quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Gnocchi de beterraba e pudim de morango: uma refeição cor-de-rosa

Sou a pior formadora de bolinhas de gnocchi do mundo. Fato.
Num ótimo livro do Neil Gaiman, um demônio dirigia um carro cujo toca-fitas, depois de uma semana, transformava qualquer fita em Fred Mercury. O que parecia insuportável para o demônio, para mim, não é problema nenhum. Se existe uma coisa que me deixa de bom humor infinito e instantâneo é ligar o carro e estar tocando Bohemian Rhapsody no rádio. Dirijo de vidro aberto, som alto, cantando forte e chacoalhando a cabeça, no melhor estilo Wayne's World. Ainda bem que a Castelo Branco é uma reta, e possibilita head-banging sem causar acidentes de trânsito. ;)

Bom humor instantâneo é também ser acordada com uma xícara de café. Nem Thomas me cutucando me tira tão rápido da cama quanto o cheiro de espresso recém-tirado.

Ou descobrir que meu pezinho de acelga italiana (bietola) cresce de novo toda vez que eu corto as folhas, e vira um pezão gigante e bonito, que nem as lesmas conseguem destruir, e vale uma refeição inteira a cada quatro semanas, que é o tempo que ela leva para crescer de novo. Maravilha, considerando que eu plantara um bocado delas e essa foi a única sobrevivente dos tempos de chuva.

Ou ver vizinhos recolhendo o cocô do cachorro. Acredite em mim, acho isso um evento tão raro, que quando vejo alguém no ato, não contenho um sorriso. Tenho vontade de ir até o transeunte e dar um abraço, dizer obrigado por ter consciência, por ter respeito pelos vizinhos, por impedir que nossa vizinhança seja dominada por moscas nojentas.

Ou quando Thomas diz "dagão", segurando seu dragão vermelho e laranja, presente da tia Wenddi, que conseguiu encontrar um dragão igualzinho ao desenho do quadrinho de maternidade do Thomas. Garotinho épico, que vai ganhar sua primeira espada de plástico de três reais no Natal.

Ou quando Laura sai "engatinhando" de bumbum, gorduchinha, parecendo um Pogobol de carne e osso. Tóin, tóin, tóin!

Em contrapartida, algumas coisas são capazes de transformar meu lindo dia de sol e passarinhos cantando em uma nuvem negra e pútrida de mal humor e chuva ácida, muito rapidamente. Ou, pelo menos, causar aquela irritaçãozinha que faz os pelos da sua nuca se eriçarem.

Louça empilhada no escorredor de qualquer jeito que não seja: menores e quebráveis embaixo, maiores e resistentes por cima, pratos organizados por ordem de tamanho, maiores atrás, menores na frente. Ainda vou escrever uma tese sobre análise de personalidade de acordo com o modo como as pessoas empilham a louça no escorredor.  Sei reconhecer quem lavou a louça em casa pelo modo bizarro com que a empilharam na pia. Meu marido vive perigosamente e empilha coisas quebráveis por cima de tudo. Minha mãe ignora o porta-talheres, o porta-copos e até os encaixes dos pratos e empilha os pratos encharcados na pia, como se estivessem sujos. Isso me deixa LOUCA. Meu pai é engenheiro e o escorredor para ele é peça de decoração, pois ele seca tudo e guarda depois de lavar. Isso eu acho legal, apesar de ser meio T.O.C.

Fio de cabelo grudado na parte de trás do seu braço, que você sente te fazer coceguinhas o dia todo mas não consegue encontrar pra arrancar fora, e fica feito uma louca no meio da rua, com tique de ficar batendo no próprio braço e coçando o cotovelo feito macaco.

Gente que fala "assêto balsâmico". Se é pra falar o nome original, pronuncie direito: "atchêto", como "atchim" e não como "assim". Senão, fale "vinagre balsâmico", que é o que aceto quer dizer e fica menos pretensioso. (O mesmo vale para cada vez que vou numa padaria e me oferecem "siabata". TCHiabata, pelamordedeuspai.) Eu sei que pareço esnobe falando isso, mas realmente me dá um siricotico.

Gente que coloca artigo na frente do verbo no infinitivo, em particular quando se referindo a coisas simples e inatas, tentando dar mais importância ou seriedade ao tema (ou a seu envolvimento nele). Exemplo: "O Brincar". Cada vez que alguém começa uma frase dizendo "O Brincar é..."eu tenho vontade de levantar e sair andando sem nem me explicar.

Cappuccino saído de um potinho. Errado. Simplesmente errado.

Gente que não sabe a diferença entre sarcasmo e ironia.

Quando você pede um espresso num café qualquer, moço tira o espresso com uma espuma bonita e deixa a danada da xícara ali, sentada na gradinha da máquina, esperando sabe-se deus lá o quê. Dá vontade de pular o balcão, dar um pescotapa no atendente e pegar meu café enquanto ele ainda está razoavelmente quente e com espuma decente. 

Mulher que grita histérica quando encontra uma amiga num local público. Sério. Por quê?

Aí tem daquelas coisas no meio termo. Que deixariam outras pessoas possessas, mas que eu dou de ombros e rio um pouco.

Gente que mexe na comida com as mãos. O episódio do Rodrigo Hilbert metendo a mão na massa de bolo para colocar na forma, que (parafraseando meu marido) "deixou a comunidade blogueira em polvorosa". Vai pro forno? Podia mexer a massa com o joanete que eu não me importo. Muito mais irritante é povo cozinhando com luva de cirurgia.

Quando me dizem que minha saia não combina com minha blusa. O seguinte pensamento me vêm à mente: "um de nós trabalha com artes gráficas", seguido de "quem se importa, de verdade?".

Quando minha filha deixa o cachorro morder seu pão com manteiga e volta o pão mordido à boca antes que eu consiga impedi-la. Vitamina S. Quem nunca? Eu sei o gosto que tinha a areia do tanque de areia do prédio onde cresci e que os gatos da vizinhança fatidicamente usavam de banheiro. Saúde de ferro. ;)

O fato de que a fase princesa-cor-de-rosa me parece tão ridiculamente inevitável nas meninas de hoje em dia, que eu de fato fiz uma refeição inteira cor-de-rosa e pensei que minha filha talvez adorasse isso quando mais velha.

No entanto, não importa quanto Bohemian Rhapsody, e quanto tóin-tóin-tóin de Pogobol minha filha faça por aí, o que mais me tira do sério hoje em dia é passar meu tempo assando beterraba, cozinhando batata, formando as bolinhas de gnocchi mais disformes do universo, cozinhando couve, fazendo pesto, juntando tudo, chamando pimpolho pra ajudar a botar os gnocchi na água fervente e brincar de me avisar quais já subiram à superfície, servir tudo para a família... e o Matador-de-Dragões-Catador-de-Salsinha não experimentar NENHUM. E, por isso, depois de muito drama, ficar sem comer o pudim de morango.

¬_¬

Mau humor, teu nome é birra de criança.

Não vou chamar de panna cotta, não vou.
Os gnocchi de beterraba ficaram uma delícia com o pesto de couve-manteiga, e pelo menos Madame-Bochechas-Comedora-de-Pedras adorou e raspou o prato. O pudim de morango é fácil, e no livro do Bill Granger constava como "panna cotta de morango". Não. Não e não. Pudim de morango. Panna cotta é creme cozido. Nesse pudim vai morango e iogurte. Pudim. Pronto. E não adianta rolar os olhos e me chamar de chata. Esse sim foi sucesso absoluto com o pequeno. Meu paladar que não come Danoninho há pelo menos quinze anos achou que o pudinzim ficou muito parecido com o queijinho que vale por um bifinho (para pra pensar no absurdo desse slogan. ¬_¬). 

Taí. Uma refeição cor-de-rosa e deliciosa. Para melhorar o humor em dias que não começam com Fred Mercury.

GNOCCHI DE BETERRABA COM PESTO DE COUVE-MANTEIGA
(adaptado do livro Apples for Jam, de Tessa Kyros, e da revista Donna Hay)
Tempo de preparo: 1 hora + o tempo de assar as beterrabas
Rendimento: 4 porções generosas

Ingredientes:
(gnocchi)
  • 3 batatas médias, limpas mas ainda com casca
  • 1 beterraba pequena (ou duas bem pequenas, quase baby), assada e descascada*
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1/2 xic. parmesão ralado
  • 1 ovo grande
  • sal
(pesto de couve)
  • meio maço pequeno de couve, talos inclusive, cortados em tiras largas
  • 1/2 xic. folhas de manjericão fresco, sem os talos (só acomodados na xícara, sem apertar)
  • 3-4 castanhas do pará
  • 1/2 xic. parmesão ralado
  • 1 dente de alho pequeno, descascado
  • suco de meio limão (ou a gosto)
  • azeite extra virgem quanto baste
  • sal e pimenta-do-reino a gosto

* Para assar a beterraba, lave-a bem, para tirar resquícios de terra, espete com uma faca algumas vezes e embrulhe em papel-alumínio. Coloque no forno pré-aquecido a 180ºC-205ºC, e asse por 1 hora ou até que a beterraba esteja extremamente macia. Deixe esfriar na bancada, ainda embrulhada no alumínio, e então abra e retire a pele facilmente, descartando. Costumo fazer isso assim que compro beterrabas, e já deixo uma porção delas na geladeira, em pote fechada, para usar no que quiser. Dura mais de uma semana sem estragar e poupa muito tempo. O que você não usar, pode transformar em purê e congelar por meses.
 
Preparo:
  1. Cozinhe as batatas inteiras em água com sal até que estejam bem macias. Escorra e volte para a panela no fogo médio por alguns segundos, para terminar de secar. Passe num passa-verdura ou amassador de batatas junto com as beterrabas enquanto ainda estão quentes e descarte qualquer casca que tiver ficado presa no amassador. 
  2. Junte ao purê ainda quente a farinha, o queijo, sal a gosto e o ovo, e misture muito bem. Vai ficar grudento, mas você tem que ser capaz de moldar alguma coisa. Caso contrário, coloque mais farinha, mas muito pouco, ou os gnocchi vão ficar pesados.
  3. Passe a massa para uma bancada ligeiramente enfarinhada, divida a massa em porções menores e role salsichas compridas com elas, de não mais que 2cm de diâmetro. Corte em pedacinhos de 0,5cm a 1cm (lembre-se que os gnocchi inflam quando cozidos, então gnocchi menores são melhores), faça uma concavidade com o dedo (ou role no garfo ou no ralador, o que for sua pegada)  e deixe-os numa assadeira enfarinhada até a hora de cozinhar. 
  4. Aqueça uma panela grande com água e bastante sal. Cozinhe a couve por alguns minutos, até que os talos fiquem um pouco macios, mas as folhas ainda tenham um verde bem vivo. Retire com uma escumadeira e reserve a panela com água para cozinhar os gnocchi.
  5. Passe a couve na água fria para parar o cozimento e esprema bem nas mãos, para retirar o excesso de água. Coloque no processador ou liquidificador junto com todos os outros ingredientes. Junte um pouco de azeite e bata bem até transformar em um molho grosseiro. Vá juntando azeite até dar consistência de molho espesso. Acerte o tempero a gosto. Coloque uma parte do molho no fundo de uma travessa grande. (Você provavelmente só vai usar metade do molho para os gnocchi. O resto pode ser congelado para uso posterior.)
  6. Cozinhe os gnocchi na água fervente em três ou quatro levas, retirando com uma escumadeira conforme eles forem subindo à superfície e espalhando sobre o molho na travessa. Quando tiver cozinhado todos, junte mais um pouco de molho e misture. Sirva polvilhado e mais parmesão.

PUDIM DE MORANGO
(do livro Bill Granger Easy)
Rendimento: 4-6 porções, dependendo do tamanho dos potinhos

Ingredientes:
  • 400g morangos frescos, bem maduros
  • 250g iogurte natural integral
  • 185ml creme de leite fresco
  • 55g açúcar
  • 4 folhas de gelatina

Preparo:
  1. Bata os morangos e o iogurte no liquidificador até ficar homogêneo e passe numa peneira fina para retirar as sementes.
  2. Coloque o creme e o açúcar numa panela e leve à fervura branda, mexendo para dissolver o açúcar. Enquanto isso, coloque a gelatina em água fria e deixe amolecer um pouco, mas não desmanchar. 
  3. Esprema a gelatina nas mãos para retirar o excesso de água e junte ao creme quente, mexendo bem para dissolver.
  4. Remova do fogo e rapidamente misture ao iogurte de morango. 
  5. Divida em potinhos e leve à geladeira por no mínimo 8 horas, até firmar. Para servir, passe uma faquinha pelas laterais e inverta num prato.
 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Soba com berinjela e manga e picolé para arrematar (natal, pra quê?)

 O fim de ano do freelancer. Você entra naquela fantasia infantil, conforme dezembro se aproxima, de que sua falta de chefe propiciará controle sobre a própria agenda, e que, este ano – ah! este ano! – você conseguirá encerrar atividades no meio do mês e curtir duas semanas pré-natal descansando, lendo, cozinhando toda sorte de doces e biscoitos natalinos usando especiarias e frutas completamente em desacordo com a estação do ano do hemisfério Sul. Doce fantasia.

Aí aquele trabalho programado para a segunda-feira se arrasta em alterações até a semana seguinte, transformando aquele prazo mágico do cliente em mera sugestão descartada. Você se curva diante do computador até altas horas da noite, olhos ardendo de olhar para a tela, com a certeza de estar ganhando um atraente bico de papagaio nas costas, e uma tristezinha lenta por ter delegado seus filhos à sua mãe o dia todo, pelo décimo dia seguido. Queria ter preparado coisa melhor para o almoço, queria ter brincado lá fora com seu filho em meio às borboletas habitantes do pé de maracujá que cresce junto ao muro, queria ter construído aquele canteiro alto para a horta com as toras apanhadas de um terreno baldio há mais de um mês. Queria ter preparado torrone.

Mas respira fundo e agradece por ter trabalho para pagar a escola ano que vem, e continua no batente.

Último dia previsto de trabalho. O prazo não é mais mágico. Gráfica. Hoje. Acorda às dez pras seis com o choro da mais nova, depois de ter trabalhado até às duas da manhã na noite anterior. Faz um balde de café. Leva o mais velho pra escola, passeia o cachorro, arruma as camas, lava louça, pendura roupa que lavou durante a noite, prepara a massa na focaccia que o filhote vai levar pro piquenique da escola no dia seguinte. Faz outro balde de café. Liga pro cliente. Mais alterações de última hora. Bota a pequena pra cochilar e senta no computador. Trabalha, trabalha. Chove lá fora. Acaba a luz. O no-break permite que eu trabalhe mais vinte minutos e puft. Sem computador, sem internet. Gráfica. Hoje. Liga pro cliente. Explica a situação. Sente uma úlcera formando na boca do estômago. Arruma as coisas da casa que estão fora do lugar. Pega a pequena que acordou no berço, troca fralda, bota no cadeirão pra comer uma banana. Faz mais um balde de café. Liga pro cliente pra dizer que nada mudou, tudo ficou no lugar. Sem previsão da luz voltar. Gráfica. Hoje. Sente um aneurisma estourando atrás da orelha esquerda. Pensa em catar a pequena, o mais velho na escola e ir pra São Paulo trabalhar na mãe, que lá tem luz, tem internet e mais café. Mas lembra que o arquivo incompleto está dentro do computador desligado. Pensa em arrancar o arquivo de lá de dentro à la Zoolander. Melhor não. Pensa no almoço. Restô dontê. Tira da geladeira escura e desligada um grande pote com soba de manga e berinjela, um pedaço de fritatta de feijão branco e dente de leão colhido do jardim, pepinos fatiados finos e tomates cereja bem doces e deixa sobre a mesa. Pensa em deixar os pratos postos, mas lembra que talvez o pequeno queira fazer isso.

Pega a pimpolha, bota na cadeirinha do carro, dirige até a escola, tira a pimpolha da cadeirinha, anda na chuva fina até a porta da escola. Espera. "Você também está sem luz?" "Estou." "Tem previsão pra voltar?" "Não tem não." Entra na escola, anda até a sala, veste a mochila nas costas, enfia a alça da térmica no braço que segura a pimpolha, pega o outro pimpolho no outro braço, subindo-o no colo com uma mão só. Sente uma hérnia estourando em algum lugar perto dos rins. Leva as duas crianças na chuva até o carro. Pimpolho número 1 na cadeira. Pimpolha número 2 na cadeira. Mochila jogada no banco. Dirige de volta com a esperança vã de entrar em casa e ver ligadas as luzinhas de natal. Neh. Tira pimpolha da cadeira e bota no cadeirão. Pega pimpolho, leva pro quarto, tira o uniforme, bota roupa de brincar, leva pra fazer xixi e lavar a mão. Chama pra comer. Drama. Chama pra ajudar a pegar os pratos. Drama. Pega os pratos. Mexe na massa da focaccia e liga o forno no máximo. Pimpolho vem ver o que tem pra comer. Drama. Não quer soba. Gosta de soba, mas não quer soba. Os molares estão nascendo e rasgando as gengivas e o vinagre do molho faz arder. E a manga, queria manga doce, não manga salgada. A pequena come tudo. O pequeno come pepinos e tomates cereja e um pedaço minúsculo de fritatta.

Pega a picolé pros dois. Picolé de banana, iogurte caseiro, mel e canela. A pequena se refestela. O pequeno come sem fazer sujeira. Pede mais. Não. Biscoito. Não. Biscoooooito. NÃO. Drama.  
Manda brincar. Não quer brincar, quer biscoito. Não. Biscoito. Não. Quer desenho. Não tem desenho, não tem luz. Drama. Dente maldito, nasce logo, que você está deixando meu filho um chato. Manda mensagem pro cliente. Dá um jeito aí, usa a última versão, não sei quando entrego isso não. Lava a pimpolha imunda de picolé. Bota na sala com uma caixa de peças grandes de montar. O pequeno esquece o biscoito e vai brincar junto. Alívio. Lava louça. Limpa o chão da cozinha, imundo de soba, manga, berinjela, picolé, fritatta. Faz um balde de café e promete que esse é o último. Bota pequena pra cochilar.

A luz volta. Aleluia, aleluia, milagre de natal! Bota desenho pro pequeno ver e corre pro computador. Espera o arquivo imenso abrir. Espera. Espera. Faz as alterações. Manda achatar a imagem. Trava. Faz de novo. Trava. Volta. Achata a p*rra da imagem. Foi. Salva. Espera o arquivo imenso salvar. Manda mensagem feliz e reconfortante para o cliente. Vai subir o arquivo. Sua conta do xyz upload qualquer expirou. Faz o cadastro de novo. Um script não deixa seu arquivo subir. GRÁFICA. HOJE. O pequeno, que tinha dormido vendo desenho, acorda chorando. A pequena, que estava cochilando no berço, acorda chorando. O timer toca avisando que é pra colocar a focaccia no forno. Vai colocar a focaccia no forno e descobre que o gás acabou. Isso te vem à mente:


Pega a pimpolha aos berros no berço, bota no cadeirão e dá uma banana. Pega o pimpolho aos berros e dá um biscoito. Maldito biscoito. Desliga o gás, tira o botijão velho, bota o botijão novo, liga o gás, liga o forno no máximo, checa a focaccia. Corre para o computador, para o upload travado, procura outro site, faz outro cadastro, sim aceito os termos e condições, clica no link recebido no email, não, não quero promover minha conta gratuita para uma muito melhor só que paga, sobe o arquivo. Arquivo "subido". Liga pro cliente. Tudo certo. Tira pimpolha do cadeirão, lava a cara de banana, bota pra brincar de andar pela casa, segurando as mãozinhas. Pimpolho te chama na cozinha. Biscoito. Não. Biscoito. Não. BISCOITO. NÃO, P•RRA, ESPERA O JANTAR. Bota desenho. Bota pimpolha no cercadinho. Corre pra atender celular. Gráfica. Imprime assim. É. Esse tamanho. Responde email. Dobra roupa limpa. Separa. Guarda nas gavetas. Bota focaccia no forno. Parou de chover, bota o cachorro no quintal pra fazer xixi. Dá biscoito pro cachorro. Criança vem pedir biscoito. FOME. Quer macarrão? Quer. Jantar mais cedo. Bota nenê no cadeirão. Faz molho de alho, tomate cereja, e alcaparras. Rala parmesão. Pimpolho vem pedir queijo. Dá queijo. Cozinha macarrão. Tira focaccia do forno. Grudou nas laterais. Cata espátula para desgrudar. Queima o dedo. Queima o dedo de novo. Pimpolho está impaciente com o macarrão. Cadê o macarrão? Fome. Bate embaixo da focaccia. Não está pronta. Volta pro forno. Escorre o macarrão. Serve.

Observa tranquilamente enquanto as crianças comem. Respira.
Retira focaccia do forno. Bota na grade pra esfriar.

Bota as crianças no banho. Laura, senta. Senta, Laura, não pode ficar de pé na banheira. Thomas, para de jogar água no rosto da sua irmã! Tira a pequena, bota roupa, bota no chão do quarto. Vai pegar o outro. Pequena prende o dedo na gaveta enquanto isso. Volta correndo pra soltar o dedo e dar bronca. Dá um brinquedo na mão pra se distrair e não prender o dedo na gaveta de novo e vai pegar o outro. Bota pijama e manda ir brincar e esperar o papai chegar. Bota pequena no cercadinho na sala. Lava louça. Bota o cachorro pra fazer xixi de novo. Papai chega. Pega email. Deu tudo certo. Vai tomar banho. Nina a pequena, bota no berço. Pega o mais velho. Escova os dentes. Faz xixi. Vai pra cama. Conta história. Vai pra sala. Abre a geladeira. Apanha o pote do que sobrou de soba com berinjela e manga e leva pra sala. Volta pra geladeira, apanha uma Guinness. Senta no sofá. Respira.

É por isso que não tem uma série de natal esse ano aqui no blog.

SOBA DE MANGA E BERINJELA
(do lindo Plenty, de Yotam Ottolenghi)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1/2 xic. vinagre de arroz
  • 3 colh. (sopa) açúcar
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 2 dentes de alho, amassados
  • 1/2 pimenta vermelha fresca, picada finamente
  • 1 colh. (chá) óleo de gergelim
  • casca ralada e suco de 1 limão tahiti
  • 1 xic. óleo de girassol
  • 2 berinjelas médias, cortadas em cubos de 1,5cm ou tiras de 0,5cm de espessura
  • 220-250g soba
  • 1 manga grande e madura, cortada em cubos pequenos ou fatias finas
  • 1 2/3 xic. manjericão fresco, picado
  • 2 1/2 xic. coentro fresco, picado
  • 1/2 cebola vermelha, fatiada finamente

Preparo:
  1. Numa panela pequena, aqueça gentilmente o vinagre, açúcar e sal por um minuto, apenas para dissolver o açúcar. Remova do fogo e junte o alho, pimenta e óleo de gergelim. Deixe esfriar e junte as raspas de limão e o suco. 
  2. Numa frigideira grande, aqueça o óleo e frite a berinjela em três ou quatro levas. Uma vez douradas, remova para um escorredor e polvilhe com sal, deixando escorrer.
  3. Cozinhe o soba em abundante água fervente, mexendo ocasionalmente. Escorra enquanto estiver ainda al dente e passe sob água fria. Tente tirar todo o excesso de água. Reserve.
  4. Numa tigela grande, misture o soba, o molho, a manga e a berinjela, mais metade das ervas e metade da cebola. Você pode deixar o prato assim, em temperatura ambiente, por 1 ou 2 horas, se quiser. Quando quiser servir, junte o resto das ervas e cebola e misture bem.

Obs1: Fritei as berinjelas em apenas um fio de óleo e ficou muito bom também. Não tinha coentro e usei bem menos manjericão, e ficou igualmente gostoso. Fica tudo bem bom mesmo depois de um dia de geladeira e a vantagem é que não precisa requentar. ;)

Obs2: Os picolés, fiz no olho, misturando mais ou menos 1 1/2 xic. de iogurte caseiro, 4 bananas, uma ou duas colheres de sopa de mel e uma pitada de canela. Bati tudo no liquidificador e coloquei em forminhas de picolé por uma noite toda antes de servir.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Kimchi para melhorar aquele seu queijo-quente nhanha

Eu ouvira falar muito pouco a respeito de kimchi em algum programa de TV antigo, que mencionava o condimento como um gosto adquirido, algo apimentado e particularmente fedido. Foi com algum receio que, muitos anos depois, em um restaurante coreano do bairro da Aclimação, onde um amigo – também coreano – me levara, que experimentei kimchi pela primeira vez.

Apimentado, sim. Mas não tinha nada de fedido. Pelo menos não para mim. Era sim um condimento delicioso, um excelente complemento a todos aqueles pratos diferentes que eu jamais havia provado.

Passou-se muito tempo até que eu começasse a me aventurar no mundinho mágico do faça-você-mesmo e das conservas, e resolvesse tentar preparar kimchi pela primeira vez. O que outrora me parecera um preparado complexo feito apenas por mãos coreanas, revelou-se extremamente simples. Uma mera questão de juntar num pote uma série de ingredientes e deixar que a natureza faça seu trabalho, fermentando aquela lindeza toda.

Meu primeiro kimchi preparei há um ano, ainda grávida da Madame Bochechas, e enfrentei o problema que sempre enfrento quando resolvo lidar com fermentação (de pão, de cerveja, o que for): temperatura. Parece que é só resolver fermentar algo para o clima enlouquecer. Fermentação é sempre boa em temperaturas mais amenas, algo que não passe de 21ºC. É fechar o pote que lá vem os 30ºC fazendo meus potinhos borbulharem feito refrigerante. Nota para mim mesma: preparar kimchi no inverno.

Meu segundo problema foi com o acondicionamento nos potes. Enchi-os até a boca, como se fossem geleia, sem me dar conta de que as verduras, na salmoura, soltariam líquido, e que a fermentação produziria gases, aumentando o volume do preparado. Alguns dias depois, o líquido vermelho da salmoura vazava loucamente por baixo das tampas, criando poças imensas na bancada. Lá fui eu redistribuir tudo em mais potes, pensando que talvez tivesse arruinado minha conserva com tanta manipulação.

Três semanas depois, achei que o cheiro e o aspecto estavam já bons o bastante (considerando a vaga lembrança da única vez que experimentara aquilo anos antes)  e coloquei o kimchi na geladeira para desacelerar e interromper a fermentação. E chegara a hora de provar.

E o medo? E a intoxicação alimentar? E o pobre bebezinho na minha barriga que não escolhera comer kimchi caseiro possivelmente contaminado? Cada pote parecia diferente, um com um cheiro mais forte, outro menos, um com mais bolhas, outro sem nenhuma.

Pesquisa, pesquisa, pesquisa. Fóruns. Perguntas e respostas. Aparentemente eu não morreria com kimchi ruim, apenas teria uma tremenda dor de barriga. Manda ver. Delícia. Todo mundo sobreviveu. ;)

Daí que o kimchi foi parar no arroz, com cebolinhas e ovo frito, e virou kimchi noodle soup, e meu favorito de todos, responsável por terminar com três potes imensos durante esse ano praticamente sozinha: sanduíche de queijo.

Pense seu queijo-quente, pau pra toda obra. Agora pense nele apimentado e complexo, com um molhinho que encharca o pão e pedacinhos ainda crocantes de vegetais ali no meio. Pense até uma versão mais elaborada, com pão de centeio caseiro e algum queijo mais forte, como ementhal ou gruyère. Mas mesmo pão francês e queijo prato.

Meu
Sanduíche
Favorito.

Foi uma tristeza quando meu último vidro de kimchi acabou.

Hora de fazer mais. Assim que as acelgas apareceram na banca de orgânicos, apanhei uma do tamanho da minha filha e levei para casa com mais cenouras, gengibre e cebolinhas. Cortei a acelga, deixei de molho durante a noite e no dia seguinte cortei e preparei todos os outros vegetais e temperos. Faltava apenas a pimenta coreana em pó no pote.

E...

Ela estava mofada. Quase caí para trás. Tudo pronto, meio da semana, lotada de trabalho, fora de São Paulo, e meu pacote inteiro de pimenta parecia a parte interna de um aspirador de pó depois de limpar uma pilha de carpetes velhos usados como cama de cachorros peludos.

Depois de maldizer a natureza, que uma hora ajuda e noutra atrapalha, prossegui. Joguei o pacote de pimenta fora e fiz o kimchi sem ela. Afinal, a pimenta não era necessária para a fermentação. O bichinho poderia começar o processo sem ela. E o kimchi dera certo da primeira vez mesmo tendo que manipulá-lo e reacondicioná-lo no meio do processo, então eu poderia bem meter a pimenta ali depois. E foi o que eu fiz. Minha mãe foi extremamente gentil em ir até a Liberdade e comprar um novo saco para mim e trazer alguns dias depois. Quando abri o pote, o cheiro já era característico, fazendo minha boca salivar, e o kimchi chiava e borbulhava como uma garrafa de refrigerante. Lá foi a pimenta; mistura, mistura, bota em potes menores. Agora resta esperar mais um tempinho até a coisa estar bem curtida.

E nham! Kimchi Grilled Cheese Sandwich por mais um ano! :D

KIMCHI
(Do livro de conservas Tart and Sweet, de Kelly Geary e Jessie Knadler)
Tempo de preparo: 20 minutos + 3-4 semanas de fermentação
Rendimento: cerca de 4 litros

Ingredientes:
  • 2-3 acelgas médias
  • 1/4-1/2 xic. sal marinho*
  • 2 maços de cebolinhas fatiadas fino
  • 2 xic. cenouras cortadas em palitinhos bem finos
  • algumas fatias grossas de galangal (se você encontrar; eu não usei)
  • 1 1/2 xic. pimenta em pó coreana (um pó vermelho forte, vendida em sacos de 500g na Liberdade ou pela internet)
  • 1/4 xic. molho de peixe (nam pla)
  • 1/4 xic. alho picado finamente
  • 1/4 xic. gengibre fresco ralado
  • 2 colh. (sopa) shouyu

*Na primeira vez que preparei, usei 1/2 xic, e a acelga demorou mais tempo para começar a fermentar; agora, com 1/4 xic, em 3 dias ela já fermentava loucamente. Use o bom senso ou experimente.

Preparo:
  1. Corte a acelga em quartos no sentido do comprimento, retire a parte central dura e descarte, e corte as folhas em tiras de 5cm de largura. Lave para tirar qualquer resquício de terra ou sujeira e coloque em uma tigela grande. Polvilhe o sal por cima, misture bem e cubra com água filtrada. Coloque um prato por cima, para garantir que todas as folhas estejam submersas e deixe em temperatura ambiente durante a noite.
  2. No dia seguinte, escorra a acelga, reservando o líquido da salmoura, que será usado depois. 
  3. Numa tigela bem grande, junte a acelga, a cenoura, o galangal (se estiver usando e misture bem. 
  4. Numa tigela pequena, misture a pimenta, o nam pla, o alho, o gengibre e o shoyu até virar uma pasta. Junte isso à acelga e misture bem com as mãos, para que tudo fique recoberto. 
  5. Divida a mistura em potes de vidro limpos, não preenchendo mais que 2/3 da capacidade, e apertando bem as verduras no fundo. Cubra com o líquido da salmoura, novamente, não enchendo mais que 2/3 ou 3/4 da capacidade do vidro.
  6. Limpe as bordas e tampe e deixe em temperatura ambiente por 3-4 semanas. (Por segurança, deixe os potes dentro de uma travessa com bordas ou assadeira, para o caso de algum pote transbordar.) Depois de alguns dias, comece a checar diariamente, e empurre com o dedo qualquer vegetal que esteja para fora do líquido. Experimente todos os dias. O gosto tem que ser apimentado, salgado, asiático, os legumes mantém alguma crocância. Não pode haver espuma, bolor, ou gosto ácido. Mas é fedido, tem cheiro forte de repolho fermentado. Para quem gosta de sauerkraut, é um cheiro reconhecível no meio dos temperos fortes. Assim que estiver suficientemente fermentado para você (isso pode acontecer até antes de 3 semanas), coloque os potes na geladeira. Ali, eles ficam indefinidamente, sem prazo de validade.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Spätzle de alcachofra para bebê comilão e família

Na esperança de que o bebê fofo distraia o povo da foto horrível de comida.
Um dia a frescura passa. Aí ela volta. Mas parece de fato ter passado. Aquela criança que catava salsinha do prato e jogava na mesa, com cara de nojo, tentando desvencilhar das pontinhas dos dedos os pedacinhos verdes, não existe mais. O Matador de Dragões agora experimenta. Pode não gostar. Pode não comer tudo. Mas fica curioso. Quer saber que gosto tem. Quase não preciso oferecer. É ver a mãe, o pai e a irmã comendo e, devagarinho, lá vai ele experimentar. Enchi-me de orgulho e alívio ao vê-lo matando uma pratada de salada de farro com tomate e pimentão-verde, e fritatta cheinha de couve, um pote inteiro de pepinos e cenouras, soba com gergelim, e até fundo de alcachofra, essa coisa cinza com cara de nada mas que é uma delícia. Quando se fala de criança enjoada para comer, agora fico quieta, porque o pequeno parece ter tomado jeito, movido talvez pelo ciúme da irmã, apesar de esse mesmo ciúme às vezes provocar birras à mesa.

Daí que eu preparara alcachofras, e sempre que limpo as danadas morro de dó de jogar todas aquelas folhas fora. E esse livrinho que eu adorei, de uma italiana louca com a coisa toda do desperdício de comida (e que tem um blog em inglês e um em italiano, que é mais atualizado), tinha justamente a solução – não uma solução simplesinha, convenhamos, mas uma que eu estava disposta a bancar: bastava apanhar as folhas e os talos das alcachofras e cozinhar por uns 40 minutos, até amaciarem um pouco e então passar aos pouquinhos pelo passa-verdura, para espremer a polpa para fora e separar das partes fibrosas [essa, por acaso, é a parte "não-simplesinha", porque haja braço para virar a manivela do passa-verdura...]. Fiz isso e consegui de aparas de 3 alcachofras um purê cinzento mas saboroso, equivalente a mais uns 3 fundos de alcachofra extras amassados. Havia ainda instruções para colocar as fibras no forno muito baixo (60ºC) por várias horas até secarem bem e então moer no processador para obter uma farinha de alcachofra, pela qual muito me interessei. Mas meu forno não mantém temperaturas tão baixas, e eu sabia que ia esturricar as fibras e gastar gás à toa. As fibras foram para o minhocário, alimentar minhocas felizes, para depois virarem adubo feliz para plantinhas felizes.

Congelei meu purezinho com intenção de usar num molho de macarrão, mas ele acabou virando receita do mesmo livro: Spätzle de alcachofra com sálvia. O livro (traduzido para o português) falava de usar uma "nhoqueira", mas eu sabia que ele se referia mesmo àquele utensílio engraçado de se fazer essa massinha alemã, e que já vi ser vendido no Brasil como se fosse um ralador (!!!). Não é um ralador. Eu tinha menos purê do que a receita pedia, e minha massa ficou muito espessa, e tive de acrescentar um nadinha de água só para dar o ponto.

Ficou uma delícia, sucesso com o pequeno guerreiro ítalo-germânico, pequena justiceira ítalo-germânica e com o marido... germânico. O fato de ter polvilhado com parmesão por cima foi o toque italiano, mas segundo os três germânicos da casa, tudo fica bom com parmesão por cima. ;)

Spätzle andou aparecendo bastante por aqui nos últimos meses, sempre na versão com espinafre na massa, rendendo bolotinhas muito verdes que eram sempre devoradas pelo meu filho numa época em que nem salsinha ele comia. Era o jeito de enfiar alguma folha verde em sua dieta. Toda vez que preparava, fotografava para publicar aqui, mas esse Spätzle de maquininha nunca fica bem na foto. Além de poder meter na massa verduras e legumes, ele ainda supre a necessidade de independência da pequena-gigante-Madame-Bochechas. Ela quer comer tudo sozinha, e as bolotinhas douradas na manteiga são perfeitas para seus dedinhos desajeitados.

Aliás, no post anterior me perguntaram sobre a alimentação da pequena, e a resposta ficou tão longa que achei mais fácil colocá-la aqui. Laura ficou pouco mais de um mês naquele esquema de papinhas mais simples, para apresentar os sabores diferentes do leite materno a um bebê que ainda mama. Mas logo que metade de suas refeições eram feitas conosco, comecei a preparar nosso jantar pensando nos elementos que eu queria em sua papinha. Comemos muito minestrone nesse inverno, com legumes, feijões, grãos, caldo caseiro, ervas, couves e queijo. Risotto também. Qualquer prato único onde eu pudesse colocar vários elementos e que ficasse bem transformado em papinha. E ela sempre comia o que nós comíamos. Ou o contrário.

Assim que seu primeiro dente nasceu, percebi que ela começava a fazer um movimentozinho de camelo com a mandíbula, tentando mastigar com as gengivas, levando a língua de um lado ao outro da boca. A partir desse dia parei de amassar sua comida e comecei a testar as texturas. Ela conseguia comer fritatta de legumes, ela deixava nacos de parmesão derreterem na boca, ela comia frutas moles em pedaços, e eventualmente aprendeu, como o irmão, a comer uma banana inteira sozinha. Ela come spaghetti que nem adulto [um adulto sem talheres e sem educação, que eventualmente acha graça em chacoalhar os fios de spaghetti no ar como uma cheerleader italiana louca e jogá-los no chão].

Tenho quase certeza de que ela descobriu Deus no dia em que comeu pão pela primeira vez, pois pãozinho em suas mãos (qualquer tipo) é felicidade instantânea, com direito a gritinhos agudos que sempre me lembram gatos brigando.  E come qualquer pão, até italiano, deixando a casquinha dura derreter na boca. Ela come soba com gergelim, acelga gratinada, queijo roquefort, salada de tomates, ovo frito e pizza feita em casa.

Ela tem 10 meses e já faz uns dois que eu simplesmente dou a ela um prato exatamente igual ao nosso (quase sempre com uma porção maior que a do irmão, cujo apetite diminuiu muito depois dos 2 anos, ainda que sempre haja espaço para sobremesa, o safado). Ainda bem, pois ela fica visivelmente brava quando estamos comendo algo diferente.

O que ela pode cortar ou amassar com as gengivas, dou em pedaços maiores. O que pode engasgá-la, corto em pedacinhos bem pequenos, principalmente folhas cozidas. Mas de vez em quando deixo que engasgue um pouquinho, e aprenda a não ser tão esganada. Ou que aprenda a desengasgar sozinha. Parece horrível, mas funciona. E eu nunca deixo ela sozinha comendo qualquer coisa que possa engasgá-la.

Nunca forcei meus filhos a comer feito adultos. Apenas fui observando e testando, observando e testando. Seguindo o ritmo deles. Isso foi ótimo, pois quão fácil é pensar num jantar único para dois adultos, uma criança e um bebê? Também nunca achei que fazia muito sentido ficar dando purê de berinjela sem tempero. Que ser humano come berinjela sem tempero? Se você sempre faz berinjela com missô na sua casa, quanto antes seu filho aprender a comer berinjela com missô, melhor.

Isso me facilitou muito com o Thomas, pois notei que, na fase mais chatinha dele, o que ele recusava não eram os sabores, mas a aparência da comida. Daí comer o Spätzle verde de espinafre mas não as folhas de espinafre, por exemplo.

Eventualmente Laura chegará na fase do não quero, não gosto. Mas agora estou mais escolada e já sei que vai rolar muito Späztle nesse época também. Ninguém reclama, pois é sempre uma delícia. Com ou sem alcachofra.

SPÄTZLE DE FOLHAS DE ALCACHOFRA
(do ótimo Cozinhando sem Desperdício, de Lisa Casali)
Rendimento: 3-4 porções pequenas

Ingredientes:
  • Folhas externas e talos de 4 alcachofras
  • 200g farinha de trigo
  • 2 ovos grandes
  • sal e noz-moscada a gosto
  • 100g manteiga
  • algumas folhas de sálvia
  • queijo parmesão ralado na hora, para polvilhar
  • pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Ferva as folhas e os talos das alcachofras em pouca água, na panela de pressão, por 20 minutos, contados a partir do momento em que a panela começar a chiar, ou em panela comum por 40 minutos. Escorra, e passe aos poucos por um passa-verdura, obtendo um purê (cerca de 1/2 xícara). 
  2. Coloque o purê numa tigela e adicione a farinha, os ovos, sal e noz moscada, e misture vigorosamente com uma espátula até obter uma mistura homogênea, com textura de massa de panqueca americana. Se ficar líquida demais, junte um pouquinho de farinha extra. Se ficar muito espessa, difícil de mexer, junte umas colheradinhas de água. 
  3. Ferva bastante água numa panela grande e cozinhe o spätzle com a ajuda da maquininha ou à mão, despejando um pouquinho de massa numa tábua e cortando fiozinhos com a faca, direto para dentro da panela
  4. Em uma frigideira grande, que comporte todo o Spätzle depois, derreta a manteiga com a sálvia. Conforme o Spätzle for ficando pronto, vá retirado uma escumadeira e jogando na frigideira, para que doure. 
  5. Distribua nos pratos e sirva com o parmesão e a pimenta por cima. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Soufflé de queijo para um dia qualquer (desde que tenham ovos)

Vamos começar usando a imaginação: pense num soufflé de queijo, clássico, douradinho, leve, uniformemente inflado, capa de revista. Foi isso que imaginei quando decidi preparar soufflé de queijo para o jantar. O resultado, no entanto, foi inesperado. [Inesperado? Mesmo? Sejamos sinceros: eu tinha certeza de que não sairia com cara de capa de revista.] Meu soufflé é o soufflé do homem-elefante: desproporcionalmente inflado, o danado vazou no forno por algum motivo e espalhou-se pelas laterais da tigela como um cogumelo nuclear. Bizarrice pura. Mas inacreditavelmente leve e gostoso, mesmo assim, e o Gnocchi adorou comer os pedaços que queimaram no chão do forno.

Então, vamos lá. Imagine um soufflé de revista, já que qualquer coisa que você imagine será melhor do que o objeto de minha fotografia. E, afinal, soufflés perfeitos são todos iguais e todo mundo já os viu. Agora imagine a textura macia, aerada, cremosa, com gostinho de ovos e queijo, dissolvendo na língua. Ok, estamos chegando em algum lugar agora.

A receita apanhei de um livro que adoro: I Know How To Cook, o "Dona Benta", o "Joy of Cooking" das mulheres francesas de várias gerações. Qualquer livro que me diga que escargot e soufflé é culinária caseira me deixa enfeitiçada. Mas por que não seria, afinal? Uma vez passado o terror das claras em neve que todo cozinheiro principiante tem, você se dá conta de que soufflé é na verdade um prato muito simples: molho béchamel grosso acrescido de gemas e claras em neve. E queijo, nesse caso. Mas poderia ser espinafre. Ou cenoura. Ou batata-doce. Ou o que quiser.

E lá vou eu adicionar mais um prato cheio de ovos ao meu repertório, só para tornar esse ingrediente ainda mais indispensável na minha cozinha do que já é. E noutro dia mesmo fiquei matutando, pois fizera essa lista uma vez, há muitos anos: as dez coisas sem as quais não sei o que fazer na cozinha.
E pensei se muita coisa havia mudado...


  1. Creme de leite fresco: vira doce, vira salgado, vira queijo, substitui molho branco, vira sour cream, crème fraîche, mascarpone, engrossa iogurte; não sei cozinhar sem um litro de creme na geladeira.
  2. Farinha de trigo: alguma, qualquer uma, branca ou integral. Passo até sem macarrão em casa, porque se tiver a dupla ovo e farinha, você faz macarrão, spätzle, massa de torta, panqueca, bolo, biscoito, qualquer coisa remotamente comestível. Ando buscando algum lugar que me venda farinha branca orgânica em sacas de 5 ou 10kg a um preço mais em conta, porque o que eu uso de farinha todo mês é um absurdo.
  3. Parmesão. Quem me dera fosse Parmigiano-Reggiano ou mesmo Grana Padano. Não dá pra ir à zona cerealista o tempo todo e não dá para comprar essas maravilhas no supermercado daqui. Então ando buscando alternativas de bom custo-benefício, nacionais ou importadas, pois eis outro item que vai de quilo aqui em casa, inclusive a casca, que, quando não está encerada (com aquela capa colorida ou qualquer película que você consiga descascar), congelo para colocar em sopas para dar sabor e corpo. Pode não ter nenhum outro tipo de queijo em casa o mês todo (raridade), mas parmesão, quando acaba, é um deus-nos-acuda.
  4. Manteiga sem sal: vai na torta, no pão, no bolo, no biscoito, e se pudesse comprar em blocos de 1 ou 2 quilos, como fazia quando morava em São Paulo, compraria. Fico louca com a quantidade de papelzinho metalizado não-reciclável que embala os parcos 200g de manteiga, então pelo menos ando dando uma de Nigella e guardando os papéis na geladeira para untar formas antes que vão irremediavelmente para o lixo comum. [Aliás, fiquem espertos na hora de comprar manteiga e leiam os ingredientes, que devem ser apenas "creme de leite" ou no máximo "creme de leite" e algum texto como "cultura láctea", o que quer dizer que o leite foi fermentado em algum momento, o que dá um sabor diferente (e gostoso) à manteiga. Mas há marcas famosinhas que andam metendo corantes na manteiga para deixá-la mais amarela, o que só me faz pensar que tipo de porcaria fizeram no produto para precisarem enganar o consumidor dessa forma. Pesquisando, descobri que a Pat Feldman já escreveu muito bem sobre isso aqui.]
  5. Ervas frescas. Começou quando conheci Jamie Oliver, há trocentos anos, e achei novidade aquilo de meter ervas em tudo, acostumada a essa cozinha PF de só temperar as coisas com sal. Desde então, virou prioridade ter sempre ervas frescas na cozinha (hoje tenho no quintal alecrim, sálvia, tomilho, estragão, três tipos de manjericão, cebolinha, salsinha, manjerona, hortelã e menta; coentro não vinga, não sei por quê). Acho estranho não meter uma erva fresca em alguma parte do preparo da comida e meu paladar sente falta quando não há nenhuma.
  6. Azeite. Poderia ser outro óleo, mas realmente prefiro o sabor do azeite para cozinhar e temperar saladas em geral. Ando menos chatinha com a coisa italiana, no entanto, e comprando alguns mais em conta, espanhóis e portugueses, muito gostosos. Mas ainda queria ir na zona cerealista e comprar de garrafão.
  7. Tomate. Já passei muita semana a pão com queijo quando mais nova, mas agora com crianças, a nutricionista-neurótica dentro de mim fica louca se não houver nada que tenha vindo da terra no prato dos pimpolhos. E com tomate, dá pra improvisar muita coisa. Como parei de comprar tomate em lata e comecei a congelar passata feita com os tomates orgânicos que compro na feira (que estão mais baratos que tomate italiano em lata), melhor ainda. Percebi como a gente para de tratar tomate como algo natural quando ele vem de uma latinha ou de um vidrinho.
  8. Café em grão. Porque eu não funciono sem café de manhã cedo, depois de ir dormir tarde e ser acordada às 6h pelo meu adorável Cavaleiro-Madrugador-Acorda-com-as-Galinhas-Ítalo-Germânico. E se eu não funciono, não cozinho.
  9. Pimenta-do-reino moída na hora. Admito, coloco em tudo e é bizarro quando vou pegar o moedor e ele está vazio.
  10. Ovos orgânicos, finalmente: agora com mais 2 glutões em casa, vão de 4-5 dúzias por mês, senão mais. Aquela fritatta de 6 ovos que costumava ser requentada no jantar agora vai toda num almoço só. Além disso, a comida preferida do Matador de Dragões é ovo frito.
É. As coisas não mudaram muito. Ficaram mais naturebas ainda do que já eram, e também mais simples, já que não considero mais arroz arbóreo e couscous marroquino uma prioridade absoluta na minha cozinha. Bom, mais simples a não ser na hora de comprar ovos, coisa que tenho de fazer em São Paulo, já que os supermercados daqui não vendem do orgânico e minha banquinha de feira está com o fornecimento interrompido. Do jeito que anda, pra manter a produção de soufflé de queijo, estou pensando seriamente em arranjar umas galinhas. o_O

SOUFFLÉ DE QUEIJO
(Do lindo lindo I Know How To Cook, de Ginette Mathiot)
Tempo de preparo: 25 minutos + 45 minutos de forno
Rendimento: serve 4 pessoas famintas ou 6 mais comedidas

Ingredientes:
  • 1/2 xic. manteiga sem sal + manteiga extra para untar a forma
  • 3/4 xic. farinha de trigo
  • 2 xic. leite integral
  • 1 xic. queijo tipo Gruyère ralado grosso
  • 5 ovos grandes, orgânicos
  • sal e pimenta-do-reino

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte generosamente com manteiga uma forma grande de soufflé ou 6 formas individuais. [Obs: a forma que eu uso tem 16cm de diâmetro, é daquelas branquinhas, de cerâmica, caneladinhas, paredes retas, forma de soufflé mesmo. Mas OBVIAMENTE é pequena para essa receita, que não menciona o tamanho da forma a ser usada, porque aparentemente qualquer pessoa francesa saberia que um soufflé para seis pessoas não cabe numa forma de 16cm. Então, use uma maior. Se eu tivesse uma, usaria uma de 20cm (tá na minha lista de itens desejados, junto com uma forma de bolo inglês de 25x12cm).]
  2. Faça um béchamel grosso: aqueça o leite numa panelinha e, em outra panela média, derreta a manteiga. Junte toda a farinha à manteiga e misture bem com uma colher de pau, em fogo baixo, até que você sinta um cheiro suave de nozes (2-3 minutos). Você pode fazer essa próxima parte com o fogo desligado se sua panela tiver o fundo muito fino: junte um pouquinho do leite (não mais que 1/4 de xícara). Misture bem com um fouet, para desfazer as pelotas. Só junte mais um pouco de leite (sempre pequena quantidade) quando todo o leite tiver sido absorvido pela farinha. Misture muito bem com o fouet. Vá fazendo isso até que todo o leite tiver sido incorporado. Até as últimas adições, você vai achar que está uma massaroca e que aquilo nunca vai virar um "molho". Mas vira. Quando tiver adicionado todo o leite, você terá um molho branco espesso e liso. Volte para o fogo baixo, tempere com sal e pimenta-do-reino e cozinhe, misturando, até que engrosse (tempo total de cozimento, incluindo o tempo que levou para acrescentar o leite, é de cerca de 10 minutos). Retire do fogo.
  3. Junte o queijo ralado ao béchamel quente e misture bem com uma colher de pau para que o queijo derreta. Deixe esfriar por alguns minutos. 
  4. Separe os ovos. Quando o béchamel estiver suficientemente morno para não cozinhar os ovos, junte as gemas, misturando bem e rapidamente. 
  5. Na batedeira, bata as claras até que estejam com picos firmes mas ainda brilhantes. Pegue algumas colheradas das claras em neve e junte ao béchamel, misturando bem com uma colher de pau, sem se importar em manter o ar das claras. A intenção aqui é apenas tornar o béchamel mais leve para facilitar a incorporação das claras em neve. Aliás, use essa técnica para bolos também. Então apanhe uma parte das claras e, com uma espátula, incorpore rápida mas delicadamente ao béchamel, girando a o recipiente e puxando a massa do fundo para o topo com a espátula. Vá juntando o restante das claras conforme forem sumindo na massa, e tenha certeza de não ver nenhum pedacinho de clara não misturada na massa. Acerte o tempero de sal e pimenta.
  6. Despeje a mistura na forma com cuidado, ajudando com a espátula, aproximando o mais possível a tigela ou panela da forma (despejar de uma altura grande destrói as bolhas de ar). Alise a superfície com a espátula (a forma deve estar cheia até quase o topo) e leve ao forno por 30 minutos. Suba a temperatura para 220ºC e asse por mais 15 minutos. (Se estiver usando formas individuais o tempo é de 10 minutos + 5-10 minutos na temperatura mais alta.) O soufflé deve estar inflado e dourado. Sirva imediatamente, acompanhado de uma salada.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Duas coisas beges com pontinhos brancos e pretos

Uma salgada e uma doce. Uma inspirada num livro do Alain Ducasse, cuja receita não quis seguir à risca, porque envolvia rechear as berinjelas – preguiça monstro – e a outra inspirada no último post da Pat, que tinha blondies apetitosíssimas, mas que levavam biscoito comprado, coisa que quase nunca tem por aqui, o que me fez ir atrás de outra receita.

Uma que ficou uma delícia e com a qual Madame Bochechas se refestelou e outra que também ficou uma delícia e com a qual o Matador de Dragões se esbaldou. Da coisa salgada, o Matador de Dragões comeu apenas um pedaço e decidiu que preferia jantar pepinos, tomate-cereja (assim, no singular, porque foi um só) e morangos. Da coisa doce, Madame Bochechas não comeu, porque eu até cedo e lhe dou um bolo de bananas de lanche quando não há fruta madura ou ela me olha de ares pidões ao ver o irmão comendo doce; mas doce pelo doce, sem nem uma frutinha dentro, aí acho demais para seus parcos dez meses e dois dentinhos.

Pois é. Dez meses. 

Logo logo minha menina bochechas de brioche e coxinhas de marshmallow faz um ano. Um ano inteiro. Ela já fala ma-ma (o que anda animando o irmão a soltar a língua, enfim), já come sozinha e sem que eu precise amassar nada, e quer ficar de pé o tempo todo. E logo logo ela estará correndo alucinada pela casa, e eu correndo atrás, dela e do irmão ao mesmo tempo, cachorro trançando nas pernas de todo mundo. 

Logo logo ela começará a fase do não quer comer isso ou aquilo, enquanto o irmão gradativamente deixa essa fase para trás – ele tem sido curioso e no mínimo experimentado o que coloco em seu prato, apesar de nem sempre continuar comendo.

Logo logo ela vai querer vestir cor-de-rosa e querer coisas de princesa, enquanto eu tento ensiná-la nomes de armas medievais e bandas de metal melódico. 

Enquanto isso, clafoutis de berinjela e queijo de cabra e blondies de dois chocolates e castanha-do-pará.

CLAFOUTIS DE BERINJELA E QUEIJO DE CABRA
(livremente adaptado do livro Nature, de Alain Ducasse)
 
Ingredientes:
  • 3 berinjelas pequenas ou duas médias, cortada em cubos de 1cm
  • 1 cebola grande, picada
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 1 dente de alho grande, picado
  • alguns ramos de manjerona fresca
  • 180g queijo de cabra fresco
  • 5 ovos grandes
  • 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 3 colh. (sopa) farinha de trigo
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Unte um refratário grande com manteiga. 
  2. Esquente o azeite numa frigideira grande e refogue a cebola até que fique translúcida. Junte a berinjela e metade das folhas de manjerona, tempere com sal e pimenta e refogue em fogo médio, mexendo de vez em quando, até que a berinjela esteja cozida e ligeiramente dourada. Acerte o sal e a pimenta e espalhe a berinjela na travessa untada. 
  3. Numa tigela, bata com um fouet os ovos, o creme e a farinha, até que fique bem homogêneo. Tempere com sal e pimenta. 
  4. Despeje a mistura de ovos sobre a berinjela. Esmigalhe o queijo por cima, polvilhe com o alho picado e o resto das folhas de manjerona e tempere com mais um pouco de pimenta-do-reino. Leve ao forno por quarenta minutos ou até que esteja dourado nas bordas e uma faca inserida no meio saia limpa. (O tempo pode variar de acordo com o tamanho do refratário, se a mistura estiver mais espalhada ou mais espessa, então confira após meia hora de forno.) Sirva quente, acompanhado de uma salada. serve dois adultos e duas crianças tranquilamente.

BLONDIES DE DOIS CHOCOLATES E CASTANHA-DO-PARÁ

Ingredientes:
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 120g manteiga sem sal
  • 3/4 xic. + 2 colh. (sopa) açúcar mascavo claro
  • 1 ovo grande
  • 1/2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1 colh. (sopa) rum escuro
  • 2/3 xic. castanha-do-pará picada
  • 30g chocolate meio amargo picado ou em gotas (53%)
  • 30g chocolate branco picado ou em gotas

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Se sua forma quadrada de 20cm não tiver fundo removível, forre-a com papel alumínio. 
  2. Numa tigela, misture a farinha, o sal e o fermento. Reserve.
  3. Derreta a manteiga numa panela média em fogo baixo. Remova do fogo e junte o açúcar mascavo, misturando bem com uma colher de pau. Junte o ovo, a baunilha e o rum e misture bem.
  4. Junte a farinha, misture bem com a colher e então junte metade das castanhas picadas. 
  5. Despeje na forma, espalhando de forma uniforme. Polvilhe com o restante das castanhas e os dois chocolates.
  6. Leve ao forno por 20-25 minutos, até que esteja dourado em cima e se destacando das laterais. Não asse demais. 
  7. Retire do forno e deixe esfriar ainda na forma, sobre uma grade. Remova da forma e corte em 16 quadradinhos. Pode ser mantido em pote fechado por até 4 dias.
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pão de beterraba em semana de gororoba ou de fermentador na geladeira

 Depois de um hiato ocasionado por problemas pessoais, voltamos a produzir cerveja em casa. Isso é ótimo, pois além de meu marido poder ter ele também essa sensação boa de produzir algo com as próprias mãos – o que é totalmente diferente de trabalhar no computador –, de quebra, diminuímos o custo da manguaça. Afinal, beber cerveja de milho já não dá mais; porém, cerveja que presta para consumo regular acaba saindo caro.

O único problema que vem com a produção de cerveja em casa é o que fazer com o diabo do fermentador quando ele precisa ficar uma semana na geladeira. Sem medir coisa nenhuma, pegamos um frigobar que minha irmã não queria mais, mas é claro que aquele baldão gigante não coube nele. Tudo bem, o frigobar virou a geladeira das bebidas, salvando espaço na principal para a comida. Mas agora, na nossa agenda cervejeira, praticamente uma semana por mês preciso retirar uma prateleira da geladeira e colocar o danado do fermentador lá dentro, me deixando, além da gaveta de legumes e da porta, apenas uma prateleira para acomodar a comida de 2  adultos e 3/4 (Thomas = 1/2, Laura = 1/4, se bem que em termos do que cada um come, deveria ser o contrário).

Lá vou eu replanejar todo o cardápio do mês e transferir a semana da gororoba para a semana do fermentador na geladeira. Lembrando: semana da gororoba é a semana em que não faço nem feira nem supermercado, para poder dar cabo do que anda esquecido na despensa e no freezer. Não fazer compras na semana do fermentador ajuda a liberar o espaço de que a adorada cerveja precisa.

Daí que resolvi apanhar as beterrabas assadas que ocupavam o precioso lugar da cerveja e resolvi usá-las num pão, pois Laura e Thomas já haviam comido tanta beterraba no almoço e jantar dos dias anteriores, que suas roupinhas babadas de comida pareciam fruto de um massacre.

Apanhei uma receita simples do Paul Hollywood e adaptei trocando a manteiga por azeite, e acrescentando as beterrabas em forma de purê. A massa ficou imediatamente vermelha e bastante úmida, e tive de sová-la à la Bertinet, daquele jeito que não se enfarinha a superfície e se trabalha a massa bem melequenta, incorporando ar até que fique com uma deliciosa textura macia e lisa como uma bexiga cheia d'água.

O dia estava quente e o pão fermentou bem rápido, e o assei na pedra. Mas tive problemas para deslizá-lo para ela, pois era grande e úmido e grudou em locais que não havia farinha, ficando um pouco torto em um dos lados. Na próxima vez vou fermentá-lo em um pote forrado e enfarinhado e apenas invertê-lo sobre a pedra, ou mesmo fermentá-lo direto na assadeira que irá ao forno.

De qualquer forma, ele ficou incrivelmente macio, de casca fininha e macia, e a beterraba, além de lhe conferir uma cor interessantíssima (esse rosa por fora e alaranjado por dentro), deu ao miolo um sabor entre o terroso e o adocicado bastante complexo e delicioso.  

Bom para comer torrado com manteiga e café e bom para comer com queijo e cerveja. :)

PÃO DE BETERRABA
Ingredientes:
  • 500g farinha
  • 10g fermento ativo seco instantâneo
  • 10g sal
  • 30g azeite
  • 1/3 xic. purê de beterraba assada ou cozida (sem nenhum tempero)
  • 320ml água em temperatura ambiente (ou morna de o dia estiver muito frio)
Preparo:
  1. Coloque a farinha numa tigela grande. Disponha o fermento num canto da tigela e o sal em outro. Junte o azeite, o purê de beterrabas e vá juntando a água aos poucos. misturando tudo com os dedos. A massa ficará bastante grudenta. 
  2. Derrame a massa sobre uma bancada não enfarinhada, tente apanhá-la por baixo com os dedos, puxe para cima a parte mais próxima de você e dobre-a sobre si mesma. Repita, virando a massa 90ºC. Vai parecer tarefa impossível, mas eventualmente a massa começará a tomar forma e ficar lisa e elástica, mas ainda ligeiramente grudenta, depois de cerca de 8-10 minutos. Povilhe com um pouco de farinha, forme uma bola e coloque numa tigela untada com azeite. Cubra com filme plástico e deixe fermentar por no mínimo 1 hora, até que dobre de tamanho. 
  3. Polvilhe a bancada e derrame ali a massa fermentada. Sove ligeiramente para retirar o ar e, com mãos enfarinhadas, forme uma bola novamente. Coloque sobre uma assadeira enfarinhada, polvilhe com farinha por cima e cubra com um pano. (Alternativamente, pode-se dividir a massa em dois pães menores.) Deixe fermentar por no mínimo 30 minutos, ou até que dobre de tamanho novamente. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a  220ºC.. 
  4. Quando o pão tiver dobrado de tamanho, faça quatro cortes em cima, formando um quadrado, e leve ao forno por 40 minutos, ou até que produza um som oco ao bater na parte de baixo do pão com os nós dos dedos. Retire o pão da assadeira e deixe que esfrie completamente sobre uma grade. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O menor bolinho de quatro camadas do mundo: forever alone

Eu sempre gosto de fazer festa no meu aniversário: receber gente, planejar cardápio e, principalmente, fazer um bolo de camadas.

Este aniversário, no entanto, foi exceção. Estava sem energia para receber gente enquanto corro atrás de criança desfraldando, sem imaginação para um cardápio...  bom, vontade do bolo de camadas ainda havia. Mas bolo gigante de camadas para 2 pessoas e meia (Laura ainda não come doce) era coisa demais.

E lembrei do Miette, esse livro lindinho de páginas rendadinhas, com bolos e doces gostosos e pequerruchos. Estava esperando uma oportunidade de preparar um dos bolos pequeninos e essa era a ideal.

Escolhi um bolo simples, um butter cake de baunilha com cobertura de ganache de chocolate. Mas eu tinha apenas uma forma do tamanho certo, 15-16cm de diâmetro, e a receita fazia dois bolos. Resolvi arriscar e usei com imenso sucesso minha forma de soufflé para um dos bolos. Então já fica a dica: dá pra fazer esse bolo numa travessa funda de soufflé. O bolo foi fácil e ficou lindinho, é denso e fácil de cortar em quatro camadas, principalmente se tiver passado um tempinho na geladeira, embalado em filme plástico. A ganache foi uma revelação: normalmente tenho problemas com ganaches, algumas com gosto só de chocolate derretido, muito fortes, arranhando o céu da boca. Essa é a melhor que já provei: perfeitamente doce, derrete na boca, combina maravilhosamente com o bolo simples de baunilha.

Bolo pronto, olho para os lados.

Marido teve de sair cedo para trabalhar. Eu iria a São Paulo para meu curso de aquarela e voltaria apenas tarde da noite. As crianças não entendem o conceito de aniversário. O cachorro lambia o próprio rabo debaixo da mesa da cozinha.

Ninguém pra cantar parabéns. Forever Alone.

Um bolo de camadas minúsculo, perfeito para os solitários. Perfeito para quem esqueceu que bolo de aniversário, sem parabéns, é só bolo.

No fim, depois do curso, já bem tarde, crianças dormindo, minha mãe e minha irmã cantaram e cortamos o bolo. Não sem antes cuspir meus pulmões pra fora tentando apagar as velas, uma vez que minha mãe comprou um três e um quatro de uma variedade que não apaga fácil e eu ando com uma tosse que faria inveja a pintores tuberculosos do século XIX.

Em casa, o marido me esperava já pra lá de meia-noite, com um abraço e cerveja stout, minha favorita.

Hoje, Thomas levou de lanche na escola a menor fatia de bolo de quatro camadas do mundo.

BUMBLEBEE CAKE
(do lindinho Miette, de Meg Ray e Leslie Jonath)
Rendimento: 2 bolos, cobertura bastante para 1

Ingredientes
(bolo)
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 200g manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 10 gemas de ovos grandes, em temperatura ambiente (congele as claras para fazer angel food cake depois!)
  • 2/3 xic. buttermilk (leite + 1 colh. vinagre, deixado em temperatura ambiente por meia hora)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
(xarope)
  • 1/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 1/4 xic. água
(ganache) 
  • 280g chocolate picado (60% ou o que preferir; usei uma mistura de 180g 54% e 100g 70%)
  • 2/3 xic. açúcar cristal orgânico
  • 3/4 xic. + 1 colh. (sopa) creme de leite fresco
  • 2 gemas de ovo grandes
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal em temperatura ambiente

Preparo: 
  1. Unte generosamente com manteiga duas formas altas de 15-16cm de diâmetro (pode ser forma de soufflé). Polvilhe com farinha e bata fora o excesso. Pré-aqueça o forno a 180ºC.
  2. Peneire a farinha, sal e fermento numa tigela e reserve.
  3. Na batedeira, com a pá, se for planetária, bata a manteiga e o açúcar em velocidade média por cerca de 10-12 minutos, até que esteja bem fofa e clara.
  4. Junte as gemas em 3 adições, batendo bem a cada vez, para que a mistura não talhe e raspando as laterais com uma espátula a cada vez. Aumente a velocidade da batedeira por mais 30 segundos.
  5. Junte o buttermilk à baunilha numa tigela. Com a batedeira em velocidade baixa, junte 1/3 da farinha, batendo apenas até que esteja incorporado. Junte 1/2 do buttermilk, e continue adicionando a farinha e o buttermilk, terminando com a farinha.
  6. Raspe com uma espátula as laterais, para ter certeza de que a farinha está bem incorporada e distribua a massa nas formas, alisando com a espátula. Asse por 35-40 minutos, até que estejam dourados e um palito saia limpo ao ser inserido no centro dos bolos.
  7. Retire e deixe esfriar na forma, sobre uma grade, por vinte minutos. Então passe uma faquinha nas laterais, desenforme e deixe esfriar completamente. Embale em filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 1 hora e no máximo 3 dias (fica mais fácil cortar o bolo gelado, e os sabores se desenvolvem). Se quiser congelar, embale numa segunda camada de plástico e congele por até 2 meses.
  8. Numa panela, misture o açúcar e a água do xarope. Leve à fervura e cozinhe até que o açúcar dissolva. Desligue o fogo e deixe esfriar. 
  9. Para a ganache, coloque numa tigela o chocolate e o açúcar. Coloque o creme em uma panela e leve ao fogo médio. Quando começar a ferver, retire do fogo e derrame sobre o chocolate, mexendo bem para ele comece a derreter. Coloque a tigela sobre uma panela com água em fervura branda e mexa o chocolate até que esteja derretido e homogêneo. 
  10. Retire a tigela do fogo. Bata as gemas numa tigela separada e junte aos poucos 1/2 xic. do chocolate quente, para temperar as gemas. Volte a mistura para a tigela principal e misture bem. Junte a manteiga e misture até que ela esteja incorporada e a mistura esteja homogênea e brilhante.
  11. Deixe esfriar até temperatura ambiente. Se não for usar na hora, pode levar à geladeira. Se firmar demais, coloque em banho-maria até ficar com consistência de manteiga mole. 
  12. Retire o bolo da geladeira e corte em 4 camadas iguais. Pincele as camadas com o xarope frio. Posicione a camada debaixo no prato e coloque 1/4 xic. de ganache no centro. Espalhe com uma espátula. Coloque a camada de cima e repita o processo até encaixar a última camada. Aplique um pouco da ganache nas laterais do bolo, passando a espátula sempre no mesmo sentido. Suba para a parte de cima e espalhe. Não use toda a ganache, apenas cubra mais ou menos a superfície do bolo. Leve à geladeira por uma hora. 
  13. Coloque o restante da ganache na batedeira e bata com a pá (alternativamente bata com a espátula; não use batedores de arame para não incorporar ar demais) até que fique cremosa, brilhante e um pouco mais clara. Espalhe nas laterais do bolo e então na parte de cima. Essa ganache é difícil de deixar lisinha; é mais fácil criar desenhos com a espátula. O bolo fica melhor servido em temperatura ambiente, ou a ganache fica firme. Conserve em geladeira, mas retire cerca de 4 horas antes de servir.
Observação: a receita dizia produzir 3 xic. de ganache, 2 das quais seriam usadas no bolo. Usei toda a ganache num bolo só.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Geleia de casca de laranja

Foto horrível que parece tirada de um livro dos anos 70.
Seguindo os últimos posts, os queridos leitores hão de acreditar que estou encolhida num canto num cobertor puído fazendo sopa de pedra para meus filhos. Bom, não é isso. Quem está aqui desde o começo conhece minha crescente cisma com desperdício. Ao longo dos anos houve experiências bem sucedidas, outras mais ou menos e um punhado que foram por água abaixo, como minha tentativa de reduzir minhas embalagens a zero. Algumas coisas você só consegue quando vive em países com gente que se importa, ou quando todos na casa embarcam na mesma loucura. Mas se há um desperdício que consigo garantir que não exista aqui em casa é o de comida.

Quando me mudei, comprei várias mudinhas e sementes para plantar toda sorte de alimentos no meu quintal, dando prioridade para variedades que não encontro no mercado, como manjericão tailandês, tomates de cores e formatos diferentes e tomatillo (parente da physalis, usado em culinária mexicana). Fiz tudo bonitinho, plantei em sementeiras, cuidei, reguei, adubei, etc. Morreu tudo. Um vento forte, uma queda de temperatura, chuva inesperada por um mês inteiro, e lá se foi todo meu dinheiro e trabalho. E eram só alguns vasinhos. Como poderia ser tão difícil cuidar de só alguns vasinhos??

Acredito que se todo mundo tivesse que plantar uma batata na vida não haveria tanto desperdício de comida. A noção do trabalho que dá fazer aquela uma batata crescer e dar mais batatas faz com que você pense duas vezes antes de deixar aquele saco de batatas na cozinha ficar verde e apodrecer. Faz você usar o que sobrou das batatas assadas de ontem. Porque minha mãe bem dizia que é pecado jogar comida fora, e, a parte qualquer referência religiosa, eu concordo. É um desrespeito com o universo, falando de forma mais holística. Um desrespeito, senão com a natureza, com você mesmo, com o tempo que você demorou para ganhar aquele dinheiro, ir à feira e transformar seu trabalho em salada de batata para o almoço. Esses nossos tempos em que basta ir ao corredor da empresa, meter uma notinha amassada de real numa máquina e ela te devolver um barrinha de cereal cujo ingrediente foi colhido por uma máquina, processado por uma máquina, embalado por uma máquina e transportado por uma máquina até a máquina que está lhe oferecendo lanchinhos infinitos e sem sazonalidade por uma quantia módica de moedinhas, faz com que percamos completamente a noção do valor real daquele cerealzinho dentro da barrinha. E quando a gente percebe que não estava, assim, com fome, era mais gula mesmo, mas o que eu queria era um pão de queijo, a barrinha vai pro lixo, metade ainda na embalagem metálica, como se outra fosse ser simplesmente conjurada na sua mão quando você estiver com vontade outra vez. E é isso o que fazemos quando compramos comida pronta: a comida é conjurada, surge de combustão expontânea, trocada por um valor virtual que você não vê saindo do seu cartão de crédito, um dinheiro que nunca efetivamente pesou na palma da sua mão.

Desconexão.

Desperdício.

Isso está na minha mente o tempo todo.

E sempre me incomodou aquele monte de casca de fruta indo para o lixo. Casca de abacaxi vira chá, que Thomas adora. De maçã, vira geleia (aliás, tem um inverno inteiro de casca de maçãs no meu freezer esperando justamente isso). E de laranja? Thomas adora suco de laranja, e eu detesto aquele volume todo de cascas espremidas no lixo.

Comecei a guardar as cascas numa vasilha na geladeria. Quando enchi a tigela, com cerca de 8-10 laranjas, resolvi adaptar uma receita de marmalade com gengibre que eu fizera uma vez, para usar apenas as cascas. E não só deu super certo como ficou uma delícia.

É imperativo que se usem laranjas orgânicas. As comuns são enceradas, e por mais que você esfregue, não vai conseguir tirar toda a cera impregnada nas reentrâncias da casca. E você com certeza não quer comer geleia de cera industrial. :P

Sempre que usar as laranjas, guarde as cascas num pote aberto na geladeira (com as sementes, inclusive). Elas podem ressecar um pouco, mas vão se manter ok por umas duas semanas até que você junte o bastante. Quando tiver umas 8-10 laranjas ali, coloque numa panela não reativa, cubra com água, coloque um pedaço de gengibre descascado do tamanho de um dedo da mão e leve à fervura. Tampe, desligue o fogo e deixe esfriar.

Retire as cascas, que devem estar bem molinhas, e o gengibre, reservando o líquido. Com a ajuda de uma colher, raspe a parte interna das cascas, retirando a parte branca, sementes e qualquer parte fibrosa. Coloque toda essa polpa num pano tipo musselina e amarre bem. Corte as cascas em fatias finas (as minhas ficaram grossas, que eu estava meio sem tempo) e pique o gengibre. Meça o líquido da panela e complete com água até dar 5 xícaras. Junte 1kg de açúcar cristal orgânico, e mexa até dissolver o açúcar. Coloque de volta o gengibre, as cascas e o pano fechado com a polpa retirada e leve à fervura. Cozinhe por 10 minutos, retire o pano com a polpa, que pode agora ser descartada, e continue mexendo, em fogo médio-alto até que suba alguma espuma, que deve ser retirada com uma escumadeira. Cozinhe, mexendo de vez em quando, em fogo médio, por mais uns 40 minutos, ou até que o líquido esteja brilhante e dando o ponto. Para testar o ponto: coloque um pires no freezer. Quando achar que a geleia está boa, retire o pires e despeje uma colher da geleia nele, voltando ao freezer por uns dois minutos. Retire novamente: a geleia deve ter formado uma película por cima e não deve estar líquida. Não apure demais, ou a geleia virará um caramelo que vai endurecer quando esfriar. Caso, depois de fria, tenha ficado muito líquida, basta voltar para a panela e cozinhar mais um pouco.

Envase em vidros esterilizados. Na dúvida, mantenha na geladeira. Rende 3 vidros como o da foto. 

Outras coisas boas para se fazer com casca de cítricos:
  • raspar a casca antes de usar a laranja para suco e juntar num pote separado de açúcar, para quando uma receita doce pedir por raspas e você não tiver a fruta em casa (o açúcar absorve a umidade das raspas como faz com a baunilha, e fica aromático e preserva a casca);
  • casca cristalizada (o processo é parecido, há muitas receitas pela net, e poupa uma grana na época de fazer os doces de natal;
  • multiuso.
Mais sugestões? ACEITO. :D

Cozinhe isso também!

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