quinta-feira, 3 de maio de 2012

Bolo de férias


Não há simplificação de vida que ganhe de merecidas férias. Principalmente quando você é freelancer, não tem férias pagas nem 13º salário, tem clientes com agendas e necessidades diferentes que não fazem pausas simultâneas, não tem babá, empregada ou passeador de cachorro... e não tira férias há quatro anos.

Ah, mas e as pausas de fim de ano?

Repetindo: "freelancer". Escritório no quarto. Imagine se você passasse suas férias inteiras olhando para uma fotografia da pilha de trabalho que espera por você na volta. Ou se suas férias fossem de fato no prédio da empresa.

Ah, mas e a viagem para Nova York?

Foi há 2 anos atrás. E foram cinco dias. Em feriado. Cinco dias não conta. Não são férias, é feriado. Justamente. E menos de uma semana não são férias. Não dá tempo ao cérebro relaxar. Simplesmente não dá.

Minha mãe já dizia quando eu era criança: "A família inteira tem férias; menos a mãe. Mãe nunca tira férias." Sempre achei que fosse um tremendo exagero, até dar de cara com a realidade. Mãe nunca tira férias. Principalmente se as férias forem em casa. Você pode não estar trabalhando no sentido convencional da palavra, mas a casa ainda precisa ser limpa, seu filho ainda precisa comer e tomar banho, seu cão ainda precisa sair para passear. E férias assim seria como seu chefe dizer que você está de férias: vai continuar fazendo todo o seu trabalho menos os memorandos de quinta-feira. ¬_¬

Not fair.

Freelancer precisa de férias. Mãe precisa de férias. All work and no fun makes Ana a dull girl. E eu acho que já usei essa aqui antes.

Por isso literalmente chorei quando meu marido me surpreendeu com uma viagem, assim, de supetão. Dez dias de férias. Não tanto quanto gostaríamos de ficar descansando a cachola, mas o máximo que supomos saudável para ficarmos longe do nosso pequeno caçador de perigos ocultos. Benditos avós à disposição para cuidar de netinho e cachorro.

Empolgada e precisando começar a pensar em esvaziar a geladeira, quis fazer um bolo de laranja. E lembrei-me imediatamente desta receita em que havia passado os olhos há meses atrás, quando ganhei o livro de aniversário. Acho que não há uma cultura ocidental que não tenha uma versão desse bolo, e ele é o símbolo máximo do bolo de vó, que recheia quase todas as infâncias. Bolo simples, de café-da-manhã, feito numa tigela só, sem batedeiras, sem ingredientes especiais, sem técnicas complicadas. Poderia tê-lo feito ainda mais simples, sem a casca de laranja, mas queria definitivamente usar minhas laranjas orgânicas logo, pequenas e doces.

No livro, a autora na verdade usa a batedeira, mas assim que liguei a máquina senti-me um pouco tola; o bolo obviamente poderia ser feito apenas com uma colher, e é como o farei das próximas vezes e como recomendo que você faça. Usei iogurte caseiro, e portanto não tinha um copinho plástico como recipiente-medida. Mas fiz todo ele com os 180ml indicados, cerca de 3/4 xic. A autora, no entanto, diz que o bolo dá certo mesmo usando copos de iogurte um pouco menores ou maiores (de 120 a 240ml), desde que o copo do iogurte seja usado como medida do restante, respeitando as proporções do bolo.

Mas não é apenas por conta de minhas férias que chamei esse bolo de "Bolo de Férias". Também porque mal coloquei o bolo no forno e a receita já estava gravada em meu cérebro para sempre, tornando-se a melhor receita de bolo do mundo para se fazer quando fora de casa, numa praia ou num sítio, quando se quer um bolo mas não se tem nenhum livro de receitas à disposição. E principalmente porque ele é de uma simplicidade de ingredientes e de preparo que traz um grande alívio para quem precisa de férias da cozinha complicada.

Bolo de férias. E porque a origem da receita dá a dica de onde estarei descansando e me inspirando para voltar cozinhando com força total.

Quando esse post for publicado, estarei no avião. Até a volta.  ^_^

TORTA DEI 7 VASETTI
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 10-12 porções

Ingredientes:
  • 1 copo de iogurte natural (de cerca de 180ml) – o copo vira a medida
  • 1 copo de azeite ou óleo vegetal
  • 2 copos de açúcar cristal orgânico
  • 3 copos de farinha de trigo branca orgânica
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • casca ralada de uma laranja grande orgânica, ou duas pequenas
Preparo:
  1. Unte com manteiga ou óleo uma forma redonda, de furo no meio, de capacidade para até 12 xícaras. Pré-aqueça o forno a 180ºC.
  2. Junte todos os ingredientes numa tigela e mexa com uma espátula ou colher de pau (ou na batedeira) até que fique homogêneo e sem grumos.
  3. Transfira para a forma preparada e leve ao forno imediatamente, por cerca de 45 minutos, ou até que um palito saia seco quando inserido no meio. 
  4. Retire do forno e deixe esfriar completamente antes de desenformar. 

Obs: como gosto de bolos de laranja bem úmidos, depois que o bolo esfriou e foi desenformado, aqueci numa panela o suco das laranjas que usei e a mesma quantidade de açúcar (cerca de 1/4 xíc.) apenas até que o açúcar dissolvesse. Fiz alguns furos pelo bolo e derramei a calda por cima, devagar, esperando que o bolo absorvesse toda a calda. Mas a calda não consta na receita original.

*OBS: Post programado para ser publicado durante minhas férias. Comentários só serão moderados após dia 15 de maio.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Um prato de beterrabas para dois

Não faltaram saladas e pratos rápidos na hora do almoço nesse blog, nos últimos anos. E se antes eu não podia ficar enrolando em preparos complicados para a refeição do meio-dia, agora preciso descomplicar o que já era simples. Pois na era pré-filho, qualquer pão com ovo era almoço. Na era pós-filho pão com ovo não pode passar por almoço todo dia.

Quando se abre a geladeira forrada de legumes e verduras mas o tempo é curto e não se aguenta mais fritatta, o que fazer? Macarrão de novo? Abrem-se os armários e todos os maravilhosos grãos de cozimento rápido e sem supervisão (quinua e arroz integral) acabaram. Há feijão no freezer, mas nenhuma vontade de combiná-lo com os legumes disponíveis. E o pequeno gerador de caos quer comer sozinho, com mãozinhas e garfinho, e tentar fazê-lo comer qualquer coisa que precise de uma colher ou assistência materna é pedir pela balbúrdia e destruição.

O que fazer?

Apanhar as beterrabas assadas e preparar um gratinado de cinco minutos enquanto o pequeno esfomeado batuca no cadeirão.

Noutro dia, transformando a quinua com legumes da noite anterior em um timbale para o almoço (misturada com queijo caseiro e ovo), aproveitei o forno já ligado, apanhei as beterrabas pequenas da geladeira, lavei-as, sem descascá-las, temperei-as com sal, pimenta-do-reino, azeite e tomilho, embrulhei-as em papel alumínio, coloquei-as em uma assadeira e as larguei no forno por uma hora, até que estivessem macias e espalhando seu perfume pela cozinha. Retirei-as do forno (e meti nele um bolo de laranja rapidíssimo, mais uma vez aproveitando o forno já ligado) e deixei o embrulho fechado ainda na assadeira, sobre a bancada. E ficou lá, enquanto eu colocava o pequeno para tirar uma soneca e corria ao computador para trabalhar enlouquecidamente. Quando o embrulho ficou frio, simplesmente transferi todo o conjunto para a geladeira. Não sabia exatamente o que fazer com as beterrabas, uma vez que já tinha planos para o jantar, mas sabia que se não as assasse logo, elas murchariam e estragariam na gaveta (pecado grave!)

No dia seguinte, aquelas lindas beterrabas assadas me esperavam, para serem picadas ou fatiadas numa salada, para acompanharem um peixinho, para serem misturadas a atum fresco e fettuccine, um risotto, uma sopa, ou para um gratin rapidíssimo, lido às pressas no meu livro favorito atualmente, How to Cook Everything Vegetarian. Abri o embrulho das beterrabas, e com beliscões rápidos de polegar e indicador, arranquei-lhes toda a casca. Fatiei todas elas e as arranjei em uma camada única numa travessa refratária. Polvilhei de sal e pimenta, esmigalhei um belo pedaço de queijo de cabra, tipo Feta, espalhei por cima folhas de tomilho, um punhado de farinha de rosca caseira, um fio de azeite, e levei para debaixo do grill pré-aquecido, por uns 5 minutos, até que o queijo estivesse derrertido e as migalhas de pão, douradas. (Imagino que para quem não tem grill ou forninho elétrico, um forno bem quente faça o mesmo trabalho em um pouco mais de tempo.)

Foi um almoço leve e delicioso, que deixou os dedos do pequeno devorador de legumes manchados de cor-de-vinho. Tente cobrir todas as fatias de beterraba com um pouco de queijo e pão, pois é o contraste do doce e do salgado, e do macio e crocante, que fazem o prato. E use um queijo de cabra de fato saboroso, que seja forte e salgado, com aquela acidez acentuada e deliciosa característica desses queijos.

Definitivamente, da próxima vez que tiver beterrabas, farei o mesmo, assando-as com antecedência, mas separando-as em duas partes: uma temperada, para os pratos salgados, e outra sem tempero, para usar em bolos e panquecas. Fica a dica.

Cozinhe isso também!

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