sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ceviche de tilápia e tortillas de milho

Tudo corrido. Tudo muito corrido. Foi parar cinco minutos e abrir o tubo de tinta acrílica para um projeto pessoal, que pronto: entra trabalho novo. Bem... graças a Deus, certo? Trabalho é sempre bem-vindo. Nesta semana, no entanto, faltou-me paciência para fotografar os poucos pratos que cozinhei e os poucos fotografados não me inspiraram texto nenhum. Então hoje, enquanto espero um cliente responder-me sobre um trabalho, plim! Inspiração. Para cozinhar e para escrever.

Quem lê minhas bobagens há tempos sabe da saga do peixe de supermercado, do "fishy fish", do excesso de açougues mas ausência inexplicável de peixarias no meu bairro, da descoberta de uma boa peixaria que entrega em casa e, enfim, da quantidade enorme de peixes que consumi durante os meses de dieta, confundindo badejo com robalo e por aí vai. Muitos de vocês (principalmente os que moram nas redondezas) me aconselharam a comprar peixe na feira. Mas eu tinha um enorme pé atrás pela experiência negativa de minha mãe, tendo comprado peixe com gosto de iodo, e por não saber qual banca escolher. Eu me arrisco com alfaces, mas não com frutos do mar.

Então conheci em minha aula de aquarela Ludivine, uma moça francesa, pequenina e muito simpática, que, por acaso, mora aqui do lado. Conversa vai, conversa vem, comida aqui, comida ali, entramos no mérito dos peixes e ela me diz que costumava comprar na mesma peixaria que eu, mas que agora mudara para uma banca da feira do bairro, muito boa e que entrega em casa. Ah! Uma indicação específica, com nomes e tudo o mais! Agora sim.

Ontem fiquei contentinha, olhando os peixes inteiros ali esparramados no gelo, e pensando "olá, dona Tilápia! Não sabia que você era dessa cor! Oi, senhor Bacalhau Fresco. Será que o senhor é aquele mesmo black cod que comi em San Francisco? Muito prazer, senhora Corvina." Como havia levado pouco dinheiro, escolhi duas tilápias, pedi que filetassem para mim e levei para casa, feliz e contente.

Talvez tenha sido o bar da noite anterior. Mas hoje acordei com uma vontade imensa de comer ceviche. Olhei para o peixe na geladeira. Ceviche de tilápia? Será que fica bom? A tilápia não é um "fishy fish", então deve ficar bem suave. Hmmm...

Eu sei que na última vez que coloquei um ceviche aqui foi uma polêmica só. Pior que isso, acho que só quando fiz a piada dos alemães com as batatas e os repolhos. O que foi lindo, porque quem fez a receita chamou de "ceviche" foi Gordon Ramsay, e quem tomou bordoada fui eu... :P

O caso é... todo episódio de Top Chef tem pelo menos um ceviche sendo feito, e, assim como aconteceu com outros pratos típicos da culinária mundial, a palavra "ceviche" acabou virando sinônimo de "peixe cru cozido em suco de frutas cítricas". E a partir daí a imaginação é o limite. Ou seja, a intenção não é fazer nada autêntico de lugar nenhum. Apenas tentei me lembrar dos gostos e cores dos ceviches que já comi na vida e fiz o que tinha vontade de fazer.

Está claro?

No hate mail?

Ok.

Continuando.

Cortei dois filés de tilápia em pedaços de uns 2cm, e misturei em uma tigela a um punhado de salsinha picada [queria usar coentro, mas não tinha], 1/4 cebola roxa fatiada bem fininho, meia pimenta ardida, um dente de alho e uma cenoura pequena picados bem miudinho, suco de 3 limões [os danados estavam secos de doer], um fio generoso de azeite e sal e pimenta-do-reino a gosto. Misturei e deixei marinando.

Enquanto isso, tive um siricotico e decidi que não seguiria com meus planos originais de comer o peixe acompanhado de brócolis e cevadinha. Neh. Então, rapidamente preparei tortillas de milho, desta vez abrindo-as com mais facilidade ao imitar uma prensa de tortillas ao pressionar a bola de massa bem enfarinhada com uma frigideira pesada e de base lisa (sem reentrâncias e desenhos). Não ficaram tão finas quanto ao abri-las com rolo, mas o processo economizou um tempo incrível, e quando o peixe estava no ponto, eu tinha tortillas quentinhas e quebradiças na mesa e um vidro de Tabasco me esperando.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Spice muffin para um dia de dilúvio

O pão acabou. Preciso fazer pão. Mas olha o tempo lá fora! Olha essa luz cinza-verde-suja-úmida entrando pela janela! Chove horrores. Chove um lago inteiro. Pode ser que todo um mar tenha evaporado ontem, pois é bem um mar que chove lá fora, e minha rua some sob ondas, o que me leva a pensar que, se no meio dos Jardins minha calçada pede por um barco, imagina outros lugares da cidade, alagados, inundados, submersos.

Bertinet e a experiência bem dizem: dia de chuva não é dia de fazer pão. De alguma forma, a umidade do ar interfere de forma negativa na massa, como nenhum frio tilintante ou calor sufocante poderiam.

Penso na alternativa para o café de amanhã. Mas amanhã é dia de acordar mais cedo e decerto não há tempo para panquecas, e ainda que muito me agrade uma tigela de aveia, sei que entre uma tigela de aveia e nada, meu marido vai para o trabalho de estômago vazio.

Muffins. Muffins, com certeza. Mais quais? São tantos! Apanho um livro da Deborah Madison, porque ah! como eu adoro os livros dela!, e pulo direto para sua receita básica. Muito, muito fácil. Vejo as variações. Spice. Ok. Decido por óleo de canola no lugar de manteiga e pela menor quantidade de açúcar, pois quero muffins mais pãezinhos e menos bolinhos. Adoro moer temperos no pilão. Adoro a poeira fina e perfumada se elevando até meu rosto e o cheiro bom que perdura na ponta dos dedos. Mistura isso com aquilo, a massa toma corpo, vai para as forminhas, forno, e o cheiro mais maravilhoso do mundo alaga, inunda minha casa, submersa em especiarias.

Consigo esperar até amanhã para escorregar um naco de manteiga por cima desse muffin tão redondo, moreno e macio?

SPICE MUFFINS
(do livro Vegetarian Cooking for Everyone, de Deborah Madison)
Tempo de preparo: 35 minutos
Rendimento: 12 muffins


Ingredientes:
  • 2 1/2 xic. farinha de trigo
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 2 colh. (chá) canela em pó
  • 1 colh. (chá) gengibre em pó
  • 1 colh. (chá) noz-moscada em pó (ralada na hora)
  • 1/8 colh. (chá) cravo em pó (moí 2 cravos no pilão)
  • 1/2 a 3/4 xic. açúcar mascavo apertado na xícara
  • 1 1/3 xic. buttermilk
  • 1/3 xic. óleo de canola ou manteiga (derreta depois de medir)
  • 2 ovos
  • 1 1/2 colh. (chá) essência de baunilha
Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC, com a grade no terço superior do forno. Forre a forma de muffinsforminhas de papel ou unte-as.
  2. Misture numa tigela grande todos os ingredientes secos.
  3. Em outra tigela, misture o restante. Junte o líquido aos secos e mexa com uma espátula o menos possível, apenas até que não se veja mais farinha.
  4. Distribua a massa pelas formas, enchendo quase até a boca. Leve ao forno por 25 minutos, até que estejam dourados e redondos. Retire das formas e sirva.
OBS: omita a canela, o cravo, gengibre e noz-moscada e você tem a receita básica, para ser adaptada como quiser. Os muffins ficam bem perfumados mas bastante neutros, para serem comidos com manteiga, queijo ou geleia.

Cozinhe isso também!

Related Posts with Thumbnails