sexta-feira, 31 de julho de 2009

Uma Sexta-Feira Frugal 2: meu primeiro queijo fresco de verdade

Quando criança, tínhamos uma chácara onde plantávamos de tudo e criávamos galinhas pelos ovos [o único fdp que se atreveu a matar nossas galinhas para comer foi o desgraçado do caseiro, e até o galo, eventualmente, ele comeu]. A chácara era cercada por sítios e fazendas com gado leiteiro, e costumávamos comprar queijo fresquinho de uma delas. Lembro-me bem da sede da fazenda, do cheiro do leite, e, principalmente, do cão de guarda da minha altura, acorrentado, coitado, de quem eu morria de medo.

Fazer queijo sempre foi um daqueles comichões em meu cérebro, coceirinha na mão, aquele tique que não passa até você dar a cara para bater. Mas morria de medo de mexer com o coalho, essa coisa esquisita tirada de estômago de bezerro. [Existe coalho vegetal, mas é pouco usado industrialmente e eu não encontrei para comprar. Não vou ser hipócrita aqui: todo queijo que eu como, mesmo sendo pseudo-vegetariana, é feito com o coalho animal.] E também morria de medo de desperdiçar leite.

No entanto, com os preços a que estão chegando alguns queijos – e eu como queijo em quase todas as minhas refeições – de repente gastar, sei lá, 8 ou 10 reais em leite fresco para fazer quase 1kg de queijo fresquinho não parece assim tão caro. Na verdade, eu queria ir direto para a receita de mozzarella fior di latte (mozzarella feita com leite de vaca ao invés de búfala) da revista Gourmet. Mas encontrei um site fantástico sobre produção de queijo caseiro, que sugere uma ordem de tipos de queijo para os iniciantes, de acordo com o nível de dificuldade: iogurte, labneh, Neufchâtel, queijo prensado, mozzarella e então queijos azuis (como gorgonzola e roquefort). Deliberadamente pulei o labneh e fui direto ao Neufchâtel, porque eu queria muito mexer com o coalho que eu comprara [disponível em muitos supermercados, na geladeira dos laticínios].

No fim das contas, FAZER o queijo é fácil. Cinco minutos à noite, cinco minutos na manhã seguinte e cinco minutos quando o queijo tiver sorado todo. Os problemas acontecem nas sutilezas, como errar na quantidade de coalho ou acidulante, errar na temperatura ou não usar o leite apropriado. [UHT, que é o de caixinha, não funciona; tem que ser fresco, ou, no máximo, homogeneizado, daquele que fica na geladeira e dura uns 3 dias, o que matou minha intenção de fazer queijo de cabra, uma vez que ainda não encontrei leite fresco de cabra para comprar, só UHT, e o congelado não é mais vendido no meu supermercado por falta de procura.]

[Como minha geladeira não tem grades, foi assim que improvisei a amarração do pano para que o queijo ficasse suspenso.]

Chame isso de sorte de principiante, mas meu queijo deu certo de primeira. Quando acordei na manhã seguinte, abri a tampa da panela e vi aquele coalho firme, brilhante e lisinho lá dentro, dei pequenos gritinhos de alegria. Funcionou! Funcionou! Funcionou! MIM FAZ QUEIJO! UGA UGA! Mas tive de deixar sorando um pouco mais de tempo do que a receita indicava, uma vez que ao tempo requerido o queijo ainda tinha consistência de cottage (mas já estava muito bom!). No fim, agora que se passaram já uns dois dias de queijo pronto, vejo que poderia ter deixado sorando ainda mais, para que ele ficasse mais sequinho. Mas essa consistência mais cremosa está quebrando um belo galho para fazer as vezes de cottage no café da manhã e ricotta nos preparos para o jantar. O queijo ficou muito saboroso. Claro que não posso chamá-lo de Neufchâtel, pois não foi feito com leite de cabra. Logo, vira "queijo fresco" mesmo. Como ele ficou mais molinho, acabei não moldando o bendito, que ficou num potão tampado mesmo. Próximas paradas: mascarpone, cream cheese e mozzarella! Uhúuuuu! :D

QUEIJO FRESCO
(Daqui, onde também há fotos do passo-a-passo)
Tempo de preparo: 15 min. de trabalho + 12 horas (coalho) + 12-24 horas (sorando)
Rendimento: aproximadamente 750g de queijo fresco, dependendo do leite usado


Ingredientes:
  • 3,5l leite fresco ou homogeneizado (que tem que ficar na geladeira), de vaca ou cabra, tipo A integral
  • 1/4 xíc. buttermilk*
  • 1/2 colh. (chá) coalho líquido
  • 1/4 xíc. água fria 1/2-1 colh. (chá) sal
*Encha 1/4 xíc. leite faltando 1mm para a marca e preencha o 1mm restante com vinagre branco. Misture bem e deixe descansar por 10 minutos.

Preparo:
  1. Esterilize a panela colocando uns 5 dedos de água em um caldeirão grande, tampando e deixando ferver por 5 minutos. Descarte a água.
  2. Coloque o leite e o buttermilk no caldeirão ainda quente. O leite deve permanecer inalterado. Se talhar ou ficar espesso imediatamente, não vai dar certo. Isso acontece quando se acrescenta buttermilk demais ou se deixa a mistura em temperatura ambiente por muito tempo.
  3. Leve ao fogo e aqueça apenas até a temperatura ambiente (18-20ºC). Enquanto isso, dissolva o coalho líquido na água.
  4. Desligue o fogo, junte a água com coalho ao leite e misture bem com um batedor de arame. Tampe e deixe descansar em temperatura ambiente SEM MEXER EM HIPÓTESE ALGUMA por 12 horas, ou até que o coalho esteja visível e firme.
  5. Coloque um pano para queijo ou um guardanapo de pano bem limpo sobre um escorredor de macarrão, e posicione o escorredor sobre uma tigela funda, de modo que o queijo não fique imerso no soro que pingar (e vão pingar litros de soro!)
  6. Com uma faca na vertical, faça um quadriculado na mistura. Com uma concha, retire o coalho da panela (vai parecer iogurte industrial, muito firme, separado do soro amarelado), e coloque-o no pano. Se sua geladeira for das antigas, com prateleiras de grade, puxe as pontas do pano e amarre como uma trouxa firme, pendurando a trouxa na grade e deixando a tigela de soro embaixo. Senão, apenas cubra o coalho com as pontas do pano, pois ele ficará saturado e começará a pingar também. Tenha certeza de que o coalho não ficará imerso no soro quando a tigela encher. Leve à geladeira por 12 horas, ou até que o queijo pareça mais sequinho e "moldável".
  7. Retire o queijo do pano para uma tigela, acrescente o sal a gosto (ou use sem sal como sobremesa, como um petit suisse, mas sabendo que o sal ajuda a conservar o queijo por mais tempo), misture bem e molde em um aro de metal ou plástico ou simplesmente guarde em um tupperware bem vedado na geladeira. Use em pouco tempo, pois queijos frescos não agüentam mais de uma semana na geladeira.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Mimi vegetariano, ou o fim do pão com vinaigrette


Praia e churrasco costuma significar um consumo fora do normal de queijo coalho para a maioria dos vegetarianos ou pseudo-vegetarianos. Aproveitei a deixa para fazer um teste. Preparei as almôndegas de cogumelo, omitindo o molho de tomate, acrescentei apenas um pouco mais de farinha de rosca para deixar a mistura mais firme e moldei "Espetinhos Mimi" [quem já foi em churrasco de faculdade aqui em SP sabe do que estou falando] em palitos. Como eles são frágeis, deixei-os na geladeira por algumas horas, até firmarem bem, antes de assá-los na churrasqueira como faria a qualquer espetinho. E ficaram ótimos! Agora também posso comer espetinho com vinaigrette, ao invés de... bem... pão e vinaigrette. Um conselho para quem desconfiar que a grelha do amigo está prá lá de gasta: pincele ligeiramente os espetos com azeite, para que não grudem. A receita faz cerca de 12 espetinhos.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Uma Sexta-Feira Frugal 1: Geléia de Maçã


Não é segredo para ninguém de que eu sou chata, natureba e adepta do "faça você mesmo". Acredito que seja uma herança genética, uma vez que minhas avós (como muitas), faziam sorvete, macarrão, pão e o que fosse na cozinha, meu pai sempre quis morar numa chácara e ser auto-suficiente e até meu tio, que é médico, já aprendeu o suficiente de marcenaria para construir a cozinha inteira do meu primo. Adoro isso de ser independente. E também tenho tentado, há já muitos meses, levar uma vida um pouquinho mais frugal.

E "frugal" é uma palavra que anda muito na moda hoje em dia, ainda que eu não veja lá muita gente aplicando o conceito. Nos Estados Unidos, por conta da crise, as pessoas parecem de fato estar voltando ao estilo de vida de nossas avós: economia ferrenha de recursos, comida caseira, criação de galinhas e horta para aqueles que têm quintal. Adoro ler a coluna de W. Hodding Carter, no site da revista Gourmet, onde ele conta suas desventuras na tentativa de uma vida mais frugal para poder quitar suas dívidas. A despeito de toda a tragédia financeira, a maior parte das pessoas parece estar na verdade se beneficiando dessa mudança de vida, voltando-se mais para o convívio em família, desacelerando suas rotinas e se alimentando de uma forma mais saudável. E isso é muito bom. Independente do motivo de essa mudança estar acontecendo, acredito que ela seja sim muito positiva.

Mas em minha busca em sites brasileiros a respeito de um estilo de vida frugal, vi-me frustrada, pois me parece que por aqui, talvez pelo fato de a crise não ter batido tão forte – ainda que tenha sim tido um impacto – ainda não há um movimento tão massivo por parte da classe média para alterar qualquer coisa em nosso estilo de vida. Ao invés de fugirmos feito diabo da cruz do estilo americano que lhes causou a ruína, continuamos comprando desenfreadamente e sustentando estilos de vida que não condizem com nossos salários. Noutro dia descobri que quem mais tem e usa cartão de crédito no Brasil é a classe C e D. Isso é muito preocupante.

Já disse isso aqui antes, e continuo na mesma fase: cansada de comprar, cansada desse conceito de "saiu de casa, gastou dinheiro". E eu quero ver até onde consigo ir. Iogurte e pão, ah, são coisas que já estão tão na minha rotina, que nem penso mais a respeito. Quando vejo, já está pronto. Virou miojo. Mas agora estou passada com o preço dos laticínios. E decidi que vou tentar fazer o máximo possível deles em casa. Algumas continhas e regras de três me mostraram que eu vou conseguir economizar um belo dindin se eu dedicar um pouquinho do meu tempo para produzir meus queijos favoritos. Há mais uma dezena de alimentos que podem ser produzidos em casa e uma centena de hábitos que podem melhorar nossas vidas e reduzir nossos gastos. Ando testando cada um deles. E quero começar a dividir minhas experiências com vocês. Vou ver se consigo, toda sexta-feira, postar alguma receita, dica ou experiência bizarra, com ou sem sucesso, para que vocês também testem e, quem sabe, economizem uns trocados. Espero que gostem. :)

1. GELÉIA FÁCIL E DELICIOSA DE CASCAS DE MAÇÃ
(Do livro: Entre Panelas e Tigelas, A Aventura Continua, de Heloisa Bacellar.)
Nada melhor que não precisar comprar geléias carésimas e, ao mesmo tempo, reduzir um pouco seu lixo. Ao invés de jogar fora as cascas e o miolo das maçãs (quando você as corta com faca e não com os dentes), coloque num saquinho e congele. Vá juntando as cascas e miolos, com semente e cabo inclusive, até ter umas 4 xícaras. Então coloque numa panela com água suficiente para cobrir, leve à fervura e cozinhe por meia hora. Passe a polpa obtida por uma peneira ou um passa-verdure com o disco fino e volte a polpa à panela com 1 pau de canela e 1 xícara de açúcar. Cozinhe por mais 15 minutos até que fique encorpada e brilhante [eu já cozinhei por uma meia hora e obtive uma geléia mais firme e mais forte]. Deixe que esfrie e guarde em pote fechado na geladeira por até 1 mês. Faz 1 a 1 1/2 xíc. de geléia, dependendo da quantidade de maçã e quanto tempo ficou cozinhando. Delícia tanto no pãozinho com manteiga ou cottage (foto) quanto para pincelar tortas de frutas e bolos neutros (foto).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fake chicken meatballs, ou sensacionais almôndegas de tofu para "tofu-haters"

Sempre que digo a alguém que não como carne [vou parar de dizer que sou vegetariana, porque apesar de ser mais fácil dizer isso, alguns amigos de fato vegetarianos andaram me olhando feio... :P ], lá vem as receitas com proteína de soja texturizada e leite de soja. Eu sei que tem gente que adora. Mas eu destesto, DETESTO, DE-TES-TO proteína de soja texturizada e leite de soja. Não sei na boca dos outros, mas na minha fica um retrogosto meio amargo inconfundível, que me faz passar o resto do dia lembrando meu almoço. Por algum motivo bizarro, no entanto, eu gosto de tofu. Tofu não tem aquele retrogosto e não me incomoda de jeito nenhum. Mas eu nunca tinha feito muita coisa com ele; primeiro, porque não costumo preparar muitos pratos de origem asiática, e segundo, porque nunca foi minha missão como cozinheira procurar substitutos para a carne. Já falei disso aqui. Não gosto de colocar um pedaço de sabe-deus-lá-o-quê no meio do prato, cercadinho de arroz e batata, só porque ali deveria estar um bife. Como um prato inteiro só de legumes (aliás, cada vez mais). Com ovo, com queijo, com a proteína que for, mas sem ficar imitando bife.

Ah, mas o que diabos são essas receitas de almôndegas, então? Que feio, Ana Elisa, se contradizendo dessa forma... tsc...tsc...

Explico-me. ;)

Eu tenho um bocado [um belo bocado] de livros de cozinha. E posso dizer seguramente que 1/3 das receitas contidas neles são com carne ou aves. E isso começou a me irritar. Muito. Não pelo fato de não comer bife ou frango assado, mas pelo fato de que há ali uma centena de combinações de temperos interessantíssimas, e outra centena de acompanhamentos perfeitos para esses pratos, e eu nunca vou provar nada disso. Hunf. Foi nessa que mandei tudo às favas e comecei a preparar as receitas de carne usando cogumelos. [Quando os pedaços de carne são grandes, como bifões mesmo, uso os chapéus inteiros de cogumelos grandes; nos cozidos ou assados muito longos, cozinho os legumes no tempo da receita e acrescento os cogumelos no final, para que não passem do ponto, mas absorvam os temperos. Tem dado muito certo e rendido ótimas refeições.]

Mas e frango? O que eu poderia usar no lugar de frango? Hmmm... Pensei naquele peito de frango branquinho e completamente sem gosto (quando sem tempero), e imediatamente me lembrei do tofu. O tofu não vai imitar a textura do frango, isso com certeza. Mas vai prover a mesma base neutra para variados temperos e a mesma versatilidade de preparo. Pelo menos essa é minha teoria.

Ontem à noite, cortei um pedaço de tofu [orgânico, porque se vou comer soja, que não seja transgênica nem cheia de veneno] do tamanho de um filé de frango, esfreguei uma quantidade abissal de temperos (pimenta calabreza, sal, anis moído e orégano) em todo ele e grelhei o bendito no azeite até que ficasse crocante e dourado por fora. Comi acompanhado de rabanetes fatiados e salsa verde. Dexeufalar? Surpreendentemente gostoso. O segredo do tofu é temperá-lo quase que na medida do exagero, aparentemente. Não vai funcionar como aquele franguinho de todo dia, só com salzinho e pronto.

Hoje no almoço, apanhei uma receita de Chicken Meatballs, do fabuloso livro A16 Food + Wine [A16 é um restaurante americano especializado em cozinha do sul da Itália], reduzi as quantidades para duas porções e troquei todo o frango por tofu e toda a banha por manteiga. E prossegui exatamente como mandava a receita. Com a diferença de que eu não precisei cozinhar um pedacinho da massa para experimetá-la, uma vez que não estava lidando com frango cru.

As almôndegas saíram crocantes e douradas, macias por dentro, e deliciosas. Sem brincadeira. Servi com cenouras assadas com ervilhas, cebolinha e hortelã, outra receita adaptada do mesmo livro.

Meu paraíso será o dia em que eu conseguir pele sintética para fabricar minhas próprias salsichas, porque as salsichas de soja que existem no mercado são de doer... :P

FAKE CHICKEN MEATBALLS - ALMÔNDEGAS DE TOFU
(Adaptado do livro A16 Food + Wine)
Tempo de preparo: 40 minutos
Rendimento: 2 porções (8 almôndegas de 5cm)


Ingredientes:
  • 1/4 colh. (chá) sementes de erva-doce
  • 3 grãos de pimenta-do-reino
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 150g tofu orgânico firme
  • 1 colh. (sopa) manteiga
  • 1/4 xíc. farinha de rosca
  • 1 punhado generoso de salsinha picada
  • 1 dente de alho pequeno, bem picadinho
  • 1 colh. (sopa) de água
  • 1 ovo grande
  • azeite de oliva

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 205ºC. Unte uma assadeira pequena com azeite de oliva e reserve.
  2. Num pilão de pedra, esmague a erva-doce, o sal e a pimenta-do-reino até obter um pó. Reserve.
  3. Passe o tofu por um processador manual (passa-verdure) com o disco de buracos largos. Deve funcionar também num amassador de batatas, ou use um garfo. Junte os temperos em pó, a manteiga em floquinhos, a farinha de rosca, a salsinha e o alho. Misture bem.
  4. Junte o ovo e a água e misture. A massa deve parecer flocosa mas pegajosinha. Experimente e acerte o sal se necessário.
  5. Forme 8 bolas de 5cm de diâmetro com a massa, apertando-a bem nas palmas das mãos para que a mistura mantenha-se unida. Delicadamente coloque as bolas na assadeira untada.
  6. Leve ao forno por 20-25 minutos. No meio do cozimento, vire cuidadosamente as almôndegas com a ajuda de uma colher, para que dourem por igual. Elas devem ficar douradas, firmes e com uma leve casquinha crocante em torno. Sirva as almôndegas quentes, com o acompanhamento de sua preferência.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O melhor jeito de se comer mandioquinha é gratinada

Existem alguns legumes que eu adoro, mas por algum motivo sempre terminam esquecidos na geladeira. Mandioquinha é um deles. Compro, planejo e esqueço. Mas depois de descobrir esse jeito de comê-las, nunca mais. Vai ser comprar e ir direto para o forno, pois acho que esse é o modo mais gostoso de se comer mandioquinha.

A receita é de Jamie Oliver, mas ele usava originalmente tupinambo, uma raiz que nunca encontrei nem em feira nem em supermercado, assim como pastinacas. Mas, como sempre substituo pastinacas por mandioquinhas nas receitas, assim foi com o tal do tupinambo. E ficou excelente.

Basta descascar e cortar em rodelas de 0,5cm cerca de 350g de mandioquinhas (umas 3 pequenas). Num pote, misture 1/2 xíc. de creme de leite fresco, umas 2 colh. (sopa) de suco de limão siciliano, um punhado de parmesão ralado na hora, um punhadinho de folhas de tomilho frescas, sal e pimenta-do-reino. Assim, sem muita medida, pois o negócio experimentar e ver se você quer mais limão, mais tomilho, mais queijo... Misture bem, junte a mandioquinha e espalhe em uma travessinha refratária. Num outro potinho, misture um bom punhado de farinha de rosca com mais ou menos a mesma quantidade de parmesão, mais folhas de tomilho, pimenta-do-reino, e espalhe essa mistura sobre a mandioquinha. Regue com um fio de azeite e leve ao forno pré-aquecido a 220ºC por cerca de 30 minutos, ou até que a cobertura esteja dourada e crocante e a mandioquinha esteja macia. A porção é para 2 pessoas, e servi acompanhado de espinafre refogado com alho e uma pitada de noz moscada. Boooom...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Salvando memórias de infância

Demorou bem menos do que eu esperava para desejar escrever novamente. Mas nesse pouco tempo, pude matutar um bocado a respeito do que anda acontecendo em minha vida. Além de várias mudanças (e decisões e planejamentos que levarão a mudanças), consegui identificar qual foi a principal metamorfose responsável por minha diminuição de interesse pelo blog. Nesse momento, sei que muita gente se identificará comigo...

Comecei o La Cucinetta porque queria provar um ponto: o de que era possível viver sem as "conveniências" culinárias responsáveis por tornar muitos amigos meus gordos e pouco saudáveis. Queria mostrar que era sim possível trabalhar o dia todo e fazer um jantar a partir do zero no fim da noite. É por isso que o comecinho do blog tem tantos textos sobre técnicas e pratos bastante básicos. Simplesmente não publicava nada que parecesse complicado, porque não queria assustar meus amigos (que eram meus únicos leitores).

Conforme fui melhorando na cozinha e, principalmente, conforme fui descobrindo que o meu não era o único blog de culinária do mundo [santa ingenuidade, Batman...], comecei a querer melhorar o blog e caí na velha pegadinha de "quero ser famosa e escrever livro". O ego inflou. E, na verdade, isso estava muito em conformidade com minha atitude na época com relação à comida, principalmente quando tinha convidados para jantar. Sem me dar conta, eu cozinhava para mostrar. Para mostrar no blog como o prato estava bonito, para mostrar aos convidados como eu era talentosa na cozinha e excelente anfitriã, para que todos achassem que aquele era o melhor bolo que já haviam comido. É claro que isso não é saudável, e no fim das contas só gera mal estar. Eu me estressava quando tudo não saía absolutamente perfeito, sentia-me na obrigação de cozinhar coisas novas e interessantes todo dia para o blog, e por aí vai.

O que mudou? Não sei exatamente o que desencadeou a mudança. Talvez a dieta. Talvez o livro A Platter of Figs, que fala justamente do ato de receber com simplicidade, e sugere que frutas maduras da estação e um bom queijo são sobremesas melhores do que qualquer doce complicado. É verdade. O caso é que um belo dia eu simplesmente relaxei. O stress foi embora. No momento em que comecei a me concentrar mais nos convidados do que na comida que eu lhes servia, no momento em que comecei a pensar no que eu queria comer, e não sobre o que eu queria "blogar", todo o peso foi embora, e todo aquele "olha só o que eu fiz, não é fabuloso?" desapareceu. E acho que é apenas natural que, uma vez restabelecida essa relação mais simples com a comida, eu não sentisse mais necessidade de ficar tagarelando a respeito do meu almoço.

No entanto, noutro dia fiz uma experiência que foi tão bem sucedida, que imediatamente pensei em dividir com vocês. Não pelos "nossa, isso parece delicioso!", mas porque foi algo que me deixou muito muito feliz, e talvez possa deixar alguns de vocês também. Principalmente os vegetarianos. Quando era criança, minha mãe costumava preparar sempre almôndegas com molho de tomate, que comíamos com arroz branco, que sempre ficava deliciosamente manchado de vermelho, tendo absorvido todo o sabor do molho. "Porpetas" era como as chamávamos, um desvirtuamento de "polpetta", a palavra italiana para almôndega. Diga-se de passagem, "porpeta" era também o apelido carinhoso que meu pai me dera, em minha época mais redondinha.

Há anos eu não comia almôndegas, e esse era só mais um dos meus pratos favoritos que haviam ficado para escanteio desde que eu deixara de comer carne, junto com o strogonofe de frango e a lasagne de minha mãe. E eu queria muito comê-las de novo. Já vira muitas receitas de hambúrguer vegetariano usando soja, feijões ou mesmo cogumelos. Mas não gosto de soja (a não ser tofu e molho shoyu), não queria mais um carboidrato no prato, e as receitas de polpette de cogumelos que eu tinha levavam, além do pão, batatas, ou seja, mais carboidrato. Lembrem-se: eu ainda estou em manutenção da dieta.

Foi então que apanhei uma receita de almôndegas da revista Gourmet e resolvi simplesmente substituir todo o peso da carne por chapéus de cogumelo (shiitake ou portobello), sem mais batata para dar liga, sem feijão, sem soja, nem nada. Mas eu sabia que, ainda que o cogumelo imite até que bem a textura da carne, esta tem algo de picante e adocicado que o cogumelo não tem. Principalmente se falamos de carne de porco. Pensa, pensa, pensa... E encontrei uma solução muito muito simples, que fez toda a diferença, fazendo com que minha mãe dissesse que, se eu não lhe tivesse contado, ela não desconfiaria, assim de cara, que a almôndega era vegetariana. A solução foi refogar os cogumelos com uma folha de louro, picante e adocicada na medida certa, além de acrescentar à mistura das almôndegas floquinhos pequenininhos de manteiga gelada, para que se derretessem apenas no fogo, assim como os pedacinhos de gordura presentes na carne. Ficaram excelentes, do jeitinho que eu me lembrava das almôndegas da infância, principalmente no dia seguinte, quando, como quando criança, eu "belisquei" algumas das sobras direto da geladeira, como bolinhos. E deixo essa receita para os não-comedores de carne, para que matem a saudade das almôndegas como eu... :)

Quanto ao blog, os posts serão menos freqüentes, mas continuarão existindo sim. Vou voltar a permitir os comentários, mas, por uma questão de tempo, já aviso que não vou responder a eles, a não ser que me pareça MUITO pertinente. Mas eu leio todos com carinho. E isso vale para e-mails e para comentários: se você pode encontrar a informação no mecanismo de busca do blog ou no Google, eu não vou responder. Mesmo. Tudo aquilo que eu posso responder está no FAQ. E quanto às receitas, se um ingrediente não consta na lista nem no preparo, é porque ele não é usado ali; se você trocou pêssegos por bananas e o bolo não deu certo, é porque você não seguiu a receita; se você não consegue encontrar um ingrediente X, faça como eu: não prepare a receita. Isso parece meio ríspido da minha parte. Mas hoje o blog tem 35 mil leitores (pouco comparado com outros blogs, mas muito para mim). Façam a conta de quantos emails legais versus quantos absurdos eu recebo por dia. Pois é. Quem tem blog sabe do que eu estou falando. Para que o blog continue, é preciso que eu não perca tempo respondendo coisas que eu não precisaria estar respondendo. Eu fui muito legal e paciente no começo, mas hoje em dia simplesmente não dá. A coisa adquiriu uma proporção que minha vida simplesmente não comporta. Ou eu aparo arestas, ou corto o blog de vez. Portanto, espero a compreensão de vocês todos, e que ninguém leve isso pro lado pessoal.

ALMÔNDEGAS DE COGUMELOS AL SUGO
(adaptado da revista Gourmet)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 2-4 porções, dependendo do acompanhamento


Ingredientes:
(molho)
  • 1 lata (400g) de tomates italianos pelados
  • 1/2 cebola picada
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 1 dente de alho grande, picado
(almôndegas)
  • 1/2 cebola picada
  • 1 folha de louro
  • 2 colh. (sopa) azeite de oliva extra virgem
  • 2 dentes de alho picados
  • 350g cogumelos frescos (shiitake, cremini ou portobello, pesados já sem os cabos)
  • 1/2 xíc. pão amanhecido despedaçado
  • 1/2 xíc. leite
  • 1 ovo grande
  • 1/3 xíc. de queijo Parmesão ralado na hora
  • um punhado de salsinha fresca picada
  • 1/4 colh. (chá) orégano seco
  • 2 colh. (sopa) de manteiga bem gelada
  • 1 xíc. de azeite ou óleo vegetal para fritura
  • farinha de rosca, se necessária
  • sal e pimeta-do-reino

Preparo:
(molho)
  1. Refogue a cebola no azeite em fogo médio por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida.
  2. Junte o alho e cozinhe por uns 2 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os tomates com seu líquido e mexa, despedaçando-os com a colher de pau. Tempere com sal e pimenta a gosto, abaixe o fogo e deixe em fervura branda, destampado, por cerca de 30 minutos, até que o molho esteja bem grosso. Mexa de vez em quando para não grudar.
(almôndegas)
  1. Pique os chapéus de cogumelos ou passe por um processador de alimentos (NÃO use liquidificador) até ter uma consistência de carne moída. Reserve.
  2. Refogue a cebola e o louro no azeite em fogo médio numa frigideira grande, por uns 10 minutos, mexendo de vez em quando, até que ela esteja amolecida. Junte o alho e cozinhe por uns 3 minutos, sem deixar que queime.
  3. Junte os cogumelos e aumente o fogo. Mexendo sempre com uma colher de pau, para que não grudem, cozinhe por uns 5 minutos, até que parem de liberar vapor e não haja mais água na frigideira. Passe para uma tigela e deixe esfriar um pouco. Retire a folha de louro e jogue fora.
  4. Enquanto isso, coloque o pão despedaçado em uma tigelinha e cubra com o leite. Deixe descansar por 5 minutos. Então escorra o pão e esprema-o bem entre os dedos para retirar o excesso de leite e junte o pão úmido aos cogumelos. Descarte o leite.
  5. Junte o parmesão, a salsinha, o orégano, 1 colh. (chá) rasa de sal, pimenta-do-reino a gosto e o ovo. Misture bem até que fique homogêneo.
  6. Com a ajuda da ponta de uma faca, junte a manteiga gelada (ou congelada), acrescentando-a em floquinhos de não mais de 0,5cm. Se a mistura ainda parecer muito molenga para formar bolas, acrescente farinha de rosca até que pareça mais firme. A consistência da massa vai depender da quantidade de leite absorvida pelo pão e da quantidade de água presente nos cogumelos.
  7. Molhe as mãos em água fria e forme bolinhas de 5cm de diâmetro com a massa, reservando-as em uma assadeira. Você terá cerca de 18-20 almôndegas.
  8. Aqueça o óleo em uma frigideira grande em fogo médio-alto, até que esteja quente mas sem sair fumaça. Frite as almôndegas, umas 5 por vez, virando-as constantemente com a ajuda de uma espátula, com cuidado para não despedaçá-las. Cozinhe-as por 5 minutos, ou até que estejam marrom escuras, quase da cor de kibes, mas não queimadas. Transfira de volta para a assadeira. (Você pode parar por aqui, se quiser servi-las sem o molho, ou pode guardá-las na geladeira e reaquecê-las no molho no dia seguinte.)
  9. Junte as almôndegas ao molho de tomate, tampe e cozinhe por cerca de 20 minutos, mexendo de vez em quando. Sirva com arroz, se for como minha mãe, com legumes se for como os italianos ou com spaghetti se for como os americanos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

La Cucinetta em férias... do La Cucinetta.

Acho que todo mundo que tem blog um dia cansa do bendito. Eu olho para meu prato, olho para a tela do computador, e não consigo pensar em nada mais criativo para escrever do que "isso ficou gostoso". E me sinto uma fraude.

A verdade é que há já algum tempo me sinto confortável com meu "nível técnico" na cozinha. Está ok, e por enquanto não me vejo me aventurando em técnicas mais complicadas e ingredientes inusitados. Encontrei meu jeito de cozinhar e de comer, e para mim está ótimo assim. Talvez por isso eu sinta que, por mais que haja novas receitas, não existam verdadeiras novidades a serem contadas. Serão sempre as "saladas refrescantes", os "bolos macios", os "pães quentinhos". And that's it.

Cheguei a um ponto em que sinto que não tenho muito mais o que dividir com vocês. Tudo o que sei sobre pães, bolos e legumes está aqui, timtim por timtim, desde o primeiro post, mostrando a evolução de quem gostava do que cozinhava mas não sabia muito bem o que estava fazendo, até hoje, essa cozinheira sossegada sem um teco do dedo indicador. Entendendo isso, entendo minha preguiça de escrever. Pois estava começando a escrever os mesmos posts um após o outro. Troca-se o almeirão pelo espinafre, mas a técnica é a mesma. E me sinto tentada a transcrever receitas de bolo como faço em meu caderno, listando os ingredientes e apenas anotando: "método génnoise, forma 20cm, 180ºC-45min.", o que já me diz exatamente a ordem dos procedimentos. Mas isso não é justo com vocês, ainda que minha avó tenha feito o mesmo em seus cadernos, e agora sei por quê.

Antes que me dê um siricutico e eu resolva apagar o blog definitivamente, da mesma forma como num dia de fúria mandei embora minha camiseta de rock favorita, é melhor dar uma férias para o La Cucinetta. Assim, um mês. Para ver se dá saudades. Vou continuar publicando os comentários, mas vou ficar longe do email também durante esse tempo. Espero a compreensão de vocês todos. Muito obrigada por todo o carinho, atenção e preocupação por meu dedo, que já está beeeeem melhor! ;)

Vejo vocês em 30 dias.

Cozinhe isso também!

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