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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Huevos rancheros, ou gororoba de café que virou jantar

Quando estive na Califórnia, minha parte preferida do dia era o café-da-manhã, como sempre é quando estou viajando, não importa onde. A oportunidade de mergulhar em hábitos que não são os meus e experimentar novas guloseimas matutinas sempre me empolga. No entanto, é preciso impor um limite em algum ponto. E, quando minha tia propôs que eu experimentasse huevos rancheros, encontrei o meu limite: feijão no café-da-manhã não rola.

A verdade é que quando já era tarde demais, com meus pezinhos de volta ao Brasil, arrependi-me de não tê-los provado. A perspectiva de ovos fritos sobre tortillas quentes e quebradiças, acompanhados de feijões, salsa de tomate e sour cream logo tornou-se uma das minhas inúmeras, pequenas e irritantes obcessões.

A idéia insistente então terminou de eclodir em meu cérebro e dominar meus pensamentos quando vi os huevos de Deb. Era o empurrãozinho de que eu precisava para apanhar os ingredientes na geladeira e colocar as mãos na massa. Metida como sou, no entanto, resolvi que, ainda que minha salsa não fosse autêntica, meus feijões não fossem refritos e eu estivesse sem queijo Cheddar ou sour cream, ao menos as tortillas de milho eu faria do zero.

As tortillas são tão fáceis que podem acabar virando a desculpa de que eu precisava para nunca mais gastar dinheiro em restaurantes mexicanos. A única diferença desta salsa para a que costumo fazer foi o fato de ter colocado meio pimentão verde picado no meio dela. Para os huevos rancheros, basta fritar os ovos em pouco azeite, temperá-los, cobri-los com um pouquinho de queijo, colocá-los sobre as tortillas quentes e servi-los com os feijões e a salsa de tomate.

TORTILLAS DE MILHO
(Adaptado do livro O Livro Essencial da Cozinha Vegetariana)
Tempo de preparo: 20 minutos

Rendimento: 4 tortillas grandes (20cm)


Ingredientes:
  • 45g de farinha de milho fina
  • 85g de farinha de trigo
  • 1/3 xíc. de água
  • 1 pitada de sal
Preparo:
  1. Misture as duas farinhas em uma tigela. Faça um buraco no meio e despeje a água devagar, mexendo com um garfo, trazendo mais farinha para dentro da água. Forme uma massa e sove por alguns minutos.
  2. Divida em quatro pedaços, forme bolas, achate-as e abra com o rolo de massa cada uma delas até que formem discos finos, de 20cm de diâmetro. Vá empilhando os discos, separando-os com filme plástico.
  3. Aqueça uma frigideira grande de fundo grosso. Quando estiver bem quente, abaixe o fogo para médio e coloque a primeira tortilla. Quando ela tiver muitas bolhas de um lado, vire-a e cozinhe-a do outro lado. Deixe-a num prato e prossiga com as outras.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Sorvete de morango e a decrescente fé em fornecedores e fabricantes de qualquer coisa

(Já nem me lembro se a placa é do café chique ou do meleta.)


Noutro dia precisei da ajuda de um fornecedor meu. Coisa simples. Fazia parte do escopo do trabalho dele, não ia tomar nada de seu tempo e só manteria seu cliente (eu) feliz. Ao invés de simplesmente realizar a tarefa, ele enrolou, desconversou, engambelou e, quando finalmente deu o braço a torcer, ainda me enviou um e-mail recheado do mais puro sarcasmo.

Se eu tratasse meus clientes assim, estaria morrendo de fome.

Estou trocando de fornecedor.

Noutro dia ainda, fui ao banco tentar trocar minha cesta de serviços por uma mais barata, depois de aumento abusivo (e autorizado pelo gorverno) efetuado nos últimos meses. Sem problemas, uma vez que não uso quase nada daquilo que eles me oferecem. Sou cliente do mesmo banco há dez anos, e eles também têm a conta da minha empresa. Depois de cerca de 45 minutos de engambelação, não consegui mudar minha cesta, porque o gerente disse que eu deixaria de ter o benefício X. Dias depois, olhando a tabela de serviços na internet, descubro que o gerente mentira.

Estou trocando de banco.

Desde o começo do ano, já tive tantos problemas com meu provedor de banda larga, que acho que conheço nome e sobrenome de todo funcionário de atendimento ao consumidor da empresa. Vou trocar de provedor? Não, porque a alternativa é ainda pior.

Notamos também, aqui em casa, uma diminuição vertiginosa e contínua da qualidade da imagem da TV a cabo, e concluímos que, nessa onda de HDTV, a empresa só pode estar fazendo de propósito para incentivar a compra do pacote "digital", com imagem melhor. Sem nem entrar no mérito da cobrança por ponto extra (agora ilegal) que as empresas conseguiram distorcer, codificando o sinal e cobrando pelo "aluguel" de um aparelho extra, quando antes o cabo podia ser ligado diretamente na tv.

Houve um mês, neste ano, em que passei todos os dias ao telefone reclamando cada dia com um pobre coitado diferente, que só sabe ler apostilas e não daria uma informação de fato relevante se sua vida dependesse disso. Eita mês lascado.

E me pergunto: sou apenas eu que me sinto constantemente passada para trás?

Sinto às vezes que não há uma única empresa nesse país (ou no mundo) que tenha como missão REAL atender seu consumidor ou usuário da melhor forma possível, já que, afinal, ele está pagando por isso. Não parece justo que você receba por aquilo que pagou? Levante a mão quem puder citar uma empresa pela qual você nunca tenha sido ludibriado. Eu não consigo. Em um momento ou outro, todas me decepcionaram.

Eu pago por serviços e sou tratada pelas empresas como se elas estivessem me fazendo um favor, e não o contrário.

Compro produtos, e descubro que eles não têm a qualidade prometida por sua propaganda, por seu preço, ou mesmo pela brochura que acompanha o produto.

Pago caro em restaurantes por pratos requentados e ingredientes de terceira.

Compro bandejas de frutas na feira para descobrir que as frutas de baixo estão podres.

Minha fé na humanidade está por um fio. Queria uma vez na vida sentar numa mesa com os amigos e, ao invés de reclamar do golpe da empresa X, poder contar a respeito do brinde inesperado que a empresa Y me enviou, simplesmente por eu ser uma cliente antiga. Ah, e eles também vão me dar desconto, e eu nem pedi! Não é ótimo?

Por essa falta de fé em empresas de qualquer tamanho é que me pego tão surpresa quando descubro que o produto ou o serviço não é apenas tão bom quanto o que estou pagando, mas melhor. Se existe um tipo de situação em que qualquer um se sente enganado e muita gente já sabe evitar, são as armadilhas pega-turista. Em especial restaurantes e similares.

Sutter Creek é uma cidadezinha histórica da época da corrida do ouro na Califórnia. Ela é recheada de lojinhas de antigüidades; metade delas, interessante, a outra metade, pega-turista. Numa tarde agradável, depois de um longo passeio à pé pelas ruas laterais, observando os jardins floridos e incrivelmente bem cuidados das casas da cidade, resolvemos, minha tia e eu, tomar um sorvete. Nossa primeira opção, um pequeno e charmoso café espremido entre um restaurante e uma loja, estava fechado.

Acabamos entrando então em um outro café com cara de boteco velho, parte loja de souvenirs, parte sorveteria, parte lanchonete, mal iluminado mesmo às cinco da tarde num fim de primavera. Fomos atendidas por um casal de adolescentes franzinos e desinteressados, que prosseguiam rindo de piadas internas e olhando de soslaio para seus amigos do outro lado da loja. Não me lembro quanto foi o sorvete, mas me lembro que foi muito barato. Desestimulada pela cor verde-incandescente do sorvete de pistache, acabei pedindo o de morangos, rosa pálido e simples.

Frustrei-me novamente ao ver o moleque empilhando uma bola de sorvete do tamanho de minha cabeça em uma casquinha fina e quebradiça, e pensei: "pronto, esse sorvete deve ser uma m*rda. Nada tão grande e tão barato pode ser remotamente bom."

No entanto, após a primeira mordida, decidi que aquele sorvete gigantesco precisava ser fotografado e mencionado no blog. O melhor sorvete de morango do mundo. Talvez fosse o fato de os morangos estarem na estação e serem tão doces. Aquele sorvete tinha gosto de morangos com chantilly, e não duvidei que fossem apenas esses seus ingredientes: fruta, creme de leite e açúcar. Ele se tornou meu ideal no quesito sorvetes de morango, e mesmo o que produzi essa semana, de David Lebovitz, não chega a seus pés. Apesar de sua linda cor rosa-choque, seu "excesso" de fruta conferiu-lhe textura e gosto de sorbet, o que não era o objetivo, e nada tinha a ver com aquela sensacional massa gelada e rosa-parede-de-vó, com dulcíssimos e generosos pedaços de morango fresco surgindo mordida-sim, mordida-não.

Senti-me envergonhada por meu preconceito (coisa que aconteceu vezes demais durante a viagem), e fiquei preocupada por estar já tão programada para esperar o pior, uma vez que coisas boas a preços justos são tão raras. Ai, ai, ai, Ana. Má menina.

Vamos lá, alguém me conte uma história de empresas legais que fazem com que vocês mantenham sua fé na humanidade.

domingo, 13 de julho de 2008

A 4ª coisa da Califórnia de que sinto falta: piqueniques, ou farofada com classe

Desde que comprei, há uns dois anos atrás, o livro de Heloísa Bacellar, abro a mesma página para olhar a mesma foto: a linda cesta de piquenique de vime, um pequeno baú forrado de tecido vermelho e branco, com um bonito e dourado pão caseiro, quitutes, pratos e talheres. Quero uma, penso sempre. Mas, ao mesmo tempo, penso quantas vezes em minha vida de fato saí em um piquenique, e me convenço de que não, não preciso de uma.

Vivo jogando essa idéia para meu marido, minha irmã, meus amigos: ir ao parque fazer um piquenique num dia de sol. As respostas são sempre as mesmas, desentusiasmadas, preguiçosas, não entendendo o propósito de fazer comida em casa e levar para comer longe, num gramado qualquer. Será preconceito? Afinal passei minha vida inteira dando risada daquele pessoal do frango com farofa na praia. Mas... existe piquenique e existe farofa, certo? Ou estarei eu me enganando, tentando me convencer de que o sangue farofeiro não corre em minhas veias?

Ah, mas ele corre.

Estávamos em Sonoma, no norte da Califórnia, quando nos deparamos com o finzinho de um Farmer´s Market, na praça principal. Havia apenas algumas barracas ainda montadas, com cerejas, cebolas novas ainda com suas partes verdes (coisa impossível de se encontrar nas feiras de São Paulo), pães integrais artesanais e uma banca de uma robusta mulher francesa, de sotaque carregado, produtora de manteiga e queijos orgânicos que me fizeram querer morar em Sonoma pelo resto de minha vida.

Não pretendíamos comprar nada, uma vez que era já fim de tarde e ainda sairíamos para jantar, mas não conseguimos resisitir. Compramos um queijo brie de leite de cabra e um cheddar com ervas e voltamos à banca de pães para comprar um dos últimos que restara na cesta, e decidimos que no dia seguinte juntaríamos isso a todas as outras guloseimas do carro, inclusive as cerejas compradas na beira da estrada, e faríamos um piquenique em algum lugar.

Antes de voltar ao hotel, demos ainda algumas voltas pela deliciosa praça, ainda repleta de gente depois de um pequeno festival de jazz que acontecera durante a tarde, e não pude deixar de notar as famílias e grupos de amigos em volta de mesas de madeira cobertas de toalhas coloridas, terminando de comer ou já guardando potes vazios em suas cestas de piquenique, bebericando a última taça de algum vinho regional. Tive inveja. Uma invejinha saudável, daquelas que lhe dá saudades doídas de uma vida que você nunca teve.

No dia seguinte, assim que chegamos a San Francisco, estacionamos o carro junto ao Palace of Fine Arts Theatre, e resolvemos que ali almoçaríamos, debaixo de uma árvore antiga, no gramado pontilhado de minúsculas florzinhas brancas. Tia R. sacou do porta-malas o que parecia um pequeno edredon listrado de azul e branco, e me explicou que sempre carrega consigo sua manta de piqueniques, pois nunca se sabe quando se precisará de uma. Fiquei tentando me lembrar de quantas vezes em minha vida me vi, no meio de São Paulo, na extrema necessidade de uma manta de piquenique. Fiquei triste ao constatar que a resposta era nenhuma. Não se fazem piqueniques em São Paulo.

Abrimos a manta e espalhamos nossos queijos, cerejas, pão, chocolates aromatizados com vinho comprados em uma doceria de Sonoma, e, infelizmente, coca-cola, pois era proibido beber no parque, mesmo escondendo as garrafas em sacos de papel. Um vinho teria caído maravilhosamente bem naquele momento.

Foi delicioso ficar ali, petiscando e olhando as garças e as gaivotas no bonito mas estranhamente azul lago artificial do parque. E pus-me a desejar que pudesse fazer mais piqueniques em São Paulo, em locais tranqüilos como aquele, comendo boa comida, em boa companhia, ouvindo o canto de pássaros e simplesmente relaxando. Claro que essa não é exatamente a paz que eu teria no Parque Ibirapuera num domingo, por exemplo, o que dificulta um pouco as coisas. Adoraria ir ao Jardim Botânico, mas o cão não pode entrar, o que invalida todo o conceito de tarde gostosa ao ar livre com as pessoas (e cachorros) que eu amo.

Então encerro esse post dizendo que a 4ª coisa de que sinto falta da Califórnia são os piqueniques, ou a possibilidade de fazer um piquenique sem ser chamada de farofeira, e deixo uma pergunta: vocês fazem piqueniques? Se sim, onde?

sábado, 5 de julho de 2008

A 3ª coisa da Califórnia de que sinto falta: pão, maravilhoso, sensacional pão







Quem passa por aqui desde os primórdios do La Cucinetta sabe de minha enorme cisma e frustração a respeito de pão. Não importa o quanto eu procure, não encontro em São Paulo um pedaço de pão que de fato me satisfaça. Outro dia gastei 7 reais num pão de forma multigrãos na famosíssima Benjamim Abrahão, lindo, perfumado, promissor. Como algo com tantos ingredientes pode ser tão... insosso? E para dizer que não tinha sabor nenhum ele apresentava um sutil retrogosto amargo muito pouco agradável. Doeu no bolso e no estômago.

Não que não haja lugares especiais com bons produtos. Há, de fato. Mas se você for pagar mais de 4 reais num ciabatta ou 18 reais num pão de centeio de 500g, é bom que eles sejam EXCELENTES, e não apenas bons.

Talvez seja o fato de termos perdido qualquer tradição de panificação para os processos industriais e as misturas pré-prontas para padaria, encontradas em grandes atacados. Talvez o padeiro queira apenas o dinheiro no fim do dia e tenha perdido o amor pela profissão. O caso é que os poucos lugares que produzem um pão semi-decente tornam impossíveis para pessoas como eu (não milionárias) comerem um excelente pão rústico no café-da-manhã.

Nunca imaginei que comeria o melhor pão de minha vida justamente na terra do pão de forma branco industrializado. Mas a verdade é que fui maravilhosamente surpreendida pela miríade de "boulangeries" na Califórnia. Lugares especiais, como o D´Angelo, em Santa Barbara, ou o Boudain, em San Francisco, me conquistaram, além do Trader Joe´s e os inúmeros farmer´s markets pelas cidades pequenas, com pães artesanais frescos que parecem pedir por acompanhamentos especiais, e não apenas a boa e velha manteiga comprada no supermercado.

Boudain foi onde comi o melhor pão de minha vida. [Em tempo: ainda não estive na França.] O aspecto do lugar, a meus olhos preconceituosos, não era muito promissor: um complexo razoavelmente grande (lembrando as padarias brasileiras com buffet de sopa que eu tanto detesto), composto de padaria, loja de souvenirs, café e bistrot, no andar de cima. Além do jeitão "fazemos um pouco de tudo e somos atração turística" que normalmente já me afastaria, a padaria possuía uma enorme vitrine para a rua, através da qual os passantes podiam observar os padeiros em ação: um dos quais usava um microfone com saída de som para a rua, para que ele pudesse interagir com a "platéia". [Sim, aquilo É um pão em forma de jacaré; você também podia comprar pães-tartaruga, se quisesse.]

Um pouco Disney, não?

Quando minha tia sugeriu que comêssemos no bistrot do andar superior, confesso ter aceitado apenas por exaustão. Já havíamos andado um bocado, aquele dia, e tudo o que eu queria era sentar e tomar uma cerveja.

O pão do couvert era produzido diariamente na padaria abaixo de nossos pés, e ele era trazido em cestos de metal presos a um cabo movimentado por roldanas, no melhor estilo Fábrica de Chocolate, e pensei se não seria justamente influência do clima da Ghirardelli.

Acredito que a foto fale por si só, mas, se me permitem, posso dizer que nunca houve um pão tão macio, saboroso, úmido na medida certa, de casca leve e quebradiça, estalando sob os dentes e derretendo na língua como aquele. Eu estava incontestavelmente feliz. Tanto, que logo após o almoço descemos as escadas e compramos um sourdough inteiro, para comermos depois. E nada de pão de 18 reais.

O que mais me impressionou é que eu não precisava ir a uma dessas padarias para comer um pão honesto. Os mais simples dinners onde comemos café-da-manhã tinham uma boa seleção de pães sourdough integrais, de centeio, etc, para acompanhar os ovos. Enquanto isso, muitos lugarezinhos por aqui que se prezam por seus cafés-da-manhã salgadinhos não têm mais do que pão de forma, francês, sírio e, quando muito, um ciabatta duvidoso.

E é por isso, pelo baguette sourdough com alecrim do Trader Joe´s, pelo sourdough de centeio do D´Angelo e pelo lindíssimo pão integral artesanal comprado numa feira na praça central de Sonoma, é que a 3ª coisa de que mais sentirei falta da Califórnia são os pães, gloriosos pães.

sábado, 14 de junho de 2008

A 2ª coisa da Califórnia de que sinto falta: frutas vermelhas






Sempre falo a respeito de minha enorme frustração com frutas vermelhas: morangos repletos de agrotóxicos e com sua antes breve estação agora extendida por meses a fio; cerejas importadas de longe a preço de ouro; amoras, framboesas e mirtilos que, por serem muito perecíveis, não chegam frescos a São Paulo, precisando ser congeladas ou colhidos ainda verdes, prejudicando sua potencial doçura.

Fui aos céus na Califórnia.

Saindo de Sutter Creek, a caminho de Sonoma Valley, paramos à primeira vista de uma placa com os dizeres: "Fresh Strawberries; Picked Daily." Hein?? Como não parar?!

Entramos pelo portão escancarado do pequeno sítio, e estacionamos o carro ao lado de uma pequena cabana de madeira branca, que ostentava, ao lado de cestas e mais cestas de morangos vermelhos e perfumados, uma enorme bandeira americana e um pequeno pedaço de papelão pregado no balcão de madeira, que dizia "2 dólares a cesta". Uma fenda no balcão com uma seta desenhada indicava onde deveria ser depositado o dinheiro, uma vez que o dono da vendinha estava... bem... colhendo os morangos.

Coloquei meus dois dólares na fenda, apanhei uma cesta e não resisti a comê-los ali mesmo. A primeira mordida naquele morango foi como a primeira mordida no primeiro morango do mundo. Ele se partia na boca sem resistência, maduro, macio, explodindo um suco muito doce, morno de sol e vermelho, tingindo as pontas dos dedos.

Nunca haverá morango como aquele. Pelo menos não aqui. Toda a diferença do mundo, deixar que as frutas amadureçam até seu pico no pé, antes de colhê-las.

Próximo a Santa Rosa, após uma curva fechada na estrada, mais uma vez nossos olhos foram irremediavelmente atraídos pelo excesso de vermelho cintilando sob veios de sol por entre os galhos das árvores. Paramos pelas cerejas. "First pick", disse-nos o dono da venda. Primeira colheita.

Experimentamos da variedade doce e da mais ácida, e acabamos levando uma cesta inteira das doces, que fomos devorando, uma a uma, até chegar a Sonoma. Imaginava os doces que faria com elas se as tivesse aqui em São Paulo. Ou, melhor, imaginava-as em uma tigela ao meu lado no sofá: comeria um engradado inteiro de cerejas como aquelas. E tão baratas que senti uma pontinha de raiva das cerejas chilenas que compro todos os Natais.

Queria poder pedir à minha tia que me enviasse caixas de morangos, cerejas, amoras e mirtilos pelo correio, até o fim da temporada. Ao menos começa por aqui a época dos morangos, e há sempre minha boa e velha fazenda de morangos orgânicos para socorrer minha ânsia por frutas doces e vermelhas...

terça-feira, 10 de junho de 2008

A 1ª coisa da Califórnia de que sinto falta: café-da-manhã


Se existe algo que americanos fazem bem, isso é com certeza café-da-manhã. Nunca fui, na infância, uma grande fã de qualquer coisa mais que café com leite e um pão com manteiga antes de começar o dia, mas, conforme fui crescendo e viajando, adquiri um gosto especial pelos cafés-da-manhã de hotéis. Nada me deixa de melhor humor durante uma viagem do que pães, bolos, ovos mexidos, frutas, cereais, sucos, cafés, tudo à minha disposição. E sou exatamente aquele tipo de turista que, uma vez sabido que o café está incluso, faz questão de aproveitar muito bem, para poder fazer um almoço leve e só se preocupar de verdade com o jantar.

No entanto, no dia em que me dei conta, estupidamente, de que não precisava estar num hotel para comer ovos mexidos com torradas, minhas manhãs mudaram drasticamente. Sempre que tenho tempo, dou-me um pouco da abundância dos cafés de férias, e preparo panquecas, ovos mexidos, e, agora, depois de ter adquirido o vício com minha tia, ovos pochés.

Não era segredo para ninguém, portanto, que um dos momentos pelos quais eu mais ansiava ao pensar em minha viagem eram os fartos cafés-da-manhã americanos. É preciso afirmar com vontade que eles não decepcionaram.

Nas pousadas em que o café era incluso, comíamos bagels fresquinhos tostados, com passadelas generosas de cream cheese, que me deixaram com o comichão de querer tentar prepará-los por aqui. Pulávamos o café com gosto de chá preto e procurávamos uma Starbucks ou Peete´s Coffee para aplacar nossa sede por espressos bem tirados.

Quando o café não era incluso, entretanto, não me entristecia: pelo contrário, gostava de andar pela vizinhança buscando um bom lugar para experimentar algo novo. Em Lee Vining, uma cidadezinha de uma rua só à beira do Mono Lake (o lugar mais estranho que já vi), comi minhas primeiras buttermilk pancakes, sentada em um grande sofá vermelho de um tradicional dinner. As panquecas macias, os ovos mexidos cremosos e as torradas de pão sourdough foram extremamente reconfortantes no frio daquela manhã. Sim, porque, àquele dia, apesar de ser já fim da Primavera, estava ne-van-do.

Em Sutter Creek, uma cidade histórica da época da Corrida do Ouro, depois de um jantar leve, não resisti a um café reforçado no hotel do século XIX em que ficamos, na rua principal. A grande dose de café espresso e o copo de suco de laranja acompanharam bem o enorme porém leve waffle servido com manteiga, morangos incrivelmente doces e amoras pretas. Para completar, meus ovos mexidos com torradas de english muffin. Tudo bem, eu não estava com tanta fome assim, mas não pude resistir ao english muffin do cardápio, que sempre quisera provar. Espécie de pãezinhos muito macios e saborosos, entraram na minha lista de "fazer em casa no fim de semana". Tivemos de dar parabéns ao chef, pois as hashbrown potatoes que minha tia pedira para acompanhar as salsichas italianas (entendam: ela mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos) foram as melhores de sua vida, segundo ela.

Em San Francisco, havia um dinner muito próximo de nosso hotel que me fazia sentir dentro de um filme. Com jukeboxes nas mesas, ele era como algumas lanchonetes aqui no Brasil, exceto pelo fato de que esta era the real deal. Lá, voltei às panquecas; desta vez normais, não de buttermilk. O interessante era que, naquele pequeno dinner de Lee Vining, fora deixada sobre a mesa uma enorme jarra de maple syrup, para que eu me servisse à vontade; enquanto em San Francisco, cidade grande, minhas panquecas vieram acompanhadas de um pequeno (e suficiente) frasco.

Em Santa Barbara, descendo pela costa, a caminho de Los Angeles, descobrimos a D´Angelo Pastry & Bread, com pães de encher os olhos. Foi quando descobri as maravilhas da tríade ovo poché - pão de centeio - marmelada de laranja. Aliás, descobrir finalmente que fin cut orange marmalade é geléia feita com fatias finas da fruta, levou-me de volta a um bolo de chocolate de Nigella que eu nunca tentara por não fazer idéia do que era o tal ingrediente. Comendo e aprendendo... Claro que, olhando para aquelas belezuras na saída, não consegui resistir a levar um danish de avelãs para comer enquanto caminhava.

Enfim, de volta a Los Angeles, num último passeio pelo Farmer´s Market, para as infames compras de tralha, percebi que ainda não provara nenhum blueberry muffin. Banana, ok. Lemon-poppy-seed, ok. Blueberry, not yet. Acredito que a foto fale por si mesma, e, por isso, acrescento apenas que esse blueberry muffin estabeleceu, para mim, o padrão de comparação para todos os blueberry muffins que hei de comer e/ou preparar durante minha vida.

E é por isso que a 1ª coisa da Califórnia de que sentirei falta é o café-da-manhã.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Novas tralhas: a melhor parte de qualquer viagem!

De um hotelzinho em San Francisco, escrevi rapidamente um e-mail para Allex, contanto as travessuras de viagem.

"Não vai acreditar! Comprei facas Henckels! Iêeei!"

Ao que, no dia seguinte, tive sua resposta:

"Pára de comprar faca! Não tem mais espaço, mulher!"

Dei ouvidos ao apelo desesperado de meu marido? É claro que não. Havia entre as lojas de cozinha e mim uma atração irresistível. Era impossível passar por qualquer uma delas sem arrastar minha tia para dentro para fuçar em tralha. Ela ria e meneava a cabeça, num misto de preocupação e surpresa, assistindo à minha crescente empolgação frente a cortadores de biscoito e panelas. Hoje minha tia provavelmente pensa que sou um pouco biruta.

Quando pus meus pés brasileiros na Sur la Table e na Williams-Sonoma, comecei a contar mentalmente meu dinheiro, para saber se seria possível levar as lojas inteiras. Ok, respire fundo. Seu apartamento é minúsculo, sua cozinha já está irremediavelmente abarrotada e a verdade é que você não precisa de micro-panelinhas verde-limão da Le Creuset, nem de um pilão mexicano. E acalme-se, não leve todos os cortadores de biscoito: você nem faz tantos biscoitos assim.

Ai, ai...

O resultado do equilíbrio entre a histeria consumista e a fagulha moribunda mas ainda existente de consciência em mim, está aqui:

Uma forma de mini-muffins num preço justo (não os absurdos 90 reais que as lojas cobram por uma forma da Tramontina);

Uma forma francesa de madeleines não antiaderente (enfim!!), porque assim elas criam aquelas deliciosas casquinhas em volta, que de outra forma não existiriam;

Um assadeira de baguettes, para aplacar o perfeccionismo irritante da padeira dentro de mim;

Duas formas de madeira de biscoitos chineses, pelas quais fiquei absolutamente encantada quando fui à China Town de San Francisco (não sei ainda o que fazer com elas, mas inventarei alguma coisa);

Quatro novos cortadores de biscoito: uma árvore de Natal, um homem de gengibre, um pé e um osso, pois sempre quis fazer cookies de gente que tivessem cara de biscoito de cachorro. Só pela piada;

Dois silpats;

Um pano de linho para queijos e afins, pois nunca os encontrei por aqui (e me arrependo de não ter comprado mais);

Quatro potinhos dengosos com desenhos de tomate, beringela alcachofra e aspargos;

Um cesto para fermentar pão, para que ele fique com desenhos circulares sobre a casca;

Uma espátula decente de cabo de madeira;

E, finalmente, minhas lindas, fantásticas, afiadíssimas facas alemãs Zwilling Henckels: um jogo com uma de chef de 8 polegadas, uma multi-uso e uma de frutas. Eu pretendia levar apenas uma. Mas quando vi que o jogo (que ainda vinha com uma chaira nova) custava um terço do preço de uma única faca aqui no Brasil ("por que diabos?" seria uma ótima pergunta), não pude me controlar. Cheguei a experimentar uma faca de chef da Global. Deus do céu: a faca não tinha nem 2mm de espessura, era a lâmina mais bonita que já vi, e tinha o peso de um talher de plástico. Absolutamente sensacional! Mas a vendedora foi atenciosa e explicou que aquela era uma faca delicada, que não era feita para cortar ossos ou abóboras, serviços para os quais facas mais pesadas seriam mais apropriadas. Bom, não sei quanto aos ossos, mas abóboras muito me interessam. Henckels it is!

Como vocês podem ver, eu fui uma boa menina, e nem me descontrolei... muito.

Quem diz que come mal na Califórnia só pode ser preguiçoso...

Muito obrigada a todos que me desejaram boa viagem. Ela foi, de fato, excelente. A Califórnia, de modo geral, foi uma agradabilíssima surpresa. Quem diz que come mal por lá só pode ser preguiçoso, pois não é preciso procurar muito para achar ótimos restaurantes a preços justos. Mesmo o temido café americano não foi grande problema: a maior parte dos restaurantes que se prezam possue máquina de espresso.

Foram quinze dias de muitos peixes frescos, pães sourdough que eu queria enfiar na mala e trazer para o Brasil, frutas vermelhas dulcíssimas, cafés da manhã fartos e, mesmo no reino da comida rápida, batatas sequinhas e sanduíches feitos com cuidado. Isso sem falar nos vinhos e cervejas.

Aguardem, e com o tempo, contarei mais detalhes sobre cada uma destas fotos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Risotto de cogumelos Porcini



Assim que acrescentei os cogumelos e sua água à panela de risotto, um aroma de terra e outono muito familiar atingiu-me em cheio, e não pude deixar de fechar os olhos, inconscientemente, para aspirar o mais profundamente possível aqueles cheiros. Era o cheiro que eu sentira nos restaurantes da Itália, naquele maravilhoso mês de outubro de 2004, quando o tempo começava a esfriar e me permitia usar meu recém-comprado chapéu de lã preta, no melhor estilo Audrey Hepburn. Comera risotti de Porcini, polenta com Porcini, pizzas de Porcini, bruschette, antipasti, e uma infinidade de modos de comer esse sensacional e inigualável cogumelo. Voltando ao Brasil, arrependi-me profundamente por não ter trazido um saco inteiro deles secos, sem saber que, mantidos na geladeira, eles duram uma vida toda.

Aqui, paga-se uma pequena fortuna por um envelopinho com 10g de pedaços muito vagabundos de cogumelos esfarelados e amarronzados. Aprendi bem com Marcella Hazan e seus livros que bons Porcini secos são predominantemente creme e em pedaços grandes. O que quer dizer que você está comprando seus chapéus, e não seus talos. Encontrara pacotes imensos nos empórios a preços proibitivos, e, por isso, nunca me aventurei a comprá-los. A única ocasião que me lembro de ter comido excelentes Porcini aqui no Brasil foi quando visitei pela primeira vez o restaurante Piselli, que nos servira uma entrada de polenta macia, com lascas da mesma crocantes e enormes e suculentas tiras do cogumelo. Mas em minha segunda visita eles já haviam substituído os caros ingredientes por uma seleção igualmente satisfatória de cogumelos selvagens.

Quando minha sogra voltou da Itália e me presenteou com uma bandejinha de 50g de Porcini secos, quase chorei de felicidade. Eles eram creme como Marcella recomenda. Guardei-os na geladeira e, toda semana, olhava-os. Hoje farei algo com eles. Não, hoje não é especial o bastante.

Então, ontem, não resisti. O dia todo fora frio o bastante para que eu vestisse mangas compridas e tivesse a sensação de estarmos em Maio, e, não querendo comprar mais nada no supermercado (esse mês conseguirei bater minha meta e não gastar mais do que devo!), apanhei meus cogumelos e deixei-os de molho, enquanto separava o restante dos ingredientes para um risotto cremoso e quentinho.

Tenho uma coisa com risotti, como você já deve ter percebido. Há gente que considera risotto um prato muito chique, e paga fortunas por um risottinho mixuruca em qualquer bistrozinho de meia tigela. Demorei para assimilar o fato de que os italianos não comem arroz branco como os brasileiros; que risotto é o arroz deles e ponto. E quando finalmente entendi isso, passei a produzi-lo no dia-a-dia, como o que ele verdadeiramente é: um prato rápido, prático e versátil. Como não considerá-lo "fast food", se fica pronto em menos de 20 minutos? Como não ser prático, se basta haver arroz arbóreo, cebolas, manteiga e queijo parmesão na despensa? E suas versões são infinitas, limitadas pelo seu paladar. No começo, Allex torcia o nariz, e achava esquisito ter "arroz" para jantar. Hoje, já se acostumou com o conceito, e enquanto arroz agulhinha surge raramente em casa, o arbóreo é o primeiro item da despensa que saio correndo para repor.

Este risotto de cogumelos Porcini não deixou a desejar. Deixei de molho os cogumelos secos por meia hora em água morna (30g são suficientes para 4 pessoas, mas sou gulosa e usei para 2), espremi-os e filtrei sua água aromatizada para uso posterior. Fiz o risotto normalmente, com 1 xícara de arroz arbóreo, 1 cebola e um dente de alho, e, no meio do cozimento, acrescentei os cogumelos e meia xícara de sua água. Ao final, muita manteiga, muito parmesão e tomilho fresco. Tão simples, tão bom!

Acho que vou pedir à minha cunhada (que chega daqui a uma semana) para trazer outra bandejinha... ;)

Cozinhe isso também!

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