Mostrando postagens com marcador light uma ova. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador light uma ova. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Uma semana sozinha, um aniversário de 4 anos, dando cabo de muita comida

Mesa de aniversário da Laura, com mais cachorro-quente na panela vermelha e pão de queijo na verde. :)

E aí as crianças foram para a casa dos avós. Liberdade? Descanso? Relaxamento? Capirinhas na beira da piscina (inflável)?

Não. Eu tinha trabalho a entregar e uma festinha a preparar.

No primeiro dia sem as crianças, foi que me dei conta de que comprara muita comida para uma semana sozinha. Não sei por quê, foi meio no automático, provavelmente indo à forra depois de passar 3 semanas sem a banquinha de orgânicos. E foi na tentativa de já dar cabo de um pacote inteiro de quiabo, que resolvi prepará-lo justamente para uma pessoa que detesta quiabo: meu marido. Claro, eu fui boazinha. Lembrei-me de uma receita no livro do Mark Bittman, How to Cook Everything Vegetarian, que dizia que esse era o prato de quiabo para quem odeia quiabo. Resolvi pôr à prova sua tese.

Tese comprovada. Fritar o quiabo elimina terminantemente a baba, e ele fica crocante e delicioso nessa salada com tomates e coentro, polvilhado de curry, e cebolas em meias-luas marinadas no azeite e limão. "Não parece quiabo!", disse Allex, servindo-se uma segunda vez.

Só não digo que essa salada deliciosa foi um sucesso retumbante por conta do trabalho que tive para limpar o fogão depois. O óleo estava na temperatura correta e resolvi mergulhar nele o primeiro punhado generoso de quiabo... que fez o óleo quente espumar e subir numa loucura tal que eu nem tentei tirar a panela do fogo como geralmente faço quando isso acontece com caramelo ou leite. Simplesmente desliguei o fogo e observei, desistente e conformada, o caos e a destruição, a piscina de óleo quente depositada por sobre todo o fogão e escorrendo pelas laterais em direção ao chão.

Mega divertido. Só que não.

Então fiquem avisados: usem uma panela bem alta e coloque bem pouquinho quiabo por vez na primeira leva. :(


SALADA DE QUIABO FRITO PARA QUEM ODEIA QUIABO
(Adaptado um nada do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes
  • Óleo para fritura
  • 450g quiabo, sem os cabinhos e fatiados no sentido do comprimento
  • 1/2 cebola roxa, em meias luas finas
  • 2 tomates pequenos, sem sementes e cortados em tirinhas
  • 1/2 limão espremido ou a gosto
  • 1/4 xic coentro fresco 
  • 1 1/2 colh (chá) garam masala (a receita original usa chaat masala, que não se encontra aqui)
  • 1/2 colh. (chá) sal

Preparo
  1. Esquente o óleo até 180oC. Frite o quiabo em levas pequenas, mantendo o óleo quente, por 5-7 minutos, até que fiquem bem douradas e crocantes. Retire com uma escumadeira para um papel absorvente. 
  2. Misture a todos os outros ingredientes e sirva imediatamente. 

Naquele mesmo dia, Allex foi viajar a trabalho por alguns dias. (Espantado pelo quiabo? Acho que não.) E eu me vi de fato sozinha. Na minha mente, eu teria diversos momentos relaxantes entre os trabalhos a entregar e as coisas a fazer para o aniversário da Laura (porque você mal respira depois do Reveillon e o aniversário da pequena já chegou, e depois de passar um ano indo a aniversários os mais escalafobéticos, ela tinha a expectativa de ter sua própria festa, apesar de não se incomodar com a simplicidade que imponho à mesma). Mas claro que não foi assim. Antes de tudo eu precisava tirar da frente alguns probleminhas, como aquela gaveta cheia de legumes de verduras que estragariam antes do restante da população da casa voltar.

Priorizei o pote de creme de leite da fazenda que minha querida amiga Marina me dera. Mais firme que cream cheese, aquilo era nata pura, e não consegui pensar em mais nada a se fazer com ela além de biscoitos de nata. Se as crianças estivessem em casa, teria usado em uma torta ou uma panna cotta. Mas sozinha, era preciso preparar algo que durasse mais, até seu retorno.


Descobri que ninguém da minha família tinha uma receita de confiança, e foi por isso que acabei usando uma receita do Cybercook, que não costumo usar com muita confiança. Mas a receita fazia sentido e usava exatamente a quantidade de nata que eu tinha, então resolvi testar. Os biscoitos precisaram de um pouco mais de tempo do que a receita pedia para ficarem crocantes e ficaram gostosos. No entanto, eu usaria metade do fermento (ou talvez até um terço), pois eu conseguia sentir um gosto metálico do excesso dele no fundo da língua. Também talvez tentasse aumentar um pouco a quantidade de farinha e diminuísse ou mesmo eliminasse o amido de milho, uma vez que ele tornou o biscoito seco e esfarelento como um sequilho, enquanto eu esperava uma crocância mais certeira e a gordura do creme derretendo na boca, como acontece com bons biscoitos amanteigados. Mas acho que isso é meramente gosto pessoal. A receita original está AQUI.



 Olhei então para a gaveta de legumes. As folhas de salada serão consumidas rapidamente, pensei. pois adoro almoçar salada.

A couve. O que fazer com ela? PESTO DE COUVE com as folhas. Os talos, congelei para usar em dias sem nada verde na geladeira. Adoro frittata de talo de couve, e meu marido me enchia os pacová pela frugalidade natureba, até ler um artigo sobre como os talos da couve têm mais nutrientes que as folhas. Há! Fiz quatro potinhos cheios de pesto (usando castanha de caju no lugar do pistache), cada um o bastante para temperar o jantar de uma família de 4 e foi tudo para o freezer.


Ok. O que mais? Agrião. Separei as folhas para comer em minhas saladas e os talos viraram sopa imediatamente. Eu uso sempre mais ou menos ESSA como base, e omito todos os acompanhamentos. Paro simplesmente em manteiga + cebola + batata + caldo de legumes + talos de agrião. Não uso limão, mas fica gostoso com ele também. Às vezes jogo meia dúzia de folhas junto para deixar mais verde. O que mantém o gosto fresco e a cor verde brilhante da sopa é colocar o agrião só na hora de bater. Pois se ele ferver, a sopa fica marrom e o agrião fica com um gosto metálico estranho. Sopa de agrião sempre é bem vinda, pois Thomas adora.

Então apanhei todas as aparas do que eu comprara na feira àquela semana e fiz uma nova batelada de CALDO DE LEGUMES para ir ao freezer. E peguei os talos e raízes do coentro e fiz pasta de curry tailandesa, de novo do livro do Mark Bittman. Eu adorava esse negócio, e Thomas comeu MUITA papinha com curry tailandês quando bebê, mas foi ficando cada vez mais difícil de achar e cada vez mais caro. Não consegui achar o lemongrass propriamente dito, que é o nosso capim-limão, mas a parte do bulbo, e não as folhas. Acabei comprando o capim-limão mais bojudinho que encontrei, tirei as folhas externas ressecadas, piquei loucamente só as bases que pareciam mais macias. O gosto ficou excelente, mas mesmo com esses cuidados, o liquidificador e o processador não deram conta, e tive que passar numa peneira para tirar toda aquela fibra dura com jeito de mato, coisa que não aconteceria com a parte certa do ingrediente. Passar pela peneira deixou a consistência mais líquida, mas o sabor continuou lá. Congelei em porçõezinhas do tamanho de um cubo de gelo para poder usar depois. Nisso, descobri que também dá pra congelar as folhas do capim-limão já picotadas num saquinho pra ir direto pra panela para virar chá. :)

Se você encontrar o bulbo do capim-limão para uso em culinária asiática, esta receita é muito boa: 

PASTA VERMELHA DE CURRY TAILANDÊS
(Do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 3/4 xic

Ingredientes:
  • 10 pimentas dedo-de-moça, sem as semenstes ou a gosto
  • 4 folhas de limão  ou 1 colh (sopa) casca de limão
  • 1 pedaço de uns 2-3cm de gengibre fresco, descascado, picado
  • 1 colh (chá) sementes de coentro
  • 1 colh (chá) sementes de cominho
  • 2 bulbos de lemongrass, descascados, aparados e picados grosseiramente 
  • 1/2 cebola picada
  • 4 dentes de alho descascados e picados
  • 2 colh (sopa) de raízes e talos de coentro bem picados (usei as raízes e início dos talos de um maço)
  • 3 colh (sopa) óleo

Preparo:
  1. Coloque as sementes numa frigideira e toste em fogo médio até que fiquem perfumadas. Coloque no processador com o restante dos ingredientes, menos o óleo, e processe até virar uma pasta. Processando, acrescente o óleo aos poucos. Você quer uma pasta razoavelmente homogênea. Coloque em um pote esterilizado e guarde na geladeira por até 2 semanas. Ou separe em porções menores e congele.

Depois disso tudo, tive de dar uma pausa para de fato almoçar. As saladas da semana foram sensacionais, admito, e agora eu precisava dar cabo das frutas do Reveillon que as crianças não haviam terminado de comer. 

 

Lichias. Confesso, não sou louca por elas. E elas ficaram ali me olhando, e eu não me animava a catar a tigela e comê-las puras de sobremesa. Busquei na fantástica internet algo para fazer com elas e caí NESTA SURPREENDENTE SALADA DE AGRIÃO, ABACATE E MANGA, fruta que prontamente substituí pela lichia. Não é novidade nenhuma uma salada de agrião com manga. Mas o que torna magnífica essa mistura simples de frutas doces e cremosas e verduras picantes é o molho de alho, gengibre e pimenta. É claro que a salada original ficou mais colorida, com o amarelo da manga, e as cebolas roxas, como você pode ver na foto produzida pela revista. A minha, com cebolas brancas e lichias ficou meio monocromática. Mas absolutamente deliciosa! A foto não faz jus. Merece repetecos infinitos, e eu compraria lichias só para prepará-las assim. Comi devagar enquanto separava lembrancinhas de aniversário em saquinhos.


O dia seguinte foi dia de assar o bolo da Laura. E, aproveitando o forno quente, umas beterrabas que estavam pela hora da morte. Assei-as, descasquei-as, cortei-as em cubinhos e meti-as no freezer. Beterrabas assadas congelam maravilhosamente bem. Mas aí começou aquele maldito complexo de mãe sozinha em casa... Eu só precisava assar o bolo. Mas não. No melhor estilo do episódio de dia das mães da série The Middle, eu resolvi que eu precisava limpar o forno (e rearrumar todos armários da casa, e separar todo o lixo eletrônico para reciclagem, e reorganizar os livros, e refazer meu planejamento do ano, enfim) . Antes de fazer o bolo. E lá fui eu. Limpinho, limpinho. Resolvi esse ano quebrar a tradição e preparar um bolo diferente. Eu visualizara aquele bolo lindo, branco, recheado de geleia de morango, da Dorie Greenspan. Tinha exatamente o número de claras congeladas de que precisava para o bolo e depois para o recheio. Seria perfeito. A cara da Laura. Não fosse o fato de que aparentemente a remoção da sujeira do forno fez com que ele parasse de funcionar. Depois de dez anos funcionando perfeitamente, ele resolveu que não estava mais afim. Parece que o forno era meio apegado às massas de bolo carbonizadas que jaziam em seu piso e agora sua solidão foi demais para suportar. E o forno desligou no meio do cozimento do bolo. E EU NÃO VI. 

Quando percebi o que ocorrera, o tempo de assar já havia terminado e o forno estava quase frio. Quase tive um treco. Liguei o forno de novo, e olhei aquela massa que crescera mais ou menos mas ainda estava cru e não dourara com um aperto no coração. Fechei o forno, suspirei e pensei que se tudo desse certo no final, a receita era de fato muito boa. 

Incrivelmente, depois de mais meia hora de forno, O BOLO DEU CERTO. Juro. Só por isso deixo aqui a receita do bolo em si, mas não da cobertura, pois acabei não terminando a receita. Ele ficou um pouco mais baixo do que deveria por conta da rebelião do forno, e por isso achei arriscado cortar ao meio para fazer aquela montagem toda de quatro camadas finas. Comecei a me dar conta de que de novo estava entrando naquele pânico de aniversário que me faz exagerar e trabalhar demais, e então resolvi simplificar. Congelei o bolo até a véspera da festa. Na manhã do evento, pincelei o bolo com um xarope simples de baunilha, e recheei e cobri de morangos e chantilly fresco, sem cortá-los ao meio. Ficou lindo, uma delícia e deu menos trabalho. O bolo foi devorado e Laura ficou muito contente, pois ela sempre pedia um bolo de morangos em seu aniversário e esse foi o primeiro ano em que encontrei os morangos orgânicos saborosos na data. :)
Laura incomodada com a barulheira do Parabéns, Thomas planejando assoprar a vela antes da irmã.
BOLO BRANCO DE ANIVERSÁRIO*
(ligeiramente adaptado do livro Baking From My Home to Yours, da Dorie Greenspan)
Rende 2 bolos de 20-22cm, dependendo da forma

Ingredientes:
  • 2 1/4xic farinha de trigo 
  • 1 colh (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 1 1/4 xic leite integral
  • 4 claras de ovo grandes
  • 1 1/2xic açúcar
  • 2 colh (sopa) de raspas de limão
  • 115g manteiga em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte com manteiga 2 formas de 20cm (com uns 5cm de lado, ou a massa vai transbordar) ou preferencialmente de 22cm. Forre o fundo com papel-manteiga. Coloque as formas sobre uma assadeira.
  2. Peneire a farinha, fermento e sal em uma tigela e reserve.
  3. Misture as claras com o leite em outra tigela e reserve.
  4. Coloque o açúcar e raspas de limão na tigela da batedeira e esfregue com os dedos para liberar os óleos do limão. Junte a manteiga e e bata por 3 minutos,até que a mistura esteja bem fofa e clara. 
  5. Junte 1/3 da mistura de farinha em velocidade média, só até incorporar. Junte metade do leite com claras, então a farinha, as claras, e o restante da farinha, incorporando bem. Deixe batendo bem por uns 2 minutos, para ter certeza de que está bem misturado e aerado. 
  6. Divida a massa entre as duas formas, alisando a superfície, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que os bolos estejam secos e elásticos ao toque e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe esfriar sobre grades por 5 minutos antes de passar uma faca nas laterais, desenformar e retirar o papel-manteiga cuidadosamente. Deixe que esfriem completamente antes de rechear, cortar ou embalar para geladeira ou freezer. 
 * O bolo da foto não parece tão branco, mas seu miolo era sim bem branquinho. Se você cobrir as laterais com um buttercream ou outra cobertura branquinha, o bolo fica todinho clarinho. :)

Mais um dia se passou, e depois de terminar a aquarela que eu precisava entregar e sair para comprar tudo o que precisava para a festinha, preparei-me essa que é uma de minhas saladas favoritas: salada de folhas e nozes com verjus.

Verjus??? É um xarope bem ácido feito com uvas ainda não maduras, mas que eu confundi com xarope de mosto de uva na hora de preparar o tempero, pois meu livro lindo de cozinha toscana feito por uma australiana que reviveu o uso do verjus (verjuice em inglês), está traduzido para português de Portugal, e minha cabeça louca achou mesmo que "agraço" fosse mosto cotto. Num dia, tendo encontrado uvas Isabel orgânicas e feito de novo aquele sorvete fantástico, resolvi ferver um pouco as cascas que sobraram e reduzir esse suco até obter um xarope espesso e doce: meu Mosto Cotto improvisado. Guardei meu xaropinho na geladeira num vidrinho esterilizado e tenho usado assim no lugar do verjus, em saladas, misturando a azeite, limão, sal e pimenta para fazer um molhinho. É um resultado completamente diferente do que seria o verjus, pois o mosto cotto é doce e não ácido. Mas por isso mesmo é maravilhoso. Um vinagre balsâmico e um pouco de açúcar podem substituir bem, acredito. Esse molhinho sobre diferentes alfaces, nozes picadas e lascas de parmesão ( e cogumelos salteados no alho, em um segundo almoço-repeteco) foram um almoço leve e excelente, que me deixou tão de bom humor, que resolvi preparar os cupcakes que Laura pedira para seu aniversário.

Como estava meio preguiçosa, no entanto, quis algo rápido que não precisasse ficar batendo manteiga. Pensei que talvez a receita básica de bolo de baunilha que faço sempre rendesse bons cupcakes... mas pensei errado. Eles grudaram irremediavelmente nos papeizinhos.

Estava prestes a jogar tudo fora quando me dei conta de que os bolinhos estavam deliciosos. Só tinham grudado. Saí cavocando todos os papéis de cupcake com uma colher e colocando aqueles miolos esfarelados em uma tigela grande. Guardei na geladeira e fiquei pensando... deve haver algo que eu possa fazer com isso.

Depois de matutar a respeito, e enquanto reorganizava a planilha de custos das minhas obras para decidir os descontos para a loja e planejar as novas séries, lembrei dos cake pops! (Por que uma coisa levou à outra? Não sei, mas eu estava olhando para uma planilha de excel e calculando aproveitamento de papel de aquarela quando pensei nos pirulitos de bolo. Aliás, acho "pirulito de bolo" um nome bem mais simpático que "cake pops"). Cake pops, essas coisas lindas e confeitadas e coloridas, espetadas em palitos compridos, que sempre têm em aniversário de bufê, meus filhos sempre pegam, dão uma mordida, descobrem que não têm gosto de nada e devolvem. Cake pops são feitos de miolo de bolo! Há!

Apanhei o miolo delicioso do bolo, coloquei no processador, e bati com duas colheres de sopa de água, o bastante para dar liga e aqueles farelos virarem algo como massa de biscoito. Fiz bolinhas, espetei-as em palitos, passei-as em chocolate derretido, depois em confeitos coloridos, (ignore o modo simples como digo isso e pense numa pessoa desesperada com chocolate até os cotovelos e confeitos grudados por toda a mesa, e tudo escorrendo, e derretendo, e virando a maior lambança) e deixei-os na geladeira, de cabeça para baixo, até que o chocolate endurecesse. Foram sucesso na festinha. Desses, meus filhos comeram e repetiram. Estavam mesmo uma delícia, apesar de, esteticamente, terem lembrado daqueles memes de "expectativa X realidade". >_<

Aproveitei a overdose de doce para fazer os beijinhos e os brigadeiros.

Antes de dormir, tirei do freezer uma apara de massa de torta da qual me lembrei e, no dia seguinte, forrei uma forma de muffin grande com ela. Fiz uma versão miniatura da compota de cerejas de sempre, que engrossei com uma colherinha de amido de milho e joguei dentro da massinha. Fechei pinçando com os dedos, pincelei com leite, polvilhei de açúcar e coloquei no forno por uns 20 minutos até dourar.

Melhor

Tortinha

Ever.



Eu sei me tratar bem quando quero. :P

O saldo da semana foi positivo. Quando o marido voltou de viagem, eu estava enchendo balões, pendurando bandeirinhas (as mesmas que eu fiz no aniversário de 3 anos do Thomas, e que viraram tradicionais nos aniversários aqui em casa) e terminando de preparar aquela falsa maionese de coentro e castanha de caju da Bela Gil para mergulhar os leguminhos na festinha no dia seguinte. A festa deu certo apesar da chuva torrencial que deixou todo mundo trancafiado dentro de casa, o bolo foi devorado e ninguém nunca soube que ele quase não vingou. Eu consegui entregar todos os trabalhos pendentes, e até consegui reorganizar meus custos para poder calcular os descontos na loja, o que deu um trabalho do cão e exigiu todo o poder de matemática que meu cérebro de Humanas conseguiu juntar. (Se você sempre quis ter uma obra original em casa, um quadro para decorar sua sala ou sua cozinha que fujam dos pôsteres de sempre que têm por aí, mas sempre achou meio caro, saiba que QUASE TODA A LOJA ESTÁ EM PROMOÇÃO, algumas obra com 50%. Isso tem um motivo, que depois eu explico com calma. Dêem uma olhada lá: www.anaelisagg.iluria.com)

Esta aquarela está R$200,00 e com frete grátis. :D

Passada a correria do aniversário, começaria a correria do material escolar. Mas tudo bem. Não resisti a receber meus pimpolhos de volta com os pedidos cupcakes que não aconteceram no aniversário. Redimi uma receita do Magnolia Bakery, que fica de fato deliciosa. Da primeira vez que preparei, há MUUUUITOS anos, eles grudaram nos papéis e ficaram tão esfarelentos que eram impossíveis de serem comidos. Desta vez ficaram leves e perfeitos. A cobertura, no entanto, eu não quis repetir, pois me pareceu MUITA manteiga e MUITO açúcar. Ao invés disso, usei uma cobertura de baunilha da Alice Medrich, que fica bem doce mas muito muito gostosa. Quando servi para as crianças, Laura comeu toda a cobertura e deixou o bolinho e Thomas comeu todo o bolinho e deixou a cobertura. (Até que eu percebi que um bolinho inteiro era muito pra eles, e que se eu o dividisse ao meio eles comiam tudo.) Então eu estava saindo para minha aula de sábado, e Allex, que não gosta de bolos, perguntou: "quantos desses bolinhos têm que ter aí quando você voltar?" "Por quê? Você pode dar para as crianças, eu fiz para elas...", respondi. "Não, é porque EU quero comer isso. Ficou muito bom!". Allex comeu bolinho E cobertura.

É bom ter minha família de volta.



CUPCAKES DE BAUNILHA
(Adaptado dos livros More From Magnolia e Sinfully Easy Delicious Desserts)
Rendimento: 12 cupcakes

Ingredientes
(bolinhos)
  • 1 1/3 xic + 1 colh (sopa) farinha
  • 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 115g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 xic açúcar
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic leite integral
  • 1/2 colh (chá) extrato natural de baunilha
(cobertura)
  • 1/2xic creme de leite fresco
  • 1 xic açúcar
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 colh (chá) extrato natural de baunilha
  • 8 colh (sopa)(115g) manteiga fria mas um pouco amolecida

Preparo
  1. Faça os bolinhos. Pré-aqueça o forno a 180oC. Forre uma forma de muffins com papéis apropriados.
  2.  Numa tigela, misture a farinha, fermento e sal. Reserve.
  3. Na batedeira, bata a manteiga até que fique cremosa. Junte o açúcar aos poucos e bata por vários minutos, até que fique bem fofo e claro.
  4. Junte os ovos um a um, batendo bem a cada adição.
  5. Incorpore os ingredientes secos em três adições, intercalando com o leite misturado à baunilha. Não bata em excesso, apenas misture. Use uma espátula para raspar o fundo e as laterais, para ter certeza de que a mistura está homogênea. 
  6. Divida a massa entre as formas de muffin, e leve ao forno por 20-25minutos, até que um palito inserido em um dos bolinhos saia limpo.
  7. Deixe esfriar na forma por 15 minutos antes de retirar cuidadosamente. Termine de esfriá-los sobre uma grade antes de decorá-los. (Se eles parecerem fofos demais e difíceis de serem manuseados por uma criança, parecendo que a retirada do papel vai despedaçá-los, algumas horas na geladeira depois de decorados resolve esse problema e o papel sai super fácil.)
  8. Faça a cobertura: misture o creme, o açúcar e o sal em uma panela pequena. Limpe as laterais da panela com uma espátula molhada para retirar cristais de açúcar, pois eles podem cristalizar a cobertura depois. Cubra a panela, coloque em fogo médio e aqueça até que a mistura esteja borbulhando em toda a superfície. 
  9. Destampe, baixe o fogo para que a fervura seja branda e constante e cozinhe, sem mexer, por 1 minuto. Use a espátula pararaspar a mistura quente para uma tigela grande. Deixe que esfrie, sem mexer, até praticamente temperatura ambiente, o que deve demorar uns 45 minutos. Enquanto isso, coloque a tigela vazia da batedeira no freezer, para que esteja bem gelada na hora de bater a mistura. 
  10. Coloque a mistura na tigela gelada e ligue a batedeira com o batedor de arame. Gradualmente vá incorporando colheradas da manteiga fria, até que a mistura esteja fofa e homogênea. Se ainda parecer muito mole para confeitar um bolo, leve a tigela toda ao freezer por uns dez ou quinze minutos e bata novamente.  A mistura deve ficar firme o bastante para ficar sobre o cupcake sem escorrer. 
  11. Confeite os bolinhos frios e mantenha-os na geladeira. Pode retirar da geladeira umas duas horas antes de servir para que a cobertura fique mais cremosa e o bolinho menos gelado.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

As maravilhas do grão de bico e do abacate e um pãozinho chato e simples

FOTO HORROROSA, tirada com sono, do celular, no dia seguinte, com o que sobrou. :P
Certa vez, quando o Matador de Dragões ainda era um bebezinho aprendendo a comer, um casal de amigos veio nos visitar, assim meio de supetão. "Temos um jantar depois, então só vamos dar uma passadinha pra dizer oi", disseram eles. Quando eles chegaram, conversamos, conversamos, abrimos uma cerveja, conversamos mais, o tempo foi passando, bateu uma fominha, e não havia nenhum petisco preparado, já que eu esperava que a visita durasse não mais de meia hora e eles pretendiam justamente sair para comer. O marido comedor de porcarias logo abriu um salgadinho reservado para os momentos de video-game, e naquele momento eu não me importei, porque eles teriam um jantar depois, então não tinham vindo à minha casa com expectativas gastronômicas. A conversa continua, mais uma cerveja, o salgadinho acaba, marido abre outro, e chega a hora do jantar do Matador. Eu não havia planejado muito, então no improviso fiz um macarrãozinho com molho de gorgonzola para o pimpolho, e, de repente, senti olhares estranhos para aquela massinha fumegante. As visitas estavam já no terceiro pacote de salgadinhos, já haviam rolado muitas cervejas, e de repente me dei conta de que já se haviam passado mais de duas horas.

"A que horas é o jantar de vocês?"
"Ah, não, nosso jantar foi cancelado."

Meu coração afundou de vergonha.

"Pombas! E eu aqui entupindo vocês de salgadinho? Por que vocês não falaram nada? Eu teria feito jantar pra todo mundo!"

No fim das contas, já era tarde, e nossos queridos amigos nos deixaram assim, de dedos cor-de-laranja e a boca amarrada de tanto sal dos três sacos de salgadinhos consumidos. E eu fiquei prostrada no sofá, arrasada por ter sido uma anfitriã tão porcaria. Eventualmente, eles voltaram à nossa casa e servi comida de verdade para compensá-los.

Esse foi um episódio extremo. Os outros episódios extremos foram para o lado oposto, quando me esgoelei por dias planejando e preparando pratos complicados para servir a convidados, quando me estressei por alguma coisa não sair perfeita, e quando fiquei confinada à cozinha, esbaforida e irritada, ao invés de aproveitar a companhia dos amigos na sala como uma pessoa normal.

Então, há pouco mais de seis meses, resolvi ler um livro maravilhoso que me fora dado de presente por uma leitora querida: o fantástico An Everlasting Meal, de Tamar Adler. Um livro de cozinha como nenhum outro, um livro de cozinha que eu gostaria de ter escrito, pois ele muda completamente o seu modo de enxergar os ingredientes, os restos, os potenciais, e, principalmente, os defeitos. Como transformar arroz queimado ou empapado em algo comestível novamente, como aproveitar os ingredientes ao máximo, de talos até o óleo da lata de sardinha, e, o que mais me marcou, como aprontar um petisquinho no melhor do improviso quando aparece gente em casa de surpresa e, assim como com os livros do David Tanis, como manter em mente que é a companhia que interessa, e que simplicidade e boas intenções contam mais do que qualquer técnica culinária. Ela fala de modo tão caloroso e poético sobre a delícia simples de um pãozinho amanhecido dourado no azeite, que é como se ela viesse e desse um tabefe em toda aquela pesada pretensão e preciosismo que sentavam nos seus ombros, encurvando suas costas e tornando o ato de receber tão, tão exaustivo.

Uma vez por semana, um amigo nosso e também nosso treinador vem aqui em casa, à noite, para treinarmos Kettlebell (que recomendo muitíssimo, principalmente se você também teve filhos e já não sabe mais o que fazer com suas adoráveis pelancas). Minha irmã também vem, e é sempre um treino muito bom e divertido, que sempre, sempre, sempre, termina com cerveja e um petisquinho. Às vezes, é simplesmente um pacote de qualquer salgadinho que o marido tenha estocado para as noites de video-game, pois ninguém é perfeito. Mas em outras ocasiões, eu abro a geladeira e encontro possibilidades. Um queijo coalho, que corto em cubos, douro no azeite e sirvo com um pouco de mel e palitinhos para espetar. Castanhas de caju douradas no óleo de coco e polvilhadas de cominho, sal e pimenta caiena. Hommus com o que tiver: palitos de cenoura, de pepino, pãozinho, o que for. Pãozinho dourado em manteiga e polvilhado de ervas secas. É divertido tentar ver o que consigo fazer com o que há na geladeira e que seja mais saudável para um pós-treino do que um monte de salgadinho porcaria.

Então, noutro dia, o marido me lembrou de que viria gente em casa à noite, num dia em que eu estava ainda com a cabeça atrapalhada com a finalização de um trabalho grande e as crianças já de férias. Antes de entrar em pânico e começar a pensar coisas muito complicadas, respirei fundo e fui olhar a geladeira. Havia um abacate super maduro. Havia grão-de-bico cozido no freezer. Havia castanhas de caju.

Preparei um guacamole simples. Preparei hommus, pois sempre tenho limão e tahini em casa. Preparei minhas castanhas apimentadas. Cortei alguns legumes para acompanhar o hommus. Abri um pacote daquele salgadinho que finge ser nachos para acompanhar o guacamole. Havia já muito o que comer, que eu preparara em menos de meia hora, e ainda sobrara tempo. Resolvi sovar em cinco minutinhos um pão chato integral com cominho, para uma alternativa mais saudável aos tais nachos, e deixei fermentando enquanto dava jantar e banho nas crianças. Quando o povo chegou, eu estava tirando os pãezinhos do forno. Não fosse o fato de terem decidido pedir uma pizza, eu tinha ainda outras cartas na manga, como cortar um queijo branco em cubos e polvilhar com ervas e azeite, ou preparar mini crepiocazinhas, com metadinhas de tomate cereja, como se fossem blinis ou pizzinhas.

Foi divertido preparar tudo, povo comeu à beça, e no fim das contas, achei o máximo que aquilo que terminei servindo (legumes, guacamole, hommus, pão chato e castanhas apimentadas) era saudável, natureba e vegan. ;) Ok, descontado o doritos. :P

Enfim.

Lembrei-me de épocas em que jamais teria servido hommus e guacamole no mesmo "evento", pois acreditava que precisava seguir uma temática mais precisa ou qualquer bobagem do gênero. E fiquei contente por ter aprendido FINALMENTE a relaxar um pouco.

E achei que esse post valia, se não pela foto medonha aí de cima, pela receita desse pãozinho gostoso e fácil e para deixar essa dica tão besta, tão óbvia, mas que nunca tinha me ocorrido: abacate e grão-de-bico congelado (ou em lata) salvam qualquer visita. Nem precisa ter ingredientes de hommus ou de guacamole. Durante anos preparei uma pastinha de grão-de-bico do Jamie Oliver que consistia em amassar uma lata de grão-de-bico escorrido, 1 dente de alho, suco de limão, um pouco de pimenta calabresa e um pouco de cominho em pó. Dá pra fazer hommus com tomate, com beterraba... Nem precisa ser hommus. Qualquer feijão congelado pode virar uma pastinha gostosa, principalmente se for feijão branco. Guacamole, faço cada hora de um jeito, dependendo do que tenho em casa: às vezes coloco coentro, às vezes coloco cebolinha, às vezes tomate; quando não tem nada disso, apenas suco de limão, sal e tabasco já bastam. Mas certa vez fiz uma pastinha de abacate da Rachel Khoo que era apenas 1 abacate pequeno bem maduro batido no processador com um pouco de suco de limão, sal, pimenta do reino e 50g de amêndoas tostadas no forno: delícia e super diferente.

E viva uma vida menos complicada.

PÃO CHATO COM COMINHO
(Quase nada adaptado do ótimo livro A Change of Appetite, de Diana Henry)
Faz 6 pães chatos, feitos para serem quebrados ou rasgados à mesa

Ingredientes:

  • 3/4 xic. farinha de trigo integral
  • 2/3 xic. farinha de trigo branca
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 1/2colh (chá) fermento biológico seco
  • 1/4 colh (chá) açúcar
  • 2/3 xic. água morna
  • 1 colh. (sopa) azeite
  • 1 colh. (chá) sementes de cominho


Preparo:

  1. Misture as farinhas e o sal numa tigela. Em outra, dissolva o açúcar e o fermento em metade da água e espere formar espuma. Junte o fermento à farinha, adicione o azeite e o cominho e misture, juntando o restante da água aos poucos.
  2. Sove por dez minutos em uma bancada ligeiramente untada com azeite, até que a massa esteja macia, uniforme, brilhante e elástica. Coloque em uma tigela ligeiramente untada, cubra com filme plástico e deixe que que dobre de tamanho por aproximadamente duas horas.
  3. Ligue o forno na temperatura máxima e coloque uma pedra de pizza nele. Sove a massa fermentada por alguns segundos e divida em seis porções iguais. Disponha em uma assadeira ligeiramente enfarinhada, cubra com um pano e deixe que descanse por dez minutos.
  4. Abra cada pedaço de massa com um rolo, em formato oval, com cerca de 15cm de comprimento ou mais se conseguir. Asse os pães diretamente sobre a pedra, em quantas levas for necessário, por cerca de 2-3 minutos ou até que inflem e criem bolhas. Para mantê-los quentes e macios, envolva em guardanapos assim que saírem do forno. 


segunda-feira, 23 de março de 2015

Uma sopa de quiabo e como eu reduzi minha conta de supermercado comendo melhor


á escrevi duzentas vezes ao longo desses anos o modo como organizava minhas compras, minha despensa, minha rotina na cozinha. Mas nada culminou tanto em uma melhora na minha alimentação e na minha conta bancária quanto meus hábitos mais recentes.

Como mencionei no post anterior, o ambiente me influenciou um bocado. Quando você tem acesso a frutas e legumes orgânicos de qualidade mas não tem a mesma sorte com laticínios e carnes, você começa a comprar mais de um do que do outro. De repente, o centro do seu prato vira o legume ao invés da proteína, de qualquer espécie. E para dar mais força a esses legumes, você se mune de grãos e cereais e castanhas e sementes, que servem de coadjuvantes para que o legume possa ter uma performance brilhante. O arroz, o feijão, a quinua, a cevada, viram veículo para transportar melhor o sabor dos legumes, ao invés de tratar o brócolis como acompanhamento do arroz. Inverti tudo.

Daí que, ao contrário de outras épocas em que tentei me alimentar mais de grãos integrais, mas deixei estragar sacos inteiros de cevadinha, parei de usar os grãos e farinhas integrais apenas em pratos especiais para isso e os incorporei de vez ao meu dia-a-dia. Comecei a tentar usar a maior quantidade de legumes por refeição e a maior quantidade de grãos e farinhas integrais por semana possíveis. E evitar usar a farinha branca como se a guardasse para uma ocasião especial – ou seja, o contrário.

E a comida no supermercado ficou tão cara, que parei de comprar enlatados e comecei a fazer tudo em casa. O tomate orgânico da feira de fato ficou o mesmo preço do italiano enlatado. Nunca mais comprei tomate em lata. Ou feijões. Iogurte é feito em casa. Queijo cottage é feito em casa. Pão é feito em casa, a não ser pelo ocarional pão francês, quando não deu tempo de fazer mais. Não compro sucos, mas também não faço. Fruta é pra comer de dentada, não pra beber. Quando é pra beber, vira vitamina, que é lanche ou café da manhã, e não acompanhamento pra mais comida. Suco, só limonada. Limonada rende e não estufa a barriga durante a refeição. De resto, só água. Ou chá. Feito em casa, com pouco ou nenhum açúcar. Chá gelado dá pra fazer de litro, e dura uma semana na geladeira. As crianças levam pra escola. De hibisco, de erva-doce, de chá-verde com laranja, preto com limão, de hortelã, de casca de abacaxi...

Comecei a ler livros sobre como as pessoas se alimentavam durante a guerra e tive vergonha de deixar comida estragar. Pirei com a possibilidade de usar mais dos alimentos do que eu usava. E comecei a usar cascas de vegetais e aparas para fazer caldo de legumes, comecei a congelar a água do cozimento de feijões e grãos e verduras para usar em sopas, ensopados, para cozinhar arroz, e assim economizar água da torneira e consumir mais sabores e nutrientes. Comecei a cozinhar com partes de alimentos que eu não sabia que podiam ser consumidos, como a casca da manga, da banana, talos de espinafre e de couve, folhas de cenoura, de beterraba, de nabo, de rabanete... Isso transforma a cenoura que você compra em dois ingredientes diferentes, e vai fazendo render suas refeições e cortando sua conta do mercado. Não precisa comprar espinafre quando as folhas de beterraba estão bonitas, por exemplo.

Ao mesmo tempo em que voltei a comer carne, me interessei pela cozinha vegan, macrobiótica, sem glúten, natureba em geral. E comecei a ver boas substituições e opções. E, ao invés de ir ao mercado comprar leite, comecei a suar as amêndoas que tinha em casa para fazer leite de amêndoas, e ao invés de comprar farinha de trigo, comecei a usar outras farinhas diferentes. Essa gama de opções em casa me fez ir menos ao supermercado. Indo menos ao supermercado para comprar um item que faltava, comprei menos por impulso daquilo de que minha despensa não precisava. De quebra, tornei minha comida ainda mais variada.

E, impulsionada pela condição árida da minha conta bancária de ilustradora no ano passado, quando, por conta da Copa do Mundo, quase nada de trabalho apareceu, comecei a passar uma semana por mês sem ir ao mercado ou à feira. Nesta uma semana sem compras, dou-me a missão de dar fim a tudo que permanece abandonado no freezer ou na despensa. Seja uma sopa de legumes esquecida, seja aqueles últimos 50g de macarrão de arroz que não dá nem pra uma porção, seja o vidrinho de pasta de trufas que minha irmã me trouxe de viagem e que estava fadado a ser guardado para uma ocasião especial até enfim estragar. Esse hábito diminui muito seu desperdício, pois você de fato faz a rapa no armário e na geladeira, estimula sua criatividade e evita que você compre itens supérfluos, duplicados, caros, desnecessários. Faz você olhar para aquele vidro de qualquer coisa em conserva que você comprou há quatro anos e julgava suuuuuper importante para a sua cozinha e descobrir que não, você nunca mais precisa comprar aquilo de novo. Faz você parar de ficar economizando ingrediente especial para uma ocasião especial pra convidados especiais, e começa a transformar o almoço de terça feira em algo especial por causa daquele ingrediente diferente. Mesmo que seja só pra você.

Certo dia, resolvi fazer as contas e descobri que andava gastando 30% menos em comida, apesar de comprar quase tudo orgânico e de qualidade. Quase caí sentada de espanto.

30% é muita coisa. Principalmente quando você lembra que alimenta duas bocas a mais.

A verdade é que cozinhar em casa é mais barato. E cozinhar legumes é mais barato. E cozinhar saudável é mais barato. A verdade é que você não precisa comprar um pacote de 20 reais de quinua pra comer bem. Arroz integral tá mais que bom e é mais em conta. Não precisa de queijo importado. Um cottage feito em casa sai o preço de um litro de leite. Infinitamente mais em conta do que a porcaria cheia de goma vendida em potes plásticos. E melhor pro seu corpinho lindo e da sua família.

De vez em quando me dou um presente. Saí e comprei um salame artesanal de porquinhos felizes. Bem mais caro que um da grande indústria. Mas bem mais gostoso. Bem melhor para meu corpinho, para o da minha família e, claro, para os porquinhos que viraram salame.

Continuo comprando macarrão de grano duro italiano. Mas faço menos macarrão.

Gasto uma fábula em cacau orgânico. Mas cozinho menos doces.

Dá trabalho? Bom, trabalhar para ganhar dinheiro também dá. Se é para ter trabalho, prefiro um que me dê saúde. Trabalhar mais para pagar por conveniências que te deixam, no fim, doente... hmmm... prefiro não. Ganho menos mas faço leite de coco em casa.

Houve gente no facebook que me perguntou sobre minha rotina de compras. Então lá vai: uma vez por mês, mais ou menos, dou uma abastecida nos grãos, leguminosas, castanhas e sementes. Se puder, já cozinho pacotes inteiros de feijões e congelo em porções de 500ml. Só me abasteço de novo quando realmente estou sem opções. Enquanto houver mais de duas variedades de grãos ou feijões, não compro mais nenhum. O objetivo é sempre limpar a despensa e o freezer. Acabo indo ao mercado para compras mais pontuais durante a semana, como para comprar leite, manteiga ou café, itens que não podem esperar eu acabar com a geladeira para sair para comprar. Mas tento não comprar mais nada além do item faltante, a não ser que seja uma promoção fenomenal, como quando encontrei bom chocolate orgânico por metade do preço de um belga. Mas minha regra é só ceder a essas promoções quando são itens que duram bastante. Vou à feira, na banca de orgânicos, uma vez por semana. E compro verduras e frutas e ervas para um batalhão. Quanto mais variedade, melhor. Lá também compro ovos. No mesmo dia já "processo" tudo o que dura mais assim: lavo e seco todas as ervas e verduras, já boto aparas no saco do caldo de legumes no freezer, asso beterrabas, separo folhas de espinafre dos talos (que, assim como as cenouras e outras raízes, duram mais sem as folhas), pelo e congelo tomates muito maduros.

E aí vai a dica: assim que tenho tudo organizado, faço uma lista de todos os itens frescos na cozinha (legumes, verduras, frutas, laticínios ou outros produtos que estragam rápido) e deixo na porta da geladeira. Isso me ajuda a visualizar melhor o que tenho para o almoço sem precisar abrir a geladeira e, de repente, esquecer a berinjela que ficou embaixo do alface. Também corro para o Eat Your Books, ou a internet, e tento encontrar alguns pratos que usem uma boa variedade daquilo que comprei, começando a procurar sempre pelos itens que estragam mais rápido ou que são mais especiais. Escolho alguns pratos para fazer durante a semana e anoto embaixo da lista de produtos na porta da geladeira. Assim, num dia mais atrapalhado, eu consigo em lembrar do que planejara cozinhar e consigo me manter organizada, preparar partes com antecedência, etc.

Quando fui à feira semana passada e vi os quiabos, pequenos e bonitos, lembrei do espinafre que estava na geladeira e precisava ser usado A.S.A.P. Imediatamente pensei na sopa que tomara na viagem a Trinidad e Tobago. Aproveitei que tinha de passar no mercado para comprar leite, e comprei também um coco seco para fazer leite de coco. Chegando em casa, apanhei o livro de cozinha Trini que comprara lá e descobri que a receita levava carne de porco e caranguejo e fiz o que mais tem me ajudado a economizar hoje em dia: adaptei com o que tinha em casa. Isso é novo para mim. Morei a vida toda a dez passos de bons mercados e, se faltasse um ingrediente super específico, frufru e caro, eu corria para comprar. Hoje, não mais. Se só faltou UM ingrediente para o almoço, e dá pra adaptar, eu NÃO SAIO para comprar. É o único momento da minha vida em que acho a preguiça um benefício.

Transformei a sopa num caldo vegan. Usei óleo de coco no lugar de manteiga, refoguei tudo (coisa que não se faz em cozinha africana normalmente, descobri, e a sopa original faz parte da origem africana em Trinidad), mudei proporções segundo o que eu tinha (mais quiabo do que espinafre), e o resultado foi uma sopa deliciosa, que Madame Bochechas repetiu e repetiu e repetiu (ela adora quiabo, e come inclusive cru). Meu Matador de Dragões gostou e queria comer mais, mas a pimenta que coloquei por engano era mais forte do que eu previa, e o pouco que ele conseguiu comer foi acompanhado de um grande copo de leite. O único que comeu mas não gostou foi o marido. Pudera, ele odeia quiabo. E essa é uma sopa para adoradores de quiabo. Sua textura tem uma ligeira viscosidade e seu sabor é um equilíbrio delicioso entre o quiabo, o espinafre e o coco. Pretendo fazê-la muitas vezes mais. Desta vez foi acompanhada de pão sueco caseiro. Outra coisa infinitamente mais barata de fazer em casa (e fácil). Pagar 9 reais em meia dúzia de lascas de pão sueco ninguém merece.


SOPA DE QUIABO E ESPINAFRE
Rendimento: 4 porções pequenas, como entrada ou para ter um acompanhamento

Ingredientes:

  • 1 colh. (sopa) óleo de coco
  • 1 cebola picada
  • 2 dentes de alho picados
  • 1/2 pimenta fresca, picada (com ou sem sementes, variedade à sua escolha)
  • 2-3 ramos de tomilho fresco, só as folhas
  • 250-300g de quiabo, cortado em rodelas, cabinhos descartados
  • 2 xícaras de folhas frescas e espinafre, apertadas na xícara para medir
  • 1 xic. leite de coco (de preferência caseiro)
  • 1 xic. água
  • sal e pimenta-do-reino a gosto
  • um punhado de cebolinha picada


Preparo:

  1. Aqueça o óleo de coco numa panela média, em fogo médio e junte o alho, a cebola, a pimenta e o tomilho. Misture bem e polvilhe uma pitada de sal. Refogue, mexendo às vezes, até a cebola murchar um pouco. 
  2. Junte o quiabo em rodelas e misture bem por um minuto ou dois, até que o quiabo esteja bem encoberto de tempero.'
  3. Junte o espinafre, misture uma ou duas vezes, e acrescente o leite de coco e a água. Misture, deixe levantar fervura, abaixe o fogo e tampe. Cozinhe por cerca de 15-20 minutos, até que o quiabo esteja bem macio e a sopa mais encorpada. 
  4. Junte metade da cebolinha e bata no liquidificador até que fique homogêneo. Volte à panela, acerte o tempero de sal e pimenta, aqueça novamente e sirva, quente, polvilhada com cebolinha.  

A receita do pão sueco vai de brinde, depois do povo pedir pelo facebook. As crianças adoraram levar de lanche na escola, pois é salgado e crocante. Perfeito com queijos e maçãs. Se seus filhos não estão acostumados aos sabores fortes de especiarias, omita ou diminua o cominho, que tem um gosto bastante assertivo nesse pão.

PÃO SUECO DE CENTEIO
(Quase nada adaptado do EXCELENTE Vegetarian Everyday, de David Frenkiel e Luise Vindahl, do blog Green Kitchen Stories)
Rendimento: 12 pães

Ingredientes: 

  • 1 xic. água morna
  • 2 colh. (chá) sal marinho
  • 3 colh. (chá) fermento ativo seco
  • 2 colh. (sopa) sementes de cominho
  • 1/2 xic. buttermilk (os autores dizem que pode-se usar kefir, mas usei soro do queijo cottage, e você pode juntar leite com uma colherinha de vinagre, ou afinar iogurte natural com água)
  • 1 2/3 xic. farinha integral de centeio
  • 1 1/2 xic. farinha integral de trigo (original era spelta, que não se encontra por aqui)
  • 1/4 xic. sementes de linhaça, esmagadas num pilão
  • 2 colh. (sopa) flor de sal ou qualquer sal de grânulos maiores


Preparo:

  1. Numa tigela média, coloque a água, o sal, o fermento, metade das sementes de cominho e misture. Junte o buttermilk. 
  2. Numa outra tigela, misture as farinhas. Junte metade delas à mistura líquida. Gradualmente junte mais das farinhas, misturando até que você consiga sovar. Dependendo da textura das suas farinhas, ou da umidade do ar no dia, talvez seja preciso colocar mais farinha de trigo integral. Acrescente bem aos poucos. A massa não pode grudar nas mãos, mas também não pode ficar seca como massa de macarrão. 
  3. Sove por alguns minutos dentro da tigela. Então divida em 12 bolinhas iguais, coloque numa superfície enfarinhada e cubra com um pano úmido. Deixe descansar por 1 hora.
  4. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Coloque uma das bolinhas numa folha de papel-manteiga e abra com um rolo, até virar um disco de 20cm. Os discos devem ficar BEM finos. Corte um circulozinho no dentro, para garantir que vai ficar crocante por igual (não jogue fora, você pode assar todos os circulozinhos no final, como biscoitinhos). Polvilhe com a linhaça moída, sementes de cominho e sal. Espete o disco com um garfo, por toda a superfície, e transfira para a assadeira. Repita com o restante. 
  5. Dependendo da assadeira, podem caber de 2-3 pães por vez. Asse cada assadeira por 8-10 minutos, até que estejam castanhos e crocantes. Fique de olho, pois queimam muito rápido
  6. Transfira para uma grade para que esfriem. Frios, guardados em pote hermético, duram meses. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Borcht com Pirochki, para quem não vive sem legumes


As coisas andam tão corridas, que esse era para ser um post de Reveillon, veja só. Com resoluções e o caramba. Engraçado como um mês depois você já se dá conta de que resoluções não levam a nada e que o melhor é simplesmente viver sua vida da melhor forma possível e não encanar muito com as coisas. [Viu? Isso era uma das resoluções, tentar ser menos dura, e levar as coisas de um jeito mais leve – só pra dizer que essa resolução tem beirado o impossível de manter.]

E tive mesmo de não encanar muito nos últimos meses, pois fui absorvida pelo trabalho durante as férias escolares, com direito a duas viagens internacionais que soaram bem mais interessantes do que foram de fato. Precisei de muita a ajuda de marido, mãe e sogra, para poder dar conta de tudo e basicamente qualquer atividade que eu tivesse planejado para janeiro (que era para ser minhas férias) teve que ser cancelada.

Agora o trabalho está um pouco mais tranquilo e as crianças voltaram para a escola, e estamos todos ainda nos adaptando à nova rotina, agora que a pequena Madame Bochechas também tem aulas. Consigo trabalhar a manhã toda, e um pouco mais à tarde, porque os dois cochilam após o almoço. (Aleluia!)

E tenho mais tempo para pensar melhor as refeições do meio da semana e até mesmo para voltar a fazer pão com regularidade.

E se as viagens a Trinidad não foram aquela coisa maravilhosa de dias no Caribe que as pessoas esperavam quando eu contava do trabalho, valeu para poder organizar a cabeça de novo e me dar conta de coisas nas quais não havia ainda prestado atenção.

Após uma reunião de três horas, o cliente pediu almoço para a equipe na sala de conferência antes da reunião seguinte... de três horas. Sempre que pediam comida no escritório a mistura era mais ou menos a mesma: algo indiano, algo chinês, algo com sotaque africano. Sempre um peixe ou uma carne com um molho doce e bem apimentado, algum curry, algum arroz ou macarrão chinês com legumes.

Muito gostoso. Comi bem todos os dias.

Mas não foi assim com todos nós. A equipe era chamada de "Nações Unidas", porque era composta de uma brasileira (eu), uma norueguesa, um romeno, um guatemalteco, um peruano e um chinês. O guatemalteco, logo notei, nunca comia nada. Naquele dia, havia um pãozinho indiano simples e delicioso, para ser comido junto com um curry que quase me fez lamber o prato. O rapaz comia apenas o pão.

O peruano lhe perguntou a respeito de sua dificuldade com a comida local.

"Não gosto de comida apimentada. Ou com muitos temperos. Não consigo comer."
"A comida na Guatemala não é apimentada?", perguntei.
"Não, é bem neutra de temperos, na verdade."

Pela localização geográfica, presumi que fosse muito quente na Guatemala, e que por isso, lá também, como todos os locais quentes, muita pimenta fosse usada. Mas não, a Guatemala é a "terra da primavera eterna", ele me explicou. E a comida reflete o clima ameno.

"Mas o que seria o básico da comida de lá? Do que você sente falta?", perguntou o peruano.
"Ah... feijão. Eu preciso de feijão. Se não tem feijão no meu prato, não é uma refeição", disse ele.
"Feijão? Hum... Para mim é arroz. Acho muito estranho não ter arroz. Fica faltando alguma coisa, não satisfaz", disse o peruano. "E você, Ana?"

Pensei um pouco.

"Como brasileira, acho que seria a combinação dos dois. No Brasil, pelo menos no sudeste, acho que arroz e feijão juntos são muito importantes."

Eles pareceram satisfeitos com essa resposta, mas eu, não. Continuei a comer meu curry de vagens, chuchando o pãozinho no molho cremoso e apimentado, e matutando no assunto. O que torna minha refeição uma refeição de fato? O que não pode faltar no meu prato? Do que mais sinto falta quando estou fora da minha casa?

Carne? Não, não preciso de nenhuma.
Arroz? Neh.
Feijão? Neh.
Queijo? Nem isso.

A resposta me surpreendeu um bocado e me encheu de satisfação ao mesmo tempo: verduras. Preciso de verduras e legumes no meu prato. Sempre. Nem que seja apenas uma folha de alface num sanduíche de queijo. Um pouco de couve para acompanhar o arroz com feijão.

Uma vez fiz uma frittata de mortadela da Nigella, que, apesar de deliciosa, causou-me muita estranheza: depois de uma vida fazendo frittata de legumes e verduras, ver proteína com proteína daquele jeito me pareceu pesado e redundante, e senti falta de algo bem verde e leve para suavizar a refeição. Posso comer um prato inteirinho de verduras e legumes, e para mim é almoço completo. Mas um prato sem eles parece tragicamente abandonado no meio do caminho.

Essa constatação me deixou muito feliz comigo mesma. Como disse a meu marido outro dia, parece que hoje, mesmo comendo carne eventualmente, eu poderia ser uma vegetariana melhor do que jamais fui. Consegui chegar num ponto em que realmente estou satisfeita com a minha alimentação. Meu prato me faz levantar da mesa leve e cheia de energia.

E fico contente vendo os pimpolhos seguindo o mesmo caminho.

Depois de pastar um bocado com o Matador de Dragões nos seus Terríveis Dois Anos, quando ele não queria provar nada verde e empurrava o prato para longe, e berrava e não comia e me deixava louca, finalmente posso simplesmente preparar o almoço com a maior quantidade de legumes e verduras possíveis, e não ficar muito encanada se aquilo será aceito ou não pelas crianças.

Porque mesmo que sem entusiasmo, eles pelo menos provam. Um influenciado pelo outro. Madame Bochechas passou voando pela fase do "não quero-não gosto", já que quer imitar o irmão, e se o irmão está comendo quiabo, então ela vai comer quiabo também. Ou Laura recebe palmas por comer toda a couve, e o ciúmes faz com que Thomas leve um garfo cheio de couve à boca, pedindo palmas também.

Às vezes tenho que me refrear e não ficar tão encanada com o fato de eles comerem tudo do prato ou não. E simplesmente fazer festa por terem provado algo novo. As broncas acontecem mais quando a brincadeira é tanta à mesa, que cotovelos batem em garfos e comida sai voando pelos ares. Ou quando Laura resolve colocar comida atrás da orelha.

Mas de vez em quando eles me surpreendem. Muito. Como quando você coloca à frente deles uma tigela de Borcht e pasteizinhos de repolho e eles comem sem titubear, sem pedir ajuda, viram as tigelinhas na boca e pedem mais, chucham os pasteizinhos no caldo púrpura brilhante, perguntam o que são as sementinhas ali dentro (alcaravia), repetem os nomes como conseguem e se esbaldam, quase não deixando nada para papai e mamãe.  

Penso de novo nisso de "cardápio infantil" ou "paladar infantil" e acho tudo uma grande bobagem. Vejo os dois tomando sopa de beterraba com repolho e comendo frutas de sobremesa e fico contente, acreditanto que eles também vão sempre buscar colocar uma folhinha de alface dentro de seus sanduíches de queijo. E que, principalmente, no dia em que estiverem na Tailândia, ou no Japão, ou na França, ou na Alemanha, ou em qualquer lugar do mundo, ou mesmo na casa de um amigo, nunca vão passar fome ou recusar comida de um anfitrião generoso. E essa perspectiva me deixa muito feliz.

Esse Borcht é vegetariano, olhe só. Eu sempre achei que Borcht levasse uma tonelada de carne. Só que não. Pelo menos essa versão. Essa sopa é mais saborosa e mais leve do que parece. Em temperatura ambiente, foi refeição em dias de calor brutal. O certo é colocar creme azedo por cima, mas uma colherada generosa de iogurte firme também serve. E não deixe de fazer os pasteizinhos, que são fáceis e deliciosos. E tanto a sopa quanto os pastéis congelam maravilhosamente bem. Foi minha saída, pois só no meio do preparo dei-me conta de que fazia Borcht e Pirochki para DEZ PESSOAS. o_O

BORCHT com PIROCHKI (vegetariano)
(do livro Culinária Ilustrada Passo a Passo, Legumes e Verduras, da PubliFolha)
Rendimento: 8-10 porções

Ingredientes:
(Borcht)

  • 1 repolho de 1,5kg, cortado em quartos e fatiado bem fino
  • 2 cenouras médias, picadas
  • 3 cebolas médias, picadas
  • um punhado de endro, picado
  • um punhado de salsinha, picada
  • 750g tomates, pelados e picados grosseiramente
  • 6 beterrabas médias, cozidas (ou assadas), descascadas e raladas grosso
  • 60g manteiga
  • 2 litros de caldo de galinha ou água
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • suco de 1 limão
  • 2-3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto
  • 125ml creme azedo (sour cream), para servir

(Pirochki)

  • 60g queijo minas
  • 2 colh.(chá) sementes de alcaravia (kümmel)
  • 175g farinha de trigo
  • 1 ovo
  • 60g manteiga sem sal, amolecida
  • 2 colh. (sopa) creme de leite
  • 1 ovo para pincelar


Preparo:

  1. Depois de picado o repolho, reserve 1/2 xic. de chá para rechear os pirochki.
  2. Para a massa dos pastéis, coloque a farinha numa tigela com a manteiga, o ovo e o creme de leite, 1/2 colh (chá) de sal e misture com a ponta dos dedos, juntando a farinha aos outros ingredientes aos poucos, até obter uma farofa grossa. Forme uma bola.
  3. Polvilhe uma superfície com farinha e sove a massa sobre ela por 1-2 minutos, até ficar bem lisa e soltar da superfície e dos dedos. 
  4. Embrulhe bem a massa em filme plástico e deixe na geladeira por 30 minutos. 
  5. Enquanto isso, faça a sopa. Derreta a manteiga em uma panela BEM GRANDE. Acrescente a cenoura e a cebola e cozinhe, mexendo, por uns 5 minutos, em fogo baixo, até os legumes fiquem macios, sem dourar. Retire 1/4 dos legumes passados na manteiga para o recheio dos pirochki.
  6. Junte à panela o repolho, a beterraba, o tomate, o caldo (ou água), açúcar, sal e pimenta a gosto e deixe abrir fervura.
  7. Abaixe o fogo e cozinhe por 45-60 minutos. Prove, corrija o tempero, se necessário, e adicione mais caldo ou água se a sopa estiver muito grossa (dependendo da panela, pode secar muito rápido, então fique de olho!). Desligue o fogo e reserve enquanto prepara os pirochki. Na hora de servir, junte as ervas picadas, o suco de limão e o vinagre e acerte o tempero. 
  8. Para o recheio dos pirochki, coloque o repolho reservado em uma tigela, cubra com água fervente e deixe ficar 2 minutos. Escorra, passe por água fria e escorra de novo, espremendo bem com as mãos. Pique finamente.
  9. Misture o repolho picado, o queijo, as sementes de alcaravia e as cenouras e cebolas refogadas. Tempere com sal e pimenta. 
  10. Polvilhe uma superfície com farinha e abra a massa com rolo até 3mm de espessura. Recorte discos de massa com um cortador ou um copo de borda fina. Deve render de 25-30 discos, mais ou menos. 
  11. Use uma colher de chá para colocar o recheio no centro dos pastéis. Pincele as bordas com um ovo batido com 1/2 colh. (chá) de sal. Feche bem os pasteizinhos em forma de meias-luas e coloque em uma assadeira. Pincele-os com o ovo batido. Leve à geladeira por 15 minutos.
  12. Aqueça o forno a 200ºC. Quando o forno estiver quente, asse os pastéis por 15-18 minutos, ou até que dourem. 
  13. Sirva os pastéis ao lado do borcht quente ou em temperatura ambiente, com uma colherada de creme azedo por cima. 






terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Couscous integral com ervas thai e cebola caramelizada, abóbora assada e acelga suíça, e depois de um ano com carne o que é que rola


Quando resolvi voltar a comer carne, sabia que a mudança, tonta que fosse, causaria todo um fuzuê. Primeiro, entre leitores do blog. Houve quem ficasse empolgado com a possibilidade de ver receitas carnívoras por aqui e houve quem me escrevesse num tom de extrema decepção. Teve gente que parou de ler. Ainda bem, a grande maioria deu tanta importância quanto se eu dissesse que parei de tomar sorvete de uva. Né? Ok.

Dentre os meus amigos, foi uma mini comoção. Decepção entre os vegetarianos (alguns veganos ficaram chocados) e comemoração entre os carnívoros. Há uns dez anos atrás, no auge do meu vegetarianismo fajuto e de minha militância, li um blogueiro de quem gostava muito dizendo que fora vegetariano por 20 anos e então simplesmente resolvera voltar a comer bife e estava feliz assim. Minha reação foi parecida com a de meus amigos e alguns leitores: sensação de decepção porque aquela pessoa não foi forte o bastante. A alegria dos carnívoros é o oposto: a felicidade em saber que você foi fraco. "Ah, eu sabia que você ia voltar!" Tudo muito bobo. Hoje eu sei.

Já minha mãe ficou aliviada. Disse que estava ficando sem ideias do que fazer para os meus filhos. O que eu achei muito bizarro, considerando que arroz, feijão, espinafre e ovo frito (que é o que ela mais prepara) é uma bela refeição e nunca me pareceu incompleta. Mas foi falar "oooook, eu voltei a comer carne" que de repente todo dia em que eu ia à sua casa tinha alguma. Era frango, era boi, era porco, o que fosse. De um dia para o outro, uma casa que havia aprendido a ser 70% vegetariana, parecia o festival da carne. Tudo uma delícia, e eu não vou fazer desfeita para minha mãe. Mas me fez matutar.

Dizer "eu voltei a comer carne" parece ter um significado diferente para mim que para os outros. Para mim, queria dizer que, não havendo uma boa opção de verduras no local onde estivesse, eu não passaria mais fome. Queria dizer que, num dia em que eu estivesse afim, poderia comprar um pedaço da carne que fosse para testar alguma técnica culinária que me deixou curiosa por todos esses anos à base de legumes e tofu.

E só.

O que me surpreendeu foi que, para os outros, voltar a comer carne não quer dizer o beslisquete ocasional que eu tinha em mente, mas se espera sim que eu coma todo dia, almoço e jantar. Oito ou oitenta. Povo tendo dificuldade de entender o meio termo. Se você diz que come castanhas, não quer dizer que coma todo dia. Certo? E você diz que como sorvete de uva, não quer dizer que queira um agora ou que seja obrigado a tomar sorvete de uva sempre que tiver um na minha frente.

Parece óbvio, mas pior foi perceber que não é. Achei essa expectativa meio engraçada, e me dei conta de que essa era a fonte da confusão dos meus amigos, toda vez que saíamos para comer.

O caso é que nisso de todo mundo achar que eu havia mergulhado no açougue, acabei sim comendo mais carne (porco, boi, aves) do que eu pretendia. Amigo chamava para comer... carne. Mãe chamava pra almoçar... carne. Justo naquela semana em que você havia comprado um pedacinho de algum bicho pra cozinhar dum jeito especial no meio de uma semana que deveria ter sido vegana. Mas não foi.

E isso foi uma experiência... interessante.

Primeiro, concluí que as carnes de fato voltaram a agradar meu paladar. Ainda que não de todo jeito. Preparara um dia um frango com melado que ficara delicioso, e, num churrasco, pediram para que preparasse novamente. Chego no mercado, o frango orgânico sumiu. Fiquei besta de ver como frango de granja é barato (barato que sai caro) e resolvi preparar a receita com o frango comum. Povo adorou, mas eu que tinha sentido o gosto do mesmo tempero num frango feliz, senti uma diferença brutal. E não fui só eu: minha irmã também. Como disse um chef na Menu desse mês, frango de granja tem gosto de poleiro. Um gosto plástico, químico, qualquer coisa esquisita que nem melado e muito alho conseguiram esconder. Se é caro, prefiro comer frango uma vez por ano, mas que seja orgânico. Frango de granja, nunca mais na vida. XP

Segundo, e esse segundo é o mais importante de todos... concluí que eu funciono infinitamente melhor... sem carne. (Vegetarianos mega felizes lendo isso.)

Pois é. Depois de alguns meses comendo mais carne do que comi  nos últimos dez anos, percebi que prefiro me manter 90% vegetariana. A carne faz com que meu corpo não funcione tão bem. Muda o cheiro do meu suor, a textura da minha pele, o meu hálito, muda meu estômago, meu intestino, muda principalmente meu estado de ânimo. Nesses últimos meses fiquei mais irritadiça e mais letárgica. E não fui só eu. Nada como ter crianças em casa, que foram vegetarianas por toda a sua longuíssima vida, comendo carne com frequência, pela primeira vez. Laura adora qualquer coisa que tenha andado ou nadado. Thomas parece mais fã de porco e frutos do mar (adorou lula, e comeu mexilhões na praia com curiosidade), mas parece rejeitar aves e carne bovina. O resultado da comilança não-vegetariana vê-se mais rápido do que em adultos: eles ficam com a barriguinha toda desregulada (constipados pelo excesso de proteína e depois desandados pelo de gordura) e ninguém, NINGUÉM quer chegar perto da fralda da pequena. :P Argh.

Definitivamente prefiro carne uma vez por mês. Se tudo isso. Idem pros pimpolhos. Continuo querendo fazer bouef bourguignon, mas sabendo que vai ter porco no Natal, prefiro dar uma desintoxicada e voltar para os meus adorados legumes. A carninha fancesa vai esperar mais um pouco.

Nesse meio tempo, ando cada vez mais adorando explorar tudo quanto é tipo de naturebice. Depois de uma semana viajando a trabalho e uma semana na praia – quinze dias a base de proteína e carboidrato – não via a hora de voltar pra casa e comer minha comida, cheia de frutas, verduras e coisinhas integrais. ^_^

Essa refeição, de couscous, abóbora e verduras, é exatamente o tipo de coisa que gosto de comer todos os dias. Leve, colorida, interessante, cheia de sabores e texturas. Ok, abóbora com gosto de abóbora foi demais para o marido. ;) Mas a pimpolhada comeu bem. O couscous é super perfumado e saboroso, e eu que sou fã de abóbora e de qualquer verdura escura, caí de amores por essa refeição.

Madame Bochechas, aliás, minha pequena adoradora de pancetta, ganhou um novo apelido do pai. Princesa? Ok. Mas não a Branca de Neve. Bianca di Lardo. Mais apropriado. ;) E a pequena Bianca di Lardo, depois de raspar o prato e ir brincar com o irmão, resolveu voltar e me fazer companhia enquanto eu lavava a louça. Ouço ela arrastando a cadeira e se empoleirando em cima. Ouço talheres. Olho para trás e pego a mocinha puxando a travessa de acelga suíça refogada em alho e gengibre para perto de si e dando uma garfada. E outra. E eu fiquei olhando, e eventualmente peguei a câmera para registrar o momento em que minha filha, Ex-Catadora de Salsinha, termina de comer quase 3 xícaras de verdura verde e amarga. Por livre e expontânea vontade.


Acho que não sou só eu que prefiro um bom prato de verdura. ^_^

COUSCOUS INTEGRAL COM ERVAS THAI E CEBOLA CARAMELIZADA, acompanhado de ABÓBORA ASSADA E VERDURAS COM GENGIBRE
(Ligeiramente adaptado do ótimo Whole Grains for the New Generation, de Liana Krissoff)

Ingredientes:
(abóbora)

  • meia abóbora japonesa pequena, sem sementes, cortada em cunhas, com a casca
  • azeite
  • sal e pimenta-do-reino

(couscous)

  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1/2 cebola, em meias luas bem finas
  • sal
  • 1 xic. couscous marroquino integral
  • 2 folhas de limão kaffir (confesso que usei da lima da pérsia do quintal), fatiadas fino
  • 1/4 xic. coentro picado
  • 1/4 xic. menta/hortelã picada
  • 1/4 xic. manjericão (comum ou tailandês)

(verdura)

  • 1 maço de acelga chinesa, acelga suíça ou a verdura escura de sua escolha, cortada em tiras de mais ou menos 1cm de largura, incluindo os talos
  • 2 dentes de alho, fatiados fino
  • 1 pedaço de uns 3cm e gengibre, descascado e picado
  • óleo vegetal
  • sal


Preparo:

  1. Aqueça o forno a 200ºC. Tempere a abóbora com azeite, sal e pimenta e disponha numa assadeira, em camada única, e, de preferência, com algum espaço entre as cunhas, para que assem e não cozinhem no próprio vapor. Leve ao forno. O tempo de cozimento vai depender do tamanho das cunhas e da idade da abóbora, então fique de olho depois de uns 15 minutos, e assim que dourar um lado, tire do forno, vire as gunhas e volte ao forno para dourar o outro também. Está pronto quando um garfo espetar a abóbora como se ela fosse um purê. 
  2. Coloque água para ferver.
  3. Para o couscous derreta a manteiga em uma panela média e junte a cebola e uma pitada de sal. Cozinhe em fogo médio-baixo, mexendo sempre, até que as cebolas estejam bem douradas e quase crocantes (demora cerca de 10 minutos). Retire e reserve.
  4. Na mesma panela, coloque o couscous, as folhas de limão kafir, 3/4 colh. (chá) de sal e 1 1/2xic. de água fervente. Misture bem, cubra a panela e desligue o fogo. Deixe quieto por 10 a 15 minutos, até que o couscous tenha absorvido a água e esteja fofinho. Junte o restante das ervas, a cebola caramelizada e afofe com um garfo.
  5. Para as verduras, coloque um pouco de água com sal para ferver. Quando ferver, mergulhe as verduras na água por 1 minuto ou 2, (se os talos das verduras forem muito duros, coloque-os uns 2 minutos antes das folhas), retire e reserve.
  6. Aqueça uma frigideira grande. Coloque nela um fio generoso de óleo, o gengibre e o alho, e quando começar a querer dourar, junte as verduras escorridas. Tempere com sal e pimenta e misture bem para que as folhas se recubram do tempero. Sirva imediatamente. 






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um "ratatouille" italiano com coucous marroquino de ervas para um novo jeito de me complicar


Existe sempre um jeito de estragar o que está funcionando. Certo?

No meu caso, a rotina que funcionava bem, de colocar Madame Bochechas para dormir às 9h da manhã (lembrando que ela acorda às 6h e se acaba de brincar) para poder trabalhar, foi atropelada pela decisão de transformar o berço da pequena em mini-cama no fim de semana. Pois, afinal, fizemos o mesmo com Thomas por volta dessa idade, e ela já vinha pedindo por isso.

Foi felicidade total ver a mini-cama montada, e, assim como o irmão, na primeira noite ela foi dormir sozinha, sem nem precisar mandar.

"Olha só", disse meu marido, orgulhoso. "Ela não vai dar trabalho nenhum. Até a soneca da tarde ela foi tirar sozinha."
"Você não lembra de como foi com o Thomas, né? Ele fez a mesma coisa, e na noite seguinte já não queria mais ir pra cama."
"Ah, não, mas ela não vai ser assim, porque ela vê o irmão, tem o exemplo do mais velho."
"Tô te falando..."

Deveria ter apostado dinheiro. ¬_¬

Dia seguinte, coloco a mocinha na cama para o cochilo da manhã. Eu com três aquarelas atrasadas para entregar, emails de cliente para resolver e um projeto pessoal pro dia 8 de novembro que eu nem comecei a esboçar. Ela esperneia e sai da cama. Eu boto na cama de novo. Ela esperneia e sai. Eu boto. Ela sai. E assim sucessivamente até que já era tão tarde, quase na hora de buscar o Thomas na escola, e eu já estava tão cansada, que desisti e não consegui fazer nada a não ser resolver três emails enquanto ela brincava no quarto.

À noite, mesma coisa. Bota na cama, sai. Bota na cama, sai. O que parecia uma infinidade de vezes, mas que eu contei e foram 23, até ela enfim cansar e dormir.

Sempre em mente todos os milhares de episódios da Super Nanny que eu vi antes de ter filhos. Fofa e carinhosa pedindo pra ir pra cama. Só carinhosa botando na cama. Botando na cama sem falar nada. Eventualmente eu só me colocava à sua frente de braços cruzados e ela voltava para a cama, vencida por alguns 15 segundos, até eu dar as costas e ela achar que estava livre novamente.

Exercício de paciência infinita.

Rotina simples complicada por uma decisão simples e inevitável. Porque criança é assim mesmo. Tudo bem até incorporar uma nova variável na equação. Aí... fué. Dá-lhe se adaptar tudo de novo. E de novo. E outra vez. Ad infinitum.

Aí você tem aquela pilha de legumes na gaveta. Resolve que quer um cozido de todos eles, abobrinha, berinjela e tomates. Mas não quer tudo maçarocado com gosto de coisa nenhuma. Quer textura, e quer sentir o gosto de tudo individualmente. Aí você pega algo simples e complica. Mas há complicações que valem a pena.

Aprendi com o livro de Suzanne Goin, um que usava loucamente antes de ter filhos, que às vezes é bom cozinhar os elementos separadamente e juntá-los depois. Você respeita o tempo de cozimento de cada um e eles mantém sua textura e sabor individuais mesmo misturados. Pensei primeiro num ratatouille, mas quis usar manjericão no lugar do tomilho. Engraçado isso de perfil de sabor, como são exatamente os mesmos ingredientes e mesmo processo: com tomilho é francês, com manjericão, italiano. Depois que o cozido estava pronto, descobri, num livro da Rachel Khoo recentemente comprado (parte da leva de aniversário), que se você mistura as fatias desses legumes artisticamente numa travessa e assa tudo de uma vez, é tian de legumes; se você cozinha todos separadamente e junta tudo no final, num cozido, é ratatouille. Eu achando que ratatouille se cozinhava tudo junto e descubro que antes de mim os franceses já complicavam as coisas.

Para absorver o caldinho do cozido, preparei um couscous marroquino. Mas queria que ele tivesse alguma personalidade também, então juntei a ele ervas e castanhas, para textura. O conjunto da obra fez sucesso, especialmente com Madame Bochechas, que bem sabe quando convém complicar minha vida ou deixar mamãe feliz.

RATATOUILLE ITALIANO COM COUSCOUS MARROQUINO DE ERVAS
Rendimento: 4 porções adultas

Ingredientes:

  • azeite
  • 1 cebola grande, picada
  • 3 dentes de alho, picados
  • 2 abobrinhas grandes ou 4 bem pequenas
  • 2 berinjelas grandes ou 4 bem pequenas
  • 4 tomates grandes, pelados (ou 1 lata de tomates pelados)
  • 1 punhado de salsinha, talos separados das folhas e reservados
  • 1 punhado generoso de folhas de manjericão
  • 1 1/2 xic. couscous marroquino
  • 1/3 xic. castanha de caju torrada, picada
  • sal e pimenta-do-reino


Preparo:

  1. Corte a berinjela em cubos de cerca de 2cm, com a casca. Coloque em um escorredor, polvilhe com sal e deixe sorar por meia hora. Enquanto isso, corte a abobrinha em quartos no sentido do comprimento e então em triângulos de 1cm de espessura. Se estiver usando abobrinhas menores, corte apenas ao meio e então meias-luas. Pique os talos da salsinha bem miudinho para usar no cozido. Pique os tomates (se estiverem na lata, pode apenas cortá-los com uma tesoura, sem precisar retirar da lata). Quando terminada a meia hora, passe a berinjela sob um pouco de água corrente para retirar o excesso de sal e esprema bem entre os dedos. 
  2. Numa frigideira grande,  aqueça um fio de azeite e 1/3 do alho picado. Junte a abobrinha antes do alho dourar, tempere com sal e pimenta e cozinhe em fogo médio-alto, mexendo de vez em quando, até que a abobrinha esteja dourada e macia. Retire da frigideira e reserve em uma tigela.
  3. Na mesma frigideira, coloque um pouco mais de azeite (umas três colheres) e junte a berinjela e mais 1/3 do alho. Tempere com pimenta e pouco sal (experimente para ver se a berinjela já não estava salgada o bastante) e cozinhe em fogo médio-alto, mexendo com certa frequência, até dourar e ficar macia. Coloque na tigela junto com a abobrinha.
  4. Ainda na mesma frigideira, aqueça mais um fiozinho de azeite e junte a cebola e o restante do alho. Cozinhe em fogo BAIXO, mexendo de vez em quando, para que a cebola e o alho amaciem bem devagar, cerca de 10 minutos.
  5. Quando começarem a dourar, junte os talos de salsinha e o tomate picado. Misture bem, cozinhe por dois minutos, e então junte os legumes reservados e 1/2 xic. água. Leve à fervura, então abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 10 minutos, ou até que o caldo engrosse um pouco. Corrija o sal e pimenta. Rasgue metade das folhas de manjericão e junte ao cozido. Desligue o fogo.
  6. Coloque o couscous numa tigela resistente ao calor. Ferva 1 1/2 xic. de água. e derrame sobre o couscous. Tampe com um prato e deixe descansar 5 minutos.
  7. Pique a salsinha e o restante do manjericão e junte numa tigelinha com as castanhas, sal, pimenta e 2 colh. (sopa) azeite. Junte ao couscous já inflado, misturando com um garfo para não empelotar. Corrija o sal e a pimenta. 
  8. Sirva o cozido sobre o couscous, com mais um generoso fio de azeite por cima. 






Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails