem as sementes
  • 1/2 pimentão amarelo sem as sementes
  • 1 cebola pequena cortada em quartos
  • 1 dente de alho grande inteiro, com casca
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça, sem as sementes
  • 3 colh. (chá) de azeite de oliva extra-virgem
  • 1 1/2 - 2 xíc. de caldo de legumes
  • 1/4 colh. (chá) de páprica picante
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
  • 2 bolas grandes de mozzarella de búfala
  • folhas de manjericão para decorar (opcional)

Preparo:
  1. Aqueça o forno a 180ºC. Disponha os pimentões, a cebola, o alho e a pimenta em uma travessa refratária pequena. Tempere com sal, pimenta e 1 colh. (chá) de azeite e leve ao forno já quente por meia hora, ou até que as pontas dos vegetais estejam chamuscadas. Vire-os no meio do cozimento.
  2. Retire do forno. Exprema o alho para fora da casca, descartando-a. Bata os legumes no liquidificador junto com o caldo e os tomates.
  3. Coloque a sopa em uma panela pequena e reaqueça em fogo baixo. Junte a páprica e acerte o sal e a consistência.
  4. Abra as mozzarelle com os dedos e coloque uma no centro de cada tigela. Despeje a sopa à volta do queijo, derrame o resto do azeite em fio sobre ele e sirva imediatamente.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O milagre do peixe que não fede

Procure "peixe" neste blog, e você ficará frustrado. Nunca faço peixe. Para não ser radical, acho que preparei um pedaço de salmão desde que me casei. E não é por ser semi-veggie, ou por não saber cozinhar um pedaço de peixe. Ah, o motivo é muito mais frívolo: o cheiro, la puzza incredibile que fica impregnada em todo o meu pequeno apartamento.

No reveillon de 2006 para 2007, eu resolvi que cozinharia o jantar para minha irmã e meus amigos: risotto de limão e filé de salmão com ervas. Fomos até o mercado municipal atrás de peixe fresco em conta, uma vez que no supermercado ele estava os olhos da cara. Geladeirinha em mãos, comprei metade de um peixe, pois [pode me chutar agora] eu queria tentar terminar de limpá-lo e cortá-lo em porções.

Trouxe o peixe para casa, empolgada, até dar-me conta de que não tinha uma tábua onde cortá-lo, a não ser minha tábua de madeira. Pensei no fedor do peixe na tábua onde corto chocolates, e apanhei o rolo de filme, forrando-a com meia dúzia de camadas plásticas. O peixe esparramou-se sobre a tábua, preguiçoso. O dia estava muito quente. Era preciso trabalhar rápido para que ele voltasse o quanto antes à geladeira.

Abri meu livro de técnicas no conjunto de fotos de um peixeiro habilidoso limpando um enorme salmão. Olhei para a foto. Olhei para o peixe. Segurei minha faca. Afiei-a na chaira. Ela cortou a carne do salmão como manteiga, mas, ao atingir o couro, nada. Pressionei mais forte. Ahn-ahn. Droga. Apanhei a tesoura e, desajeitadamente, comecei a cortar aquela pele indesejada que segurava uma gordura também indesejada.

Ok. É preciso tirar as espinhas, pois o peixeiro deixara um bocado delas para minha diversão. Apanho uma pinça e começo... e continuo... e continuo... e termino. Hora de cortar os pedaços. Calculo mais ou menos um filé de 120g e corto... até atingir o couro. F*ck. Pego a tesoura. Nem ela faz o trabalho direito, e termino com filés cheios de rebarbas.

Pego o primeiro filé. As ervas estão prontas. Basta criar um corte no couro e enfiá-las na fenda. Tento cortar com a faca. Nada. Afundo a ponta da lâmina na pele. A pele não cede; a carne coralina e macia afunda e começa a se desmanchar. Não, não, não! Pára tudo. Para falar a verdade, nem me lembro como diabos consegui criar aqueles dois míseros cortesinhos supericiais sobre os filés de peixe. Entucho os buraquinhos de ervas. Azeite. Cubro com filme plástico e deixo na geladeira até de noite.

Na hora marcada, apanho a assadeira, ingredientes e duas frigideiras antiaderentes de bom tamanho e levo para a casa de meu amigo. Enquanto ele toma conta do risotto, eu aqueço as frigideiras e finalizo os peixes. Um a um, os convidados recebem seus pratos. O peixe ficou bom. O risotto de limão corta a gordura do salmão. Sucesso.

Fogos de artifício. Vinho espumante. Feliz ano novo. Voltamos para dentro do apartamento e somos bombardeados direto no nariz pelo pungente odor de peixe que a fritura deixou na casa toda. Lavo as frigideiras e a assadeira, guardando-as e levando-as de volta.

No dia seguinte, começo todo um processo de esfrega panela, passa limão, passa vinagre, deixa de molho, bota incenso, lava a mão com três sabonetes diferentes, lava o cabelo, e o cheiro persiste, como se nunca mais fosse embora, como se fôssemos conviver com aquele odor pelo resto de nossas vidas.

De fato, acho que demorei uma semana inteira para parar de sentir peixe por toda a casa. Trauma. Nunca mais. Nunca, nunquinha. Peixe, não. Quer peixe, come fora de casa. Eu não faço.

Então, dois anos depois, vem a nutri me entupir de proteína. Ovo, queijo, queijo, ovo. Uma semana depois, não quero mais olhar para nenhum dos dois. Quero outra coisa. Atum em lata. Sardinha em lata. Ingredientes que limitam minha criatividade. Só consigo pensar em salada Niçoise. Mas não quero mais salada.

[*Suspiro*]

Vou comprar peixe fresco.

Mas onde? Não há peixarias no meu bairro. E meu mercado de confiança só vende peixes em bandejas, e não quero passar o sufoco de ter de cortá-los com tesoura novamente. Dou o braço a torcer, então, e vou ao outro supermercado, de uma grande rede, que acho uma zona e detesto. "Recebemos peixes frescos diariamente", dizem eles. Olho para o salmão. Sua carne emaciada e pastosa me diz o oposto. Eles não fedem, mas também não estão tinindo de frescos. O salmão nas bandejas tem um tom cor-de-laranja terrivelmente suspeito. Viro as costas e vou embora.

No meu mercado de confiança, encontro uma geladeira vazia. "Recebemos peixe fresco hoje, às 10 horas, mais ou menos, se você quiser voltar." Eu quero. Estou saindo do mercado e vejo um caminhão refrigerado com enormes letras azuis dizendo "Pescados" estacionando. Volto uma hora depois e compro salmão embalado no dia, coral, brilhante, bonito, com o nome e endereço do fornecedor, e bacalhau fresco, que só comera na Califórnia e achara muito delicado e diferente. O bacalhau vai para o freezer. Arranco o filme plástico do peixe e cheiro. Sem cheiro. Bom, muito bom. Sabendo disso, resolvo arriscar e o coloco diretamente na tábua. Apanho minha faca nova, alemã, afiadíssima. Ela corta a carne feito manteiga. E, para minha surpresa, também o couro, de uma só vez, sem fazer força.

Felicidade é uma faca de qualidade.

Guardo a outra porção de peixe muito bem embalada na geladeira e preparo meu almoço. Coloco no forno uma porção de legumes para acompanhar a cevada cozida, e adapto uma receita de Jamie Oliver para que produza molho para apenas um filé de peixe.

Peixe na frigideira. Oh-oh. O cheiro. La puzza. Oh, não! Mas ele não parece tão forte. Finalizo o peixe no forno, monto meu prato e almoço. Delícia. Nem parece dieta.

Volto à cozinha e começo a limpar a sujeira. Estranhamente, ela não cheira a peixe. Não de forma ruim. Ela cheira a almoço. Delicioso almoço. "Alguém preparou algo gostoso aqui hoje." Lavo a louça, limpo a tábua, guardo a faca. Cheiro a tábua. Madeira. Cheiro a faca. Aço. Se é que aço tem cheiro. Cheiro a frigideira. Um odor muito suave, que desaparecerá ao longo do dia. Lavo as mãos.

Vou trabalhar, e, quando volto para fazer um chá, sinto cheiro... de cozinha.

Que maravilha...

Peixe fresco é outra coisa mesmo.

SALMÃO AO MOLHO DE ANCHOVA E ALECRIM
(Ligeiramente adaptado do livro How to Cook, de Jamie Oliver)
Tempo de preparo: 10 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 1 filé de salmão de 130g, com pele
  • 2 colh. (chá) de azeite
  • 1 colh. (chá) de suco de limão
  • 1 colh. (chá) de folhas de alecrim fresco
  • 1 filé de anchova de uns 5cm
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Em um pilão, amasse o alecrim e o filé de anchova até virar uma pasta. Junte metade do azeite e o suco de limão e misture bem, até formar um molho que possa ser derramado sobre o peixe.
  2. Esfregue a outra metade do azeite sobre o peixe, dos dois lados. Tempere com sal e pimenta.
  3. Aqueça bem uma frigideira que possa ir ao forno. Não precisa ser antiaderente, mas precisa estar MUITO quente. Se não estiver, o peixe grudará. Coloque o filé com a pele para baixo na frigideira em fogo médio-baixo e deixe cozinhar por 2 minutos. Vire o peixe com uma espátula, com cuidado, e leve a frigideira ao forno por 3 -4 minutos, até que ele esteja rosa-claro.
  4. Disponha o salmão no prato e derrame o molho sobre ele.

Só brigadeiro de colher resolve. Mas se não pode, não pode. Fazer o quê?

Começo já a sentir forte a síndrome de abstinência de doces. Por mais que adore frutas frescas, há um momento em que só brigadeiro de colher resolve. Quem é mulher me entende. Ando correndo atrás de alternativas que tornem os "lanchinhos saudáveis" mais atrativos do que a velha e boa maçã. Algo para comer de colher. Que seja grelhar a fruta para extrair dela mais doçura, que seja temperá-la com uns pinguinhos de nada de água de flor de laranjeira. Qualquer coisa que eleve a fruta ao status de sobremesa está valendo.

A nutri, como era de se esperar, valeu-se do truque de me entupir de lanchinhos para matar minha fome voraz e constante e, de quebra, aumentar meu metabolismo. Após o treino de corrida, por exemplo, preciso de um segundo café-da-manhã com fruta e proteína, ao que a nutri escrevera: "1 banana com 1 iogurte desnatado".

Olhem bem para minha cara. Ok, não dá. Então imaginem bem minha cara. Iogurte desnatado? Jura?

"Mas eu faço meu próprio iogurte integral toda semana", expliquei a ela. "Essas coisa light são cheias de aditivos e não têm gosto de nada..."
"Ah, tenta pelo menos fazer com leite semidestanato, vai...", pediu.
"Hmmmm... ooook...", menti.

Meu iogurte é integral. Assim como meu omelete não é de claras. Ora bolas, tenho sido uma boa menina em todo o resto. Não creio que vá para o inferno por causa desse deslize.

Lembrei-me então de uma sobremesa rápida de uma revista francesa, com figos gelados, e resolvi recriá-la para meu lanche, de cabeça. Cortei dois figos pequenos e bem maduros em quartos e os bati no liqüidificador com 3/4 de xícara de iogurte integral caseiro (equivalente ao copinho de 200g, eu pesei!) e 1/4 colh. (chá) de canela em pó. Aos fora da dieta, acrescentem mel a gosto. Como os figos estavam doces, no entanto, e o leite que uso para o iogurte o deixa com um delicioso sabor e aroma de creme de leite, a mistura rosa-antigo, ligeiramente pedaçuda, equilibrou-se perfeitamente entre o doce da fruta e o azedinho do iogurte. Muito melhor que qualquer desses iogurtes de frutas light que prometem levá-lo ao trono. :P

domingo, 17 de agosto de 2008

PADARIA DE DOMINGO 17: mais um pão de forma integral

Se por um lado a dieta me impede de exercitar um de meus maiores prazeres, que é fazer bolos, por outro lado ela não exclue meu amor pela panificação. Eu tinha uma escolha: podia fazer como todos os outros que conheço e comer duas fatias de pão light de manhã [alguém me explica como algo que só leva água, farinha e fermento pode ter versão light?], ou continuar preparando meus pães e me ater a uma fatia apenas.

Adivinha o que foi que escolhi. Vai, uma chance só.

Uma pena que o dia em que fiz o pão era frio, e nem o forno ligado ajudou muito. Preferi interromper a fermentação e ter um pão mais denso a deixá-lo fermentando devagar por tempo demais e interferir no sabor.

PÃO DE FORMA INTEGRAL COM AZEITE DE OLIVA
(Adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 10 minutos + 2h de fermentação + 30-40 minutos de forno
Rendimento: 1 pão de forma


Ingredientes:
  • 150g de farinha de trigo para pães
  • 230g de farinha de trigo integral
  • 210g de água
  • 20g de leite integral
  • 14g de fermento ativo fresco
  • 10g de sal
  • 15g de açúcar cristal orgânico
  • 15g de azeite de oliva extra-virgem
Preparo:
  1. Misture as duas farinhas em uma tigela. Esfarele o fermento com as pontas dos dedos e misture-o às farinhas. Junte o restante dos ingredientes, mexendo bem e sove, sem acrescentar mais farinha, até que a massa esteja lisa, elástica, mas ainda um pouco grudenta. Como alternativa, misture os ingredientes em uma batedeira planetária com gancho, por 10 minutos na velocidade 2.
  2. Em uma superfície ligeiramente enfarinhada, forma uma bola com a massa. Coloque-a em uma tigela enfarinhada, cubra com um pano e deixe fermentar em local quente (25-27ºC) por 1 hora meia. Se o dia estiver frio, deixe o forno ligado para aquecer a cozinha.
  3. Tire o ar da massa, trazendo suas laterais para o centro e afundando-a. Transfira a massa para uma superfície ligeiramente enfarinhada e forme uma bola novamente. Deixe descansar por 5 minutos.
  4. Abra a massa como um retângulo. Traga a beirada mais comprida para o centro, como quem dobra uma folha de papel para um aviãozinho, e aperte bem. Faça o mesmo com o outro lado. Agora dobre ao meio no sentido do comprimento, selando bem as abas com os dedos, e role a massa até atingir o tamanho da forma.
  5. Unte a forma de pão com manteiga ou óleo e coloque ali a massa, com a marca da fenda virada para baixo. Cubra com um pano e deixe dobrar de volume, por não mais que meia hora.
  6. Abra o forno pré-aquecido a 200ºC, pulverize um pouco de água e coloque o pão lá dentro. Asse por 30-40 minutos, ou até que ele esteja bem dourado e soe oco quando batido em baixo com os nós dos dedos.

sábado, 16 de agosto de 2008

Lembranças de pasta e vino...


Ao pensar em minhas recentes férias na Califórnia, dou-me conta de que há ainda muito sobre o que escrever. Meu grande problema literário é que quase todas as histórias começam da mesma forma: "eu não dava nada por aquele lugar; porém..." Depois da viagem à Itália e da descoberta dos mais deliciosos pratos nos lugares menos prováveis, era de se esperar que eu não viajasse mais munida de qualquer espécie de preconceito. Mas, fazer o quê, talvez tenha assistido a muitos documentários pixando os Estados Unidos como a Meca da junk food, e por isso mesmo desconfiasse de qualquer restaurante que não tivesse cara (ou nome) de bistrot francês. Atire a primeira pedra quem nunca julgou um livro pela capa.

No entanto, foi interessante notar que, no mesmo dia, tive diferentes experiências gastronômicas que contrariaram minhas expectativas: um lugar que sugeria comida ruim foi sensacional, e o que era caro, cheio de mequetrefes e prometia que era uma beleza, serviu-me comida insossa e com um péssimo atendimento.

Mas falemos das coisas boas, que já estou exausta de reclamar e você, querido e companheiro leitor, deve estar exausto de ter ouvidos de penico (ou seriam olhos?).

Naquela manhã acordáramos em Sonoma com um objetivo: degustação de vinhos. Para ser mais exata, eu acordara com esse objetivo, uma vez que minha tia, além de ser a motorista designada, não era lá muito fã da coisa. Sem ter feito minha lição de casa com a enorme apostila do curso de sommelier que deixara em São Paulo, decidi que o acaso e a opinião alheia nos direcionariam às vinícolas. Tenho vergonha de dizer que foi um cupom de desconto dado pelo escritório de turismo da cidade que nos levou à primeira. Ok, eram onze horas da manhã e tudo o que eu queria era vinho. Eu sei, eu sei, são os sinais do alcoolismo, mas ah! vá! eu estava de férias! Larga do meu pé.

Fomos atendidas em um salão amplo, de pé direito muito alto, com um comprido balcão de madeira escura. Tudo muito sóbrio, sério, combinando com o longo caminho de cascalhos ladeados de árvores antigas que nos trouxera do estacionamento até ali. Havia apenas mais um casal a uns dois metros de distância, e nossos pensamentos ecoavam no salão. Um senhor magro, grisalho, quase britânico com seus óculos de aros finos e perfeitamente redondos apoiados à ponta do nariz comprido, veio apanhar nossos cupons e nos mostrar o cardápio da degustação. "Esses são os do cupom; estes outros aqui são nossos vinhos especiais, reserva", disse ele, educadamente, servindo-nos nossa primeira taça.


O vinho era muito bom, e imediatamente comecei a comentar com minha tia, em português, ao que o senhor ficou curioso. Sem conhecer muito os termos específicos em inglês, enrolei um pouco os termos em francês e começamos a conversar sobre os vinhos. Ele quis saber o que eu achava daquele.

Segunda taça. Minha tia esboçou um tímido ok, e por isso mesmo surpreendeu-se com meu entusiasmado "hhhhhmmmmmmmmmm, que vinho booooooooooooooom..."

"Você gostou desse?", perguntou-me o senhor, com um meio sorriso suspeito.
"Nossa, ele é muito bom!"
"Jura? Você achou tudo isso?", perguntou minha tia, achando que o problema fosse seu paladar.
"Aaaaah", explicou ele, "eu não servi o mesmo vinho para as duas." Aproximou-se um pouco do balcão, mantendo ainda a postura, e baixando a voz quase em um cochicho. "Eu servi a você este aqui", disse, apoiando a ponta do dedo fino e comprido sobre um dos vinhos reserva. "Não conte a ninguém."

Terceira taça. Mesmo truque. "Eu vou mimar você um pouco", disse ele, sorrindo. Ao fim das cinco taças, quatro das quais custando o triplo dos vinhos que beberíamos com o cupom, não resisti e comprei uma garrafa de Pinot Noir. Excelente vendedor, pensei.

Seguimos para a próxima vinícola, mais ampla, réplica de château francês no limiar do bom gosto, prestes a cair para o lado Disney da coisa. Aproveitei para fotografar os vinhedos e as flores, olhar em volta e respirar aquele lugar tão diferente de minha casa.

Atravessamos os jardins bem cuidados em direção a um salão um pouco mais comercial, cheio de souvernirs e os mais diversos acessórios ligados a vinho. Assim que nos aproximamos do balcão, um homem veio nos avisar: "Daqui a cinco minutos um ônibus cheio de turistas barulhentos chegará aqui. Se vocês quiserem apreciar o vinho com calma, é melhor irem à sala reservada, do outro lado do jardim. Lá eles têm outras cartas de vinho, também." E a caminho da tal sala já podíamos ouvir a algazarra da turistada.

Nesta sala, fomos atendidas por uma mulher bonita, loira e entusiasmada, cheia de vontade de conversar sobre seu vinho com quem estivesse disposto. E eu estava disposta. E tão logo a conversa começou, começaram os mimos. Lá, bebi um dos Chardonnay mais fantásticos que já provei.

"O Chardonnay californiando tem fama de ser amanteigado", explicou ela, "o que nem sempre é bom. Mas esse é diferente, veja se você percebe... É um dos nossos melhores vinhos!"
"Uaaaau! É como... nossa! É como crème brulée engarrafado!!"
"Exato!"

Quando me dei conta, ela já estava servindo a sétima taça em uma degustação que previa apenas cinco, apenas pelo prazer de ver se eu conseguia sentir a diferença de um vinho para o outro. Correndo o risco de estragar na mala (o que não aconteceu), precisei comprar o Chardonnay, ao saber que ele era vendido apenas na vinícola. Aaaaah, se eu tivesse uma cave, teria levado uma caixa inteira...

Por indicação dela, fomos a uma pequena loja ali perto para provar alguns vinhos de boutique. Algumas taças depois, descobri um de sobremesa fortificado (é um Porto, mas eles não podem chamar de Porto) tão bom, mas tão bom, que até minha tia que não é fã levou uma garrafa para ela. E eu também.

Depois de tanto vinho, no entanto, eu estava faminta e precisando urgente de algo no estômago para não passar nenhum vexame. O senhor do vinho do Porto nos indicou um restaurante italiano ao lado. Por falta de paciência de procurar outra coisa, decidimos tentar.

Por fora, o lugar era simples. Por dentro, então, uma decepção. Um balcão separando você da cozinha, no melhor estilo Mc Donald´s, e uma lousa branca acima de nossas cabeças, com os molhos e tipos de massas escritos à caneta, à disposição para o freguês combinar como quisesse. Pedi penne ai funghi porcini e titia pediu penne alla putanesa. E fomos nos sentar do lado de fora, em cadeiras de plástico e mesas cobertas de toalhas também plásticas.

Já estava esperando o pior, quando nossos pratos chegaram. Sensacionais, perfumadíssimos, saborosíssimos. E não era apenas a fome falando. Os porcini eram frescos, macios, deliciosos, e em pedaços muito pouco tacanhas, a massa estava perfeitamente cozida, e o queijo era de qualidade. Titia fez tantos elogios a seu prato que insistiu para que também o fotografasse. Uma das melhores refeições que tive durante a viagem, e em um dos lugares mais capengas.


Sentindo gosto da Itália na boca, resolvemos aproveitar o tema e conhecer um tal de mercado italiano em uma das grandes vinícolas no outro extremo da região. Ao chegarmos lá, a grande quantidade de ônibus estacionados embaixo de auto-falantes tocando música italiana já nos avisava do que estava por vir. Claro, o lugar era um parque temático. O mercado não era nada interessante, e todo o complexo era uma armadilha para turistas. Tanto, que não tive vontade de experimentar seus vinhos, ao ver como eles faziam daquilo um espetáculo brega, ao contrário dos outros lugares onde estivéramos.


Restou-nos apreciar a vista, essa sim fantástica. Sentamo-nos em um dos amplos terraços e ficamos quietas, observando as vinícolas que se estendiam sobre colinas douradas e suaves. A música italiana tocava, o gosto dos porcini ainda estalava em minha língua; olhei à minha volta, para as flores, os pinheiros italianos, a cópia de villa num terracota que jamais será a terracota dos antigos casarões da Toscana, e me vi, ridícula, de olhos marejados. O peito apertou de saudades da Itália, e me perguntei como era possível que me doesse tanto a distância de um lugar onde passei tão pouco tempo de minha vida...

Levantei-me e fui embora, sem olhar para trás, revoltada com como algo tão falso pôde resgatar em mim saudades da experiência verdadeira. Pensei nos vinhos que me esperavam no porta-malas do carro e nas refeições que estavam por vir e segui em frente. E prometi a mim mesma não julgar mais os restaurantes por sua cara, mas continuar julgando vinícolas se suas cedes parecerem feitas de fibra de vidro.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nada mudou, tudo ficou no lugar: cevada, abobrinha, grão-de-bico.

Estou esperando pela sensação purificadora da dieta. Aquela quando você passou uma semana comendo porcaria e resolve compensar com uma semana de saladas; aquela sensação de estar leve, limpa, renovada. No entanto, tenho me sentido... satisfeita. À parte a chateação de medir tudo milimetricamente, não tenho tido nenhuma dificuldade em seguir as novas diretrizes. Olho para meu prato e, bem, ele não parece diferente do que sempre esteve. A impressão que tenho é de que esqueci de comprar macarrão na última ida ao supermercado. Posso dizer, portanto, que estou contente. É bom perceber que o que estava errado era a quantidade, e não a qualidade do que eu preparava. Invertem-se proporções, mas no fim das contas, nada mudou: os ingredientes são os mesmos, os sabores também.

Ok, ok, tenho meio litro de creme de leite fresco na geladeira, comprado antes da dieta começar, que anda me incomodando um bocado. Não quero que estrague, mas também não posso usá-lo em nada. Tanto, que estou pensando em preparar sorvete de creme e deixar no freezer, para o marido que não está de dieta, evitando assim o desperdício.

Para não dizer que nada mudou, minha geladeira está subitamente cheia. Como as quantidades de legumes no prato aumentaram na proporção inversa às dos carboidratos, fui obrigada a comprar mais quantidade e mais variedade. Também passei a fazer algo que jamais fizera: cozinhar alguns elementos com antecedência para tê-los quando quiser, a exemplo dos grãos-de-bico e da cevada. Convenhamos, não vou ficar gastando gás e tempo para cozinhar 3 colheres de qualquer coisa. Melhor cozinhar uma xícara toda e usar durante a semana. Pois é, isso é novo para mim, uma vez que sempre gostei de preparar tudo na hora. E é por esse tipo de praticidade (e por ter ficado muito bom) que repeti hoje o almoço de ontem. E, na certeza de que não foi apenas a fome falando, deixo a receita aqui.

É difícil não chamar meu almoço de salada: tem cara de salada. Talvez apenas por estar tudo misturado. Poderia ter disposto os elementos no prato de forma organizada: um montinho de cevada, um montinho de grão-de-bico, um montinho de abobrinha. Mas deus sabe que eu detesto isso e que sou obcecada por "pratos únicos". O caso é que os sabores e texturas dessa "salada quente" de fato se complementam e se ajudam. Não é a primeira vez que uso dessa mistura de ingredientes e não será a última. E para quem quiser comprovar o fato de que apenas o tamanho do prato mudou, veja aqui a salada de cevada e beringela que já era uma de minhas favoritas há muito tempo atrás...

SALADA QUENTE DE CEVADA, ABOBRINHAS E GRÃO-DE-BICO
Tempo de preparo: 15 minutos com a cevada pronta
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 3 colh. (sopa) de cevada em grão cozida
  • 2 colh. (sopa) de grão-de-bico cozido
  • 2 mini abobrinhas ou 1 abobrinha pequena
  • 1 dente de alho pequeno
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça
  • 1/2 colh. (chá) de azeite
  • 1 fatia de queijo tipo Feta
  • 1 colh. (chá) de suco de limão
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
  1. Fatie as abobrinhas em rodelas finas. Pique o alho. Retire as sementes da pimenta, descartando-as, e pique-a.
  2. Aqueça 1/4 colh. (chá) de azeite em uma frigideira pequena e doure ligeiramente o alho e a pimenta. Junte a abobrinha fatiada e salgue ligeiramente. Salteie até que a abobrinha esteja suavemente dourada, mas ainda firme.
  3. Junte a cevada e o grão-de-bico e misture para que os dois aqueçam e absorvam os sabores. Desligue o fogo, tempere com sal, pimenta-do-reino, o suco de limão e o restante do azeite. Esmigalhe o queijo por cima e sirva quente sobre folhas de salada crocantes de sua preferência.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mais uma de espinafre, porque é o que tem na geladeira...

Hoje posso dizer que terminei de fato minhas tarefas. Um por um, os post-its coloridos foram arrancados da parede atrás de meu computador, e consegui enfim respirar fundo e... morrer de sono. Sim, são oito horas da noite, eu já jantei e estou me segurando firme para não deitar e dormir. Fico contente de pensar, pelo menos, que os maiores pepinos que eu tinha já foram resolvidos (enfim!), e que semana que vem será uma semana mais normal, só corrida, trabalho e cachorro, sem nenhum compromisso ou pepino pessoal inesperado.

Por estar cansada e com fome, não quis inventar tanta moda quanto ontem à noite, quando resolvi usar da matemática culinária em cima das regras coladas à geladeira e preparei beringelas ao forno com muita (e permitida) mozzarella de búfala e um nadinha de molho de tomate.


Decidi, portanto, que o jantar seria uma salada e pronto. Muito, muito espinafre cru, coberto de 3 cogumelos portobello fatiados fino e ligeiramente refogados em 1/2 colh. (chá) de azeite (olha que menina comportada!), 1 ovo cozido fatiado, 2 colh. (sopa) de grão-de-bico cozido e 1 fatia fininha de queijo feta esmigalhado. Para temperar, 1 colh. (sopa) de azeite, 1 colh. (chá) de vinagre de vinho branco, 1 dente de alho pequenininho cru picado muito, muito fininho, e sal e pimenta-do-reino moída na hora. Muito gostoso, e vale vários repetecos ao longo das próximas semanas...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ô, dificuldade prá fazer um couscous...!


Onze e meia da manhã. Fui desligando devagar a cabeça do trabalho e dos inúmeros post-its colados na tela de meu computador, lembrando-me do que estou esquecendo de fazer. Apanhei o livro italiano de cozinha vegetariana que ganhara de presente e comecei a procurar o que fazer para o almoço. Couscous marroquino com ovos e pimentões parecia uma ótima idéia. Um tanto de carboidrato permitido, legumes cozidos e uma fritatta simples. Tudo dentro da lei.

Separei todos os ingredientes no balcão e, quando estava já prestes a medir 400g de couscous, lembrei: peraê, tem outra medida. Volto-me à geladeira, espiando as notas presas à porta. Cinco colheres de sopa de carboidrato. Oooook... Uma, duas, três... Mas... Peraê. Cozido ou cru??? Porque couscous marroquino infla. Deve ser cozido. Volta uma colher.

Próximo item: 4 colheres de sopa de legumes cozidos. Olho inconformada para meus pimentões e minha lata de tomates pelados. What the f*ck...! Como diabos eu vou medir isso? Corto metade da quantidade que pretendia, separo apenas um tomate da lata e prossigo.

Ok, hora da fritatta. Espio a cola. Posso comer uma omelete de 4 claras.

Aaeaeaeaeaeaaaaaaargh...

Perdoe-me, nutri, mas há coisas que eu faço e coisas que não faço. E omelete de claras eu não faço. Vai uma fritatta de dois ovos então.

No fim das contas, um almoço incrivelmente simples, que normalmente não me tomaria mais de 10 minutos, demorou mais de 30 para sair. Ficou bom? Ah, sim, ficou sensacional, e eu nunca diria que aquilo estava em conformidade com uma dieta. Deu trabalho? Para mim sim, que tive de ficar calculando quantidades. Para você, ah, para você vem de mão beijada. O bizarro foi apanhar minha tigela e ir colocando 5 colheres de couscous, 4 colheres do molho, meia fritatta.

E a preguiça de pensar no jantar?

COUSCOUS MARROQUINO COM PIMENTÕES E FRITATTA
(Adaptado do livro Piatti Unici do Verdure)
Tempo de preparo: 20 minutos Rendimento: 2 porções


Ingredientes:
  • 1/3 xíc. de couscous marroquino
  • 1/2 pimentão amarelo pequeno, sem sementes
  • 1/2 pimentão verde pequeno, sem sementes
  • 1 tomate sem pele
  • 4 ovos
  • 1/2 colh. (chá) de páprica picante
  • 2 dentes de alho picados fino
  • 1/2 colh. (sopa) de azeite de oliva
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
  • 1/2 colh. (chá) de canela para polvilhar
Preparo:
  1. Bata os ovos com 1 colh. (sopa) de água em uma tigela e tempere com sal e pimenta. Aqueça o azeite em uma frigideira grande e despeje os ovos, cozinhando-os em fogo baixo. Quando a parte de baixo tiver coagulado, leve a frigideira ao forno e finalize a fritatta sob o grill ligado. Mantenha-a aquecida.
  2. Corte os pimentões em pedaços de cerca de 1,5cm. Coloque-os em uma panela pequena com o tomate e o alho picado e mexa, cozinhando em fogo baixo. Junte a páprica e salgue. Apenas cubra com água, aumente o fogo e deixe que o molho engrosse, mexendo de vez em quando.
  3. Enquanto isso, coloque 1/3 de xíc. de água em outra panela, para ferver. Quando entrar em ebulição, salgue e junte o couscous, mexendo com um garfo. Desligue o fogo e tampe a panela, deixando que descanse por 5 minutos.
  4. Destampe o couscous. Afofe-o com um garfo. Despeje-o no prato de servir. Corte a frittata em quadrados do tamanho dos pedaços de pimentão e misture-os ao couscous. Derrame o molho de tomate e pimentões por cima. Polvilhe a canela e sirva.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Light uma ova: fui na nutri, tô de dieta...


Sempre fui muito avessa a nutricionistas. Nada contra a profissão, mas eles nunca me pareceram... bem... pessoas que gostam de comer. A impressão que tenho assistindo a determinados programas de TV (em especial aquele BemStar, do GNT, que me dá arrepios às vezes) é que eles ODEIAM comer e só o fazem porque ainda não aprenderam a viver de luz.

A verdade é que estou há tantos anos com meu peso no vai e volta, que perdi completamente a noção do meu tamanho. A roupa cabe, você tá bonita. Então tá bom. Mas na balança você não pesa a mesma coisa de quando tinha 19 anos. Então não tá bom. Nada bom.

Caramba. Para quem vê o blog e não me conhece, devo parecer uma maluca devoradora de doces. Mas a verdade é que sou uma chata que se alimenta bem. Não como porcarias, não como quase nada que seja industrializado ou processado, não fico beliscando salgadinhos, chocolates, bolachas, nuggets e afins. Eu corro. Ok, eu falto. Mas eu faço exercícios. Em algum lugar eu estava errando a matemática da coisa, e era justamente por querer saber onde que resolvi ir a uma nutricionista.

Não demorou muito para que descobrisse meus escorregões. Pequenas mas significativas coisas. Para quem não come carne é muito fácil errar a mão nos carboidratos. Afinal, eles são a base reconfortante para seus magníficos legumes. E aqui vem a desculpa esfarrapada: meus pratos são fora de padrão; eles são maiores do que pratos convencionais. Isso faz com que uma porção normal de comida pareça pequenininha no prato. Você acha que é pouco e preenche um pouquinho mais o vazio. Bem, eu sofro desse mal: apesar de tudo o que falo para os outros sobre tamanho de porção, eu erro na minha. Por isso achei logo de cara muito bom observar a quantidade de ervilhas que eu de fato deveria estar colocando na minha salada, em oposição ao que eu costumava colocar. A-há!

No fim das contas, a nutri foi bastante compreensiva com todas as minhas chatices e minha "rotulofobia" (meu "medo de rótulos", hehehe...), montando um cardápio bastante coerente em relação a meu estilo de vida. Agora essa é a parte interessante (e é aqui que quero que meus colegas de corrida e de dieta caiam sentados morrendo de raiva de mim): o bom de não comer carne é que minha dieta mega-restritiva está cheia de ovos e queijos! Tudo bem, nada de doces por um mês, a não ser uma mísera barrinha de chocolate a 70% de cacau. Mas, por duro que seja, mais duro seria ficar sem queijo.

Voltei da consulta e fui imediatamente ao supermercado rechear minha geladeira de espinafres, acelgas, cogumelos, beringelas, abobrinhas, vagens, maçãs, figos, morangos, bananas, mozzarella de búfala, queijo feta, cottage (que eu adoro), grão-de-bico, milho, cevadinha, trigo em grãos e soba de trigo sarraceno.

E é claro que a nutri tem o endereço do blog. Como não? Veja só que belo modo de vigiar sua paciente...

Não prometo que todos os posts tenham histórias interessantes atreladas às receitas. O desafio será cozinhar comida, essa sim interessante, dentro das linhas-guia coladas na porta de minha geladeira.

Será esse o fim do excesso de Ana Elisa?

SALADA DE ESPINAFRE, ERVILHAS E QUEIJO FETA, OU MINHA SALADA FAVORITA
(Do livro The Naked Chef, de Jamie Oliver)
Tempo de preparo: 5 minutos
Rendimento: 1 porção


Igredientes:
  • 1 tigela de folhas de espinafre orgânico fresco
  • 2 colh. (sopa) de ervilhas congeladas
  • 1 fatia bem fina de queijo tipo Feta
  • 1 colh. (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
  • 1/3 colh. (sopa) de suco de limão, ou a gosto
  • sal e pimenta-do-reino moídos na hora
Preparo: Cozinhe as ervilhas congeladas por 1 ou 2 minutos em água fervente e escorra. Misture em uma tigela com o espinafre e o feta esmigalhado. Tempere e mande bala!

Cozinhe isso também!

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