terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Couscous integral com ervas thai e cebola caramelizada, abóbora assada e acelga suíça, e depois de um ano com carne o que é que rola


Quando resolvi voltar a comer carne, sabia que a mudança, tonta que fosse, causaria todo um fuzuê. Primeiro, entre leitores do blog. Houve quem ficasse empolgado com a possibilidade de ver receitas carnívoras por aqui e houve quem me escrevesse num tom de extrema decepção. Teve gente que parou de ler. Ainda bem, a grande maioria deu tanta importância quanto se eu dissesse que parei de tomar sorvete de uva. Né? Ok.

Dentre os meus amigos, foi uma mini comoção. Decepção entre os vegetarianos (alguns veganos ficaram chocados) e comemoração entre os carnívoros. Há uns dez anos atrás, no auge do meu vegetarianismo fajuto e de minha militância, li um blogueiro de quem gostava muito dizendo que fora vegetariano por 20 anos e então simplesmente resolvera voltar a comer bife e estava feliz assim. Minha reação foi parecida com a de meus amigos e alguns leitores: sensação de decepção porque aquela pessoa não foi forte o bastante. A alegria dos carnívoros é o oposto: a felicidade em saber que você foi fraco. "Ah, eu sabia que você ia voltar!" Tudo muito bobo. Hoje eu sei.

Já minha mãe ficou aliviada. Disse que estava ficando sem ideias do que fazer para os meus filhos. O que eu achei muito bizarro, considerando que arroz, feijão, espinafre e ovo frito (que é o que ela mais prepara) é uma bela refeição e nunca me pareceu incompleta. Mas foi falar "oooook, eu voltei a comer carne" que de repente todo dia em que eu ia à sua casa tinha alguma. Era frango, era boi, era porco, o que fosse. De um dia para o outro, uma casa que havia aprendido a ser 70% vegetariana, parecia o festival da carne. Tudo uma delícia, e eu não vou fazer desfeita para minha mãe. Mas me fez matutar.

Dizer "eu voltei a comer carne" parece ter um significado diferente para mim que para os outros. Para mim, queria dizer que, não havendo uma boa opção de verduras no local onde estivesse, eu não passaria mais fome. Queria dizer que, num dia em que eu estivesse afim, poderia comprar um pedaço da carne que fosse para testar alguma técnica culinária que me deixou curiosa por todos esses anos à base de legumes e tofu.

E só.

O que me surpreendeu foi que, para os outros, voltar a comer carne não quer dizer o beslisquete ocasional que eu tinha em mente, mas se espera sim que eu coma todo dia, almoço e jantar. Oito ou oitenta. Povo tendo dificuldade de entender o meio termo. Se você diz que come castanhas, não quer dizer que coma todo dia. Certo? E você diz que como sorvete de uva, não quer dizer que queira um agora ou que seja obrigado a tomar sorvete de uva sempre que tiver um na minha frente.

Parece óbvio, mas pior foi perceber que não é. Achei essa expectativa meio engraçada, e me dei conta de que essa era a fonte da confusão dos meus amigos, toda vez que saíamos para comer.

O caso é que nisso de todo mundo achar que eu havia mergulhado no açougue, acabei sim comendo mais carne (porco, boi, aves) do que eu pretendia. Amigo chamava para comer... carne. Mãe chamava pra almoçar... carne. Justo naquela semana em que você havia comprado um pedacinho de algum bicho pra cozinhar dum jeito especial no meio de uma semana que deveria ter sido vegana. Mas não foi.

E isso foi uma experiência... interessante.

Primeiro, concluí que as carnes de fato voltaram a agradar meu paladar. Ainda que não de todo jeito. Preparara um dia um frango com melado que ficara delicioso, e, num churrasco, pediram para que preparasse novamente. Chego no mercado, o frango orgânico sumiu. Fiquei besta de ver como frango de granja é barato (barato que sai caro) e resolvi preparar a receita com o frango comum. Povo adorou, mas eu que tinha sentido o gosto do mesmo tempero num frango feliz, senti uma diferença brutal. E não fui só eu: minha irmã também. Como disse um chef na Menu desse mês, frango de granja tem gosto de poleiro. Um gosto plástico, químico, qualquer coisa esquisita que nem melado e muito alho conseguiram esconder. Se é caro, prefiro comer frango uma vez por ano, mas que seja orgânico. Frango de granja, nunca mais na vida. XP

Segundo, e esse segundo é o mais importante de todos... concluí que eu funciono infinitamente melhor... sem carne. (Vegetarianos mega felizes lendo isso.)

Pois é. Depois de alguns meses comendo mais carne do que comi  nos últimos dez anos, percebi que prefiro me manter 90% vegetariana. A carne faz com que meu corpo não funcione tão bem. Muda o cheiro do meu suor, a textura da minha pele, o meu hálito, muda meu estômago, meu intestino, muda principalmente meu estado de ânimo. Nesses últimos meses fiquei mais irritadiça e mais letárgica. E não fui só eu. Nada como ter crianças em casa, que foram vegetarianas por toda a sua longuíssima vida, comendo carne com frequência, pela primeira vez. Laura adora qualquer coisa que tenha andado ou nadado. Thomas parece mais fã de porco e frutos do mar (adorou lula, e comeu mexilhões na praia com curiosidade), mas parece rejeitar aves e carne bovina. O resultado da comilança não-vegetariana vê-se mais rápido do que em adultos: eles ficam com a barriguinha toda desregulada (constipados pelo excesso de proteína e depois desandados pelo de gordura) e ninguém, NINGUÉM quer chegar perto da fralda da pequena. :P Argh.

Definitivamente prefiro carne uma vez por mês. Se tudo isso. Idem pros pimpolhos. Continuo querendo fazer bouef bourguignon, mas sabendo que vai ter porco no Natal, prefiro dar uma desintoxicada e voltar para os meus adorados legumes. A carninha fancesa vai esperar mais um pouco.

Nesse meio tempo, ando cada vez mais adorando explorar tudo quanto é tipo de naturebice. Depois de uma semana viajando a trabalho e uma semana na praia – quinze dias a base de proteína e carboidrato – não via a hora de voltar pra casa e comer minha comida, cheia de frutas, verduras e coisinhas integrais. ^_^

Essa refeição, de couscous, abóbora e verduras, é exatamente o tipo de coisa que gosto de comer todos os dias. Leve, colorida, interessante, cheia de sabores e texturas. Ok, abóbora com gosto de abóbora foi demais para o marido. ;) Mas a pimpolhada comeu bem. O couscous é super perfumado e saboroso, e eu que sou fã de abóbora e de qualquer verdura escura, caí de amores por essa refeição.

Madame Bochechas, aliás, minha pequena adoradora de pancetta, ganhou um novo apelido do pai. Princesa? Ok. Mas não a Branca de Neve. Bianca di Lardo. Mais apropriado. ;) E a pequena Bianca di Lardo, depois de raspar o prato e ir brincar com o irmão, resolveu voltar e me fazer companhia enquanto eu lavava a louça. Ouço ela arrastando a cadeira e se empoleirando em cima. Ouço talheres. Olho para trás e pego a mocinha puxando a travessa de acelga suíça refogada em alho e gengibre para perto de si e dando uma garfada. E outra. E eu fiquei olhando, e eventualmente peguei a câmera para registrar o momento em que minha filha, Ex-Catadora de Salsinha, termina de comer quase 3 xícaras de verdura verde e amarga. Por livre e expontânea vontade.


Acho que não sou só eu que prefiro um bom prato de verdura. ^_^

COUSCOUS INTEGRAL COM ERVAS THAI E CEBOLA CARAMELIZADA, acompanhado de ABÓBORA ASSADA E VERDURAS COM GENGIBRE
(Ligeiramente adaptado do ótimo Whole Grains for the New Generation, de Liana Krissoff)

Ingredientes:
(abóbora)

  • meia abóbora japonesa pequena, sem sementes, cortada em cunhas, com a casca
  • azeite
  • sal e pimenta-do-reino

(couscous)

  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1/2 cebola, em meias luas bem finas
  • sal
  • 1 xic. couscous marroquino integral
  • 2 folhas de limão kaffir (confesso que usei da lima da pérsia do quintal), fatiadas fino
  • 1/4 xic. coentro picado
  • 1/4 xic. menta/hortelã picada
  • 1/4 xic. manjericão (comum ou tailandês)

(verdura)

  • 1 maço de acelga chinesa, acelga suíça ou a verdura escura de sua escolha, cortada em tiras de mais ou menos 1cm de largura, incluindo os talos
  • 2 dentes de alho, fatiados fino
  • 1 pedaço de uns 3cm e gengibre, descascado e picado
  • óleo vegetal
  • sal


Preparo:

  1. Aqueça o forno a 200ºC. Tempere a abóbora com azeite, sal e pimenta e disponha numa assadeira, em camada única, e, de preferência, com algum espaço entre as cunhas, para que assem e não cozinhem no próprio vapor. Leve ao forno. O tempo de cozimento vai depender do tamanho das cunhas e da idade da abóbora, então fique de olho depois de uns 15 minutos, e assim que dourar um lado, tire do forno, vire as gunhas e volte ao forno para dourar o outro também. Está pronto quando um garfo espetar a abóbora como se ela fosse um purê. 
  2. Coloque água para ferver.
  3. Para o couscous derreta a manteiga em uma panela média e junte a cebola e uma pitada de sal. Cozinhe em fogo médio-baixo, mexendo sempre, até que as cebolas estejam bem douradas e quase crocantes (demora cerca de 10 minutos). Retire e reserve.
  4. Na mesma panela, coloque o couscous, as folhas de limão kafir, 3/4 colh. (chá) de sal e 1 1/2xic. de água fervente. Misture bem, cubra a panela e desligue o fogo. Deixe quieto por 10 a 15 minutos, até que o couscous tenha absorvido a água e esteja fofinho. Junte o restante das ervas, a cebola caramelizada e afofe com um garfo.
  5. Para as verduras, coloque um pouco de água com sal para ferver. Quando ferver, mergulhe as verduras na água por 1 minuto ou 2, (se os talos das verduras forem muito duros, coloque-os uns 2 minutos antes das folhas), retire e reserve.
  6. Aqueça uma frigideira grande. Coloque nela um fio generoso de óleo, o gengibre e o alho, e quando começar a querer dourar, junte as verduras escorridas. Tempere com sal e pimenta e misture bem para que as folhas se recubram do tempero. Sirva imediatamente. 






Cozinhe isso também!

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