terça-feira, 21 de julho de 2009

O melhor jeito de se comer mandioquinha é gratinada

Existem alguns legumes que eu adoro, mas por algum motivo sempre terminam esquecidos na geladeira. Mandioquinha é um deles. Compro, planejo e esqueço. Mas depois de descobrir esse jeito de comê-las, nunca mais. Vai ser comprar e ir direto para o forno, pois acho que esse é o modo mais gostoso de se comer mandioquinha.

A receita é de Jamie Oliver, mas ele usava originalmente tupinambo, uma raiz que nunca encontrei nem em feira nem em supermercado, assim como pastinacas. Mas, como sempre substituo pastinacas por mandioquinhas nas receitas, assim foi com o tal do tupinambo. E ficou excelente.

Basta descascar e cortar em rodelas de 0,5cm cerca de 350g de mandioquinhas (umas 3 pequenas). Num pote, misture 1/2 xíc. de creme de leite fresco, umas 2 colh. (sopa) de suco de limão siciliano, um punhado de parmesão ralado na hora, um punhadinho de folhas de tomilho frescas, sal e pimenta-do-reino. Assim, sem muita medida, pois o negócio experimentar e ver se você quer mais limão, mais tomilho, mais queijo... Misture bem, junte a mandioquinha e espalhe em uma travessinha refratária. Num outro potinho, misture um bom punhado de farinha de rosca com mais ou menos a mesma quantidade de parmesão, mais folhas de tomilho, pimenta-do-reino, e espalhe essa mistura sobre a mandioquinha. Regue com um fio de azeite e leve ao forno pré-aquecido a 220ºC por cerca de 30 minutos, ou até que a cobertura esteja dourada e crocante e a mandioquinha esteja macia. A porção é para 2 pessoas, e servi acompanhado de espinafre refogado com alho e uma pitada de noz moscada. Boooom...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Salvando memórias de infância

Demorou bem menos do que eu esperava para desejar escrever novamente. Mas nesse pouco tempo, pude matutar um bocado a respeito do que anda acontecendo em minha vida. Além de várias mudanças (e decisões e planejamentos que levarão a mudanças), consegui identificar qual foi a principal metamorfose responsável por minha diminuição de interesse pelo blog. Nesse momento, sei que muita gente se identificará comigo...

Comecei o La Cucinetta porque queria provar um ponto: o de que era possível viver sem as "conveniências" culinárias responsáveis por tornar muitos amigos meus gordos e pouco saudáveis. Queria mostrar que era sim possível trabalhar o dia todo e fazer um jantar a partir do zero no fim da noite. É por isso que o comecinho do blog tem tantos textos sobre técnicas e pratos bastante básicos. Simplesmente não publicava nada que parecesse complicado, porque não queria assustar meus amigos (que eram meus únicos leitores).

Conforme fui melhorando na cozinha e, principalmente, conforme fui descobrindo que o meu não era o único blog de culinária do mundo [santa ingenuidade, Batman...], comecei a querer melhorar o blog e caí na velha pegadinha de "quero ser famosa e escrever livro". O ego inflou. E, na verdade, isso estava muito em conformidade com minha atitude na época com relação à comida, principalmente quando tinha convidados para jantar. Sem me dar conta, eu cozinhava para mostrar. Para mostrar no blog como o prato estava bonito, para mostrar aos convidados como eu era talentosa na cozinha e excelente anfitriã, para que todos achassem que aquele era o melhor bolo que já haviam comido. É claro que isso não é saudável, e no fim das contas só gera mal estar. Eu me estressava quando tudo não saía absolutamente perfeito, sentia-me na obrigação de cozinhar coisas novas e interessantes todo dia para o blog, e por aí vai.

O que mudou? Não sei exatamente o que desencadeou a mudança. Talvez a dieta. Talvez o livro A Platter of Figs, que fala justamente do ato de receber com simplicidade, e sugere que frutas maduras da estação e um bom queijo são sobremesas melhores do que qualquer doce complicado. É verdade. O caso é que um belo dia eu simplesmente relaxei. O stress foi embora. No momento em que comecei a me concentrar mais nos convidados do que na comida que eu lhes servia, no momento em que comecei a pensar no que eu queria comer, e não sobre o que eu queria "blogar", todo o peso foi embora, e todo aquele "olha só o que eu fiz, não é fabuloso?" desapareceu. E acho que é apenas natural que, uma vez restabelecida essa relação mais simples com a comida, eu não sentisse mais necessidade de ficar tagarelando a respeito do meu almoço.

No entanto, noutro dia fiz uma experiência que foi tão bem sucedida, que imediatamente pensei em dividir com vocês. Não pelos "nossa, isso parece delicioso!", mas porque foi algo que me deixou muito muito feliz, e talvez possa deixar alguns de vocês também. Principalmente os vegetarianos. Quando era criança, minha mãe costumava preparar sempre almôndegas com molho de tomate, que comíamos com arroz branco, que sempre ficava deliciosamente manchado de vermelho, tendo absorvido todo o sabor do molho. "Porpetas" era como as chamávamos, um desvirtuamento de "polpetta", a palavra italiana para almôndega. Diga-se de passagem, "porpeta" era também o apelido carinhoso que meu pai me dera, em minha época mais redondinha.

Há anos eu não comia almôndegas, e esse era só mais um dos meus pratos favoritos que haviam ficado para escanteio desde que eu deixara de comer carne, junto com o strogonofe de frango e a lasagne de minha mãe. E eu queria muito comê-las de novo. Já vira muitas receitas de hambúrguer vegetariano usando soja, feijões ou mesmo cogumelos. Mas não gosto de soja (a não ser tofu e molho shoyu), não queria mais um carboidrato no prato, e as receitas de polpette de cogumelos que eu tinha levavam, além do pão, batatas, ou seja, mais carboidrato. Lembrem-se: eu ainda estou em manutenção da dieta.

Foi então que apanhei uma receita de almôndegas da revista Gourmet e resolvi simplesmente substituir todo o peso da carne por chapéus de cogumelo (shiitake ou portobello), sem mais batata para dar liga, sem feijão, sem soja, nem nada. Mas eu sabia que, ainda que o cogumelo imite até que bem a textura da carne, esta tem algo de picante e adocicado que o cogumelo não tem. Principalmente se falamos de carne de porco. Pensa, pensa, pensa... E encontrei uma solução muito muito simples, que fez toda a diferença, fazendo com que minha mãe dissesse que, se eu não lhe tivesse contado, ela não desconfiaria, assim de cara, que a almôndega era vegetariana. A solução foi refogar os cogumelos com uma folha de louro, picante e adocicada na medida certa, além de acrescentar à mistura das almôndegas floquinhos pequenininhos de manteiga gelada, para que se derretessem apenas no fogo, assim como os pedacinhos de gordura presentes na carne. Ficaram excelentes, do jeitinho que eu me lembrava das almôndegas da infância, principalmente no dia seguinte, quando, como quando criança, eu "belisquei" algumas das sobras direto da geladeira, como bolinhos. E deixo essa receita para os não-comedores de carne, para que matem a saudade das almôndegas como eu... :)

Quanto ao blog, os posts serão menos freqüentes, mas continuarão existindo sim. Vou voltar a permitir os comentários, mas, por uma questão de tempo, já aviso que não vou responder a eles, a não ser que me pareça MUITO pertinente. Mas eu leio todos com carinho. E isso vale para e-mails e para comentários: se você pode encontrar a informação no mecanismo de busca do blog ou no Google, eu não vou responder. Mesmo. Tudo aquilo que eu posso responder está no FAQ. E quanto às receitas, se um ingrediente não consta na lista nem no preparo, é porque ele não é usado ali; se você trocou pêssegos por bananas e o bolo não deu certo, é porque você não seguiu a receita; se você não consegue encontrar um ingrediente X, faça como eu: não prepare a receita. Isso parece meio ríspido da minha parte. Mas hoje o blog tem 35 mil leitores (pouco comparado com outros blogs, mas muito para mim). Façam a conta de quantos emails legais versus quantos absurdos eu recebo por dia. Pois é. Quem tem blog sabe do que eu estou falando. Para que o blog continue, é preciso que eu não perca tempo respondendo coisas que eu não precisaria estar respondendo. Eu fui muito legal e paciente no começo, mas hoje em dia simplesmente não dá. A coisa adquiriu uma proporção que minha vida simplesmente não comporta. Ou eu aparo arestas, ou corto o blog de vez. Portanto, espero a compreensão de vocês todos, e que ninguém leve isso pro lado pessoal.

ALMÔNDEGAS DE COGUMELOS AL SUGO
(adaptado da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 2-4 porções, dependendo do acompanhamento


Ingredientes:
(molho)
  • 1 lata (400g) de tomates italianos pelados
  • 1/2 cebola picada
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 1 dente de alho grande, picado
(almôndegas)
  • 1/2 cebola picada
  • 1 folha de louro
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 2 dentes de alho picados
  • 350g cogumelos frescos (shiitake, cremini ou portobello, pesados já sem os cabos)
  • 1/2 xíc. pão amanhecido despedaçado
  • 1/2 xíc. leite
  • 1 ovo grande
  • 1/3 xíc. de queijo Parmesão ralado na hora
  • um punhado de salsinha fresca picada
  • 1/4 colh. (chá) orégano seco
  • 2 colh. (sopa) de manteiga bem gelada
  • 1 xíc. de azeite ou óleo vegetal para fritura
  • farinha de rosca, se necessária
  • sal e pimeta-do-reino

Preparo:
(molho)
  1. Refogue a cebola no azeite em fogo médio por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida.
  2. Junte o alho e cozinhe por uns 2 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os tomates com seu líquido e mexa, despedaçando-os com a colher de pau. Tempere com sal e pimenta a gosto, abaixe o fogo e deixe em fervura branda, destampado, por cerca de 30 minutos, até que o molho esteja bem grosso. Mexa de vez em quando para não grudar.
(almôndegas)
  1. Pique os chapéus de cogumelos ou passe por um processador de alimentos (NÃO use liquidificador) até ter uma consistência de carne moída. Reserve.
  2. Refogue a cebola e o louro no azeite em fogo médio numa frigideira grande, por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida. Junte o alho e cozinhe por uns 3 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os cogumelos e aumente o fogo. Mexendo sempre com uma colher de pau, para que não grudem, cozinhe por uns 5 minutos, até que parem de liberar vapor e não haja mais água na frigideira. Passe para uma tigela e deixe esfriar um pouco. Retire a folha de louro e jogue fora.
  4. Enquanto isso, coloque o pão despedaçado em uma tigelinha e cubra com o leite. Deixe descansar por 5 minutos. Então escorra o pão e esprema-o bem entre os dedos para retirar o excesso de leite e junte o pão úmido aos cogumelos. Descarte o leite.
  5. Junte o parmesão, a salsinha, o orégano, 1 colh. (chá) rasa de sal, pimenta-do-reino a gosto e o ovo. Misture bem até que fique homogêneo.
  6. Com a ajuda da ponta de uma faca, junte a manteiga gelada (ou congelada), acrescentando-a em floquinhos de não mais de 0,5cm. Se a mistura ainda parecer muito molenga para formar bolas, acrescente farinha de rosca até que pareça mais firme. A consistência da massa vai depender da quantidade de leite absorvida pelo pão e da quantidade de água presente nos cogumelos.
  7. Molhe as mãos em água fria e forme bolinhas de 5cm de diâmetro com a massa, reservando-as em uma assadeira. Você terá cerca de 18-20 almôndegas.
  8. Aqueça o óleo em uma frigideira grande em fogo médio-alto, até que esteja quente mas sem sair fumaça. Frite as almôndegas, umas 5 por vez, virando-as constantemente com a ajuda de uma espátula, com cuidado para não despedaçá-las. Cozinhe-as por 5 minutos, ou até que estejam marrom escuras, quase da cor de kibes, mas não queimadas. Transfira de volta para a assadeira. (Você pode parar por aqui, se quiser servi-las sem o molho, ou pode guardá-las na geladeira e reaquecê-las no molho no dia seguinte.)
  9. Junte as almôndegas ao molho de tomate, tampe e cozinhe por cerca de 20 minutos, mexendo de vez em quando. Sirva com arroz, se for como minha mãe, com legumes se for como os italianos ou com spaghetti se for como os americanos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

La Cucinetta em férias... do La Cucinetta.

Acho que todo mundo que tem blog um dia cansa do bendito. Eu olho para meu prato, olho para a tela do computador, e não consigo pensar em nada mais criativo para escrever do que "isso ficou gostoso". E me sinto uma fraude.

A verdade é que há já algum tempo me sinto confortável com meu "nível técnico" na cozinha. Está ok, e por enquanto não me vejo me aventurando em técnicas mais complicadas e ingredientes inusitados. Encontrei meu jeito de cozinhar e de comer, e para mim está ótimo assim. Talvez por isso eu sinta que, por mais que haja novas receitas, não existam verdadeiras novidades a serem contadas. Serão sempre as "saladas refrescantes", os "bolos macios", os "pães quentinhos". And that's it.

Cheguei a um ponto em que sinto que não tenho muito mais o que dividir com vocês. Tudo o que sei sobre pães, bolos e legumes está aqui, timtim por timtim, desde o primeiro post, mostrando a evolução de quem gostava do que cozinhava mas não sabia muito bem o que estava fazendo, até hoje, essa cozinheira sossegada sem um teco do dedo indicador. Entendendo isso, entendo minha preguiça de escrever. Pois estava começando a escrever os mesmos posts um após o outro. Troca-se o almeirão pelo espinafre, mas a técnica é a mesma. E me sinto tentada a transcrever receitas de bolo como faço em meu caderno, listando os ingredientes e apenas anotando: "método génnoise, forma 20cm, 180ºC-45min.", o que já me diz exatamente a ordem dos procedimentos. Mas isso não é justo com vocês, ainda que minha avó tenha feito o mesmo em seus cadernos, e agora sei por quê.

Antes que me dê um siricutico e eu resolva apagar o blog definitivamente, da mesma forma como num dia de fúria mandei embora minha camiseta de rock favorita, é melhor dar uma férias para o La Cucinetta. Assim, um mês. Para ver se dá saudades. Vou continuar publicando os comentários, mas vou ficar longe do email também durante esse tempo. Espero a compreensão de vocês todos. Muito obrigada por todo o carinho, atenção e preocupação por meu dedo, que já está beeeeem melhor! ;)

Vejo vocês em 30 dias.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Post nojento, ou a vingança da salsinha


É isso o que acontece quando você está excessivamente confiante na cozinha e começa a parar de prestar atenção no que faz. Um inocente almoço virou uma corrida para o pronto-socorro. Tudo bem, no entanto. Foi mais uma lasca ampla e superficial que fez muita sujeira do que algo profundo e grave. [Tiro o curativo em dois dias, e vai ficar só uma cicatrizinha e um dedo sem unha por alguns meses.]

Quando movi a faca, tive certeza de que cortara algo que não era salsinha. Corri para lavar o dedo em água corrente [água e sabão, segundo o médico; nada de água oxigenada!] e envolver em gaze, mas não tive coragem de olhar para ver o estrago. Ao invés disso, fui fuçar no monte de salsinha para ver se encontrava algum toquinho. Pego uma lasquinha... não, isso é alho. Outra... não, isso também é alho. Ah! Olha aqui, na faca, um pedacinho na minha digital e uma unha! AAAAAAAAAARGH!!!

Minha mãe telefona. "Mãe, cortei o dedo picando salsinha e não pára de sangrar; acho melhor tomar ponto." Mãe vem correndo e, como mãe é tudo igual, resolve levar o teco de dedo num guardanapo, apesar de eu insistir que era minúsculo demais para costurar de volta. No pronto-socorro, o médico explica que não foi nada, mas a área da unha é muito irrigada, e por isso não pára de sangrar nunca. Então ele resolve dar uma injeção na ponta do meu dedo para anestesiar e outra com alguma meleca vaso-constritora, para que ele pudesse fazer o curativo. Na boa, a injeção doeu mais do que tirar o toco de dedo fora. "Corta tudo, logo de uma vez!"

Respira.

"Mãe, o que você ainda tá fazendo com esse teco de dedo??? Joga isso fora, que nojo!"

Corro de volta para casa para almoçar e voltar ao trabalho urgente que tinha de terminar. No primeiro intervalo que tenho, saio correndo para preparar um bolo de chocolate. Não qualquer um. Eu precisava, PRECISAVA, DE VERDADE, de algum bolo muito fácil e com aquele gostinho de bolo de mãe. Algo que não precisasse nem untar a forma. E encontrei. Maravilha das maravilhas. Minha manteiga acabou e o bolo ficou sem cobertura. E verdade seja dita: ficou ótimo sem ela. Não quis nem fotografar, pois o blog original (que é excelente) tem fotos passo-a-passo tão boas, que seria chover no molhado. O bolo ficou leve, macio, úmido e intenso de chocolate – use cacau de boa qualidade, que tenha cor e aroma fortes. É o tipo de bolo que você vai comendo aos bocadinhos, cada vez que passa pela cozinha.

Bom... ninguém vai me culpar se eu abrir um vinhozinho agora... né?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bolo de limão e creme de lavanda para minha mãe

Ando cozinhando um bocado. Mas ando desenhando um bocado também. E o segundo bocado tem me deixado mais empolgada do que o primeiro bocado. Venho fazendo cursos e experimentando novos materiais e dedicando boa parte de meu tempo à aprimoração de meu traço e minhas técnicas. O resultado disso é que, enquanto ando falando pelos cotovelos a respeito de tintas, cores, papéis e ilustradores, ando um pouco sem paciência para falar sobre comida. Preparo os pratos, tiro meia dúzia de fotos sem inspiração e fico morrendo de preguiça de transcrever receitas. Por isso boa parte do que ando cozinhando está indo direto para a mesa e da mesa para o estômago, sem que eu nem cogite a possibilidade de apanhar a câmera. Isso é ruim por um lado, pois o blog sofre pela falta de posts. Por outro, é fantástico. Havia muito tempo eu estava precisando reencontrar minha paixão pelo desenho, que andava tão sem graça e tão mecânico. E ninguém contrata ilustrador que desenha com a mesma empolgação de quem troca um pneu. Voltar a me apaixonar por minha profissão tem me tornado também muito mais leve e muito mais feliz.

E foi toda feliz e contente que levei esse bolo de aniversário para minha mãe, ontem. Bolo de limão, segundo sua requisição. Aproveitei a deixa para preparar essa receita que havia muito tempo estava em minha lista. O bolo não leva nem manteiga nem leite: é feito com azeite de oliva e aromatizado com limão siciliano. O recheio é um lemon curd bem azedinho, e o bolo é servido com um chantilly de mel e lavanda que ficou surpreendentemente leve e gostoso. Ainda bem, pois eu tinha medo de que o chantilly fosse ter gosto de perfume.

Mamãe aprovou o bolo e comemos metade dele à mesa. :P

BOLO DE LIMÃO COM CREME DE LAVANDA
(da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 3h
Rendimento: 8 pessoas


Ingredientes:
(bolo)
  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal derretida para pincelar a forma
  • 5 ovos grandes, separados
  • 3/4 xic. açúcar
  • 3/4 xic. azeite de oliva extra-virgem
  • 1 colh. (sopa) casca ralada de limão siciliano ou galego
  • 3 colh. (sopa) suco de limão siciliano ou galego
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) sal
(recheio)
  • 1/2 xic.+1 colh. (sopa) açúcar
  • 3 colh. (sopa) farinha
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 colh. (chá) casca ralada de limão siciliano ou galego
  • 3/4 xíc. suco de limão siciliano ou galego
  • 1 gema grande
  • 1 colh. (sopa) manteiga sem sal
(creme)
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 3 colh. (sopa) mel suave
  • 1/2 colh.(sopa) lavanda ou alfazema seca
  • açúcar de confeiteiro para polvilhar

Preparo:
(bolo)
  1. Pré-aqueça o forno a 160ºC. Inverta o fundo de uma forma de mola de 20cm e trave. Pincele a forma com a manteiga derretida e leve ao freezer por 2 minutos. Forre o fundo da forma com papel-manteiga, pincele novamente com manteiga e leve ao freezer por mais 2 minutos. Polvilhe com farinha, bata para tirar o excesso e reserve.
  2. Bata as gemas e 1/2 xic. de açúcar até que a mistura fique clara e fofa. Em velocidade média, misture o azeite, o suco e a casca de limão, até que fique homogêneo.
  3. Peneire a farinha e junte à massa, em baixa velocidade.
  4. Bata as claras com o sal até que espume. Vá juntando o restante do açúcar, batendo em velocidade média-alta, até que que as claras formem picos suaves. Incorpore delicadamente 1/3 das claras à massa e então misture o restante.
  5. Transfira para a forma, alise a superfície com uma espátula, e dê alguns tapinhas na lateral, para tirar as bolhas de ar. Asse por 40-50 minutos, até que esteja dourado e um palito saia limpo qudno inserido no bolo. Deixe esfriar na forma por 10 minutos, e então desenforme e deixe esfriar completamente sobre uma grade. As laterais afundarão um pouco.
(recheio)
  1. Misture numa panela a farinha, o açúcar e o sal. Junte o suco de limão devagar, misturando com um batedor de arame para evitar grumos. Leve à fervura, mexendo constantemente, abaixe o fogo e cozinhe mexendo por uns 3 minutos, até engrossar. Remova do fogo.
  2. Junte à gema 1/4 da mistura de limão e mexa bem. Volte o creme para a panela e, ainda mexendo, leve à fervura por 1 minuto. Desligue e junte a manteiga e a casca ralada. Transfira para um pote, cubra com filme plástico, colando-o à superfície do creme e leve à geladeira por pelo menos 30 minutos.
(creme)
  1. Leve o creme, a lavanda e o mel à fervura, desligue o fogo, tampe e deixe em infusão por 30 minutos. Passe por uma peneira e leve o creme à geladeira para gelar.
(montagem)
  1. Inverta o bolo e retire o papel-manteiga do fundo. Corte o bolo em 3 camadas iguais. Transfira para um prato a primeira camada, espalhe metade do creme de limão de modo uniforme, deixando uma borda de 0,5cm, e cubra com a camada do meio. Espalhe o restante do creme, cubra com a última camada e pressione ligeiramente, para que o recheio vá para as bordas. Polvilhe com o açúcar de confeiteiro. Na hora de servir, bata o creme de lavanda até formar picos suaves e sirva.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Salada de funcho, laranja e nozes

Adoro, adoro, A-DO-RO erva-doce, ou funcho, como quiserem. [Particularmente gosto da palavra "funcho", da sensação que dá de boca cheia quando você diz a palavra em voz alta.] Essa é uma salada típica do sul da Itália, e daquelas que, à primeira vista, parecem... hum... nhé. Funcho e laranja? Parece que vai ficar sem graça.

É delicioso quando você é pega de surpresa pelos sabores! O funcho, a laranja, a cebola roxa e as nozes se complementam maravilhosamente, formando uma salada gostosa, crocante, que refresca o paladar mas ainda assim parece apropriada para o inverno.

Para uma pessoa, fatie fino um bulbo pequeno (do tamanho de um punho fechado) de funcho, descasque e corte em rodelas uma laranja lima (tinindo agora em junho), fatie fino 1/4 de cebola roxa, misture a um punhado de nozes cortadas grosseiramente e tempere com sal, pimenta-do-reino, 1/4 de colh. (chá) de mostarda em pó, 1 colh. (sopa) de azeite e 1/2 colh. (sopa) de suco de limão, de preferência siciliano. Fui à feira correndo comprar mais funcho para prepará-la de novo! :D

O melhor de tudo é continuar firme e forte buscando receitas que usem apenas o que há de melhor no mês. Interessante é que agora finalmente entendo o uso das frutas secas no inverno. Mesmo no Brasil, onde "tudo dá", a variedade de frutas realmente na época agora em junho e julho é bastante limitada em comparação com o verão. Daí que, a não ser que eu queira tomar meu iogurte diário com mexerica [ :P ], preciso usar frutas secas. Então dá-lhe ameixas, damascos, figos e tâmaras secas, deliciosas com iogurte! É bom sentir sua mente expandindo... ;)

domingo, 14 de junho de 2009

PADARIA DE DOMINGO 33: Pão de centeio, cerveja e alcaravia

Este é um daqueles pães que me dão vontade de comer picles. Ok, talvez eu tenha visto fotos demais em livros de cozinha alemã mostrando pão de centeio e picles. Mas a verdade é que pães de centeio de fato combinam maravilhosamente com todos esses sabores mais fortes, como picles, queijos de cabra... Hmmm... Recomendo que você compre uma boa cerveja para fazer esse pão, pois o sabor dela fica realmente pronunciado. Sem contar que alguém vai ter que terminar de beber a garrafa enquanto o pão está no forno... ;)

PÃO DE CENTEIO, CERVEJA E ALCARAVIA
(do livro Culinária Ilustrada Passo a Passo - Pães, Bolos e Tortas)
Tempo de preparo: 2h15min + 50 min. forno
Rendimento: 1 pão médio


Ingredientes:
  • 15g fermento ativo fresco
  • 4 colh. (sopa) água
  • 1 colh. (sopa) melado de cana
  • 1 colh. (sopa) óleo vegetal
  • 1 colh. (sopa) sementes de alcaravia / kummel
  • 2 colh. (chá) sal
  • 1 xíc. cerveja tipo Bock
  • 250g farinha de centeio
  • 175g farinha de trigo
  • 1 clara de ovo para pincelar

Preparo:
  1. Dissolva o fermento na água e deixe descansar por 5 minutos. Junte o melado, o óleo, 2/3 das sementes de alcaravia e o sal e misture. Junte a cerveja e em seguida a farinha de centeio. Misture bem com a mão.
  2. Adicione a farinha de trigo, 60g por vez, misturando bem a cada adição. A massa deve ficar macia e ainda ligeiramente pegajosa.
  3. Vire a massa sobre uma bancada ligeiramente enfarinhada e sove por uns 10 minutos, até que a massa esteja lisa e elástica.
  4. Forme uma bola e coloque em uma tigela grande untada com um fio de óleo. Gire a bola na tigela, para recobri-la de uma fina película de óleo. Cubra com um pano e deixe fermentar por 1h30-2h, até que a massa dobre de volume.
  5. Polvilhe farinha ou fubá numa assadeira. Coloque a massa na bancada ligeiramente enfarinhada e sove novamente por uns 20 segundos. Forme uma bola novamente e deixe descansar por 5 minutos.
  6. Abra a massa com as mãos em forma oval, de uns 25cm de comprimento. Role-a como um rocambole, pressionando bem as extremidades para selar bem a massa e afinar as pontas. Coloque o pão na assadeira, cubra com um pano e deixe fermentar novamente por 45 minutos, até que dobre de volume. Enquanto isso, aqueça o forno a 190ºC.
  7. Pincele o pão com a clara de ovo. Polvilhe as sementes de alcaravia reservadas e faça 3-4 cortes diagonais no pão. Leve-o ao forno por 50-55 minutos, até que esteja dourado-escuro e emita um som oco quando você bater na parte de baixo com os nós dos dedos. Deixe esfriar completamente antes de servir.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os últimos rabanetes da geladeira

Aqueles últimos rabanetes reclamavam um bocado [na semana passada, na verdade, que esse post estava engavetado e eu quase me esqueci dele], então os fatiei fino e os dourei em um pouco de manteiga e um fio de azeite, junto a uma cebolinha grande picada. Quando douraram, temperei-os com sal e pimenta e misturei-os aos sete grãos que eu acabara de cozinhar segundo as instruções do pacote. Derramei por cima um fio de azeite, esmigalhei uma fatia do meu bom e velho queijo Feta, e polvilhei salsinha picada, misturando tudo muito bem. Um bom almoço na semana passada, graças às dicas de vocês. :D

terça-feira, 9 de junho de 2009

Gratinado de abóbora e batata-doce

E mais batata-doce, por que não? Afinal, elas estão tinindo esse mês. Alguns vão notar quantas abóboras andam surgindo em meus jantares, e estranharão, uma vez que já disse uma centena de vezes por aqui como meu marido odeia abóboras. É interessante ver que aquela teoria de que um ser humano precisa ser exposto de dez a doze vezes a um alimento até se habituar a ele parece ser verdade. Pois se antes o homem olhava para a abóbora no prato e ia direto esquentar água para o miojo, ontem ele torceu um pouco o nariz e hoje ele come numa boa, sem mais apontar para o fato de que o prato "está gostoso... apesar de ser abóbora". Não acredito que ele esteja 100% convertido, mas ao menos não preciso mais ficar reservando a abóbora para meus almoços solitários e posso dividir com ele todo esse delicioso e adocicado alaranjado.

GRATINADO DE ABÓBORA E BATATA-DOCE
(da revista Saveurs)
Tempo de preparo: 15min+40min (forno)
Rendimento: 4-6 porções


Ingredientes:
  • 400g abóbora (usei a japonesa)
  • 400g batata-doce
  • 1 cebola
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 2 ovos
  • 200ml creme de leite fresco
  • 20g manteiga
  • 1/2 colh. (chá) páprica doce
  • 1 pitada de noz moscada
  • 80g de queijo ralado grosso (usei Minas Padrão)
  • 2-3 ramos de salsinha
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma travessa refratária média.
  2. Descasque a abóbora e as batatas. Corte-as em pedaços de uns 3-4cm.
  3. Pique a cebola e refogue-a no azeite, polvilhada de páprica, até que amacie.
  4. Junte a abóbora e as batatas e cozinhe por cerca de 10 minutos, mexendo de vez em quando. Os legumes devem manter-se ainda firmes. Tempere com sal e pimenta e transfira para a travessa.
  5. Numa tigela, bata os ovos, o creme e a noz moscada. Junte metade do queijo e tempere com sal e pimenta. Derrame a mistura sobre os legumes.
  6. Polvilhe com o restante do queijo. Pique a salsinha e a polvilhe por cima. Leve ao forno por 35-40 minutos até que esteja dourado e os legumes estejam macios.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Doce como torta doce de batata doce

Eu detestava batata-doce quando pequena. Provavelmente trauma de algum doce de festa junina mal feito. Certo dia, já mais velha e na casa de um amigo, este apareceu à mesa com uma enorme travessa de peixe assado e duas batatas: a comum e a (eca!) doce. Um dos presentes apanhou rapidamente a colher, serviu-se de peixe e, para a surpresa de todos, meticulosamente selecionou e tomou para si todas as batatas comuns da travessa, deixando os outros cinco presentes, inclusive o anfitrião, com as batatas-doces. Ficamos todos atônitos, e a situação foi tão constrangedora, que ninguém teve coragem de comentar coisa alguma. Respirei fundo e, já conformada, servi-me das rodelas macias e douradas de batatas-doces assadas.

Qual não foi minha surpresa, quando descobri que batata-doce era sim muito gostosa, e que minha cisma até então fora completamente infundada!

Desde então as batatas-doces têm aparecido com certa frequência em minha mesa, normalmente assadas inteiras, em papel alumínio, recobertas de temperos e abertas no prato, fumegantes, para serem recheadas com uma bela colherada de requeijão.

No entanto, essa semana fui à feira comprar batata-doce com outro intuito: estava com ideia fixa de fazer uma Sweet-Potato Pie, uma torta, segundo me consta, típica do sul dos Estados Unidos. Eu continuo não sendo lá muito fã do nosso doce de batata-doce, que sempre aparece nas festas juninas. Mas estava curiosíssima para experimentar a batata assim, em forma de torta.

A receita é da dona Martha, é muito fácil e eu gostei bastante do resultado. A torta fica surpreendentemente leve, pouco doce e com um gostinho levemente exótico que eu, particularmente, gosto. Já meu marido... Para quem está acostumado a comer apenas torta de limão ou de chocolate, acho que a de batata-doce é um desafio. Eu não prepararia esta torta para visitas desavisadas, por exemplo. Ela é para fãs de verdade do tubérculo.

Usei as batatas que encontrei primeiro, aquelas de polpa branca e casca cor-de-vinho, mas pela foto da revista e do site, acredito que a receita original utilize das batatas-doces de polpa cor-de-laranja, pois a torta tinha uma cor de caramelo que a minha não adquiriu.

Tive minhas reservas em comprar bolacha de pacote para usar na massa, e quase saí fazendo minhas próprias. Mas é preciso ter limites, e mesmo eu não sou tão louca assim. Ainda. Comprei um pacote de bolachas, moí tantas quanto necessário no meu mini-processadorzinho, e então olhei para o pacote pela metade. "O que eu faço com isso???" Não tive dúvidas: moí todo o resto, guardei num potinho de vidro (onde anotei a data de validade das bolachas) e coloquei na geladeira. Agora, na próxima vez que for fazer uma torta que peça uma "graham cracker crust", já tenho as bolachas moídas e prontas para o uso. Tchanans! Esse foi um momento Nigella. ;)

SWEET POTATO PIE
(da revista Everyday Food)
Tempo de preparo: 30 min. + 50 min. (forno) + 2h (geladeira)
Rendimento: 8 fatias


Ingredientes:
(massa)
  • 1 1/3 xíc. bolachas Maria ou similar, moídas
  • 3 colh. (sopa) açúcar cristal orgânico
  • 1/2 colh. (chá) gengibre em pó
  • 1 pitada de sal
  • 5 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida
(recheio)
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1 3/4 xíc. purê de batata doce *
  • 1/2 xíc. de creme de leite
  • 1 colh. (sopa) suco de limão siciliano
  • 2 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1/4 colh. (chá) pimenta-da-jamaica moída

*Purê de batata-doce: descasque e corte em pedaços de 5cm 3 batatas-doces grandes. Coloque em uma panela com água bastante para cobri-las e leve à fervura, cozinhando até que um garfo as espete com facilidade (15 minutos). Escorra bem e transforme em purê.

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC, posicionando a grade do forno na parte mais baixa. Misture numa tigela as bolachas moídas, o açúcar, o gengibre e o sal, quebrando com um garfo os pedaços maiores de bolacha.
  2. Junte a manteiga derretida e misture bem, até obter uma aparência de areia molhada.
  3. Pressione a mistura no fundo e nas paredes de uma forma de 21-22cm de diâmetro.
  4. Em outra tigela, bata ligeiramente os ovos e o açúcar, até que fique homogêneo.
  5. Junte o purê de batata-doce, o creme de leite, suco de limão, sal, baunilha e pimenta-da-jamaica. Misture até que o creme esteja completamente sem grumos.
  6. Despeje sobre a massa da torta, alisando o topo se necessário e coloque a torta sobre uma assadeira. Leve essa assadeira ao forno por 40 a 50 minutos, até que o recheio pareça firme. NÃO teste com uma faca ou palito, pois quando a torta esfria, ela contrai, transformando o que era um furo imperceptível em uma cratera.
  7. Transfira para uma grade, para que esfrie completamente, e leve à geladeira por 2 horas ou até 1 dia antes de servir. Sirva fria ou em temperatura ambiente, com chantilly, se quiser.

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails