sexta-feira, 27 de maio de 2011

Torta de salmão e brócolis

Vira e mexe sou honesta comigo mesma, apanho todas as minhas revistas de culinária e as massacro, arrancando as páginas com as receitas que eu sei que, DE FATO, prepararei um dia, e jogando na reciclagem todo o restante. Não adianta fingir que vou preparar aquele bolo de treze camadas ou uma "espuma" de alguma coisa. [Aliás, levante a mão quem acha que "espumas" parecem cuspes no prato.] O melhor caminho para enxugar aquela prateleira abarrotada é mesmo a sinceridade. Revistas inteiras, guardo apenas as que realmente são forradas de receitas preparáveis, como as minhas Gourmet (já rasgadas, amassadas e manchadas, de tanto uso) e as do Jamie Oliver, que, confesso, guardo principalmente pela qualidade das fotografias, excelentes referências para desenhar.

As chacinadas, noutro dia, foram as francesas Saveurs. Depois de selecionar as receitas testadas e aprovadas [como o arroz doce, meu favorito até agora] e as que pretendo fazer um dia, separei todas por estação do ano e guardei-as num fichário, para fácil acesso. O que de fato contribui para essa limpeza é o fato de colocar na reciclagem todas as receitas com carne (exceto peixes e frutos do mar).

Esta torta, da sessão "Outono", estava me paquerando havia muito tempo, apenas aguardando um belo brócolis, um pouco de ricotta e uma quinta-feira para comprar peixe fresco. Nunca havia preparado uma torta com peixe, veja só, e estava apreensiva com o resultado. Mas ela ficou muito saborosa, substancial, perfeita para um almocinho em dia frio. O peixe cozinhou deliciosamente, e não sobrecarregou o restante da torta com sua "peixisse".

Como sempre acontece com receitas francesas, tive um problema com a temperatura do forno. Resolvi seguir à risca e assar a torta aos indicados 180ºC, mas, sendo mais alta que uma quiche, ela demorou o dobro do tempo para ficar pronta. Talvez seja o caso de aumentar a temperatura uma vez que esteja com o recheio dentro.

TORTA DE BRÓCOLIS E SALMÃO
(ligeiramente adaptado da revista francesa Saveurs)
Tempo de preparo: 2h
Rendimento: cerca de 8 porções

Ingredientes:
(massa)
  • 250g farinha de trigo orgânica
  • 1 colh. (sopa) sementes de papoula
  • 5g sal
  • 125g manteiga sem sal gelada
  • 1 gema
  • 50ml água gelada
(recheio)
  • 4 ovos orgânicos
  • 300g creme de leite fresco
  • 200g ricotta
  • 400g salmão fresco sem pele
  • 1 brócolis pequeno
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Numa tigela, misture a farinha, o sal e as sementes de papoula. Junte a manteiga em cubos e esfregue com as pontas dos dedos até obter uma farofa grossa. Junte a gema e a água e misture com um garfo até começar a formar uma massa. Amasse com as mãos, formando um disco, embrulhe em papel-alumínio e leve à geladeira por 30 minutos. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Abra a massa em uma superfície ligeiramente enfarinhada e forre uma forma de fundo removível de 23-25cm, de bordas altas. Fure o fundo com um garfo, forre a massa com papel-alumínio e cubra com feijões secos. Leve a base da torta ao forno por 30 minutos, removendo os feijões e o papel-alumínio no meio do tempo. 
  3. Enquanto isso, corte o brócolis em floretes pequenos e cozinhe por uns 2 minutos em água fervente com sal. Escorra e reserve. 
  4. Corte o salmão em pedaços de cerca de 2cm, tempere com sal e pimenta e reserve. 
  5. Numa tigela, misture os ovos, o creme de leite e a ricotta. Tempere com sal e pimenta.
  6. Retire a base de torta do forno e espalhe o brócolis e o salmão sobre ela. Cubra com o creme de ovos e leve ao forno por mais 45 minutos, ou até que o recheio esteja dourado e firme. Não se importe com alguns chamuscados nos floretes de brócolis. Sirva imediatamente.

domingo, 15 de maio de 2011

Salada de espinafre. radicchio e maçã

Sei que deveria ter paciência e uma pitada de misericórdia comigo mesma, e fazer uso do mantra "faz só um mês que eu expeli um ser humano". Mas noutro dia, depois de uma noite mal dormida (culpa da insônia, e não do bebê), deparei-me com uma assustadora imagem no espelho: uma mulher pálida, de olheiras, cabelos desgrenhados e sem corte, molengona, vestida com as roupas largas e puídas da gravidez, pontuadas de manchas de leite regurgitado.

Choque.

Dei-me o direito de ficar deprimida com aquela figura por cinco minutos. Percebi quão fácil é, sozinha em casa com o bebê, deixar-se levar pelo cansaço, tédio social e fome por conta das mamadas, e simplesmente esquecer quem era aquela mulher pré-maternidade. Como, apesar de ter me cuidado durante a gravidez e engordado pouco, eu poderia facilmente desandar agora e enfiar o pé na jaca, tornando-me, de forma praticamente irreversível, uma mãe com barriga de pochete, moletom, perna peluda e cocô na testa.

Decidida a não deixar isso acontecer, fiz um voto de "não ao cocô na testa": apesar de minha calça jeans não entrar ainda (faltam 8 miseráveis quilos), estou me esforçando para sair por aí bonitinha, fazendo o melhor uso do que cabe em mim; a maquiagem saiu da gaveta, mesmo que para ficar em casa; e no mesmo dia em que o médico liberou, corri para a musculação. Incrível como senti falta da endorfina liberada pelos exercícios, o que, mais do que nunca, faz com que eu não entenda um ser humano sedentário.

Dou início ao projeto "Xô, pochete!', vulgarmente chamado "Projeto M.I.L.F." ;)

SALADA DE ESPINAFRE, RADICCHIO E MAÇÃ
(ligeiramente adaptado da revista Jamie)
Numa tigelinha, misture cerca de 2 colh. (sopa) de cebola fatiada fino e 1 colh. (chá) de vinagre de vinho tinto. Numa frigideira, toste algumas avelãs picadas grosseiramente  e 1 colh. (chá) de sementes de girassol. Numa tigela grande, misture 1 maçã pequena fatiada, punhados de radicchio e espinafre, as avelãs, as sementes, e queijo Stilton esmigalhado (ou outro queijo azul). Misture ao vinagre e cebola 1/2 colh. (chá) de mostarda de Dijon e 1 colh. (sopa) de azeite. Tempere a salada e coma imediatamente. Serve 1 porção.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mais um brownie. Porque eu mereço.

O bebê está acordado. Pela janela do quarto, a luz do sol entra tímida, aquecendo um pouco o ambiente. Bom momento para dar um banho no pequeno.

Posiciono a banheirinha perto da escrivaninha que usamos como trocador, junto à janela, e deixo tudo pronto para o processo: algodão, óleo de amêndoas, fralda nova, roupa limpa, toalha macia. Vou até a cozinha, balde em mãos, apanhar água quente para a banheira. São duas rápidas viagens, para que a banheira esteja suficientemente cheia para tornar o banho confortável para o bebê.

Apanho o pequenino e o coloco no trocador. Ele começa a chorar assim que sente a cobertura plástica contra as palmas das mãozinhas, sabendo que está prestes a ficar nu e com frio. Tento ser rápida para tirar-lhe o macacãozinho, a fralda suja, e limpá-lo bem antes de colocá-lo na água. Seus pulmões são poderosos, e emitem um ruído estridente e ritmado, sem cessar. Aprendi a ignorar esse choro durante o último mês, e simplesmente tentar acelerar o processo, ao invés de tentar confortá-lo durante.

Ele esperneia ao sentir a água morna tocar seus pés. Mas quando a água alcança já sua cintura, o choro pára, de repente. Seus grandes olhos ainda azul acinzentados voltam-se para mim, e ele relaxa. E relaxa. Relaxa perigosamente.

Pergunto-me de onde vem aquela água que atinge minha camiseta em cheio, e de repente me dou conta daquele chafariz deixando a banheira em minha direção. Instintivamente, mas sem pensar, puxo o menino para fora da água, e o fino jato de xixi cruza os ares em direção ao assoalho do quarto, o tapetinho branco em frente à poltrona e, então, novamente acertando a água limpa do banho.

Blasfemo um pouco.

Enrolo o bebê na toalha limpa e o coloco no berço, rezando para que ele não tenha relaxado tanto a ponto de prosseguir com suas funções fisiológicas. Corro para apanhar o balde grande. Desencaixo uma das pontas da mangueirinha da banheira e escoo a água mijada. O bebê se desenrola da toalha, e, com frio, volta a chorar, esganiçado e com suas primeiras lágrimas. Enrolo seu corpinho novamente e corro de volta à cozinha, balde vazio em mãos, para apanhar mais água quente.

Despejo a água nova na banheira vazia e apanho o bebê novamente, com um suspiro profundo e resignado. Então sinto mais água espirrar, desta vez nas minhas pernas, e olho para o bebê. Não, ele não está aprontando de novo. Quem apronta é a banheira: a outra ponta da mangueira desencaixou, e toda a água quente corre vertiginosamente pelo buraco, encharcando o assoalho.

Xingo a mãe de alguém, coloco o bebê aos berros novamente no berço, encaixo desajeitadamente a mangueira de volta no lugar, tapando o buraco, e corro até a área de serviço, pés molhados, marcando todo o piso, para apanhar todos os panos de chão da casa.

Seco rapidamente o assoalho, torcendo para que não fique manchado, e, pela terceira vez, apanho o balde e vou à cozinha buscar água quente. O choro histérico é agora só mais um ruído. Tendo certeza de que está tudo em seu devido lugar, despejo a água (em duas viagens) e apanho o bebê. O contato com a água faz com que ele se aquiete novamente. Desta vez não há chafariz; as águas estão calmas, e o bebê aproveita seu momento relaxante, como se sua mãe malvada não o tivesse abandonado com frio em uma toalha até então.

Banho tomado, seco em toalha limpa, fralda trocada e roupa quentinha no corpo. Hora de mamar e, então, dormir. Uma hora depois, ele desperta em pranto histérico. Descubro que sua fralda vazou e ele está cag*do da cintura até a sola do pé.

EU MEREÇO UM BROWNIE.

Este é da Dona Martha, doce e delicioso, tão denso e cremoso que parece um brigadeiro. Exatamente o que você precisa quando seu dia parece um filme do Gordo e o Magro.

BROWNIE
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: 16 pedaços

Ingredientes:
  • 1/2 xic. manteiga sem sal (120g)
  • 220g chocolate amargo
  • 1 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 4 ovos grandes, orgânicos
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 3/4 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh.(chá) sal

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma quadrada de 20cm e forre com papel-manteiga, deixando uma sobra de papel de 2cm para ajudar a desenformar. 
  2. Coloque a manteiga e o chocolate em uma tigela grande e derreta em banho-maria, mexendo com frequência com uma espátula. Remova do banho-maria e deixe esfriar por 10-15 minutos. 
  3. Junte o açúcar e misture bem. Junte os ovos, um a um, mexendo com um fouet. Acrescente a baunilha e então incorpore a farinha e o sal com uma espátula, apenas até que esteja homogêneo. 
  4. Despeje a massa na forma, alisando a superfície, e asse por 40-45 minutos, até que um palito inserido no meio do brownie saia apenas com algumas migalhas úmidas.
  5. Transfira para uma grade e deixe esfriar completamente. Puxe as abas de papel para desenformar, corte e mantenha em pote fechado por até 3 dias.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sopa de brócolis e Stilton

Talvez sejam os hormônios ainda retornando a seus níveis normais; talvez seja simplesmente a maternidade instalada; mas, como um porco-do-mato protegendo sua cria, tenho tido reações tempestuosas a determinados pitacos de pessoas à minha volta. Arreganho os dentes e saio querendo dilacerar quem diz que estou errada. Afinal, conselho e julgamento são coisas bem diferentes.

A primeira verdade é: my baby, my rules.

A segunda verdade é: se todo bebê fosse igual, seria mamão com açúcar criar filhos. Então não me diga que é o SEU jeito que funciona e não o que meu marido e eu estamos fazendo.

A terceira verdade: as pessoas parecem ficar temporariamente surdas quando você tenta explicar o modo como pretende criar seu filho. Você passa a gravidez inteira explicando como quer que as coisas funcionem no quesito alimentação, brinquedos, disciplina, e a criança mal completa três semanas e você já vê metade das regras quebradas, e já consegue ver quem vai dar a primeira bala de goma pro seu filho quando ele tiver apenas um pobre e indefeso dente de leite na boca.

*Suspiro*

Meu Eu-Controlador sente espinhos se eriçarem nas costas e fogo sair pelas ventas. [Sim, nessa metáfora sou um cruzamento de porco-espinho e dragão.] Vê-se logo que toda aquela doçura maternal que vocês esperavam que eu tivesse não ganhou muita força frente a meu habitual mau humor. ;)


De qualquer forma, essa tem sido a única chateação da maternidade no momento. Já me sinto menos cansada durante o dia e durante os fins de semana, o que tem me dado paciência e disposição para cozinhar com frequência e apelar para os meus pratos congelados apenas nos momentos desesperadores. Os burritos, aliás, fizeram tanto sucesso, que o marido prometeu que se eu abastecer o freezer com eles regularmente, ele nunca mais compra miojo. :D Será que eu acredito?

Ainda consegui um tecido para amarrar o bebê ao meu corpo, liberando meus braços e, finalmente, dando-me suficiente independência para voltar a passear o cãozinho, ir ao supermercado e afins. Ou mesmo usar as duas mãos para digitar, como estou fazendo agora. E isso me deixa muito, muito feliz. Agora tudo o que falta é voltar a correr; se tudo der certo, daqui a uma semana ou duas. :)

No fim, como diz meu marido, tem sido menos trabalho do que esperávamos e mais do que gostaríamos. Mas totalmente gerenciável, com um pouco de organização e uma boa dose de calma. Talvez o fato de eu estar genuinamente feliz ajude um bocado também.

Esta sopa de brócolis não é comida congelada, mas é tão fácil de fazer que pode ser uma boa pedida para quem também está com um pequerrucho dependurado no braço. E ela é tão saborosa, que vai fazer você esquecer que não vai dormir nada esta noite e que esqueceu de pedir ao marido para comprar pão para o dia seguinte. E melhor: tanto a sopa quanto a coberturinha de pão e sementes se mantém bem na geladeira (separados, é claro), só precisando requentar a sopa numa panela e dar uma tostadinha de leve nos croûtons numa frigideira antes de servir.  Bem mais fácil que criar filho, e nisso você pode dar pitaco à vontade.

SOPA E BRÓCOLIS E STILTON 
(Ligeiramente adaptada da Jamie Magazine)
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • manteiga
  • 2 cebolas, picadas
  • 500g brocolis, cortado em pedaços pequenos (usei o japonês)
  • 250g batatas, cortadas em pedaços de 1cm (com casca mesmo)
  • 5 xic. caldo de legumes caseiro
  • 1 fatia de pão amanhecido por pessoa (usei um integral, caseiro)
  • 50g nozes, picadas
  • azeite de oliva extra-virgem
  • uma pitada generosa de páprica
  • 2 colh. (sopa) sementes de abóbora, girassol ou uma mistura
  • 200g queijo Stilton ou outro queijo azul de qualidade, como Roquefort ou Gorgonzola
  • 2 colh. (sopa) creme de leite fresco
  • 1 colherinha de Jerez (opcional; usei Marsala)

Preparo:
  1. Derreta a manteiga numa panela grande, em fogo médio e junte a cebola. Diminua o fogo e cozinhe, mexendo, até que esteja amolecida, sem deixar dourar. 
  2. Junte o brócolis e a batata e mexa algumas vezes. Junte o caldo e leve à fervura. Abaixe o fogo novamente  e cozinhe até que os legumes estejam macios, cerca de 15 minutos. 
  3. Enquanto isso, corte o pão em pedaços pequenos e misture com as nozes, a páprica, sal e pimenta. Aqueça um pouco de azeite numa frigideira grande e junte a mistura de pão, mexendo até que doure. Transfira para um prato e coloque as sementes na mesma frigideira, tostando até que estejam perfumadas. Junte ao pão. 
  4. Quando os vegetais estiverem macios, junte metade do queijo e bata no liquidificador, em partes, tomando cuidado ao bater líquidos quentes. Junte o creme e acerte o tempero. Se quiser, misture com o Marsala ou Jerez. 
  5. Sirva em tigelas, com a cobertura de pão e sementes e o restante do queijo esmigalhado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Brownie branco e preto de bebê dormindo

Quinze dias se passaram desde que meu mini-metaleiro veio ao mundo com suas cordas vocais prontas para acabar com o silêncio da casa. Bonzinho, no entanto, ele tem dado menos trabalho do que esperávamos, e conforme nos acostumamos com o sono interrompido, as refeições interrompidas e até os banhos interrompidos, começamos a identificar alguma rotina no comportamento do pequeno e relaxar. Até conseguimos ver um filme e fazer brownies de vez em quando.

Ser metódica e organizada compensou um bocado. As refeições congeladas para emergências estão sendo providenciais quando o sono me alcança já às seis da tarde; uma rotina doméstica organizada tem nos ajudado a manter a casa incrivelmente em ordem para um lar com um recém-nascido de pais de primeira viagem; a cesta orgânica entregue em casa diminuiu minha necessidade de ir ao supermercado; mãe que gosta de passear o cachorro é uma bênção. Aliás, o conselho da mãe também: "quanto menos tralha de bebê você tiver, mais fácil vai ser se organizar". Dito e feito. A família esperava que fôssemos ficar como baratas tontas, mas confesso, com certo orgulho, que estamos tranquilos, e, no fim das contas, a única ajuda de que estamos precisando é mesmo com os passeios do Gnocchi.

Eu não esperava me apaixonar tão rapidamente por aquele serzinho roxo e melecado que colocaram no meu colo. Ele nasceu de olhos bem abertos, fixos nos meus, e não me canso de olhá-los, de acariciar seus cabelinhos, de massagear seus pezinhos imensos, como os meus. Aliás, fora isso e os longos dedos das mãos, ele não se parece em nada comigo. É inegavelmente a cara do pai. Do formato dos olhos ao cenho franzido, mau-humorado, passando pela curvatura do narizinho e a cor dos cabelos, castanhos, com um suave reflexo dourado nas raízes.

Numa tarde tranquila, em que meu matador de dragões sonhava com reinos distantes, troquei o cochilo por estes brownies. Tão fáceis, que quando ele acordou de repente, terminei-os com uma mão só, bebê equilibrado no outro braço. Os brownies ficam doces e bastante densos, ideais para momentos de fome avassaladora pós-mamadas estilo "café colonial" [Thomas é um ogro, esfomeado que só ele; o que é ótimo, pois seu apetite já eliminou quase todo o peso ganho durante a gravidez].

BROWNIE PRETO E BRANCO
(ligeiramente adaptado da revista Jamie)
Tempo de preparo: 20min + 30-40 min de forno
Rendimento: cerca de 20 quadrados

Ingredientes:
  • 180g manteiga sem sal
  • 300g açúcar cristal orgânico
  • 150g de farinha orgânica
  • 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/8 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 colh. (chá) extrato natural de baunilha 
  • 1 colh. (sopa) cacau em pó
  • 75g chocolate amargo, picado (ou em gotas/callets)
  • 75g chocolate branco, picado (ou em gotas/callets)
  • 100g avelãs, picadas

Preparo:
  1. Pr´é-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma assadeira de 20x30cm. 
  2. Numa panela, derreta a manteiga e o açúcar, mexendo até que esteja tudo dissolvido e homogêneo. Retire do fogo e junte a farinha, fermento e bicarbonato, e em seguida os ovos e a baunilha, mexendo bem. 
  3. Divida a mistura entre duas tigelas. Em uma, misture o cacau, o chocolate amargo e metade das avelãs. Na outra, misture o chocolate branco e o restante das avelãs. 
  4. Despeje colheradas intercaladas das duas massas na assadeira. Passe uma faquinha entre elas, criando um efeito marmorizado, mas sem misturá-las demais, e leve ao forno por 30-40 minutos, até que a parte de cima tenha uma aparência seca e brilhante e um palito saia limpo quando inserido no centro. 
  5. Deixe esfriar na forma, sobre uma grade. Então desenforme e corte.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Volto quando puder... Me aguardem.

A espera acabou, finalmente. Meu mini-metaleiro, matador de dragões, cavaleiro ítalo-germânico, veio ao mundo no dia 3 de abril, forte e bonitão. Mas nadinha parecido com o desenho. Cabeludo, porém de madeixas castanhas. :)

Volto quando o pequeno deixar. Obrigada a todos pela força nos últimos meses.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Persistência e barras de coco e maracujá

Eu tenho um histórico de desistência em alguns pontos da minha vida. Normalmente relacionados àquela intuição de que você vai se dar mal ou fazer papel de idiota se continuar pelo caminho escolhido. Como foi o caso de um curso de dança cuja coreografia era vergonhosamente ruim, e resolvi saltar do barco antes de afundar com todas as outras alunas no dia da apresentação. Vendo a apresentação, depois, fiquei aliviada com minha decisão.

Em outras áreas da minha vida, no entanto, [preparem-se para o cliché de filmes de ação] "desistir não é uma opção". Quando sei que posso fazer melhor, não consigo me conformar com a mediocridade. Sempre exigi muito de mim mesma; não é nem uma questão de perfeccionismo, mas de conhecer meu potencial e saber que ainda não cheguei ao ponto de que sou realmente capaz.

Detesto me dar conta de que não sei alguma coisa dentro de um tema que me interessa. Se eu gosto de fazer pães, corro atrás de toda a informação disponível para me ajudar a fazer pães melhores, porque sei que sou capaz de fazê-los, e, uma vez encontrada e absorvida toda essa informação, decido até onde estou disposta a ir. Mas não paro no meio do caminho. Se não conheço uma palavra, corro atrás do dicionário. Se não acerto uma ilustração de primeira, faço outras. Não me conformo com o erro: procuro identificar suas causas e corrigi-las na próxima tentativa, se possível. Na minha profissão, nos meus hobbies, e em tantas outras áreas de minha vida.

Talvez por isso me irrite tanto com gente João-Sem-Braço, com complexo de Horácio, incapaz de buscar suas próprias soluções, de gastar tempo pesquisando, ou mesmo manter-se quieta com seus pensamentos por cinco minutos, raciocinando sozinha. Gente que quer tudo mastigado, o tempo todo.

Fiquei pensando sobre isso ontem, quando decidi preparar essas barras de coco e maracujá como sobremesa do almoço que estava cozinhando para minha cunhada, recém-chegada da Itália. Preparei a base de massa como descrita na receita, mas notei que a textura não era de "massa grudenta", como indicada, e sim um creme. Como ainda tinha pouca familiaridade com as sobremesas daquele livro, resolvi ir contra meus instintos e prosseguir, espalhando o creme na forma com uma espátula e levando ao forno. Resultado: meleca. O creme borbulhou, cozinhou, e não ficou nada parecido com o que deveria ficar. Na pressa, decidida a não desistir da minha sobremesa, fiz uma pâte-brisée básica, mas justamente pela pressa e pela irritação dos primeiros ingredientes perdidos, fiz o serviço de qualquer jeito, e apesar de saborosa, a massa encolheu na forma, revelando imensos buracos, incapazes de segurar o creme que viria por cima. Lixo, novamente.

Nesse momento, respirei fundo. Não queria desistir daquela sobremesa daquela forma. Já não havia mais manteiga na geladeira ou tempo para prepará-la, então resolvi parar, respirar, almoçar, e atacar o problema mais tarde.

Saí, comprei mais manteiga e olhei novamente para a receita. Aquela base de massa, com fermento, não era como um bolo, como havia ficado, nem como uma pâte-brisée, como havia tentado substituí-la. Era como um biscoito. Comecei novamente. Bate a manteiga e o açúcar, mistura o ovo e a baunilha, acrescenta a farinha e o fermento. Creme. De novo. Não fora a técnica, então. Era a proporção de ingredientes. Talvez aquela mísera meia xícara de farinha fosse um erro de digitação. Aquela não era uma textura apropriada para uma base de biscoito. Comecei a acrescentar mais farinha, 1/4 de xícara por vez. Então ela começou a tomar corpo, e finalmente atingiu a consistência de "massa grudenta", uma que você fosse capaz de espalhar na forma com mãos enfarinhadas, como a receita pedia.

Prossegui. Coloquei a massa no forno. E não abri meu leite de coco ou meu maracujá até ter certeza de que a massa assara perfeitamente. Eureka. Preparei a cobertura cremosa rapidamente, despejei sobre a base firme de biscoito e terminei as barrinhas com sucesso total. Elas ficaram perfeitas e deliciosas, crocantes por baixo e cremosas por cima, com uma textura entre um pudim e um cheesecake, com as laterais e o topo mais firmes e caramelizadas.

E pensei sobre a persistência, sobre todos os bolos e biscoitos e cheesecakes que estraguei na vida, e os que deram certo, e todos os livros e websites que li a respeito, todas as técnicas que aprendi ao longo do processo e a confiança que adquiri para tentar corrigir meus próprios erros e arriscar meus ingredientes em novas tentativas. Como essa busca funciona da mesma forma em qualquer tema, como aprender vários idiomas: o próximo idioma será sempre mais fácil, pois você já tem uma base de comparação com os anteriores, e sua mente vai criando automaticamente as conexões entre as palavras das diferentes línguas, até um ponto em que você raramente precise de um dicionário.

E isso dá um prazer imenso. O acertar depois de muitas tentativas fracassadas, sentir a evolução, sentir-se confiante no que você faz e no que você sabe. E por isso não me conformo com quem se conforma em não saber. Com quem percebe uma carência de informação e não corre atrás. Com quem não quer aprender. Com quem não tenta se aprimorar. No trabalho, na vida pessoal, em seus hobbies, o que for.

Para quem não se conforma também, barrinhas de coco e maracujá, com a quantidade de farinha corrigida. Mas vá acrescentando aos poucos, como eu fiz, porque medidas em volume são sempre pouco confiáveis, e você pode conseguir essa textura com menos (ou mais) farinha.

BARRAS DE COCO E MARACUJÁ
(ligeiramente adaptado do livro Bill's Sidney Food, de Bill Granger)
Tempo de preparo: 1h-1h30
Rendimento: cerca de 20 barrinhas

Ingredientes:
(base)
  • 125g manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 ovo grande, orgânico
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
(recheio)
  • 4 ovos grandes, orgânicos
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 xic. coco em flocos não adoçado
  • 1/3 xic. farinha de trigo
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 160ml leite de coco
  • suco e casca ralada de 1 limão (tahiti ou siciliano; usei tahiti)
  • 1/2 xic. polpa fresca de maracujá (cerca de 2 grandes)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma assadeira de alumínio de 20x30cm com manteiga e forre o fundo e as laterais com papel-manteiga. 
  2. Na batedeira, ou com uma colher de pau, bata a manteiga e o açúcar até que fique clara e cremosa. Junte o ovo e a baunilha e bata até ficar homogêneo. Junte o fermento e a farinha, aos poucos, até conseguir uma textura de massa de biscoito grudenta, mas suficientemente firme para que você consiga espalhar na forma de modo uniforme, amassando com as mãos enfarinhadas. Se estiver grudando nos dedos, mesmo enfarinhados, ainda não deu o ponto. 
  3. Leve ao forno por 15 minutos, ou até a superfície pareça seca. Retire do forno e prepare o creme.
  4. Na tigela da batedeira, ou com um fouet, bata os ovos e o açúcar até que fiquem claros. Junte o restante dos ingredientes, misturando bem. Despeje sobre a massa de biscoito e volte ao forno por 35-40 minutos, ou até que esteja dourado. 
  5. Retire do forno e deixe esfriar na forma completamente. As barrinhas são suficientemente firmes para serem desenformadas como um bolo, virando de cabeça para baixo numa grade, retirando o papel-manteiga e invertendo novamente numa tábua, para serem cortadas. Não há indicação de como guardá-las na receita original, mas, como uma torta, eu as mantenho na geladeira, em um pote bem fechado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Biscotti de chocolate para uma espera interminável

Senta e espera.

Primeiro o médico (e a família, e os amigos, e estranhos na rua) fazem terrorismo dizendo que o menino vem antes; depois pára tudo, que ainda tem mais um tempinho. Ninguém sabe nada. Profissional ou palpiteiro, o chutômetro corre solto.

Enquanto isso, senta e espera.

Tendo encerrado o trabalho há uma semana, tenho tido tempo para reavaliar minha rotina e restabelecê-la, depois dos meses de mudança de apartamento, excesso de trabalho, calorão e barrigão terem deixado minha vida de pernas pro ar. Bem, não de pernas pro ar, ou meus pés não teriam inchado. :P

Sou uma criatura de hábitos; e como boa filha de engenheiro, metódica e adoradora de listas. Então pode-se imaginar minha aflição ao me perder em minha antes tão bem estabelecida rotina doméstica. Eu tinha um dia de fazer feira, de fazer caldo, de fazer pão, de fazer geleia, de fazer sorvete, de fazer faxina, de levar o reciclável. E me vi comprando verduras em bandejinhas no supermercado, comprando pão, comprando geleia, comprando sorvete, deixando a faxina para o dia seguinte e o reciclável se acumulando por duas semanas em sacos imensos (por conta das embalagens das verduras, do pão, da geleia e do sorvete, antes inexistentes).


Nein, nein. Não é assim que gosto de fazer as coisas.

Comecei a entrar em pânico acreditando que meu pequeno guerreiro ítalo-germânico chegaria adiantado e bagunçaria ainda mais o meu coreto, e tive coceira de imaginar que nunca mais conseguiria me organizar.

Então essa semana foi tranquila, e pela primeira vez em anos eu não tinha mais nada para fazer a não ser ver filmes, desenhar e cozinhar, e pude, enfim, relaxando e sentindo meu cérebro voltando para seu tamanho normal, organizar minha vida.

Fui à feira, fiz caldo, estou fazendo pão, as ameixas estão macerando em açúcar para fazer geleia amanhã, e montei uma agenda com dias certos para cada coisa, uma vez que, chegado o pequeno matador de dragões, não me imagino ter nunca mais tempo para mais de uma atividade dessas por dia. E é assim que funciono. Se eu não souber que aquele é o dia de fazer pão (antes aos sábados), eu posso deixar passar e ficar sem pão em casa. Eu prospero com disciplina e rotina. Como tudo na vida.

Outro momento de ouro foi a organização da despensa. Ter jogado fora na mudança dois pacotes de farinhas diversas vencidas me fez pensar. Não adianta quanta coisa diferente eu compre: se for para ter farinhas diferentes das de trigo, que sejam centeio e sarraceno, que eu uso com frequência. O restante, a não ser que comprado em porções minúsculas e já tendo receitas planejadas, inevitavelmente irá para o lixo. Olhar com honestidade para minha despensa e acalmar minha curiosidade culinária, que me faz comprar mais ingredientes do que consigo de fato usar, fez com que eu conseguisse montar uma lista de compras mais enxuta, que promete diminuir meus gastos com supermercado [que, para minha surpresa imensa, estão abaixo da média de São Paulo, segundo uma reportagem no jornal sobre o alto custo de vida por aqui] e tornar minha despensa mais dinâmica e funcional, com mais rotatividade de produtos e menos itens de fundo de armário.

Foram cinco anos mudando, reavaliando, planejando, adaptando, evoluindo, até chegar numa rotina que me parecesse correta e confortável. É estranhíssimo sentir-me perdida novamente, como se não tivesse passado por todo esse processo antes. Mas, de certa forma, reconfortante poder reavaliar tudo mais uma vez e começar do zero. De novo.

Enquanto o mini-metaleiro não dá o ar da graça, tento entranhar na minha cozinha e na minha cabeça os novos-velhos hábitos. E crio novas neuras. Como esses biscotti de chocolate, que preparei especificamente com intenção de levar à maternidade, para comer depois do parto, uma vez que não anseio nem um pouco por comida de hospital, e sei que se tiver de passar um dia inteiro que seja por lá, vou querer comer algo que seja meu.

Esses biscotti, como todos os biscotti, são fáceis, crocantes, e duram semanas a fio num pote fechado. Perfeitos para quando você não sabe quando precisará deles. ;) Como tudo feito pela Alice Medrich, não são excessivamente doces. São suaves, perfeitos para acompanhar um bom espresso, mas também matam aquele desejo súbito por chocolate.

Senta e espera. E come um biscotto.

BISCOTTI DE CHOCOLATE
(do livro Chewy, Gooey, Crispy, Crunchy, de Alice Medrich)
Tempo de preparo: 1h30
Rendimento: por volta de 24 biscotti, dependendo do tamanho

Ingredientes:
  • 2 xic. farinha de trigo orgânica branca (ela pede por farinha não-alvejada)
  • 1/2 xic. cacau em pó, natural (pálido) ou alcalinizado (marrom-escuro)
  • 2 colh. (chá) café em pó (opcional)
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio, se usando cacau natural, ou 2 colh. (chá) fermento químico em pó, se usando cacau alcalinizado (usei cacau Callebaut e fermento químico)
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 1 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes, orgânicos
  • 2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1 xic. nozes, picadas grosseiramente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 150ºC e posicione a grade no meio do forno. Forre uma assadeira rasa e grande com papel-manteiga, papel-alumínio ou unte com óleo (usei meu silpat). 
  2. Numa tigela pequena, combine a farinha, o cacau, o café em pó (se estiver usando), sal, bicarbonato OU fermento químico, e misture bem com um fouet ou um garfo. 
  3. Em uma tigela grande, usando uma colher de pau, bata a manteiga e o açúcar apenas até que fique cremoso e uniforme. Junte os ovos e a baunilha e misture. Troque para uma espátula e incorpore a mistura de farinha, mexendo apenas até que não se vejam ingredientes secos. Junte as nozes. 
  4. Com a ajuda da espátula, espalhe a massa na assadeira, formando um retângulo achatado de cerca de 40x10cm (ou do tamanho que preferir seus biscotti, lembrando que a massa crescerá no forno; o tempo de forno não será afetado).
  5. Leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que a massa esteja firme mas elástica ao toque (como a superfície de um bolo), girando a assadeira 180ºC dentro do forno no meio do cozimento, para garantir que asse por igual. 
  6. Retire do forno e deixe a assadeira sobre uma grade por no mínimo 15 minutos. Deixe o forno ligado. 
  7. Transfira cuidadosamente a massa para uma tábua de corte e, usando uma faca serrilhada, fatie os biscotti com uma espessura de mais ou menos 1cm. Os biscotti ainda terão consistência de bolo, então transfira com cuidado de volta para a assadeira (sem nada forrando), deixando um espaço entre eles de 1cm pelo menos.
  8. Leve de volta ao forno por 30-35 minutos (ou ajuste o tempo de acordo com o tamanho final dos biscotti), até que sua superfície esteja seca e crocante. Retire do forno e transfira os biscotti para uma grade e deixe que esfriem completamente antes de guardá-los em um pote hermético. Duram várias semanas.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pudim de leite: permissão para ser mãe

Quem vem por essas bandas há muito tempo sabe do meu problema com pudim de leite. Essa sobremesa tão simples, que toda mãe, avó e tia sabe fazer, que todo restaurante por quilo tem na ponta do balcão junto com a salada de frutas e a torta holandesa, e que eu simplesmente não conseguia acertar. Nunca.

Meu primeiro problema: não gosto de pudim de leite feito com leite condensado. Doce demais para mim. Meu negócio é ovo, leite, creme, baunilha e açúcar. Mesmo assim, a maior parte das receitas que eu testara era excessivamente doce.

Segundo problema: todas as receitas mandavam assar em banho-maria, por, sei lá, 40 minutos, e meus pudins ficavam mais de duas horas no forno e nada de firmarem. Mudei a forma, mudei a temperatura do forno, fiz o diabo, e nunca dava certo. Eles assavam de forma irregular, ficavam com gosto de ovo, e quando os desenformava, eles quebravam em mil pedacinhos mal cozidos.

Terceiro problema: eu teimava em fazer o caramelo numa frigideira antiaderente, de fundo preto, e nunca conseguia ver a cor exata do bendito. Colocava na forma e estava sempre claro demais, caldinha rala de açúcar, e essa calda endurecia assim que encostava na forma e eu não conseguia espalhá-la direito. :P

Quando o marido fez cara de pidão, reclamando que havia tempos eu não preparava nenhum pudinzinho ou sobremesa de colher, resolvi que era a hora de tirar a teima de uma vez por todas. Afinal, com o bebê já praticamente com um pé pra fora, eu não poderia ser mãe sem saber fazer um pudim de leite decente.

Apanhei uma receita de Dorie Greenspan, que alguém já me havia recomendado certa vez, e arregacei as mangas. Primeiro ponto positivo: o truque de deixar a forma no forno enquanto o caramelo é preparado. O caramelo bate na forma quentinha e escorre sem problemas, sem endurecer. Também larguei mão de ser besta e fiz o caramelo numa panela decente, de modo que ficasse exatamente no ponto que eu queria.

Coloquei a forma em banho-maria no forno na temperatura indicada e acertei o timer já com um suspiro conformado. Imaginei quantas horas a mais o pudim ficaria ali. No entanto, contra minhas pessimistas expectativas, abri a porta do forno ao soar do alarme e vi um pudim balouçante mas ligeiramente dourado, e quando lhe enfiei uma faquinha, desconfiada, a lâmina saiu surpreendentemente limpa.

Eureka!

Pudim perfeito, delicioso, doce na medida certa, lisinho... :)
Permissão para ser mãe: concedida.

PUDIM DE LEITE
(Do livro Baking - From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 30 min. + 40 min. forno + 5 horas para resfriar
Rendimento: 6-8 porções

Ingredientes
(calda)
  • 1/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3 colh. (sopa) água
  • 1 espremidinha de limão
(pudim)
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1 1/4 xic. leite integral
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 gemas grandes, de ovos orgânicos
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Coloque no forno uma forma de bolo (de alumínio, SEM antiaderente) de 20cm diâmetro e uns 5cm de altura (sem furo no meio). Coloque água para ferver. Quando ferver, desligue o fogo. Forre uma assadeira de bordas altas, onde caiba a forma, com um pano de prato. 
  2. Numa panela de inox, misture os ingredientes da calda. Leve ao fogo médio-alto, sem mexer, por cerca de 5 minutos, ou até que esteja de uma cor âmbar. Desligue assim que vir qualquer sinal de vapor ou fumaça. 
  3. Usando luvas, retire a forma quente do forno e despeje com cuidado o caramelo na forma, girando-a para cobrir todo o fundo. Reserve. 
  4. Coloque o leite e o creme de leite em uma panela média e leve à fervura. Enquanto isso, misture numa tigela os ovos, as gemas, o açúcar e a baunilha. Bata com um fouet vigorosamente para dissolver bem o açúcar e deixar homogêneo. 
  5. Misture 1/4 do leite quente aos ovos, batendo sempre com o fouet, para temperar os ovos e impedir que cozinhem. Misture o restante do leite quente, agora com uma colher de pau, até que não se veja mais espuma e bolhas em cima do líquido (retire a espuma com a colher, se necessário). 
  6. Despeje o creme sobre o caramelo na forma e posicione a forma no meio da assadeira forrada. Despeje a água quente na assadeira, até metade da altura da forma, tendo certeza de que o pano de prato está todo submerso e molhado. Leve cuidadosamente ao forno por 35-40 minutos, até que o pudim tenha inflado ligeiramente e esteja dourado aqui e ali. Teste inserindo uma faca no centro: a lâmina deve sair limpa. (Mas o pudim ainda balançará um bocado.)
  7. Retire do forno. Retire a forma de dentro da assadeira e deixe-a sobre uma grade. Passe uma faquinha nas laterais para soltar o pudim e deixe-o esfriar até temperatura ambiente (cerca de 1 hora). Então cubra mais ou menos com papel alumínio e leve à geladeira por no mínimo 4 horas.  
  8. Passe uma faquinha novamente nas laterais e desenforme rapidamente num prato com bordas.

terça-feira, 15 de março de 2011

Soba de chá verde com pepinos apimentados e cogumelos

Dizem que comida apimentada faz você entrar em trabalho de parto. Considerando a quantidade de vezes que comi esse prato nos últimos meses, mais toda a comida mexicana e asiática que andei preparando e comendo fora desde o início da gravidez, vou precisar engolir uma Scotch-Bonnet inteira para o expulsar o menino da barriga. O bebê já vai nascer pedindo pra botar Tabasco no leite.

A primeira vez em que preparei esse soba muito rápido e fácil, usei a quantidade inteira de pimenta calabresa pedida na receita (2 colheres de chá!). O marido, que come molho de pimenta brava de colher, lacrimejava a cada garfada. Então resolvi substituir as "colheres" de pimenta em flocos por "pitadas". E, mesmo assim, dependendo do tamanho da sua pitada, os pepinos absorvem o fogo da pimenta como uns loucos e você pode acabar exagerando na picância do prato.

Mas... vai do gosto do freguês. Gosto do apimentado que não mascara o sabor dos outros ingredientes. E você não vai querer mascarar os cogumelos no molho de ostra, a refrescância dos pepinos e o sabor interessantíssimo desse soba aromatizado com chá verde. O soba – que é uma massa feita de trigo sarraceno – pode ser encontrado na gôndola de produtos asiáticos dos bons mercados e empórios ou nos mercados da Liberdade, assim como essa variação com chá verde, que torna os fios esverdeados e seu sabor ligeiramente amargo. Mas, caso só encontre o soba comum, acho que o prato deve ficar igualmente bom.

Também troquei o caldo de legumes por água, não me importei em descascar ou retirar as sementes do pepino e já variei um bocado o tipo de cogumelos usado (shiitake, shimeji, enoki, às vezes misturado, às vezes um tipo só...), e sempre fica bom.

Fiquei feliz por ter encontrado no mercado um molho de ostra sem glutamato monossódico, um negócio que eu abomino e que me dá dor de cabeça. Na primeira vez em que fiz o prato, fiquei com preguiça de comprar o molho, pois estava de mudança e achei bobagem levar de um apartamento para o outro uma garrafa de molho de ostra recém-aberto. E preparei o soba com shoyu no lugar. Bem, o molho fez falta. Ele tem um sabor interessante e diferente e é bastante salgado, então nem se incomode em salgar o prato.

Aliás, se você gosta de pratos com um toque asiático, ter esses ingredientes em casa (mirin, molho de ostra, shoyu, nam pla, óleo de gergelim, soba e outras massas) é uma mão na roda para as noites sem tempo, pois há uma infinidade de receitas deliciosas que podem ser feitas em vinte minutos ou menos. :)


[A porção da foto é praticamente para duas pessoas; porção de mulher grávida de 38 semanas, urrando de fome...]

SOBA DE CHÁ VERDE COM PEPINOS APIMENTADOS E COGUMELOS
(ligeiramente adaptado da revista Donna Hay)
Tempo de preparo: 10 minutos (com o mis-en-place)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:
  • 1/4 xic. mirin (sake culinário, vinagre de arroz)
  • 1 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 pitada generosa de pimenta calabresa em flocos
  • 1 colh. (sopa) sementes de gergelim, tostadas
  • 2 pepinos fatiados fino
  • 1 colh. (sopa) óleo de gergelim
  • 400g cogumelos (shiitake, shimeji, enoki, nameko, pleurotus...), fatiados, se necessário
  • 1/2 xic. molho de ostra (o do Panda é uma boa marca)
  • 1/2 xic. água
  • 270g soba de chá verde
  • 1 xic. folhas de hortelã
  • 3 talos de cebolinha grandes, picadas

Preparo:
  1. Cozinhe o soba conforme as instruções na embalagem, escorra e reserve. 
  2. Numa tigela, misture os pepinos fatiados, a pimenta, as sementes de gergelim, o mirin e o suco de limão. Reserve.
  3. Aqueça o óleo de gergelim numa frigideira grande e junte os cogumelos, cozinhando por 1-2 minutos em fogo alto. 
  4. Junte o molho de ostra, a água e o soba cozido e mexa bem por 1 minuto, ou até que a massa esteja coberta de molho. Desligue o fogo e junte os pepinos e seu líquido, a hortelã e a cebolinha. Misture bem e sirva. 

Cozinhe isso também!

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