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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Pão de queijo francês, bolo de fubá americano, ler livros, seguir vidas


Faz já quase um ano daquelas férias de julho sem televisão que mudaram o jeito como fazemos as coisas aqui e como enxergamos nossa casa. A televisão com certeza voltou, pois ela sempre volta, mas uma mente expandida por boas idéias nunca mais volta ao tamanho original.

Naquela época, com a televisão desligada, começamos a passar muito mais tempo do lado de fora e, quando do lado de dentro, muito mais tempo juntos. Havia algo, no entanto, que me incomodava um bocado havia tempos, mas o qual não me dava ao trabalho de mudar, e que, tendo o empurrãozinho final daquelas férias, finalmente consegui: voltei a ler como lia antigamente. Um livro depois do outro, o que cair na minha mão, romance, sociologia, filosofia, Saramago, José de Alencar, ficção científica, best seller, livro técnico de arte, o que for. Felicidade pura, voltar a ler, hábito que andava em suspensão desde o nascimento dos meus filhos.

Preciso admitir que o que me impedia era pura preguiça. Os dias terminavam cansados, e eu buscava aquele entretenimento fácil debilitador de cérebros da televisão e da internet. Meu tempo andava dominado de tarefas e trabalhos e eu não conseguia nem me dar cinco minutos nem enxergar esse precioso intervalo de tempo em minha rotina para ler meia dúzia de páginas.

Foi daí que as noites sem tv se tornaram noites de leitura. E uma vez que você termina um livro bom em três dias, a empolgação é tanta que você não consegue parar mais.

Nesse meio tempo descobri tardiamente o canal da Tatiana Feltrin, da qual virei absoluta fã. E não se passou muito tempo de TV retornada até que eu estivesse de novo sentada ao sofá assistindo vídeos sobre os livros que os outros leram. Ficava encantada, fazia notas mentais sobre ler esse ou aquele volume, mas no frigir dos ovos o que eu estava fazendo de fato era parando de ler e vivendo uma vida imaginária através dos feitos dos outros.

O mesmo aconteceu quando descobri meu blog favorito, Seis Mais Dois, da Maria Cordeiro. Li de cabo a rabo, concordando com tudo, achando linda aquela vida tranquila, natural, aquelas sextas-feiras em família, aqueles jantares com amigos, aqueles piqueniques no parque, aquela simplicidade dos pães e bolachas descomplicadas de todo dia. Amei tudo aquilo, quis aquele ritmo de vida para mim, e tão logo acabei de ler o post mais recente, saí internet afora buscando outros blogs que fossem semelhantes, para suprir aquela minha carência por mais inspiração, mais vidas que não eram minhas para preencher os espaços dos meus dias, para que eu pudesse sonhar em ser assim um dia e criar aquela perigosa fantasia de que, porque eu tomara conhecimento daquela vida, a tal vida era minha também.

Aí eu tomei uns tabefes da vida que era minha e voltei a meditar.

Meditação, essa coisa linda. Dizia meu guru de Kriya Yoga que meditar é como colocar gasolina no carro: você nunca pode estar tão ocupado a ponto de esquecer de parar para abastecer. ;)

E assim mesmo parece funcionar. Os pensamentos ficam mais claros, e parece que você consegue enxergar as coisas de uma forma mais ordenada.

E numa noite dessas, quando eu procurava enfadonhamente ao que assistir no YouTube (o bom e velho zapear canais e perder tempo valioso de vida fazendo nada de bom), ao escolher um video antigo do Tiny Little Things, ocorreu um estalo no meu cérebro. Assim, como se alguém tivesse atirado um pedregulho na parte de trás da minha cabeça e me chamado de idiota. Lá estava eu, assistindo a um video de alguém falando sobre um livro que eu tinha na minha estante e nunca tinha lido na vida. Tinha a noite toda pela frente, e estava prestes a me contentar em ouvir sobre a incrível experiência que aquela pessoa tinha tido ao ler a história ao invés de eu mesma apanhar o livro e lê-la.

A sensação de desperdício de vida foi tão assustadora, que desliguei a TV imediatamente, arranquei o livro da estante e comecei a leitura. Pensei: Tatiana consegue ler 100 páginas por dia. Como ? Ah, ela não tem filhos, ela lê no ônibus a caminho do trabalho. Todas aquelas desculpas que a gente se dá para os outros conseguirem algo e nós não. Mas e daí? Quanto tempo eu de fato tenho no meu dia em que não estou ativamente com as crianças, ou trabalhando ou em alguma tarefa? Comecei a andar com um livro na bolsa o tempo todo. Até mesmo para apanhar as crianças na escola. Comecei a chegar dez minutos mais cedo apenas para me sentar no banco em frente ao portão e ler mais meia dúzia de páginas antes do sinal da saída tocar. Continuo não conseguindo ler 100 páginas por dia, a não ser que o Allex chegue tarde do trabalho. Senão, sinto muito, livros, mas ainda prefiro a agradável companhia do meu marido. :)

Isso do livro na mão o tempo todo, enquanto mexo o risotto, enquanto as crianças brincam no parquinho, enquanto espero um documento no cartório, fez-me sentir infinitamente mais feliz durante o meu dia. Eram cinco minutinhos só meus, imersa em uma atividade que gosto muito, mesmo que outras coisas estivessem acontecendo concomitantemente.

E então comecei a olhar em volta. As crianças pedindo para brincar um pouco mais na escola antes de irem para casa. Ok. Abro meu livro, leio mais um pouco. Sem pressa. Ergo os olhos. É uma escola. O único livro à vista está em minhas mãos. Adultos, jovens e crianças tem aparelhos eletrônicos nas mãos. Senti-me novamente com quinze anos, matando aula para ler Senhor dos Anéis no corredor.

Pensei em pedaços de uma conversa com a coordenadora. Quando veio um comunicado dizendo que Thomas teria de fazer lições de matemática num tablet. Fui ter com ela, incomodada. Ele tem seis anos. Já tem lição de casa todos os dias. Não precisa ficar mais tempo estudando, ainda mais na frente de uma tela. Precisa ter tempo de brincar. Ele ainda é uma criança. Além disso, nós não temos um tablet.

Ela explicou que o programa de matemática era todo lúdico e divertido e extremamente pedagógico, e que os exercícios eram de quebra-cabeças e lógica. Eu expliquei que lúdico e divertido e extremamente pedagógico é montar quebra-cabeças de verdade, de papel, de madeira, de 200 peças, em que as peças não se encaixam magicamente ao arrastar de um dedo, em que você precisa separar as peças por tipo e pensar numa estratégia. E que mais divertido era aprender lógica e probabilidade jogando Zombie Dice e Dungeon Roll com o pai, ou livros de RPG com a mãe, somando dados e descobrindo se sua soma de 12 é suficiente para matar o ogro que tem 7 de força. Ou fazer frações calculando uma receita de bolo. Quantas medidas de 1/3 de xícara cabem em 1 xícara? Matemática que permite lamber a tigela no final. Lúdico, divertido e extremamente pedagógico é entender no mundo de verdade a aplicação daquilo que se aprende no livro da escola. É mexer com diferentes materiais para criar coordenação motora fina ao invés de exercitar unicamente o dedo indicador em riste e respostas automáticas de uma tela fria com cores berrantes.

Houve um incômodo. Ela quis defender o povo que criou o material pedagógico. Defendeu-se dizendo que o povo da quinta série estava indo mal em português e que por isso eles tinham se empenhado em estimular mais as crianças. Perguntei-lhe porque não estimulavam MENOS. Perguntei-lhe em que espaço da rotina de uma criança de 11 anos que tinha aulas de manhã e à tarde, lições de casa todos os dias, trabalhos todas as semanas e provas aos sábados, haveria um momento de suficiente tédio para que ela de fato escolhesse buscar na instante um livro para ler por prazer. Se todo o tempo dela era ocupado por leitura obrigatória de assuntos que de fato não lhe interessavam. Perguntei por que não faziam uma parceria com uma livraria para montar um stand na porta da escola, onde fica visível, onde atrai olhares, já que não há uma única livraria em nosso bairro. Recebi de volta uma resposta atravessada, dizendo que havia sim uma livraria mas fechara por falta de público, e encerrei a conversa aí, pensando no verdadeiro significado daquela sentença.

Atravessei o pátio da escola carregando meu José de Alencar velho e esfarelento e olhando em volta as crianças que usavam seus "tablets pedagógicos" para ver bobagens na internet. Pensei em algumas crianças de quatro anos que conheço que já sabem ligar o computador e escolher videos de youtube sem supervisão. Suspirei alto, sentei-me no banco e abri meu livro, esperando o sinal tocar. Às vezes meu ouvido captava a conversa dos adultos ao meu lado conversando sobre Candy Crush.

O sinal tocou, as crianças apareceram. Era sexta-feira e cada uma trazia um livro novo para ler no fim de semana. Ás vezes são livros legais, e muitas vezes são livros muito ruins. Mas eles vêm sempre felizes pedindo para ler antes do almoço, e depois do almoço, e depois do desenho, e antes de dormir. E antes de dormir Thomas pede para ler O Pequeno Príncipe de novo. Ou Como Treinar Seu Dragão pela terceira vez. E Laura apanha Pippi Meialonga e abre no colo e insiste em ela mesma ler a história, passando o dedo nas letras ao contrário e inventando as frases segundo a alternância entre sua memória e sua imaginação. E fico maravilhada com a riqueza de sua imaginação. E as palavras que eles conhecem, e as histórias que eles criam enquanto brincam e enquanto desenham. E me lembro do maior elogio que já recebi do meu marido, quando comentei sobre isso com ele: "Ana, o desenho-animado vem pronto; mas quando você lê O Hobbit e o Thomas escuta uma frase como "...e ele fez um cumprimento à moda dos anões", ele precisa criar na mente dele como diabos seria esse cumprimento e porque seria assim e não de outro jeito; eles criam assim porque você lê para eles todo dia livros legais."

Quem é mãe sabe que são raros os momentos em que ganhamos crédito pelo saldo positivo, então isso me deixou muito, muito feliz. De vez em quando a gente faz algo certo.

Dois dias depois ele me enviou um cartoon da New Yorker que eu nunca mais encontrei e procurei muito para ilustrar esse texto. O cartoon mostrava dois bancos de praça. Um com o pai lendo o jornal e as crianças lendo livros, e outro com o pai ao celular e as crianças com tablets e games. E o pai do celular perguntava: "Como você consegue fazê-los ler?"

Já dizia meu guru de yoga: viva pelo exemplo.

Da mesma forma como lemos blogs e vemos videos para nos inspirar, as crianças nos observam para nos imitarem. Se a única coisa que eles vêm em nossas mãos é um celular, não é difícil adivinhar o que eles farão para fingirem serem adultos. É preciso dar o exemplo. E é por isso que, ao invés de reservar minha noite, com crianças na cama, para ler em paz, eu me esforço para encaixar pequenos intervalos de leitura no meu dia, quando eles passam por mim no meio de uma brincadeira de velho-oeste e vêm me perguntar o que eu estou lendo e se posso ler em voz alta para eles. Nessa brincadeira de curiosidade infantil, numa tarde em que Laura cochilava no sofá, Thomas se aninhou comigo na poltrona e leu comigo oito contos do Neil Gaiman, atento e de olhos encantados, até se acabarem os contos apropriados para sua idade.

É importante para mim que eles peguem amor aos livros, pois acho que isso abre um mundo maravilhoso ao mesmo tempo que mantém seus pés bem firmes no chão. Traz possibilidades de fantasia mas também de aprendizado real e prático. Estimula a curiosidade, e melhora sua concentração muito mais do que qualquer texto eletrônico recheado de distrativos hiperlinks.

Tento o máximo que posso buscar respostas para suas perguntas nos livros ao invés de buscar na internet, outra briga, aliás, que tenho com a escola. Pois se você quer saber quantas pernas tem uma formiga, basta escrever "pernas" e "formiga" no google e apertar o Enter. Você sequer precisa formular saber formular uma pergunta coerente. Numa biblioteca, precisa começar raciocinando: formiga é um bicho. Que bicho? Inseto. Onde encontro informações sobre insetos? Seção de biologia. Qual livro? Qual página? E nem sempre você encontra nos livros uma resposta pronta. Às vezes precisa cruzar informações e desenvolver sua própria hipótese. Sabe isso que a gente costumava fazer o tempo todo? Pensar?

Como quase tudo hoje em dia, parece que nosso cérebro se beneficia quando temos mais trabalho.

Ironia das ironias, enquanto escrevia esse texto, nesse exato ponto, a internet desapareceu, deu tilt, e fiquei 2 dias sem a bendita em casa. Quem mais sentiu falta fui eu, pois não conseguia resolver meus assuntos de trabalho apropriadamente e fiquei justamente sem o meu filme de quinta-feira. O universo jogando na minha cara aquilo mesmo que eu estava escrevendo. As crianças aceitaram rapidamente que não haveria desenho àquela tarde e, enquanto eu discutia com o provedor de internet ao telefone, eles cataram um quebra-cabeças de mapa-mundi, levaram para a sala e ficaram montando e deliberando a respeito dos países que eles gostariam de visitar, os lugares onde moram pessoas que conhecemos, de onde vem a comida chinesa, se há dragões na Noruega e se precisa ou não de avião para chegar ao Japão, que, segundo Thomas, é o lugar especial dele, onde quer e vai morar um dia.

Enfim. Exemplos. Inspiração.

Nós somos como crianças buscando inspiração constante em quem acreditamos ter algo mais bem resolvido que nós. Seja a realização de um guru de yoga, seja a vida descomplicada de uma numerosa família portuguesa, seja alguém que lê oito livros ao mesmo tempo. Mas ao contrário das crianças, que não vêm a hora de partir para a ação e nos imitar, tentar sem vergonha ser como nós, nós, os adultos, parecemos nos refrear e nos contentar em apenas viver através dos outros. Colecionamos centenas de fotos do Pinterest de casas que não são as nossas, lemos sobre hábitos que não colocamos em prática, guardamos no coração ansioso essa vida potencial, porque um dia eu vou fazer isso, um dia eu chego lá, amanhã quem sabe, se minha rotina fosse diferente, segunda feira eu começo, mês que vem eu vou ter tempo, assim que eu terminar esse projeto vai dar pra começar, pena que eu nunca termino esse projeto.

Baumann diz que nessa nossa sociedade líquida procuramos incessantemente gurus (elementos externos a nós) para resolver nossas vidas e criamos metas inalcançáveis (ou metas alcançáveis cuja realização postergamos o quanto possível), pois enquanto temos uma meta, nos sentimos mais firmes no chão. O que acontece quando atingimos nosso peso ideal? O que fazemos quando terminamos de escrever aquele livro? O que eu faço quando já aprendi a costurar? O que eu faço quando finalmente fizer a minha viagem dos sonhos? O que eu faço com esse vazio imenso que sobra quando não há mais o que perseguir? Não é o medo de falhar que paralisa a maior parte das pessoas, mas o medo de conseguir.

Uuuuuuuuuuh.
Profundo, isso.

Enfim. Exemplos. Inspiração.

É preciso ser mais como nossos filhos e dar a cara a bater, enfiar o pé na jaca, guardar menos as experiências para o amanhã e simplesmente desligar a televisão e catar aquele livro de uma vez por todas. Começar alguma coisa e terminar o que se começou.

Inspiração é ótimo. Eu continuo assistindo ao canal da Tatiana e continuo lendo avidamente os posts da Maria. É fácil cair de novo na armadilha de maravilhar-se com o tempo que ela passa com os filhotes, e mergulhar na internet atrás de mais inspiração. Mais fácil ainda é ter o que admiramos tanto naquela vida: basta desligar o monitor e chamar as crianças para jogar um jogo de tabuleiro no tapete da sala. Ao invés de passar o resto do dia enfurnada no computador buscando mais dos reality shows que me viciam, eu leio um post, sinto-me feliz, e chamo as crianças para fazer um bolo.

Isso aconteceu duas vezes. E naquele dia eu tinha planos para fazer um bolo de milho da Dorie Greenspan, quando eu ainda tinha o livro comigo. É muito gostoso cozinhar com as crianças, se você desapegar um pouco da perfeição do resultado e estiver disposto a limpar um pouco de sujeira depois. (Mas em pouco tempo eles aprendem a quebrar os ovos sem que explodam e a não jogar farinha para todo lado, e o máximo que se deve fazer é mandar todo mundo lavar as mãos e a cara depois de enfiar a cabeça inteira na tigela do bolo. E se você tiver um pouco de TOC, basta deixar todos os ingredientes já medidos, e não tem risco de alguma mãozinha enfiar na massa uma xícara a mais de farinha.)

Esse bolo de milho, ouso dizer, correndo o risco de tomar pedradas dos leitores, botou no chinelo a maioria dos bolos de fubá que já fiz com receitas brasileiras. Melhor textura que já vi num bolo exclusivamente de farinha de milho. Nada esfarelento, super úmido. Não sei se de fato precisa dos grãos de milho. Mas muito, muito bom. Quem diria, bolo de fubá americano. ;) Sem preconceitos, povo. Com figos frescos e uma colherada de mel serviria facilmente de sobremesa para amigos.

A segunda vez, interessantemente, foi justo ontem, durante a ausência de internet. Estava um dia lindo, e eu queria muito levá-las ao parquinho ou brincar lá fora. Mas um torcicolo acachapante me impedia  e mesmo o relaxante muscular que eu tomara não fizera nem cócegas. Meio de mal humor, catei o celular e comecei a torrar minha franquia de internet fuçando por aí. Lá fui eu de novo do SeisMaisDois para ler o post novo. E de novo comecei a mergulhar, mergulhar, mergulhar. Ouvi as crianças fazendo sabe-se lá o quê no quintal, e de novo aquilo me despertou.

"Quem quer fazer um bolo com a mamãaaaaaeeeee???"

Diga-me se esse bolo não ficou lindo. :)
Lembrando do bolo de alecrim da Maria, resolvi testar um bolo de louro e laranja do David Leibovitz, cuja receita eu anotara antes de vender o livro. Mal sabia eu que havia encontrado o melhor e mais fácil pound cake que já fiz. Eu AMO pound cakes. São meus bolos favoritos, por conta da textura compacta. Quero muito depois omitir o louro e a laranja e simplesmente fazer um pound cake de baunilha usando essa receita, que além de tudo não precisa de batedeira. :) O truque de colocar uma linha de manteiga no centro do bolo produziu o pound cake mais lindo da minha vida. (Aliás, eu cortei a manteiga gelada em tirinhas bem fininhas com uma faca afiada e montei a linha, ao invés de às colheradas ou com saco de confeitar, como ele sugere.)

Laura veio correndo me ajudar a fazer o bolo, quebrou os ovos,  misturou tudo, ajudou a lamber a tigela no fim e depois a cobrir com o glacê aromático e crocante. E não fui só eu que adorei. Achei que as crianças estranhariam o sabor do louro, que fica bem forte, mas o bolo fez um sucesso estrondoso.

A foto não faz jus ao bolo. Mas tiver de correr pra fotografar antes que ele acabasse.

Inspiração não serve de nada se não inspirar ação. Se não fizer você se mexer, não é inspiração, é entretenimento, é distração. Inspiração de nada serve se só te traz aquela nostalgia melancólica de algo que você nunca viveu.



Noutro momento desses, inspirada pelos blogs minimalistas, embalando os livros que vendera, pensei na receita de gougères do livro da Dorie Greenspan que já estava empacotado para o correio. Deu-me uma vontade imensa de gougéres, e me dei conta de que já fizera éclairs e profiteroles, mas nunca sua versão salgada. Antes que me arrependesse de me despedir do livro, lembrei-me que havia uma receita no I Know How to Cook, minha bibliazinha de cozinha francesa. Em pouco mais de meia hora havia gougères quentinhas saindo do forno, que a pimpolhada recheou com manteiga e devorou no lanche da tarde. Consegui guardar alguns para comer depois com uma tacinha de vinho, versão sanduichinho, com manteiga, uma fatia fina de tomate bem maduro e folhinhas de rúcula. Os dois que sobraram foram de lanche da escola no dia seguinte, exatamente como meus sanduichinhos adultos, pois apesar de serem preparados exatamente como os nossos pães-de-queijo, os gougères se conservam maravilhosamente bem de um dia para o outro. Pão de queijo francês perfeito para o lanche da escola, Fica a dica.


Encerro o texto aqui, com essas receitas deliciosas, pois está na hora de buscar as crianças na escola e eu quero aqueles meus dez minutinhos para terminar de ler A Luneta Mágica, do Joaquim Manuel de Macedo. Que livrinho bom!

Torcendo para que esse texto inspire a ação de muita gente. ;)

(Disclaimer: aqui todo mundo lê bastante mas todos vêm TV e jogam video-game - com supervisão.)

BOLO DUPLO DE MILHO
(Do livro Baking Chez Moi, da Dorie Greenspan)
Rendimento: 1 bolo em forma de bolo inglês

Ingredientes:
  • 1 3/4xic (203g) farinha de milho
  •  1 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1/2colh (chá) sal
  • 1/2colh (cha) grãos de coentro moídos
  • 115g manteiga em temperatura ambiente
  • 1 xic (200g) açúcar
  • 3 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 3 colh (sopa) leite integral
  • 1 xic. (125g) grãos de milho frescos cozidos, descongelados ou em lata (escorridos e secos em papel toalha)

Preparo:
  1. Unte uma forma de bolo inglês de uns 22cm, enfarinhe e coloque a forma sobre uma assadeira. Pré-aqueça o forno a 180oC.
  2. Numa tigela, misture com um fouet a farinha de milho, fermento, sal e coentro. 
  3. Na batedeira, bata a manteiga em velocidade média, até que fique cremosa. Adicione o açúcar aos poucos e bata por 2 minutos, até que esteja bem misturado. Não tem problema se ficar um pouco granuloso.
  4. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição.
  5. Em velocidade baixa, junte os ingredientes secos. Como o milho não tem glúten, não precisa se preocupar se bater demais, mas você só precisa de uma massa amarela e uniforme. Junte o leite.  
  6. Adicione o milho e misture com uma espátula para espalhar bem os grãos.  Aproveite para verificar se não ficou nenhum ingrediente seco mal misturado no fundo da tigela.
  7. Derrame na forma, alisando a superfície para que fique uniformemente espalhado. Leve ao forno por 55-65 minutos, até que uma faca saia seca do meio. Se depois de 30-40 minutos, o bolo estiver dourando demais, cubra com um telhadinho de papel alumínio, solto. 
  8. Transfira o bolo para uma grade e deixe que esfrie por 5 minutos pelo menos antes de tentar desenformar.

BOLO INGLÊS DE LOURO E LARANJA
(Do livro My Paris Kitchen, de David Lebovitz)
Rendimento: 1 bolo inglês

Ingredientes:
(bolo)
  • 6 colh. (sopa) (90g) manteiga + 1 colh (sopa)
  • 10 folhas de louro, frescas ou secas
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1 xic açúcar
  • 1 colh. (chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 3 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 1/2 xic creme azedo (sour cream: creme de leite fresco + 1 colherinha de vinagre, deixado por algumas horas em temperatura ambiente)
  • Casca ralada de 1 laranja
  • 1/2 colh (chá) extrato natural da baunilha
(glacê)
  • 1 xic açucar de confeiteiro, peneirado
  • 1 1/2 - 2 1/2 colh (sopa) suco de laranja fresco
  • 1 colh (chá) licor de laranja, como Grand Marnier ou Cointreau

Preparo:
  1. Numa panela pequena, derreta os 90g de manteiga com 3 folhas de louro. Desligue o fogo, tampe e deixe em infusão por 1 hora. 
  2. Pré-aqueça o forno a 180oC. Unte com manteiga uma forma de bolo inglês de uns 22cm de lado, enfarinhe e forre o fundo com papel-manteiga. 
  3. Passe um pouco de manteiga em uma das faces das folhas de louro restantes (o jeito mais fácil é simplesmente esfregar de leve a folha na superfície do tablete de manteiga) e posicione as folhas no fundo da forma, com a parte amanteigada virada para baixo. As folhas não serão comidas. Elas apenas darão sabor ao bolo. Na hora de cortar as fatias, elas são descartadas.
  4. Numa tigela grande, misture a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. 
  5. Em outra tigela, misture os ovos, o creme, as raspas de laranja e a baunilha até que fique homogêneo.
  6. Reaqueça a manteiga da panela, para que se liquefaça novamente e descarte as folhas. 
  7. Use uma espátula para misturar os ovos à farinha apenas até que esteja homogêneo. Então junte a manteiga e misture até que a manteiga seja absorvida. 
  8. Derrame na forma com cuidado para não mover as folhas. Alise a massa com a espátula. Então, disponha a manteiga restante por cima da massa, fazendo uma linha central no sentido do comprimento. (Achei mais fácil cortar tiras bem finas da manteiga do que fazer às colheradas). 
  9. Leve ao forno por 40-50 minutos, até que uma faca inserida no centro saia limpo. 
  10. Deixe que esfrie por 10 minutos sobre uma grade e então desenforme, retirando o papel manteiga da parte debaixo. 
  11. Quando esfriar, prepare o glacê, misturando todos os ingredientes até obter uma pasta lisa e opaca e que escorra devagar pelo bolo. Espalhe por cima do bolo e deixe que solidifique completamente. 
 GOUGÈRES
(Do livro I Know How to Cook, de Ginette Mathiot)
Rendimento: 6 porções (cerca de 3 por pessoa, dependendo do tamanho)

Ingredientes:
  • 1/2 xic manteiga sem sal (cerca de 100g)
  • 1 colh (chá) sal
  • 1 xic. farinha (cerca de 125g)
  • 4 ovos grandes, batidos
  • 1 3/4xic queijo Gruyère ralado 

Preparo:
  1. Numa panela grande, aqueça 1/2 xic água, a manteiga e o sal até que a manteiga tenha derretido, e então deixe abrir fervura. 
  2. Imediatamente e de uma vez, adicione a farinha, misturando energicamente com uma colher de pau. Abaixe o fogo para o mínimo e continue batendo por cerca de 1 minuto, até que a mistura se desprenda facilmente das laterais da panela. 
  3. Unte um prato grande com um pouco de manteiga e espalhe ali a massa e deixe que esfrie até temperatura ambiente. 
  4. Volte a massa para a panela desligada e junte os ovos gradualmente, até obter uma massa lisa, uniforme e brilhante. (Essa é a massa choux salgada. Se junto do sal, você usar 1 1/2 colh (sopa) de açúcar, voilà, você tem a pâte à choux doce para éclairs e profiteroles).
  5. Junte o queijo, misturando até que ele esteja bem espalhado. 
  6. Pré-aqueça o forno a 220oC. Unte uma assadeira grande com manteiga. 
  7. Com um saco de confeitar, ou uma colher, disponha porções de massa do tamanho de ovos pequenos, dando alguns centímetros de espaço para que os pãezinhos inflem. 
  8. Coloque a assadeira no forno e imediatamente reduza a temperatura para 205oC. Asse por 15-20 minutos para gougères individuais como esse, até que fiquem bem inflados e mais dourados do que você deixaria pães de queijo brasileiros. Atenção, pois se não assarem o suficiente (como aconteceu com minha primeira leva, que achei que já estavam dourados o bastante), eles desinflam. 
  9. Retire e sirva-os com o recheio que quiser, quentes ou em temperatura ambiente. Guarde os restantes embrulhados num pano de prato para que se conservem frescos até o dia seguinte. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Verão, refeições colaborativas, cozinhando sem me dar conta

Basler Leckerli depois de cortado.


Ah, o verão.

Esse bafo quente do inferno.
Esse ar parado onde só se movimentam mosquitos.
Essa vontade de me jogar no sofá em frente ao ventilador e permanecer ali até a noite chegar.
Esse asfalto quente que queima as patas do cão quando a gente sai pra passear.
Esse sol escaldante que torra a nossa nuca enquanto a gente tenta ler no parquinho que não tem sombra.
Essa chuva à tarde que frustra todas as minhas tentativas de levar as crianças pra passear na cidade.
As moscas.

Ah.

O verão.

Dezembro passou num piscar de olhos e com alívio. Natal e Reveillon com a família foram muito muito bons, mas parece que mesmo não mexendo minha busanfa para fazer ceia nem nada, ainda assim os compromissos, o trânsito caótico de São Paulo e o preço das cerejas deixa você meio que em estado irritadiço e ansioso o tempo todo. Quando você se dá conta, está de férias há um mês, mas parece que alguém esqueceu de avisá-lo disso, pois você nem passeou nem descansou durante esses trinta dias que passaram voando.

Aquela velha rotina de infindáveis receitas de Natal durante Dezembro com certeza não existiu por aqui. Concentrei mais meu tempo em ficar com as crianças e colocá-las para me ajudar na cozinha do dia-a-dia propriamente dita.

Para não dizer que não fiz NADA-NADA especial para Natal e Reveillon, fiz sim. Coisas bem simples e muito poucas.

Fiz ESSES BISCOITOS de canela da Martha Stewart para dar às professoras no último dia de aula. No fim das contas, as crianças acabaram se animando e correram para escolher os cortadores. Para minha surpresa, eles foram extremamente cuidadosos e organizados, e os biscoitos saíram perfeitos. Tanto, que pensei que as professoras não acreditariam em mim quando dissesse que eles os haviam feito. :P

Também fiz, a pedido do marido, e novamente com a ajuda da pimpolhada empolgada, os Spekulatius de sempre, receita AQUI NO BLOG.

Esse ano combinamos de só dar presentes para as crianças. Mas como minha sogra e meus pais se encarregaram da ceia, e eu não queria ir assim tão de mãos vazias, resolvi fazer um biscoito suíço chamado Basler Leckerli, do livro Minha Cozinha em Berlim, da Luisa Weiss, que fora presente de Natal de minha sogra há uns bons anos atrás, e foi um dos livros que mantive por ter algumas receitas alemãs que eu ainda queria testar - essa entre elas. Os biscoitos, que com o passar dos dias vão ficando mais sequinhos e crocantes, e que meus filhos chamaram de "biscoito de balinhas", por causa das frutas cristalizadas coloridas, para mim tinham gostinho bom de panettone, e foram embalados e dados de presente para a família na noite do dia 24.

Basler Leckerli antes de separar.


BASLER LECKERLI
(Do livro Minha Cozinha em Berlim, de Luisa Weiss)
Rendimento: cerca de 40 biscoitos de 2,5cm

Ingredientes:
  • 3/4 xic mel
  • 1/3 xic açúcar + 1 colh (sopa)
  • 1/4 colh (chá) sal
  • 2 1/2xic. farinha de trigo
  • 2 colh (chá) fermento químico em pó
  • 1 ovo grande
  • raspas da casca de 1 laranja orgânica
  • raspas da casca de 1 limão-siciliano orgânico (usei taiti)
  • 1/8 colh(chá) noz moscada ralada
  • 1/8 colh (chá) cravo em pó
  • 1 1/2 colh(chá) canela em pó
  • 2/3 xic. (rasa) de amêndoas sem pele, bem picadas
  • 3/4 xic.casca de laranja cristalizada, bem picada (ou substiua as duas cascas cristalizadas pelas mesmas quantidades de frutas cristalizadas sortidas, como eu fiz)
  • 3/4 xic. casca de cidra cristalizada, bem picada 
  • 1/4 xic. açúcar de confeiteiro
Preparo:
  1. Numa panela em fogo médio, derreta o açúcar, mel e sal e passe a mistura para uma tigela. deixe esfriar. 
  2. Aqueça o forno a 190oC. Em outra tigela, peneire a farinha e o fermento.
  3. À mistura de mel, junte o ovo batido, as raspas, as especiarias e 2/3 da farinha. Misture bem enquanto acrescenta as amêndoas e as frutas cristalizadas. Junte o restante da farinha e misture. A massa fica bem dura.
  4. Forre uma assadeira grande (50x30cm) com papel-manteiga ou silpat. Unte as mãos e aperte a massa na assadeira, espalhando, até que fique com pouco menos de 0,5cm de espessura e mais ou menos uniforme. 
  5. Coloque a assadeira no forno e asse por 15 minutos. Abaixe o fogo para 175oC e asse por mais 10 minutos ou até que esteja dourada e ligeiramente inchada. Cuidado para não queimar embaixo. 
  6. Quando a massa estiver quase pronta, prepare o glacê. Numa panela, em fogo médio-alto, coloque o açúcar de confeiteiro e 2 colh (sopa) de água. Cozinhe até que a água tenha evaporado e o glacê esteja formando bolhas grandes. Ainda deve estar mais líquido que grosso, para poder espalhar. 
  7. Retire a massa do forno e imediatamente cubra com o glacê, usando um pincel para ajudar a espalhar. 
  8. Imediatamente corte a massa em quadrados de 2,5cm, sem retirar da assadeira. (Se estiver usando um silpat, use uma espátula ou um raspador de pão, pois uma faca pode danificar o silpat.) Deixe esfriar até temperatura ambiente. Então separe os quadradinhose guarde em um pote hermético por até 2 meses.
Aliás, continuo mandando embora meus livros de cozinha, e às vezes, quando surge um arrependimento, uma receita que eu queria mas não tenho mais, corro para a internert, onde tenho redescoberto alguns blogs. Nisso, reencontrei o Wednesday Chef, da Luisa Weiss, e descobri que ela fizera um livro inteirinho de baking da Alemanha que parece puro amor. Confesso que me deu um comichão imenso para comprar o livro, mas me refreei, pelo menos por enquanto. O processo é de "down sizing" e economia, então não convém botar nada de novo na casa que não seja absolutamente necessário. Ao invés disso, resolvi testar as receitas do livro que encontrei disponíveis por aí net afora. Na própria página da Amazon, fiquei namorando a foto dos pãezinhos em forma de croissants, cobertos de sementes de papoula, mas a única página que se podia visualizar era a dos ingredientes. Sem problemas, pensei. Pelos ingredientes deduzi como deveria ser o preparo, e assim fiz os danados, que nada mais são que pãezinhos de leite que se enrolam como os croissants e se cobrem de sementes. Uma delícia e muito fáceis, presumindo que o preparo dela era o mesmo que o meu... ;)

MOHNHÖRNCHEN
(adaptado do livro Classic German Baking, de Luisa Weiss)
Rendimento: 10-12 pãezinhos

Ingredientes:
  • 2 colh(chá) fermento biológico seco
  • 3 colh(sopa) açúcar
  • 1 colh(chá) sal
  • 3 colh(sopa) manteiga, derretida
  • 1 xic. + 2 colh(sopa) leite morno (ou temperatura ambiente se o dia estiver quente)
  • 1 ovo
  • 500g farinha de trigo
 (cobertura)
  • 1 gema de ovo
  • 1 colh (chá) leite
  • 1-2 colh (sopa) sementes de papoula
Preparo:
  1. Numa tigela grande ou na tigela da batedeira planetária, dissolva o fermento e o açúcar no leite morno e deixe espumar por uns 5-10 minutos.
  2. Junte o sal, a manteiga, o ovo e a farinha e misture bem até formar uma massa. Sove por 5-10 minutos, à mão ou com o gancho da batedeira, até que ela fique lisa e elástica
  3. Forme uma bola, coloque numa tigela untada e cubra com filme plástico.  Deixe fermentar por 1 hora ou até que dobre de tamanho.
  4. Abra a massa com um rolo numa superfície ligeiramente enfarinhada, até obter um retângulo de mais ou menos 50x20cm. Corte 10-12 triângulos (use as sobrinhas da massa para abrir novamente em forma de triângulo). Como com croissants, segure as duas pontas da lateral mais estreita do triângulo e puxe um pouco para fora, fazendo orelhas. Então comece a enrolar em direção à ponta, apertando para que o rolinho fique compacto. Coloque numa assadeira forrada de papel manteiga ou silpat, com a pontinha enrolada para baixo (para que não se abra durante o cozimento) e entorte as pontas externas para que fique curvo como uma meia-lua. Repita com os triângulos restantes. 
  5. Cubra com um pano de linho ou coloque a assadeira dentro de uma sacola plástica grande e deixe fermentar por mais 45 minutos ou até que os crescentes dobrem de tamanho novamente. 
  6. Pré-aqueça o forno a 205oC. 
  7. Misture o ovo e o leite da cobertura num potinho. Pincele a mistura em todos  os pãezinhos e polvilhe com as sementes. Leve ao forno por cerca de 25 minutos, ou até que estejam dourados e emitam um som oco quando lhes bater os nós dos dedos na parte debaixo. Retire-os da assadeira e deixe que esfriem sobre uma grade. Depois de frios podem ser congelados dentro de sacos plásticos ou se mantém frescos de um dia para o outro, bem envoltos num pano de prato. 
Mas ainda para o Natal, a noite do dia 24 fora responsabilidade dos outros, mas o almoço do dia 25 foi a bagunça daqui de casa. Minha irmã me pedira encarecidamente pela PASTINHA DE FIGO SECO E AVELÃS que ela pede todo ano desde aquele almoço de Natal há um milhão de anos, e que, tendo encontrado ambos mais baratinho num mercado de São Paulo (porque onde moro você tem que vender um rim para comprar castanhas e frutas secas), resolvi fazer.

Minha mãe trouxe uma carne de panela da minha infância, um lagarto fatiado fino e comido frio, sempre ótimo pro bafão quente de verão, e eu acompanhei com o clássico Orecchiette al forno do Jamie Oliver que é sempre bom e uma torta de alho poró muito simples da Tessa Kiros, do livro Twelve, que foi devorada. O bom tanto do prato de massa quanto da torta é que eu pude preparar no dia anterior. Então no dia 25 mesmo, pude acordar com calma e me concentrar apenas em deixar a casa em ordem e passar maquiagem o bastante para cobrir a cara de ressaquinha. ;)

Meu pai havia dito que traria casquinha de siri de entrada, um clássico familiar que em tempos difíceis fora feito até com atum em lata, e o que era para ser uma entradinha meio que virou almoço, e todos comemos tanto que quase não sobrou espaço para o almoço de fato.

Quando chegou a hora da sobremesa, já era quase hora do jantar, na verdade. Eu preparara um repeteco de um SORVETE DE LIMÃO simples e refrescante (sorvete é sempre bom de fazer, porque você pode fazer com uma semana de antecedência e ficar sossegada até o dia do evento) e era para ser apenas isso. Não tivesse eu no dia anterior tido um siricotico e resolvido de última hora preparar uma receita de brownies de cappuccino de uma revistinha de Natal da Martha Stewart. Eu adoro aquela revistinha específica e acho que já fiz quase todas as receitas dela. Lembrava desse brownie, que eu jurava que tinha vindo parar no blog, e o que me lembrava era de que ele tinha ficado bom mas meio sequinho. Então resolvi mexer na receita. E troquei metade do açúcar orgânico branco pelo mascavo, para trazer tons de caramelo ao sabor e deixá-lo mais "fudgy". Também omiti as gotas de chocolate. E usei chocolate 80% (tenho usado da marca Casino, do Pão de Açúcar) no lugar do unsweetened. Mas acho que o pulo do gato foi a forma. Da primeira vez que fiz, usei minha forma de alumínio quadrada de 20cm, que eu nunca forro porque tem fundo removível. Desta vez, usei minha forma de vidro quadrada de 21cm e forrei com papel manteiga. Não parece muita coisa, mas o brownie ficou mais fino e não secou tanto. O resultado foi maravilhoso. Tomei cuidado de tirar do forno ainda molinho no meio, e os brownies ficaram perfeitos, dignos de infinitos repetecos. :) Receita AQUI.

No Reveillon, meu pai preparou um belo pernil assado para fazermos sanduíches. Foi todo um exagero em que todos da família trouxeram comida e acabou que no fim da noite não houve uma pessoa sem uma quentinha embaixo do braço cheia de sobras gostosas. Sobrou tanto pernil aqui em casa que ele rendeu diversas refeições. No dia primeiro do ano foi sanduíche no almoço e jantar, pois ainda tinha muito pão e muito vinaigrette do meu pai. No dia 2, refoguei um pouco de cebola, gengibre, cebolinha e pimenta fresca em óleo de gergelim, juntei o pernil desfiado e arroz branco de transantontem, temperei com um pouco de vinagre de arroz e shoyu e comemos esse stir-fry muito bom acompanhado de uma saladinha de repolho roxo, cenoura, cebolinha e amendoim torrado. O restante do pernil já havia sido desfiado e incorporado a um molho de tomate com alecrim e louro, e esse ragù rápido foi congelado em 3 porções generosas para ser comido depois, com pappardelle feito em casa ou polenta quentinha. Isso porque eu já congelara o pernil desfiado ano passado, e ele queimara e estragara. Envolta em molho, não há chance da carne queimar de frio.

Os ossos do pernil foram para o Gnocchi, claro, que se esbaldou.

Como todos voltariam dirigindo tarde da noite do Reveillon aqui em casa, pensei numa sobremesa diferente, para dar uma acordada no povo. Nesse calor dantesco, sorvete parecia o mais apropriado outra vez: por ser refrescante e por ser prático de fazer - de novo eu poderia fazer com antecedência. Fiz um SORVETE DE CHOCOLATE REPETIDO DAQUI a pedido das crianças, mas para os motoristas de plantão, o escolhido foi uma GRANITA de café bocoió de fácil, que apesar dos olhares desconfiados de todo mundo, acabou sendo sucesso... até com os pimpolhos! O segredo da granita de café, além de usar café saboroso e forte, é servir com chantilly batido na hora e com quase nada de açúcar, pois a granita já é surpreendentemente doce. O chantilly cremoso é um contraste delicioso aos cristais de gelo da granita, e não houve um só comensal que não tenha sentindo o PUNCH! do café na madrugada.

GRANITA DE CAFÉ
(do livro The Perfect Scoop, do David Leibovitz)
Rendimento: ele diz que dá tipo 6 porções, mas acho que nessa quantidade da foto serve 8-10 pessoas)

Ingredientes:
  • 4 xic. (1 litro) de café espresso ou café bem forte ainda quente
  • 1 1/2 xic. (300g) açúcar

Preparo: 
Dissolva o açúcar no café quente, mexendo com uma colher até que desapareça. Despeje numa assadeira de 20x30cm e bordas altas e leve ao freezer tomando mais cuidado do que eu tomei: fui empurrar a assadeira no freezer, o café balançou lá dentro e derramou no chão do freezer e eu tive de ficar limpando aquela joça naquele calorão de 35oC, torcendo pra tudo lá dentro não derreter enquanto isso. Bom... Deixe 1 hora no freezer. Retire, misture ou raspe com um garfo e leve de novo ao freezer. Vá checando a cada meia hora ou a cada hora, e raspando com o garfo. Vai depender da potência do freezer. Você vai fazer isso acho que umas seis vezes até obter aquela boa consistência de raspadinha. Pode parar e deixar no freezer até a hora de servir. Pronto. Bocoió de fácil. 


No fim, em Dezembro eu descobri que toda aquela alegria das férias de inverno era provocada pelo... inverno. E que no calorão eu realmente não estou afim de brincar de pega-pega ou ficar três horas debaixo do sol no parquinho. Quando mais nova eu brincava que minhas células eram fotovoltaicas, e eu só funcionava em dia de sol. Aparentemente meu organismo evoluiu para sistemas mais avançados e sensíveis e eu claramente preciso de refrigeração para meu melhor funcionamento.

Produtividade zero no verão.

Janeiro portanto começou com as crianças indo passar uns dias na casa da avó. Eles não aguentavam mais olhar para a cara da mãe e essa mãe aqui aproveitou a tranquilidade para... descansar? Não. Trabalhar, que graças à boa vontade do universo esse ano o trabalho promete voltar ao ritmo normal, e fechei três encomendas diferentes durante as festas. Ieeeei!

Antes de a pimpolhada se jogar nos braços dos avós que levam pra tomar sorvete todo dia, mamãe preparou waffles de ano novo para a criançada. A boa e velha receita de sempre, fofinha por dentro, crocante por fora, de quem, de quem? Da Tessa Kiros. Eu jurava que essa receita estava no blog, mas aparentemente foi só para o facebook na época em que eu ainda usava aquela joça. Então deixe-me corrigir isso:


WAFFLES
(do livro Apples for Jam, da Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 2 ovos, separados
  • 1/3 xic. açúcar (uso o baunilhado e omito a baunilha depois) 
  • 1/2 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 4 1/2 colh (sopa) manteiga, derretida
  • 3/4 xic. leite
  • 1 1/2 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh (chá) fermento químico em pó
Preparo:
  1. Numa tigela, bata com um fouet as gemas e o açúcar até que fique homogêneo e claro. 
  2. Junte a baunilha e a manteiga derretida e misture bem.
  3. Junte o leite e quando estiver incorporado, a farinha e o fermento. A massa ficará espessa. 
  4. Bata as claras em neve e incorpore à massa anterior. Aqueça o ferro de waffle e asse cerca de 1/3 xic. por vez. Rende o bastante para uma família de quatro gulosos se esbaldar. 
Pimpolhada continuou no bom e velho maple syrup trazido da Califórnia pela titia Maria Rosa, e eu bati um pouco de chantilly com pouco açúcar e comi meus waffles quentinhos com minha compota de cereja, feita com as cerejas que ganhei de Natal da minha mãe, que sabe do que eu gosto. :) Lembrei imediatamente da viagem a Amsterdam, há tanto tempo, e dos waffles servidos da mesma forma que comi por lá. Delícia.

Daí que no meio da correria louca de dezembro, cada evento pareceu parar um pouco o tempo e durar o bastante para aproveitarmos. Cada um fez um pouco e ninguém ficou (muito) cansado, e acho que esse foi o melhor Natal e Reveillon que tivemos nos últimos anos. Foi um fim de ano caloroso e feliz, cheio de muita comida gostosa.

Acho também que preciso editar esse post e rever aquela frase lá em cima. Que para alguém que disse que não faria nada para o Natal, e que disse que preparara pouca coisa simples, fiquei besta com a quantidade de links para receitas que tive de inserir no meio do texto. Sem a pressão de PRECISAR fazer um monte de comida, acho que fui fazendo e nem me dei conta.

E vamos para 2017 então.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Planejamento, expectativas e Pizza de Natal


Eu costumava amar Dezembro. Era mês de férias, era mês de cozinhar quitutes de Natal, mês de planejar presentes e cartões... enfim. Aquela coisa toda.

Os anos foram passando e Dezembro começou a me causar sérias ansiedades. Era mês de férias, mas só das crianças, não minhas. Era mês de fazer quitutes de Natal. Mas tem piquenique da escola (prato salgado pra um, prato doce pra outra), tem que fazer biscoito pra dar pros professores, tem que fazer quitutes pra Nikolaus, tem que fazer quitutes pra todos os domingos de advento, tem que planejar a ceia como se fosse um banquete para o papa, tentanto agradar todo mundo mas principalmente tentando provar pra mim mesma que sou capaz de produzir uma ceia absurdamente fantástica, 100% feita em casa e orgânica. Tudo coordenado para não depender da banca de orgânicos que some por quase três semanas nessa época, tudo milimetricamente planejado para dar tempo de preparar todos os detalhes no meio dos amigos-secretos (eu odeio amigo-secreto), confraternizações de fim de ano, cantatas de Natal da escola, aniversários de amigos, trânsito infernal de fim de ano, correria pra comprar presente, e toda aquela expectativa de criar cem por cento de momentos mágicos e memoráveis para as crianças enquanto você tenta entregar rapidamente aquele trabalho super atrasado. E não dá tempo de fazer o calendário de advento que você planejou, ou os cartões de natal em aquarela que você imaginou para mandar para os clientes... Vinte quatro dias de Dezembro passam como se fossem 24 horas. Aquela coisa toda. 

O Gnocchi! Faz tempo que ele não aparece aqui! :D
(A árvore parece gigante. Mas é o ângulo da foto.)

Esse ano Dezembro chegou meio engraçado. Engraçado porque está sossegadíssimo.

Há uns meses atrás, meu HD externo corrompeu. E corrompidos foram os registros de todos os trabalhos que eu produzi nos últimos 5 anos. TUDO. Tentei todos os programas de reparação de HD, mandei pra assistência técnica especializada. NADA. Aquele mês terminou comigo num terreno baldio, gritando com todas as forças de meus pulmões ao atirar o HD quebrado contra um muro de cimento, uma, duas, cinco vezes, até ver aquele pequeno monte de lixo reduzido a pó. 

Se você comprou de mim um original alguma vez na sua vida, por favor me envie um email (lacucinetta@gmail.com) com seus dados (nome, telefone, qual obra foi comprada ou encomendada), para que eu possa ter um registro disso novamente. Agradeço de coração. (Voltei com a loja, agora http://anaelisagg.iluria.com, mas perdi todo o meu banco de dados. Quem já tinha comprado obras minhas e quer mais, fique de olho, que pretendo colocar uma obra diferente em oferta todo mês - está tudo com frete grátis.)

A perda dos trabalhos foi, como muitas outras bizarrices que aconteceram esse ano, um forçado mas positivo recomeço. Mudei meu jeito de ver meu trabalho, defini o que de fato quero, e parei de me estressar pela suposta falta de tempo. Quando chegam as férias, eu não fico mais frustrada por não ter para trabalhar aquelas horas matutinas em que as crianças estariam na escola. Eu dou um jeito, faço quando posso, e as crianças vão se acostumando a deixar mamãe trabalhar um pouco em paz. 

Então estou positivamente ansiosa pelas férias escolares. :)

Para podermos tomar café com calma e sairmos para passear sem hora para voltar, ou mesmo para podermos não fazer coisa nenhuma. Vai ser bom ter as crianças em casa o tempo todo, sem chegarem exaustas e irritadiças da escola. 

Não fiz nenhum quitute de Natal. Ainda. Mas também não acho que vá fazer mais nada além dos spekulatius que o marido pediu. Pensei no torrone, mas há alguns meses, num momento crítico em que havia uma grande necessidade de abrir mão do controle e me tornar uma pessoa mais relaxada, lembro-me de ter ficado fascinada com o senso de humor do universo, que começara a destruir meus instrumentos de medição e controle justo na área em que eu me considerava mais em necessidade de controlar: a cozinha. Derrubei meu termômetro de doces feito de vidro no chão sem querer, no mesmo dia em que minha balança de cozinha quebrou. o_O 

Tinha vontade de fazer panforte de novo para dar de presente, mas além de não ter papel arroz para comprar em nenhum lugar além das lojas do centro de São Paulo (onde eu realmente não quero ir em meados de Dezembro), continuo caindo pra trás com o preço das castanhas e das frutas secas, o que meio que mata qualquer plano meu de fazer... bem... qualquer quitute natalino, na verdade. 

Perdi completamente a vergonha de mandar tomates-cereja como "prato salgado" do piquenique da escola. Hoje entendo totalmente a mãe que manda um pacote de doritos, juro que entendo. Mas prático por prático, ainda prefiro mandar tomates. Não me martirizo mais.

Esse ano, na ceia de Natal, sou convidada. Não vou fazer patavinas. E se antes isso me frustrava, porque eu queria a oportunidade de fazer uma ceia toda imaginada por mim, agora eu realmente não ligo. Vai ser gostoso, vai estar bom, e se as crianças estão contentes, eu estou tranquila. O importante são as pessoas. 

Esse ano eu até consegui fazer cartões de Natal. Meia dúzia, só pros avós e pras tias. Mas fiquei feliz de ter feito com a pimpolhada, inspirada por um cartão lindo e uma série de gravuras que recebi láaaaaa da Inglaterra, de uma amiga querida que adora botar a família toda com a mão na massa. Foi mais legal e mais importante passar essa tarde juntos bagunçando com tinta no papel do que ficar preocupada com grandes produções artísticas impressionantes da minha parte. 

Dezembro está super ocupado daquelas coisas todas que se tem pra fazer nesse mês. Mas esse ano eu não estou estressada a respeito. Não vai ter nada natalino aqui no blog, porque, convenhamos, tem em todos os outros, e eu nunca faço nada de novo, na verdade, até porque essa variação louca de temperatura e a chuva andam me tirando a vontade de ficar fazendo doces sensíveis à umidade e à temperatura, e especiarias não andam me apetecendo muito - estou preferindo sabores mais frescos. Ao invés disso, vai ter pizza. Porque nada diz menos Natal do que pizza. 

Acho lindo (mesmo) esse povo que diz que todo domingo faz pizza, toda segunda faz pão, terça é dia de macarrão, etc. Li um pouco a respeito de planejamento de refeições e por um instante até achei que conseguiria seguir um plano alimentar para tentar reduzir custos e facilitar a vida. Mas a verdade é que se em todo o restante da minha vida eu sou a senhora-listas-e-planilhas, a cozinha hoje é meu cantinho libertário da improvisação. Adoraria saber improvisar em conversas com estranhos com a mesma facilidade e prazer que improviso com ingredientes desconexos da geladeira. Não dá.

Morri de felicidade adolescente ao comprar uma agenda nova para o ano que vem, prevendo o modo como vou organizar meus dias, separando compromissos de tarefas, planejando projetos pessoais... mas na cozinha, ainda que adore minha listinha de ingredientes na porta da geladeira (com tudo o que tem lá dentro de fresquinho, listado em ordem decrescente de validade, para não deixar nada estragar e saber o que tem uso prioritário), confesso que adoro ir à feira sem nenhuma receita em mente, e abrir a geladeira numa terça-feira e decidir fazer pizza porque sim. E chegar na sexta e decidir outra coisa completamente diferente e não planejada. Até porque me parece que toda vez que planejo com muito afinco uma refeição especial, é esse o dia em que o Allex fica preso no trabalho, as crianças estão birrentas de sono, o gás acaba, eu corto o dedo, o ingrediente principal revela-se inexplicavelmente estragado bem no meio do preparo. Então dane-se. Não planejo mais nada, não tenho nenhuma expectativa. Faço pizza quando tem ingrediente de pizza e paciência pra fazer pizza. 

Talvez por isso Dezembro esteja correndo tranquilo. 

Não planejei nada. Não planejei quitutes, não planejei presentes, não planejei calendários de advento. Comprei um chocolate de qualidade para cada filho às oito e meia da noite do dia 5 de dezembro pra botar no sapato deles em Nikolaus. Eles amaram. E eu não fiquei me martirizando para fazer docinhos especiais. No dia em que lembrei da árvore de Natal, saí e comprei a danada na primeira loja de jardinagem que achei e botei as crianças para montar. Todos os enfeites ficaram na frente e embaixo, claro. E eu não liguei. Ficou ótimo, e a pimpolhada ficou super orgulhosa. E conforme o rabo do Gnocchi foi abanando e derrubando os enfeites na parte debaixo, eu fui catando e pendurando em cima.

Aí resolvi fazer sim biscoitos para as professoras. Tinha a expectativa de poder dizer que as crianças haviam feito, pois os dois SEMPRE fazem biscoitos comigo. Só para ser do contra, desta vez, quando chamei para que me ajudassem, toda empolgada, ouvi deles um entendiado "ah, mãe, a gente não está afim agora não..." É o fim do significado especial dos biscoitos e do momento mágico que eu tinha imaginado? Neh. Fiz a massa e disse que avisaria quando fosse cortá-los e assá-los caso mudassem de ideia, e ficou por isso mesmo. Sem grilo. Afinal, bons momentos a gente não cria: eles acontecem porque estamos neles, presando atenção e de coração aberto. 

Eu tinha muitos planos e muitas expectativas para muitas coisas na minha vida. E o engraçado é olhar às vezes e perceber que saiu tudo absolutamente ao contrário do que eu tinha planejado. Ainda bem. :) Esse foi o ano das expectativas frustradas, das grandes decepções, dos pequenos sustos, mas, principalmente, o ano da reconstrução, do fortalecimento e da compreensão. Foi o ano em que percebemos aqui em casa que expectativas são uma grande bobagem e que planejamento não quer dizer firmar cada detalhe em concreto para garantir que a decepção não virá, mas simplesmente estar preparado para os obstáculos e maleável para alterar os detalhes quando necessário. 

Foi o ano em que, depois de vinte anos cozinhando, finalmente aprendi a improvisar na cozinha, aprendi a criar sem precisar de livros, aprendi a fazer pães sem receita, sem balança, sem medidas, apenas sentindo a textura da massa entre os dedos. 

Eu nunca saberei o que é improvisar dessa forma na vida. Mas a pequenos passos, aprendo a manter os olhos fixos nos meus objetivos, mas os pés leves para buscar rotas alternativas que me levarão lá, sem transformar numa muralha uma pequena pedra no meio do caminho. 

Essa pizza que não é pizza vem do meu livro favorito de todos os tempos, como já falei umas oitenta vezes por aqui: da Tessa Kiros, Apples For Jam. O bichinho já tem páginas grudadas por respingos de comida, lombada rasgada de tanto puxar da estante, e eu não me canso de folheá-lo e cozinhar dele. No livro, ela chama de Pizza Rossa uma simples massa de focaccia, bem úmida, esticada bem fininha e coberta de espesso molho de tomate. Ela sugere nas notas cobrir com um punhadinho de queijo no meio do cozimento. Não tive dúvidas, e pus um punhadão de mozzarella de búfala, e parmesão, e manjericão. 

Da primeira vez que fiz, usei uma assadeira menor e ela ficou tão alta que poderia fazer sanduíches. Depois tentei na maior assadeira que tinha, e se meu forno comportasse, poderia ainda fazer maior. A base fica crocante por fora, inacreditavelmente macia por dentro e muito saborosa. A cobertura fica perfeita. O resultado é uma pizza mais bojuda, mas tão gostosa e fácil de fazer, que não quero fazer nenhuma outra. Fácil, porque você prepara a massa na batedeira planetária, deixa fermentando lá mesmo, e então apenas joga tudo na assadeira e, com mãos molhadas, empurra e estica a massa até preencher todo o espaço. Nada de sovar, nada de moldar, abrir, esquentar pedra de forno... Aqui em casa ninguém liga da pizza ser retangular. Mas claro que nada impede alguém de dividir a massa em duas assadeiras e puxá-las e esticá-las até que fiquem arredondadas. 

Você só precisa começar essa pizza cedo. Ela gosta de uma fermentação um pouquinho mais longa do que a outra receita de pizza. Ah. Então um pouquinho de planejamento ainda precisa. Mas as expectativas, nesse caso, se cumprem maravilhosamente. :)

PIZZA
(do livro Apples For Jam, da Tessa Kiros)

Ingredientes:
(massa)

  • 1 3/4 xic água morna
  • 2 1/4 colh (chá) fermento biológico seco
  • 1 colh (chá) mel
  • 1 1/2 colh (sopa) azeite
  • 4 3/4 xic. farinha de trigo
  • 1 1/2 colh (chá) sal

(molho)

  • 6 colh (sopa) azeite
  • 1 dente de alho grande, descascado e ligeiramente amassado
  • 2 latas de tomate pelado (às vezes eu uso uma só e reduzo pouco)
  • 1 colh (chá) sal
  • folhas de manjericão
  • mozzarella ralada grosso, à gosto


Preparo:

  1. Na tigela da batedeira (ou numa tigela grande, se não usar a batedeira), misture a água, o fermento, o mel, o azeite e 3/4xic de farinha até que fique homogêneo. Cubra e deixe fermentando por 20-30 mintuos, até que espume bem. 
  2. Junte o restante da farinha e o sal e sove na batedeira, com o gancho, por uns 5 minutos. Se não tiver a batedeira planetária, apenas jogue a massa de um lado para o outro dentro da tigela por uns 10 minutos. Não coloque mais farinha. A massa deve ficar sim bem melequenta, quase não mantendo forma. É essa umidade que vai deixar a massa macia e a casca crocante. Cubra a tigela com filme plástico e deixe fermentando por 1h30, ou até que dobre de tamanho. 
  3. Unte com azeite uma assadeira grande, a maior que você tiver, de uns 30x40cm, ou maior se tiver. Despeje a massa lá e, com mãos molhadas de água fria, empurre e estique a massa até que ela preencha uniformemente toda a assadeira, tentando não rasgá-la. Se ela ficar encolhendo, deixe que relaxe por uns minutos e tente outra vez. 
  4. Coloque copos ao lado da assadeira, nos cantos, e cubra com um pano, para que o pano não encoste na massa, ou vai grudar. Deixe fermentar por mais 1 hora. 
  5. Enquanto isso, faça o molho: aqueça o azeite e o alho, e quando ele perfumar, junte os tomates, o sal e o manjericão. Cozinhe por uns vinte minutos, até que o molho reduza um pouco. Se quiser, pode passar por um mixer para deixá-lo mais uniforme. Deixe que esfrie antes de usar. 
  6. Pré-aqueça o forno a 250oC. 
  7. Retire o pano de cima da massa. Como a uma focaccia, afunde ligeiramente as pontas dos dedos molhados por toda a massa, para criar bolsõezinhos de molho. Despeje uniformemente o molho por cima. Parece muito, mas fica bom. 
  8. Leve ao forno quente por 10 minutos. Retire, polvilhe com bastante queijo mozzarella (até com fatias de queijo prato eu já fiz, e fica ótimo), e volte ao forno por mais 10-15 minutos, ou até que a massa esteja ligeiramente dourada, crocante ao toque, e o queijo esteja derretido. Retire e corte para servir. 

terça-feira, 8 de março de 2016

O fim do Facebook e um pão de fermentação natural


É estranha essa sensação de estranhos aprovando uma decisão sua. Uma multidão de estranhos (dentre os quais alguns poucos nomes ou rostos mais ou menos conhecidos) aprovando sua decisão de comer mingau de aveia de manhã cedo. A mesma sensação de quando eu, aos cinco anos, mostrava um desenho para minha mãe e ela dizia que estava lindo e grudava na geladeira com um ímã de propaganda de farmácia que sempre saia voando ao primeiro vento forte na cozinha estreita em forma de corredor.

A mesma sensação de quando uma pessoa olha um quadro meu, um desenho feito aos meus quase quarenta anos, diz que está lindo, paga, leva para casa e bota na parede.

Eu pinto para mim, porque eu amo, porque eu preciso, porque o processo da transformação da tinta em imagem me fascina como fascina a transformação do meu cérebro quando eu aprendo um idioma, quando entendo um conceito novo, quando aperfeiçôo uma receita, quando resolvo uma birra infantil sem sair do sério, quando consigo saltar um buraco que antes me apavorava saltar.

Desenhei a vida toda mesmo antes de pensar em viver disso.

Para mim. Desenhei o que eu gostava e o que eu imaginava.

Mas a sensação infantil da aprovação que vem com a venda de uma obra é emocionante, é viciante, é fascinante.

E é uma versão infinitamente mais complexa e mais satisfatória do que a sensação de aprovação por eu ter fotografado meu iogurte.

Esses últimos meses de atividade no facebook foram um aprendizado. Primeiro, eles corroboraram com minha preguiça de escrever no blog, porque eu andava de fato sem ideias para textos, focando minha energia criativa em outras áreas da vida e sempre em dúvida se aquela receita era especial o bastante para ser publicada, uma vez que há hoje em dia mais receitas na internet do que gente que de fato cozinha.

É fácil postar no facebook. Não preciso baixar fotos da câmera, tratar, não preciso criar, escrever, revisar e revisar e revisar textos imensos.

Mas também é chato. Porque não consigo criar e escrever textos imensos. Que, mais do que qualquer receita, foi sempre o que me manteve nesse espaço, mesmo tendo por tantas vezes prometido parar com os posts. Eu gosto de escrever. Quase tanto quanto gosto de pintar.

E então o ato de fotografar meu mingau e postar meio parágrafo de receita apenas para mostrar uma rotina culinária virtuosa começou a me parecer frívolo, auto-indulgente e terminantemente inútil. Eu tentei me convencer de que aquilo inspiraria outras pessoas a se alimentarem melhor, mas a verdade é que eu só estava viciada nos comentários de apoio e nos likes.

Eu que sempre odiei facebook caí em sua rede feito um peixe atordoado.

Tentei me convencer de que eu precisava me manter no facebook pelo meu trabalho. Eu preciso ficar conhecida, diziam meus amigos. Mas conhecida pelo quê? Tanta gente no facebook que segue a página mas nunca leu o blog sequer sabe o que faço para viver. Quando as pessoas se referem a mim como "La Cucinetta" eu percebo que essa estratégia visualizada pelos meus colegas de trabalho saiu pela culatra. Quem me conhece por Ana Elisa veio do blog e conhece meu trabalho, e essas pessoas não precisam da interface do facebook, porque elas desenvolveram comigo um relacionamento através do blog pelos últimos dez anos. E isso é bem mais agradável. (Em tempo, não estou desmerecendo quem me conheceu através do facebook e nunca foi nada além de educado e agradável, mas apenas reitero minha preferência por uma interação mais pessoal.)

Os videos, exclusivamente sobre o meu trabalho, têm esse gostinho do blog. Essa sensação mais pessoal e mais criativa, que a linha de produção estéril e histérica de conteúdo no facebook  não tem.

Eu caí na pegadinha do facebook numa época em que meus amigos pararam de usar email fora do ambiente de trabalho e antes do wasapp surgir. Fora do facebook, perdi contato com muita gente, perdi eventos, e era difícil convidar as pessoas para o aniversário dos meus filhos. Entrei porque resolvi dar o braço a torcer e não ser tão retrógrada, tão resistente a mudanças. Com medo de não entender mais a tecnologia quando chegasse a vez dos meus filhos se enveredarem por ela.

Pareceu inofensivo no começo.

Então vi meu dia ser engolido pela torrente de informações inúteis na minha timeline. E descobri que você gasta um tempo brutal preocupado com a opinião de gente que não sabe nem onde você mora. E você fica irritado com discussões infrutíferas que você jamais teria na vida real com alguém que é de fato seu amigo. E você entende que na internet, muita gente que você admirava na verdade é um tremendo babaca. E você vê que convidar pro aniversário do seu filho via facebook é prático, mas clicar "eu vou" é tão fácil quanto esquecer de ir, e que a informalidade e a distância da internet só dá mais margem para a falta de respeito e de educação do ser humano.

Facebook consumiu meu tempo e meu bom humor. Acabou com minha paciência e com boa parte da minha fé na humanidade. Não é a toa que as pessoas mais tranquilas que conheço são aquelas que não tem conta em redes sociais.

Sinto há tempos uma necessidade de me fechar em mim mesma e no meu mundo, e encerrar meus conflitos e minhas opiniões em meu peito por tempo o bastante para que elas borbulhem para fora em forma de arte e pensamento construtivo, ao invés de serem cuspidas em fotos insignificantes e anedotas esquecíveis.

Da mesma forma que compreendi que não é a vida urbana que me repele, mas especificamente São Paulo, entendi que não é a vida online que repudio, é especificamente o Facebook e similares formas de ostentação de vidas forjadas.

Dá pra ver que muita coisa anda mudando dentro de mim. Essa busca incessante por um jeito meu definitivo de cozinhar, essa busca por uma forma mais saudável de me olhar no espelho, essa busca por um meio mais tranquilo de criar meus filhos, a busca por ter menos tralha, a busca por um lugar bom para morar, a busca por um bom modo de trabalhar e viver do meu trabalho, a busca por uma forma mais lúcida de me relacionar com o mundo digital. E isso envolve muitas idas e vindas, muitas decisões e arrependimentos, muitas tentativas e erros.

Talvez sejam os quarenta anos se aproximando. Fiquei em choque outro dia quando meu marido me lembrou de que eu faria 37 esse ano. Mas isso é assunto para outro post.

Eu entendo que as pessoas às vezes fiquem irritadas com minha volubilidade.

Eu mudo porque eu tento. Tentanto, eu experimento, e experimentando eu descubro o que funciona e o que não funciona para mim e para o momento que estou vivendo.

Facebook não funciona. Uma ferramenta que me parece boa porque corrobora com minha preguiça jamais será boa. Uma decisão que você tome baseada em preguiça jamais será a certa.

Estou encerrando todas as minhas contas no Facebook. Havia tempos já que mantinha minha conta pessoal tão somente por questões burocráticas: sou obrigada a ter uma conta pessoal para manter uma página profissional. Mas vinham meus amigos me perguntarem se eu havia visto isso ou aquilo na minha timeline, que eles haviam "me marcado", e eu só podia responder com um olhar curioso de quem não faz a mais pura ideia do que o outro está falando.

A profissional eu simplesmente não consigo me forçar a alimentar. O canal não me seduz. Mas sua existência me fez abandonar o blog onde eu descrevia minhas experiências e meus processos, e acho que isso foi uma perda. Quero voltar a alimentar o blog profissional com ilustrações e processos, pois ali as pessoas têm de fato acesso a todo o acervo do meu trabalho, ao contrário do facebook, onde não se consegue fazer uma busca decente de conteúdo e onde as informações são filtradas por algoritmos que decidem quem vai ver o quê baseado em quanto eu paguei ou deixei de pagar para a plataforma.

Mantenho o Pinterest (AnaElisaGaiarsaGranziera), que achei uma ferramenta agradável e útil para compilar conteúdo que me deixa de bom humor, e é um lugar bom para vocês verem que outras coisas eu preparei e gostei e que não vieram parar no blog.

Mantenho meu canal de trabalho no you tube (Ana Elisa Gaiarsa Granziera, ou Desenhoquê),  onde venho tentando explicar o que é de fato o meu trabalho. Volto logo com videos, assim que a vida se estabilizar, pois assim que voltei de férias durante o carnaval, marido teve apendicite, depois complicações, os horários das crianças mudaram... enfim. A vida acontece. Até o fim da semana tem video novo, e pretendo criar uma newsletter decente para quem se interessar em receber notícias a respeito de meu trabalho, como exposições, vendas, material novo.

Mantenho meu portfólio profissional (www.anaelisagranziera.com) e o blog de ilustração (www.anegg.com.br), que anda desatualizado pra burro, justamente porque fiquei jogando tudo no facebook, esse lugar onde a informação se perde e se inutiliza.

E aparentemente volto para esse blog em intervalos esparsos. Quando um conflito interno borbulhar em forma de texto.

Agradeço a quem apoiou as páginas do facebook até hoje. Peço desculpas pelo abandono. Agradeço quem continuou com o blog mesmo com ele às moscas. Talvez seja seu pensamento positivo insistente que me faça retornar sempre. Com certeza é esse relacionamento à distância, mas caloroso, que me faz ficar.

Os textos são mais longos, o "like" quase nunca é certo. Mas é como um pão de fermentação natural. É lento. É trabalhoso. Nem sempre dá certo. Mas o gosto que fica na boca é melhor. O prazer é mais duradouro. O aprendizado é garantido, mesmo quando não dá certo.

Eu nunca havia colocado receita de fermento natural no blog. Então aqui vai. Porque no fim, não é um bicho de sete cabeças. Mais do que técnica, exige intuição e atenção e sentidos apurados. Tudo aquilo que a interação fast food das redes sociais arranca de nossa experiência humana.

FERMENTO NATURAL
(do livro How to Bake, do Paul Hollywood)

Ingredientes:

  • 500g de farinha (+250g para cada alimentação) - de preferência orgânica, pois tem mais nutrientes para as bactérias; já fiz teste com a comum e não vai tão bem
  • 1 maçã orgânica pequena (precisa ser orgânica - você quer as bactérias na casca, não precisa nem lavar)
  • 360ml de água (morna se o dia estiver abaixo de 21ºC, temp. ambiente se estiver por volta de 24ºC e se gelada se estiver perto dos 30ºC ou superior)


Preparo:

  1. Rale a maçã com casca, apenas descartando o miolo. Misture aos 500g de farinha e à água até ficar mais ou menos homogêneo. (A minha farinha branca tinha acabado e usei uns 100g de farinha de centeio com sucesso.) A consistência que você quer é de mingau de aveia grosso. Ajuste a água se julgar necessário. Coloque a mistura num pote de vidro grande, tampe e deixe em temperatura ambiente por 3 dias. 
  2. Depois desse tempo, a mistura deve ter um cheiro adocicado como sidra e talvez escureça um pouco. Pode ter bolhas e até ter crescido. Descarte metade da mistura e alimente novamente com 250g de farinha e 170ml de água, ou o que for preciso para retornar a massa àquela consistência do primeiro dia (a massa tende a ficar mais líquida conforme o tempo passa.) Tampe novamente e deixe por mais 2 dias. 
  3. Depois desse tempo, a massa deve estar bem ativa, com muitas bolhas pequenas. Se nada estiver acontecendo, veja a lateral do pote, se há marcas de que a mistura cresceu e desinflou. Se isso aconteceu, está ativo. Se houver líquido sobre a massa, está ativo demais e o fermento já comeu tudo o que tinha: descarte o líquido, metade da massa e realimente, deixando por mais um dia. 
  4. Quando estiver pronto para fazer seu pão, descarte metade da mistura (ou, na verdade, guarde em outro pote para manter seu fermento, na geladeira, realimentando uma vez por semana), e misture 250g de farinha e água o bastante para criar uma massa bem molenga. (Você vai usar essa mistura toda para o pão, por isso guarde aquela parte que descartou para continuar com seu fermento.) Deixe por 24h.
  5. Quando a massa começar a borbulhar dentro desse tempo, está pronta para ser usada. Idealmente, ela deve estar grossa como massa para panqueca e borbulhante. Se não estiver, alimente outra vez e deixe por 2 dias. O tempo que seu fermento demora para amadurecer varia muito, dependendo dos ingredientes e do ambiente. Tenha paciência. 


PÃO SOURDOUGH BÁSICO
Rendiemento: 2 pães
Tempo de preparo: um montão.

Ingredientes:

  • 750g farinha de trigo orgânica
  • 500g fermento natural
  • 15g sal
  • 350-450ml de água (morna, temp. amb., ou fria/gelada, dependendo da temperatura do dia)


Preparo:

  1. Misture a farinha, fermento e sal em uma tigela grande. Junte 350ml de água aos poucos, misturando com as mãos e adicionando mais água se necessário, até formar uma massa macia e grosseira, e conseguir "limpar" a farinha da tigela. 
  2. Unte a bancada com óleo, despeje a massa e sove por 5-10 minutos, até a massa ficar macia e formar uma superfície lisa. A massa não deve ficar excessivamente grudenta nem chegar a ser seca. 
  3. Quando a massa estiver uniforme e sedosa, coloque em uma tigela untada, cubra com filme plástico e deixe em temperatura ambiente (algo entre 15-25ºC) por 5 horas ou até que pelo menos dobre de tamanho. 
  4. Prepare duas tigelas iguais para fermentar o pão, forrando com panos de linho (que não grudam na massa como panos de prato) e polvilhando com bastante farinha. 
  5. Sove a massa por alguns segundos, forme duas bolas iguais e coloque de cabeça para baixo as tigelas forradas e enfarinhadas. Polvilhe com mais farinha e embale as tigelas em sacos plásticos fechados, para não deixar a umidade escapar. Deixe em temperatura ambiente (entre 22-24ºC) por 10-13 horas. (Se o dia estiver muito quente e a massa estiver fermentando rápido demais, coloque na gaveta de legumes da geladeira por algumas horas.) A massa está pronta quando tiver pelo menos dobrado de tamanho e, ao pressionar seu dedo, a superfície volte ao normal devagar. Se a superfície estiver enrugada, passou do ponto. Retire da tigela, tente "espanar" o excesso de farinha, sove por alguns segundos, formando a bola novamente e deixe fermentar por mais 5-6 horas até dobrar de tamanho. 
  6. Para assar você tem duas opções. A opção do livro é de pré-aquecer o forno a 200ºC e forrar duas assadeiras com silpats. Inverta as tigelas nas assadeiras, retirando o pano, faça um corte na superfície do pão e leve ao forno um por vez por 30-40 minutos, até que doure e emita um som oco ao bater os nós dos dedos na parte de baixo. Minha opção é pré-aquecer o forno no máximo com uma panela de ferro dentro por meia hora, inverter o pão lá dentro, fechar a tampa e assar por 30 minutos e depois mais 15 sem a tampa. Isso sempre me dá uma crosta mais crocante e mais dourada, mas suspeito que seja por conta de defeitos no meu forno que isso não aconteça de outra forma. Fica a critério do freguês. 


Esse pão fica deliciosamente azedinho. Eu tinha parado de fazer sourdough, engolida pela preguiça e alguns resultados ruins, mas fiquei louca de vontade de novo depois de assistir à série Cooked, na Netflix.

Mesmo que seu sourdough não dê muito certo da primeira vez, fique achatado, sem cor, denso, o que for: ele ainda renderá excelentes torradas ou croûtons, melhores do que qualquer uma que você já tenha comido. Se nem isso, pelo menos excelente farinha de rosca. ;) Vale a tentativa.

Até o fim da semana devo encerrar o facebook. Então se você quiser algo que sabe que está lá, tem tempo de dar uma última fuçada. ;)


Cozinhe isso também!

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