segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Quando as coisas desandam e quando voltam a andar de novo e um biscoito de aveia para uma criança de três anos fazer


Tudo vai bem. Quando chove e faz frio, calçamos galochas e vestimos casacos impermeáveis e saímos a pular nas poças e passear o cachorro na rua molhada, e nos enfiar nos terrenos vazios para brincarmos de pega-pega, para atirarmos pinhas uns nos outros, para brincar de só poder caminhar pisando em raízes de árvores. Então o Matador de Dragões para ao lado de um formigueiro para fuçar com um galho no que os minúsculos bichinhos fazem lá dentro (apesar de eu dizer repetidamente que é maldade desmanchar o formigueiro). E Madame Bochechas se demora sob a última amoreira ainda com frutas na vizinhança. E eu observo o cão a cheirar o mato, sinto a chuva fina como agulhinhas na ponta do meu nariz, encharcando alguma mecha de cabelo que escapou ao capuz. E tudo vai absolutamente bem.

Até que de repente não vai mais.

E eu me pego irritada na hora do café porque Thomas está - de novo - brincando com a comida e pensando na vida, e berro com Laura que, ao invés de escovar os dentes, está - de novo - apertando todo o tubo de pasta pela pia, esfregando a meleca azul em brinquedos e nos cabelos. E eu sinto o sangue ferver na cabeça quando peço pela oitava vez para que vistam as meias e calcem os sapatos, e para que larguem a poça de lama e entrem no carro, e para que parem de se provocar durante todo o caminho até a escola, e para que desçam do carro sem fazer manha, e para que entrem nas salas sem jogar as mochilas no meio do corredor.

E quando volto pra casa, não sinto vontade de treinar, nem de meditar, nem de pintar, nem de passear o pobre cão que esperou toda essa pataquada, e, à tarde, quando as crianças estão de volta, irrito-me com Thomas brincando com a comida - de novo - e com Laura usando as mãos para comer o arroz - de novo - e eu não quero fazer biscoitos nem quero passear na chuva, nem quero brincar de pega-pega, e quando eles me pedem para ler uma história, me ressinto do fato de que queria sentar e ler um livro meu. Mas a verdade é que a cabeça dói e o que quero mesmo fazer é dormir.

Então eu paro.

O que diabos aconteceu?

Como se passa de um estado tão positivo para outro tão negativo de forma tão rápida sem ter a desculpa de sofrer de algum transtorno de personalidade?

Eu paro e penso. E respiro. E tiro um dia inteiro só para arrumar a casa. Tarefa mecânica e necessária, que permite que minha mente se acalme e organize no mesmo passo que o ambiente. Livre da irritação da bagunça e da sujeira externa, consigo olhar para bagunça e para a sujeira interna. E percebo que normalmente esse desandar não vem de repente. Você não acorda de uma boa noite de sono imediatamente imerso num mau humor imutável. Acontece como alguém que caminha numa linda floresta, absorto com o movimento das folhas, encantado com um passarinho inquieto que voa de galho em galho cantarolando. E você cantarola junto, e tudo vai bem. E o passarinho pousa num arbusto mais para o canto do caminho, e você percebe que depois daquele arbusto tem uma florzinha que você nunca viu. E você, distraído, vai lá ver aquela florzinha. E, ainda distraído, acaba se embrenhando cada vez mais na mata escura até o ponto em que não se lembra mais onde era o caminho ou mesmo por que caminhava por ele.

Desta vez, ao contrário de tantas outras vezes em que me senti perdida numa floresta escura por tanto tempo a ponto de precisar ser resgatada, eu me lembrei do caminho. Sabia onde ele estava e lembrava dos motivos de seguir por ele. E fui galgando novamente cada galho e pedra que me distraíra até estar com os pés plantados outra vez em solo fértil e ensolarado.

Dei-me conta de que o que me distraíra primariamente fora o fato de Gnocchi, meu cãozinho do coração, ter ficado doente. Foi toda uma situação esquisita, que teminou com ele sendo castrado e tendo todas as possíveis complicações. Foi um mês tenso. Mas desta vez me dei conta de que é sempre isso, gente que eu gosto doente (cachorro também é gente!) o estopim para o meu desandar emocional. E perceber isso foi ótimo.

Vi que ao sentir o descontrole da vida, tentei controlar - de novo - outras esferas. Voltei a estressar com horários. Voltei a estressar com o andar da minha carreira. Voltei a estressar com a minha rotina e a das crianças. Voltei mesmo a estressar com a comida - isso tem legumes o bastante? tem fibras o suficiente? será que tem glúten demais? será que eles estão comendo muita sobremesa?

Parei. Parei tudo.

Respira.

Número 1: vá lavar o cabelo, use aquela máscara que sua amiga te deu e que dá aquela sensação maravilhosa de ter uma pele de nenê no rosto, mesmo que só por quinze minutos, vá deitar cedo e ler um livro bom na cama. Amanhã você pensa na vida. O cão está bem agora e você de fato não tem nenhum problema grave. Agradeça por isso.

Número 2: volte a treinar. Em algum momento do dia, mesmo que de noite antes de dormir, cate aquele kettlebell e faça alguma coisa. Vá fazer turkish get up, vá gastar energia e fazer força, e seu corpo vai agradecer por isso. É bom se sentir forte. Olha só! Você conseguiu fazer TGU com 16kg. Nunca tinha feito isso. Não é bom se sentir forte? É sim.

Número 3: vá meditar. Cinco minutinhos. Cinco minutinhos para relaxar a mente e fazer as coisas mais devagar. Largue a mão da preguiça. Cinco minutos não matam ninguém. Pronto. Melhor, né?

Número 4: pergunte o que as crianças querem comer de jantar e faça. Pão com queijo? Faça. Quem se importa? Eles vão ficar felizes, vão se sentir ouvidos, vão comer sem problemas. Amanhã você faz sua polenta com ratattouille. Hoje é pão com queijo. Spaghetti? Mas ontem já teve macarrão? E daí? O molho é feito em casa, vocês são de família italiana e na Itália se come massa todo dia e ninguém morre por isso. Ai, o glúten! Ninguém em casa é celíaco, enfia o pé no glúten e seja feliz.

Número 5: trabalhe com afinco e dê o braço a torcer. Você odeia Facebook, mas sua irmã e seu marido há tempos te enchem para criar uma conta no Instagram. "É ótimo para divulgar seu trabalho, Ana", diz sua irmã. "Você não precisa passar o dia fuçando nele como o Facebook", diz seu marido. "As pessoas raramente vão a sites para ver se tem material novo", dizem os dois, quando rebato que já tenho um portfólio online (www.anaelisagg.com e http://desenhoque.blogspot.com - sim, voltou a se chamar Desenhoquê). Respiro fundo e crio a danada da conta. Ok, de fato, é mais tranquilo que Facebook e não me deixa presa ao celular ou ao computador. A perspectiva de mais gente conhecer e comprar meu trabalho por conta disso me anima um bocado. Mergulho no trabalho. Entro num ritmo de produção que me deixa incrivelmente contente. Vendo dois quadros na abertura de uma exposição num clube. :)

Chove lá fora. A cântaros. Não dá pra passear lá fora nem brincar de pega-pega. Thomas pede para ler livros com ele. Um após o outro. Então paramos para fazer biscoitos de aveia da Tessa Kiros, tão fáceis que Laura faz sozinha. Fico orgulhosa em vê-la quebrar ovos sem romper a gema. Ela constantemente enfia o dedo dentro da massa para experimentar duas, três vezes a cada adição de ingrediente. Duas semanas atrás eu teria ficado irritada. Desta vez me contenho. Dou uma bronca quando a sujeira passa dos limites. Ela me ajuda a amassar as bolinhas de biscoito na assadeira enquanto Thomas está jogando um jogo da Lego no video-game. Direito dele, por ter se comportado bem e ter ganhado uma estrelinha no dia anterior. Quando os biscoitos ficam prontos, Laura come um leva vários para o irmão. Como sempre acontece, aquele um biscoito será o único que Laura provará. Ela adora fazer biscoitos mas prefere lanchar cenouras e morangos. Thomas, biscoiteiro, terá todo o fruto de nosso trabalho para ele.

Desliga-se o jogo e eles começam a correr loucamente pela casa. Não consigo entender as regras da brincadeira inventada. Dão cambalhotas na minha cama, escondem-se embaixo da mesa, jogam bola no corredor, e eu me sento no sofá junto do Gnocchi, que finalmente está livre do Cone da Vergonha. Abro meu livro à meia luz prateada do dia chuvoso e leio boas trinta páginas do Modernidade Líquida, de Zigmut Bauman. Excelente livro. Percebo que não lera nada direito durante aquele mês estranho. Faço um cafuné no cão. "Você precisa de um banho", digo, sentindo seu pelo empoeirado e grosso sob os dedos.

E tudo vai bem.

E no que tudo vai bem, me dou conta de que o estar relaxada na cozinha contribui e muito para o meu relaxamento no restante do dia. Produzir um biscoito simples (e gostoso) de aveia ao invés de grandes empreitadas. Servir um simples arroz integral com igualmente simples brócolis refogado em alho e coberto de molho de tomate, também do livro da Tessa e chamar de refeição. E não ficar me desgastando demais com grandes planejamentos e grandes expectativas gastronômicas e grandes pressões nutricionais. Simplesmente produzir uma refeição gostosa. Ganhei um abraço imenso do meu pimpolho mais velho quando apanhei um punhado de morangos já querendo passar, misturei duas colherinhas de açúcar e processei com meio tablete de manteiga sem sal: manteiga de morango para passar no pão no café da manhã. Foi um daqueles sucessos estrondosos que eu sei que gerarão lembranças de infância calorosas. E no fim, é isso o que eu quero.

A foto da manteiga de morangos está no meu Instagram, ou "a nova geladeira de mãe", como eu costumo chamar: @anaelisagg.

Com menos livros, pude parar de assinar o Eat Your Books, apesar de adorar o serviço, e voltei a fazer o que eu amava fazer quando comecei minha coleção de culinária: sentar-me no sofá ao lado da janela e folhear meus livros acompanhada de uma xícara de chá, decidir o que fazer durante a semana de forma relaxada.

Por isso estou refazendo aqui a lista dos livros que estou tirando da estante. Os que são bons, já usei muito, mas não preciso mais. Podem ser infinitamente mais úteis na estante e na cozinha de outra pessoa. Acrescentei alguns outros itens à lista anterior.

Se alguém se interessar, mande um email para lacucinetta@gmail.com com seu endereço completo. :)


LIVROS 

R$50,00 + frete
-Sunday Suppers at Lucques - Suzanne Goin
-One Good Dish - David Tanis
-Green Kitchen Travels - David Frenkiel & Luise Vindahl
-The Self-Sufficient Life And How to Live It - John Seymour
-House Industries (livro completamente ilustradio sobre design de tipografia)
-Aquarela (a cor da memória) - Cla Editora
-Cozinhando para Amigos - Heloísa Bacelar
-Cozinhando para Amigos 2 - Entre Panelas e Tigelas (1a edição) - Heloísa Bacelar
-The Greens Cookbook - Deborah Madison
-Vegetarian Everyday - David Frenkiel & Luise Vindahl
-A Change of Appetite - Diana Henry

R$35,00 + frete
-Baked Explorations  - Matt Lewis e Renato Poliafito 
-In Tuscany - Frances Mayes
-O Poder de Cura deVitaminas, Minerais e Outros Suplementos - Editora Seleções 
The Homemade Flour Cookbook -Milk - The Surprising Story of Milk Through the Ages - Anne Mendelson
My Bread - Jim Lahey
Complete Indian Cooking - Editora Hamlyn
Bill's Everyday Asian - Bill Granger

R$25,00 + frete
-The Multi-Cultural Cuisine of Trinidad e Tobago
-Medium Raw - Anthony Bourdain
-Augustin Skecthbook - reprodução do sketchbook de Virginie Augustin
-Mamãe e Eu Na Cozinha - Publifolhinha
-Pâtes a tartiner - Rachel Khoo (em francês)
-Tart & Sweet - Jessie Knaddler
-O Homem que Comeu de Tudo - Jeffrey Steingarten

OUTROS LIVROS DE TEMAS VARIADOS - R$15,00 + frete
-All Natural - A Skeptic's Quest to Discover if the Natural Approach do Diet, Childbirth, Healing and the Environment Rea;;y Keep Us Healthy and Happier - Nathanael Johnson
-Cleaving - Julie Powell
-A place of my own - Michael Pollan (sobre arquitetura)
-Vampire Stories - Penguin Publishers (uma coletânea bem legal)
-The Vampire Enciclopedia - Mathew Bunson
-Vampires Are - Kaplan
-Not that kind of girl - Lena Dunhan
-Celtic Design - A Beginner's Manual - Aidan Meehan
-Structural Package Designs  (livro com facas variadas para embalagens - acompanha cd's com pdf's)

EQUIPAMENTO DE COZINHA
-Moedor de grãos de ferro Botini - R$75,00 + frete
-Canudos de alumínio para cannoli pequenos (10cm), 12 unidades - R$25,00 + frete

COLEÇÃO DE REVISTAS

-DONNA HAY (do número 52 ao 76, sem interrupção, total de 25 revistas em excelente estado) - R$50,00 + frete

-GOURMET MAGAZINE  (de Novembro 2008 a Novembro 2009, sem interrupção, sendo esse o ÚLTIMO ANO de existência da revista, + os números de Setembro 2008, Março 2008 e Agosto 2007, total de 16 revistas com sinais de uso) - R$25,00 + frete

-LA CUCINA ITALIANA (Revista EM ITALIANO - Números Janeiro 2005, Setembro 2009, Fevereiro 2007, Março 2007, Junho 2007 e as duas edições comemorativas Piatti Freddi Per L´Estate e Dolci, Torte e Dessert, totalizando 7 revistas em ótimo estado) - R$15,00 + frete






BISCOITOS DE AVEIA PARA QUALQUER CRIANÇA DE 3 ANOS FAZER
(Do meu livro favorito, Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Rendimento: 25 - 30 biscoitos, dependendo do tamanho

Ingredientes:

  • 1 ovo
  • 2/3 xic açúcar mascavo apertado no medidor
  • 1 colh (chá) extrato natural de baunilha
  • 5 1/2 colh (sopa) manteiga em temperatura ambiente, amolecida
  • 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/3 xic. farinha de trigo integral
  • 1 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 1 xic. aveia em flocos (se só tiver em lâminas, como era o meu caso, basta bater no processador ou liquidificador até obter flocos mais finos)
  • 1 1/2 colh (sopa) leite


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Forre uma assadeira grande com papel manteiga ou silpat. 
  2. Numa tigela, bata o ovo, o açúcar e a baunilha com um fouet até que o açúcar esteja dissolvido. 
  3. Junte a manteiga, misturando, e então as farinhas, o fermento e o sal, misturando com uma colher de pau. 
  4. Junte a aveia e então o leite. 
  5. Com mãos úmidas, faça bolinhas do tamanho de nozes (cerca de 25 delas) e coloque na assadeira com espaço para que espalhem. Achate-as para que pareçam mini-hamburguerzinhos.
  6. Leve ao forno por cerca de 15 minutos, ou até que estejam com as beiradas douradas. Podem ainda estar um pouco molinhos no centro, desde que secos ao toque. 
  7. Deixe que esfriem sobre uma grade antes de guardá-los num pote fechado. Duram bem uns 5 dias e são ótimos para o lanche da escola.






terça-feira, 20 de setembro de 2016

TV quebrada e soufflé de chocolate

Foto tirada às pressas antes de o soufflé desinflar...
A cabeça anda fervilhando como nunca e tem sido difícil sentar em frente ao computador por tempo bastante para organizar todos os pensamentos. (Acho que há meses começo posts assim.)

As férias escolares foram maravilhosas. Jamais pensei que diria isso, mas sem uma viagem sequer, foram de fato maravilhosas.

Todos tiraram férias juntos: crianças, mamãe e papai, e juntos gozamos da total e completa ausência de compromissos e horários, podendo aproveitar ao máximo o silêncio das manhãs, o sol da tarde, o vento à noite, a grama nos pés, os abraços, os cafunés, as brincadeiras no quintal, as leituras na rede, o fogo crepitando na lareira, as sonecas ocasionais sem hora para acabar.

Foram dias de almoços sem pressa, de explorar trilhas, de aprender a escalar barrancos íngremes, subir em árvores, dias de parquinho, de se pendurar de ponta cabeça, de se escalavrar no asfalto em quedas de bicicleta, de sentar no tapete da sala para ler O Hobbit.

A televisão quebrou no primeiro dia de férias. E o que pareceu um castigo celeste a todos aqueles a quem contei o evento ("Como você vai fazer com as crianças, as férias inteiras sem tv???") revelou-se providencial e transformador.

As crianças aceitaram muito rapidamente a ausência da tv. E entendi que os verdadeiros dependentes necessitados de desintoxicação eram os adultos. Dei-me conta do quanto me apoiava na televisão, Santo Netflix da Paz Duradoura, nos momentos em que julgava que a presença das crianças pudesse ser um estorvo. "Como você vai fazer o jantar com eles correndo em volta?", perguntavam minhas caraminholas. E ficou claro que o único estorvo era a ansiedade que eu cultivava ao ficar presumindo possibilidades de incômodo. Na hora de preparar o jantar, eles sentavam-se à mesa para observar e muitas vezes ajudar. Picavam legumes, rasgavam alfaces, quebravam ovos, mexiam panelas, apanhavam na geladeira os ingredientes que eu requisitava, colocavam os pratos à mesa, os talheres sobre o guardanapo dobrado. Seu interesse era encantador, e enquanto eu não pretendesse ter pressa em terminar o processo, tudo fluía divertidamente como um comercial da tv quebrada. Em outras ocasiões, eu me via cozinhando em silêncio ou conversava com meu marido e as crianças permaneciam desaparecidas em algum canto da casa, imersas em suas brincadeiras e completamente alheias à nossa presença e o que quer que estivéssemos fazendo.

Não havia estorvo nenhum e rapidamente a ansiedade foi substituída por calma e a certeza de que meus filhos não precisavam ser "distraídos" da minha rotina, mas sim, precisavam participar dela.

Essa calma foi como uma chuva lenta de fim de tarde lavando a sujeira das janelas, e aos poucos meus olhos pareceram começar a enxergar os eventos como eles eram de fato, sem os velhos padrões maculando meu julgamento. Comecei a observar. E ao observar mais, passei a reagir menos.

Num fim de tarde, nos jardins do clube, após nosso piquenique, as crianças chapiscavam os dedos numa pequena fonte de água cristalina com pedras lisas ao fundo. Alguns passantes lançavam olhares de reprovação para aquela interação com o patrimônio do clube, mas eu apenas olhava em silêncio, lembrando-me de como também eu na mesma idade adorava brincar com fontes, e pensando na falta que faz um riacho. Como seria se houvesse um trecho de mato com um riacho limpo, um córrego que fosse, que eles pudessem explorar, enfiar os pés, cutucar as pedras, acariciar o limo, entender a água, fazer experiências e usar toda aquela curiosidade para desenvolver o potencial de seu espírito. Pensei nos parques públicos. Pensei nos lagos sujos. Deixei que enfiassem as mãos na água limpa da fonte até alcançar as pedras do fundo, pois aquele era seu riacho, o riacho de quem vive na cidade.

Naquele instante em que eu parabenizava a mim mesma por ser uma mãe legal (porque a gente sempre faz isso), os dois se viraram para o jardim, apanharam algumas folhas secas e retorcidas e jogaram na fonte. Meu corpo todo retesou-se e ergui um dedo acusador em sua direção, mas por algum motivo minha boca permaneceu aberta, as palavras duras de repreensão flutuando entre a língua e a garganta, sem soarem moralismos, vergonhas, lições de bom comportamento. E por um segundo, um micro segundo, observei. E naquele micro segundo meus filhos abriram sorrisos largos e ergueram seus olhos grandes e incandescentes de alegria para mim, e disseram: "Olha, mamãe! São barcos!!" E aqueles barcos carregaram sementes que eram bichos e flores que eram pessoas, através de um oceano vasto e cheio de perigos, enfrentando ondas e dragões marinhos, naquele espelho d´água de noventa centímetros, o grande oceano da cidade grande, o portal mágico para um mundo fantástico que poderia ter se arruinado e fechado para sempre ao mero soar de um retumbante "NÃO!".

Meu corpo relaxou, recolhi meu dedo, engoli meu julgamento e minha boca aberta sorriu, enquanto acompanhava a brincadeira. Houve mais olhares reprovadores em volta, mas não me importei. Quando outro elemento aleatório atraiu seu interesse, suas mãozinhas recolheram as folhas molhadas e as devolveram ao jardim sem que eu precisasse dizer nada, e enquanto corriam para longe, observei o oceano infinito retornado ao seu estado original de fontezinha de jardim, sem qualquer prejuízo ao patrimônio e, principalmente, sem nenhum prejuízo à imaginação das crianças.

Depois desse episódio, comecei a prestar mais atenção. A quebra da tv, que nos desintoxicou do hábito de ficar assistindo a bobagens no YouTube à noite, me jogou de volta aos livros com tamanha força que hoje me orgulho em ter novamente o mesmo ritmo de leitura de dez anos atrás, quando celulares só faziam ligações telefônicas, e uma hora de internet ligada custava uma fortuna. "Aqui e Agora! Atenção!", dizem os pássaros do Aldous Huxley, no excelente livro A Ilha. E é com atenção no Aqui e no Agora que você permanece, às vezes naturalmente, outras vezes, com algum esforço, quando tenta acompanhar as crianças com a mente despida dos antigos padrões e diretrizes que normalmente criam essa verborragia de NÃOs e PAREs.

Ao parar de presumir que as crianças sujarão a fonte, quebrarão os copos, matarão as joaninhas, cairão das cadeiras, cortarão os cabelos das bonecas, ao interromper essa torrente de preocupações e julgamentos, muitas das quais foram incutidas sem razão em nossas mentes por toda uma vida, podemos quebrar o hábito do NÃO irracional, o NÃO e o PARE cuspido sem dar chances à experiência, e de repente damos oportunidade às crianças de navegar barcos, de criar música com uma colher e dois copos com água, de sentir uma joaninha lhes fazer cócegas ao subir por seu braço, de ter a autonomia de pegar uma banana sobre a mesa ficando em pé na cadeira, de aprender a recortar formas sem nome em papéis e explorar a resistência de materiais (inclusive os cabelos da boneca), e colar tudo de volta para criar algo completamente novo. Sua alegria, sua curiosidade, seu olhar refrescante sobre aquilo que para nós é já maçante, torna-se nossa alegria e nossa curiosidade, e rejuvenesce nossa relação com o mundo.

Meu NÃO ficou mais ocasional e ganhou força por conta disso. Minha disciplina tornou-se uma educação mais tranquila e amorosa. Aos poucos tento deixar para trás alguns moldes que me engessavam e engessavam meu relacionamento com meus filhos. Tirei-os da natação depois de uma conversa em que me dei conta de que eles ansiavam pela piscina livre do clube, para brincar, e não queriam mais um adulto lhes dizendo como se mexer na água. Eles já sabem o que fazer se forem jogados dentro d´água, e por enquanto isso basta. Sem ir tanto a São Paulo, agora suas tardes são longas e seu tempo é vasto, e depois da escola não há mais pressa para almoçar nem horário para sair do parquinho.

E no parquinho, enquanto eles brincam na areia, cutucam flores e escalam a rampa do escorregador, eu leio, sem pressa. Mais um livro que me esperou por anos na estante, esperou que eu perdesse o interesse pela internet, pelo celular, pela expectativa dos outros, pela norma imposta de fora. E num dia de parquinho, já passando das cinco, pensei naquele conceito que ouço repetido à exaustão, de que para quem tem filhos o fim de tarde é o pior, pois estamos exaustos e as crianças começam a fazer birra. Conheço isso por experiência, pois foi o que vivi nos últimos cinco anos. Mas não nos últimos meses. Eram cinco e meia e as crianças brincavam, e eu lia meu livro, e havíamos feito uma infinidade de coisas àquela tarde depois da escola, e ainda assim sentia em minha veias uma energia vibrante que me propelia a voltar para casa e fazer o jantar, e ler para as crianças, e brincar mais um pouco e, ao invés de cair moribunda no sofá depois de eles dormirem, continuar produzindo, pintando, conversando, lendo mais. Está claro para mim que a exaustão que senti nos últimos cinco anos partiu de mim mesma e do modo com tentei controlar as coisas à minha volta. Do modo como deixei meus velhos padrões impulsionarem minhas ações e reações sem de fato me permitir estar presente e atenta. Sem me permitir desfrutar de fato da companhia de meus filhos e de tudo o que eles têm a oferecer. Até então eu estava "criando" meus filhos. Agora estamos vivendo juntos.

Naquela tarde, voltando para casa, comecei a preparar as vagens branqueadas e temperadas de muito azeite que acompanhariam um soufflé de queijo. Thomas se aproxima e me diz, como ele sempre diz, escandindo sílabas e colocando toda a tonicidade no início da frase, num tom de novidade e maravilhamento: "VOCÊ NUN-CA FEZ um soufflé de chocolate, mamãe!" Respondi que de fato nunca fizera. "Faz soufflé de chocolate, mamãe? Faz hoje?"

Eu pretendia dizer NÃO. Que faria outro dia. Que o jantar já era soufflé e que não fazia sentido. Mas novamente as palavras se dissolveram na minha boca antes de formarem som. Por que não?

POR QUE NÃO?

É a pergunta que mais figura em minha mente. E quase nunca a resposta se forma. E até minha filha de três anos sabe e repete aos quatro ventos que Porque Não e Porque Sim não são respostas.

Então separei mais ovos e preparei soufflé de chocolate pela primeira vez na vida, assim, de supetão. E descobri que soufflé de chocolate pode ser feito com antecedência, então fiz uma receita inteira e sobrou sofflé de chocolate para comer no dia seguinte também. Também descobri que soufflé de chocolate é perigosamente fácil de fazer e mais ainda de comer, principalmente essa receita da titia Alice Medrich, o que comprova que foi muito certeira a decisão de colocar esse livro de sobremesas fáceis dela na minha lista de Livros Para Levar Para uma Ilha Deserta.

E foi assim que uma tv quebrada nas férias produziu meu primeiro soufflé de chocolate e uma vida mais feliz.

E para quem já me perguntou sobre livros de "Parenting", indico de coração cheio de alegria o livro Calidad de Vida, da alemã Rebeca Wild. Sobre ritmos de desenvolvimento e qualidade de vida. Mudou meu jeito de ver meus filhos, a escola, e mesmo minha infância e minha vida adulta. Se quiser depois ler Vigiar e Punir, do Michel Foucault, será um ótimo contraponto.

SOUFFLÉ DE CACAO
(do sempre ótimo Sinfully Easy Delicious Desserts, da Alice Medrich)
Rendimento: 8 porções em ramequins de 150-180ml.

Ingredientes:
  • Manteiga amolecida e açúcar para os ramequins
  • 1/2 xic + 3 colh (sopa) açúcar
  • 2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1/8 colh (cha) sal
  • 2/3 xic leite
  • 1/2 xic cacao em pó (sem açucar)
  • 3 colh. (sopa) água
  • 2 ovos grandes, separados + 2 claras
  • 1 colh (chá) extrato de baunilha
  • 1/8 colh (chá) cremor tártaro (se não tiver, 1/2 colh (cha) suco de limão ou vinagre bastam - só é preciso algo ácido para estabilizar as claras)
  • 75g chocolate meio-amargo ou amargo picado finamente ou 1/2 xic chips de chocolate

Preparo:
  1. Coloque a grade do forno no terço inferior e pré-aqueça a 190oC. 
  2. Unte com manteiga todos os ramequins e polvilhe açúcar no interior para recobrir e o fundo e as paredes, descartando o excesso.Posicione os ramequins sobre uma assadeira grande. 
  3. Com um fouet, misture 1/2 xic do açúcar com a farinha e o sal em uma panela pequena. Junte um pouco do leite para formar uma pasta grossa. Então continue adicionando o restante do leite, mexendo para não empelotar.
  4. Ligue o fogo médio-baixo, mexendo com uma colher de pau até que surjam bolhas nas laterais. Então continue cozinhando, mexendo sempre para não pegar no fundo, até que engrosse um pouco, cerca de 2 minutos. 
  5. Despeje a mistura numa tigela grande. Junte o cacau, água, GEMAS de ovo e baunilha e misture para formar uma pasta grossa. Reserve.
  6. Numa batedeira, bata as quatro claras com o cremor tártaro em velocidade média até que picos moles apareçam ao se levantar o batedor. Gradualmente junte as 3 colheres de açúcar restantes, batendo em velocidade alta até que as claras estejam firmes, mas não ressecadas.
  7. Incorpore cerca de 1/4 das claras na pasta de cacau de forma grosseira, para tornar a massa mais leve. Junte o restante das claras e então incorpore rápida e delicadamente com a espátula. Junte o chocolate picado. 
  8. Divida a massa entre os ramequins, até que estejam quase completamente cheios. Nesse ponto, os soufflés podem ser refrigerados por até 24 horas, cobertos com filme plástico. Para assar, basta retirar o filme e ir direto ao forno, deixando uns 3 minutos a mais. 
  9. Asse os soufflés por 12 minutos até que inflem (eles podem rachar no topo)e um palito inserido no meio saia com apenas um pouquinho de massa espessa grudada. Sirva imediatamente. 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Meditando, fazendo menos, fazendo mais. Mais bolo.


Sexta-feira é dia de fazer bolos.

Depois do almoço, antes mesmo de lavar a louça, ligo o forno, separo os ingredientes da receita escolhida pela manhã e as crianças põem-se a quebrar ovos. E mamãe depois põe-se a catar casquinhas de ovos da massa.

Às vezes é apenas Laura que participa. Às vezes Thomas também. Depende dos planos deles, que eu também não quero forçar ninguém. Mas Laura mesma já fez um bolo de iogurte tantas vezes, misturando tudo sozinha com a colher de pau, que na minha mente esse já é oficialmente o "Bolo da Laura".

Enquanto o bolo assa, eles lambem a tigela e eu arrumo a bagunça toda. E depois arrumo as crianças, com massa de bolo nos cotovelos e no topo das cabeças.

Experimentamos do bolo fresquinho assim que esfria, na hora do lanche da tarde, e eis que há bolo para o lanche da escola na semana seguinte. A não ser que haja biscoitos. Biscoitos andam ganhando do bolo, principalmente esses de gengibre...

E na última sexta-feira o bolo foi de coco. Uma receita deliciosa de Dorie Greenspan que eu nunca preparara, apesar de ter tido esse livro comigo por todos esses anos. O bolo é úmido, macio, de textura compacta, muito perfumado, do tipo que eu como inteirinho sem deixar pra ninguém. A receita original é feita em uma forma de Bundt Cake, e o bolo sai lindo e decorado. Mas eu não tenho mais um forma Bundt. Porque me dei conta de que todas as receitas que haviam sobrado nos livros que ficaram comigo podiam ser feitas na boa e velha (bota velha nisso) forma de bolo com furo que eu surrupiara de minha mãe, e onde ela assara todos os meus bolos de cenoura de infância. Ela é grande, com o teflon gasto e meio amassadinha de cair no chão, mas é ótima e comporta todo tamanho de bolo, inclusive Angel Food Cakes de 9 claras, porque suas paredes são retinhas e não inclinadas.

E no meu processo de simplificação (de novo, porque ele vai e volta, como dá pra ver se você lê o blog todo), coloquei à venda todas as formas de que eu não precisava mais. Porque meus filhos querem um bolo gostoso e não ligam para os desenhos lindos das formas especiais. E hoje em dia, confesso, eu também não.

Ando não ligando mais para muita coisa que costumava me atormentar. E devo isso a meu marido lindo que me lembrou há uns meses atrás que eu deveria voltar a meditar. E assim voltei. Não digo todo dia, porque nada é perfeito. Mas se dia sim, dia não, o efeito já tem sido fantástico. De tal modo que já não me lembro mais do por quê de ter parado um dia.

E num dia, depois de meditar, olhei à minha volta e me veio uma constatação importante. Besta, óbvia, mas importante. Que era importante simplificar. Que era importante me livrar das tralhas. Mas que se minha mente continuasse focando apenas nas tralhas, então eu continuava com a mente apenas nas coisas. E as coisas eram sintomas e não causas. E que mais importante ainda do que simplificar as coisas, era simplificar a cabeça.

Meditar ajuda um bocado a simplificar a cabeça. Porque faz com que você enxergue a vida com mais nitidez. E aquilo que parecia desordenado e caótico de repente se alinha e você consegue discernir o que é importante do que não é, o que é necessário do que é dispensável, o que é evitável do que precisa ser enfrentado.

E percebi que o mais complica nossa vida é a ansiedade. Não é à toa que metade do mundo moderno anda por aí dopado de ansiolíticos. E ao invés de tomar uma segunda taça de vinho à noite para aplacar a ansiedade do meu dia, resolvi reavaliar minha rotina e definir o que diabos me deixava tão ansiosa. Tão ansiosa que eu dormia mal, tão ansiosa que eu não conseguia curtir o tempo com meus filhos, tão ansiosa que eu me sentia improdutiva, inadequada, inquieta, insegura, insatisfeita. O que me trazia tanta palpitação, tanto medo, tanto descontrole que não me permitia aproveitar minha vida.

Começou pequenininho.

Começou pelo celular. Porque vi como meu dia correu tranquilo quando o Whatsapp teve aquela pane de 24 horas. Por um dia inteiro eu não corri para catar o celular toda vez que ele pirlimpimpava do meu lado. Por um dia inteiro não me senti constantemente interrompida.

E foi assim que eu desliguei para sempre todos os avisos visuais e sonoros do Whatsapp, que agora só averiguo quando lembro que ele existe. E o celular passa o dia na bolsa, e não na minha mão.

Outra do celular foi desligar o Pinterest, que agora só existe no computador. Porque a sensação de não ter um tempo quieto para mim, para ler e desenhar, era acachapante. E foi assim que voltei a carregar na bolsa o mesmo Kit Tédio que eu carregava comigo antes de os celulares virarem essa ferramenta de controle nosso e dos outros: um bom livro e meu sketchbook. E daí que quaisquer três minutos livres e estou terminando de ler um capítulo ou rabiscando um transeunte desavisado. E o tempo passa mais rápido, e é mais divertido e mais relaxante do que ficar zapeando o telefone. E é tempo meu. Tempo bom e produtivo.

Rapidamente me vi desligando quase todos os aplicativos existentes no celular que tilintavam, interrompiam, controlavam.

Colocar à venda meu Mac (pois fazendo tudo em tinta eu só o usava para pegar emails) causou outra mudança. O PC que era só do marido veio para meu atelier e agora é dos dois. Pode ser a tela, pode ser o teclado, mas não me sinto menos impelida a passar minhas manhãs fuçando na internet.

E a internet, com a vida dos outros que não é a sua, com a próxima grande novidade de ontem para a qual você já está atrasada, e a impressão de que tudo corre e tudo muda numa velocidade que você, maratonista equilibrando pratos não consegue acompanhar, causa uma ansiedade brutal.

Entro na internet para ver alguma coisa específica. Ler o post de um blog que me inspira a ir cada vez mais devagar. Pegar uma receita. Responder email de um cliente. E eu desligo e vou fazer outra coisa.

E estar mais desconectada tem me feito resgatar a sensação de que a vida é minha. Não é de ninguém mais para olhar nem para viver. E consigo olhar para ela com olhares mais atentos e lentos e interessados no que é só meu e não dos outros. E definir o que eu quero de verdade e não o que eu achava que eu queria porque meu ambiente me empurrava a querer, ou porque meus filhos precisam se encaixar na turma, ou porque alguém pode ter a ideia errada a meu respeito.

Fui cortando da minha rotina todas as as variáveis que me deixavam ansiosa, e mudando aquilo que eu podia mudar. O exemplo mais besta foi ter alterado o horário da natação das crianças. Conversei com os dois e agora eles nadam juntos, e não um em cada horário. Eu tenho 40 minutinhos para tomar um café e ler meu livro e depois temos tempo de sobra para ir ao parquinho e fazer nosso piquenique em algum canto quieto do clube. Laura faz questão de levar várias coisinhas diferentes para o piquenique, pois segundo ela, se tem uma coisa só não é piquenique, é lanche. E mesmo quando tempos compromisso no fim da tarde não é mais correria, sensação de estarmos constantemente atrasados.

Passei todos esses anos ansiosa acreditando que eu deveria fazer mais e mais e mais, inclusive trabalhar mais. Porque a vida é assim, porque as mulheres são assim, e ser mulher é fazer tudo ao mesmo tempo.

Pois um dia me dei conta de que ninguém no leito de morte se arrepende de ter trabalhado pouco, ou de ter passado tempo demais com os amigos. Cada dia meu passa e eu me pergunto se ele foi bom. E meu dia é bom de muitas outras formas que não são apenas trabalhando. Desde que eu esteja mergulhada em cada momento. Sem distrações. Sem pensar onde não estou. No que eu deveria estar fazendo. Ou no que eu acho que eu deveria estar fazendo.

E por isso estou me aposentando dessa tarefa ingrata de equilibrar pratos e correr maratonas, como o mundo faz acreditar que toda (boa) mulher deve ser. E estou escolhendo fazer menos. Muito menos. Para viver mais. Para andar mais de bicicleta e ir mais ao parquinho, para pintar no quintal com guache de criança que não é lavável coisa nenhuma, e colecionar pedras durante o passeio do cachorro, e jogar dominó no tapete da sala, e ouvir música no café da manhã e fazer bolos na sexta-feira depois do almoço.

A vida corre tranquila quando a mente não se distrai do que estamos fazendo. Mesmo que a atividade em questão seja apenas dirigir para a natação. Ou varrer o quintal. Ou começar uma aquarela nova. Ou contar uma história na hora de dormir.
Cansei de pensar no que vem depois ou no que poderia estar sendo enquanto não é. Cansei do resultado. Quero apenas o processo, pois ele é muito mais longo do que o resultado. E quando a cabeça não está no resultado, as falhas são menos duras. E a gente não se estressa tanto quando chega atrasado, e não fica fulo quando queima a geleia de maçã no fogão, quando o bolo gruda, quando tem reunião da escola em dia que você tinha se planejado a trabalhar,  quando simplesmente não deu tempo de terminar aquela pintura hoje.

E ao invés das palpitações e dos medos, na minha mente encontro o silêncio.

E quando paro para pensar no que eu quero, lembro das respostas que eu tinha antes: quero uma casa assim e assado, quero viajar muito, quero expor meus quadros em tal lugar, quero X reconhecimento no meu trabalho, quero um vestido desse jeito, quero uma cozinha daquele modo.

Então chacoalho a cabeça como um risque-rabisque para desfazer esses desenhos antigos. E no meio do caos e da desordem, tudo se alinha. E o que eu consigo enxergar com nitidez é que eu quero uma vida tranquila. E só.

BOLO DE COCO
(Do sempre maravilhoso Baking FRom My Home do Yours, de Dorie Greenspan)

Ingredientes:
  • 2 xic.  farinha
  • 1 colh. (chá) fermento
  • 1 pitada de sal
  • 1 xic. leite de coco (usei caseiro - se tiver separado, mexa bem antes de medir)
  • 4 colh. (sopa) manteiga sem sal (uns 60g)
  • 4 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 2 xic. açúcar
  • 1 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 2 colh (chá) rum (opcional)
  • 3/4 xic. coco ralado (não adoçado, adoçado, tostado, tanto faz - usei não adoçado)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte a forma de furo no meio ou Bundt com manteiga.
  2. Peneire a farinha, fermento e sal numa tigela e reserve.
  3. Numa panela, aqueça o leite de coco e a mateiga até que a manteiga derreta e reserve para usar ainda morno.
  4. Na batedeira, bata os ovos inteiros e o açúcar até que fique claro, fofo e tenha dobrado de volume.
  5. Junte e baunilha e o rum. 
  6. Reduza a velocidade e incorpore a mistura de farinha, apenas até que a farinha desapareça.
  7. Ainda em velocidade baixa, junte o coco ralado e por último o leite de coco e manteiga mornos, num fio constante. 
  8. Quando a mistura estiver homogênea, derrame na forma e leve ao forno por 1hora ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe esfriar por dez minutos antes de tentar desenformar. 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

A rainha dos bolinhos

Esses, de arroz vermelho e cenouras assadas com ervilha. 
Quando o tablete de manteiga bate os sete reais e o quilo das nozes vai para os cento e setenta, chega a hora de repensar sua despensa. Decreto a fase natureba-Bela-Gil-farinha-de-espelta-tâmaras-Medjool-lentilha-vermelha-importada morta e enterrada.

Não dá mais.

Dinheiro não nasce em árvore e a cada semana eu tomo mais um susto no supermercado.

Foi preciso, com dor no coração, repensar as prioridades e voltar ao bom e velho arroz e feijão convencional, comprado em grandes sacas a preços mais em conta, para poder continuar alimentando meus pimpolhos com verduras e ovos orgânicos e carnes de qualidade.

Se já tinha simplificado meu guarda-roupa, meu escritório e minha biblioteca – não digo "a vida" porque esse é um processo looooooooooooongo se não eterno – agora é hora de simplificar a despensa. Como quase todos os meus livros têm a mesma influência mediterrânea, realmente não faz mais sentido ter à mão aquela miríade de farinhas especiais e grãos exóticos.

Confesso, também, que comi tanta quinoa no ano passado que enjoei.

Olhei com ansiedade para as prateleiras, fantasiando com a possibilidade de ter menos ingredientes ali. Arroz agulhinha, arroz arbóreo, algum feijão ou lentilha (um só, pra que mais, se sempre tenho variedades das outras levas congeladas?), spaghetti, fusilli (que há já muito tempo me dei conta de que são os dois formatos mais versáteis para se ter, porque tagliatelli faz-se em casa), e quem sabe uma polenta. As farinhas, de trigo branca e integral, centeio e sarraceno que eu amo e essas sim uso muito. Açúcares, cacau, amido. E parece que com isso faço tudo.

O restante, ali, ocupando espaço e me irritando toda vez que me lembro das datas de vencimento e do iminente aparecimento dos carunchos, precisava ser utilizado. E já brincou meu marido: Ana Elisa adora uma missão. Eu sou aquela pessoa que está tranquila procurando o lugar para pagar o estacionamento, e então, ao encontrar o guichê, sai em desabalada carreira como se o chão estivesse pegando fogo. Estou em uma missão, dá licença, faz favor.

E a missão é: usar todos os ingredientes exóticos da despensa o quanto antes para não deixar estragar e não cair na tentação de estocar mais daquilo outra vez.

Mas tem sido difícil, admito, pois sinto que meu paladar se revoltou contra mim e anda rejeitando pães de teff e panquecas de amaranto. Quero spezzatino, e pasta e fagioli, e filé de peixe com escarola e azeitonas. Quero um bom bolo de iogurte que meus filhos possam fazer comigo, quero biscoitos de chocolate que eles rolem em bolinhas nas mãos antes de colocar na assadeira e um bom pão com manteiga para acompanhar meu café.

Todos esses anos foram um delicioso aprendizado, mas agora anseio por aquela minha despensa do primeiro ano do blog. Precisei passar todo esse tempo complicando para valorizar aquela simplicidade. Achava besta, naquela época, cozinhar vagens e temperá-las com azeite e parmesão. Que chatice. Hoje as crianças e eu devoramos um prato de vagens com azeite e parmesão e vejo quanto tempo demorei para aprender a escolher as vagens certas, jovens e macias, e a cozinhá-las pelo tempo certo, sem que ficassem duras demais ou moles demais, e, enfim, aprendi a temperar corretamente, sem economizar no azeite e sem exagerar no parmesão.

Claro, o fato de as crianças hoje comerem as vagens assim inteiras, sem que eu precise camuflá-las em pedaços menores dentro de uma frittata, ajuda e muito.

Vejo quantos livros precisei ler e quantas receitas diferentes precisei cozinhar até olhar para minha geladeira aparentemente desconexa e enxergar ali um prato completo, sem mais precisar apanhar livro nenhum. Como transformar uma travessa de arroz e uma panela de feijão em quinze diferentes opções para o jantar. Num dia, arroz e feijão comum, no dia seguinte, stir-fried rice com legumes, depois, pasta e fagioli. E quando sobra uma colherada de arroz, nem uma conchinha de feijão e meia dúzia de talos de brócolis, transforma-se tudo em bolinho.

Eu virei a rainha dos bolinhos. Principalmente agora, com as quantidades pouco precisas dos ingredientes exóticos na despensa. Não tem painço o bastante para fazer uma travessa para quatro pessoas, mas se eu misturar a outros três ingredientes sem par, há bolinhos o bastante para alimentar quatro bocas, acompanhados de uma salada. (Mas se você tiver painço o bastante e mais um punhado de ingredientes exóticos, recomendo muito ISSO AQUI, que não parece grande coisa mas é delicioso e perfeito para esse friozinho.)

Lembro-me de rir comigo mesma da quantidade de bolinhos e panquequinhas que Bill Granger tinha em seus livros. Hoje entendo e aprecio sua versatilidade. Mas já não preciso mais dos livros para prepará-los. Principalmente porque a graça dos bolinhos não é cozinhar coisas do zero, já que você ainda terá de fritá-los ou assá-los, mas justamente usar algo que já está ali abandonado na geladeira, e a produção dos mesmos alimenta e evita o desperdício. Além das crianças comerem bem alguma coisa que eles possam não ter gostado na refeição anterior. ;)

Amo bolinhos. ^_^

E amo o modo como você finalmente os entende. Você bate tudo no processador. Nunca até virar uma pasta. Sempre deixando alguma textura interessante. Se faltou liga, pode colocar ovo, linhaça, chia, ou qualquer raiz ou tubérculo cozido, seja batata, batata-doce, mandioca, mandioquinha, inhame, cará, o que for. Se está muito mole, farinha, farinha de rosca, pão amanhecido, mais grãos, mesmo que misturados a outros (já fiz bolinho de arroz e feijão, que fica uma delícia)... Faltou sabor, é só bater junto mais ervas, mais alho e cebola, um pouco de queijo, curry, pimenta... Dá para mudar completamente o perfil de sabor de um prato ao transformá-lo num bolinho.

Um tempo na geladeira é sempre bom para a massa firmar mais e o sabor se acentuar. Dá pra fazer a massa numa hora, tempos depois porcionar e empanar, e só no fim do dia ou no dia seguinte de fato cozinhá-los. Já falei que amo bolinhos? ;)

Se a massa ficou bem úmida e molinha, frita-se às colheradas num fio de azeite, e nesse caso costumo acrescentar um pouquinho de fermento para que fiquem mais fofinhos. Se ficou firme o bastante para fazer bolinhas, pode-se empanar em farinha de rosca, fubá, ou farinha de mandioca, e fritar em imersão ou mesmo assar. Ou apenas fazer as bolinhas e assá-las como são. Pode-se fazer em formato de quibe, em formato de croquette, e assim ir variando a apresentação para a pimpolhada.

O importante de verdade, seja fritando num fio de azeite, num fundo de óleo ou em imersão mesmo, é que o óleo esteja na temperatura certa (o truque de colocar o fósforo no óleo e esperar ele acender sozinho funciona sempre). Se o óleo estiver frio, os bolinhos podem se desmanchar e você vai estragar a comida que não queria jogar no lixo e o óleo, tudo ao mesmo tempo. :P

Aqui em casa parece que nunca consigo repetir um bolinho, e pelo menos uma vez por semana, as crianças almoçam bolinhos e salada. Num dia sirvo com vinagrete de tomate, no outro, salsa verde ou pesto; no ápice da preguiça, simplesmente ketchup e maionese, mas meu favorito de todos é o molhinho de tahini e iogurte. Só misturar iogurte com uma colherinha de tahini, azeite, limão, sal e pimenta-do-reino. Fica especialmente bom com bolinhos que são empanados e fritos, como os da foto.

Esses, foram feitos com o que sobrara do almoço do dia anterior: arroz vermelho cozido, e cenouras assadas com ervilhas e hortelã. Bastou misturar um ovo para dar liga, acertar o tempero e pronto. Empanei na farinha de rosca e foram fritos em uns 2cm de óleo.

Maravilha das maravilhas, esse salvadores de tempo, comida e dinheiro que são os bolinhos. Mas e se os sobram justamente os bolinhos???? Aí eu faço o que sempre gostei de fazer desde criancinha, quando minha mãe fazia bolinhos de arroz e espinafre... Surrupio e como sozinha os bolinhos direto da geladeira num momento de paz para curtir o espólio delicioso de tanta economia doméstica. ^_^


....

Hoje não tem receita, mas tão somente esse post "sugestão" do que fazer com aqueles seus três potes de comida desconexa que estão prestes a ir pro lixo. ;)

quinta-feira, 28 de abril de 2016

De uma abóbora, de um churrasco

Uma bruschetta de abóbora feita na grelha. 
Naquele fim de semana de feriado havíamos combinado de relaxar. Marido acenderia mais uma vez a churrasqueira para usarmos o que sobrara de um evento anterior, tomaríamos uma cerveja das nossas, uma Chocolate Stout que dera muito certo, e deixaríamos as crianças brincarem na piscininha de plástico montada no quintal, para aproveitar o que prometiam ser os últimos dias de calor antes de o Outono já bem atrasado emplacar.

Mas o marido, infelizmente, precisou ir a um enterro de um familiar de amigos nossos.

Ele saiu cedo, enquanto eu passeava o cachorro. Laura acelerava no patinete azul pelas ruas, e Thomas parava nos terrenos baldios, colecionando galhos da minha altura como um pequeno caçador buscando fazer uma fogueira para assar um alce inteiro. Seus dedos se esverdeavam com o líquen que esfarelava dos galhos enquanto ele os movimentava, dando vida a cada um deles, seus dragões de combate, com asas imensas, caudas compridas e habilidades as mais variadas.

Voltamos para a casa vazia, sentindo o sol das nove horas já quente sobre os ombros, e tão logo Laura presenteou Gnocchi com um biscoito, Thomas girou sobre os calcanhares e pediu: Vamos ao parquinho!

Fomos. Novamente apanhei meu livro e caminhamos ladeira acima até o parquinho ensolarado, onde outra vez pude chafurdar meus pés na areia sob os balanços e observar a brincadeira silenciosa dos dois enquanto lia sobre aventuras parisienses. Às vezes desviava os olhos das páginas para ver Laura empoleirada no topo de um brinquedo de madeira, testando seus limites. Em outros momentos, largava o livro aberto para empurrá-la no balanço, mais alto, mais alto até ela acreditar que poderia tocar os dedinhos dos pés nos galhos das árvores. Enquanto isso, Thomas continuava mergulhado no mundo dos dragões feitos de galhos que invadem castelos de areia defendidos por pedras que ele colecionara no caminho. Ele erguia a cabeça de seu universo de vez em quando para chamar minha atenção e me fazer assistir a uma batalha épica entre inimigos mortais.

Passou-se uma hora. Ou duas. Ninguém sabe. Eu não tivera notícias do marido, mas acreditava que ele voltaria para o almoço e achei que poderia já deixar tudo preparado.

Voltamos para casa, areia nos pés, nos cabelos, pele quente, como quem volta da praia. Sunguinha e biquini e crianças na piscininha.

Olhei para a churrasqueira. Ela olhou de volta com ares desafiadores. Desde que lera Cooked, do Michael Pollan, em que ele apontava o fato de que churrasco parecia ser universalmente um campo da cozinha relegado aos homens, eu andava com vontade de aprender a pilotar a churrasqueira. Sabe como é. Controladora como sou, não gosto de depender de ninguém, e é da minha natureza gostar de aprender coisas novas.

Allex já me ensinara os macetes uma vez, mas fora aquele meu churrasco supervisionado, eu nunca mais me aventurara realmente sozinha.

Montei uma mesa com algumas castanhas e pepinos fatiados para as crianças, rasguei o saco do carvão e saltei para o precipício.

A churrasqueira foi resistente. Ela parecia não apreciar a configuração de carvão que eu criara e demorou bem uns vinte minutos e umas quatro tentativas para então render-se a minhas mãos femininas e permitir que aquele fogo crepitasse como se deve. Não contive uma pequena dancinha de satsisfação.

Minha dancinha é interrompida por um recado do marido, dizendo que vai ficar por lá dando apoio aos amigos, o que considero apropriado.

Bom...

O fogo está aceso. As crianças estão contentes.

Churrasco de menina, então. ;)

Entrei para apanhar uma cerveja e uma abobrinha em fatias finas e ri de meu reflexo na janela, aquela mulher meio descabelada, de avental florido e pó de carvão tão uniformemente espalhado por meus braços e rosto que eu parecia ter saído de uma mina.

Coloquei as abobrinhas na grelha para testar o fogo. Pois sempre que Allex acende o fogo, é isso que faço: uso as labaredas mais altas para grelhar as abobrinhas, e quando elas estão prontas, o calor está bom para entrarem os primeiros espetos de queijo-coalho.

Alegro-me em ver as fatias verdes ganhando marcas negras no tempo certo, e da grelha elas vão direto para uma tigela com azeite, alho picado, sal, pimenta-do-reino e ervas frescas, para marinarem e absorverem os temperos. Não pretendo servi-las naquele momento. Ao invés disso, elas viram uma conservinha rápida e saborosa que vai direto pra geladeira para compor uma refeição no meio da semana.

Levanto os olhos para ver as crianças correndo em volta da casa com espadas e escudos nas mãos, e levanto a grelha para rearranjar o carvão, criando uma rampa, para ter duas temperaturas distintas. Na parte mais quente, coloco alguns espetinhos de queijo. Na parte mais morna, coloco fatias de abóbora, de mais ou menos 2cm de espessura, para cozinharem lentamente até ficarem negras por fora e desmanchando por dentro.

De repente percebo que as crianças se cansaram do maiô molhado e vejo dois bumbuns branquinhos em contraste com o verde das plantas, enquanto eles quebram galhos do meu pé de manjericão morto para fazerem armadilhas para os dragões de pelúcia. Eventualmente vejo suas mãos de soslaio, roubando as castanhas e os cubinhos de queijo quente e dourado da tábua. Então somem novamente para suas brincadeiras, encenando Chapeuzinho Vermelho, Laura deitada na rede usando meu chapéu de sol e sendo a vovó que vira o lobo, Thomas alternando entre a voz aguda da Chapeuzinho assustada e o tom grave do caçador, de espingarda de plástico e escudo do Capitão América.

Coloco fatias de pão de fermentação natural para esquentarem sobre o fogo, enquanto fatio um tomate. O pães tostam mais do que devem, num momento distraído em que tive de ajudar a pimpolha no banheiro, e então tenho que raspar a parte queimada com a faca antes de esfregar-lhe um dente de alho cortado e cobri-lo com tomate, sal e azeite.

Mesmo queimadinhas, as bruschette desaparecem dos pratos tão logo as coloco na mesa.

E agora é a hora da verdade.

Volto à cozinha para apanhar a linguiça.

Coloco a mão espalmada bem perto da grelha para sentir sua temperatura como faço com a frigideira no fogo. Espeto as linguiças de forma inegavelmente desajeitada, fazendo com que uma delas se rompa. Torço pelo melhor e coloco o espeto na grelha quente.

Sento um pouco no banco ao lado da mesa para roubar o último pedaço de queijo e bebericar minha cerveja. Gnocchi está deitado ao lado dos tijolos quentes da churrasqueira, preguiçosamente esparramado. As crianças tentam acertar as teias das aranhas com folhas, na tentativa de fazê-las grudar. Branquelinhas, de cabelos dourados herdados da parte alemã da família, elas são quase iridescentes sob o sol forte. Observo seus movimentos com calma, o vento fresco balançando as plantas devagar, e fico ouvindo o canto variado do sabiá do campo no telhado do vizinho e o estalar da gordura pingando sobre a brasa quente.

Volto às linguiças, preocupada com o fato de que elas parecem ter ficado prontas mais rápido do que o que levam quando preparadas por outra pessoa. Mas quando abro uma para testar, vejo que estão bem douradas por fora e cozidas por dentro, mas ainda suculentas, não ressecadas. Presenteio o cão com uma pontinha delas e chamo as crianças para comer.

Quando os pimpolhos, enfim vestidos e cansados, se recolhem voluntariamente para um cochilo, Thomas na rede, Laura no sofá, eu volto à churrasqueira com uma última fatia de pão, um pedaço de parmesão e uma latinha de azeite de oliva francês aromatizado com pimenta, presente de minha irmã.

Esquento o pão desta vez com cuidado, apenas para que doure, e nele esfrego um dente de alho, com cuidado para não queimar as pontas dos dedos. Apanho um ramo de sálvia do jardim e repouso sobre a grelha por meio minutinho, só para que o calor chamusque as pontas das folhas e libere seus óleos essenciais. Então pico as folhas. Apanho algumas fatias de abóbora, um purê de um laranja vivo apenas contido em sua forma por uma película enegrecida, e coloco sobre os crostini, onde elas são esmagadas com um garfo sem nenhuma resistência. Sal. Pimenta-do-reino. A sálvia perfumadíssima picada. Raspas delicadas de parmesão. O azeite picante.

Sento-me com os pés apoiados numa cadeirinha verde limão que Thomas trouxera de seu quarto, abro meu livro e dou uma mordida farta na minha bruschetta de abóbora, sentindo a força da sálvia e do azeite apimentado no nariz, a maciez quente e adocicada da abóbora no céu da boca e o pão crocante quebrando sob os dentes com um som alto que poderia espantar os passarinhos. Sinto um alívio imenso por nenhum vizinho ter ligado música naquela tarde e ouço as nuvens se desmanchando sob o vento.

Quando Allex retorna, as crianças ainda estão dormindo, exaustas. Ele vem sentar comigo no quintal sentindo o calor residual da cinzas na churrasqueira e do sol que começa a perder sua força. Há brinquedos e galhos e folhas, e maiôs coloridos e toalhas por toda a parte, testemunhos de um dia bom. Allex ri da minha empreitada, dando algumas dicas para o fogo acender mais rápido da próxima vez, e brincando que agora que eu faço churrasco ele não tem mais nenhuma função na casa. ;)

Eu lhe conto, empolgada, sobre tudo o que as crianças aprontaram e sobre meus planos de usar minhas novas habilidades para produzir um churrasco alla toscana, com outros cortes de carne, muitos legumes e um molho diferente do nosso vinagrete de sempre.

Na noite do dia seguinte, os espólios de meu churrasco de menina, abóbora assada e um pedaço de linguiça que não fora para o fogo, unem-se a tomates e cebolas e fusilli para um prato de pasta con la zucca, de Tessa Kiros, simples de preparo e complexo de gosto, salgado-adocicado, delicioso, reconfortante, devorado sem pressa. As crianças põem a mesa, servem-se de macarrão e queijo, divertem-se em identificar cada componente no prato e de caçar a "carninha" escondida no molho. "Achei mais uma!", dizem.

Tudo vai bem.

Porque faz tempo que não tem uma foto dos pimpolhos no blog. :)

PASTA CON LA ZUCCA
(Do maravilhoso Twelve, de Tessa Kiros)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

  • 3colh.(sopa) azeite
  • 1 cebola média, picada
  • 1 linguiça de cerca de 80g, sem a pele e esmigalhada, ou 80g de pancetta não defumada, picada
  • 300g abóbora, descascada em cubinhos de no máximo 2cm
  • 400g tomate pelado transformado em purê (fresco ou em lata)
  • pimenta calabresa seca à gosto
  • 500g massa curta como penne ou fusilli
  • parmesão ralado na hora para servir


Preparo:

  1. Aqueça o azeite em uma panela e refogue a cebola com uma pitada de sal até que amacie. 
  2. Junte a linguiça ou a pancetta em fogo médio e refogue até que tenha dourado ligeiramente.
  3. Acrescente a abóbora, misturando bem, deixando que ela pegue os temperos. 
  4. Então junte o purê de tomate, a pimenta calabresa, uma pitada de sal e pimenta-do-reino e 750ml (3xic) de água. Leve à fervura branda, abaixe o fogo e deixe apurar por 30-40 minutos, juntando mais água de tiver engrossado demais antes do tempo. Uma boa dica é pegar essa água da panela do macarrão que cozinha, para que o amido dessa água ajude a encorpar o molho.
  5. Enquanto isso, cozinhe o macarrão. O molho não deve ficar muito líquido, e boa parte da abóbora deve ter se desmanchado dentro dele. Misture-o ao macarrão cozido e escorrido com mais um fio de azeite, e sirva com parmesão por cima.  


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Grão de bico com pimentões e tomates assados, um celular quase perdido, uma vida que é só minha



Depois de dois meses atordoada com um imprevisto atrás do outro, sem conseguir controlar minha agenda ou seguir com sequer meio planejamento, com idas a hospitais, a dentistas, gripes acachapantes e um sem número de eventos que me deixaram de cabelo em pé, os nervos à flor da pele e um estômago queimando de gastrite nervosa, eu decidi que era hora de simplesmente abrir mão.

Naquela manhã eu disse à mim mesma que eu não me importava mais. Que não me deixaria descontrolar pelos imprevistos da vida, e que deixaria as intempéries virem e irem sem me deixar afetar tanto.

E depois de tudo o que já havia acontecido nos últimos sessenta dias, quando me inclinei para beijar a testa do meu filho na natação e meu celular escorregou da bolsa e mergulhou com um sonoro "BLUMP!" no fundo da piscina, só consegui rir, divertida com o alvoroço das pessoas à minha volta, compadecidas por minha perda e desesperadas em apanhar de volta aquele que costuma ser um enorme pedaço de suas vidas.

Olhando aquele celular embaixo do azul da piscina, borbulhando devagar, surpreendi-me ao sentir alívio. Eu vinha pensando em como era a vida na época em que eu esquecia meu celular desligado o tempo todo – e tomava bronca da família e dos amigos por isso – ou como era quando ele não tinha internet.

Àquela tarde, dirigindo para São Paulo e ouvindo rádio Cultura, uma música de Gabriel Fauré imediatamente me transportou para minha juventude, a época em que eu tocava violino e minha melhor amiga na época, flauta transversal, e tentávamos tocar juntas essa melodia, atrapalhadas, errando o tempo.

E lembrei-me de como eu era, de quem eu era, do que era importante para mim e como aquilo se perdera ao longo do tempo, influenciada pelo que eu julgava se tratar de amadurecimento, mas que na verdade era eu me perdendo no meio das cobranças por uma vida que não era a minha.

Minha única responsabilidade é educar meus filhos para que eles sejam pessoas boas e independentes. E garantir que eles tenham todos os dias um prato de comida à sua frente e um teto sobre suas cabeças. Todo o restante pareciam cobranças por comportamentos que não tinham nada a ver comigo ou com minha visão de mundo. Tudo aquilo que me estressava e fazia meu estômago queimar tinha a ver com o que o mundo esperava de mim e não com o que eu queria de mim mesma.

Eu só preciso ser a artista que eu sou.
Eu só preciso ser a mãe que eu sou.
Eu só preciso ser a pessoa que eu sou.
O tempo é meu.
De ninguém mais.

E aquela música suave retumbando em minha mente. As cobranças são sempre acerca dos resultados. Resultados, resultados... Mas eu sempre fui uma pessoa apaixonada pelos processos. O processo de aprender um instrumento. O processo de aprender um idioma. O processo de transformar uma imagem em uma pintura. O processo de apreender a realidade de um rosto em um desenho. O processo de fazer um pão. A vida lenta envolvida no ofício do artista que pára e observa. A observação de uma paisagem, de folhas ao vento, de músculos contraindo e relaxando no movimento, a observação dos sons à minha volta e da sinfonia que cada ruído individual ajuda a completar.

Eu nunca fui uma pessoa focada em resultado. Quando comento isso com meu marido, ele ri, dizendo que estou atestando o óbvio.

Talvez minha facilidade em girar sobre os calcanhares e mudar de caminho quando bem quero venha disso. E quão difícil é viver numa sociedade voltada para o resultado. Quando você tem que mostrar uma obra pronta que demonstre o resultado do seu estudo, mas não se dá o tempo do estudo porque ele não parece conter a importância do resultado que se pode mostrar. Quando você tem que mostrar através do sucesso dos seus filhos o resultado dos seus esforços de criação, e se sente uma mãe ruim quando seus filhos não têm atestados de que estão em primeiro, de que estão melhores que os outros, de que estão fadados a virar presidente do mundo. Quando sua conta bancária e seu número de seguidores nas redes sociais é seu atestado de uma vida de sucesso, um resultado palpável, mensurável, comparável, e você precisa necessariamente fotografar a si mesmo rindo para ter certeza de que o resultado daquele momento de esforço em se divertir de fato foi diversão.

Todas as vezes que persegui o resultado fui infeliz. Não por não obtê-lo. Mas porque perseguir um resultado é ignorar a fluidez da vida. A vida não é uma série de resultados. Ela é um processo. Estar no processo é estar imerso na vida enquanto ela acontece. Eu não leio livros para terminá-los. Eu gosto de lê-los. Apenas.

Aquela música deliciosa em minha mente me lembrou da época em que eu não me sentia massacrada pelas responsabilidades de gerir o que eu julgava ser uma vida adulta correta e simplesmente me preocupava em estudar violino porque era o que eu amava aprender, descobrir, entender. Eu não queria tocar em uma orquestra. Eu sequer queria tocar para os outros. Era para mim. Era sentir meu cérebro expandir e relaxar toda vez que eu finalmente ENTENDIA aquela melodia. Eu gostava de estudar. Sempre gostei de estudar.

É aquilo que eu mais amo hoje quando estudo desenho e pintura. Quando o tempo pára e eu estou naquela imagem, na resolução daquele problema, completamente mergulhada no processo de compreender como o modo como seguro o lápis afeta a compreensão do peso e da massa daquela figura. Como eu preciso mudar o jeito como enxergo um rosto para poder retratar os pensamentos por trás daqueles olhos. É um processo lento. Exaustivo às vezes. Um caminho de observação e disciplina. Mas que me faz sentir que estou no mundo e que aquele meu tempo está valendo a pena. Estou compreendendo o mundo através daquele desenho. Observando. Sem me preocupar com o resultado do desenho. Se vai ficar bonito ou feio. Certo ou errado. Porque quando me preocupo com o resultado, eu me engesso, eu me preocupo com o certo e o errado, o bonito ou feio, e paro de prestar atenção ao que aquele desenho pede, preocupada em como aquele desenho será julgado.

Se preocupar com o resultado é se preocupar com o que os outros pensam de você. E preocupada com o resultado da criação dos meus filhos, com o resultado dos meus esforços profissionais, com o resultado dos meus esforços em gerir uma agenda complexa e cheia de imprevistos... eu me vi atropelada pelas cobranças. Cobranças que me impediam de relaxar e cuidar da vida que é minha de verdade, cobranças que me impediam de observar com cuidado, cobranças que me impediam de sentar e ler um livro, que me impediam de simplesmente estudar sem me preocupar com quantas obras prontas serão vendidas, cobranças que me faziam enxergar apenas o que eu não estava conseguindo fazer, ao invés de ver tudo o que eu já estava fazendo.

Eu parei de me divertir.

A vida tem que ser divertida. TEM QUE SER. Senão, o que estamos fazendo aqui?

Quando o professor de natação me devolve meu celular encharcado, quase me pego triste em ver que, milagrosamente, ele ainda está funcionando. As pessoas em volta continuam preocupadas com aquele tijolinho de plástico na minha mão. Sorrio, agradeço, enxugo o celular com uma toalha, com preguiça de abri-lo como me recomendam, e enfio o bicho de volta na bolsa.

O celular continuou funcionando enquanto eu comia biscoitos de polvilho e conversava com minha mãe, levantando os olhos às vezes para ver o pimpolho nadando, contente.

No dia seguinte, acordo com a certeza de que terei um dia bom. Passo tempo com minha filha na aula de música da escola, vou tomar um café com as mães da escola sem me preocupar uma eficiência mecânica de quem trabalha em escritório, e dou um pulo no mercado para comprar linguiças para fazê-las assadas com cebolas, pimentões e batatas, aquela receita feita pela terceira ou quarta vez do livro Easy do Bill Granger, um dos que mantive na estante com prazer. O almoço é delicioso e exatamente o que eu queria, acompanhado de suco de maracujá feito na hora. Um almoço de dia de sol, com todos os amarelos e vermelhos vibrando no meu prato.

Basta colocar as linguiças, pimentões fatiados, cunhas finas de cebola, um fio de azeite, sal, pimenta, e um pouco de sementes de erva-doce em uma assadeira e assar em forno médio por 45 minutos ou 1 hora. Tempere com vinagre balsâmico, folhas de manjericão e sirva. Eu costumo colocar batatas em pedaços pequenos, previamente cozidas por uns dez minutos, para cozinhar junto até que dourem. 

Enquanto as crianças cochilam na rede, sovo rapidamente um pão de fermentação natural. Resolvo alguns emails de trabalho. E quando as crianças acordam da soneca, vamos passear de bicicleta. Eles com suas pequeninas, eu com a que peguei emprestada de minha irmã. Delícia andar de bicicleta, isso que eu não fazia desde a infância. O vento no rosto, as crianças apostando corrida e passando voando por sobre as lombadas da rua. Minha mente livre de cobranças e sobre o que eu deveria ou não estar fazendo. Quem gere o meu tempo sou eu.

"Mamãe, quero ir ao parquinho!"

Vamos. Levo um livro. Sento no balanço e de repente me dou conta de que o celular ficou em cima da mesa da sala. Dou de ombros, abro meu livro e leio. Hemingway. Paris é Uma Festa. As crianças sobem e descem pelo escorregador, e pelas escadas de cordas, e fazem castelos de areia, e colecionam pedras e gravetos. Eu leio meu livro, deliciada pela história de uma vida em Paris, numa época calma. De um artista dizendo que escrevia pela manhã e saía para passear à tarde com a esposa. E relatos de caminhadas na montanha, e jantares em bistrôs, e idas às corridas de cavalos, e conversas com outros artistas sobre literatura, e pintura, e escultura, e teatro e o ofício de artista.

Sinto o sol nas minhas costas, esquentando a pele sob a camiseta. Meus dedos dos pés tocam a areia abaixo de mim e se movimentam, empurrando o balanço para frente e para trás, devagar e suavemente. Uma cigarra canta insistente à minha direita. Tão insistente de fato, que mal chega aos meus ouvidos o ruído dos carros na rua ao lado. Sem o celular, não sei que horas são ou há quanto tempo estou ali, a não ser que preste atenção ao tom de amarelo-dourado da luz sobre as páginas do livro ou o modo como as sombras se movimentam e estendem na areia onde as crianças brincam.

A fome indica que é hora de preparar o jantar.

Voltamos para casa e Laura empurra uma cadeira para frente do fogão para me ajudar. Ela mexe o risotto, concentrada, por vinte minutos, enquanto eu pico as vagens e o pimentão amarelo e acrescento caldo ao arroz. Tento ensiná-la a pronunciar o "r" forte do risotto, mas ela ainda tem dificuldade e nos últimos dias tem arrastado seus erres com um forte sotaque do interior que só posso acreditar ter vindo dos amigos e que me diverte horrores.

Enquanto o risotto descansa na panela tampada, deito na rede. Laura pede para ler para ela o seu livrinho de cozinha favorito, aquele de bolos italianos de avós, todo ilustrado. Passo dez minutos lendo em voz alta receitas em italiano, enquanto ela observa a noite caindo, deitada na rede comigo. Thomas está em algum canto passando tempo com o pai que acabou de trabalhar.

Jantamos e as crianças sentam com o pai para ver desenhos japoneses enquanto asso meus pães para o dia seguinte. Elas vão dormir mais tarde que o habitual e capotam sob os lençóis no meio da primeira história que lhes leio.

Abro uma cerveja. Suspiro contente quando deito na rede novamente, sentindo o frescor da noite no rosto e ouvindo o silêncio das aranhas no jardim.

Um dia bom.

Penso num café filosófico que assisti outro dia, sobre a beleza. "Com o que você está alimentando sua mente?", diz ele. Se você só se alimenta de feiúra, você perde a habilidade de ver a beleza sutil da vida. Com o que você está alimentando sua mente? De feiúra do facebook? De idiotices? De música ruim? De cobranças estúpidas?

Apanho meu livro novamente, minha cerveja, meu pedaço de pão quente fresquinho com manteiga. Decidida de me alimentar de beleza em minha vida, decidida a aproveitar os minutos que tenho nessa terra sem me preocupar se acham que sou uma artista assim ou assado, uma mãe desse jeito ou de outro, decidida a enxergar a beleza à minha volta e colecionar em meu peito essas memórias de uma vida boa.

Sinto alívio em ter eliminado o Facebook. Sinto alívio quando esqueço o celular em cima da mesa. Sinto-me feliz ao sentar e ler como lia antes, ao invés de ser sugada para o mundo da internet, da tv, do youtube. Sinto prazer na tentativa de não me cobrar mais por resultados. Prazer em mergulhar tão fundo na observação e no processo, na lentidão da vida de verdade, sem me preocupar se isso vai me trazer mais ou menos dinheiro, mais ou menos sucesso, mais ou menos amigos. Sinto um peso enorme arrancado dos ombros ao ver as coisas vendidas indo embora e meu ambiente ficando mais leve. Sinto-me justamente leve ao preparar novamente, oito anos depois (antes sozinha agora com minha filha me ajudando), aquele mesmo risotto de pimentão amarelo e vagens da Marcellla Hazan, que andava esquecido, soterrado por outros livros.

Fico contente em ver que aqueles "poucos" livros que selecionei para ficarem comigo estão sendo plenamente úteis enfim. Quando tenho grão-de-bico e pimentões para usar no jantar, apanho o livro que ficou do Nigel Slater, que sempre foi meu favorito dele, Notes From the Larder, e faço esses pimentões e tomates assados com grão-de-bico e harissa, deliciosos. Uso de inspiração as verduras e o limão em conserva que ele sugere e preparo uma farofa de couve temperada com suco de limão, deliciosamente amanteigada, e verde, e ácida para contrabalançar a doçura do grão de bico.

Fico feliz em ver a família raspando o prato. Fico feliz em me ver capaz de enfim relaxar e ter dias tranquilos, sem me estressar com minha agenda auto-imposta, sem me destemperar com os imprevistos da vida. Fico feliz em desviar os olhos dos fins para me concentrar nos meios novamente. Em lembrar que eu sou dona do meu tempo e que, estando meus filhos bem, nada mais importa, e eu posso me preocupar em amar minha vida. Fico feliz olhando para um celular debaixo d'água e sabendo que é só um celular, e que talvez perdê-lo ou vislumbrar essa possibilidade fosse a melhor coisa que poderia acontecer.



GRÃO DE BICO COM HARISSA E PIMENTÕES E TOMATES ASSADOS
(livremente adaptado do livro Notes from the Larder, de Nigel Slater)
Rendimento: 4 porções generosas

Ingredientes: 

  • 800g tomates, cortados em seis pedaços
  • 500g pimentões amarelos e vermelhos, cortados em pedaços médios
  • 1/3 xic azeite
  • 3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto (usei de sidra)
  • 1 colh (chá) sementes de cominho
  • 2 latas de 400g grão de bico ou o equivalente em volume de grão de bico cozido em casa
  • 1 colh (chá) harissa (o que eu tenho em casa é em pó – alguns são bem apimentados, então acrescente a gosto)
  • um punhado de manjericão fresco


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Num refratário grande, coloque os tomates, pimentões, vinagre, azeite, cominho, sal e pimenta. Misture e asse por 50 minutos a 1 hora, at´´que os legumes estejam bem macios e comecem a dourar e chamuscar. 
  2. Junte o grão de bico escorrido e a harissa e volte ao forno por mais uns dez ou quinze minutos, até que o grão de bico esteja quente e o caldo borbulhante. 
  3. Junte o manjericão, acerte o tempero e sirva com arroz, pão ou uma farofa de couve com limão.


Para a farofa, basta refogar alho e cebola em azeite, juntar a couve fatiada bem fininha, com sal e pimenta a gosto e refogar até que a couve murche. Junte uma colherada bem generosa de manteiga e a farinha de mandioca e misture até a farinha dourar. Tempere com suco de limão a gosto.








segunda-feira, 4 de abril de 2016

Rapa dos Livros - Última Edição.

Foi proferir em voz alta que eu queria abrir mão do controle para cair gripada na cama e depois ver marido e filhos igualmente doentes durante toda a semana. Tudo o que eu me havia programado para fazer durante esses dias caiu por terra. O universo às vezes parece que ouve a gente até demais.

Mas agora que as coisas voltaram ao normal (tanto quanto a vida pode ser), posso voltar aos planos iniciais: trabalhar e vender e/ou doar toda a pilha de coisas que separamos aqui em casa e que agora chafurda nosso quarto. ;)

Para quem quiser, essa é a lista de livros de cozinha e até alguns equipamentos de cozinha.
Quem tiver interesse em algum item, MANDE UM EMAIL para lacucinetta@gmail.com COM O SEU CEP e endereço completo pra que eu calcule o frete. Caso mais de uma pessoa se interesse pelos mesmos livros, a primeira da fila tem 2 dias para efetuar o pagamento ou os livros vão para o próximo da fila. Ok? Quem quiser retirar em mãos em SP, podemos combinar.

Lembrando que a maior parte dos livros tem sinal de uso, pois esses faziam parte dos meus favoritos e foram realmente bem usados. Existem alguns, no entanto, que estão super novos. Porque eu tinha acabado de comprar.

LIVROS DE COZINHA OU CONTENDO RECEITAS

R$50,00 + frete
Sunday Suppers at Lucques - Suzanne Goin
The Heart of the Artichoke - David Tanis
A Change of Appetite - Diana Henry
The Greens Cookbook - Deborah Madison
Good Things to Eat - Lucas Hollweg
Green Kitchen Travels - David Frenkiel & Luise Vindahl
Vegetarian Everyday - David Frenkiel & Luise Vindahl

R$35,00 + frete
The Homemade Flour Cookbook -
Small Plates & Sweet Treats - Aran Goyoaga
Bill's Everyday Asian - Bill Granger
Super Natural Cooking - Heidi Swanson
Milk - The Surprising Story of Milk Through the Ages - Anne Mendelson

R$25,00 + frete
Pâtes a tartiner - Rachel Khoo (em francês)
The Multi-Cultural Cuisine of Trinidad e Tobago
Tart & Sweet - Jessie Knaddler
Medium Raw - Anthony Bourdain

OUTROS LIVROS DE TEMAS VARIADOS - R$15,00 + frete
All Natural - A Skeptic's Quest to Discover if the Natural Approach do Diet, Childbirth, Healing and the Environment Rea;;y Keep Us Healthy and Happier - Nathanael Johnson
Cleaving - Julie Powell
A place of my own - Michael Pollan (sobre arquitetura)
Vampire Stories - Penguin Publishers (uma coletânea bem legal)
The Vampire Enciclopedia - Mathew Bunson
Vampires Are - Kaplan
Structural Package Designs  (livro com facas variadas para embalagens - acompanha cd's com pdf's)
Not that kind of girl - Lena Dunhan
Celtic Design - A Beginner's Manual - Aidan Meehan

EQUIPAMENTO DE COZINHA
Moedor de grãos de ferro Botini - R$75,00 + frete
Canudos de alumínio para cannoli pequenos (10cm), 12 unidades - R$25,00 + frete


segunda-feira, 28 de março de 2016

Cortando os excessos, eliminando desperdícios, fazendo bolo de radicchio



Acreditava que meu ano começaria normalmente após o carnaval, como o da maioria dos brasileiros, mas o que aconteceu nos últimos dois meses, imprevistos grandes e pequenos e variados, foi como ter diferentes tipos de terremotos abalando a estrutura de minha casa. E, ainda dentro dessa imagem, esses abalos romperam canos que a partir de então deixaram escoar água num fluxo constante mas não tão evidente, de modo que quando me dei conta, a caixa d'água estava vazia.

Uso essa figura de linguagem pois uma vez, tendo vazamentos em minha casa – esses de verdade –uma grande amiga me disse: "cuide logo desses vazamentos, Ana, eles não apenas são dinheiro indo embora, mas também energia".

Isso ficou em minha mente por muito tempo, mas só recentemente a metáfora ficou clara.

Nesses dias em que as coisas ruins parecem drenar tanto minha energia que não sobra nada para aquilo que é bom, perdi muito tempo tentando me ater a atividades que costumavam me restabelecer e energizar. Mas ao invés de me sentir revigorada, percebia-me com a sensação de sobrecarga.

Então a voz dela ressoou em meus ouvidos: cuide dos vazamentos. Não me adiantava de nada tentar gerar mais energia se ela estava simplesmente indo embora para o lugar errado.

Uma luz tênue iluminou todo o ambiente e de repente vislumbrei as pequenas rachaduras por onde aquela água fluía, livre, para longe de mim. Ficou claro o modo como minha energia escapava para lugares que não me retornavam coisa nenhuma, que não me revigoravam, e que eventualmente me arrastavam para situações opostas ao que eu desejava para mim e minha família.

Evidentemente é mais fácil começar por vazamentos tangíveis. Aqueles mais controláveis. Eliminar o facebook e toda espécie de interação digital que não me faça bem. Ou rearranjar os horários das crianças para ser mais eficiente e não desperdiçar tanto tempo indo e vindo dos compromissos. Ou reduzir meu armário para não cair na pegadinha de sair todo dia como um deprimente saco de batata ou perder tempo escolhendo uma coisa melhor pra vestir – tudo combina com tudo e está visualmente ok, e sobra tempo para passar um rímel e tomar mais um café.

Mas comecei a perceber energia indo embora de outras formas. Em forma de objetos. Coisas. Porque quando você tem coisas, precisa de coisas para guardar as coisas, e precisa de coisas para limpar as coisas, e precisa de coisas para consertar as coisas e então mais coisas para substituir as coisas que quebraram mas que você não consegue jogar fora e então mais coisas para organizar essas coisas dentro das coisas.

Coisas ocupam espaço e acumulam pó e exigem tempo e trabalho para manutenção. E se você NÃO precisa dessas coisas, então está desperdiçando espaço, tempo e energia mantendo elas ali.

Coisas também são envoltas em frustrações e expectativas. Aquela coisa que você guardou para uma situação que nunca aconteceu. Aquela coisa que você ganhou de alguém com quem você não tem mais amizade. Aquela coisa que está lá pro dia em que você for alguém que você não é. Alguém me disse outro dia que frustração é excesso de passado e expectativa é excesso de futuro. E estamos aqui cortando os excessos, porque tudo o que é excesso é desperdício.

Se não me traz uma memória feliz, eu não quero. Se eu não uso agora, sendo a pessoa que eu sou hoje, também não. Porque ter coisas repletas de frustação e expectativa é como aquela torneira da cozinha pingando sem parar. É aquele barulhinho irritando você o dia todo sem você perceber.

Fora com os materiais de arte do tipo de artista que eu não sou. Fora com os cd's que eu não ouço porque me lembram uma fase ruim, fora com a linda terrine da le Creuset que eu NUNCA usei e nem vou usar (à venda, se alguém quiser), e todas as formas de bolo paradas, e todos os livros e mangás que não vou ler de novo, e todos os livros de arte ruins que estavam lá "só para referência", e as coisas quebradas que eu não vou consertar nunca, e até mesmo meu computador, meu Mac, esse computador "extra" na casa que eu uso apenas para responder emails e postar no blog.

Conforme vou resolvendo esse vazamento específico das coisas, no entanto, tentando controlar o ambiente à minha volta para resolver minha situação emocional, dou-me conta de outro grande vazamento de energia: justamente meu controle. Que eu sou control freak nunca foi novidade para ninguém. Mas só agora percebo quanta energia joguei fora tentando controlar o que eu não posso. Toda a preocupação, todo o gerenciamento, todo o planejamento direcionado a situações completamente fora da minha alçada.

Quando li um texto sobre zen outro dia, sugerindo o exercício de simplesmente deixar a situação descontrolada chegar, instaurar-se e ir embora sozinha, sem que você tentasse fazer nada para controlá-la, senti pânico apenas de imaginar. Mas identifiquei nisso uma necessidade em mim. Aprender a deixar as crises da vida virem e irem, sem que elas de fato abalem a estrutura da casa e drenem sua energia. Não deixar que um pequeno tremor se transforme num terremoto.

Inspira, expira.

E eu sei que esse rearranjo do meu ambiente é apenas mais uma forma de controle para obter conforto emocional. Mas eliminar o estresse bobo de algumas decisões desnecessárias pode tornar a mente mais leve para lidar de forma mais relaxada com esse caminho difícil de aprender a abrir mão do controle. Simplificar em volta para simplificar por dentro.

Voltei a olhar para os livros de cozinha. Aqueles mais de duzentos que haviam se tornado cem. E que ainda pareciam demais. Todo dia que queria fazer um bolo, vinha aquela indecisão. Tentava basear a escolha na despensa, mas mesmo assim era difícil.

Um bolo de maçã. Simples ou com alguma cobertura? Tradicional ou com farinhas especiais? Porque eu tenho aquela farinha de spelta pra usar. Ou a de quinoa. E tenho uvas passas, mas também tenho cranberries. Com óleo ou com manteiga? Leite ou iogurte? Ou vegan? Ou sem glúten? Ou invertido? A que usa só uma maçã ou que usa todas as que eu tenho? Mas essa receita de novo? Ela é perfeita, mas e aquelas outras setenta e duas receitas de bolo de maçã que eu tenho e nunca fiz? E se eu usar todas as maçãs pra fazer esse bolo? Vai ter maçã de novo semana que vem pra fazer aquele outro? Será que eu faço aquele outro? Será que aquele outro é melhor? Mas eu nunca usei esse livro. Tinha que usar esse livro. Mas esse bolo dá mais trabalho. Queria um mais fácil. Mas aquele mais fácil eu já fiz e eu tinha que usar esse livro que eu nunca usei. Opa, esse bolo de banana parece mais legal. Tem banana?

Entendem onde estou querendo chegar?

É SÓ UMA DROGA DE UM BOLO. ¬_¬

Não é paz mundial.

Você vai comer o bolo e seguir com a vida. Não era para ser tão importante. Não era para gerar tanta tensão. Quando um hobby virou uma fonte de estresse? Não sei. Talvez eu tenha de ler o blog todo de novo para descobrir. ;)

Reduzi novamente minha coleção de livros para 48, incluindo uns seis ou sete que eu nunca uso mas que são de estimação, como meu livro de receitas do Veneto do Alessandro Pradelli. Metade desses 48 estão ainda no "purgatório".


Percebi que tudo o que quero é ter uma boa receita de bolo de maçã. Ter maçãs, escolher entre no máximo duas ou três opções baseado no que tenho da despensa e seguir a vida. Parar de perder tempo procurando no eat your books, então apanhando meia dúzia de livros e lendo as receitas, e então me martirizando para decidir a droga do almoço. E parar de me sentir pressionada a usar um dos livros que eu tenho e parar de me sentir mal por estar usando uma receita da internet de novo. Ficar folheando livros de cozinha e planejando cardápios era um prazer na época em que tinha uma tonelada de tempo livre. Hoje em dia simplicidade tem me dado mais prazer do que refeições elaboradas.

Num dia desses, nesse frenesi de hora do almoço, fazendo um enorme quebra-cabeças de ingredientes e tempo e nutrição e curiosidade culinária, simplesmente larguei tudo e preparei uova in purgatorio (ovo frito com molho de tomate) acompanhado de torradas de pão caseiro. E fim. Todo mundo bem almoçado e feliz, que esse é o objetivo no fim das contas.

E essa ficha caiu com força há duas semanas, quando meu filho de meros cinco anos quebrou um dente e teve de fazer o canal. Foi um dia estressante para todo mundo e tudo o que eu queria era melhorar aquela sensação para todos e principalmente para ele. Fizemos juntos uma mousse de chocolate da Alice Medrich que fica pronta para comer em meia hora, e uma pizza bianca (só de queijo, sem molho de tomate) da Tessa Kiros para o jantar, acompanhada de uma saladinha verde. Assim como o dia do peixe com batatas, foi uma refeição deliciosa e tranquila. E vendo meu filho comer todo o alface primeiro para só então atacar a pizza, percebi que eu DE FATO não preciso mais ficar neurótica. Eles já estão educados. Eles já comem coisas verdes. Segue a vida.

Não quero apenas simplificar meu guarda-roupa. Quero simplificar minha vida. Preocupar-me com o que de fato importa. Não me ocupar da nada fora do meu controle. Numa realidade em que temos tantas decisões importantes para tomar, como qual novo dentista escolher para seu filho numa emergência em que seu dentista sumiu do consultório, eu realmente não quero transformar num estresse extra a escolha do jantar ou de uma blusa pra vestir.

Fui brutal com meus livros.

Amo de paixão os livros do Nigel Slater, do David Tanis e da Diana Henry, mas toda vez que eles estão na cabeceira da minha cama ou ao lado da minha poltrona de leitura, eu estouro o orçamento do supermercado. Idem para os livros naturebas que usam uma miríade de castanhas e farinhas especiais. Estão no purgatório o meu favorito do Nigel e meu favorito do David. O da Diana está indo embora.

Não apenas os livros, até a despensa urge por simplificação. Aqueles dezoito potes de farinhas diferentes vencendo.

Depois de todos esses anos de esquizofrenia culinária, momentos de extremos e chiliques alimentares, me vejo gravitacionando em torno da minha querida cozinha italiana, onde estão minhas raízes, ramificando para o restante do mediterrâneo, com breves e pontuais incursões na Ásia.

Tenho querido o bom e velho arroz simples. Uma boa salada verde bem temperada. Batatas cozidas regadas de azeite. Um filé de pescada frito. Um bolo de maçã com canela sem frescuras.

Como se toda a complexa busca dos últimos anos tivessem servido para me dar certeza do lugar de onde eu vim. Cada vez que janto na casa de minha mãe um prato de strogonofe de frango, um bolo de cenoura, creme de espinafre... vou amolecendo por dentro. Ouvir noutro dia que o prato favorito do meu marido é aquele spaghetti com o molho de tomates mais simples do mundo, da Marcella Hazan, tocou um ponto em mim.

Depois de fazer esse corte, olhei para os livros na estante (a de cima com os que ficam, a debaixo com o purgatório), e me dei conta de que são receitas bastantes para uma vida inteira. E que eu talvez finalmente consiga cozinhar um livro inteiro, ideia que sempre me apeteceu mas sempre foi impossível dado o excesso de opções dos meus duzentos e cinquenta livros.

Enchi-me de satisfação ao me ver preparando coisas que de outra forma não faria. Com tantas receitas de bolo de maçã pra testar, por que alguém pararia pra preparar um bolo de radicchio?

Porque é bom. Estou dizendo que é bom.

Allex veio me perguntar o que diabos eu tinha contra bolos de chocolate, mas uma vez tendo dado uma mordida num pedaço das crianças, ele estava convertido. "Caramba, eu não esperava que fosse bom!"

As crianças adoraram. Levaram para a escola todos os dias, pobres crianças estranhas levando pro lanche da escola bolo de radicchio. ;) Quando fui tentar tirar uma foto melhor, o bolo já não existia mais.

Usei para a cobertura um chocolate branco da marca Casino, que é cheio de pontinhos de baunilha e mais escuro que o normal, e quando o derreti por mais tempo do que precisava, ele acabou escurecendo como um caramelo leve. Parece estranho simplesmente besuntar o bolo de chocolate branco derretido, mas como o bolo é pouco doce, o açucarado do chocolate complementa bem.

Não se sente o amargo do radicchio no bolo. Ele é um variegado roxo no meio da massa clara que, combinado à noz moscada, sugere um sabor completamente novo e irreconhecível. Um bolo italiano vindo de Chioggia, um lugar onde um dia alguém se viu com radicchio demais ocupando espaço e resolveu simplificar a vida e colocar o radicchio no bolo.

Então, preparem-se. Vem aí mais uma edição da Rapa dos Livros. o_O

Simplificando, cortando os excessos, eliminando desperdícios e relaxando a bisteca.

BOLO DE RADICCHIO
(Do livro Recipes and Dreams from an Italian Life, de Tessa Kiros)
Rendimento: 1 bolo pequeno

Ingredientes:

  • 1 generosa colh (sopa) de farinha de rosca
  • 2 1/2 colh (sopa) + 1/2 xic. açúcar
  • 170g radicchio (metade de um pequeno)
  • 7 colh. (sopa) manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 3 ovos
  • 1 colh. (chá) casca ralada de limão
  • 1 colh (sopa) conhaque ou rum
  • 1 colh (chá) extrato natural da baunilha
  • 1 pitada de noz moscada ralada
  • 1 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 150g chocolate branco


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte uma forma de 20cm com manteiga e polvilhe com a farinha de rosca, descartando o excesso.
  2. Leve 1 litro de água para ferver com as 2 1/2 colh. (sopa) de açúcar. Solte as folhas do radicchio e coloque-as na água, cozinhando por alguns minutos até que amaciem. Escorra, esprema e pique.
  3. Na batedeira, bata a manteiga, o resto do açúcar e a casca de limão até que fique cremoso.
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. 
  5. Junte o conhaque ou rum, baunilha e noz moscada. 
  6. Desligue a batedeira, junte a farinha, o fermento e o sal e misture com uma espátula só até não ver mais farinha. Junte o radicchio e misture uniformemente. 
  7. Despeje na forma  e asse por 40 minutos ou até que um palito inserido no meio do bolo saia limpo.
  8. Deixe que esfrie completamente antes de desenformar. Derreta o chocolate branco em banho maria (se o chocolate não estiver derretendo bem, junte uma colher de água filtrada). Espalhe o chocolate sobre o bolo. Coberto, em temperatura ambiente, o bolo se conserva bem por uns 3 dias. 

Cozinhe isso também!

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