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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

L´Aperô, bistrot de verdade

Fazia tempo que não falava de nenhum restaurante por aqui. Talvez por não ter conhecido nada que valesse a menção de fato, ou porque a noite fora tão ruim que não queria reviver os pratos requentados e risotti cozidos além da conta.

Ontem, no entanto, foi exceção.

Foi graças a um post do Pobre Também Come que coloquei meus pés no L´Aperô. Só tenho a agradecer pela indicação. O L´Aperô é um pequeno bistrot da Vila Madalena; chamá-lo de "charmoso" é um eufemismo para sua rusticidade, quando comparado a outros lugares de São Paulo que se dão o mesmo nome. Como nunca fui à França [*suspiro*], não tenho como saber o que seria mais autêntico, um bistrot simples ou um bistrot chiquérrimo. Só tenho cardápios como referência.

O menu é enxuto, ainda que não tanto quanto de outros restaurantes da mesma categoria: meia dúzia de saladas com a mesma base e que se diferenciam nos detalhes, meia dúzia de aperitivos e meia dúzia de carnes, com acompanhamentos à escolha do freguês.

Pára tudo.

Essa mania de restaurante de fazer o cliente escolher se quer vagens, batatas de diferentes formas ou o raio que o parta com seu franguinho grelhado me irrita sobremaneira. Se estou pagando pelo prato, nada me parece mais justo que esperar que o chef tenha o discernimento (não eu) de escolher o que combina melhor com minha proteína. Costumo sair decepcionada desse tipo de lugar, uma vez que, dentro desse esquema, os acompanhamentos são sempre insossos e neutros, sem tempero, de modo a combinar com a omelette de roquefort, o quiche de alho-poró, o franguinho grelhado, o salmão com alcaparras e o filé mignon do cardápio.

Suspirei, esperando mais um desastre culinário e, dentre todos os outros pratos nada vegetarianos, escolhi a lula do Chef, com batatas no alho e tomates à provençal, apenas porque não estava com vontade de comer salada. Meu amigo ficou com as coxas de pato confit e batatas no alho.

Em oposição a todos os outros bistrots em que estive até hoje, o prato chegou farto e rústico, sem frescuras, sem apresentações minimalistas e pretenciosas. As batatas eram fatiadas fino, douradas e sequinhas, crocantes por fora e macias por dentro, salgadas na medida certa e com aroma forte e delicioso de alho. As duas grandes metades de tomate recheados estavam incrivelmente bem temperadas. Já comi muito tomate à provençal com gosto de água. Esses eram excelentes, e a doçura da fruta e a refrescância das ervas casava bem com o sabor mais potente das batatas. A lula era macia, tenra, envolta num molho espesso e escuro de tomates, alcaparras e muitas outras coisas, e fui comendo tudo com gosto, um pouquinho de cada porção, na mesma ordem, para que nenhuma acabasse antes da outra, e tudo durasse mais tempo. Meu amigo também parecia bastante feliz com seu prato.

Ao contrário dos acompanhamentos insossos que esperava, esses pareciam ter sido feitos especialmente para aquela lula, uma vez que todos os temperos se completavam maravilhosamente. Foi, com certeza, a mais agradável surpresa dos últimos tempos, em termos de restaurante.

Pedi um bolo ópera de sobremesa, visualmente bem executado, mas um pouco doce demais para mim. Senti falta de um chocolate mais amargo, 70%, mas acho que é uma questão de paladar.

Único ponto negativo: o couvert é apenas um pratinho pequeno de amendoins. Senti falta (justo quem) de um cesto de pão enquanto esperava e, principalmente, para chuchar no molho da lula, no fim da refeição (nem um restaurante 5 estrelas e a presença do Papa me impediriam de chuchar pão em qualquer molho residual no meu prato, não importa o que digam os especialistas em etiqueta).

Durante todo o excelente jantar, dois homens mais velhos conversavam (e discutiam) animadamente em francês, falando sobre o melhor molho bérnaise que já haviam comido, e como suas mães faziam determinado prato em sua infância na França, etc e tal. De ouvidos atentos a qualquer oportunidade de treinar meu francês abandonado há anos, eu absorvia aquelas palavras, reconhecia algumas frases, me deixava levar pelos sons.

"Acho que eles são contratados para passar a noite aqui, conversando em francês, prá criar o ambiente", brinquei, enquanto pagávamos a conta.
"É que nem o cara de acordeon no La Tartine", emendou.

O melhor de tudo? Uma conta justa.

Vá lá:
L´Aperô
Rua Mourato Coelho, 1343, Vila Madalena

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Das ervilhas em Roma aos Piselli em São Paulo: deliciosos frutos de um blog culinário

Minhas férias começaram com uma excelente surpresa; um tipo de fruto do blog que eu nunca imaginaria. Jamais pensei que por escrever sobre comida viria a conhecer tantas pessoas interessantes.

Recebi um e-mail há alguns dias de Juscelino Pereira, convidando-me a conhecer seu restaurante, Piselli. Já fora uma ou duas vezes, e nunca tive nada além de boas palavras a dispensar sobre o lugar, que é um de meus favoritos. Por isso, obviamente fiquei muito interessada em sentar e bater papo com seu idealizador.

Não há como descrever sua simpatia. Vê-se logo que o sucesso do restaurante não se deve apenas à excelente comida, mas também à personalidade de seu dono. Contou-me repleto de entusiasmo sobre sua história e do Piselli, sobre a criação de uma das entradas de maior sucesso (o mille foglie de polenta e cogumelos — delicioso!), sobre seus planos, novos negócios e suas aventuras pela Itália. Tive de lhe contar que também eu tinha uma história com ervilhas, em Roma, sobre a qual já escrevi por aqui.

Quão bom é encontrar outra pessoa no mundo que divida com você seu amor por comida, e que entenda sua obsessão por uma boa mozzarella de búfala (aliás, a servida no Piselli é La Bufalina, que infelizmente não se compra em supermercados: apenas direto com o produtor, na loja que a família tem em Higienópolis).

Depois do mille foglie, provei delicados e saborosos caramelle di zucca, com ricotta e nozes, e, de sobremesa, panna cotta com frutas vermelhas, que sempre me leva de volta à Riva del Garda, a cidadezinha do Lago di Garda onde estabeleci meu padrão para excelentes panne cotte.

Duas horas de excelente comida, vinho e conversa. Confesso ter me sentido muito intimidada quando cheguei: morri de medo de falar alguma bobagem bombástica. Mas Juscelino é uma pessoa tão aberta que é difícil sentir-se desconfortável ao seu lado.

Falamos inclusive sobre a questão do desperdício, e como a cozinha italiana (assim como a francesa e outras mediterrâneas) parece dar conta de utilizar toda e qualquer parte de um alimento, em pratos que não têm, de modo nenhum, cara ou gosto de meras sobras. Contou-me sobre como têm tentado fazer com que se coma botarga por aqui, pois são jogadas fora todos os dias quantidades atrozes de ovas de tainha, raras e deliciosas, mas que não fazem parte do cardápio brasileiro.

Outra novidade é que Juscelino abriu recentemente, com seu irmão Julio, uma focacceria em Moema, que quero muito visitar: Tavico, com receitas originais da Ligúria. Enquanto me contava, imediatamente me lembrei da focaccia de espinafre que comera em Manarola, uma das cidadezinhas de Cinque Terre, na costa da Ligúria.

Encerramos o almoço com café, panforte (um pão-bolo denso de frutas secas e especiarias tradicional de Siena), biscoitos de avelã e zaletti (biscoitos de polenta e passas, típicos do Vêneto, terra de minha família). No fim das contas, saí de lá com a sensação de ter conquistado um novo amigo. Incrível como isso têm acontecido cada vez mais, apenas porque um dia resolvi, como quem não quer nada, começar a escrever sobre comida. Agradeço imensamente pelo delicioso convite e pela oportunidade de conhecê-lo e saber mais sobre o restaurante.

Minhas férias não poderiam ter começado melhor!

sábado, 24 de novembro de 2007

Japonês de verdade

Sempre que Allex e eu vamos à liberdade, vagamos sem destino certo, na vã esperança de entrar por acaso em algum restaurante japonês escondidinho, que se revele fantástico, no melhor estilo "você não acredita no lugar que eu descobri!". Muito ao contrário de nossas expectativas, agora no melhor estilo "turista na Liberdade", nós sempre caímos em fria.

Miraculosamente, no entanto, desta vez foi exceção. Depois de andar um bocado em círculos, completamente perdidos debaixo do sol do meio-dia, entramos no primeiro lugar que encontramos (pois estávamos desesperados de fome, encontrando dezenas de cabeleireiros e botecos, e nenhum restaurante decente).

Atravessamos uma pequena amurada de pedra, subindo alguns degraus em meio a um pequeno jardim de entrada, na direção de uma porta de madeira que revelava muito pouco do interior do restaurante. Senti-me imediatamente intimidada com a decoração de madeira escura, à meia-luz, com a clientela silenciosa 100% japonesa sentada em um balcão, assistindo a um japonês preparando robata, e com uma senhora que me cumprimentou com um bom-dia apressado em meio às comandas, com um sotaque tão forte que simplesmente não entendi quando ela tentou me direcionar para o segundo andar do restaurante. Era com certeza completamente diferente dos restaurantes japoneses moderninhos aos quais estava acostumada. Mas, lembrando-me dos melhores lugares onde comi quando na Itália, sabia que aquilo prometia ser bom.

Subimos as escadas para um segundo-andar muito semelhante ao primeiro, com dois balcões de sushi e um número limitado de mesas grandes, todas ocupadas por japoneses. Aquele com certeza não era meu ambiente, mas nenhum sinal é melhor para mim do que japoneses comendo num restaurante japonês. Sentamo-nos no balcão exatamente em frente ao chef, que preparava os pratos, solitário e silencioso. É preciso mencionar que também ele era japonês ou isso é chover no molhado?

Pedimos duas cocas (em garrafa de vidro) a uma garçonete que nos trouxe o cardápio. Decidimos não nos deixar levar pelo olho gordo e a barriga vazia, e pedimos apenas um combinado simples, que trazia cerca de 15 sashimis, 8 sushis, alguns uramakis e outras coisinhas mais. Não tínhamos nenhuma expectativa. Juro. Fui vendo enquanto o chef tirava fatias idênticas, grossas e suculentas dos peixes frescos, montando tudo no prato com muito cuidado. Para quem está acostumado aos rolinhos repletos de cream cheese e cobertos de tarê, a simplicidade visual do combinado é um choque. Mas para o paladar... A simplicidade é garantia de que aquele sabor fantástico vem única e exclusivamente do frescor e da qualidade do peixe, sem nenhum outro ingrediente para mascará-lo. E, de fato, o sabor explodiu na boca, e o sashimi derreteu na língua como manteiga.

Outro choque: já foi feita uma pesquisa que demonstrou que os comedores brasileiros adoram salmão (e quase que exclusivamente salmão) quando em restaurantes japoneses; no entanto, não havia nenhum no prato, o que foi inédito para mim. Os gordinhos e simétricos sashimis eram de Olho-de-Boi, Taínha, Robalo (com finíssimas fatias de limão), Atum e Serra, o último servido ainda com a pele, coberto de gengibre e cebolinhas, para um lindo e saboroso efeito.

Já ao final da refeição, o chef perguntou-nos se éramos de São Paulo, e começamos a conversar. Ele (Marcos) nos contou que aquele era um dos restaurantes mais tradicionais de São Paulo, em termos de autenticidade e fidelidade a uma culinária mais antiga. Segundo ele, não há mais do que dois outros na cidade. Todos os outros fecharam, não suportando a moda e o desejo dos clientes por uma cozinha mais moderna. Mas aquele continuava firme e forte, e, sob a tutela de um casal japonês bastante conservador, mantinha o cardápio inalterado, depois de 30 anos de existência, não se rendendo à moda. "Às vezes vêm uns clientes ", disse o chef, "que ficam tristes porque não servimos nada com salmon skin..." O que me fez pensar que, eventualmente, a moda passará, e muitos restaurantes moderninhos fecharão as portas. E quantos lugares genuínos terão restado?

Marcos ainda nos disse que estava apenas substituindo o chef da casa, que estava de férias. "Ele é o melhor sushiman de São Paulo", disse-nos, orgulhoso. "Vai para o Japão o tempo todo. Além da licença para sushiman, que ele conseguiu lá, ele tem aquela especial, para preparar Baiacu." Impressionante, com certeza. Fiquei interessadíssima em voltar e experimentar o cardápio preparado pelo chef de férias, é claro.

Quando o Allex terminava de "raspar o prato", o chef alertou-nos de que a estranha folha escura que parecia simples guarnição podia e deveria ser comida. "Shissô", explicou-nos. Nunca comera algo parecido e era, de fato, muito saborosa, um pouco picante, um pouco adocicada, um retrogosto azedinho, refrescante e ao mesmo tempo digestiva. Interessante o suficiente para me fazer procurar mais a respeito quando tiver mais tempo.

O preço disso tudo? O mesmo que um moderninho bem feito. Não me levem à mal, é claro, eu adooooooro todas as modernidades da culinária japonesa. Mas também era louca para provar algo mais simples, mais básico, que dependa exclusivamente da qualidade dos ingredientes. Não só não saí decepcionada, como saí apaixonada pelo lugar, louca para voltar. Fiz questão de pegar uns dois cartões de visita, para que o restaurante não vire mais um daqueles lugares fantásticos aos quais nunca mais conseguimos voltar, por não lembrar o nome ou o endereço. Espero que eles continuem firmes e fortes, tradicionais, "japoneses de verdade", como disse o chef.

Recomendo de boca cheia!

GOMBE
Rua Tomás Gonzaga, 22, Liberdade São Paulo, SP
Tel: (11)3209.8499

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Guia Michelin que nada! Quem julga é a Nonna!

Só para deixar mais divertido, agora é assim que classificarei os restaurantes que visito. Espero que gostem das aparições da Nonna, que estará cada vez mais presente por aqui...

domingo, 18 de novembro de 2007

Delhi Palace

Oooops... que maldade esquecer-me de comentar sobre esse lugar. Já havia ido uma vez, com Allex e dois amigos, mas, um pouco tímidos, sem saber o que pedir num cardápio tão vasto, acabamos não sabendo escolher direito e terminei a noite não muito satisfeita. No entanto, nesta última quinta-feira de feriado, resolvi dar uma nova chance ao lugar. Ainda bem!

O Delhi Palace é um lugar simples. Ainda que repleto de mobiliário e objetos de decoração indianos, ele não impressiona como outros restaurantes étnicos mais caros. No meio da avenida Juscelino Kubitschek, ele poderia desaparecer entre mecânicas e show-rooms, e um passante jamais notaria o prédio vermelho de dois andares, mesmo sendo um prédio vermelho de dois andares. Seria uma pena, no entanto, deixar o restaurante passar batido.

Quem comanda a cozinha é de fato um indiano, Dinesh Rajput, que prepara um extenso e delicioso cardápio de legumes, peixes, carnes e frangos, muitos dos quais são preparados num forno de barro cilíndrico, típido da cozinha Tandoor, onde também são assados pães todos os dias.

Da primeira vez que fomos ao Delhi Palace, passamos rapidamente do couvert ao prato principal, o que se revelou um erro gigantesco. Desta vez, aproveitamos devagar a porçãozinha sequinha, crocante e sensacional de samosas de vegetais (pasteizinhos indianos) e cada um dos chutneys, molhos e pastas disponíveis, acompanhados de deliciosos pães Naan, achatados, assados na hora nas paredes do forno de barro. Chutney de manga, de tamarindo, de coco, hortelã, molho de pimenta (forte, muito forte, como avisa o garçom). Mais pão! Mais pão! Até não sobrar nenhum vestígio dos maravilhosos chutneys em suas tigelinhas.

Na hora de pedir, o melhor é pensar como aqueles restaurantes de praia que íamos com nossos pais, em que pedíamos um enorme prato de peixe, arroz e batatas, dividido entre toda a mesa, do que pensar em pratos individuais. Pedimos um perfumado arroz com especiarias e frutas secas (Navratan Pulau), um refogado de legumes e queijo coalho indiano em um molho cremoso e de sabores complexos, absolutamente delicioso (Navratan Korma), e, para o amigo não semi-vegetariano da mesa, um prato de cordeiro típico de Kashmir (Rogan Gosht), com um molho tão perfumado que nem Allex resistiu a passar-lhe o pãozinho Naan.

Para quem acha confuso demais um cardápio longo de coisas nunca dantes experimentadas, vale a pena visitar o lugar durante a semana, na hora do almoço, quando eles servem um farto (e inexplicavelmente barato) bufê, onde você tem a oportunidade de experimentar diversos pratos diferentes sem se sentir intimidado. Tudo assistindo a clips coloridíssimos de pop indiano!

Gostei, adorei, volto com certeza, recomendo sem dúvida.

Delhi Palace
Av. Juscelino Kubitschek, 1132, Itaim Bibi - São Paulo - SP
t: (11) 3073-1209

O fim de um preconceito

Sempre tive um preconceito contra o restaurante Quattrino que não sei muito bem explicar de onde veio. Não sei se por ter estado muito tempo ligado a celebridadezinhas, não sei se por ser famoso pelo tal "gnocchi da sorte" tradição muito mais argentina que italiana que, por algum inexplicável motivo, me irrita um bocado. De qualquer forma, ontem queríamos almoçar massa, queríamos comer fora, mas não queríamos pegar o carro para nada. Então, resolvi vencer meus preconceitos e ir ao Quattrino.

Sou obrigada a dizer que o lugar foi uma boa surpresa. Apesar do precinho um pouco mais salgado do que pretendíamos gastar num almoço casual de sábado, as massas estavam muito saborosas. Pedi um prato de fettuccine feito na casa, com camarões, lulas e molho pesto. Normalmente molhos pesto feitos com nozes não me agradam, pois adquirem um retrogosto amargo que considero bastante repelente. No entanto, este estava suave, e tudo o que eu sentia era o sabor fresco do manjericão, que combina maravilhosamente com frutos do mar, como se pode ver pela tradição culinária genovesa. Allex pediu uma massa recheada, simples, de queijo ao molho de sálvia, também muito boa, ainda que ele tenha achado a porção pequena em relação a meu prato (de fato). Ponto positivo para as torradinhas ao alho e salsinha do couvert, que vieram quentinhas, e para a ricotta temperada. Ponto negativo para os palitinhos de cenoura e pepino que, sem um molhinho no qual serem mergulhadas, ficam meio sem função na mesa, além do fato de as cenouras estarem amargas ao invés de doces.

De modo geral, o preconceito foi vencido. Como fomos cedo (e em fim de semana de feriado prolongado), o restaurante estava vazio e sossegado, e sentamos do lado de fora, pois nada reflete melhor um sábado de sol que um almoço ao ar livre.

Gostei.

Quattrino
Rua Oscar Freire, 506, Jardins - São Paulo - SP
t: (11) 3068.0319

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Pãozinho caseiro ainda é o melhor que existe

Nova padaria no bairro: Benjamin Abrahão, um ponto famosinho no Higienópolis, agora tem filial na minha rua. Lá fui eu experimentar — porque eu não consigo ver nada relacionado a comida abrindo perto de casa sem enfiar meu nariz para dentro da porta e fuçar (às vezes entro em restaurante que nem abriu ainda, só prá dar uma olhada na reforma e conversar com o dono).

O lugar é uma graça, todo branquinho e clean, bem diferente das padarias-serve-sopa-à-meia-noite que costumam ser cheias de fotografias de gosto duvidoso e materiais de ponto-de-venda de marcas de presunto e refrigerante. O ambiente é muito calmo e agradável, corrompido apenas por uma enorme geladeira de sorvetes Nestlé, um monstrengo azul num mar de tranquilidade pálida.

Os pães são todos muito bonitos, e satisfazem em parte minha necessidade de ver mais pães do que chocolates numa padaria. A única fonte de decepção foi a listagem de ingredientes de cada produto, onde eu podia ler, entristecida, as palavras "margarina" e "gordura hidrogenada". Lá fui eu fazer perguntas ao jovem chef responsável, que me garantiu que usam manteiga em alguns produtos onde ela é prioritária para o sabor e qualidade. Ok, para mim, qualquer receita onde originalmente se use manteiga tem como prioridade a mesma. No entanto, sei que é um fator que encarece demais os produtos... Hum...

Comprei pães franceses, pois são bastante básicos, e, para mim, um bom indicador de qualidade de uma padaria. Se o pão francês é uma droga, que dirá uma ciabatta?? O pãozinho passou no teste: não tinha gosto de mistura pronta comprada em atacadista. A ciabatta, comprada depois pelo Allex, também era saborosa. Mas faltava alguma coisa... O quê? A textura estava boa, o sabor estava bom, a cor perfeita, o molde ótimo. Ouso dizer, no melhor estilo Sazon (eca!) da coisa, que falta aquele amor que a gente coloca na massa quando faz o pão. Talvez, apesar da visível qualidade dos produtos da padaria, eu esteja muito mal acostumada às minhas farinhas orgânicas e/ou italianas, minha manteiga branquinha, meu azeite de oliva extra virgem, meu açúcar orgânico. Acho que, depois de um tempo, assim como a língua sente fácil a diferença entre a manteiga e a gordura hidrogenada, nada mais substitui o gosto do pão feito em casa, por nossas próprias mãos.

(Mesmo assim, vale a visita.)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Trattoria Cadorna

Estava reorganizando minhas fotografias no computador e, ao deparar-me com esta, achei que o lugar valia uma menção por aqui.

Quando estava em Roma, tive alguma dificuldade para encontrar bons lugares (a preços módicos) onde comer, pois tudo parecia-me excessivamente turístico. Um amigo recomendara-me esta trattoria, bastante longe do centro, há uns bons 20 minutos de caminhada da estação Termini, em uma ruazinha desconhecida, de apenas um quarteirão (Via Cadorna). Nenhum mapa turístico mostrava-a; ficava imaginando que a rua deveria ficar a uns 2,5cm do fim da página do guia. Por isso, precisei pedir informações a pelo menos 3 romanos apressados e sem paciência até encontrá-la.

Como eu não me lembrava do nome do restaurante, tive de perguntar ao garçom se havia algum Giovanni no lugar, pois o Norberto cansara de contar-me sobre o "o restaurante do Seu Giovanni", onde ele comera todos os dias durante sua estada em Roma.

Quem me dera eu também ter comido lá todos os dias. Por 16 euros, comi um prato fartíssimo do spaghetti primaverile que se tornou referência para qualquer spaghetti primaverile que eu coma em minha vida, água, 1/4 de garrafa de vinho tinto da casa, uma sensacional panna cotta com calda de chocolate e amêndoas, café (que veio com bombom) e uma dose cavalar de Grappa por conta da casa. Sem contar que pude conhecer o fofíssimo "Seu Giovanni", um velhinho rechonchudo que ficou felicíssimo ao saber que sua trattoria havia sido lembrada e recomendada do outro lado do mundo.

Voltei para o albergue ligeiramente embriagada, mas completamente feliz. E todas as vezes que preparo spaghetti primaverile em casa, lembro-me da Trattoria Cadorna, do Seu Giovanni, e me pego repetindo a mesma história para meu marido, pela enésima vez, cheia de saudades.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Pão do Pão

Quando tinha minha coluna de gastronomia no portal Onne,
lembro-me de ter escrito um texto imenso sobre a ausência de verdadeiras padarias em São Paulo. Em países europeus é muito comum aquela lojinha pequena, familiar, centenária, que produz excelentes pães artesanais, e nada mais. Não se vende frios, não se vende sorvete, não se vende revistas ou ração para cachorro. Pães e somente pães, variados e de qualidade, pois são feitos por alguém que se especializou nisso. Aqui, o mais comum é comprar aquele pãozinho francês sem gosto, pois foi feito por alguém sem paixão, que colocou na misturadeira industrial um saco de mistura pronta para pães.

Aparentemente, minha angústia será exterminada. Essa semana descobri um lugarzinho discreto e muito charmoso: Pão. Sim, a padaria chama-se Pão, e produz apenas pães e semelhantes, com 80% de ingredientes orgânicos, assados em pedra e com fermentação natural (sourdough).

Enquanto conversava com o rapaz no balcão, podia ver atrás dele outros funcionários produzindo a próxima fornada, numa cozinha bastante pequena, que se vê também da rua, através da janela. Aliás, o Pão é, por enquanto, apenas isso: uma cozinha, um balcão pequeno e três mesinhas para quem quiser um café, uma fatia de torta ou um sanduíche. A decoração faz um gênero rústico-muito-bem-planejado-por-um-decorador-que-manja-das-coisas, com painéis de madeira escura e sem verniz, dentro e fora da padaria. A lista de produtos ainda cabe em uma página, e eles ainda não abrem todos os dias. Mas se depender da paixão do funcionário, cujos olhos brilhavam ao me explicar o propósito da padaria, o negócio vai longe. "Nossos pães são feitos com ingredientes orgânicos e com muito amor", disse-me ele. Há quanto tempo você não ouve isso em sua padaria?

Recomendo. Vão. Conheçam. Experimentem. Ajudem o Pão a crescer! hehehe...

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Obá!

Ontem saí para jantar com o Gui, e voltamos a um restaurante nas proximidades ao qual já havíamos ido uma vez: o Obá. O lugar é lindo, a decoração é bonita, rica em detalhes cheios de personalidade e bastante colorido. Eu poderia livrar-me das mesas e morar lá. O cardápio é uma estranha mas bem sucedida mistura de cozinha mexicana, brasileira e tailandesa, com opções para todos os gostos e uma variedade interessante de petiscos (poucos veggies) para quem quiser só bater papo e beber alguma coisa.

Na primeira vez, pedi o robalo ao curry em folha de bananeira, apimentadíssimo e delicioso, com arroz jasmim, que eu adoro. A porção era bastante para mim e fiquei com dó de deixar alguma coisa no prato, pois havíamos pedido petiscos antes, e quando o peixe chegou, eu estava quase satisfeita. Desta vez não cometi o mesmo engano e fui direto para o principal: pedi um pad thai de camarão, um macarrãozinho frito com camarões e tofu. Estava muito bom, e apesar da tigela de massa ser bastante grande, comi tudo e lambi os dedos. De sobremesa, algo que eu adoro desde criança: arroz doce. Mas a versão tailandesa, com arroz preto, leite de coco e manga fatiada. Quando chegou, achei a porção pequena, principalmente em relação ao pastel de trés leches (bolo mexicano de leite) que o Gui pediu. Mas estava tão gostoso, docinho, al dente, perfumado, que eu comi às colheradinhas e nem pareceu tão pequeno.

Continuarei voltando ao Obá, e recomendo a quem quiser conhecer. Só as tortillas deles é que são engraçadas, e lembram um pouco fritopan...

Obá: Rua Melo Alves, 205, Jardins.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Brasil a gosto

Aniversário de minha irmã, tia de Los Angeles visitando, terça-feira... para mim todos são motivos válidos para se conhecer um restaurante novo. Hoje, descobrimos uma casa escondida numa ruela, travessinha da Barão de Capanema, nos Jardins, chamada Brasil a Gosto. O restaurante serve comida brasileira de todos os cantos, num ambiente muito bonito, claro e preocupado com detalhes charmosos.

O couvert foi manteiga comum, de alho e uma pastinha de legumes saborosíssima, passados sobre biscoito de polvilho, pãozinho de queijo, de abóbora, comum e com ervas. De entrada, pedimos bolinhos de arroz, deliciosos, crocantes, sequinhos por fora e desmanchando por dentro, que vêm com um molhinho vinaigrette e um de pimenta para os apaixonados por emoções fortes.

Pedi uma Pescada Cambucu com vatapá e acarajé dos Santos. O peixe, absolutamente no ponto, desmanchando no garfo, estava no centro de um purê laranjíssimo, e cercado de acarajés crocantes, do tamanho de azeitonas. Bonito para os olhos e bom para o paladar. Minha irmã pediu carne seca desfiada com batatas-doces douradas, e também raspou o prato com gosto. Titia desde cedo queria almoçar um filé, então quis o filé mignon com angu e legumes. Disse ela estar tudo à perfeição, e, de fato, havia muito tempo que eu não via legumes tão frescos e tão no ponto. Mesmo minha mãe, que não quis passar da saladinha verde, teceu inúmeros elogios ao molho da salada e ao frescor das folhas.

Satisfação total.

Apenas nas sobremesas a coisa derrapou um pouquinho. Mas parece que é tendência dos restaurantes desse tipo (desse preço, desse serviço, etc), pecar nas sobremesas pelo sem-gracismo ou pelo super-docismo. Foram ambos, nesse caso. A tortinha de massa de castanha de caju, recheada de chocolate e com geléia de cambuci parecia bom em teoria. Mas o chocolate matou o gosto das castanhas e era molenga demais para uma casca dura demais. A geléia que prometia refrescância terminou de deixar tudo simplesmente enjoativo. Minha irmã pediu a bananada (que era um purê de banana) com sorvete de natas e biscoitos, mas também não pareceu muito empolgada à primeira mordida. "É... nada demais...", disse ela.

Cafézinho excelente, no entanto.

No fim das contas, gostei e recomendo. Todo o cardápio (inclusive há uma parte especificamente vegetariana) parecia muito apetitoso. Voltarei com certeza. Mas vou deixar a sobremesa por conta da Häagen-Dazs da Oscar Freire.

:: Tudo isso mais bebida de cada um deu por volta de 60 reais por cabeça. ::

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pasta e piselli

Não sei por que me lembrei dessa história hoje... Quando estava na Itália, confesso que passava ao menos 1 hora antes das refeições vagando a esmo, procurando onde comer. Depois de alguns desapontamentos, deixei de seguir as sugestões do guia de viagens, e fugia como diabo da cruz de qualquer espelunca que tivesse menu bilíngue. Queria comer como os italianos, não como os turistas.

Era já tarde da noite e estava completamente perdida em Roma, quando encontrei esse restaurantezinho minúsculo, sem nome nem nada. Promissor, pensei. Como o lugarzinho em Genova, onde comi meu melhor fusilli al pesto, o restaurante tinha uma velhinha na cozinha e outra no salão, que, após sentar-me em uma mesa, pediu-me para que a ajudasse a amarrar o avental. Para o couvert, ela ia até aquela estante com compartimento para pão e cortava as fatias na hora, devagarinho para não cortar os dedos idosos. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, havia já uma jarra de vinho branco à minha frente e fatias grossas de pão rústico. Uma terceira velhinha, sentada na mesa ao lado, começou a puxar conversa em dialeto romanesco, e eu lhe respondia como podia às meias palavras que conseguia captar.

Foi apenas quando outras pessoas chegaram, clientes fiéis, recebidos com abraços, que me dei conta (captando mais uma vez as meias palavras de um italiano nada acadêmico), que o único prato servido àquela noite seria uma massa com ragù di carne. "Meraviglioso! Buonissimo!", dizia-me a velhinha, sorvendo o caldo grosso de seu prato. O que é que se faz numa situação dessas? Eu já havia deixado de comer carne havia um bom tempo, e não pretendia recomeçar o hábito naquele momento. Também já bebera bastante vinho e comera toda a minha porção de pão, e não encontrara nenhum outro lugar que me apetecesse. E, deuses!, já eram quase 10 da noite, e eu ainda precisava descobrir como voltar para o albergue, do outro lado da cidade.

Puxei a senhora de avental que atendia o salão e expliquei-lhe meu problema, ao que ela respondeu com a cara de "ai, ai, ai" que a maioria dos italianos faz para vegetarianos. Sem problemas, disse ela, "ci sono dei piselli". Hein??? Pi-o-quê? Quando vi, ela trazia já da cozinha um prato fumegante de penne, ervilhas e grana padano ralado. Ah... ervilhas! Um pouco decepcionante para quem ainda não está acostumado à cozinha mais simples, mas as ervilhas eram fresquíssimas, o queijo de qualidade e a massa cozida à perfeição. Foram 10 euros por tudo, a experiência de ver como seria um restaurante gerido pela minha avó, e lá fui eu me perder de novo, como de praxe. (Ah, a placa "Un pasto senza vino...", da foto ao lado, é dali.)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Esfihas do Rosima

Não, não é mérito meu. Essas esfihas foram compradas em um dos meus lugares favoritos: Rosima, um botequinho árabe que existe desde a minha infância, na Rua Pamplona. Para quem só come Habbib´s e acha que aquilo é esfiha, essas do Rosima são um choque. Massa deliciosa, um exagero de recheio e um sabor sensacional. A de ricotta é quase doce de tão fresquinha. A de vegetais é uma mistura de escarola refogada com alho e cebola, passas, nozes e pinolis. A de zátar foi o Allex quem comeu, e não deu nem tempo de experimentar. Nos meus áureos tempos carnívoros, eu devorava as esfihas de carne e os quibes gigantescos. Há uma miríade de pastinhas e quitutes árabes, todos muito frescos e muito, muito saborosos. Recomendo, recomendo, recomendo! (E eles fazem versões miniatura para festas, também!)

Vai lá: Rosima — Rua Pamplona, 1738, Jardim Paulista, São Paulo. Abre todos os dias, inclusive de domingo, quando funciona até as 20h.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Eu adoro o Mercadão!


O lado ruim de ser freela é o pânico que dá às vezes de não saber se amanhã você vai ter trabalho. Nervos de aço! O lado bom é que você pode tirar uma manhã inteira para cuidar da sua vida. E foi o que eu fiz hoje. Mandei arrumar umas calças que estavam largas, fui buscar minha toalha na costureira (ficou perfeita!), e resolvi dar um pulo no Mercado Municipal (menos de 10 minutinhos de carro) para comprar queijo. Tudo porque ultimamente ando com siricutico de queijo ralado. Não agüento mais aquela serragem salgada de pacotinho, mas também não há orçamento familiar que suporte o preço de um bom pedação de queijo no supermercado. Ainda mais nos Jardins! Daí o pulinho no mercado.

Comprei meio quilo de um Grana Padano italiano maravilhoso e fresquinho pelo preço de 300g de um Faixa Azul no supermercado do meu bairro. E antes que alguém ache um absurdo usar o Grana prá ralar, já explico que o Grana Padano é meio que a versão genérica do Parmigiano-Reggiano, meu queijo-perdição, esse sim pecado ralar pelo preço que é por aqui! Enquanto meu queijo-maravilha-pedacinho-picante-do-céu só pode ser produzido numa região reduzida entre a província de Parma e de Reggio-Emilia (daí o nome), e tem que usar uma técnica xis de produção, com as vacas ípsilon, que vivem livres comendo mato de excelente qualidade, o Grana Padano pode ser feito em várias regiões da Itália, obedecendo regras de produção um pouco menos restritivas, o que resulta em uma variação bastante grande de queijos, a preços mais reduzidos. Ele é o queijo duro mais usado por lá para ralar. Então não é pecado não!

Era já hora do almoço quando comprei o queijo, e resolvi aproveitar e passar no Hocca Bar para comer alguma coisa. Um pastel sensacional de bacalhau e um choppinho depois, resolvi que adoro minha vida e achei melhor voltar para casa, que minha folha de zona azul venceria em 5 minutos. Resisti à tentação de comprar mais quitutes (difícil, muito difícil), e comecei a voltar para casa.

É claro que eu me perdi. Seguindo a tradição que comecei na Itália, em que sempre que bebia durante as refeições acabava pegando o caminho errado para o albergue, perdi o viaduto para a Zona Sul e fui parar no Museu do Ipiranga. Normalmente eu não estresso com essas coisas. Gosto de me perder, porque é o melhor meio de aprender caminhos. E fez-me pensar em pegar o próximo sábado de sol e dar um pulo no Museu e fazer um piquenique no jardim, reformado e lindo.

Resumindo, demorei 1h30 para chegar em casa. Mas os apertos sempre valem a pena pelo meu queijinho supimpa pela metade do preço, e pelo pastel de bacalhau do Hocca!

DICA: Prá saber se o queijo está fresco, você deve observar a junção da casca com o miolo. Quanto mais dourada, melhor. Conforme o queijo vai envelhecendo e ressecando (o ressecamento é a morte do queijo), ele vai ficando esbranquiçado nessa mesma área, até que a casca fique bem separada visualmente do miolo. Para conservá-lo melhor (e isso vale para qualquer queijo duro), tire-o do plástico, se houver, e envolva-o muito bem com papel-manteiga, embrulhando-o em seguida com papel alumínio. Isso evitará a perda de umidade. Se for usá-lo para ralar, é mais fácil se o fizer com ele recém-tirado da geladeira. Se quiser consumi-lo aos bocados, depois do jantar, tire-o e desembrulhe-o antes da refeição, para que volte à temperatura ambiente.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

I Vitelloni

Eu estava bastante sem paciência para comer pizza mais uma vez, quando meu amigo indicou a I Vitelloni. Quando estacionamos em frente, no entanto, apaixonei-me instantaneamente por sua atmosfera caseira, aconchegante e tranqüila, como tantos restaurantes que conhecera na Itália. Já entrei esperando o melhor.
Fomos atendidos por um garçom incrivelmente simpático e entusiasmado, que imediatamente começou a falar sobre os azeites aromatizados que ele mesmo produzia e engarrafava e que eram servidos no local. Pedimos uma cesta de pães e grissini fumegantes e macios e começamos a degustar, um por um, os 8 azeites que ele colocara em nossa mesa de toalhas floridas: manjericão, alho, azeitona preta, pimenta rosa, coração de alcachofra, limão siciliano, o tradicional de alho, pimenta e alecrim e o chamado "dragão", uma profusão de pimentas malaguetas em um pouquinho de azeite, com o qual ele recomendou "cuidado".
A pizza, metade margheritta, metade alho-poró com queijo mascarpone, estava deliciosa, massa nem muito fina nem muito grossa, cobertura sem exageros, mistura de sabores ótima.
No final, minha irmã quis uma sobremesa, que meu amigo e eu recusamos. Ela pediu sorvete, feito na casa com uma máquina italiana que (segundo o garçom) era uma de apenas três ainda existentes no mundo. Lógico que quisermos experimentá-lo. Duas bolas, uma de hortelã, ainda com pedacinhos das folhas, e outra de chocolate com avelãs. O sabor de ambos era tão fresco e sua textura tão suave, que decidimos de imediato pedirmos também para nós, desta vez um sabor novo, carro-chefe da pizzaria: mel, feito com o mel produzido pelas abelhas do sítio do chef do I Vitelloni. Também havia de erva-cidreira, de manjericão, rosas, camomila, gengibre, canela e creme.
Outro garçom, igualmente simpático, ficou profundamente feliz quando elogiamos os sorvetes, e disse que era ele mesmo quem os preparava todos os dias, e que outros restaurantes os compravam também.
Então vai minha mais sincera recomendação: I Vitelloni, para pizzas gostosas e de combinações diferentes (como mozzarella, ementhal suíço e estragão, ou Lingüiça Dragão, com a lingüiça feita também na casa, ricotta fresca e azeitonas pretas), e sobremesas melhores ainda. A boa notícia é que eles entregam, influsive o sorvete, em embalagens de 900g.

I Vitelloni
R. Conde Sílvio Alvares Penteado, 31, Pinheiros
Tel.: 3819-0735
www.ivitellonipizzeria.com.br

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Pasquale

A casa que começou vendendo apenas antipasti é simpática, com serviço atencioso e ambiente agradável. Mas deveria ater-se somente àquilo que faz de melhor. A berinjela barese e a sardella são extremamente saborosas; você tem vontade de mandar embrulhar um pouco para levar para casa depois do jantar (aliás, você pode fazê-lo, a R$6,80 100g de qualquer antipasto). As massas, no entanto, deixam a desejar. Quando li a descrição do "penne caprese", lembrei-me do spaghetti primaverile que comera em Roma, com tomates-cereja esmagados, grandes punhados de manjericão fresco, e mozzarella de búfala despedaçada derretendo suavemente entre os fios de massa.

Porém, vi decepcionada um prato de penne, como um monte solitário de pasta sem molho, cercado minuciosamente de uns 6 tomates-cereja cortados ao meio e umas 6 bolinhas de mozzarella, graciosamente intercaladas. O manjericão farto que eu esperava eram folhinhas minúsculas individualmente repousadas sobre cada uma das metade de tomates. Muito bonitinho, pensei. Mas onde está o molho?

É claro que não importava o quanto eu mexesse o garfo no meu prato, o macarrão não pegaria jamais o gosto daqueles três ingredientes esparsamente distribuídos. De modo que terminei minha noite mais uma vez frustrada, pensando por que alguém que tem um restaurante italiano se importaria tanto com a aparência do prato ao ponto de prejudicar seu sabor... Seria influência dessa onda de gastronomia, em que o mais porcaria dos botecos tenta aparentar sofisticação na aparência ao invés de... ahn... melhorar seus pratos? Por que um lugar como o Pasquale, que obviamente sabe o que é servir boa comida, se renderia a uma tendência como esta?

Paguei minha conta, àquela noite, pensando que talvez tivesse sido mais proveitoso pedir um antipasto atrás do outro, pulando o prato principal e indo direto à sobremesa...

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

"Espetinho" (Updated)

Não se trata de um restaurante. Aliás, não é sequer um bar. Em uma esquina tranqüila de Perdizes, alguém resolveu construir uma grande churrasqueira dentro de uma casa antiga, espalhar mesas e cadeiras de plástico na calçada sob um toldo vermelho esmaecido e colocar a família para trabalhar. Não tinha fé de que fosse um bom lugar para ir àquela noite, pois estava com muita fome, e meu amigo me dissera que o lugar servia apenas espetinhos. "Se tiver espetinho de abobrinha, não tem problema", brinquei, apreensiva. E não é que, para minha total surpresa, não só serviam espetinho de abobrinha mas também de berinjela temperada?

O "Espetinho", como todos chamam o lugar, foi uma experiência muito mais agradável do que eu esperava. Todos os espetos (não importando se são de carne, salmão ou simplesmente pão com alho) custam o mesmo preço: menos de 2 reais. Muito baratos em relação a sua qualidade. A bebida também é em conta, e você pode escolher entre chopp e cervejas em lata. Tanto os espetos quanto as bebidas são levadas em uma bandeja por entre as mesas, deixando que o freguês se sirva daquilo que ele quiser, a não ser pelos espetos de legumes e peixes, que devem ser pedidos à garçonete.

Se você quiser sair com seus amigos para comer uma comida bastante simples mas preparada corretamente, beber cerveja num preço justo e lembrar os tempos de faculdade, esta é uma excelente opção.

Endereço: esquina da rua Caraíbas com rua Wanderley (Cel. Melo de Oliveira), Perdizes. (Aceita-se VISA.)

[UPDATE: fui lá de novo, e o lugar mudou de endereço, umas esquinas para o lado. Estava gostoso, mas o "serviço" deu uma caidinha.]

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Mestiço

Como eu disse no outro tópico sobre comer fora, está cada vez mais difícil. Tantas boas recomendações, mas o Mestiço não passou de uma grande decepção.

Antes mesmo de pensar em comida, a circulação do ambiente é péssima para os garçons; vê-se que não houve um bom planejamento do número e disposição das mesas. Se inclinasse minha cabeça para trás, acertaria a careca do homem sentado atrás de mim. O atravancamento de mesas causou também um efeito direto na qualidade do serviço: como os garçons não alcançavam todas as partes da mesa de 14 pessoas que havíamos reunido, ouvimos frases como "toma seu prato" e "me dá seu prato aí", seguidos de malabarismos meus e de meu namorado com nossos pratos, tentando passá-los à garçonete por cima da cabeça de nossos amigos. Até então, desagradável, mas facilmente perdoável por uma boa experiência gastronômica. O que, fatidicamente, não ocorreu.

Não comendo carne vermelha ou de aves, minhas opções resumiram-se a saladas muito simples para seu elevado preço, massas cujos ingredientes eu tinha em casa e peixes que pareciam saborosos, mas cujo preço deixava um gosto amargo na boca. Com orçamento limitado àquela noite, pedi o peixe que me parecia mais interessante dentre os mais em conta: salmão teriaki com batatas grelhadas. Não há como estragar um prato tão simples, pensei. No entanto, a batata (porque era de fato 1 batata pequena fatiada) estava fria, sem sal, e não havia sido grelhada o suficiente para cozinhar por igual. O salmão, que poderia salvar o prato, tinha gosto de peixe. Ria o quanto quiser, mas peixe fresco não tem gosto de peixe, não tem aquele cheiro do porto de Santos. Peixe fresco lembra gosto de mar. Estava claro que o peixe havia sido congelado, comprometendo um prato que depende completamente da qualidade de um único ingrediente. Fiquei pensando se o chef do restaurante já ouvira falar em ervas... Você precisa ser muito confiante da qualidade de seus ingredientes para fazer algo assim tão simples, e obviamente, algo deu muito errado no meio do caminho.

O que salvou meu prato, e que me deu vontade de andar até a cozinha e sugerir ao chef, foi o chutney doce e espesso como goiabada que havia sido servido à parte para o curry de legumes de meu namorado. Apossei-me dele e espalhei-o sobre o peixe e sobre a batata, o que enfim possibilitou que minha boca sentisse algum gosto agradável. Vai uma dica, então: salmão grelhado com chutney de manga.

Definitivamente, não tenho a menor intenção de retornar a um restaurante que me obriga a "consertar" minha refeição à mesa. Espero que outras pessoas tenham menos senso crítico e tenham apreciado seu jantar de 50 reais.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Comer fora

Quem gosta de cozinhar vai concordar comigo: conforme você se aventura no mundinho da culinária, fica cada vez mais difícil jantar fora. Dizem que São Paulo é a capital mundial da gastronomia. Eu digo que não. Pode ser que haja uma variedade imensa de restaurantes na cidade, mas quando a conversa é qualidade dos ingredientes e cuidado no preparo, tudo muda de figura. Foi difícil escolher, num outro dia, um restaurante simples onde um amigo e eu pudéssemos almoçar decentemente. Tendo ele começado a se interessar pela cozinha, dividiu comigo sua insatisfação ao perceber que os pratos oferecidos pela maioria dos bistrôs da região, por cerca de 26 reais, não eram nem um pouco melhores do que aqueles que preparamos em casa, por 1/5 do valor. Não me animo a comer massas em restaurantes, pois raramente me deparo com alguma receita inédita ou algo que de fato valha seu preço.

Eu tinha uma idéia romântica da cozinha de um restaurante até passar meu dia em uma. Observei, com uma revolta resignada, os cozinheiros tirando do freezer o macarrão e o risotto já cozido pela metade (em caldo de legumes industrializado), e a produção de um pão para couvert que não deu certo pois o fermento fresco já não era fresco havia duas semanas. Eu entendo que seja necessário, em um restaurante movimentado, deixar o alimento o mais pronto possível para que o cliente não aguarde 40 minutos por seu prato. Mas quando a qualidade do prato é comprometida são outros quinhentos. Aliás, são esses quinhentos que me incomodam, pois eles saem do meu bolso rapidamente em troca de um risotto de terceira categoria, e, infelizmente, meu bolso ainda não é cheio o suficiente para bancar os restaurantes que de fato têm azeite extra-virgem na mesa, e não azeite comum em uma garrafinha oleosa reutilizada oitenta vezes.

Cozinhe isso também!

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