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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De volta às aulas com o cliché do bolo de banana... com quinua


Hoje minha pequena princesa viking, Madame Bochechas, teve seu primeiro dia de aula. Entre olhinhos marejados (os meus, não os dela) e sorrisos, meus pimpolhos se aventuram em mais um ano de descobertas. Meu Matador de Dragões mal lembrou de dizer tchau pra mamãe, empolgado que estava em rever os amiguinhos. E eu, descobrindo que ele já terá aulas de inglês esse ano, sinto-me agradavelmente madura. Meu deus, meu filho mais velho já vai aprender inglês! o_O

Esse ano, sinto-me mais focada. E, cheia de foco, e reanimada pela retornado apetite dos pimpolhos, pretendo me empenhar mais nos lanches da escola esse ano. Principalmente por ter tido a boa surpresa de ver outras mães da escola querendo boicotar os sucos de caixinha e fazer um esforço coletivo para enviar lanches mais saudáveis aos pequenos, já que eles tendem a compartilhar e as bolachas em pacotes coloridos com personagens sempre chamam mais atenção que o bolinho feito em casa ou os palitos de cenoura.

Preparei esse bolo delicioso ontem à noite depois que as crianças foram dormir. Tão, tão fácil. Acho que bolo de banana é um cliché em lanche de escola, e eu mesma fiz tantas versões nos últimos dois anos, que enjoei e fiquei meses sem preparar nenhum. Aí me vi reservando bananas para um bolo novamente.

E bolo de banana com quinua é ótimo. Claro, poderia ter feito sem, outra receita qualquer. Afinal, pimpolhada come quinua numa boa, e os dois têm experimentado e comido sem grandes traumas a maioria das naturebices integrais que coloco no prato deles. Mas ando muito mais interessada na contribuição que essas mesmas naturebices dão ao sabor e à textura dos doces, do que apenas em seu valor nutricional.

Montei as lancheirinhas feliz da vida. Depois de um ano inteiro de lanches voltando inteiros, achei que a maldição do "lanche do amigo" teria acabado. Ledo engano. Laura atacou o lanche dela assim que chegou em casa, pois hoje foi dia de adaptação e ela só ficou lá até a hora do recreio. Thomas estava super contente quando fui buscá-lo, apesar do novo rombo no joelho, cheio de curativos.

E ousei perguntar...

"Comeu o lanche, Thomas?"
"Ahn... não."
"Não??"
"Ahn-ahn."
"Tomou o suco?"
"Sim."
"Comeu o melão?"
"Não."
"Mas VOCÊ pediu o melão!"
"Mas eu não quero melão."
"Comeu o bolo?"
"Também não."
"Por que não?"
"Porque não quero."
"E o que você comeu?"

...

"O lanche do amigo."
"E o que o amigo levou de lanche?"
"Bolacha doce."

¬_¬

Bom... a vida é assim.

Ele volta da escola, come o que tem no almoço, e no lanche da tarde ataca o bolo de banana e o melão com gosto. E a vida segue. E estou só esperando como vai ser com Madame Bochechas.

De qualquer forma, a Pat estava certa quando disse que eu ia adorar o livro de onde saiu esse bolo.

BOLO DE BANANA, NOZES E QUINUA
(Do ótimo SuperGrains, de Chrissy Freer)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 1 bolo (8 porções)

Ingredientes:

  • 1 1/2 xic. de farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1 colh (sopa) fermento químico
  • 1 pitada de sal
  • 2/3 xic. quinua em flocos (comum ou vermelha)
  • 1/2 xic. de nozes picadas
  • 2 xic. banana amassada
  • 2 ovos
  • 1/2 xic. mel (ou melado)
  • 1/4 xic. sour cream
  • 1/3 xic. óleo vegetal 


Preparo:

  1. Unte ligeiramente uma forma de bolo inglês de 21cm e forre o fundo com papel manteiga. Pré-aqueça o forno a 180ºC. 
  2. Numa tigela, peneire farinha, fermento, canela e sal. Junte a quinua em flocos e 1/3 xic. das nozes e misture.
  3. Em outra tigela, junte o restante dos ingredientes até ficar mais ou menos homogêneo.
  4. Junte o conteúdo das duas tigelas e misture até não ver mais farinha. Despeje na forma, alise a superfície, polvilhe o restante das nozes e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado e um palito saia seco quando inserido no meio. 
  5. Retire do forno, deixe esfriar na forma por 10 minutos, desenforme e deixe esfriar completamente antes de fatiar. 


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um bolo de cerejas fluorescentes

Minhas cerejas afundaram, mas ficou maravilhoso mesmo assim.

Eu queria um bolo. Não qualquer bolo. Eu queria um pound-cake. Daqueles que ficam com o miolo compacto e amanteigado, que você até consegue fatiar grosso e colocar na torradeira pra passar manteiga por cima do bolo quentinho no café da manhã. Aliás, se você nunca fez isso com um daqueles bolos simples de baunilha, faça.

Mas eu também queria usar as deliciosas cranberries orgânicas secas, enormes e suculentas, que minha tia sempre me traz de presente quando vem ao Brasil – puro amor. 

Procura, procura. 

Um bolo leva laranja, que eu não tenho, o outro leva um monte de especiarias, que eu não quero, um terceiro leva cranberries frescas, que não existem aqui, e um quarto produz um bolo de textura mais aberta, como um muffin, que não é o que pede meu apetite. 

Vou ficando nervosa. Detesto não encontrar uma receita – com TANTO livro de cozinha na estante e tanto blog por aí – que não preencha os requisitos da minha super específica vontade. Mais ou menos como quando eu quis comprar um coturno novo: demorei quase um ano para encontrar um modelo que fosse igual ao que eu havia criado na minha mente – e que combinasse maravilhosamente bem com o dinheiro que eu tinha na carteira. ;) 

Fuçando, fuçando, e já desistindo, acabei dando de cara com um bolo de cerejas no livrão gigante da Bon Appétit. Esse é um livro maravilhoso, mas que uso muito pouco, porque quase todos os bolos envolvem deixar manteiga em temperatura ambiente, coisa que me dá uma preguiça fenomenal, porque eu nunca tenho manteiga em temperatura ambiente naquele momento mágico em que há uma interseção da vontade de fazer bolo com o tempo hábil para tanto. 

Shame on me

Mas aquele bolo de cerejas me pegou de jeito, pois na noite anterior eu vira o primeiro episódio da temporada nova do The Great British Bake Off, em que eles preparavam um bolo de cerejas da Mary Berry. Era noite, meus filhos dormiam, e pulei até a cozinha para verificar o que havia na geladeira. 

E lá estava ele: aquele vidro intocado de cerejas ao maraschino, beeeeeeem vagabundas, fluorescentes, com gosto de corante vermelho e essência artificial de cereja, que eu comprara durante a gravidez da Laura para preparar coquetéis sem álcool e não ficar chororô enquanto todo mundo bebia cerveja à minha volta. Mas, por algum motivo, aquele vidro eu não abrira, e ele até então aguardava ansioso uma oportunidade para ser elevado a algo mais digno do que uma guarnição num Shirley Temple. 

Assim, contrariando minha tendência a ideias fixas, resolvi preparar um bolo diferente do que aquele em minha mente, e, na manhã seguinte, tirei manteiga e ovos da geladeira e misturei o creme de leite ao vinagre para produzir o sour cream. 

Fui buscar o Matador de Dragões na escola e perguntei se ele queria ajudar a preparar um bolo, e, assim que terminou de almoçar, ele empurrou sua cadeira para perto da batedeira, empolgado. Ele ajudou a untar a forma e a peneirar a farinha e o fermento. Também ajudou a enfarinhar as cerejas e, mais importante de tudo, ajudou a lamber a tigela. ;) Madame Bochechas, que é muito pequena para botar a mão na massa, assistiu a tudo de seu cadeirão, e pôde lamber o batedor sem precisar trabalhar por isso.   
Vantagem de ter filho e blog de comida: fotos fofas de crianças com doces.

 O resultado foi um dos bolos mais macios que já provei. Muito leve, fofo e úmido, deliciosamente doce e aromático de baunilha e cereja. Ver as crianças devorando as cerejas mequetrefes como se fossem balas, me fez lembrar dos bolos Floresta Negra de infância, com a criançada – eu inclusive – separando no pratinho de papelão as cerejas com gosto forte de licor, para comer apenas o chocolate e o chantilly.

Com cerejas e tudo, esse bolo foi um sucesso. Pimpolhada quis no café da manhã, no lanche da escola, no lanche da tarde, e em três dias já não tinha mais bolo. Mas já tem outro engatilhado, que eu continuo com vontade de pound cake, e o David Lebovitz tem um no livro novo dele (que chegou em casa essa semana) que usa manteiga derretida. o_O  Amo esse homem.

BOLO DE CEREJA E BAUNILHA
(Do ótimo e enorme Bon Appétit Desserts)
Rendimento: 10 porções

Ingredientes:

  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/8 colh. (chá) noz moscada ralada na hora
  • 1/2 xic. (120g) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 1 xic. + 1 colh. (sopa) açúcar
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 2/3 xic. sour cream*
  • 1 colh. (chá) casca ralada de limão siciliano (não tinha, usei a mesma quantidade de limoncello caseiro)
  • 1 xic. cerejas em conserva, sem caroço, drenadas e cortadas ao meio (usei cerejas ao maraschino, dessas de coquetel)
  • 1/2 fava de baunilha
  • 2 colh. (sopa) açúcar de confeiteiro

* creme de leite fresco misturado a uma colherinha de vinagre e deixado em temperatura ambiente por pelo menos 1 hora

Preparo:

  1. Unte e enfarinhe uma forma de mola de 23cm. Pré-aqueça o forno a 180ºC.
  2. Numa tigela, peneire a farinha, fermento, bicarbonato, sal e noz moscada. Retire 2 colh. (sopa) dessa mistura e reserve em outra tigela pequena. 
  3. Na batedeira, bata a manteiga e 1 xic. do açúcar por alguns minutos, até que esteja bem homogêneo e cremoso. 
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha.
  5. Com a batedeira na velocidade mais baixa, junte metade da mistura de farinha e misture apenas até que não se veja a farinha. 
  6. Junte o sour cream e a casca de limão (ou limoncello) e misture apenas até incorporar. Junte o restante da farinha e de novo misture apenas até que não se veja mais farinha. 
  7. Misture as cerejas cortadas ao meio à farinha reservada, para recobri-las de farinha. Junte-as à massa, misturando com uma espátula, apenas até espalhá-las.
  8. Transfira a massa para a forma, espalhando bem com a espátula, para que fique uniforme. Leve ao forno por 30 minutos, ou até que esteja dourado e um palito inserido no meio saia limpo.
  9. Retire do forno e coloque, ainda na forma, sobre uma grade. 
  10. Abra a fava de baunilha com uma faquinha e raspe as sementes em uma tigelinha (guarde a fava no seu açucareiro para fazer açúcar baunilhado). Junte a colher de açúcar restante esfregue com os dedos, para liberar o aroma e espalhar as sementes. Misture o açúcar de confeiteiro.
  11. Com a ajuda de uma peneira, polvilhe o açúcar baunilhado de modo uniforme sobre o bolo ainda quente, dentro da forma. Quando esfriar, passe uma faquinha nas laterais para soltá-lo e abra a mola. O bolo se mantém bem por alguns dias, coberto, em temperatura ambiente. 


terça-feira, 3 de junho de 2014

Salada de feijão-manteiguinha, pesto de folha de rabanete e mais um monte de coisa


Era para ser um almocinho vegan. Mas abri a geladeira e dei de cara com aquele maço de folhas de rabanete. Achei uma receita de pesto e, já que Madame Bochechas resolvera não dormir no meu horário de trabalho, resolvi preparar o danado para congelar e usar depois. [Pois há ainda muita verdura na geladeira para ser usada A.S.A.P., já que eu tive um impulso consumista na feira da semana passada e comprei uma variedade e quantidade maior do que consigo consumir de fato.]

Na hora de preparar o pesto, fiz poucas modificações: aferventei as folhas antes para tirar aquela sensação piniquenta, e usei castanhas do pará. O bicho ficou tão gostoso (Laura queria comer de colher), que resolvi usar o pesto na salada de feijão-manteiguinha que planejara para hoje, já que o dia estava bonito e não estava tão frio.

Feijão-manteiguinha: com um nome desse, não dá vontade de levar pra casa quando você vê na gôndola? Eu levei. E achei uma delícia. E fui pesquisar e descobri que ele é famosinho em várias partes do Brasil, mas que eu que era boba e nunca tinha ouvido falar. E é saboroso, e pequenininho, e bom em saladas. Como vi que era parente do feijão-fradinho, achei por bem descartar a água da primeira fervura, lavar e aí sim cozinhar com alguns temperos, para evitar qualquer possível amargor. Quem conhece o moço que me diga se era preciso fazer isso ou se é bobagem minha.

Sabia que queria usar na salada, abacate, que o Matador de Dragões (agora) adora. E tomate, e pepino japonês, e rabanete. Bati o olho numa salada de quinua que levava ingredientes semelhantes, e que levava também amêndoas e tâmaras. Resolvi arriscar, substituindo as amêndoas por castanha-do-pará de novo. Fui comedida e botei só quatro tâmaras, mas da próxima vez, uso mais, muito mais, porque o docinho da tâmara enriqueceu muito o prato.

Madame Bochechas provara do feijão na panela e do pesto no processador. Mas quando lhe apresentei o prato montado, ela torceu o nariz. Expliquei que era a mesma coisa. Mostrei pra ela. Passei o dedo no processador ainda sujo e deixei que lambesse. Fiz o mesmo no molho da salada. Ela apanhou a colher e foi valente, experimentando de tudo, gostando de alguns itens, cuspindo outros, mas, em geral, mandando ver.

Matador de Dragões viu o almoço e não quis sentar à mesa. Disse-lhe, como sempre, que se não queria comer, que não comesse; mas que precisava sentar-se conosco e esperar que todos terminarem. Ele veio, a contragosto. Ficou olhando, bem uns cinco minutos, enquanto Laura e eu comíamos, "hmmms", "aaahs", "boooons". Então apanhou a colher e experimentou. "Gostou, Thomas?" "Hm-rum", disse, continuando a comer. "Quéo mais." "Mais fejão?" "Dãaaao. Esse." Apontou para o rabanete.

Fico contente que ele tenha entendido o esquema e simplesmente experimente metendo o colherão na boca e mastigando. Laura entrou já cedo na fase do Não Gosto, Não Quero, e às vezes, recusa-se a comer, tornando-se minha mais nova Catadora de Salsinha. Hoje foi uma exceção conseguir convencê-la pelos meios da razão. Também não há promessa de chocolate que a faça experimentar algo, já que ela ainda não entende completamente condicionais. [Só promessa de chocolate fez com que Thomas experimentasse a berinjela recheada de painço, que ficou feia como o demônio, mas uma delícia. Experimentou, raspou o prato. Já Laura, não esboçou problemas com a gororoba marrom-acinzentada em seu prato e mandou ver sem manha.]

Vejo que a pequena Catadora de Salsinha ainda tem a dificuldade da mastigação, por não ter todos os dentes, já que o modo como mastigamos muda completamente o gosto que sentimos do alimento. Dependendo de como ela põe a comida na boca, o tamanho do pedaço, ela come ou rejeita. Pensei nisso outro dia, quando Thomas apanhou um legume qualquer para experimentar e apenas tocou-o na ponta da língua e o rejeitou. Tento explicar que desse jeito ele não está sentindo o gosto de nada e que isso é roubar no jogo: experimentar é botar na boca, mastigar e engolir. Imagina apanhar um pepino e encostar a ponta da língua na casca? Nem maçã tem gosto bom assim. o_O

Fiquei contente de ver os dois comendo com gosto, pedindo mais. Também, pudera: saladinha que ficou uma delícia, e eu mesma raspei o prato, repeti e comi o pouco que eles deixaram nas suas tigelinhas. Achei que sobraria pro jantar, mas já vi que vou pra cozinha de novo hoje. ¬_¬

SALADA DE  FEIJÃO-MANTEIGUINHA, PESTO DE FOLHAS DE RABANETE E UM MONTE DE COISA
Rendimento: 2-4 porções, dependendo se prato principal ou acompanhamento

Ingredientes:
(feijão)

  • 1 xic. feijão-manteiguinha seco, deixado de molho na noite anterior e escorrido
  • 1 colh. (sopa) azeite
  • 1 ramo de salsinha
  • 1 folha de louro
  • 1 pitada de pimenta-calabresa seca
  • sal e pimenta a gosto

(pesto)

  • 1 maço de folhas de rabanete bem verdinhas, com os talos
  • 1 dente de alho, descascado
  • 5-6 castanhas-do-pará
  • 1/2 xic. queijo parmesão ralado na hora
  • suco de 1/2 limão
  • azeite de oliva (1/4 xic. ou mais, dependendo da consistência desejada)
  • sal e pimenta a gosto

(salada)

  • 2-3 colh. (sopa) água do cozimento do feijão
  • 1 tomate maduro mas firme, cortado em cubinhos pequenos
  • 1/4 cebola picada
  • 1/2 abacate maduro, cortado em cubos e regado com suco de limão, para não escurecer
  • 2 rabanetes cortados ao meio no sentido do comprimento e fatiados bem fininho
  • 1 pepino japonês fatiado bem fininho
  • 4 castanhas-do-pará picadas
  • 4 (ou mais) tâmaras, sem caroço, picadas
  • sal e pimenta a gosto


Preparo:

  1. Coloque o feijão para cozinhar em água. Quando ferver, escorra, lave, volte à panela com água limpa bastante para cobrir, o azeite, o louro, a salsinha e a pimenta-calabresa. Leve à fervura, abaixe o fogo, e deixe cozinhando com meia-tampa até que o feijão esteja macio (o tempo vai depender da idade do feijão e se você usar panela de pressão ou não).
  2. Retire as ervas, tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto e escorra, reservando o caldo. 
  3. Enquanto isso, faça o pesto: coloque água com sal para ferver em uma panela grande. Coloque as folhas de rabanete e deixe cozinhar por 1 minuto. Retire e deixe que esfriem. Quando estiverem frias, esprema nas mãos até tirar todo o líquido e coloque as folhas no processador com as castanhas, o alho, o limão e o azeite. Pulse até transformar em purê. Acrescente o azeite, o queijo, sal e pimenta e bata novamente até que fique homogêneo. Você terá mais pesto do que precisa. O restante pode ser congelado. 
  4. Numa tigela grande, misture o feijão ainda quente a 1/3 xic. do pesto diluído em 2-3 colh. (sopa) da água do cozimento do feijão. (O restante do caldo do feijão pode ser usado no caldo de legumes, assim como a água do cozimento das folhas de rabanete.)
  5. Quando o feijão estiver bem temperado, junte o restante dos ingredientes da salada, misturando muito bem. Prove e acrescente mais suco de limão, azeite, sal e pimenta a gosto, se precisar. Deixe a salada descansar em temperatura ambiente por 15-30 minutos, para que os sabores se desenvolvam e sirva. 


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Bolo rápido de laranja e cranberries, uma viagem, um pedido e aquarelas (UPDATED)

Essa versão, mais escurinha, foi feita com 1/3 de farinha integral, pois a branca acabara.
O bolo feito apenas com farinha branca fica pouca coisa mais clara. 
Outra vez vi-me na situação de não ter o que enviar de lanche da escola para o pimpolho. Era tarde da noite, as crianças dormiam, marido trabalhava, e resolvi ligar o forno. Um pouco de manteiga derretida, duas laranjas espremidas, mistura seco com molhado, mistura cranberries, espera uma hora, bolo. Bolo gostoso, perfumado, bom pro lanche. Repeteco de outra vez, que o bolo ficara tão bom (mesmo substituindo parte da farinha branca pela integral) que ficara na memória como um excelente jeito de usar laranjas e cranberries.

E usar laranjas eu preciso. E pimentões. E tomates. E batatas. E bananas. Pois o carnaval será devidamente pulado: pulamos do dia anterior para o dia posterior, com o desafio de passar todo o feriado sem ouvir uma única marchinha ou samba-enredo e sem ver uma bunda adornada de plumas azuis e lantejoulas. Não quero saber quem ganhou, quem desfilou, que musa global escorregou do salto agulha no meio da avenida e caiu estatelada de silicone no asfalto. Não me interessa. Pulo o carnaval.

Mas quem não pula o carnaval é a banquinha de orgânicos da feira, que não aparece semana que vem. Por conta disso, abasteci a despensa além da conta de frutas e verduras, para ter comida fresquinha por duas semanas.

Só não contava com o fato de aparecer uma viagem de trabalho do marido assim, encostadinha no carnaval, totalmente de surpresa... e que eu pudesse ir junto.

Freelancer, quando tem oportunidade de qualquer ideia de férias, tem que agarrar com unhas e dentes, pois nunca se sabe quando o cliente vai aparecer querendo retomar aquele trabalho, ou quando vai ter dinheiro de novo para uma passagem de avião.

Daí que me vejo com a despensa cheia de comida para duas semanas e apenas uma semana para usar tudo. Deus me livre voltar de viagem e encontrar uma berinjela como centro de uma civilização avançada de mofo altamente inteligente dentro da gaveta de legumes. Lá vou eu no projeto feirado: passar o carnaval cozinhando e congelando, cozinhando e congelando, até para ter o que comer quando voltar da viagem.

Então fiquei bastante satisfeita por conseguir usar essas duas laranjas para um bolinho tão, tão gostoso, e que como todo "quick bread" deve dar excelentes muffins, assando por menos tempo. Façam um bolinho para hoje, ou congelem para depois do carnaval, e aproveitem e dêem uma olhada nas aquarelas de cozinha novas lá no site. Compre uma aquarelinha para pendurar na cozinha. Assim eu ganho umas patacas a mais para gastar na loja de material de arte durante a viagem, que tinta e pincel lá fora é infinitamente mais em conta que nessa terra aqui. ;)
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Depois de comprar uma aquarelinha e comer uma fatia de bolo, apanhe aquele seu velho diário de viagens e deixe um comentário por aqui, ajudando uma foodie extremamente indecisa a decidir onde comer durante uma semana em Amsterdam e dois dias corridíssimos em Paris. Porque normalmente eu acredito que nós só temos um número limitado de refeições durante nossa vida; logo, é uma estupidez desperdiçar qualquer uma delas com comida ruim.

Agora imagine em uma viagem, a neurose. Imagine apenas dois dias em Paris. DOIS DIAS. Dois cafés da manhã, dois almoços, dois jantares. Imagine desperdiçar qualquer uma dessas seis refeições num bistrô turístico e mequetrefe. Sem saber quando você vai poder voltar, se vai poder voltar um dia. A neura bate forte, principalmente quando me lembro daquele único jantar em Milão, em que meu marido quis porque quis comer num lugar com vista para uma avenida movimentada. E pagamos caro em massa congelada da pior espécie. Depois disso, ele começou a confiar em mim quando o arrastava para restaurantes escondidos em becos, sem vistas turísticas.

Neura batendo forte.

Minha intenção em Amsterdam é me esbaldar nos museus, caminhar pela cidade, sentar, pedir uma cerveja e pintar tantas aquarelas quanto conseguir.
Minha intenção em Paris é comer queijos fedidos até o cheiro começar a exalar pela pele. [Eca.] 

Então, se você, querido amigo leitor ou leitora, foi a Amsterdam e a Paris recentemente e comeu coisas deliciosas em lugares com preços pagáveis, aceito de bom grado sua dica. :D

UPDATE: Agradeço de coração a todos que deram as dicas de lugares em Paris, mas, infelizmente, como às vezes acontece com viagens a trabalho, nesse curto intervalo de tempo entre a publicação do post e o fim do dia, a parte de Paris foi cortada. Logo, será apenas Amsterdam. Se der, um pulo na Bélgica, bem bate-volta de um dia. Paris vai ficar pra outra oportunidade, infelizmente, mas as dicas estão anotadíssimas. 

Enquanto isso, bom carnaval a todos. Pulando ou não.

BOLO DE LARANJA E CRANBERRIES
(do pequenino e charmoso Magnolia Bakery Cookbook)
Rendimento: 1 bolo pequeno

Ingredientes:

  • 2 xic. farinha de trigo
  • 1 xic. + 1 colh. (sopa) açúcar (a colher adicional é para polvilhar por cima)
  • 1 1/2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1 colh. (chá) sal
  • 1 colh. (sopa) raspas de casca de laranja
  • 3/4 xic. + 2 colh. (sopa) suco de laranja espremido na hora
  • 1 ovo grande, em temperatura ambiente
  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida
  • 1 xic. cranberries secas, picadas grosseiramente

Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma de bolo inglês tamanho padrão. 
  2. Numa tigela média, misture com um fouet a farinha, fermento, bicarbonato, sal e 1 xic. do açúcar. 
  3. Numa tigela grnafde, misture as raspas, o suco, o ovo e a manteiga derretida. 
  4. Com uma espátula, misture os ingredientes secos aos líquidos, apenas até que a farinha esteja incorporada. Junte as cranberries, misture de forma homogênea e despeje na forma.
  5. Polvilhe o açúcar restante por cima e leve ao forno por 1 hora, ou até que um palito inserido no centro saia limpo. Deixe esfriar por 20 minutos antes de servir. 


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Muffins integrais de banana, café e nozes de supetão


Há tempos em que tudo flui, tudo se encaixa, e você flutua graciosamente por entre seus magníficos exemplos de organização e disciplina.

E há tempos em que você acorda no meio da madrugada e se dá conta de que não há nada pro Matador-de-Dragões-Sequestrador-de-Dinossauros-do-Maternal levar de lanche na escola a não ser a fritatta de anteontem.

Levanta às 6h30 da manhã depois de uma noite muito mal dormida, e, enquanto o pimpolho brinca pela casa, você tenta pensar no que fazer.

"Thomas, quer ir à padaria com a mamãe?"
"Dão."
"Vamos lá, a gente pode tomar café na padaria. Com pãozinho e suco de laranja!"
"Dão, dão, dão!"
"Não quer pãozinho?"
"Dão."

Hmmm...

Então se dá conta de que a manhã está mais sossegada, com marido viajando a trabalho e Madame Bochechas na avó.

"Thomas, quer ajudar a mamãe a fazer bolinho?"
"Quéo".

Apanha um livro, liga o forno, bota 12 forminhas de papel na forma de muffins. São 6h40. Thomas entra na escola às 8h.

Coloca farinha integral e fermento na  tigela. De repente se lembra de que usou os ovos na fritatta. Abre a geladeira. Tem um só. Tira seis forminhas de papel da forma de muffins e resolve fazer meia receita. Tenta de algum jeito tirar metade do fermento da tigela (que vai para o lixo) e metade da farinha, a parte que não encostou no fermento (que volta pro pote de farinha). Pica as nozes, coloca na tigela.

"Agora vão as nozes."
"Dóces."
"O sal..."
"O cal."
"E agora o café."
"O caqué."

Dá o fouet na mão da criança.

"Devagar, para não voar tudo pra fora da tigela."

Ele segura primeiro na pontinha do fouet, e brinca de girá-lo devagar no próprio eixo, como se fosse um batedor de batedeira. Então, de repente, segura o meio do cabo com força e começa a misturar com vontade.

"Calma, calma, tá bom."
"Tá bom", repete.

Vai derreter a manteiga e se dá conta de que a receita pede para batê-la na batedeira, em temperatura ambiente. A manteiga está gelada. Sente-se idiota, pois lembra que era justamente por isso que nunca fizera aqueles muffins: preguiça de bater manteiga, porque quando você quer muffin, você quer pra ontem. Dá de ombros, bota a batedeira no máximo e bate o açúcar e a manteiga... só até misturar um pouco. Não dá tempo de ficar mega cremosa e fofa como a receita pede.

Apanha as mãozinhas do pequeno e o ensina a quebrar o único ovo da geladeira, com cuidado. Acrescenta à manteiga. Talha. Claro. Bate mais. Quem se importa?

"Colo!", pede ele, para ver a batedeira em funcionamento.
"Agora vai o iogurte."
"Bai o cute."

Coloca o iogurte gelado e a manteiga talhada solidifica no fundo da tigela.
Sentimento de estupidez suprema.

"Cute! Cute! Tetê! Cute!"

Demora para se lembrar de que, por algum motivo, o Matador de Dragões a chama de Tetê, e não de Mamãe. Demora mais ainda para perceber que ele quer tomar iogurte de café da manhã.

Coloca iogurte caseiro numa tigelinha.

"Quer mel no iogurte?"
"Quéo. Quéo méu."

Enquanto a criança se esbalda com iogurte e mel, tenta salvar a lambança na tigela da batedeira, raspando com a espátula a manteiga gelada e voltando bater em velocidade máxima. Apanha duas bananas pequenas congeladas, pica com a faca até virarem uma maçaroca e junta à meleca de manteiga. Junta os ingredientes secos, mistura como dá, e, meio cínica, distribui nas forminhas.

O Não-Mais-Pequeno-Guerreiro-Ítalo-Germânico-Talvez-Tamanho-Médio passa o dedo na massa e emite um som de contentamento.

Polvilha o restante das nozes por cima, mete no forno, acerta o timer, e começa a pensar num plano B. Talvez a padaria mesmo.

Enquanto isso, faz uma limonada e separa uvas para a lancheira. Bota roupa para lavar. Tira o pijama e veste o vestido novo, orgulho da muquiranice, comprado em promoção da promoção por menos do que costumava gastar numa camiseta há oito anos atrás. Finge um cabelo arrumado. Finge noite bem dormida com um pouco de corretivo.

Volta para descobrir que o Matador de Lagartas está no quintal sistematicamente arrancando das paredes e esmagando todos os casulos de borboleta que encontra. Bota a criança de castigo, porque o menino sabe que não é pra fazer isso.

Enquanto isso, olha o livro de receita e descobre que colocou os muffins na prateleira do meio a 180ºC, quando era na prateleira mais baixa, a 190ºC.

¬_¬

Alguém ainda se importa?

O timer toca. Os muffins cresceram e estão cheirosos. Abre um deles, e a textura está ótima. São 7h40. Hora de sair. Bota criança e mochila no carro e leva muffin na mão, fora da lancheira, para ir esfriando até chegar na escola.

Despacha criança para a sala de aula, de onde ele sai correndo, para ir à sala do Infantil I roubar os dinossauros. Porque no Maternal II não tem dinossauros, e isso é injusto.

Volta para casa, prepara um balde de café espresso e come um muffin. Se ficou bom dando tudo errado, deve ficar uma delícia fazendo direito. Lembra que acabou de mandar uma criança já elétrica para a escola carregando de lanche um muffin com pó de café espresso.

Mmmm... f*ck.

MUFFINS INTEGRAIS DE BANANA, NOZES E CAFÉ
(do sempre ótimo Super Natural Cooking, de Heidi Swanson)
Rendimento:12 muffins

Ingredientes:

  • 2 xic. de farinha de trigo integral (procure as mais fininhas)
  • 2 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 1/4 xic. nozes picadas, tostadas (não tostei, e ficou bom igual)
  • 1 colh. (sopa) pó para café espresso (como moí os grãos na hora, usei um pouquinho menos, pois tive medo de que ficasse forte)
  • 6 colh. (sopa) manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 3/4 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 ovos grandes
  • 2 colh. (chá) extrato natural e baunilha
  • 1 xic. iogurte natural
  • 1 1/2 xic. bananas super maduras amassadas (cerca de 3 grandes)


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 190ºC. Posicione a grade na parte inferior do forno e forre uma forma de muffins de 12 cavidades com forminhas de papel.
  2. Combine a farinha, fermento, sal, 3/4 xic. das nozes e o pó de café numa tigela grande e misture com um batedor de arame. 
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga até que fique fofa e clara. Junte o açúcar e continue batendo até que dissolva. 
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. 
  5. Junte a baunilha e o iogurte, então as bananas amassadas. 
  6. Desligue a batedeira e incorpore os ingredientes secos com uma espátula, apenas até que não se veja mais farinha. (Não misture demais, ou os muffins ficam massudos). 
  7. Distribua a massa entre as forminhas e polvilhe por cima as nozes restantes. (Pode encher até a borda, esses muffins não transbordam. Se a massa estiver muito mole, talvez tenha faltado farinha na hora de medir em volume. Acrescente mais uma ou duas colheres, até obter uma massa mole, mas que fique em montinhos.) Asse por 25 minutos, até que estejam dourados e um palito inserido no interior deles saia seco.  
  8. Deixe esfriar na forma por 5 minutos antes de retirar e deixar que esfriem completamente. 


Obs: pode acrescentar um pouco de chocolate picado se quiser, também. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Bolo de limão de vó e de chuva

Pedacim pequeninim, num pires.

E prossegue esse calor infernal, esse calor que faz com que a manteiga recém-tirada da geladeira fique perfeita pra passar no pão em dois minutos, e absolutamente derretida em quinze. Esse calor que faz com que o pão de fermento natural dobre de tamanho em duas horas, e não em dezoito (o que impede também que ele crie aquela cor dourado-escura ao ser assado ou cresça decentemente no forno). Esse calor que é quente demais até para usar shorts. Só saia salva.

E enquanto todos nós derretemos por aqui, queimando os pés no azulejo do quintal e maldizendo cada pincelada de aquarela, cuja tinta seca antes que se possa manipulá-la no papel, ouço súplicas por chuva por todos os lados. Para refrescar, para encher os reservatórios.

Aí me pego pensando, que se fizermos um esforço coletivo, podemos, juntos, fazer chover. Basta seguir os passos simples a seguir, e é garantia de chuva refrescante no fim do dia:
  1. Saia de casa o dia todo e deixe as janelas abertas. De preferência, com algum objeto logo abaixo delas que não possa ser molhado, como seu livro favorito, um trabalho de faculdade ou seu laptop aberto. 
  2. Se não puder deixar seu livro favorito, seu trabalho de faculdade ou seu laptop em casa, saia com ele para dar uma volta bem longa à pé, em direção a algum lugar longe para um compromisso para o qual você já está atrasado, e lembre-se de não levar nenhuma espécie de proteção contra chuva para esse objeto que não pode molhar. Afinal, está um dia bonito e não vai chover. 
  3. Lave o carro.
  4. Regue as plantas. 
  5. Vá para o trabalho de moto, porque está um dia bonito e não vai chover. Melhor ainda se tiver uma reunião assim que chegar ou um evento importante depois do trabalho para o qual você vai direto, de moto.
  6. Faça escova no cabelo.
  7. Jogue fora aquela sua capa de chuva que você nunca usa mesmo, porque não chove faz tempo.
  8. Programe um piquenique a céu aberto. Programe, na verdade, qualquer evento a céu aberto. Melhor ainda se for importante, como um aniversário ou um casamento. Se puder ignorar os conselhos de amigos dizendo que é melhor ter uma tenda no evento, ótimo.
  9. Saia de casa com um sapato de camurça. [Funciona como ir de blusa branca em restaurante japonês: garantia de o sushi escapar do hashi e explodir shoyu na sua roupa. Ou dar sorvete de uva pra criança. Criança nunca derruba na blusa sorvete de limão. É sempre de uva.]
  10. Programe uma viagem para a praia, de preferência numa pousada cara, num lugar que não tenha mais nada para fazer a não ser virar croquete na areia, onde a TV só pegue rede Globo (e só às vezes), e onde não tenha wi-fi.
  11. Lave o quintal.
  12. E, mais importante de tudo, garantia de chuva na certa: peça à sua mãe para que diga a você que leve o guarda-chuva porque vai chover, e então deliberadamente a ignore, deixando o guarda-chuva em casa. Se isso não funcionar, nada mais vai.
Acredito que se todos resolvermos ajudar, conseguiremos fazer chover. Juntos chegaremos lá [tem aquele gesto de mãos acompanhando a frase com entusiasmo]. Vamos todos lavar os carros e combinar um piquenique de aniversário numa praia sem wi-fi, para o qual iremos de moto e sapatos de camurça, enquanto deixamos nossos guarda-chuvas em casa, dizendo que nossas mães não sabem de nada mesmo.

Combinado?

Enquanto isso, que tal abraçar o calor de vez e dar uma de louca desvairada e... acender o forno? Fazer um bolo enquanto espera a mandinga aí de cima dar certo? Daí, quando chover, podemos fazer bolinhos de chuva (que também é coisa de vó) e reclamar que o verão está uma droga porque não pára de chover. ;)

Esse bolo de limão é tão brasileiro que me surpreendeu estar em um livro americano. Ele é muito fácil de fazer, desde que você não invente de substituir o açúcar, como tentei na primeira vez. Usei açúcar comum ao invés do de confeiteiro e o que aconteceu foi que tive de bater a manteiga por três vezes o tempo até que o açúcar estivesse dissolvido, o que incorporou muito ar à massa e fez com que o bolo transbordasse da forma, não assasse direito e fosse direto para o lixo. Fiz novamente, desta vez com o açúcar de confeiteiro, e foi um sucesso absoluto. Tão simples que acho que dá pra fazer até com uma colher de pau ou um batedor de arame. E tão gostoso, azedinho de limão, além de derreter na boca de macio.

BOLO DE LIMÃO
(Do ótimo Bon Appétit Desserts)
Rendimento: 9 porções (16 se você cortar em quadradinhos comedidos como os da foto)

Ingredientes:

  • 3/4 xic. manteiga sem sal em temperatura ambiente (cerca de 150g)
  • 2 1/2 xic. açúcar de confeiteiro, dividido em 1 xic. e 1 1/2 xic.
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/4 xic. leite
  • 1 1/3 xic. farinha de trigo
  • 1 3/4 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 4 limões tahiti grandes
  • 6 colh. (sopa) açúcar cristal


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma quadrada de 20cm de lado e pelo menos 5cm de altura (traumatizada com minha forma de metal, na qual o bolo vazara, usei com sucesso uma de vidro, um tantinho mais alta e milímetros mais larga).
  2. Com uma batedeira elétrica (ou, suspeito, uma colher de pau), bata a manteiga e 1 1/2 xic. do açúcar de confeiteiro até que o açúcar esteja dissolvido (menos de 1 minuto). 
  3. Junte os ovos, um a um, misturando bem a cada adição. Junte o leite. Não tem problema se talhar. 
  4. Misture e junte a farinha, o fermento e o sal, misturando com cuidado apenas até que não se veja mais farinha. 
  5. Espalhe na forma de modo uniforme, alisando com a espátula, e leve ao forno por 30-35 minutos, até que esteja dourado e um palito inserido no centro saia limpo.
  6. Enquanto isso, rale as cascas dos limões até obter 1 colh. (sopa) de raspas. Esprema os limões até obter 6 colh. (sopa) de suco. 
  7. Numa tigelinha, junte as raspas, o suco e 6 colh. (sopa) de açúcar comum e mexa bem até que o açúcar dissolva. 
  8. Quando o bolo estiver pronto, retire do forno e coloque a forma sobre uma grade. Fure o bolo por toda a superfície com um palito. Reserve 2 1/2 colh. (sopa) do xarope de limão para uso posterior e derrame o restante sobre o bolo ainda quente, deixando que escorra para dentro dos furos. Deixe esfriar completamente na forma.
  9. Quando estiver frio, junte ao xarope de limão a 1 xícara restante de açúcar de confeiteiro e misture bem até obter um glacê. Espalhe sobre o bolo uniformemente. Deixe secar por 1 hora antes de cortar o bolo em quadradinhos e servir. Você também pode desenformar o bolo primeiro e passar o glacê depois, mas ele vai escorrer para os lados em alguns pontos. O bolo se mantém bem em pote fechado por alguns dias. 



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Um bom pão e picles de melancia outra vez


Se há algo que amo muito em Nigel Slater, além do fato de ele parecer um doce de pessoa, sempre de bom humor em seu jardim fantástico, é o fato de que ele me fez redescobrir os sanduíches. Essa coisa de pão com queijo no meio, que fica chato muito rápido quando é sempre o mesmo pão francês insosso de padaria mequetrefe e o mesmo queijo prato marca-barbante de bandejinha de isopor com data de validade duvidável.

Aí vem esse homem fofo, com quem eu queria muito tomar um chá [chá com Nigel Slater, café com Dave Grohl, e cerveja com Russel Allen] e pega cada vez um pãozim lindo diferente e enche de várias sobras de ontem e várias coisas novas, e vários molhos xyz e pronto. O estrago está feito.

Meu amor pelos sanduíches voltou. A carne escura do frango assado de outro dia recheou uma baguette caseira, acompanhada de mostarda de grãos, molho inglês, picles de casca de melancia e queijo prato. Juro que ficou uma delícia, apesar da mistura estranha.

Pão de centeio, queijo emmenthal e kimchi.

Pão branco, pepinos marinados, maionese e óleo de gergelim com pimenta (tão bom e leve que fiz outro logo em seguida).

Fritatta de legumes no pão italiano, com tomates frescos.

Pão de farinha de castanha portuguesa, geleia de maçã com alecrim e provolone. 

Focaccia de alecrim, prosciutto e queijo quartirolo.

Queijo prato, mortadela (tudo quentinho de frigideira, estilo boteco) e chutney de manga fresquinho (em breve, post sobre esse chutney).
 
O da foto, salada verde do almoço, emmenthal e picles de melancia no pão bloomer.

Coisa boa isso de lembrar que sanduíche também é refeição.

Difícil mesmo é ensinar o Thomas a comer sanduíche sem desconstruí-lo. Dá aquele nervoso de ver o menino tirando o pão, lambendo o tempero, comendo o queijo separado do tomate, e por último o pão, começando pelo miolo e terminando pela casca. Sério, criança, por quê?? ¬_¬ [Pelo menos, na última reunião da escola, ouvi uma mãe comentando que a filha faz a mesma lambança. Menos mal que não sou só eu que crio gente estranha aqui em casa.]

O picles de melancia já apareceu por aqui antes, mas essa é uma receita nova. A primeira vez que fiz, estragou no armário, talvez por falta de acidez, talvez por erro na esterilização do pote, talvez por bolhas de ar, talvez por cabeça-dura, que inventei de transformar uma conserva de geladeira em uma conserva de armário. O segundo ficou bom, mas acabei dando tudo para minha mãe (que adorou), pois eu não esperava que ficasse tão doce. Na minha cabeça, achei que ficariam como pepinos em conserva, apenas ácidos, salgadinhos. Não sabia como usar, os sites americanos recomendavam comer com bacon, coisa que na época não estava comendo, então foi isso, picles doado (e devorado por minha mãe, que adorou). Desta vez tentei uma receita nova, e fica doce sim, mas também ácido, só que desta vez aprendi a usar, e nossa, como é viciante. Meu primeiro pote está já na metade. Como um chutney, como um ketchup, aquele docinho-azedinho no sanduíche.

O pão já havia feito outra vez, e sempre fica muito gostoso, muito macio, de casquinha fina e crocante. Receita do senhor Paul Hollywood. Eu ia dizer que é uma pena que removeram da internet os episódios do programa dele baseado nesse livro, Paul Hollywood's Bread, mas encontrei de novo quando pretendia linkar qualquer imagem dele sovando massa. Uma das melhores séries sobre pão a que já assisti, pois mostra os movimentos dele em câmera lenta e vários ângulos, de modo que você pudesse replicar em casa os gestos com mais facilidade. Por conta desse programa, ando sovando pão de um jeito diferente, combinando primeiro a técnica de Richard Bertinet, e então essa do Paul Hollywood de usar só uma mão, passando então à Marcella Hazan e essa maravilha que é catar a massa e batê-la na bancada como uma surra de toalha molhada [juro que essa foi a imagem menos bizarra que me veio à mente ao sovar a massa dessa forma; outras comparações não são pertinentes a um blog... ahn... de família]. Tão natural sovar assim, que nunca mais usei a batedeira para o processo nem nunca mais enfarinhei bancada.

PÃO BLOOMER
(do ótimo Paul Hollywood's Bread)
Rendimento: 1 pão médio-grande

Ingredientes:
  • 500g farinha de trigo + extra para polvilhar
  • 10g sal
  • 7g fermento ativo seco instantâneo
  • 40ml azeite de oliva + extra para a bancada
  • 320ml água fria

Preparo:
  1. Coloque a farinha numa tigela grande e junte o sal de um lado e o fermento de outro. Junte o azeite e 240ml da água e use os dedos para misturar e amassar tudo junto até que comece a formar uma massa, assim, como criança brincando de massinha mesmo, usando a massa mais úmida para grudar os pedacinhos ainda secos.
  2. Vá juntando o restante da água aos poucos, misturando e sovando, até obter uma massa grudenta, mas não encharcada. Pode ser que você não precise acrescentar toda a água, e pode ser que precise de mais um pouquinho (nesse caso, vá juntando às colheradas, para não exagerar). Lembre-se de que a massa vai ficando menos grudenta conforme você sova.
  3. Unte com um fio de azeite a bancada e derrube sua massa ali. Sove por 5-10 minutos, até que a massa fique elástica e macia. Forme uma bola e coloque numa tigela grande, untada com azeite. Cubra com filme plástico e deixe fermentar por 1h30 a 3h, até que dobre de tamanho, dependendo da temperatura da cozinha. 
  4. Coloque a masssa fermentada em uma superfície enfarinhada. Sove um pouco, dobrando a massa sobre si mesma, apertando com a base da mão, até que a massa esteja macia e uniforme de novo. 
  5. Achate-a em forma de retângulo, e dobre uma aba do lado mais longo em direção ao meio, e a outra aba sobre a primeira, apertando bem. Vire o pão de cabeça-para-baixo, deixando a fenda para baixo e puxe as bordas para debaixo dele, tornando-o oval.
  6. Coloque o pão em uma assadeira forrada com papel-manteiga ou silpat. Coloque a assadeira em um saco plático grande, fechando-o mas tomando cuidado para que ele não toque o pão, e deixe fermentar por mais 1 hora, ou até que dobre de tamanho.
  7. Aqueça o forno a 220ºC e coloque uma assadeira no chão do forno para esquentar.
  8. Retire a assadeira com o pão do saco plástico. Pulverize o pão com água, polvilhe uma mão cheia de farinha por cima, esfregando delicadamente com as mãos para uniformizar a farinha sobre o pão.  Com uma faca bem afiada, faça 4 cortes diagonais no pão, com cerca de 2-3cm de profundidade. 
  9. Logo antes de colocar o pão no forno, coloque 1 litro de água na assadeira vazia e quente dentro do forno, para criar vapor. Coloque a assadeira com o pão na prateleira do meio do forno e asse por 25 minutos. Abaixe a temperatura para 200ºC e asse por mais 10-15 minutos, até que esteja dourado-claro e saia um som oco do pão ao bater-lhe em baixo com os nós dos dedos. Deixe esfriar completamente sobre uma grade.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Soba com berinjela e manga e picolé para arrematar (natal, pra quê?)

 O fim de ano do freelancer. Você entra naquela fantasia infantil, conforme dezembro se aproxima, de que sua falta de chefe propiciará controle sobre a própria agenda, e que, este ano – ah! este ano! – você conseguirá encerrar atividades no meio do mês e curtir duas semanas pré-natal descansando, lendo, cozinhando toda sorte de doces e biscoitos natalinos usando especiarias e frutas completamente em desacordo com a estação do ano do hemisfério Sul. Doce fantasia.

Aí aquele trabalho programado para a segunda-feira se arrasta em alterações até a semana seguinte, transformando aquele prazo mágico do cliente em mera sugestão descartada. Você se curva diante do computador até altas horas da noite, olhos ardendo de olhar para a tela, com a certeza de estar ganhando um atraente bico de papagaio nas costas, e uma tristezinha lenta por ter delegado seus filhos à sua mãe o dia todo, pelo décimo dia seguido. Queria ter preparado coisa melhor para o almoço, queria ter brincado lá fora com seu filho em meio às borboletas habitantes do pé de maracujá que cresce junto ao muro, queria ter construído aquele canteiro alto para a horta com as toras apanhadas de um terreno baldio há mais de um mês. Queria ter preparado torrone.

Mas respira fundo e agradece por ter trabalho para pagar a escola ano que vem, e continua no batente.

Último dia previsto de trabalho. O prazo não é mais mágico. Gráfica. Hoje. Acorda às dez pras seis com o choro da mais nova, depois de ter trabalhado até às duas da manhã na noite anterior. Faz um balde de café. Leva o mais velho pra escola, passeia o cachorro, arruma as camas, lava louça, pendura roupa que lavou durante a noite, prepara a massa na focaccia que o filhote vai levar pro piquenique da escola no dia seguinte. Faz outro balde de café. Liga pro cliente. Mais alterações de última hora. Bota a pequena pra cochilar e senta no computador. Trabalha, trabalha. Chove lá fora. Acaba a luz. O no-break permite que eu trabalhe mais vinte minutos e puft. Sem computador, sem internet. Gráfica. Hoje. Liga pro cliente. Explica a situação. Sente uma úlcera formando na boca do estômago. Arruma as coisas da casa que estão fora do lugar. Pega a pequena que acordou no berço, troca fralda, bota no cadeirão pra comer uma banana. Faz mais um balde de café. Liga pro cliente pra dizer que nada mudou, tudo ficou no lugar. Sem previsão da luz voltar. Gráfica. Hoje. Sente um aneurisma estourando atrás da orelha esquerda. Pensa em catar a pequena, o mais velho na escola e ir pra São Paulo trabalhar na mãe, que lá tem luz, tem internet e mais café. Mas lembra que o arquivo incompleto está dentro do computador desligado. Pensa em arrancar o arquivo de lá de dentro à la Zoolander. Melhor não. Pensa no almoço. Restô dontê. Tira da geladeira escura e desligada um grande pote com soba de manga e berinjela, um pedaço de fritatta de feijão branco e dente de leão colhido do jardim, pepinos fatiados finos e tomates cereja bem doces e deixa sobre a mesa. Pensa em deixar os pratos postos, mas lembra que talvez o pequeno queira fazer isso.

Pega a pimpolha, bota na cadeirinha do carro, dirige até a escola, tira a pimpolha da cadeirinha, anda na chuva fina até a porta da escola. Espera. "Você também está sem luz?" "Estou." "Tem previsão pra voltar?" "Não tem não." Entra na escola, anda até a sala, veste a mochila nas costas, enfia a alça da térmica no braço que segura a pimpolha, pega o outro pimpolho no outro braço, subindo-o no colo com uma mão só. Sente uma hérnia estourando em algum lugar perto dos rins. Leva as duas crianças na chuva até o carro. Pimpolho número 1 na cadeira. Pimpolha número 2 na cadeira. Mochila jogada no banco. Dirige de volta com a esperança vã de entrar em casa e ver ligadas as luzinhas de natal. Neh. Tira pimpolha da cadeira e bota no cadeirão. Pega pimpolho, leva pro quarto, tira o uniforme, bota roupa de brincar, leva pra fazer xixi e lavar a mão. Chama pra comer. Drama. Chama pra ajudar a pegar os pratos. Drama. Pega os pratos. Mexe na massa da focaccia e liga o forno no máximo. Pimpolho vem ver o que tem pra comer. Drama. Não quer soba. Gosta de soba, mas não quer soba. Os molares estão nascendo e rasgando as gengivas e o vinagre do molho faz arder. E a manga, queria manga doce, não manga salgada. A pequena come tudo. O pequeno come pepinos e tomates cereja e um pedaço minúsculo de fritatta.

Pega a picolé pros dois. Picolé de banana, iogurte caseiro, mel e canela. A pequena se refestela. O pequeno come sem fazer sujeira. Pede mais. Não. Biscoito. Não. Biscoooooito. NÃO. Drama.  
Manda brincar. Não quer brincar, quer biscoito. Não. Biscoito. Não. Quer desenho. Não tem desenho, não tem luz. Drama. Dente maldito, nasce logo, que você está deixando meu filho um chato. Manda mensagem pro cliente. Dá um jeito aí, usa a última versão, não sei quando entrego isso não. Lava a pimpolha imunda de picolé. Bota na sala com uma caixa de peças grandes de montar. O pequeno esquece o biscoito e vai brincar junto. Alívio. Lava louça. Limpa o chão da cozinha, imundo de soba, manga, berinjela, picolé, fritatta. Faz um balde de café e promete que esse é o último. Bota pequena pra cochilar.

A luz volta. Aleluia, aleluia, milagre de natal! Bota desenho pro pequeno ver e corre pro computador. Espera o arquivo imenso abrir. Espera. Espera. Faz as alterações. Manda achatar a imagem. Trava. Faz de novo. Trava. Volta. Achata a p*rra da imagem. Foi. Salva. Espera o arquivo imenso salvar. Manda mensagem feliz e reconfortante para o cliente. Vai subir o arquivo. Sua conta do xyz upload qualquer expirou. Faz o cadastro de novo. Um script não deixa seu arquivo subir. GRÁFICA. HOJE. O pequeno, que tinha dormido vendo desenho, acorda chorando. A pequena, que estava cochilando no berço, acorda chorando. O timer toca avisando que é pra colocar a focaccia no forno. Vai colocar a focaccia no forno e descobre que o gás acabou. Isso te vem à mente:


Pega a pimpolha aos berros no berço, bota no cadeirão e dá uma banana. Pega o pimpolho aos berros e dá um biscoito. Maldito biscoito. Desliga o gás, tira o botijão velho, bota o botijão novo, liga o gás, liga o forno no máximo, checa a focaccia. Corre para o computador, para o upload travado, procura outro site, faz outro cadastro, sim aceito os termos e condições, clica no link recebido no email, não, não quero promover minha conta gratuita para uma muito melhor só que paga, sobe o arquivo. Arquivo "subido". Liga pro cliente. Tudo certo. Tira pimpolha do cadeirão, lava a cara de banana, bota pra brincar de andar pela casa, segurando as mãozinhas. Pimpolho te chama na cozinha. Biscoito. Não. Biscoito. Não. BISCOITO. NÃO, P•RRA, ESPERA O JANTAR. Bota desenho. Bota pimpolha no cercadinho. Corre pra atender celular. Gráfica. Imprime assim. É. Esse tamanho. Responde email. Dobra roupa limpa. Separa. Guarda nas gavetas. Bota focaccia no forno. Parou de chover, bota o cachorro no quintal pra fazer xixi. Dá biscoito pro cachorro. Criança vem pedir biscoito. FOME. Quer macarrão? Quer. Jantar mais cedo. Bota nenê no cadeirão. Faz molho de alho, tomate cereja, e alcaparras. Rala parmesão. Pimpolho vem pedir queijo. Dá queijo. Cozinha macarrão. Tira focaccia do forno. Grudou nas laterais. Cata espátula para desgrudar. Queima o dedo. Queima o dedo de novo. Pimpolho está impaciente com o macarrão. Cadê o macarrão? Fome. Bate embaixo da focaccia. Não está pronta. Volta pro forno. Escorre o macarrão. Serve.

Observa tranquilamente enquanto as crianças comem. Respira.
Retira focaccia do forno. Bota na grade pra esfriar.

Bota as crianças no banho. Laura, senta. Senta, Laura, não pode ficar de pé na banheira. Thomas, para de jogar água no rosto da sua irmã! Tira a pequena, bota roupa, bota no chão do quarto. Vai pegar o outro. Pequena prende o dedo na gaveta enquanto isso. Volta correndo pra soltar o dedo e dar bronca. Dá um brinquedo na mão pra se distrair e não prender o dedo na gaveta de novo e vai pegar o outro. Bota pijama e manda ir brincar e esperar o papai chegar. Bota pequena no cercadinho na sala. Lava louça. Bota o cachorro pra fazer xixi de novo. Papai chega. Pega email. Deu tudo certo. Vai tomar banho. Nina a pequena, bota no berço. Pega o mais velho. Escova os dentes. Faz xixi. Vai pra cama. Conta história. Vai pra sala. Abre a geladeira. Apanha o pote do que sobrou de soba com berinjela e manga e leva pra sala. Volta pra geladeira, apanha uma Guinness. Senta no sofá. Respira.

É por isso que não tem uma série de natal esse ano aqui no blog.

SOBA DE MANGA E BERINJELA
(do lindo Plenty, de Yotam Ottolenghi)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1/2 xic. vinagre de arroz
  • 3 colh. (sopa) açúcar
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 2 dentes de alho, amassados
  • 1/2 pimenta vermelha fresca, picada finamente
  • 1 colh. (chá) óleo de gergelim
  • casca ralada e suco de 1 limão tahiti
  • 1 xic. óleo de girassol
  • 2 berinjelas médias, cortadas em cubos de 1,5cm ou tiras de 0,5cm de espessura
  • 220-250g soba
  • 1 manga grande e madura, cortada em cubos pequenos ou fatias finas
  • 1 2/3 xic. manjericão fresco, picado
  • 2 1/2 xic. coentro fresco, picado
  • 1/2 cebola vermelha, fatiada finamente

Preparo:
  1. Numa panela pequena, aqueça gentilmente o vinagre, açúcar e sal por um minuto, apenas para dissolver o açúcar. Remova do fogo e junte o alho, pimenta e óleo de gergelim. Deixe esfriar e junte as raspas de limão e o suco. 
  2. Numa frigideira grande, aqueça o óleo e frite a berinjela em três ou quatro levas. Uma vez douradas, remova para um escorredor e polvilhe com sal, deixando escorrer.
  3. Cozinhe o soba em abundante água fervente, mexendo ocasionalmente. Escorra enquanto estiver ainda al dente e passe sob água fria. Tente tirar todo o excesso de água. Reserve.
  4. Numa tigela grande, misture o soba, o molho, a manga e a berinjela, mais metade das ervas e metade da cebola. Você pode deixar o prato assim, em temperatura ambiente, por 1 ou 2 horas, se quiser. Quando quiser servir, junte o resto das ervas e cebola e misture bem.

Obs1: Fritei as berinjelas em apenas um fio de óleo e ficou muito bom também. Não tinha coentro e usei bem menos manjericão, e ficou igualmente gostoso. Fica tudo bem bom mesmo depois de um dia de geladeira e a vantagem é que não precisa requentar. ;)

Obs2: Os picolés, fiz no olho, misturando mais ou menos 1 1/2 xic. de iogurte caseiro, 4 bananas, uma ou duas colheres de sopa de mel e uma pitada de canela. Bati tudo no liquidificador e coloquei em forminhas de picolé por uma noite toda antes de servir.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Geleia de casca de laranja

Foto horrível que parece tirada de um livro dos anos 70.
Seguindo os últimos posts, os queridos leitores hão de acreditar que estou encolhida num canto num cobertor puído fazendo sopa de pedra para meus filhos. Bom, não é isso. Quem está aqui desde o começo conhece minha crescente cisma com desperdício. Ao longo dos anos houve experiências bem sucedidas, outras mais ou menos e um punhado que foram por água abaixo, como minha tentativa de reduzir minhas embalagens a zero. Algumas coisas você só consegue quando vive em países com gente que se importa, ou quando todos na casa embarcam na mesma loucura. Mas se há um desperdício que consigo garantir que não exista aqui em casa é o de comida.

Quando me mudei, comprei várias mudinhas e sementes para plantar toda sorte de alimentos no meu quintal, dando prioridade para variedades que não encontro no mercado, como manjericão tailandês, tomates de cores e formatos diferentes e tomatillo (parente da physalis, usado em culinária mexicana). Fiz tudo bonitinho, plantei em sementeiras, cuidei, reguei, adubei, etc. Morreu tudo. Um vento forte, uma queda de temperatura, chuva inesperada por um mês inteiro, e lá se foi todo meu dinheiro e trabalho. E eram só alguns vasinhos. Como poderia ser tão difícil cuidar de só alguns vasinhos??

Acredito que se todo mundo tivesse que plantar uma batata na vida não haveria tanto desperdício de comida. A noção do trabalho que dá fazer aquela uma batata crescer e dar mais batatas faz com que você pense duas vezes antes de deixar aquele saco de batatas na cozinha ficar verde e apodrecer. Faz você usar o que sobrou das batatas assadas de ontem. Porque minha mãe bem dizia que é pecado jogar comida fora, e, a parte qualquer referência religiosa, eu concordo. É um desrespeito com o universo, falando de forma mais holística. Um desrespeito, senão com a natureza, com você mesmo, com o tempo que você demorou para ganhar aquele dinheiro, ir à feira e transformar seu trabalho em salada de batata para o almoço. Esses nossos tempos em que basta ir ao corredor da empresa, meter uma notinha amassada de real numa máquina e ela te devolver um barrinha de cereal cujo ingrediente foi colhido por uma máquina, processado por uma máquina, embalado por uma máquina e transportado por uma máquina até a máquina que está lhe oferecendo lanchinhos infinitos e sem sazonalidade por uma quantia módica de moedinhas, faz com que percamos completamente a noção do valor real daquele cerealzinho dentro da barrinha. E quando a gente percebe que não estava, assim, com fome, era mais gula mesmo, mas o que eu queria era um pão de queijo, a barrinha vai pro lixo, metade ainda na embalagem metálica, como se outra fosse ser simplesmente conjurada na sua mão quando você estiver com vontade outra vez. E é isso o que fazemos quando compramos comida pronta: a comida é conjurada, surge de combustão expontânea, trocada por um valor virtual que você não vê saindo do seu cartão de crédito, um dinheiro que nunca efetivamente pesou na palma da sua mão.

Desconexão.

Desperdício.

Isso está na minha mente o tempo todo.

E sempre me incomodou aquele monte de casca de fruta indo para o lixo. Casca de abacaxi vira chá, que Thomas adora. De maçã, vira geleia (aliás, tem um inverno inteiro de casca de maçãs no meu freezer esperando justamente isso). E de laranja? Thomas adora suco de laranja, e eu detesto aquele volume todo de cascas espremidas no lixo.

Comecei a guardar as cascas numa vasilha na geladeria. Quando enchi a tigela, com cerca de 8-10 laranjas, resolvi adaptar uma receita de marmalade com gengibre que eu fizera uma vez, para usar apenas as cascas. E não só deu super certo como ficou uma delícia.

É imperativo que se usem laranjas orgânicas. As comuns são enceradas, e por mais que você esfregue, não vai conseguir tirar toda a cera impregnada nas reentrâncias da casca. E você com certeza não quer comer geleia de cera industrial. :P

Sempre que usar as laranjas, guarde as cascas num pote aberto na geladeira (com as sementes, inclusive). Elas podem ressecar um pouco, mas vão se manter ok por umas duas semanas até que você junte o bastante. Quando tiver umas 8-10 laranjas ali, coloque numa panela não reativa, cubra com água, coloque um pedaço de gengibre descascado do tamanho de um dedo da mão e leve à fervura. Tampe, desligue o fogo e deixe esfriar.

Retire as cascas, que devem estar bem molinhas, e o gengibre, reservando o líquido. Com a ajuda de uma colher, raspe a parte interna das cascas, retirando a parte branca, sementes e qualquer parte fibrosa. Coloque toda essa polpa num pano tipo musselina e amarre bem. Corte as cascas em fatias finas (as minhas ficaram grossas, que eu estava meio sem tempo) e pique o gengibre. Meça o líquido da panela e complete com água até dar 5 xícaras. Junte 1kg de açúcar cristal orgânico, e mexa até dissolver o açúcar. Coloque de volta o gengibre, as cascas e o pano fechado com a polpa retirada e leve à fervura. Cozinhe por 10 minutos, retire o pano com a polpa, que pode agora ser descartada, e continue mexendo, em fogo médio-alto até que suba alguma espuma, que deve ser retirada com uma escumadeira. Cozinhe, mexendo de vez em quando, em fogo médio, por mais uns 40 minutos, ou até que o líquido esteja brilhante e dando o ponto. Para testar o ponto: coloque um pires no freezer. Quando achar que a geleia está boa, retire o pires e despeje uma colher da geleia nele, voltando ao freezer por uns dois minutos. Retire novamente: a geleia deve ter formado uma película por cima e não deve estar líquida. Não apure demais, ou a geleia virará um caramelo que vai endurecer quando esfriar. Caso, depois de fria, tenha ficado muito líquida, basta voltar para a panela e cozinhar mais um pouco.

Envase em vidros esterilizados. Na dúvida, mantenha na geladeira. Rende 3 vidros como o da foto. 

Outras coisas boas para se fazer com casca de cítricos:
  • raspar a casca antes de usar a laranja para suco e juntar num pote separado de açúcar, para quando uma receita doce pedir por raspas e você não tiver a fruta em casa (o açúcar absorve a umidade das raspas como faz com a baunilha, e fica aromático e preserva a casca);
  • casca cristalizada (o processo é parecido, há muitas receitas pela net, e poupa uma grana na época de fazer os doces de natal;
  • multiuso.
Mais sugestões? ACEITO. :D

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Bolo de pera. A vida é isso aí.

Porque a vida é um saco de velho... er... ops. Quer dizer. Esse texto é de outra pessoa. ;) Mas a vida não é moleza não. A vida é você passar o dia enrolando, escolhendo a dedo uma receita onde usar saborosíssimas peras orgânicas, encontrar uma que usa todos os ingredientes que você tem em casa (avelãs moídas, ameixas secas, açúcar mascavo, extrato natural de amêndoas), deixar a manteiga amolecer direitinho, seguir tudo a risca e obter uma massa linda numa forma cuidadosamente untada, cuidar do bolo no forno na temperatura exata... e ser apressadinha na hora de desenformar e f*der tudo. Aquele momento que te dá preguiça de dar dois passos para o lado e apanhar uma faquinha para cuidadosamente descolar o fundo do bolo, e você resolve que dar uma balangandinha na forma não vai fazer mal. E o bolo sai assim: rachado no meio e com o fundo colado na forma, de modo que uma única fatia não será tirada inteira. Um bolo perfumado, delicioso, completamente destruído por um gesto impensado.

Isso é a vida.

Não é aquele monte de blog que a gente lê que mostra crianças de dois anos de vestidinhos incólumes segurando nas mãozinhas em conchas um punhado de mirtilos frescos recém-colhidos do jardim. A vida é teu filho com o moletom sujo de terra e ranho, arrancando as flores do seu pé de mirtilo e decidindo que, melhor que comer o danado do mirtilo, é esmagá-lo na mão – BEM mais divertido.

A vida não é a casa de revista de decoração, é o rolo de pelo de cachorro passeando pela sala que você acabou de varrer, no melhor estilo bola de feno em filme de velho oeste – só que ao invés de uma cidade empoeirada, é sua sala empoeirada.

Mas a vida é também você dividir os problemas alimentares do seu filho com outras mães na porta da escola, e então o pimpolho chegar em casa e se servir sozinho de um pratão de quinua e salada de cenoura, deixando você com cara de tonta, pensando se havia de fato algum problema.

A vida é você dar morango com chantilly fresquinho para o seu filho mais velho e, ao sair e voltar da sala, dar de cara com a mais nova cheia de chantilly na cara, e o pimpolho feliz da vida por ter mostrado as alegrias do morango com chantilly para a irmã de 7 meses. ¬_¬

A vida é você catar os cacos de bolo do fundo da forma e tentar remontar a atrocidade no prato, e comê-lo assim mesmo, feio e destruído, porque comida está cara pra dedéu, e seu filho vai continuar achando o bolo gostoso mesmo assim.

A vida é seu marido que não gosta de bolos gostar justo desse.


BOLO DE AÇÚCAR MASCAVO, PERAS, AMEIXAS E AVELÃS
(do sempre ótimo Baking, From My Home do Yours, de Dorie Greenspan)

Ingredientes:

  • 2 1/4 xic. farinha de trigo
  • 1/2 xic. avelãs moídas ou nozes (ou 1/4 xic. farinha de trigo)
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 230g manteiga sem sal em temeperatura ambiente
  • 2 xic. açúcar mascavo claro, apertado na xícara
  • 3 ovos grandes, orgânicos, em temperatura ambiente
  • 1 1/2 colh. (chá) extrato natural da baunilha
  • 1/4 colh. (chá) extrato natural de amêndoas (apenas se estiver usando as avelãs ou nozes moídas)
  • 1 xic. buttermilk, em temperatura ambiente*
  • 2 peras médias, descascadas, sem os miolos e picadas em pedaços de 0,5cm
  • 1/2 xic. ameixas secas macias, sem caroço, picadas em pedaços de 0,5cm
* Buttermilk: junte 1 xic de leite a uma colherinha de vinagre, misture e deixe em temperatura ambiente enquanto a manteiga amolece. Nesse tempo, o leite vai talhar. Use a mistura no lugar do buttermilk. 

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma com furo no meio (Bundt ou comum) com capacidade de 12 xícaras. 
  2. Numa tigela, misture com o batedor de arame a farinha, avelãs, fermento, bicarbonato e sal.
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e o açúcar em velocidade média até que fique claro e fofo.
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem entre cada adição. 
  5. Junte a baunilha e o extrato de amêndoas, se estiver usando. Reduza a velocidade para baixa e adicione 1/3 da farinha, batendo apenas até que incorpore, então 1/2 do buttermilk, e prosseguindo até que tudo esteja incorporado, tomando cuidado para não bater demais.
  6. Com uma espátula, incorpore as peras e as ameixas e espalhe a massa na forma, alisando a superfície. 
  7. Asse por 60-65 minutos, ou até que esteja firme, dourado e um palito inserido nele saia seco. Transfira para uma grade e deixe que esfrie por 10 minutos antes de CUIDADOSAMENTE desenformar. ¬_¬ Se quiser, polvilhe com açúcar de confeiteiro. Bem coberto, o bolo se mantém fresquinho por uns 5 dias ou por 2 meses, se congelado.

(Ela sugere trocar as peras por maçãs e as ameixas por uvas passas, e já fiz isso, omitindo as nozes, mas essa combinação de avelãs, peras, ameixas e o extrato de amêndoas é muito mais saborosa.)

Cozinhe isso também!

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