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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Almoço às pressas com cevadinha e espinafre

O inferno astral tem sido dantesco. Com direito a topada no dedo do pé, mão colada com superbonder, job que não desempaca... E é claro que é só criar uma agenda mental organizada com todos os afazeres até meu aniversário para surgir um trabalho urgente que me tira dos eixos. [Obrigada, universo, por me mandar trabalho, é claro. Quem sou eu para reclamar?] Trinta anos com certeza exige festa. Mas apartamento pequeno exige festinha miúda. E para a reunião de amigos aqui em casa eu já tenho muitos planos de quitutes. "Pede uma pizza", diz o marido, querendo simplificar. E ele não me conhece?

O problema é que apartamento pequeno é igual a geladeira pequena. E a não ser que eu pretenda servir cerveja quente, é bom abrir espaço na bendita. É isso que tenho feito nos últimos dias: revirado cada cantinho da geladeira em busca de tudo o que resta e ocupa espaço para eliminar toda a comida e ocupar as prateleiras geladas com cerveja, bolo de aniversário e petiscos. Mas principalmente cerveja. ;)

Conforme os ingredientes vãos sumindo, os pratos vão ficando mais simples, mas nem por isso precisam ter gosto de restô d'ontêm. No jantar de ontem, para acabar com os pimentões vermelhos, cortei-os ao meio e os recheei com cevada cozid (que eu adoro!), pimenta dedo-de-moça, alho, salsinha e queijo parmesão, polvilhei mais queijo por cima, reguei com um fio de azeite e levei ao forno até que estivesse douradinho por cima e o pimentão estivesse bem doce e macio, ligeiramente chamuscado. Hoje apanhei o resto da cevada cozida sem tempero e misturei na frigideira a um punhado de espinafre refogado em azeite, alho e pimenta dedo-de-moça, temperei com sal e pimenta-do-reino, ralei grosso um bom punhado de parmesão e temperei com um fiozinho de azeite trufado. Nada mal para um almoço vapt-vupt no meio da entrega de um trabalho.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Feijão fradinho com espinafre, tomate e música porqueira


Detesto Black Eyed Peas. [Pronto! Você que é fã de Black Eyed Peas já pode preparar seu hate mail, vai, use toda a sua maldade, sem dó.] Outro dia mesmo tive uma discussão acalorada com um amigo sobre porque o Will.I.Am é um excelente marqueteiro, mas um músico... nhé. Foi uma sacada genial trazer uma loira vistosa para dar uma graça a uma banda de marmanjos sem destaque nenhum, e acho fantástico como eles conseguem gerar exposição na mídia que demonstra como eles são legais, mas que distrai da qualidade de sua música. [Vide o flash mob na Oprah, que é tão legal, mas tão legal, que você não presta atenção no fato de a música ser fraquinha.]

O caso é que sempre que ouço ou vejo Black Eyed Peas, lembro dos feijões, tão gostosos. E sempre que vejo os feijões, lembro das magníficas contribuições culturais que são Pump It e My Humps. Pontos para o fator chiclete, que faz com que cozinhemos feijões fradinho cantando qualquer uma das duas pérolas sem nem mesmo nos darmos conta.

Pelo menos esses "black eyed peas" eu consigo engolir. Os feijões fradinho com espinafre, tomates, cebola e limão do lindíssimo livro da Tessa Kiros, que até ilustrações já me inspirou, são absolutamente deliciosos, e obrigatórios agora que os maços de espinafre estão lindíssimos e saborosos e que os BONS tomates estão começando a voltar.

Deixe os feijões de molho de um dia para o outro, escorra e coloque numa panela, cobertos com água. Quando ferver, retire a espuma que se formar com uma escumadeira, escorra, lave os feijões, e volte-os à panela cobertos de água limpa, e cozinhe-os destampados até que estejam prontos, mas não desmanchando. O livro indicava 1 hora, mas os meus ficaram prontos em 30 minutos. Quando eles estiverem quase prontos, junte belos punhados de folhas de espinafre rasgadas, tempere com sal e cozinhe por uns 3 minutos. Desligue o fogo e sirva com tomates picadinhos, uma cebola picadinha previamente marinada em água e sal por meia hora e então escorrida, limão para espremer, salsinha picada e um fio de azeite.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os últimos rabanetes da geladeira

Aqueles últimos rabanetes reclamavam um bocado [na semana passada, na verdade, que esse post estava engavetado e eu quase me esqueci dele], então os fatiei fino e os dourei em um pouco de manteiga e um fio de azeite, junto a uma cebolinha grande picada. Quando douraram, temperei-os com sal e pimenta e misturei-os aos sete grãos que eu acabara de cozinhar segundo as instruções do pacote. Derramei por cima um fio de azeite, esmigalhei uma fatia do meu bom e velho queijo Feta, e polvilhei salsinha picada, misturando tudo muito bem. Um bom almoço na semana passada, graças às dicas de vocês. :D

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um bolo de maçã muito fácil para quando tudo de que você precisa é um bolo de maçã

E esfria. E chove. Chove só um pouco. E as nuvens estão inertes agora, ainda que tenham andado de um lado para o outro atarantadas durante toda a manhã. E mesmo observando o movimento contínuo e ensaiado do escritório em frente à janela de minha sala – porque eles estão sempre trabalhando ali, dia e noite, como se salvassem vidas com seus trabalhos – o universo em si parece ligeiramente suspenso. A vida flutua sem direção e sem apoio em torno de mim, talvez esperando por um movimento meu, talvez apenas... sendo. E venho para o computador e respondo alguns e-mails, tentando manter o foco na importância (importância?)
de meu trabalho. Outros e-mails mantêm-se no limbo, no purgatório das bandeirinhas cor-de-laranja, lembrando-me de que preciso respondê-los. Um dia. Não hoje. Duvido que amanhã. Fecho os olhos por um instante, e quando os abro novamente me surpreendo pelo mundo ainda estar ali.

Não há nada para ver na TV. Não quero ler agora. Sento à minha mesa de desenho, puxo uma folha e ela volta quase que imediatamente ao topo do bloco, ligeiramente amassada na ponta. Não há nada a ser desenhado. Não hoje. Duvido que amanhã. Embrenho os dedos nos cabelos, massageando o couro cabeludo, cotovelos apoiados à mesa, e suspiro. O ar entrando e saindo assim controlada e vagarosamente me lembra de que preciso respirar.

Vou à cozinha sem pressa. O cão me segue, se espreguiçando pelo caminho. Ele é controlador, e gosta de saber onde estou o tempo todo. O splash-splash que ele produz ao beber água de sua tigela é reconfortante contra o zumbido contínuo da geladeira. Preparo um chá. Chá verde, meu favorito. Levo comigo a xícara fumegante e um pratinho vazio até a sala e olho por alguns segundos para aquele bolo quadrado, ainda morno. O cão me distrai ao subir no sofá e despencar ruidosamente em uma de suas posições de soneca favoritas. Mas ao invés de fechar os olhos, ele continua ali, me encarando, esperando que eu me decida enfim por um lugar e fique nele. Você vai cortar esse bolo ou não?

O bolo é macio e faz sujeira ao ser cortado, espalhando migalhas macias e redondas pela mesa. O cheiro de maçãs ainda quentes e amêndoas me desperta. Sinto-me satisfeita, uma satisfação serena, como todas as vezes em que meus bolos dão certo. É mais como um alívio, na verdade. Carrego comigo o chá e o bolo e me acomodo no sofá, ao lado do cão, que suspira — meu cão suspira — e fecha os olhos, relaxando sobre as almofadas.

O bolo tem gosto de café-da-manhã. Como uma tigela de aveia, maçãs, passas e amêndoas, mas transformada em algo melhor. Quando você se sente desconectada de tudo, ele a traz de volta à terra apenas o suficiente para apreciar o perfume de canela e baunilha. O chá quente limpa o paladar para que a próxima mordida seja como se fosse a primeira. Por um breve instante isso é a coisa mais importante do mundo para mim: chá e bolo no sofá.


BOLO MUITO FÁCIL DE MAÇÃ

(Ligeiramente adaptado do livro Baking - From My Home to Yours, de Dorie Greenspan)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 16 pedaços


Ingredientes:
  • 1 xíc. leite integral
  • 1 ovo grande
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1 colh. (chá) essência de baunilha
  • 1/2 colh. (chá) essência de amêndoas
  • 1 3/4 xíc. farinha de trigo
  • 1/2 xíc. açúcar cristal orgânico
  • 1 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/4 xíc. açúcar mascavo
  • 3/4 xíc. aveia em flocos
  • 1 maçã Gala com casca cortada em cubinhos pequenos
  • 1/2 xíc. amêndoas picadas
  • 1/3 xíc. de uvas-passas

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Unte e enfarinhe uma forma ou assadeira quadrada de 20cm.
  2. Derreta a manteiga e deixe que esfrie. Numa tigela, junte a manteiga derretida, o leite, o ovo, as essências, e misture muito bem.
  3. Em outra tigela, junte a farinha, o fermento, o bicarbonato, canela, açúcar cristal e sal e misture muito bem. Junte o açúcar mascavo e misture bem, não deixando nenhuma pelota. Junte a aveia e misture mais uma vez.
  4. Junte a mistura líquida à seca e misture com uma espátula apenas o suficiente para que fique uniforme. Junte a maçã, as amêndoas e as passas e misture pouco, apenas para espalhá-las.
  5. Espalhe a massa na forma, alisando com a espátula, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Transfira a forma para uma grade e deixe esfriar por alguns minutos antes de desenformar. Sirva morno ou em temperatura ambiente.

sábado, 11 de abril de 2009

Il mio minestrone autunnale

Algumas atividades culinárias muito simples melhoram surpreendentemente meu humor; e uma delas é debulhar feijões. Não sei se porque a memória dá um salto para minha infância na já extinta chácara de meus pais, onde minha mãe me colocava para debulhar ervilhas, ou se porque me parece um ato extremamente meditativo. Não importa, realmente. A satisfação que sinto em abrir as vagens num estalo [Pop!] e passar a ponta do polegar pela base dos feijões coloridos, empurrando-os gentilmente em direção à tigela de metal [tereléntentein!] não tem preço, e por isso, sempre que encontro feijões frescos à venda, ignoro deliberadamente todas as variedades secas em minha despensa.

Quem leu o post anterior viu que feijões borlotti (ou corados, em português) são uma antiga obsessão minha. Dei pequenos pulinhos internos [ok, a quem estou querendo enganar? Pulei de verdade, mesmo.] quando vi que o mês de abril é sua época. Todas as bancas da feira têm pilhas dessas lindas vagens cor-de-rosa que me encantaram desde o dia em que soube de sua existência. Mesmo que os feirantes ofereçam bandejinhas de feijões já debulhados, não penso duas vezes e peço pelas vagens, não apenas pelo prazer de estourá-las eu mesma, como também porque assim na vagem duram cerca de uma semana se estiverem fresquinhos. Quinta-feira voltei feliz e contente, carregando meio quilo de feijão borlotti e um quilo inteiro de feijão-de-corda, que estava sendo vendido por um senhor simpático e de forte sotaque nordestino na barraca em frente à minha favorita, que sempre me chama a atenção pela variedade de pimentas e temperos. Sinceramente, nem mesmo sei se os feijões-de-corda estão na época, mas, sendo humana e tudo o mais, não resisti.

Os feijões borlotti são deliciosos cozidos com muito tempero, escorridos e retemperados com um fio de azeite, um nada de vinagre e salsinha fresca. Mas também ficam sensacionais em uma de minhas sopas favoritas, com catalogna (devidamente comprada hoje para exatamente esse fim). Mas os feijões da última feira ainda estavam na geladeira, cozidos, imersos em seu caldo ralo e aromático, tendo eu consumido apenas 2/3 deles com legumes e salada. Ontem viraram um minestrone de outono, com batatas, repolho crespo, cebola e tomate, sobre uma bela fatia de pão de centeio, polvilhado com um generoso punhado de Grana Padano e um fio de azeite. Deliciosamente reconfortante agora que as noites começam a ficar mais frias.

É difícil falar em quantidades exatas quando falamos de minestrone, que costuma ser uma sopa "svuota frigo". Mas vamos lá...

MINESTRONE AUTUNNALE
Rendimento: 3 porções
Tempo de preparo: 1h-1h20m (se feita toda em um dia só)


Ingredientes:
(feijões)
  • 250-300g feijões borlotti frescos (peso incluindo a vagem), ou 1 xíc. cheia de feijões cozidos
  • 2 dentes de alho inteiros, sem casca
  • 1 galhinho pequeno de alecrim fresco
  • 3-4 folhas de sálvia fresca
  • 1 folha de louro
  • 1 batata pequenininha, cortada ao meio, com ou sem casca
  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 1 pitada de pimenta calabreza seca
  • pimenta-do-reino a gosto
(minestrone)
  • 2-3 batatas pequenas, cortadas em cubos (com casca mesmo)
  • 7-8 folhas de repolho crespo (cuidado ao substituir pelo repolho comum, que tem um gosto muito mais forte)
  • 1/3 de lata de tomates pelados (cerca de 2 tomates)
  • 1/2 cebola pequena picada
  • queijo parmesão ralado grosso
  • azeite de oliva extra-virgem
  • pão de centeio (opcional)

Preparo:
  1. Coloque todos os ingredientes do feijão em uma panela, cubra com o dobro de volume em água e leve à fervura. Abaixe o fogo e deixe cozinhando por 20-30 minutos, dependendo do frescor dos feijões. Quando estiver pronto (os feijões estarão macios), retire com uma colher a batata e o alho e esmague em um pratinho, até virar um purê. Retorne ao caldo e misture bem. Se possível, faça os feijões de véspera e guarde-os num tupperware bem vedado na geladeira (com o caldo) durante a noite, período em que o sabor do caldo ficará mais acentuado.
  2. Aqueça um fio de azeite em uma outra panela e refogue a cebola em fogo baixo até que fique macia e ligeiramente dourada. Junte o tomate, mexa bem para despedaçá-los, e deixe apurar um pouco, como um molho. Junte as batatas em cubos, uma pitada de sal e mexa bem.
  3. Junte os feijões com seu caldo. Corte o repolho crespo em fatias de 1cm e junte à sopa. Se achar necessário, acrescente mais 1 xícara de água, mas lembre-se de que muita água pode diluir o sabor do caldo. Misture, leve à fervura e abaixe o fogo, deixando que cozinhe por cerca de 30 minutos, parcialmente tampado.
  4. Quando a sopa tiver apurado um pouco e as batatas estiverem se desmanchando, experimente. Tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Coloque uma fatia de pão em cada prato (se estiver usando) e sirva a sopa. Polvilhe com uma generosa quantidade de queijo parmesão e um fio de azeite. A sopa pode ser reaquecida sem problemas, desde que o queijo só seja acrescentado na hora de servir.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Arroz integral com radicchio

A inspiração voltou rápido. Foi abrir a gaveta da geladeira e olhar para aquelas folhas fantásticas, cor-de-vinho e rajadas de branco, para saber o que queria comer. Que eu gosto de folhas amargas não é lá nenhuma novidade. Mas já falei aqui sobre minha paixão por radicchio? Dominando a cena em uma salada verde, refogado com alho ou cebola, com abóbora, risotto di radicchio, macarrão com radicchio, pizzoccheri com radicchio, torta de radicchio... até geléia de radicchio eu já comi e é uma de minhas inúmeras frustrações nunca ter comido de novo.

Era minha última noite em Veneza, durante aquela tal viagem pela Itália, em 2004. Como estava hospedada em um albergue em Padova, não daria tempo de jantar na cidade, pois o último trem partiria logo, e eu precisava estar no albergue antes que as portas se fechassem. Com pouco tempo nas mãos mas sem querer desperdiçar um só minuto naquele lugar, sentei-me em um bar chamado Cavatappi, nas proximidades de San Marco, e pedi uma taça de vinho e um prato de queijos. Aturei a mulher fumante ao meu lado apenas porque queria muito ficar do lado de fora do café e observar a vida passar. O simpaticíssimo garçom, que tentou me ensinar qualquer coisa do dialeto local, trouxe-me um prato com três ou quatro tipos de queijo, nozes, fatias de maçã verde e uma geléia rosa escura, como um antigo vaso de Murano de minha avó. Explicou-me qual queijo comer com o quê [juro que procurei em meu diário de viagem, mas não anotei os queijos ou a combinação], e respondeu-me, quanto lhe indaguei, que a geléia era feita de radicchio di Treviso.

"De radicchio?? Mas radicchio é amargo!"
"Ah, pois é... Mas é uma especialidade de Treviso..."

Experimentei com o queijo forte que havia no prato. Era absolutamente delicioso e diferente de qualquer geléia que já provara.

"Onde consigo isso? Vocês vendem?"
"A gente compra de um alimentari aqui perto. Você tem um mapa?" Abri o mapa do guia, ele apanhou um lápis e rabiscou um caminho e um X. "Aqui, na Calle San Lucca."

Saí tresloucada atrás da loja, mapa em punhos, seguindo o rabisco do garçom, até encontrar uma pequena loja de produtos alimentícios. Fui atendida prontamente por um senhor de avental branco, e expliquei-lhe o que queria.

"Oh, infelizmente acabou. Mas chega mais amanhã, se quiser."
"Amanhã??? Mas amanhã estarei em Verona! Não tem nem unzinho?"
Ele meneou a cabeça, desolado.

Mais uma para a lista de obsessões.

Enquanto isso, vou comendo radicchio de tudo quanto é jeito... menos marmellata. Hoje cozinhei um pouco de arroz integral apenas em água e sal [fiz as pazes com o arroz integral recentemente], enquanto refogava em pouco azeite meia cebola em tiras finas e um ramo de alecrim, até amaciar. Juntei o radicchio fatiado e cozinhei em fogo baixo, com uma pitada de sal, até murchar bem. Quando o arroz ficou pronto e afofado, juntei-o à frigideira dos legumes e misturei tudo muito bem, acrescentando algumas nozes ligeiramente tostadas. Para acompanhar, uma saladinha de tomate com queijo de cabra. Nham...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cassoulet vegetariano para o próximo inverno

Vamos fingir por um momento que não está calor. Vamos fingir que o asfalto lá fora não está derretendo, que o vento inexiste e que eu gostaria de estar escrevendo esse post de dentro de uma piscina. Com laptop e tudo.

Pronto?

Ok. Só assim eu poderia descrever aqui, sem ser apedrejada, um prato tão substancial, quente e reconfortante como um cassoulet vegetariano. Em minha defesa, ele foi preparado no último dia de frio desse verão que parece ter enfim emplacado. Então parem de me olhar como se eu fosse maluca.

Quando vi essa receita na revista Gourmet, tive minhas dúvidas. Cassoulet é, em linhas gerais, uma feijoada francesa de feijão branco. Tira-se a carne e você tem... feijão branco. E por mais que eu adore feijão branco, ele não me parece nem de longe uma refeição completa. Passeei os olhos pela receita, analiticamente, fazendo a nota mental a respeito dos ingredientes: cenouras, alho, alho-poró... por enquanto parece apenas mirepoix... ok, uma coberturinha de pão. Hmmm... Apetitoso. Mas seria capaz de aplacar minha frustração pela falta de "cozidos" vegetarianos interessantes? Seria aquele cassoulet suficientemente saboroso para que apenas ele em minha tigela bastasse? Seria mais do que um acompanhamento? Seu sabor seria suficientemente intenso?

Sim.
Sim.
Sim para todas as questões.

O segredo desse maravilhoso prato é o tamanho dos legumes. As cenouras bojudas e ainda firmes, os nacos de alho-poró desfiando, os refrescantes pedaços de salsão, todos eles fazem as vezes da carne, mas de um modo muito mais leve, fornecendo contraste de texturas em relação ao feijão branco que se desmancha e um adorável equilíbrio de sabores. O cravo moído, aliado a uma quantidade generosa de pimenta-do-reino, também parece trazer os feijões para uma nova dimensão, criando picância onde normalmente há somente doçura.

Delicioso. Reconfortante. De lamber os beiços. De repetir.
Mas com certeza num dia frio.
Marque essa para o próximo inverno.

[Uma pena não ter nenhuma foto realmente decente do panelão de cassoulet. Assim que ficou pronto, esqueci-me da câmera, e só pude bater uma foto da tigelinha com as sobras do dia seguinte. :P]

CASSOULET VEGETARIANO
(da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 1h20m
Rendimento: 4 a 6 porções


Ingredientes:
  • 3 alhos-poró médios (apenas parte branca e verde-pálida)
  • 4 cenouras médias
  • 3 talos médios de salsão
  • 4 dentes de alho picados
  • 1/4 xíc. azeite de oliva
  • 4 ramos de tomilho fresco
  • 2 ramos de salsinha fresca
  • 1 folha grande de louro
  • 1/8 colh. (chá) de cravo moído (ou 2 cravos moídos no pilão - muito mais aromático)
  • 3 latas de 400g de feijão branco ou cannellini, escorrido e lavado (ou 350g feijão branco seco, cozido na véspera)
(cobertura)
  • 4 xíc. de miolo de baguette esmigalhado
  • 1/3 xíc. azeite de oliva
  • 1 colh. (sopa) alho picado
  • 1/4 xíc. salsinha picada

Preparo:
  1. Corte os alhos-poró ao meio no sentido do comprimento e lave-os bem embaixo da torneira, para retirar toda a terra entre suas camadas. Corte em pedaços de 1,5cm de largura. Corte o salsão em pedaços de 3cm de largura. Corte as cenouras ao meio no sentido do comprimento e então corte-as do mesmo tamanho que o salsão.
  2. Em uma panela grande, aqueça o azeite e cozinhe o alho-poró, cenoura, salsão, alho, tomilho, salsinha (as ervas vão inteiras, com galhos, não picadas!), louro e cravo em pó, acrescentando 1/2 colh. (chá) de sal e o mesmo de pimenta-do-reino. Mexa de vez em quando, em fogo médio, até que os legumes estejam macios e dourados, mais ou menos 15 minutos.
  3. Junte os feijões, cubra com 1 litro de água e deixe levantar fervura. Cubra parcialmente com a tampa e cozinhe em fervura branda até que as cenouras estejam macias, mas não se desmanchando, o que deve levar uns 30 minutos.
  4. Enquanto isso, prepare a cobertura. Aqueça o forno a 180ºC. Misture as migalhas de pão, o azeite e o alho picado, acrescentando 1/4 colh. (chá) de sal e o mesmo de pimenta. Espalhe em uma assadeira e leve ao forno por 12 a 15 minutos, mexendo de vez em quando, até que as migalhas estejam douradas e crocantes. Retire do forno e deixe que esfriem na assadeira. Então misture à salsinha picada.
  5. Quando o cassoulet estiver pronto, retire os ramos de salsinha, tomilho e a folha de louro. Amasse alguns feijões com as costas de uma colher de pau, para engrossar o caldo. Acerte o tempero e polvilhe com a cobertura de pão na hora de servir.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Meu primeiro almoço de Natal!

Primeiro, gostaria de agradecer o carinho de todos e os votos de um bom Natal. Com certeza eles surtiram efeito! Espero que todos tenham tido uma magnífica ceia e deliciosos momentos!

Estou absolutamente feliz. O almoço do dia 25 não poderia ter dado mais certo. Mantendo ainda o espírito da simplicidade, e sabendo que todos estariam empapuçados ainda da ceia da noite anterior, preparei poucos pratos, complementados por outros trazidos por minha mãe. Aliás, perfeito isso de almoço colaborativo.

A verdade é que minha família nunca foi muito de se empanturrar com prato principal: somos petisqueiros natos, e não foram poucas as noites em que abdicamos de jantar em nome de alguns pedaços de queijos, frutas e um bom vinho. Pensando nisso, economizei na quantidade de pratos e tamanho de porções. Dispus na tábua, no centro da mesa, alguns queijos como Brie, Gorgonzola, Grana Padano e Pecorino Romano [praticamente cada queijo era o favorito de um dos presentes], para serem petiscados sobre torradinhas de pita integrais ou crostini ainda quentinhos do forno. Especificamente para ser combinada ao Pecorino, preparei uma espécie de geléia de figos secos e avelãs, de um livro de Giada di Laurentiis. A geléia é tão fácil e tão deliciosa, que sei que figurará em outras reuniõezinhas aqui em casa. Havia também um potinho com castanhas de caju, uma tigelinha de cerejas e algumas uvas Thompson para serem comidas puras ou com o queijo Brie.

Quando nos cansamos de petiscar, fui à cozinha reaquecer o arroz selvagem que eu fizera mais cedo. Cozinhara o arroz como informado na embalagem, juntando, depois de pronto, algumas castanhas de caju picadas, uma cebolinha e o que restara das cramberries secas. Enquanto o arroz reaquecia, apanhei as couves-de-bruxelas cortadas ao meio e, como sugerido no livro de Heidi, besuntei-as em azeite e grelhei-as na frigideira, tampando e deixando que cozinhassem apenas com sal, até que ficassem al dente. Quando prontas, rolei-as em um generoso punhado de parmesão. Por fim, cozinhei rapidamente os tortelli di zucca que preparara no dia anterior e congelara.

Já fiz tortelli di zucca várias vezes, e nunca sigo receita nenhuma, usando cada vez o que tenho na geladeira: às vezes com amaretti, às vezes com passas, às vezes com mostarda di Cremona. Dessa vez, assei meia abóbora japonesa fatiada grosso, temperada com azeite, sal e pimenta, até que ficasse macia. Transformei em purê e misturei a parmesão ralado na hora, amêndoas moídas, noz moscada, sal e pimenta, até ficar exatamente do jeito que eu queria. Usei o purê para rechear a massa que sempre faço. Depois de cozidos, despejei os tortelli na travessa e misturei-os a muita manteiga derretida, onde dourara folhas de sálvia frescas.

Minha mãe trouxera tender e farofa, e arrumei-os cada um em uma travessa, levando à mesa. Não tenho como descrever a satisfação que senti em ver a mesa posta e todos comendo. Uma pena não comer mais carne, ainda que o perfume do tender tenha sido suficiente para reavivar centenas de lembranças de infância e tornar ainda mais especial o primeiro almoço de Natal em minha casa.

Trocamos alguns presentes e servi a sobremesa. Coloquei sobre a mesa os panettoni e os sorvetes e fui à cozinha preparar rapidamente a calda de chocolate, muito fácil: aqueci meia xícara de creme de leite fresco e despejei sobre 100g de chocolate amargo picado, um pouquinho de baunilha e um naco de manteiga, misturando até que estivesse homogêneo. Para os de paladar mais adulto, a calda foi sobre uma fatia de panettone e uma bola de sorvete de nozes. Para os que não sabem o que estão perdendo [hihihi...], preparara um "chocottone", substituindo as frutas marinadas pelo mesmo peso em gotas de chocolate amargo e aromatizando a massa com raspas de 1 laranja bahia, noz moscada e 1/2 colh.(sopa) de baunilha. Junto do "chocottone", o sorvete de baunilha mais fácil e econômico do mundo (mas delicioso!), retirado do novo livro de Heidi Swanson. Ele é excelente para quem tem aflição de gastar 8 gemas cada vez que quiser um litro de sorvete de creme; sem contar as 8 claras que sobram. Para fazer o sorvete, basta 1 litro de leite, 1 xíc. açúcar (uso o cristal orgânico entuxado de favas de baunilha), 3 colh. (sopa) maizena e essência de baunilha. Você o prepara como faria a um pudinzinho cremoso, deixa esfriar e coloca na sorveteira, e ele fica sensacional.

O melhor de tudo foram meus dois presentes culinários: um ferro de waffles (que trouxe lembranças de infância a meu marido, que costumava comer waffles com manteiga na casa da Oma), e um enorme pedaço de granito que minha irmã (arquiteta) arranjou para mim; ele foi cortado para caber exatamente em meu forno, e agora minhas pizzas nunca mais sairão com textura de biscoito... espero!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pimentão amarelo recheado assim, de supetão


O que fazer com aquele último pimentão amarelo que sobrou na geladeira...? Se você almoça sozinho como eu, você o corta ao meio, retira as sementes e pica o pedaço de cima. O pedaço de baixo é colocado em uma travessinha refratária untada de azeite. Cozinha suficiente cevadinha para preencher o pimentão solitário, e então mistura o cereal com o pimentão em pedacinhos, um bom punhado de manjericão, um dente de alho picado bem miudinho, um pouco de queijo parmesão ralado, sal e pimenta-do-reino. Preenche o pimentão abandonado com a mistura, rega com mais um pouco de azeite, polvilha com parmesão e leva ao forno médio até que o cheiro esteja bom demais para resistir.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nada mudou, tudo ficou no lugar: cevada, abobrinha, grão-de-bico.

Estou esperando pela sensação purificadora da dieta. Aquela quando você passou uma semana comendo porcaria e resolve compensar com uma semana de saladas; aquela sensação de estar leve, limpa, renovada. No entanto, tenho me sentido... satisfeita. À parte a chateação de medir tudo milimetricamente, não tenho tido nenhuma dificuldade em seguir as novas diretrizes. Olho para meu prato e, bem, ele não parece diferente do que sempre esteve. A impressão que tenho é de que esqueci de comprar macarrão na última ida ao supermercado. Posso dizer, portanto, que estou contente. É bom perceber que o que estava errado era a quantidade, e não a qualidade do que eu preparava. Invertem-se proporções, mas no fim das contas, nada mudou: os ingredientes são os mesmos, os sabores também.

Ok, ok, tenho meio litro de creme de leite fresco na geladeira, comprado antes da dieta começar, que anda me incomodando um bocado. Não quero que estrague, mas também não posso usá-lo em nada. Tanto, que estou pensando em preparar sorvete de creme e deixar no freezer, para o marido que não está de dieta, evitando assim o desperdício.

Para não dizer que nada mudou, minha geladeira está subitamente cheia. Como as quantidades de legumes no prato aumentaram na proporção inversa às dos carboidratos, fui obrigada a comprar mais quantidade e mais variedade. Também passei a fazer algo que jamais fizera: cozinhar alguns elementos com antecedência para tê-los quando quiser, a exemplo dos grãos-de-bico e da cevada. Convenhamos, não vou ficar gastando gás e tempo para cozinhar 3 colheres de qualquer coisa. Melhor cozinhar uma xícara toda e usar durante a semana. Pois é, isso é novo para mim, uma vez que sempre gostei de preparar tudo na hora. E é por esse tipo de praticidade (e por ter ficado muito bom) que repeti hoje o almoço de ontem. E, na certeza de que não foi apenas a fome falando, deixo a receita aqui.

É difícil não chamar meu almoço de salada: tem cara de salada. Talvez apenas por estar tudo misturado. Poderia ter disposto os elementos no prato de forma organizada: um montinho de cevada, um montinho de grão-de-bico, um montinho de abobrinha. Mas deus sabe que eu detesto isso e que sou obcecada por "pratos únicos". O caso é que os sabores e texturas dessa "salada quente" de fato se complementam e se ajudam. Não é a primeira vez que uso dessa mistura de ingredientes e não será a última. E para quem quiser comprovar o fato de que apenas o tamanho do prato mudou, veja aqui a salada de cevada e beringela que já era uma de minhas favoritas há muito tempo atrás...

SALADA QUENTE DE CEVADA, ABOBRINHAS E GRÃO-DE-BICO
Tempo de preparo: 15 minutos com a cevada pronta
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 3 colh. (sopa) de cevada em grão cozida
  • 2 colh. (sopa) de grão-de-bico cozido
  • 2 mini abobrinhas ou 1 abobrinha pequena
  • 1 dente de alho pequeno
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça
  • 1/2 colh. (chá) de azeite
  • 1 fatia de queijo tipo Feta
  • 1 colh. (chá) de suco de limão
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
  1. Fatie as abobrinhas em rodelas finas. Pique o alho. Retire as sementes da pimenta, descartando-as, e pique-a.
  2. Aqueça 1/4 colh. (chá) de azeite em uma frigideira pequena e doure ligeiramente o alho e a pimenta. Junte a abobrinha fatiada e salgue ligeiramente. Salteie até que a abobrinha esteja suavemente dourada, mas ainda firme.
  3. Junte a cevada e o grão-de-bico e misture para que os dois aqueçam e absorvam os sabores. Desligue o fogo, tempere com sal, pimenta-do-reino, o suco de limão e o restante do azeite. Esmigalhe o queijo por cima e sirva quente sobre folhas de salada crocantes de sua preferência.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

"Risotto" cremoso de quinua

Se você é uma daquelas pessoas que sente uma inexplicável compulsão por telefonar para alguém ou reprogramar o alarme do seu relógio toda vez que tem de esperar sozinha por alguém em algum lugar público, a vida de freelancer COM CERTEZA não é para você. É preciso estar confortável com a própria solidão para trabalhar por conta própria.

Há dias em que se sente falta de colegas de trabalho com quem dividir piadas sobre o chefe, mas então você se lembra de que o chefe é você, e a angústia passa rápido. Há dias cheios de trabalho quando você pode passar o dia todo sem falar com outro ser humano, e outros, na entre-safra, em que você não tem nada para fazer e todos os seus amigos estão... bem... trabalhando, enfornados em escritórios, e não há uma alma com quem você possa tomar um cafezinho às três da tarde. Tudo isso são ossos do ofício, e há muito tempo aprendi a aproveitar esse tempo all by myself para descansar a mente, botar a leitura em dia, e, é claro, fazer experiências culinárias sem correr o risco de arruinar o jantar do meu marido.

É, definitivamente, na hora do almoço, que faço minhas mais estranhas misturebas. Algumas me surpreendem positivamente, enquanto outras vão direto para o lixo após a primeira garfada. Faz parte. Hoje, ainda bem, foi uma das ocasiões de mistureba feliz. Poderia ter-se beneficiado de um dente de alho dourado em manteiga, para um toque mais pungente no que se mostrou um prato bastante suave. Quaisquer outras folhas verdes e crocantes iriam bem aqui, também, principalmente as amargas, como rúcula, ou radicchio, para contrastar com o adocicado das passas. De modo geral, no entanto, essa é uma mistureba que merece repetição. O nome "risotto" vem aqui apenas para dar idéia da consistência, ainda que mesmo eu me contorça um pouco ao usá-lo desta forma.

"RISOTTO" CREMOSO DE QUINUA
tempo de preparo: 20 minutos
rendimento: 4 porções


Ingredientes:
  • 1 dente de alho picado
  • 1 xíc. de quinua orgânica em grão bem lavada para tirar qualquer traço de amargor
  • 1/2 xíc. de queijo Catupiry cremoso
  • 1/2 xíc. de queijo parmesão ralado
  • 1 punhado de passas escuras sem sementes
  • 2 xíc. de folhas de alface Romana rasgadas com as mãos
  • 2 colh. (sopa) de manteiga sem sal
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
  1. Ferva 2 xíc. de água. Em outra panela, doure o alho em um fio de azeite ou manteiga e junte a quinua. Mexa por alguns segundos, para espalhar o tempero. Salgue a gosto. Junte a água fervente, mexa com uma colher e tampe. Abaixe o fogo e cozinhe por 12-15 minutos, até que toda a água tenha sido absorvida.
  2. Misture o restante dos ingredientes, salgando e temperando a gosto, afofando com um garfo. Sirva imediatamente, com uma porção extra de queijo ralado.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Chilli vegetariano [UPDATED]

Apesar de acreditar que os programas de Nigella andam cada vez mais repetitivos e pouco plausíveis, não pude deixar de ficar com água na boca quando ela preparou uma grande panela de chilli no forno, coberto por um macio e dourado pão de milho. Ontem, eu tinha todos os ingredientes à disposição (exceto pelo queijo Cheddar), mas não pude deixar de pensar quanta falta faria a carne moída nesse prato. O primeiro impulso de um vegetariano seria substituir a carne por proteína de soja. Mas não sou fã de soja, em parte pelo gosto, em parte pelo fato de a produção de soja estar diretamente ligada à criação de gado e desmatamento na Amazônia (duvida? pergunte para qualquer um que trabalhe com certificação de madeira). Então resolvi fuçar em minha despensa e buscar algo que pudesse enriquecer o sabor e a textura do chilli sem transformá-lo em uma caçarola de legumes. Parei a procura ao bater os olhos em meu pacotinho de quinua orgânica.

Tive alguns contratempos, porém, ao dividir a enorme receita pela metade. Esqueci-me de deixar espaço para a massa de pão, então foi um tal de passa-chilli por 5 travessas até achar uma que comportasse ambos... Outro problema foi temer que o chilli ficasse muito líquido pela ausência da carne, e deixá-lo secar demais antes de colocá-lo na travessa; o que aconteceu foi que a massa de pão absorveu boa parte da umidade dos feijões, deixando-os, agora, menos líquidos do que eu desejava. Mas isso é apenas um cuidado a se tomar da próxima vez (e da próxima vez, preparar a receita toda na Le Creuset — dã), pois nada disso interferiu na excelência do resultado. Os sabores do cardamomo e do cacau conferiram um toque ligeiramente exótico aos feijões, a quinua deu ao chilli um agradável sabor herbal e terroso, além da textura mais firme, e o pão de milho tornou-se um delicioso contraponto adocicado em relação ao chilli apimentado. E mesmo o fato de eu ter errado na medida de canela (o que transformou a cor do pão de um amarelo vivo para um ligeiro acastanhado) não desagradou. É um prato que com certeza irá para o "caderninho", e que já está me inspirando a criar variações com outros tipos de feijão e outros sabores de pães.

CHILLI VEGETARIANO
(adaptado do programa
Nigella Feasts)
Rendimento: 4 porções
Tempo de preparo: 1 hora


Ingredientes:
  • 1 cebola pequena picada
  • 1/2 pimentão vermelho, sem sementes, picado
  • 1 dente de alho grande picado
  • 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes, picada
  • 1 colh. (chá) de coentro em grão, amassado no pilão
  • 1 colh. (chá) de pimenta calabresa seca
  • sementes de 2 cardamomos, amassadas no pilão
  • 1/2 xíc. de quinua em grão
  • 1/4 xíc. de ketchup Heinz
  • 1 lata de tomates italianos pelados
  • 1 lata de feijões red kidney Annalisa
  • 1/2 colh. (sopa) de cacau em pó
  • 1 1/2 xíc. de buttermilk
  • 2 ovos
  • 1/8 de xíc. de óleo
  • 1 colh. (chá) de mel
  • 2 xíc. farinha de milho fina
  • 1/2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/8 xíc. de farinha de trigo
  • 1 colh. (sopa) fermento em pó
  • 1 colh. (chá) de sal
  • 1 punhado de queijo cheddar ou parmesão ralado grosso
Preparo:
  1. Leve 1 xíc. de água com sal à fervura, despeje a quinua, abaixe o fogo, tampe e cozinhe por 15 minutos. Desligue o fogo e reserve.
  2. Em outra panela (que possa ir no forno depois), refogue a cebola, o pimentão, o alho, o coentro, a pimenta calabresa e os cardamomos em 2 colh. (sopa) de óleo. Quando tiver amaciado bem, junte a quinua cozida e misture bem.
  3. Escorra os feijões e passe-os por baixo da água da torneira para tirar o excesso do líquido da lata. Junte-os à quinua e mexa bem para impregnar o tempero.
  4. Junte os tomates em lata com seus sucos, o ketchup, o cacau e mais 1/2 xíc. de água, mexa bem e leve à fervura. Abaixe o fogo, tampe parcialmente e cozinhe por 30 minutos, mexendo de vez em quando para não grudar no fundo.
  5. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 220ºC. Em uma tigela, junte o buttermilk, os ovos, o óleo e o mel e misture. Em outra, maior, coloque as duas farinhas, o sal, o fermento e a canela. Junte os ingredientes líquidos aos secos e misture com um garfo até ficar homogêneo e eliminar os grumos. (Faça isso apenas quando o chilli estiver pronto, ou o fermento começará a agir antes do tempo).
  6. Desligue o fogo, derrame a massa sobre o chilli, sem misturar, polvilhe com o queijo ralado grosso (queijo de pacote não vai derreter, mas secar; é preciso ralar na hora) e leve ao forno por 30 minutos ou até que o pão cresça e doure.

Obs: se, como eu, você não encontrar buttermilk no supermercado, misture 1 1/2 xíc. de leite integral com 1 1/2 colh. (sopa) de vinagre branco ou suco de limão e deixe descansando em temperatura ambiente por 10 minutos.

[UPDATE: depois de comprar o livro Feast, tive acesso à receita completa, da versão com carne e... surpresa! de uma versão vegetariana, que usa lentilhas vermelhas no lugar da carne. Depois de testar a versão vegetariana de Nigella, ela virou minha favorita. Parei de usar a quinua, e também deixei de usar a massa de milho por cima. Melhor preparar pão de milho de verdade para servir com o chilli e uma bela colherada de guacamole...]

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Salada de cevadinha com berinjela



Fiquei apaixonada por saladas feitas com cevada, principalmente porque elas parecem ficar mais saborosas de um dia para o outro. Como percebi que há já algum tempo que não coloco aqui receitas num formato mais organizado, vou tentar transcrever as etapas que estão só em minha cabeça, pois fui preparando a salada meio que na loucura. Ela ficou saborosíssima e com um equilíbrio muito interessante entre a maciez da berinjela e a cevada al dente, o salgado das azeitonas e o ácido açucarado das cebolas roxas. E fica delicioso tanto direto da panela quanto às garfadas ainda no prato que estava na geladeira.

SALADA DE CEVADINHA COM BERINJELA
Tempo de preparo: 50 minutos (mais o tempo de molho da cevada)
Rendimento: 4 porções
Ingredientes:
  • 1 xíc. de cevadinha
  • 1 berinjela grande
  • 1 dente de alho
  • 1/2 cebola roxa pequena
  • 1/4 xíc. de azeitonas pretas sem caroço
  • 1 lata de grão-de-bico (conservado apenas em água e sal)
  • 1/2 colh. (chá) de pimenta-calabresa seca
  • 1/2 colh. (chá) de sementes de cominho
  • 1 colh. (sopa) de folhas de tomilho frescas
  • 2 colh. (sopa) de vinagre branco suave ou de champagne
  • 1 colh. (chá) de açúcar
  • azeite extra-virgem
  • sal e pimenta-do-reino moída na hora
Preparo:
  1. Lave muito bem a cevada em várias trocas de água, até que a água saia razoavelmente translúcida. Deixe-a de molho em 3 xícaras de água por 4-6 horas ou durante a noite. Depois do molho, não escorra: coloque a cevada e a água do molho em uma panela e leve à fervura. Abaixe o fogo, tampe (ou deixe meia-tampa se estiver subindo alguma espuma) e cozinhe até que toda a água tenha sido absorvida (cerca de 30 minutos). Deixe tampado por mais 10-20 minutos com o fogo desligado, para que a cevada termine de cozinhar e absorver a água.
  2. Enquanto isso, corte a cebola em fatias finas e coloque em uma tigela com o vinagre, o açúcar e uma pitada generosa de sal. Misture bem e deixe marinando.
  3. Doure o alho picado em um pouco de azeite junto com a pimenta-calabresa e o cominho. Junte a berinjela cortada em pedaços pequenos, uma pitada generosa de sal, pimenta-do-reino e metade das folhas de tomilho e refogue em fogo médio-baixo até que amacie bem.
  4. Escorra o grão-de-bico e junte à berinjela, misturando o restante das folhas de tomilho. Desligue o fogo, acerte o tempero e reserve.
  5. Quando a cevada estiver pronta, misture a berinjela e grão-de-bico, as azeitonas pretas em pedaços e as cebolas, sem o caldo. Junte ao caldo rosa de vinagre cerca de 2-3 colh. (sopa) de azeite e misture bem para emulsionar. Despeje sobre a cevada, misture bem e acerte o tempero. Sirva imediatamente (quente) ou deixe bem tampado na geladeira até a hora de servir (frio ou em temperatura ambiente).

Cozinhe isso também!

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