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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sopa japonesa de cogumelos e a redenção do kombu

Estou aqui para provar minha própria teoria, e confirmar que realmente não há nada de se comer de que eu não goste. A teoria: não é do ingrediente que você não gosta, mas do jeito como ele foi preparado. A confirmação: kombu.

Minha única experiência com o kombu, essa alga grande, estranha, cuja manipulação apenas me traz em mente aqueles enormes aquários de três andares com colunas inteiras de algas se movimentando devagar ao passar dos peixes, foi totalmente traumática. Ao ponto de decretar com todas as letras que finalmente encontrara algo de que não gostava no mundo. No entanto, sempre parto do princípio de que, considerando que outras pessoas apreciam muito o ingrediente X, é mais provável que eu não o tenha preparado direito do que o ingrediente ser simplesmente ruim.

Eu ando completamente fascinada por receitas orientais. Sei que é horrível dizer "oriental", como se fosse tudo farinha do mesmo saco. Mas considerando que meu livro de referência faz um apanhado dos clássicos de toda a Ásia exceto Índia, minha pequena obsessão tem sido sim bastante genérica: post-its coloridos enfeitam meu livro marcando receitas tailandesas, japonesas, chinesas, coreanas, filipinas, entre outras.

Ainda que cogumelos me pareçam um sabor totalmente outonal, foi difícil não notar que eles andaram sumidos das prateleiras nos meses mais frios mas andam abarrotando o meu mercado esse mês. [O que me lembra de que preciso correr atrás de mais informações sobre a sazonalidade dos cogumelos no Brasil.] Querendo algo leve, no carbs, para o jantar, a obsessão não permitiu que eu deixasse passar essa sopa japonesa, mesmo o título dela sendo "sopa de cogumelos frescos de Outono". Hmmm... Finge que ninguém viu.

Primeiro ingrediente da lista: kombu dashi. What the hell? Kombu dashi é o caldo de kombu. Puro, assim, kombu deixado na água por horas a fio até liberar seu sabor e cor à água. Droga. Kombu. Justamente kombu.

*Suspiro*

Lá vou eu, então, tentar o kombu de novo. Porque uma coisa que não combina comigo é o ditado "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". "Viva pelo exemplo", como meu guru diz, faz mais sentido. :)

A receita pedia também cogumelos shiitake, "oyster" e "cloud year". Fui pesquisar. A Wikipedia parece ter informações conflitantes sobre o Oyster (Pleurotus ostreatus), mostrando fotos completamente diferentes em inglês e português. Um pouco mais de pesquisa me fez concluir que o Oyster é vendido no Brasil em bandejinhas simplesmente chamadas "Cogumelo Pleurotus". O Cloud Ear, por sua vez, não encontrei de jeito nenhum, então simplesmente substitui por quantidades iguais de shiitake e pleurotus. Para ver a carinha de todos os cogumelos e poder comparar e substituir com o que você encontra no seu mercado ou feira, veja aqui.

Fora a ausência do cogumelo Cloud Ear, segui a receita simples à risca. O caldo de kombu é realmente esquisito se experimentado sozinho. Tem gosto de... kombu. Mas misturado aos outros ingredientes, proveu uma base robusta e interessante para os cogumelos, a cebolinha e o gengibre. A sopa é muito leve, ótima para uma noite de verão um pouco mais fresca, e muito mais gostosa do que eu imaginava que seria. Não apenas eliminou minha birra com o kombu, como também me fez olhar de outra forma para o pleurotus. Eu o preparara como outros cogumelos em outra ocasião, e achara sua textura meio esquisita. Na sopa, no entanto, funcionou perfeitamente, e ele se desmanchava na boca. Nham.

É oficial. Não tem comida de que eu não goste. :D

SOPA JAPONESA DE COGUMELOS FRESCOS (se alguém souber o nome original em japonês, diga-me, por favor!)
(ligeiramente adaptado do livro Essentials of Asian Cuisine, de Corinne Trang)
Tempo de preparo: 12 horas (caldo) + 10 minutos (preparo)
Rendimento: 2-3 porções


Ingredientes:
  • 4 xic. kombu dashi*
  • 1/2 xic. mirin
  • 1/3 xic. shoyu
  • 150-200g cogumelos shiitake frescos
  • 150-200g cogumelos pleurotus frescos
  • 2 cebolinhas picadas
  • 1 pedaço de uns 3cm gengibre, descascado e ralado
  • 1 pedaço de uns 7cm nabo japonês (daikon), descascado e ralado

*Kombu Dashi: use uns 30g de kombu para cada litro de água. Não lave o kombu; limpe-o com um pano úmido, se necessário. Coloque o kombu seco na água fria e deixe marinando (na geladeira, se preferir) por no mínimo 12 horas ou durante a noite. Retire a alga e guarde o caldo. (O livro diz para não jogar a alga fora, mas fatiá-la e salteá-la em shoyu, uma pitada de açúcar e um pouquinho de mirin, e servir com arroz de sushi.)


Preparo:
  1. Coloque o kombu dashi numa panela grande e leve à fervura. Enquanto isso, retire os talos dos shiitake (guarde os talos num potinho na geladeira e use na próxima vez que for fazer caldo de legumes) e fatie os chapéus e corte os pleurotus ao meio ou em quartos no sentido do comprimento.
  2. Quando o caldo ferver, junte o mirin e o shoyu e diminua o fogo para médio-baixo. Junte os cogumelos e cozinhe por 3 minutos.
  3. Desligue o fogo, distribua em cumbucas e guarneça com as cebolinhas, o gengibre ralado e o nabo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Salada de vermicelli de arroz com lula e ervas

Desde o começo do ano ando trabalhando loucamente. Tanto, que não sei como estou conseguindo encaixar em meu tempo os passeios com o cachorro e as desventuras culinárias. Quinta, por ser dia de feira, já costuma ser uma correria para mim. Hoje, com pelo menos três trabalhos para entregar, me admira que eu esteja aqui escrevendo esse post. Bem, todo mundo merece meia horinha de almoço...

Por conta do tempo curto, saquei da minha lista "receitas a fazer da revista Gourmet" esta salada rapidíssima de lula e vermicelli de arroz. Comprei na feira duas lulas pequenas, limpas pelo peixeiro (dividi a receita para fazer uma só porção), e foi rápido fatiá-las e cozinhá-las em água com sal, seguidas do vermicelli. Durante o tempo que levou para a água começar a ferver, já deixei todos os ingredientes separados. O tempo da massa e da lula cozinhar foi o que levou para apanhar uma tigelinha e um par de hashi. Misturei tudo e nham! Prá dentro.

Como não salguei o suficiente a água, fiquei bastante tentada a manchar toda aquela alvura delicada com shoyu. Mas resisti. A salada é refrescante assim, e gostei dela.

SALADA DE VERMICELLI DE ARROZ COM LULA E ERVAS
(da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 10 minutos
Rendimento: 4 porções


Ingredientes:
  • 450g lula fresca, limpa, em fatias de 1cm e tentáculos cortados ao meio
  • 1 pacote de vermicelli de arroz (220-250g)*
  • 6 colh. (sopa) suco de limão
  • 1 colh. (sopa) fish sauce (Nam Pla)*
  • 2 colh. (chá) açúcar
  • 3/4 colh. (chá) pimenta calabreza em flocos
  • 6 colh. (sopa) óleo vegetal
  • 1 pepino, fatiado em meias-luas finas
  • 2 cebolinhas fatiadas fino
  • 1 xic. ervas como hortelã, manjericão e coentro, misturadas e picadas grosseiramente
(* Nam Pla e vermicelli de arroz podem ser encontrados em qualquer mercadinho do bairro da Liberdade ou em supermercados e empórios com boas seleções de importados.)

Preparo:
  1. Coloque uma panela de água com bastante sal para ferver. Enquanto isso, prepare os outros ingredientes. Deixe ao lado uma tigela de água gelada.
  2. Cozinhe a lula na água fervente por cerca de 1 minuto, até que fique opaca. Transfira para a água gelada para parar o cozimento. Retire a lula fria da água, seque em papel toalha e coloque num prato.
  3. Na mesma água fervente, cozinhe o vermicelli, apenas até que fique macio, cerca de 3 minutos. Transfira o vermicelli para a água gelada. Escorra muito bem o vermicelli e corte duas ou três vezes com uma tesoura.
  4. Numa tigela, misture o suco de limão, nam pla, açúcar e pimenta, temperando com 1 colh. (chá) de sal. Adicione o óleo em um fio constante, batendo para misturar bem. Junte o vermicelli, a lula, o pepino e as ervas e misture bem. Sirva imediatamente.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Não gosto de kombu e ponto.

Acredito ter motivos bons e racionais para não comer as coisas que não como. Estar inacreditavelmente longe de seu estado natural, tendo passado por inúmeros processos industriais nojentos, é um deles. Sua produção causar mais males à natureza que bens a meu corpo é outro. Causar em mim uma sensação insuportável de hipocrisia, por estar comendo algo que eu mesma não teria coragem de matar, é o último. Todos, acredito eu, motivos justos. Agora, quando me perguntaram uma vez do que eu não gostava, tive dificuldades em apontar algo que não se encaixasse em uma das três categorias acima. "Não gosto e ponto" é uma frase que não faz parte de meu vocabulário desde que me tornei uma mulher adulta e determinada a provar que não é o ingrediente que você não aprecia, mas o modo como ele foi preparado.

Por isso minha surpresa ontem à noite.

Considero-me uma pessoa de paladar bastante desenvolvido e de mente muito aberta. Por essa razão fui contra meus primeiros instintos e insisti numa sopa fadada ao fracasso.

Comprara um pacote de alga kombu, curiosa, tendo em mente uma sopa de um livro de cozinha vegetariana e natureba. O livro narrava as delícias das algas e seus benefícios para a saúde, de modo que não podia deixar de experimentá-la.

Assim que abri o pacote, meu nariz foi atingido por um cheiro pungente que me fez pensar em algum tipo de carne defumada. Deixei a alga de molho e prossegui com a minha vida. Na hora de cortá-la, fiquei incomodada com sua textura gelatinosa, mas continuei. Coloquei-a na panela para cozinhar, enquanto cuidava do restante dos ingredientes. Para minha surpresa, o cheiro que subia da panela com a alga não era de mar, mas de porto. Pensei imediatamente naquelas praias pequenas, invadidas por algas marinhas caídas sobre a areia, apodrecendo sob um sol escaldante, empesteando o ar. Mas, tendo em mente que há muitos alimentos que não cheiram bem mas são saborosos, resolvi insistir e terminá-la.

Pela primeira vez na minha vida, tive medo da reação que teria ao provar algo que eu mesma cozinhara. O caldo, com cebolas e alho-poró, não estava de todo mal. Mas a alga, densa, pesada, ainda ligeiramente pegajosa mesmo depois de mais de uma hora de cozimento, causava-me reflexos como os que tinha na infância, quando meu café com leite vinha com nata na superfície.

"Não é tão ruim", pensava, dando mais uma colherada, até terminar com a porção em minha tigela. Foi o fato de ter passado a meia hora subseqüente com o gosto da alga na boca que me fez jogar o resto da sopa fora e decidir que não gosto de kombu.

Fica então minha pergunta a você que está lendo esse post: já comeu kombu? É um gosto adquirido ou a receita (ou a marca da alga) que era uma droga?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Salmão com pimentões agridoces

Desde que comecei esse blog, nunca tive um acúmulo tão grande de receitas a serem publicadas. Chame isso de criatividade advinda da adversidade se quiser, mas ando cozinhando mais pratos interessantes desde que comecei a dieta do que antes, quando tudo era permitido. Nunca me dera conta de quão estagnada e confortável estava entre massas e tortas, até não poder mais lançar mão delas para um jantar. Em contrapartida, tenho preparado tantos pratos com peixes, que pela primeira vez estou tendo de adiar a publicação de algumas receitas de modo a não ficar repetitiva.

Esta, por sinal, estava me deixando ansiosa. Não via a hora de publicá-la, uma vez que se mostrou um jeito delicioso de preparar salmão que com certeza repetirei.

A inspiração veio de um programa de culinária do GNT sobre cozinha asiática, apresentada por uma descendente de chineses de sotaque indefinível. [Não me perguntem o nome do programa: nunca lhe assisti desde o começo pois não gostei do seu ritmo, e quando fui procurá-lo na programação do canal, não consegui encontrá-lo.] De qualquer forma, foi uma mera coincidência que eu estivesse vendo naquele momento. A apresentadora mostrava um vilarejo chinês em que quase todos são descendentes de Confúcio, e comentava enquanto uma senhora preparava um prato tradicional do lugar: kung fu tofu, ou qualquer coisa do gênero. Sua pronúncia mezzo-australiana/mezzo-britânica mais uma leitura dinâmica de legendas nem sempre confiáveis me fazem duvidar um pouco do nome. Tratava-se de um refogado de tofu defumado com gengibre, alho, shoyu, pimenta e mais alguma coisa. Como podem ver, eu não estava exatamente prestando atenção. Foi quando meu marido desprendeu um empolgado "isso deve ser gostoso" que resolvi ver do que se tratava, mas era tarde demais para detalhes. Meu cérebro absorvera apenas a essência do prato.

No dia seguinte, passei no supermercado decidida a tentar o prato-fantasma que se fixara em minha mente. No entanto, dei azar, e não havia tofu comum, muito menos defumado. Voltei para casa meio ressabiada, mas ainda de vontade firme. Se não tem tofu, vai sem tofu mesmo. Eu me viro.

Decidi refogar pimentões vermelhos e amarelos nos temperos de que me lembrava, e servir com salmão grelhado, pois ele é um peixe que sustenta bem sabores robustos. Mas não queria qualquer salmão. Pensei primeiro num salmão teriyaki, mas não havia na despensa tudo de que precisava, de modo que improvisei com o que tinha, fazendo nascer um de meus temperos favoritos para salmão a partir de então. Pensando em todo o conceito de salgado/doce/azedo, uni molho shoyu, azeite e xarope de romã, esse último sendo simultaneamente bastante doce e ácido. Cuidado apenas ao comprar o xarope: da primeira vez que fui atrás do ingrediente, comprei um xarope rosa-choque com gosto de pirulito. O xarope que usei aqui é escuro e tem consistência de melaço.

SALMÃO COM PIMENTÕES AGRIDOCES
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 1 porção


Ingredientes:
  • 1 filé de 130g de salmão com pele
  • 1 colh. (sopa) + 1 1/2 colh. (chá) de shoyu
  • 2 colh. (chá) de azeite de oliva
  • 1/2 colh. (chá) de xarope de romã
  • 1/2 pimentão vermelho
  • 1/2 pimentão amarelo
  • 1 dente de alho
  • 1/2 pimenta dedo-de-moça sem sementes
  • 1/2 colh. (chá) de raspas de gengibre fresco
  • 1 colh. (chá) de vinagre de vinho branco

Preparo:
  1. Em uma tigela, misture 1 colh. (sopa) de shoyu, 1 colh. (chá) de azeite e o xarope de romã. Misture bem. Faça três ou quatro cortes na pele do salmão para evitar que ele encolha na frigideira e mergulhe o peixe na mistura, virando-o bem para recobrir-se da marinada. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por meia hora.
  2. Fatie os pimentões, o alho e a pimenta. Aqueça o restante do azeite em uma frigideira e coloque o alho, a pimenta, os pimentões e o gengibre, e refogue em fogo médio até que os pimentões estejam macios. Junte o shoyu restante e o vinagre, cozinhe por 1 minuto e desligue o fogo. Mantenha os pimentões quentes enquanto prepara o peixe.
  3. Aqueça uma frigideira em fogo alto. Retire o salmão da marinada, deixe escorrer um pouco e coloque-o com a pele virada para baixo, abaixando o fogo para médio para não queimar a pele. Cozinhe por 5 minutos (ou mais se o filé for muito alto), vire e cozinhe por mais 3 minutos. Sirva imediatamente, com os pimentões quentes por cima, acompanhado de uma salada de rúcula ou outra folha amarga, se quiser.

sábado, 24 de novembro de 2007

Japonês de verdade

Sempre que Allex e eu vamos à liberdade, vagamos sem destino certo, na vã esperança de entrar por acaso em algum restaurante japonês escondidinho, que se revele fantástico, no melhor estilo "você não acredita no lugar que eu descobri!". Muito ao contrário de nossas expectativas, agora no melhor estilo "turista na Liberdade", nós sempre caímos em fria.

Miraculosamente, no entanto, desta vez foi exceção. Depois de andar um bocado em círculos, completamente perdidos debaixo do sol do meio-dia, entramos no primeiro lugar que encontramos (pois estávamos desesperados de fome, encontrando dezenas de cabeleireiros e botecos, e nenhum restaurante decente).

Atravessamos uma pequena amurada de pedra, subindo alguns degraus em meio a um pequeno jardim de entrada, na direção de uma porta de madeira que revelava muito pouco do interior do restaurante. Senti-me imediatamente intimidada com a decoração de madeira escura, à meia-luz, com a clientela silenciosa 100% japonesa sentada em um balcão, assistindo a um japonês preparando robata, e com uma senhora que me cumprimentou com um bom-dia apressado em meio às comandas, com um sotaque tão forte que simplesmente não entendi quando ela tentou me direcionar para o segundo andar do restaurante. Era com certeza completamente diferente dos restaurantes japoneses moderninhos aos quais estava acostumada. Mas, lembrando-me dos melhores lugares onde comi quando na Itália, sabia que aquilo prometia ser bom.

Subimos as escadas para um segundo-andar muito semelhante ao primeiro, com dois balcões de sushi e um número limitado de mesas grandes, todas ocupadas por japoneses. Aquele com certeza não era meu ambiente, mas nenhum sinal é melhor para mim do que japoneses comendo num restaurante japonês. Sentamo-nos no balcão exatamente em frente ao chef, que preparava os pratos, solitário e silencioso. É preciso mencionar que também ele era japonês ou isso é chover no molhado?

Pedimos duas cocas (em garrafa de vidro) a uma garçonete que nos trouxe o cardápio. Decidimos não nos deixar levar pelo olho gordo e a barriga vazia, e pedimos apenas um combinado simples, que trazia cerca de 15 sashimis, 8 sushis, alguns uramakis e outras coisinhas mais. Não tínhamos nenhuma expectativa. Juro. Fui vendo enquanto o chef tirava fatias idênticas, grossas e suculentas dos peixes frescos, montando tudo no prato com muito cuidado. Para quem está acostumado aos rolinhos repletos de cream cheese e cobertos de tarê, a simplicidade visual do combinado é um choque. Mas para o paladar... A simplicidade é garantia de que aquele sabor fantástico vem única e exclusivamente do frescor e da qualidade do peixe, sem nenhum outro ingrediente para mascará-lo. E, de fato, o sabor explodiu na boca, e o sashimi derreteu na língua como manteiga.

Outro choque: já foi feita uma pesquisa que demonstrou que os comedores brasileiros adoram salmão (e quase que exclusivamente salmão) quando em restaurantes japoneses; no entanto, não havia nenhum no prato, o que foi inédito para mim. Os gordinhos e simétricos sashimis eram de Olho-de-Boi, Taínha, Robalo (com finíssimas fatias de limão), Atum e Serra, o último servido ainda com a pele, coberto de gengibre e cebolinhas, para um lindo e saboroso efeito.

Já ao final da refeição, o chef perguntou-nos se éramos de São Paulo, e começamos a conversar. Ele (Marcos) nos contou que aquele era um dos restaurantes mais tradicionais de São Paulo, em termos de autenticidade e fidelidade a uma culinária mais antiga. Segundo ele, não há mais do que dois outros na cidade. Todos os outros fecharam, não suportando a moda e o desejo dos clientes por uma cozinha mais moderna. Mas aquele continuava firme e forte, e, sob a tutela de um casal japonês bastante conservador, mantinha o cardápio inalterado, depois de 30 anos de existência, não se rendendo à moda. "Às vezes vêm uns clientes ", disse o chef, "que ficam tristes porque não servimos nada com salmon skin..." O que me fez pensar que, eventualmente, a moda passará, e muitos restaurantes moderninhos fecharão as portas. E quantos lugares genuínos terão restado?

Marcos ainda nos disse que estava apenas substituindo o chef da casa, que estava de férias. "Ele é o melhor sushiman de São Paulo", disse-nos, orgulhoso. "Vai para o Japão o tempo todo. Além da licença para sushiman, que ele conseguiu lá, ele tem aquela especial, para preparar Baiacu." Impressionante, com certeza. Fiquei interessadíssima em voltar e experimentar o cardápio preparado pelo chef de férias, é claro.

Quando o Allex terminava de "raspar o prato", o chef alertou-nos de que a estranha folha escura que parecia simples guarnição podia e deveria ser comida. "Shissô", explicou-nos. Nunca comera algo parecido e era, de fato, muito saborosa, um pouco picante, um pouco adocicada, um retrogosto azedinho, refrescante e ao mesmo tempo digestiva. Interessante o suficiente para me fazer procurar mais a respeito quando tiver mais tempo.

O preço disso tudo? O mesmo que um moderninho bem feito. Não me levem à mal, é claro, eu adooooooro todas as modernidades da culinária japonesa. Mas também era louca para provar algo mais simples, mais básico, que dependa exclusivamente da qualidade dos ingredientes. Não só não saí decepcionada, como saí apaixonada pelo lugar, louca para voltar. Fiz questão de pegar uns dois cartões de visita, para que o restaurante não vire mais um daqueles lugares fantásticos aos quais nunca mais conseguimos voltar, por não lembrar o nome ou o endereço. Espero que eles continuem firmes e fortes, tradicionais, "japoneses de verdade", como disse o chef.

Recomendo de boca cheia!

GOMBE
Rua Tomás Gonzaga, 22, Liberdade São Paulo, SP
Tel: (11)3209.8499

terça-feira, 15 de maio de 2007

Bao no Cesto de Bambu


Não é supresa para mais ninguém que eu volte de qualquer passeio, a qualquer lugar que seja, com alguma sacolinha contendo comida ou objetos a ela relacionados. Uma manhã de sábado no bairro da Liberdade, então, não poderia produzir efeito diverso. Minha compra da semana foi um pequeno cesto de bambu para cozinhar no vapor. Apesar de parecer estranho, o bambu — ao contrário de metais e outros materiais — inibe a condensação da água, o que faz com que o alimento cozinhe ou aqueça sem absorver rios de água gotejante, mantendo vegetais, por exemplo, tenros sem serem molengas. Ele também é muito útil para aqueles que baniram (ou pensam em banir) o microondas da cozinha, essa terrível "máquina de esquentar desigualmente", pois a bandejinha de bambu comporta seu prato inteiro com o jantar de ontem para ser aquecido no vapor hoje, trazendo de volta os sabores e a textura da comida como se ela tivesse sido preparada na hora.

Minha primeira experiência com o apetrecho foi incrivelmente bem sucedida. O nome destes pãezinhos chineses no vapor é Bao, e podem ou não ser recheados com vegetais e carne de porco. É claro que tratei de inventar minha versão vegetariana, com shiitake e escarola refogados em alho e azeite, temperados com manteiga, shoyu e cebolinhas. Por causa do método de cozimento, o pão nunca dourará como quando feito no forno, mas cria sim uma película muito fina segurando um interior excepcionalmente macio e úmido, que absorve como uma delicada esponja os sabores dos cogumelos temperados. Servi-os quentes, recém-saídos do cesto, acompanhados de shoyu e molho doce de pimenta, uma especialidade chinesa produzida a partir de boas pimentas "chilli" e ameixas. A receita da massa dos pães vem do livro Essentials of Asian Cuisine, de Corinne Trang, uma das mais respeitadas autoras sobre o assunto.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Summer Rolls


Ontem, no jantar, resolvi enfim testar meu mega-livro de cozinha asiática. O interessante desse livro é que ele não é mais uma adaptação da culinária oriental ao paladar ocidental, mas uma compilação fiel. De modo que resolvi testar mais de uma receita de uma vez, para garantir que ao menos um prato fosse apreciado e não tivéssemos que pedir uma pizza.

O cardápio foi rolinhos vietnamitas de papel de arroz (Goi Cuon) com molho Nuoc Cham (um molhinho apimentado e agridoce), arroz jasmim e salada de shiitake e broto de bambu. Os rolinhos, que vocês podem ver na fotografia, foram um sucesso, muito mais fáceis de fazer do que eu pensara, apesar de requisitar uma boa dose de delicadeza para a manipulação do papel de arroz. E o molho para mergulhar os rolinhos combinou perfeitamente, ainda que possa ser substituído por shoyu num dia preguiçoso. No entanto, da próxima vez, talvez eu substitua os brotos de feijão por cogumelos refogados, imitando a textura e o sabor terroso da carne que deveria ir na versão não vegetariana.

O arroz foi uma agradável surpresa. Quando li a receita pedindo que se cozinhasse o arroz na água sem nenhum sal ou tempero, fiquei ressabiada, mas segui a risca mesmo assim. Acontece que o arroz jasmim é tão aromático, que de fato não precisa de tempero nenhum, e você o saboreia entre os outros pratos de sabores mais fortes, para limpar o paladar. Para quem abusou a vida toda e agora não pode mais comer sal, é uma excelente opção no lugar do arroz comum.

Já a salada... hum... é difícil eu torcer o nariz para qualquer coisa. Mas dessa vez não teve jeito. Nem meu namorado nem eu conseguimos terminar a salada. O broto de bambu definitivamente não agradou.

Se você é vegetariano e de vez em quando enjoa do macarrão e da salada, vale a pena dar uma olhada em receitas asiáticas. Apesar de não haver muitas receitas estritamente vegetarianas, as que existem com certeza refrescam o paladar e abrem sua mente. Apesar dos ingredientes diferentes, o preparo costuma ser bastante fácil.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Comendo direito: 2º dia

Ok, vamos ignorar a taça de vinho na hora do almoço e a cervejinha com um amigo no final do dia e vamos direto à comilança. Para manter-se firme na chamada "dieta", é preciso um pouco de criatividade e muita variação de sabores, ou entra-se em desespero ao fim de uma semana. É interessante buscar receitas e inspiração em diferentes culturas, para garantir um estômago e um paladar satisfeito. Hoje, por exemplo, foi um dia bastante "volta ao mundo": Salada Grega de almoço e Soba com molho de mel no jantar.

SALADA GREGA (minha versão)
Rendimento: 1 porção
Tempo de preparo: 15 minutos


Ingredientes:
  • 1 tomate grande para salada cortado em cubos
  • 1 pé de alface romana baby, ou 4-5 folhas de alface romana comum (ou outra variedade crocante)
  • 1/2 xíc. de queijo tipo Feta cortado em cubos
  • 1 echalota ou 1/2 cebola pequena picada fino
  • 5-6 azeitonas pretas
  • 1/2 colh. (sopa) de alcaparras
  • suco de 1/2 limão
  • 3 colh. (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
  • 1 punhado de salsinha picada
  • 2 cebolinhas verdes picadas
  • 1/2 colh. (chá) orégano
  • sal e pimenta-do-reino a gosto

Preparo:
  1. Depois de lavá-las e sacá-las, rasgue as folhas de alface em pedaços medianos e coloque em uma tigela com o tomate picado, o queijo em cubos e a cebola picada. Regue com o suco de limão.
  2. Descaroce as azeitonas e pique-as grosseiramente junto com as alcaparras. Junte-as à salada.
  3. Tempere com a pimenta e o sal (lembrando que as azeitonas, as alcaparras e o queijo Feta já são BASTANTE salgados) e regue com o azeite, misturando bem.
  4. Salpique a salsinha, o orégano e a cebolinha por cima, misture bem uma última vez e sirva.

E para o jantar, que foi seguido de uma manga Palmer de sobremesa:

SOBA COM MOLHO DE MEL
(do livro Forever Summer)
Rendimento: 1 porção grande

Tempo de preparo: 10 minutos


Ingredientes:
  • 150g de macarrão Soba, de preferência escuro, mas o normal serve
  • 3 cebolinhas verdes
  • 1/2 colher de chá de sementes de gergelim claras
  • 1 colh. (chá) de mel
  • 1 colh. (chá) de vinagre de arroz ou champagne (mas se não tiver, serve um comum, desde que não muito forte)
  • 1 colh. (chá) de óleo de gergelim (NÃO pode ser substituído por outros óleos)
  • 2 1/2 colh. (chá) de shoyu

Preparo:
  1. Cozinhe o macarrão Soba segundo as instruções do pacote. Enquanto isso, prossiga com o molho.
  2. Em uma tigelinha funda onde você vai comer depois, junte o mel, o vinagre, o shoyu e o óleo de getgelim. Misture bem e reserve.
  3. Aqueça uma frigideira pequena e coloque as sementes de gergelim, em fogo médio-baixo. Deixe 1 ou 2 minutos, só até o gergelim soltar o aroma. Se estiver muito quente, ele vai saltitar p/ fora da panela que nem pipoca. Tire do fogo e reserve.
  4. Escorra o macarrão e despeje-o sobre o molho, na tigelinha. Misture bem, para que todos os fios fiquem impregnados de tempero.
  5. Salpique o gergelim tostado sobre a massa. Com uma tesoura, pique a cebolinha sobre o Soba, misture e sirva.

Uma frutinha de lanche vai bem também!

Cozinhe isso também!

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