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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Um post imenso para o mês de Setembro e reaprendendo a cozinhar e ser


Almoço solitário: Salada de abobrinha amarela, rabanetes, alface romana, ovo cozido e pão de centeio, com azeite, limão e cebolinha. Iogurte com mel e frutas de sobremesa.

Na segunda-feira após meu aniversário, acordei decidida a não me deixar mais abater pelas pequenas coisas. Talvez por ter conhecido outros imigrantes brasileiros passando por apuros bem mais significativos, o que sempre coloca seus problemas em perspectiva; ou talvez por efeito daquele ótimo artigo, "The subtle art of not giving a f*ck", de Mark Mason.  Finalmente me senti pronta para "stop distributing f*cks everywhere".

A manhã fora como todas as outras, mas diferente. Acordamos no mesmo horário, fizemos as mesmas coisas. Andei com as crianças até a escola como sempre. Esperei que entrassem e saí para dar conta dos afazeres e pepinos a resolver.

Andei vinte minutos para norte até o mercado orgânico, buscando bons tomates em lata, creme de leite de verdade, e grãos e castanhas a granel. Voltei com duas sacolas da Ikea cheias de boa comida, sentindo o peso delas machucar um pouco as dobras dos dedos. Parei por um instante naquela avenida residencial, endireitei os ombros, respirei fundo e olhei em volta. O céu estava de um azul de Maio, e pensar nisso foi imediatamente estranho. Esta referência perder-se-ia com o tempo, e meu céu de Maio estava fadado a se tornar um céu de Outubro. Os dezoito graus vinham mornos com o sol das onze e meia, e o vento agradável levava meus cabelos soltos e pilhas de folhas alaranjadas, avermelhadas, amareladas, em espirais pela rua a se chocarem contra os carros estacionados. Eu ouvia o som do trânsito na rua de trás quase abafado pelo cantar insistente de dois ou três pássaros. Nesses dois meses tive como meta tentar conhecer os passarinhos da cidade, com saudades do meu Bem-te-vi, e pesquisei cantos e cores e bicos e penas, até descobrir os nomes dos meus cantores cotidianos. Eu sabia que aqueles cantos breves e em coro caótico vinham do Finch, esse pardalzinho que aqui anda em enormes bandos, e não solitário como no Brasil. Aquele outro distante era de uma gaivota que pairava acima dos prédios no fim do quarteirão. E o último, meu favorito, era do Blue Jay, pássaro símbolo da província.

Fora no primeiro dia de escola das crianças, na mesma semana em que nos mudamos para este apartamento, que ouvi o Blue Jay pela primeira vez. Thomas achara que aquele canto muito alto e metálico fosse de um gavião. Laura, de uma gaivota. Eu olhava para cima, buscando nos galhos o emissor do canto, e me dando conta da impossibilidade de se encontrar algo cuja aparência você não conhece. Um passante se aproximou, percebendo nossa curiosidade, e explicou: esse canto é do Blue Jay.

Todas as manhãs, no caminhar para a escola e de volta, ouvíamos o Blue Jay cantar. As crianças gritavam seu nome para os galhos altos, na esperança de que ele respondesse ao chamado; mas ele, que é tido como um pássaro tão cara-de-pau, tinha decidido esconder-se de nós.

Um dos passarinhos que consegui avistar, o White-breasted Nuthatch
E foi assim durante todo o mês de Setembro. Eu me agarrava à possibilidade de enxergar o pássaro em meio à folhagem, como quem espera um sinal de bom agouro. Às vezes outros passarinhos surgiam para me animar, lindos, interessantes, de cantos bonitos. Mas o Blue Jay continuava a brincar com meus sentimentos.

E meus sentimentos não estavam para brincadeira.

O mês de Agosto se fora, aquele mês de aventura, de exploração, de férias de verão, de piqueniques e parquinhos, de brincar na água, de imaginar como seria quando tivéssemos nosso próprio lar. Depois de tanto tempo de incertezas, de malas pelo caminho, de nos sentirmos deslocados e desconfortáveis, parecia óbvio que depositássemos toda a nossa futura paz de espírito no novo apartamento. Em nossas mentes, ter um espaço nosso seria ter de volta nossa rotina, nossa vida, nosso conforto.

Contudo, não é isso o que acontece quando você muda permanentemente para um país novo com meia dúzia de malas e duas crianças. Com Allex trabalhando desde o primeiro dia em Toronto, a mudança do AirBnb para o apartamento novo foi no mínimo atabalhoada, com direito a sair da Ikea em horário de fechamento, com Allex levando no carro os três colchões e lençóis de que precisávamos para dormir àquela noite e eu voltando com as crianças de metrô às dez da noite, pois não cabíamos junto no carro e o Uber não nos aceitaria sem os booster-seats das crianças. Foi bom acordarmos em nosso próprio apartamento, mas logo percebemos que sem cabides ou uma mesa onde comer, continuávamos vivendo num eterno acampamento.

Tentamos manter tudo simples e comprar apenas conforme a necessidade fosse aparecendo, o que parecia e é de fato mais sensato se você não quer correr o risco de viver entulhado de tralhas outra vez. Acredite, o processo de expurgar tudo o que havia em nossa casa no Brasil foi traumático a ponto de eu proibir meu marido, que é doido por eletrônicos, de ter qualquer cabo em casa que não esteja conectado a alguma coisa. Desafiei-me a analisar as coisas com calma e não sair simplesmente comprando de novo tudo o que tinha no Brasil. Eram já dois meses sem batedeira, sem liquidificador, sem processador, sem computador, sem televisão. A casa tinha uma mesa com bancos e um sofá. Nossas coisas pequenas couberam todas nos armários embutidos, então a sensação era de muito espaço livre.

Uma amiga, vendo o tour pelo celular, comentou: "nossa! parece uma casa sueca! super minimalista!" Ao que eu suspirei e respondi com uma sinceridade acachapante: "Minimalismo é uma m*rda."

Ela riu, e eu expliquei: é lindo o espaço vazio, os tons neutros, e funciona super bem no Pinterest; mas sem as MINHAS coisas desordenando esse exceço de ordem, eu me sinto perpetuamente morando num quarto de hotel. Depois de um dia inteiro de perrengue, voltar para "casa" não trazia aquele conforto emocional que se esperava.

Além dessa dificuldade de reconhecer o espaço como lar, havia a ainda constante ausência da rotina invisível. Lembra dela? Pule uns três posts para trás e você vai entender do que estou falando. 

As coisas estavam todas em armários, mas ninguém sabia onde nada estava. Alguém ligava, e eu me dava conta de que eu não tinha uma Bic e um Post-it para anotar o recado. Todo dia faltava alguma coisa em casa que todo ser humano tem sempre em casa mas a gente não tinha.  Você passa o dia andando 9km indo a diversos lugares diferentes para tentar resolver o mesmo problema, e ao fechar a porta atrás de si, descobre que continua entrando na sala feito uma barata tonta, SEM TER ONDE APOIAR A BOLSA. E quando larga a bolsa no chão e apanha dentro dela o item que finalmente encontrou depois de toda aquela maratona, descobre que veio faltando uma peça e que você vai ter que ir lá onde Judas perdeu as botas no dia seguinte de novo para trocar o maldito. E isso se repete uma, duas, cinco, sete vezes.

Cometemos muitos erros. Os banais, os imbecis, aqueles por falta de atenção, por cansaço, por falta de conhecimento, e isso nos faz sentir incapazes boa parte do tempo.
Algumas coisas que vieram comigo e me trazem conforto: minha panela, o pano de pão, minhas facas, meu pilãozinho italiano.
E não é apenas a rotina invisível que se demora para entrar nos eixos: a própria rotina principal da casa, aquela que acreditávamos que teríamos de volta uma vez que nos mudássemos e todas as roupas estivessem nos cabides... essa foi a bolha ilusória mais difícil de romper. No Brasil, tínhamos uma rotina matinal muito gostosa. Pelo fato de Allex trabalhar perto de casa, ter horário flexível e a escola ser a cinco minutos de carro. Eu não sabia como estava confortável nos nossos hábitos e horários até vê-los modificados em sua integralidade. Agora Allex trabalha longe e entra mais cedo na empresa. As crianças entram mais tarde, em horários diferentes, e saem só bem depois do almoço, também em horários diferentes. Com tudo ainda meio atrapalhado de manhã, nunca consigo tirar as crianças de casa no mesmo horário. A escola fica a dez minutos a pé, mas cada dia as crianças vão numa velocidade, e às vezes me pego irritada porque estamos nos atrasando, e  quando deixo que eles venham em seu ritmo, enfrento toda uma birra porque o sinal tocou e eles não tiveram tempo de brincar no pátio antes de entrar na sala de aula. Quando vou buscá-los, eles nunca querem vir direto para casa. Brincam no parque até o fim da tarde, e eu vou ficando aflita, sabendo que ainda vai demorar uma hora para fazer o jantar, e eu não quero que eles durmam tarde porque acordamos às 5h30 na manhã seguinte, e quando voltamos para casa, é banho, jantar e cama, tudo na correria, e quase que não dá tempo de fazer a lição de casa do Thomas, que no primeiro ano, é simplesmente ler um livrinho de história escolhido pela professora.

O cachorro ainda não está aqui, então uma vez que todos foram para o trabalho e para a escola, eu fico completamente sozinha. Não desgosto disso, sou meio eremita mesmo, mas não ficava tanto tempo sozinha assim desde antes das crianças nascerem, desde antes de adotarmos o Gnocchi.

Quando parece que conseguiremos ter um dia de calma e começar a estabelecer uma rotina, calha que precisamos sair correndo de novo para ir a Ikea comprar o sofá e o beliche das crianças, procurar um aspirador de pó em promoção na Canadian Tire ou correr atrás de documentação. Foi um mês intenso em que, se não nos sentíamos em casa, era porque não conseguíamos parar tempo suficiente dentro dela para observar essa transformação do espaço.



Não me leve a mal. Quando de fato conseguimos parar tudo e passearmos, foi maravilhoso. Ir ao parque, à praia do lago, colher maçãs. Momentos tão bons que compensaram toda a ansiedade dos outros dias. Um suspiro relaxado, um oásis na ventania, nos dando a certeza de estarmos no lugar certo.



Com certeza foi uma vitória pessoal e fonte de alegria usar as maçãs colhidas para produzir essa torta, sem medidores, sem balança, sem receita, só sentindo a textura, tendo uma vaga ideia de quanta farinha eu havia posto na tigela ou quantas maçãs eu precisava para preencher a torta. O resultado me deu a sensação de poder conquistar o mundo, e fiquei com a sensação de que minhas avós teriam ficado orgulhosas. :)

Mas no fim do dia você volta à sua casa com cara de quarto de hotel vazio, e não reconhecer as coisas à sua volta, não entender os códigos sociais ou as coisas mais simples, como onde eu me registro para receber minha conta de luz, são o bastante para fazer você se sentir a deriva, tentando se manter de pé no convés de um barco em plena tempestade, sem ter onde se segurar. Sua mente e seu coração ficam frágeis, e você se pega de olhos marejados e coração apertado por coisas que em outras épocas teriam sido banais.

Mas além de se deixar perturbar pelas pequenas coisas, por todos os erros cometidos, todos os tropeços, todas as pequenas dificuldades, Setembro foi um mês de muita preocupação. Quero buscar meu cachorro. Minha passagem fora comprada com antecedência, pois você precisa reservar o espaço do cachorro no avião e marcar no Vigiagro a produção do documento de viagem. Tudo muito bem calculadinho e planejado. Chegando aqui, descobrimos que precisamos esperar o recebimento de nosso PR Card, o Green Card canadense, para poder sair do país. Sem esse documento, você não pode entrar de volta. E é claro, o prazo para receber o documento ultrapassa a data da viagem. Remarco tudo. Duas vezes. Um baita perrengue. A companhia aérea erra o dia do cachorro. Tenho que reorganizar tudo, e Allex, que vai perder dia de trabalho para ficar com as crianças, se lasca mais ainda. No meio do caminho, descobrimos que a imigração ainda tem o endereço do AirBnb, e o site do governo não reconhece nossa identificação para que consigamos atualizar o endereço. Esperas telefônicas de 45 minutos para falar com a imigração. Emails sem resposta. A data da viagem chegando de novo e eu sem saber se um turista qualquer vai receber na casa antiga os documentos mais importantes de nossas vidas. Tento falar com a hostess do AirBnb mas sou ignorada. Cogito a possibilidade de ir todos os dias à casa velha fuçar na correspondência, mas sei que isso é crime.

Eu quero meu cachorro.

No fim das contas, a tensão causada pelas semanas sem resolução do problema do PR Card e da viagem foram fazendo com que os pequenos perrengues normais da adaptação a um novo país mudassem de proporção. Tudo parecia infinitamente mais difícil. Eu me sentia o tempo todo burra, incompetente, perdida e, principalmente, sozinha. Cantou Fred Mercury: I´m naked and I´m far from home. Quando minha tia me disse que eu choraria muito na banheira depois de imigrar, achei que fosse exagero. Não era não. Aquela sena ridícula de chorar no metrô por trás dos óculos escuros, porque o consulado estava fechado no único dia em que você podia ir lá aquela semana, aconteceu. E a constatação triste de que eu não corria o risco de encontrar ninguém conhecido no caminho que me visse chorando pirou tudo.

Busquei refúgio na cozinha. Preparar minha comida parecia a receita ideal para voltar a estabelecer uma rotina e encontrar um porto seguro em meio à tempestade.

A primeira surpresa é, depois de quinze anos levando meus temperos de uma casa para a outra, é difícil improvisar naturalmente uma refeição quando você não têm seus molhos e especiarias favoritos à mão. Fiz um esforço para lembrar dos essenciais e novamente não cair na pegadinha de sair estocando coisas que eu não usaria com frequência.

A segunda surpresa é que eu de fato gostava dos meus eletrodomésticos: como é frustrante querer transformar a couve num pesto e não ter um processador, como é irritante querer fazer uma vitamina de manhã e não ter um liquidificador. Rapidamente as crianças começaram a perguntar quando eu faria waffles ou sorvete, e eu percebi que ter a batedeira realmente me ajudava a produzir tantos pães por semana lá no Brasil.

Mas eu não queria gastar dinheiro e queria provar para mim mesma que podia ter uma vida simples sem tralhas. Certo?

Hmmm....

Outra coisa que entrou no caminho da rotina na cozinha foi essa novidade de ter de preparar o almoço da escola e o do Allex. As crianças têm dois momentos de snack e o almoço. Mas elas não podem levar NADA com castanhas por questões de alergias. É lei. Parece estúpido, uma vez que as crianças também são proibidas de dividir o lanche com o colega. E isso logo me aborrece. Eu adoro castanhas. Thomas ama nozes e amêndoas, e frequentemente levava um punhado delas para lanche da escola. Dois terços das minhas receitas de biscoito levam alguma espécie de castanha. Acabo ficando mais irritada com isso do que deveria, e mais um pouco pelo fato de não conseguir me organizar o bastante para dar conta dos almoços. Allex tem microondas no escritório. As crianças não: se a refeição veio fria, ela é comida fria mesmo. As crianças comem pratos frios, como rice noodles, saladas e sanduíches frios no almoço sem o menor problema, foram acostumadas assim quando almoçavam comigo. Allex, por sua vez, detesta comer almoço frio. Então tenho de pensar em refeições sem castanhas, que possam ser comidas frias ou requentadas, que se mantenham bem na térmica ou requentem bem no microondas sem virar uma gosma, que não fermentem dentro da térmica, que não vaze, que seja apetitoso e que sustente todo mundo até o jantar. Mas que também seja natural. E tenho que montar tudo, com dois lanchinhos diferentes, nutritivos e fáceis de comer, às 6 da manhã todo dia, enquanto preparo também o café da manhã, mando criança escovar dente e botar a roupa.

O engraçado é que foi tanto tempo sem rotina de verdade, que minha sensação é der apagado completamente da memória o meu jeito de fazer as coisas, de cozinhar, de me organizar. Estou reaprendendo tudo de novo. E claro que, num momento em que você busca familiaridade e conforto, encarar mudanças e reaprendizagem termina de puxar seu tapete.

Sentia-me sem nenhum norte, sem saber onde me apoiar e sem saber para onde ir a partir de então. Setembro foi um mês difícil.

Num momento mais crítico, converso com duas grandes amigas, separadamente, e não consigo disfarçar a exaustão na voz. Divido com elas meus perrengues, minhas frustrações, minha ansiedade. Uma delas, muito sensata, tendo passado pela mesma experiência dois anos antes, diz, quando pergunto se ela já se sente em casa num país estrangeiro: "você precisa saber o que está buscando, para saber se as suas decisões estão aproximando você desse objetivo ou afastando; se você muda de país sem saber o que você quer disso, você só mudou o cenário."

Ficou dolorosamente claro que eu andava buscando nas árvores um pássaro cuja cor eu não sabia.

E então, esta outra amiga exasperou-se com um outro relato meu, dizendo que eu fora atrás de qualidade de vida, e que não fazia o menor sentido tomar decisões que tivessem o resultado oposto.Você está tornando tudo mais difícil para você, e não há nenhuma necessidade disso, ela disse. Tentando fazer mais do que se pode, tentando provar um ponto sabe-se lá para quem - se um processador vai facilitar sua vida e melhorar seu humor em casa, vai lá e compre o processador de uma vez, foi pra isso que você vendeu suas coisas, para poder recomprar o que fosse importante. 

Ter isso no freezer com certeza me remete ao lar.
E as duas, uma depois da outra, disseram que era preciso se perdoar por todas as burradas e pés metidos pelas mãos que havíamos cometido e ainda cometeríamos, e, sem dúvida, nessa situação em que quase todas as nossas referências são jogadas para o alto, buscar sim algum conforto que seja familiar. Admitir cansaço, e apenas descansar.

Aqueles conselhos ressoaram durante dias na minha mente, mas foi preciso todo um episódio específico de excesso de preocupação com coisas estúpidas, gasto desnecessário de tempo e energia, e obtenção de resultados medíocres, para que as palavras se arraigassem em meu cérebro e eu de fato entendesse que aquele recomeço não significava apenas uma mudança de endereço, mas a oportunidade de parar de cometer os mesmos erros de sempre.

Foi doloroso como um tijolo baiano no pé ler, àquela noite, o artigo de Mason, e encontrar uma frase mais ou menos como"se você se importa com muitas coisas pequenas, talvez você não tenha algo realmente significativo com o que se importar".

Com o que eu me importo, então?

O que eu quero?


EU QUERO UMA VIDA TRANQUILA. Repeti isso à exaustão nesse blog nos últimos anos, e sempre me surpreendo quando percebo que esqueci o que quero. Eu quero uma vida tranquila.

Começo a desenhar em linhas suaves na minha mente o que uma vida tranquila representa para mim. E me dou conta de que já tenho todo o desenho completo realizado. Só preciso respirar fundo e parar de puxar meu próprio tapete. Simplesmente aceitar as mudanças que vieram e tornar minha vida tranquila dentro dessa nova rotina contra a qual eu parecia estar lutando. Parar de dar importância ao que parece diferente e difícil, e simplesmente "don't give a f*ck anymore". Dar importância com mais parcimônia.

Respiro fundo, e naquela segunda-feira, decido que quero minha vida tranquila AGORA. Não só depois que tudo estiver resolvido. O PR Card não chegou a a viagem é em cinco dias? Fazer o quê? Eu tenho até 24 horas para alterar a data outra vez, e nada mais está nas minhas mãos. Logo, me preocupar com isso é inútil.

Acordo cedo sem pensar se estou cansada ou não, sem pensar se dormi mal ou não. Allex, que levanta cinco minutos antes, traz um cappuccino quentinho para mim. Dou-me conta de que ele tem feito isso todos os dias há já mais de uma semana, e ver o primeiro hábito instaurado na nossa nova rotina me faz sorrir. Acordo cedo pensando que terei muito tempo para fazer várias coisas até o horário de sair para a escola. Para garantir que não haverá mais correria atradasada no meio da rua, coloco um despertador no celular para a hora limite de nossa saída, ainda dando tempo de as crianças brincarem antes da aula.


 Deixo as crianças ajudarem como podem e como querem durante o café. Enquanto elas comem e fazem uma dose mínima de sujeira com a geleia sem que eu esteja olhando (e se eu não estiver olhando, eu não me irrito), preparo o almoço de todos, dando prioridade para o do Allex, que sai mais cedo. Minha linha de produção de marmitas vai funcionando bem, e Allex pega sua marmita pronta, dá-me um beijo e sai, e as crianças vêm ver o que há para comer e fecham as tampas e guardam tudo em suas respectivas lancheiras. Deixo que brinquem enquanto faço um pouco de exercício. Só um pouco. Não precisa ser um treino inteiro. Um exerciciozinho só para lembrar meu corpo de como ele funciona. Visto-me com calma, coloco maquiagem, e enquanto as crianças colocam a roupa que lhes dá na telha, sento-me para aí sim comer uma fatia de pão, pois nunca tenho fome às 5h30 da manhã. Quando saímos, saímos sem pressa. As crianças entenderam que chegando cedo, têm mais tempo de brincar antes da aula, e deixo que decidam por elas e arquem com as próprias consequências. Basta dizer que não terão tempo de brincar para que saiam correndo vinte metros à frente em direção à escola.

Eu fora então ao mercado de orgânicos decidida a comprar a MINHA comida, com todas as naturebices a que eu tinha direito. Passara dois meses de adaptações e frustrações, com a ideia fixa de que era prudente economizar em tudo, sem exceções. Mas o mercado barato tem um sortimento limitado, e muita coisa que vem dos Estados Unidos é mais lixo do aquilo que eu já considerava porcaria no Brasil. Não encontrar bom tomate em lata sem bizarrices dentro, por besta que soe, havia me deixado deprimida por dias. É um problema estúpido. Mas comida é uma parte muito importante da minha vida, e eu havia vindo para cá acreditando que encontraria variedade e produtos de qualidade. EU ME IMPORTO COM COMIDA. E só estou me importando com outras coisas idiotas, por não estar respeitando aquilo que é de fato importante para mim.

E no mercado de orgânicos encontrei meu tomate em lata. E meus legumes, e bacon de porco feliz, e as nozes e castanhas que, apesar de não poder botar no almoço das crianças, eu posso botar no meu. E comprei snacks, bolachas de arroz, chips de banana da terra, cenouras baby coloridas, para facilitar de manhã cedo o preparo dos almoços, e passei na Staples para comprar canetas e um bloco colorido de post-it, para voltar a criar a lista de ingredientes da despensa e a lista de refeições da semana, que sempre foi a melhor coisa do mundo para me organizar. E sim, até catei minha carteira e comprei meu processador, pois não poder fazer um pesto de brócolis ou transformar as sobras do arroz em bolinhos, ou transformar o pão amanhecido em farinha de rosca, andava quebrando minha cabeça e tornando minha rotina na cozinha consideravelmente mais difícil. Minha amiga tinha razão, e ela ficou felicíssima quando mandei a foto do processador desembalado.
Almoço solitário: pão sourdough torrado com uma colherada de tahini, cavolo nero refogado em alho, tomates e queijo feta esmigalhado.
É bom ter gente próxima que bota a gente nos eixos quando começamos a tropeçar por aí. Mesmo que esteja cada uma de um lado do mundo. Essas duas mulheres fortes que me fazem pensar mais devagar, olhar as coisas com outros olhos e simplesmente don´t give a f*ck. Relaxar. Tirar o peso dos ombros.

Almoço solitário: bolinhos de arroz e lentilha com tomates heirloom, pepinos, abacate, alface, cebola roxa e uma colher gorda de iogurte.
E naquele dia de Outubro, voltando do mercado, olhei em volta, para a luz do sol passando através das folhas das inúmeras árvores de Maple plantadas na cidade, e percebi que pela primeira vez desde que cheguei aqui, estava me sentindo em casa, que meu dia estava sendo tranquilo, e que eu estava feliz. Estava fazendo aquele caminho pela enésima vez sem pensar, reconhecendo as casas, o cheiro das plantas, até mesmo o Pepe, o esquilo preto com a ponta do rabo branca, que está sempre no meu quarteirão, e que me faz lembrar da gatinha do desenho do Pepe Le Pew.

A consciência daquela sensação encheu meu peito de uma alegria quente. E porque às vezes a vida é poética assim, quando ouvi o canto do Blue Jay e levantei os olhos para procurá-lo, avistei aquele pássaro grande como um Bem-te-vi, azul, azul como nunca imaginei, cantando empoleirado no galho acima de minha cabeça.

A partir daquele dia o aperto no coração e a ansiedade se foram. As coisas começaram a parecer mais naturais e os contratempos, menos ameaçadores. A casa começou a ficar com cara de casa, os dias começaram a ficar mais parecidos. Entro em casa, tiro os sapatos, penduro minha bolsa no armário. Tenho um lugar para jogar as chaves. Faço um chá, sento no sofá, abro um livro. I´m finally home. 

Depois daquele dia, tive a primeira noite bem dormida em terras canadenses. Dois bons dias depois, meu cartão de residente permanente chegou, me dando a certeza de que agora posso fazer a viagem para buscar o Gnocchi e tornar nossa mudança completa.

Setembro foi um mês difícil mas necessário.

                                                                                   ....... 



Outubro é o mês em que fiz 38 anos, em que meu marido cumpriu sua promessa, feita há dois anos, de comemorarmos esse aniversário comendo hambúrguer em Toronto, e foi a primeira vez em que meus filhos de fato se lembraram sozinhos de que eu fazia anos. O bolo foi o de sempre, de chocolate da Alice Medrich com a cobertura de sempre, uma camada só, simples, que eu deixei as crianças lambuzarem de cobertura e cobrirem de velinhas coloridas. Passei o dia ouvindo Thomas cantando Happy Birthday To You. 
 

Tivesse mantido tudo o tempo todo simples como aquele bolo e essas receitas, talvez não tivesse me estressado tanto. É claro que me encantei com a variedade de couves, de abobrinhas, a possibilidade de comprar porco orgânico e salmão selvagem. Mas no fim o melhor a se fazer é se manter naquilo que é familiar e confortável. Por isso, todas as sextas-feiras tenho feito A PIZZA RETANGULAR. Depois de três semanas, todos já chegam em casa sabendo que sexta tem pizza, e isso é muito bom. Rotina, sabe? ;) Primeiro apenas mozzarella, depois com gorgonzola, e então comecei a usar outros toppings, distribuídos junto com o queijo, como o que sobrou da linguiça de ontem, pimentões fatiados, brócolis cozidos, couve, o que houver. 


Não dá para esquecer nunca da torta de liquidificador da minha mãe, que eu faço numa tigela com um fouet: quase não sobrou para levar de almoço no dia seguinte, e já sei que vale a pena fazer uma simplesmente com esse fim. 

Esse era de framboesa e chocolate. :)
Engraçado que no Brasil as crianças não pareciam ligar muito para muffins, mas aqui eles andam absolutamente entusiasmados, e preparar muffins de qualquer coisa que seja é fácil e prático para o lanche das crianças. Busquei na internet uma receita básica que eu pudesse alterar como quisesse, pois tinha apenas duas tigelas, farinha, ovos, manteiga leite e açúcar, e encontrei ESTA AQUI da Martha Stewart que fica deliciosa. Buttermilk no lugar de leite e uma pitada extra de bicarbonato os deixaram ainda melhores, e eu tenho brincado loucamente com a receita, fazendo-os com framboesas e chocolate, trocando o açúcar por mascavo e carregando a mão nas especiarias, usando sementes e frutas diversas, sempre com sucesso. Depois de prontos e frios, coloco-os num saco no freezer e tiro só os necessários para o lanche do dia seguinte. Eles descongelam durante a noite e parecem fresquinhos na hora do lanche. 

Outra descoberta do reino da simplicidade foi ESSE BOLO DE BANANA do The Kitchn. Ao procurar banana bread no blog, fiquei besta ao descobrir que não tinha nenhuma receita simples como eu queria. E a da Tessa Kiros que eu tinha no livro eu trouxe, apesar de simples, usava a batedeira que eu não tinha. Esta receita foi uma deliciosa surpresa. É perfeita e as crianças fizeram sozinha. Fica úmido, macio, compacto, com aquela casquinha brilhante e resistente à mordida de bolos da infância. 

Kedgeree de cenoura e couve-flor da Bela Gil, com coentro e amêndoas por cima. Amêndoas só no meu, que as crianças não podem levar na escola.

Tenho usado muito como inspiração o site Green Kitchen Stories, e até voltando a algumas receitas da Bela Gil. (O kedgeree de cenoura e couve-flor, que eu fiz com arroz branco orgânico, ficou um desbunde, as crianças levaram de almoço e rasparam o pote.) A ideia de simplesmente ter vários grãos e leguminosas cozidos e prontos para usar e apenas combinar isso com um punhado de vegetais e folhas, uma colher de iogurte, um queijo ou um ovo, tem facilitado a montagem dos almoços.  Sem contar que tirar a carne da jogada facilita e barateia as compras. Nisso, lembrando da época sem filhos em que eu almoçava sozinha, tenho voltado aos meus almoços leves de saladas, bruschetta ou uma sopa simples. Isso aliado ao fato de andar TANTO por aí me fez perder TODO o peso extra adquirido nos meses anteriores à viagem. 
 
Batatas previamente cozidas, pimentões, tomates, cebolas, alho e alecrim assados em azeite até caramelizarem. Juntei ervilhas congeladas apenas para cozinharem no calor do forno, queijo feta que aqueceu deliciosamente, polvilhado de salsinha picada e acompanhado de fatias de pão desse lindo pão de centeio marmorizado da padaria.

Uma das saídas mais brilhantes que tenho usado do Green Kitchen é isso de simplesmente jogar a refeição toda numa assadeira. SE você não sabe o que fazer de jantar, jogue os legumes na assadeira com azeite e temperos básicos e asse até dourarem. Jogue folhas por cima, e frutas, e queijos e o que houver, e você tem uma refeição. Achou que é pouco? Uma fatia de pão completa. Ou uma fruta de sobremesa. Ou uma salada. Enfim. No-brainer.

Uma adaptação da sopa de grão de bico e repolho da Marcella Hazan.
Voltar a fazer minhas listas nos post-its na geladeira foi maravilhoso. Uso tudo o que tenho em casa, preparo tudo o que posso com antecedência no fim de semana ou na segunda, e vou apenas finalizando ou montando durante a semana. Tenho feito cada receita em porções gigantes, para sobrar para o dia seguinte ou poder congelar. Sempre que preparo um molho de tomates, preparo o dobro. Sempre que cozinho feijões, cozinho tudo. Vai tudo congelado e eu tenho refeições emergenciais para as semanas subsequentes. Tenho no meu freezer no momento:
  • cenouras picadas
  • salsão picado
  • ervilhas congeladas
  • massa folhada
  • sopa de grão de bico e repolho
  • grão de bico cozido
  • feijão preto cozido
  • arroz branco cozido
  • molho de tomate
  • guanciale
  • miolos de maçã para fazer geleia
  • aparas de legumes para fazer caldo
  • bolinhos de arroz e lentilha para irem direto para o forno
  • cozido marroquino de berinjela

 Estou mantendo sempre um estoque mínimo de opções de snack que não precisem de preparo:
  • chips de mandioca ou de banana da terra (que no momento estou comprando mas depois vou começar a fazer)
  • diferentes tipos de bolhacha de arroz (aqui você encontra uns que vem com trigo sarraceno, com quinoa, com cevada...)
  • cenouras baby orgânicas (eles adoram as coloridas)
  • tomates cereja
  • frutas para serem levadas inteiras (as crianças estão pirando na variedade enorme de maçãs que há aqui)
  • pepinos
  • pimentões
  • queijos


Vida tranquila também quer dizer acordar tarde de sábado e comer panquecas com maple de almoço. Também quer dizer jantar pipoca na terça-feira. Também quer dizer muito spaghetti caccio e peppe e fusilli com molho de tomate. Também quer dizer não fazer pão e ir até a padaria do bairro, onde você compra pão do dia anterior pela metade do preço.

Agora só falta o Gnocchi aqui para me acompanhar nas idas ao mercado e nos passeios de metrô. 

Não vejo a hora de por minhas mãos naquele cãozinho peludo delícia que me espera. ^_^




 



quinta-feira, 2 de março de 2017

Um mês de Dorie Greenspan, a bizarrice do Hygge, livros e coisas que se vão

 

Daí que num dia desses caí num artigo bizarro sobre um livro dinamarquês sobre HYGGE. O artigo dizia que o tal livro seria tão influenciador de comportamento quanto o livro da japonesa que ensina a dobrar roupa havia sido no ano passado. Curiosa que sou com relação a comportamento de massa e estilo de vida de outros povos, fui atrás para saber do que se tratava, e... fiquei preocupada com a humanidade.

O livro fala sobre o estilo de vida dinamarquês, e como esse povo cercado de inverno por todos os lados faz para ser (segundo aqueles pseudo-estudos que surgem do nada), o povo mais feliz do mundo. O livro vende que o segredo para a felicidade eterna é uma vida caseira, cercada de gente da qual você gosta, em momentos gostosos em que você de fato está com essas pessoas e não com seus celulares, e, principalmente, o habito de chegar em casa, colocar uma roupa confortável, fazer um chá, acender umas velas e ficar aconchegadinho num canto gostoso do sofá, à meia luz, lendo um bom livro.

Oi.

Prazer.

Meu nome é Obviedade.

Fiquei em choque ao ver quanta gente está escrevendo a respeito, fazendo videos a respeito, como se o ato de ficar gostoso no sofá, com uma calça de moletom, um chá, um livro e uma luz aconchegante fosse uma grande novidade no reino do bem-estar.

Brinquei com o marido que eu sou a pessoa mais Hygge do mundo. Porque eu faço isso toda santa noite desde que me conheço por gente. Que mundo bizarro é esse, em que você precisa de um livro pra ensiná-lo a simplesmente relaxar a bisteca e curtir um momento em paz num cantinho aconchegante? O povo está assim TÃO alucinado que não sabe mais relaxar?  o_O

Bom.

Ainda bem, eu ainda sei relaxar, então não devo estar tão louca assim. Naquela foto ali em cima, eu tinha acendido uma velinha perfumada que minha mãe me deu de Natal, e estava aconchegadinha em uma de suas mantas. Acho que aprendi a arte do aconchego com ela. Ela que continua produzindo mantas de sofá e xales de bebê, feitos à mão, cheias de amor, de uma tal forma que eu não conheço uma pessoa que, tendo uma de suas mantas, não sinta ciúmes da mesma quando outra pessoa resolve usá-la. O exemplo mais próximo que tenho é meu marido: morre de ciúmes da manta verde que ganhou da sogra há quinze anos, quando ela a tricoutou para que ele se enrolasse para jogar video-game no inverno. Tá vendo? Hygge. Minha mãe é dinamarquesa e nem sabe. ;)

Quem tiver curiosidade, pode fuçar no Instagram da mamãe, cheia de mantas uma mais linda que a outra, todas à venda (ela envia pelo correio!): @ceciliagaiarsa

E foi num dia destes, aconchegadinha no sofá, que resolvi fuçar nos livros parados na estante. 

Depois das semanas de janeiro em que consegui alimentar a família (muito bem) por quase meio mês usando só o freezer e a despensa, sem ter que ir à feira ou ao mercado, resolvi unir o útil ao agradável e testar um livro do qual cozinhara pouco, E AO MESMO TEMPO, testar um outro jeito de planejar as refeições. Eu sempre fui de fuçar nos livros, escolher algumas receitas para fazer e meio que girar em torno delas durante a semana, mas sempre depois de ir à feira e comprar o que eu bem quisesse. Daí que sempre apareciam receitas interessantes às quais faltavam dois ou três ingredientes, e eu saía para comprar os tais itens, o que acabava estourando meu orçamento no fim do mês.

E manter-se no orçamento tem sido uma coisa muito importante aqui em casa.

Eu já tinha decidido vender os livros da Dorie Greenspan sobre comida francesa e mais outros aqui de casa, mas resolvi que antes eu queria cozinhar deles algumas coisas que nunca tinha preparado, para desencargo de consciência. Abri o danado e selecionei umas doze receitas com ingredientes mais ou menos em comum e que não envolvessem nada exorbitantemente caro, fiz a lista de compras, e prometi a mim mesma tentar não fugir daquilo até o fim do mês, e ver o que eu conseguiria produzir na cozinha com as sobras daquelas receitas feitas inteiras e se isso me faria economizar algumas patacas.

A lista das receitas selecionadas do livro, em princípio, foi essa:
- Tourteau de Chèvre (que eu não fiz)
- Gougères (que eu não fiz ainda)
- Pissaladière
- Corn soup
- Côte d´Azur Cure All Soup (que não fiz)
- Orange Scented Lentil Soup
- Chuncky Beats and Icy Red Onions
- Couscous Salad
- Eggplant "Tartine"
- Roast Chicken for the Paresseux (que eu não fiz)
- Fresh Orange Pork Tenderloin
- Boeuf à la Mode
- Roasted Salmon and Lentils
- Swiss Chard Pancakes (Farçous)
- Salted Butter Breakups
- Honey Spiced Madeleines

E a lista de compras de ingredientes, esta aqui, considerando alguns poucos itens que eu já tinha em casa, como grão de bico no freezer, por exemplo:
- Queijo Gruyère (um nacional qualquer)
- Cebolas (um monte, por causa da Pissaladière)
- Cenouras
- Salsão
- Batatas
- Pepinos
- Berinjelas
- Beterrabas
- Tomates Cereja
- Pimentões coloridos
- Azeitonas Pretas
- Azeitonas Verdes
- Anchovas
- Laranjas
- Extrato de tomate (que eu fiz ao invés de comprar)
- Lentilhas
- Couscous marroquino
- Farinha de trigo
- Tomilho (o meu morreu)
- Milho verde
- Coentro
- Lombo de porco
- Frango (acabei não comprando)
- Salmão
- Acém (acabei comprando músculo de novilho orgânico)
- Folhas de salada

Fui às compras, então, e resisti bravamente à tentação de comprar qualquer item fora da lista que não fossem os básicos leite, manteiga, ovos e farinha. Confesso que senti dificuldade na banca de orgânicos da feira. Como resistir a lindos chuchus e abobrinhas? Só que não estavam na lista e eu não escolhera fazer nada do livro que levasse chuchu ou abobrinha. Mordi o dedo, contive a tremedeira e consegui me ater à lista. Ufa.

Ter a lista das receitas colada ali na geladeira e todos os itens necessários já comprados tornou minha rotina de cozinha muito mais fácil. Escolhia já no dia anterior o que fazer de almoço e jantar de acordo com o tempo que eu teria para cozinhar, e já pensava se as sobras poderiam ser congeladas ou reaproveitadas de outra forma já no dia seguinte. Nisso, o livro ajudou bastante, tendo pequenas notas sobre a conservação do prato ou quais partes poderiam ser feitas com antecedência. Todos os ingredientes estavam ali, dos principais aos temperinhos, e não ter de ir outra vez ao supermercado já foi grande fator de economia.

No dia das compras me planejei para "processar" tudo o que podia e que sabia que estragaria mais rápido, ou mesmo preparar pratos inteiros para ir direto ao freezer, como foi o caso da sopa de milho. Fiz a sopa no momento que as espigas estavam mais frescas e ela foi inteira direto para o freezer, em porções suficientes para dois diferentes jantares para dois adultos e duas crianças. A sopa só foi consumida no meio e no fim do mês, e foi muito prático ter aquilo ali já pronto. Ela era deliciosa, cremosa, adocicada, e a farofinha de bacon por cima ficou muito boa. Super diferente de outras sopas de milho? De fato não, mas muito boa.

CORN SOUP
Rendimento: diz 4 porções, mas somos em 4 e comemos duas vezes. Nossas porções de sopa são pequenas, no entanto, nunca comemos mais que 2 conchas cada um.

Ingredientes: 
  • 3 espigas de milho, debulhadas (reserve a espiga)
  • 3 xic. leite
  • 2 colh (sopa) manteiga
  • 1 cebola grande, picada
  • 1 talo médio de salsão, fatiado fino
  • 1 cenoura média, descascada e fatiada fino
  • 1 dente de alho, picado
  • 2 xic. água
  • 2 ramos de tomilho
  • 2 ramos de alecrim
  • 1 folha de louro
  • Pimenta-do-reino branca moída na hora
(guarnição)
  • cebolinha picada
  • 1 pitada de pimenta caiena 
  • 2 tiras de bacon cozido até ficar crocante e picadinho

Preparo:
  1. Coloque as espigas reservadas no leite e leve à fervura. Desligue, cubra a panela e deixe em infusão enquanto prepara o resto da sopa. 
  2. Em outra panela grande, derreta a manteiga. Junte a cebola, uma pitada de sal e cozinhe em fogo baixo, por 5 minutos, até que a cebola amacie bem mas não doure. Junte o salsão, a cenouta, grãos de milho, alho e sal e cozinhe até que os legumes estejam macios. 
  3. Junte a água, o leite com as espigas, as ervas, e 1 colh (chá) de sal. Leve à fervura, abaixe o fogo e e cozinhe por 20 minutos. 
  4. Retire as espigas, o louro e quaisquer ervas que você consiga pescar fora e descarte. Bata a sopa no liquidificador com cuidado. Acerte o tempero e sirva com a guarnição. Sem a guarnição, a sopa congela maravilhosamente.

Em seguida, apanhei os tomates ultra-maduros que eu comprara mais baratos na banquinha de orgânicos e pelei, tirei as sementes, cortei e joguei na panela com sal na proporção de 1 colh.(sopa) de sal para cada 1kg de tomate. É muito? Claro que é. Mas o objetivo é conservar meu extrato de tomate por 1 ano. Cozinhei até os tomates desmancharem, até o molho reduzir a um terço de seu volume, e então bati no liquidificador para ficar bem liso. Espalhei numa assadeira o mais uniformemente possível e levei ao forno bem baixo por meia hora. Nesse tempo, espalhei novamente, juntando o molho reduzido un pouco mais pro canto, limpando a parte exposta da assadeira com um papel-toalha, e voltando ao forno. E assim, de meia em meia hora, juntando, limpando, juntando limpando, até aqueles 4kg de tomates iniciais virarem um potinho de 3/4xic. Espesso, brilhante, de um impressionante vermelho escuro. Coloquei num pote esterilizado, cobri de azeite e levei à geladeira, onde meu extratinho vai durar um ano, desde que eu cubra de azeite sempre que pegar umas colheres.

Essa receita não era da Dorie, mas de um livro de cozinha calabresa que eu já vendi. Mas como a carne assada dela pedia extrato de tomate, achei que valia a pena fazer o meu, delicioso, orgânico, sem porcarias, antes da carne.

E a carne ficou muito boa. Usei músculo de novilho, orgânico, que estava num preço muito bom, e essa foi a carne braseada que fiz que ficou mais saborosa e macia. Não era quase em nada diferente das outras receitas básicas de carne braseada no vinho, a não ser pelo fato de ela marinar no vinho e com todos os legumes durante a noite e depois ser cozida por umas 2-3 horas no forno nesse caldo. Também as anchovas e o extrato de tomate contribuem bem para o umami do prato. Muito bom. Muito mesmo. Mas dado que o resto do processo é o mesmo das receitas mais clássicas francesas e italianas, apenas pensei que da próxima vez que fizer qualquer uma delas, vou mariná-la no vinho antes de cortá-la em pedaços e incluir na refoga dos legumes as tais anchovinhas. As fotos que achei internet afora, procurando um link para a receita, mostram uma linda carne fatiada. A minha se desmanchou inteira ao tentar cortá-la, o que eu não considero de modo algum um defeito. :)

Achei besta ficar usando uma frigideira para fazer tudo e transferir para o panelão, coisa que eu só faria se minha caçarola não pudesse ir direto no fogo. Como podia, selei tudo na caçarola mesmo. Não usei conhaque, pois n~~ao tinha (deglacei com água mesmo) e não usei caldo de carne, pois acho um pleonasmo usar caldo de carne numa carne que já vai cozinhar com os legumes e ervas que dariam sabor ao caldo. 

BOEUF À LA MODE
Rendimento: de novo, diz que serve 6 pessoas, mas aqui em casa deu 1 refeição para os 4 e mais dois almoços só eu e as crianças. Pratos pequenos. Segredo da vida longa e da cintura estreita. ;)

Ingredientes:
  • 1 pedaço inteiro de acém com 1,7-2kg, limpo mas não totalmente sem gordura
  • sal e pimenta-do-reino
  • 1 cebola, em meias-luas finas
  • 1 cenoura. descascada e em pedaços
  • 1 talo de salsão, em pedaços
  • um bouquet garni com 1 folha de louro, as folhas do salsão, 2 ramos de salsinha, 1 ramo de alecrim, 2 ramos de tomilho, amarrados
  • 1 garrafa de vinho tinto (750ml)
  • 1 colh (sopa) azeite
  • 4 xic de caldo de carne (usei água e o caldo ficou muito saboroso assim)
  • 3 colh (sopa) óleo (usei azeite de novo)
  • 3 colh (sopa) conhaque (omiti)
  • 4 anchovas
  • 2 colh (sopa) extrato de tomate

Preparo: 


  1. Massageie a carne com sal e pimenta e coloque numa tigela bem grande ou ziploc bem grande. Junte os legumes, as ervas e o vinho, o azeite, misture e feche bem o ziploc ou cubra a tigela com filme. Leve à geladeira por toda a noite. 
  2. No dia seguinte, remova a carne da marinada e seque com papel-toalha. Deixe voltar à temperatura ambiente.
  3. Coe a marinada, reservando os legumes e ervas e colocando o líquido numa panela. Leve essa panela ao fogo alto e reduza pela metade, cerca de 10 minutos. Junte o caldo (ou água), leve à fervura novamente, desligue e reserve.
  4. Aqueça o forno a 180oC. Coloque a caçarola de ferro em fogo alto com 2 colh (sopa) de óleo. Sele bem a carne, dourando de todos os lados. Retire para um prato grande e tempere com sal e pimenta. 
  5. Coloque mais uma colher de óleo na e junte os legumes coados. Cozinhe por uns 10 minutos. Como eles estão úmidos, não vão pegar muita cor, mas vão pegar gosto. Tempere com sal e pimenta, junte o conhaque se estiver usando, raspando o fundo com uma colher de pau, e junte o conteúdo da panela à carne. 
  6. Volte o panelão para o fogo e misture 1/2 xic. do caldo reservado ao extrato de tomate e anchovas, amassando para dissolver tudo muito bem. Junte o restante do caldo, as ervas, sal e pimenta, coloque de volta a carne e os legumes e leve à fervura. 
  7. Desligue, cubra com papel alumínio, coloque a tampa por cima e leve ao forno por 1 hora. Você pode ou não abrir tudo pra ver como estão as coisas e virar a carne de quiser. Mas não precisa. Cozinhe por mais 1h30 ou 2h, (tempo total 2h30-3h) ou até que a carne esteja macia. 
  8. Experimente o molho. Retire a carne e reduza mais, se preferir. Descarte o bouquet-garni. Sirva a carne fatiada com purê de batatas.



A salada de beterrabas com cebolas era simples e não tinha nada de muito diferente a não ser o mel no vinaigrette de mostarda. Confesso que o mel de fato arredondou os sabores, trazendo a mostarda e a cebola mais para o universo adocicado da beterraba assada. Fez muito sucesso com as crianças, e prometi a mim mesma lembrar sempre do mel nas próximas vezes. Mas é só isso. Um vinaigrete de mostarda que leva uma colherinha de mel, em cima de beterrabas assadas e cebolas fatiadas e geladas. Outra que fez sucesso foram essas panquecas de espinafre, Farçous. Meramente uma panqueca de espinafre, feita nas mesmas proporções de uma panqueca americana, mas batida com algumas ervas, cebola e alho, e um pouco de espinafre (já que não havia swiss chard), que você meio que frita ao invés de fazer de só dourar. Apesar de não ter ficado convencida pela fritura, as panquecas ficam saborosas e de fato congelam fantasicamente bem. A receita inteira faz umas 40 unidades, e vão do freezer para uma assadeira e em menos de 5 minutos estão quentinhas para o almoço. MUITO práticas e renderam 3 refeições diferentes, com salada verde, com a tal salada de beterraba e com salada de tomates. Mas não acredito que vá usar de novo a receita do livro (porque faço panquecas assim sem receita) ou mesmo fritá-las, que achei que deu mais trabalho que o necessário.


A pissaladière foi uma receita que escolhi para criar base de comparação com outras que já fiz. E essa, acredito, foi a melhor de todas. Pequena, alimentou bem acompanhada de salada verde dois adultos e duas crianças numa única refeição. A massa é crocante e delicada, bem fina, e a cobertura de cebolas, ainda que clássica, estava bem temperada e numa boa proporção. Pode ser também que eu finalmente tenha aprendido a caramelizar cebolas, coisa que eu não tinha coragem de levar a cabo há dez anos atrás, quando morria de medo de queimá-las. ;) Fico sem saber, então. Thomas, que não é muito fã de cebolas, adorou e repetiu a pissaladière e decidiu que agora  não tem mais cisma com elas.

O lombo com laranja ficou delicioso, apesar de um prato feio, daí a não ter fotografia. Não sei se me convenceu aquele monte de casca e polpa de laranja no molho, mas o sabor estava muito bom e todos rasparam o prato. Talvez não Thomas, que achou a coisa toda meio esquisita. "Garçom, derrubaram suco no meu prato!", disse Allex, engraçadinho. Mas a verdade é o que sabor era muito bom e o prato é muito fácil e razoavelmente rápido. Ficou ótimo com arroz. Faria de novo? Acho que sim, mas talvez adaptando para aquele jeito que a Rita Lobo fez, na TV, só com o suco. A receita é bem parecida, a não ser pelas cascas e gomos que a Dorie usa e pelo fato de a Rita usar bacon e legumes.

Mas o que faria de novo mesmo é o curry basicão da página seguinte do livro, no qual usei a outra metade do lombo que sobrara. Esse sim ninguém estranhou e todo mundo lambeu a tigela. Mas curry é curry. É sempre bom e é sempre igual. O tipo de curry que faço a olho e com os pés nas costas, uma mão segurando a Laura e um olho no Thomas embaixo da mesa. O porco ficou muito bom mas confesso que sumiu um pouco ali: podia ser carne, podia ser frango, podia ser peixe, podia ser tofu, meio que o sabor continuaria o mesmo. Mas seria sempre delicioso. É curry, afinal. Acho que uma excelente receita-base para quem nunca faz curry.


E com o que sobrou de laranjas veio essa sopa de lentilhas, maravilhosa, diferente. Pimpolhada adorou o iogurte na sopa, e o desenho bonito do branco sobre o marrom austero dela. De novo, pense numa sopa de lentilhas com azeite, cebola, salsão, cenoura, caldo de legumes e lentilhas. Basicona. A única diferença foi colocar um pedaço de casca de laranja de 3x6cm, sem a parte branca, 6 grãos de pimenta-do-reino, 1 cravo e um pedaço de gengibre de uns 3cm, picado. (Isso para uma sopa usando 1 xic de lentilha). O pulo do gato é bater tudo no liquidificador junto, especiarias, casca e tudo. Ficou muito bom. O coentro para finalizar foi adição minha.



Para dar um tempo nas carnes, fiz a salada de couscous com pimentão, grão de bico e frutas secas, que ficou muito saborosa. Mas, novamente, tive a sensação de que não precisava de fato de uma receita de livro para executar aquele prato. Depois de tanto tempo cozinhando, aquela mistura de sabores era meio intuitiva. Ao menos Dorie não esconde isso e ela mesma menciona na nota o fato de a receita nunca ser feita da mesma forma, sendo constantemente improvisada. Ainda assim, um bom almoço, com direito a repeteco, pois faz muitas sobras.

Agora essa berinjela assada coberta de uma salada/vinaigrette de tomate, pepino, azeitonas e alcaparras me surpreendeu um bocado. Todos adoraram e o que eu acreditei que renderia sobras para o jantar, foi devorado imediatamente numa só refeição. Merece infinitos repetecos com infinitas variações. Só pincelar com azeite fatias grossas de berinjela e levar ao forno até dourar e ficar macia. E cobrir com essa saladinha de tudo isso aí picado: pepino, tomate-cereja, salsão, cebola, alho, azeitona verde, alcaparra, orégano, sal pimenta e vinagre. Fácil.

E outra que será repetida à exaustão foi essa misturebinha de fígado de frango. Não é patê, não é terrine, é só uma coisinha rápida para comer com o pão. Servi no almoço com uma salada de tomates mas depois me vi assaltando a geladeira tarde da noite para acabar com o que estava no potinho, tão, tão, tão bom. Não sei se foram as cebolas caramelizadas, se a pimenta-da-jamaica ou a mera sugestão de servir com maionese. Mas eu amei esse negócio e vou fazer pelo resto da vida. É só esquentar numa frigideira 1/2 xic. de azeite e fritar 2 cebolas picadas. Drene as cebolas e então doure 450g de fígados de frango limpos e cortados ao meio no óleo restante na frigideira, por uns 2 minutos cada lado, para que cozinhem mas ainda fiquem rosinha por dentro. Seque em papel toalha, deixe descansar um minutinho, pique grosseiramente e junte à cebola. Reserve o óleo da frigideira. Tempere o fígado e a cebola com sal e pimenta, 1/4 colh (chá) de pimenta-da-jamaica e 1-2 ovos cozidos picados. Se parecer muito seco, junte o óleo da frigideira. Aperte bem numa terrine ou potinho, cubra bem e gele por algumas horas. Sirva no pão com maionese caseira. Nham!

Aliás, essa receita não estava na minha lista. Mas quando fui visitar minha mãe, ela me deu uma bandejinha fígado congelado, e resolvi que aproveitaria para testá-la, ao invés de fazer o clássico patê de sempre ou o crostini de fígado à toscana de sempre. Esse aliás, foi um ponto incrivelmente positivo do livro: ele é muito coerente, e me vi cozinhando cem por cento do tempo dele, mesmo na hora de improvisar com as sobras.

E assim de improviso saiu esse "cake" salgado de bacon, gruyére e figo seco, acompanhado de uma salada de tomate com molhinho de mostarda e iogurte. Um Cake Salé comum no preparo. O que sobrou virou piquenique na piscina do clube, cortado em cubinhos e acompanhado com tomatinhos cerejas e pepinos, e fatias grossas foram levadas de lanche da escola. As crianças adoraram e Laura AMOU comer "bolo" no almoço, sem ser de sobremesa. :)

Também rolou Spaetzle com ervas num domingo em que as crianças pediram linguiças na churrasqueira. E na lista de pratos para fazer no fim do mês, quando tudo o que é fresco já acabou na gaveta de legumes, sobrou ainda Gnocchi à la parisienne e gougère para acompanhar uma sopinha simples. Ainda não fiz nenhum dos dois, mas pretendo.

Até nos doces acabei me enveredando. O quatre-quarts, aquele bolo clássico francês, em que todos os ingredientes têm o mesmo peso, é muito fácil e foi devorado em duas sentadas. Achei confuso apenas Dorie mencionar que o topo fica bem dourado, quando o meu dourou apenas nas laterais, e todas as fotos que encontrei internet afora mostravam o mesmo domo pálido. Depois do quatre-quarts, fiz também sablés de chocolate e croquants, biscoitos que Thomas e Allex adoraram.  Menciono isso porque Laura, como sempre, preferiu comer bananas a biscoitos. Não há um único biscoito que eu tenha feito até hoje que ela de fato goste. Ela morde uma vez ou outra, diz que está satisfeita, que não gostou muito e vai pegar uma fruta. Essa é a única frescura alimentar dos meus filhos da qual eu não reclamo. ;)

Os sablés são os mesmos de sempre, ficaram bons mas iguais a quaisquer outros sablés de chocolate. Os croquants são bons para quando se quer usar claras congeladas: Basta misturar 2 claras a 1 1/4xic de açúcar, 1 xic. de castanhas picadas grosseiramente (usei avelãs e amêndoas) e 1/2 xic. + 1 colh(sopa) de farinha. Vai ficar uma massaroca nada ver com massa de biscoito. Coloque numa assadeira com silpat em porções de 1 colh (chá ) com espaço de 5cm entre elas. Tente deixar montinhos com forma de bolinhas. Leve ao forno a 205oC por 8 minutos ou até dourarem.

Foi um mês que correu muito fácil em matéria de culinária. O salmão feito num pedaço inteiro por 12 minutos no forno ficou no ponto perfeito, e as lentilhas que acompanhavam... bom, ficaram lentilhas. Os butter breakups ficaram maravilhosos, e depois vou fazê-los de novo para poder fotografar e colocá-los aqui no blog direitinho. As madeleines são madeleines comuns, mas com deliciosas especiarias e um gostinho de mel. Mas decidi que não faço madeleines com tanta frequência a ponto de querer manter aquela imensa forma de 36 madeleines. Então quem quiser comprá-la, está à venda.

O mês terminou e o resultado foi uma economia gigantesca no mercado, onde comprei apenas os itens da lista acima e mais leite, ovos, farinha e manteiga. Comemos muito bem, não gastamos muito, e agora posso mandar o livro de consciência limpa.

Mas Ana, por que diabos você vai vender o livro se você gostou dele?????

Porque apesar de tudo ter ficado muito bom, o livro é bem grande para o espaço que tenho para ele no momento, e ocorre que fora algumas ideias de sabores diferentes, a base das receitas é clássica e, de novo, já tenho meus livros clássicos de coração. Anoto as receitas que quero fazer de novo e desapego. Quando fizer uma carne braseada da Marcella Hazan, vou marinar a carne e juntar anchovas. O chopped liver eu já decorei na minha cabeça. Há ainda muitas outras receitas no livro que me interessaram, mas também há nos livros que escolhi manter, e agora estou numa fase em que realmente, de verdade, quero zerar, gabaritar, arrasar com os poucos livros que escolhi para serem meus livros clássicos da vida toda. O que não quer dizer que não pretenda continuar cozinhando de outras fontes e passando essas dicas a vocês também. Vocês, essas três pessoas queridas que ainda lêem o blog, depois que o youtube bombou e todo mundo parou de ler. ;) hahah

Se ainda resta alguém querendo pegar um livro usado mas muito bom, fica aqui a lista dos livros e tranqueiras que não tenho usado mesmo. Desapego monstro. Rumo à etapa final. ;)
As tranqueiras de cozinha Le Creuset estão todas fantasticamente excelentes, nem parece que usei tanto. Embalo tudo maravilhosamente bem para que nada quebre e faço reza brava. Hahaha.
Se alguém se interessar por alguma coisa, mande-me um email para lacucinetta@gmail.com com seu endereço completo para cálculo de frete, ok?

Como sempre, agradeço imensamente a todos que por todos esses anos acompanharam o meu acúmulo de livros e utensílios, e que agora estão ajudando na libertação dos mesmos. :D
Antes que alguém ache ruim, só posto isso aqui porque sei que aqui tem muita gente que gosta de cozinha, de livros, de formas, e que "me conhece" o bastante para saber que não estou sacaneando ninguém. O que não sair por aqui vai acabar sim no Mercado Livre e afins, mas acho sempre meio chateação vender e comprar de gente que a gente não conhece... :(

Novamente, obrigada! :D

Vou ali ficar toda "Hygge" com os livrinhos que sobraram, lendo um José de Alencar emprestado da mamãe e tomando um chazinho de erva-doce. ;)

R$50,00 + frete
SUZANNE GOIN - Sunday Suppers at Lucques (sobrecapa com sinais de uso, interior em excelente estado)
DAVID FRENKIEL & LOUISE VINDAHL - Green Kitchen Travels (excelente estado) 
DARINA ALLEN - Forgotten Skills of Cooking (capa rasgada na lombada, interior como novo)
STEPHANIE ALEXANDER &  MAGGIE BEER - Sabores da Toscana (em português de portugal) - pouquíssimos sinais de uso e excelene estado
KIM BOYCE - Good to the Grain (excelente estado)
NIGEL SLATER - Notes from the Larder (capa ligeiramente gasta, interior perfeito) 

R$35,00 + frete
FRANCINE SEGAN - Dolci - Italy´s Desserts (excelente estado)
FRANCES MAYES -In Tuscany (excelente estado)
JOHn SEYMOUR - The SElf Sufficient Life and How to Live It

R$25,00 + frete
MARC VEYRAT & GÉRARD GILBERT - La cuisine paysanne   (excelente - tamanho pocket, mas lindo, cheio de fotos)
THE MULTI-CULTURAL CUISINE OF TRINIDAD & TOBAGO & THE CARIBBEAN (novo)
MICHAEL POLLAN - Cooked 
THE ABC OF COOKERY (Livro produzido pelo governo britânico para educar as pessoas a cozinhar durante a primeira guerra)

TRANQUEIRAS:
MOEDOR de grãos de ferro Botini - R$65,00 + frete 
CANUDOS de alumínio para cannoli pequenos (10cm), 12 unidades - R$15,00 + frete
Forma de MUFFIN MINI com 24 cavidades, da Wilton - R$35,00 + frete
LE CREUSET - Cj de 6 ramequins com capacidade de 1xic, vermelhos, perfeito estado, como novos - R$270,00 + frete
LE CREUSET - Cj. de 8 ramequins com capacidade de 1/2xic, vermelhos, perfeito estado, como novos - R$240,00 + frete (R$30,00 cada)
LE CREUSET - 1 mini-cocotte com tampa, cor de laranja, capacidade de 1 xic., perfeito estado, como nova - R$55,00 + frete 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Uma semana sozinha, um aniversário de 4 anos, dando cabo de muita comida

Mesa de aniversário da Laura, com mais cachorro-quente na panela vermelha e pão de queijo na verde. :)

E aí as crianças foram para a casa dos avós. Liberdade? Descanso? Relaxamento? Capirinhas na beira da piscina (inflável)?

Não. Eu tinha trabalho a entregar e uma festinha a preparar.

No primeiro dia sem as crianças, foi que me dei conta de que comprara muita comida para uma semana sozinha. Não sei por quê, foi meio no automático, provavelmente indo à forra depois de passar 3 semanas sem a banquinha de orgânicos. E foi na tentativa de já dar cabo de um pacote inteiro de quiabo, que resolvi prepará-lo justamente para uma pessoa que detesta quiabo: meu marido. Claro, eu fui boazinha. Lembrei-me de uma receita no livro do Mark Bittman, How to Cook Everything Vegetarian, que dizia que esse era o prato de quiabo para quem odeia quiabo. Resolvi pôr à prova sua tese.

Tese comprovada. Fritar o quiabo elimina terminantemente a baba, e ele fica crocante e delicioso nessa salada com tomates e coentro, polvilhado de curry, e cebolas em meias-luas marinadas no azeite e limão. "Não parece quiabo!", disse Allex, servindo-se uma segunda vez.

Só não digo que essa salada deliciosa foi um sucesso retumbante por conta do trabalho que tive para limpar o fogão depois. O óleo estava na temperatura correta e resolvi mergulhar nele o primeiro punhado generoso de quiabo... que fez o óleo quente espumar e subir numa loucura tal que eu nem tentei tirar a panela do fogo como geralmente faço quando isso acontece com caramelo ou leite. Simplesmente desliguei o fogo e observei, desistente e conformada, o caos e a destruição, a piscina de óleo quente depositada por sobre todo o fogão e escorrendo pelas laterais em direção ao chão.

Mega divertido. Só que não.

Então fiquem avisados: usem uma panela bem alta e coloque bem pouquinho quiabo por vez na primeira leva. :(


SALADA DE QUIABO FRITO PARA QUEM ODEIA QUIABO
(Adaptado um nada do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes
  • Óleo para fritura
  • 450g quiabo, sem os cabinhos e fatiados no sentido do comprimento
  • 1/2 cebola roxa, em meias luas finas
  • 2 tomates pequenos, sem sementes e cortados em tirinhas
  • 1/2 limão espremido ou a gosto
  • 1/4 xic coentro fresco 
  • 1 1/2 colh (chá) garam masala (a receita original usa chaat masala, que não se encontra aqui)
  • 1/2 colh. (chá) sal

Preparo
  1. Esquente o óleo até 180oC. Frite o quiabo em levas pequenas, mantendo o óleo quente, por 5-7 minutos, até que fiquem bem douradas e crocantes. Retire com uma escumadeira para um papel absorvente. 
  2. Misture a todos os outros ingredientes e sirva imediatamente. 

Naquele mesmo dia, Allex foi viajar a trabalho por alguns dias. (Espantado pelo quiabo? Acho que não.) E eu me vi de fato sozinha. Na minha mente, eu teria diversos momentos relaxantes entre os trabalhos a entregar e as coisas a fazer para o aniversário da Laura (porque você mal respira depois do Reveillon e o aniversário da pequena já chegou, e depois de passar um ano indo a aniversários os mais escalafobéticos, ela tinha a expectativa de ter sua própria festa, apesar de não se incomodar com a simplicidade que imponho à mesma). Mas claro que não foi assim. Antes de tudo eu precisava tirar da frente alguns probleminhas, como aquela gaveta cheia de legumes de verduras que estragariam antes do restante da população da casa voltar.

Priorizei o pote de creme de leite da fazenda que minha querida amiga Marina me dera. Mais firme que cream cheese, aquilo era nata pura, e não consegui pensar em mais nada a se fazer com ela além de biscoitos de nata. Se as crianças estivessem em casa, teria usado em uma torta ou uma panna cotta. Mas sozinha, era preciso preparar algo que durasse mais, até seu retorno.


Descobri que ninguém da minha família tinha uma receita de confiança, e foi por isso que acabei usando uma receita do Cybercook, que não costumo usar com muita confiança. Mas a receita fazia sentido e usava exatamente a quantidade de nata que eu tinha, então resolvi testar. Os biscoitos precisaram de um pouco mais de tempo do que a receita pedia para ficarem crocantes e ficaram gostosos. No entanto, eu usaria metade do fermento (ou talvez até um terço), pois eu conseguia sentir um gosto metálico do excesso dele no fundo da língua. Também talvez tentasse aumentar um pouco a quantidade de farinha e diminuísse ou mesmo eliminasse o amido de milho, uma vez que ele tornou o biscoito seco e esfarelento como um sequilho, enquanto eu esperava uma crocância mais certeira e a gordura do creme derretendo na boca, como acontece com bons biscoitos amanteigados. Mas acho que isso é meramente gosto pessoal. A receita original está AQUI.



 Olhei então para a gaveta de legumes. As folhas de salada serão consumidas rapidamente, pensei. pois adoro almoçar salada.

A couve. O que fazer com ela? PESTO DE COUVE com as folhas. Os talos, congelei para usar em dias sem nada verde na geladeira. Adoro frittata de talo de couve, e meu marido me enchia os pacová pela frugalidade natureba, até ler um artigo sobre como os talos da couve têm mais nutrientes que as folhas. Há! Fiz quatro potinhos cheios de pesto (usando castanha de caju no lugar do pistache), cada um o bastante para temperar o jantar de uma família de 4 e foi tudo para o freezer.


Ok. O que mais? Agrião. Separei as folhas para comer em minhas saladas e os talos viraram sopa imediatamente. Eu uso sempre mais ou menos ESSA como base, e omito todos os acompanhamentos. Paro simplesmente em manteiga + cebola + batata + caldo de legumes + talos de agrião. Não uso limão, mas fica gostoso com ele também. Às vezes jogo meia dúzia de folhas junto para deixar mais verde. O que mantém o gosto fresco e a cor verde brilhante da sopa é colocar o agrião só na hora de bater. Pois se ele ferver, a sopa fica marrom e o agrião fica com um gosto metálico estranho. Sopa de agrião sempre é bem vinda, pois Thomas adora.

Então apanhei todas as aparas do que eu comprara na feira àquela semana e fiz uma nova batelada de CALDO DE LEGUMES para ir ao freezer. E peguei os talos e raízes do coentro e fiz pasta de curry tailandesa, de novo do livro do Mark Bittman. Eu adorava esse negócio, e Thomas comeu MUITA papinha com curry tailandês quando bebê, mas foi ficando cada vez mais difícil de achar e cada vez mais caro. Não consegui achar o lemongrass propriamente dito, que é o nosso capim-limão, mas a parte do bulbo, e não as folhas. Acabei comprando o capim-limão mais bojudinho que encontrei, tirei as folhas externas ressecadas, piquei loucamente só as bases que pareciam mais macias. O gosto ficou excelente, mas mesmo com esses cuidados, o liquidificador e o processador não deram conta, e tive que passar numa peneira para tirar toda aquela fibra dura com jeito de mato, coisa que não aconteceria com a parte certa do ingrediente. Passar pela peneira deixou a consistência mais líquida, mas o sabor continuou lá. Congelei em porçõezinhas do tamanho de um cubo de gelo para poder usar depois. Nisso, descobri que também dá pra congelar as folhas do capim-limão já picotadas num saquinho pra ir direto pra panela para virar chá. :)

Se você encontrar o bulbo do capim-limão para uso em culinária asiática, esta receita é muito boa: 

PASTA VERMELHA DE CURRY TAILANDÊS
(Do ótimo How ro Cooki Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 3/4 xic

Ingredientes:
  • 10 pimentas dedo-de-moça, sem as semenstes ou a gosto
  • 4 folhas de limão  ou 1 colh (sopa) casca de limão
  • 1 pedaço de uns 2-3cm de gengibre fresco, descascado, picado
  • 1 colh (chá) sementes de coentro
  • 1 colh (chá) sementes de cominho
  • 2 bulbos de lemongrass, descascados, aparados e picados grosseiramente 
  • 1/2 cebola picada
  • 4 dentes de alho descascados e picados
  • 2 colh (sopa) de raízes e talos de coentro bem picados (usei as raízes e início dos talos de um maço)
  • 3 colh (sopa) óleo

Preparo:
  1. Coloque as sementes numa frigideira e toste em fogo médio até que fiquem perfumadas. Coloque no processador com o restante dos ingredientes, menos o óleo, e processe até virar uma pasta. Processando, acrescente o óleo aos poucos. Você quer uma pasta razoavelmente homogênea. Coloque em um pote esterilizado e guarde na geladeira por até 2 semanas. Ou separe em porções menores e congele.

Depois disso tudo, tive de dar uma pausa para de fato almoçar. As saladas da semana foram sensacionais, admito, e agora eu precisava dar cabo das frutas do Reveillon que as crianças não haviam terminado de comer. 

 

Lichias. Confesso, não sou louca por elas. E elas ficaram ali me olhando, e eu não me animava a catar a tigela e comê-las puras de sobremesa. Busquei na fantástica internet algo para fazer com elas e caí NESTA SURPREENDENTE SALADA DE AGRIÃO, ABACATE E MANGA, fruta que prontamente substituí pela lichia. Não é novidade nenhuma uma salada de agrião com manga. Mas o que torna magnífica essa mistura simples de frutas doces e cremosas e verduras picantes é o molho de alho, gengibre e pimenta. É claro que a salada original ficou mais colorida, com o amarelo da manga, e as cebolas roxas, como você pode ver na foto produzida pela revista. A minha, com cebolas brancas e lichias ficou meio monocromática. Mas absolutamente deliciosa! A foto não faz jus. Merece repetecos infinitos, e eu compraria lichias só para prepará-las assim. Comi devagar enquanto separava lembrancinhas de aniversário em saquinhos.


O dia seguinte foi dia de assar o bolo da Laura. E, aproveitando o forno quente, umas beterrabas que estavam pela hora da morte. Assei-as, descasquei-as, cortei-as em cubinhos e meti-as no freezer. Beterrabas assadas congelam maravilhosamente bem. Mas aí começou aquele maldito complexo de mãe sozinha em casa... Eu só precisava assar o bolo. Mas não. No melhor estilo do episódio de dia das mães da série The Middle, eu resolvi que eu precisava limpar o forno (e rearrumar todos armários da casa, e separar todo o lixo eletrônico para reciclagem, e reorganizar os livros, e refazer meu planejamento do ano, enfim) . Antes de fazer o bolo. E lá fui eu. Limpinho, limpinho. Resolvi esse ano quebrar a tradição e preparar um bolo diferente. Eu visualizara aquele bolo lindo, branco, recheado de geleia de morango, da Dorie Greenspan. Tinha exatamente o número de claras congeladas de que precisava para o bolo e depois para o recheio. Seria perfeito. A cara da Laura. Não fosse o fato de que aparentemente a remoção da sujeira do forno fez com que ele parasse de funcionar. Depois de dez anos funcionando perfeitamente, ele resolveu que não estava mais afim. Parece que o forno era meio apegado às massas de bolo carbonizadas que jaziam em seu piso e agora sua solidão foi demais para suportar. E o forno desligou no meio do cozimento do bolo. E EU NÃO VI. 

Quando percebi o que ocorrera, o tempo de assar já havia terminado e o forno estava quase frio. Quase tive um treco. Liguei o forno de novo, e olhei aquela massa que crescera mais ou menos mas ainda estava cru e não dourara com um aperto no coração. Fechei o forno, suspirei e pensei que se tudo desse certo no final, a receita era de fato muito boa. 

Incrivelmente, depois de mais meia hora de forno, O BOLO DEU CERTO. Juro. Só por isso deixo aqui a receita do bolo em si, mas não da cobertura, pois acabei não terminando a receita. Ele ficou um pouco mais baixo do que deveria por conta da rebelião do forno, e por isso achei arriscado cortar ao meio para fazer aquela montagem toda de quatro camadas finas. Comecei a me dar conta de que de novo estava entrando naquele pânico de aniversário que me faz exagerar e trabalhar demais, e então resolvi simplificar. Congelei o bolo até a véspera da festa. Na manhã do evento, pincelei o bolo com um xarope simples de baunilha, e recheei e cobri de morangos e chantilly fresco, sem cortá-los ao meio. Ficou lindo, uma delícia e deu menos trabalho. O bolo foi devorado e Laura ficou muito contente, pois ela sempre pedia um bolo de morangos em seu aniversário e esse foi o primeiro ano em que encontrei os morangos orgânicos saborosos na data. :)
Laura incomodada com a barulheira do Parabéns, Thomas planejando assoprar a vela antes da irmã.
BOLO BRANCO DE ANIVERSÁRIO*
(ligeiramente adaptado do livro Baking From My Home to Yours, da Dorie Greenspan)
Rende 2 bolos de 20-22cm, dependendo da forma

Ingredientes:
  • 2 1/4xic farinha de trigo 
  • 1 colh (sopa) fermento químico em pó
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 1 1/4 xic leite integral
  • 4 claras de ovo grandes
  • 1 1/2xic açúcar
  • 2 colh (sopa) de raspas de limão
  • 115g manteiga em temperatura ambiente

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte com manteiga 2 formas de 20cm (com uns 5cm de lado, ou a massa vai transbordar) ou preferencialmente de 22cm. Forre o fundo com papel-manteiga. Coloque as formas sobre uma assadeira.
  2. Peneire a farinha, fermento e sal em uma tigela e reserve.
  3. Misture as claras com o leite em outra tigela e reserve.
  4. Coloque o açúcar e raspas de limão na tigela da batedeira e esfregue com os dedos para liberar os óleos do limão. Junte a manteiga e e bata por 3 minutos,até que a mistura esteja bem fofa e clara. 
  5. Junte 1/3 da mistura de farinha em velocidade média, só até incorporar. Junte metade do leite com claras, então a farinha, as claras, e o restante da farinha, incorporando bem. Deixe batendo bem por uns 2 minutos, para ter certeza de que está bem misturado e aerado. 
  6. Divida a massa entre as duas formas, alisando a superfície, e leve ao forno por 30-35 minutos, ou até que os bolos estejam secos e elásticos ao toque e um palito inserido no meio saia limpo. Deixe esfriar sobre grades por 5 minutos antes de passar uma faca nas laterais, desenformar e retirar o papel-manteiga cuidadosamente. Deixe que esfriem completamente antes de rechear, cortar ou embalar para geladeira ou freezer. 
 * O bolo da foto não parece tão branco, mas seu miolo era sim bem branquinho. Se você cobrir as laterais com um buttercream ou outra cobertura branquinha, o bolo fica todinho clarinho. :)

Mais um dia se passou, e depois de terminar a aquarela que eu precisava entregar e sair para comprar tudo o que precisava para a festinha, preparei-me essa que é uma de minhas saladas favoritas: salada de folhas e nozes com verjus.

Verjus??? É um xarope bem ácido feito com uvas ainda não maduras, mas que eu confundi com xarope de mosto de uva na hora de preparar o tempero, pois meu livro lindo de cozinha toscana feito por uma australiana que reviveu o uso do verjus (verjuice em inglês), está traduzido para português de Portugal, e minha cabeça louca achou mesmo que "agraço" fosse mosto cotto. Num dia, tendo encontrado uvas Isabel orgânicas e feito de novo aquele sorvete fantástico, resolvi ferver um pouco as cascas que sobraram e reduzir esse suco até obter um xarope espesso e doce: meu Mosto Cotto improvisado. Guardei meu xaropinho na geladeira num vidrinho esterilizado e tenho usado assim no lugar do verjus, em saladas, misturando a azeite, limão, sal e pimenta para fazer um molhinho. É um resultado completamente diferente do que seria o verjus, pois o mosto cotto é doce e não ácido. Mas por isso mesmo é maravilhoso. Um vinagre balsâmico e um pouco de açúcar podem substituir bem, acredito. Esse molhinho sobre diferentes alfaces, nozes picadas e lascas de parmesão ( e cogumelos salteados no alho, em um segundo almoço-repeteco) foram um almoço leve e excelente, que me deixou tão de bom humor, que resolvi preparar os cupcakes que Laura pedira para seu aniversário.

Como estava meio preguiçosa, no entanto, quis algo rápido que não precisasse ficar batendo manteiga. Pensei que talvez a receita básica de bolo de baunilha que faço sempre rendesse bons cupcakes... mas pensei errado. Eles grudaram irremediavelmente nos papeizinhos.

Estava prestes a jogar tudo fora quando me dei conta de que os bolinhos estavam deliciosos. Só tinham grudado. Saí cavocando todos os papéis de cupcake com uma colher e colocando aqueles miolos esfarelados em uma tigela grande. Guardei na geladeira e fiquei pensando... deve haver algo que eu possa fazer com isso.

Depois de matutar a respeito, e enquanto reorganizava a planilha de custos das minhas obras para decidir os descontos para a loja e planejar as novas séries, lembrei dos cake pops! (Por que uma coisa levou à outra? Não sei, mas eu estava olhando para uma planilha de excel e calculando aproveitamento de papel de aquarela quando pensei nos pirulitos de bolo. Aliás, acho "pirulito de bolo" um nome bem mais simpático que "cake pops"). Cake pops, essas coisas lindas e confeitadas e coloridas, espetadas em palitos compridos, que sempre têm em aniversário de bufê, meus filhos sempre pegam, dão uma mordida, descobrem que não têm gosto de nada e devolvem. Cake pops são feitos de miolo de bolo! Há!

Apanhei o miolo delicioso do bolo, coloquei no processador, e bati com duas colheres de sopa de água, o bastante para dar liga e aqueles farelos virarem algo como massa de biscoito. Fiz bolinhas, espetei-as em palitos, passei-as em chocolate derretido, depois em confeitos coloridos, (ignore o modo simples como digo isso e pense numa pessoa desesperada com chocolate até os cotovelos e confeitos grudados por toda a mesa, e tudo escorrendo, e derretendo, e virando a maior lambança) e deixei-os na geladeira, de cabeça para baixo, até que o chocolate endurecesse. Foram sucesso na festinha. Desses, meus filhos comeram e repetiram. Estavam mesmo uma delícia, apesar de, esteticamente, terem lembrado daqueles memes de "expectativa X realidade". >_<

Aproveitei a overdose de doce para fazer os beijinhos e os brigadeiros.

Antes de dormir, tirei do freezer uma apara de massa de torta da qual me lembrei e, no dia seguinte, forrei uma forma de muffin grande com ela. Fiz uma versão miniatura da compota de cerejas de sempre, que engrossei com uma colherinha de amido de milho e joguei dentro da massinha. Fechei pinçando com os dedos, pincelei com leite, polvilhei de açúcar e coloquei no forno por uns 20 minutos até dourar.

Melhor

Tortinha

Ever.



Eu sei me tratar bem quando quero. :P

O saldo da semana foi positivo. Quando o marido voltou de viagem, eu estava enchendo balões, pendurando bandeirinhas (as mesmas que eu fiz no aniversário de 3 anos do Thomas, e que viraram tradicionais nos aniversários aqui em casa) e terminando de preparar aquela falsa maionese de coentro e castanha de caju da Bela Gil para mergulhar os leguminhos na festinha no dia seguinte. A festa deu certo apesar da chuva torrencial que deixou todo mundo trancafiado dentro de casa, o bolo foi devorado e ninguém nunca soube que ele quase não vingou. Eu consegui entregar todos os trabalhos pendentes, e até consegui reorganizar meus custos para poder calcular os descontos na loja, o que deu um trabalho do cão e exigiu todo o poder de matemática que meu cérebro de Humanas conseguiu juntar. (Se você sempre quis ter uma obra original em casa, um quadro para decorar sua sala ou sua cozinha que fujam dos pôsteres de sempre que têm por aí, mas sempre achou meio caro, saiba que QUASE TODA A LOJA ESTÁ EM PROMOÇÃO, algumas obra com 50%. Isso tem um motivo, que depois eu explico com calma. Dêem uma olhada lá: www.anaelisagg.iluria.com)

Esta aquarela está R$200,00 e com frete grátis. :D

Passada a correria do aniversário, começaria a correria do material escolar. Mas tudo bem. Não resisti a receber meus pimpolhos de volta com os pedidos cupcakes que não aconteceram no aniversário. Redimi uma receita do Magnolia Bakery, que fica de fato deliciosa. Da primeira vez que preparei, há MUUUUITOS anos, eles grudaram nos papéis e ficaram tão esfarelentos que eram impossíveis de serem comidos. Desta vez ficaram leves e perfeitos. A cobertura, no entanto, eu não quis repetir, pois me pareceu MUITA manteiga e MUITO açúcar. Ao invés disso, usei uma cobertura de baunilha da Alice Medrich, que fica bem doce mas muito muito gostosa. Quando servi para as crianças, Laura comeu toda a cobertura e deixou o bolinho e Thomas comeu todo o bolinho e deixou a cobertura. (Até que eu percebi que um bolinho inteiro era muito pra eles, e que se eu o dividisse ao meio eles comiam tudo.) Então eu estava saindo para minha aula de sábado, e Allex, que não gosta de bolos, perguntou: "quantos desses bolinhos têm que ter aí quando você voltar?" "Por quê? Você pode dar para as crianças, eu fiz para elas...", respondi. "Não, é porque EU quero comer isso. Ficou muito bom!". Allex comeu bolinho E cobertura.

É bom ter minha família de volta.



CUPCAKES DE BAUNILHA
(Adaptado dos livros More From Magnolia e Sinfully Easy Delicious Desserts)
Rendimento: 12 cupcakes

Ingredientes
(bolinhos)
  • 1 1/3 xic + 1 colh (sopa) farinha
  • 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 pitada de sal
  • 115g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 xic açúcar
  • 2 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic leite integral
  • 1/2 colh (chá) extrato natural de baunilha
(cobertura)
  • 1/2xic creme de leite fresco
  • 1 xic açúcar
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 colh (chá) extrato natural de baunilha
  • 8 colh (sopa)(115g) manteiga fria mas um pouco amolecida

Preparo
  1. Faça os bolinhos. Pré-aqueça o forno a 180oC. Forre uma forma de muffins com papéis apropriados.
  2.  Numa tigela, misture a farinha, fermento e sal. Reserve.
  3. Na batedeira, bata a manteiga até que fique cremosa. Junte o açúcar aos poucos e bata por vários minutos, até que fique bem fofo e claro.
  4. Junte os ovos um a um, batendo bem a cada adição.
  5. Incorpore os ingredientes secos em três adições, intercalando com o leite misturado à baunilha. Não bata em excesso, apenas misture. Use uma espátula para raspar o fundo e as laterais, para ter certeza de que a mistura está homogênea. 
  6. Divida a massa entre as formas de muffin, e leve ao forno por 20-25minutos, até que um palito inserido em um dos bolinhos saia limpo.
  7. Deixe esfriar na forma por 15 minutos antes de retirar cuidadosamente. Termine de esfriá-los sobre uma grade antes de decorá-los. (Se eles parecerem fofos demais e difíceis de serem manuseados por uma criança, parecendo que a retirada do papel vai despedaçá-los, algumas horas na geladeira depois de decorados resolve esse problema e o papel sai super fácil.)
  8. Faça a cobertura: misture o creme, o açúcar e o sal em uma panela pequena. Limpe as laterais da panela com uma espátula molhada para retirar cristais de açúcar, pois eles podem cristalizar a cobertura depois. Cubra a panela, coloque em fogo médio e aqueça até que a mistura esteja borbulhando em toda a superfície. 
  9. Destampe, baixe o fogo para que a fervura seja branda e constante e cozinhe, sem mexer, por 1 minuto. Use a espátula pararaspar a mistura quente para uma tigela grande. Deixe que esfrie, sem mexer, até praticamente temperatura ambiente, o que deve demorar uns 45 minutos. Enquanto isso, coloque a tigela vazia da batedeira no freezer, para que esteja bem gelada na hora de bater a mistura. 
  10. Coloque a mistura na tigela gelada e ligue a batedeira com o batedor de arame. Gradualmente vá incorporando colheradas da manteiga fria, até que a mistura esteja fofa e homogênea. Se ainda parecer muito mole para confeitar um bolo, leve a tigela toda ao freezer por uns dez ou quinze minutos e bata novamente.  A mistura deve ficar firme o bastante para ficar sobre o cupcake sem escorrer. 
  11. Confeite os bolinhos frios e mantenha-os na geladeira. Pode retirar da geladeira umas duas horas antes de servir para que a cobertura fique mais cremosa e o bolinho menos gelado.

Cozinhe isso também!

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