quarta-feira, 4 de março de 2015

Um bolo de limão com cream cheese para uma natureba mas nem tanto


Até agora me pergunto o que foi que aconteceu. Eu sempre torci o nariz pra gente que fazia pesto com semente de abóbora, gente que fazia biscoito com farinha de arroz sem ser intolerante a glúten, gente que botava couve no suco. Pra quê, meu deus? Pra quê patê de tofu, se você pode usar ricotta? Por que estragar um bom sushi com arroz integral?

Ahn...

Porque é gostoso.

Ok. Por partes. A primeira vez que caí num blog mega natureba, com spaghetti de quinua e brownie de batata doce, eu também me senti pessoalmente ofendida. Era como se aquela pessoa me dissesse que toda uma tradição culinária não prestava. Era como cuspir no meu fettuccine alfredo porque a massa era de trigo e o molho, de manteiga. Como se todo o meu esforço em comer direito o que eu julgava (e continuo julgando) natural não fosse o bastante. Mas também havia um ranço de "essa pessoa é melhor do que eu porque ela consegue não comer açúcar". A gordinha com baixa-estima dentro de mim se ressentia desse povo magro de cabelo brilhante que toma suco de couve. A sensação era bem essa. Viva na minha memória, a sensação adolescente de olhar meus amigos que não se entupiam de bolacha Bono e ficar criando desculpas a respeito do meu peso, por exemplo. Desculpas do tipo "é meu biotipo, eu sou grande, tenho dificuldade de emagrecer, meu metabolismo é lento..." Um monte de bobagens que me impediam de de fato levantar a bunda do sofá, parar de comer porcaria e ir atrás do que eu queria. Tão mais fácil ficar xingando quem consegue como se aquelas pessoas saudáveis fossem infelizes, esquisitas, problemáticas. E não eu. Infeliz no meu sofá, morrendo de inveja dos outros.

Tive filhos. Com filhos, tive um impasse. O dilema entre criar lindas memórias afetivas recheadas de bolos e pudins e biscoitos, fantasia que habitara minha mente desde que comecei a cozinhar, e a preocupação em criar hábitos saudáveis, em criar dois pequenos seres humanos que prefiram frutas, que gostem de verduras, que saibam comer bem.

As refeições de repente tinham horários, a rotina estava instituída, e meus filhos aprenderam a não beliscar o dia todo, como eu fazia na minha infância. Lanche tem hora. E no lanche eles comem, mas eu raramente tenho fome, e preocupada em dar conta de outros afazeres enquanto eles estão quietinhos comendo, eu acabo não comendo aquela fatia de pudim. Depois do almoço ou do jantar, enquanto eles comem sobremesa na mesa da cozinha, seja doce ou seja fruta, eu lavo a louça. E, nesse hábito, esqueço de pegar um pouco de sorvete.

Vou lembrar que o doce existe às nove da noite, três horas após o jantar e uma hora e meia depois de colocar as crianças na cama. Mas se eu tiver aberto uma boa cerveja stout, vou achar que o bolo não combina, e vou deixar para amanhã. Só para repetir tudo de novo e, dessa forma, passar meses sem comer um doce e nem perceber.

Esse foi um processo estranho. Um processo inconsciente e sem intenção que fez com que, ao longo dos últimos anos, eu mudasse muito meu jeito de comer. Essa desintoxicação do doce, que eu costumava comer duas, três vezes por dia, somada a um crescente interesse pelos sabores dos grãos e farinhas integrais, o fato de ter mudado para um lugar onde não consigo comprar carnes ou peixes com frequência, e, enfim, o fato de o preço dos meus queijos favoritos estarem pela hora da morte... tudo isso contribuiu para a mudança na minha cozinha.

E de repente eu tinha todos os ingredientes para alguma receita extremamente natureba que eu vira num blog ou na tv, e resolvo tentar. E de um dia para o outro me vendo colocando chia e tahini nas coisas. E fazendo leite de amêndoas. E maionese de castanha de caju. E patê de tofu. E mousse de chocolate com abacate. E suco com couve. Meu deus, até o sushi com o arroz integral.

E adoro quando acaba a farinha de trigo e eu não me desespero porque tenho que ir a São Paulo comprar mais farinha orgânica. Fico duas semanas sem comprar e ainda consigo fazer panquecas e waffles e crepes e biscoitos e bolos. De quinua, de teff, de sorgo, de amaranto, de cevada, de centeio, de milho.

E quando acaba o creme de leite, posso engrossar uma sopa com castanha de caju, porque lembro que quem é vegan faz creme de leite com ela. E aprendo a cozinhar sem ovos quando estou sem. E aprendo a cozinhar sem queijo quando está muito caro.

Mas o que mais aprendi nesse último ano foi como eu funciono bem assim. Como essa comida super natureba melhorou minha pele, meu cabelo, meu peso pós-crianças. Minha mãe vinha em casa e ficava preocupada, achando que minha porção de comida era muito pequena. E eu explicava que aquele monte de grãos integrais e legumes me mantinham saciada por mais tempo, apesar de deixar o estômago leve. E, de fato, eu só tinha fome de novo na hora do jantar. Vontade ZERO de beliscar.

Ok, muita coisa pra fazer pra lembrar de beliscar.

Sinto-me tão, tão bem, que me dá vontade de voltar a me proclamar vegetariana. Mas deixo pra lá os rótulos porque é simplesmente mais fácil fazer tantas refeições vegetarianas ou veganas que eu queira, e, no dia que der vontade, comer um sanduíche de mortadela. Ninguém me impede. Nunca assinei contrato nenhum. ;)

E isso eu também aprendi. Que comida natural faz bem, desde que não deixe você estressado a respeito. Eu não penso mais duas vezes na estranheza que é só comprar arroz agulhinha integral mas fazer risotto de arroz arbóreo, branco daquele jeito. Confesso, se tivesse arroz arbóreo integral pra comprar, compraria. Mas se não tem, adoro meu risotto branquinho. Quando vou à minha mãe, como arroz branco e como frango orgânico à milanesa. Me esbaldo, aliás, porque fez parte da minha infância aquele franguinho.

No mesmo dia em que  me faço um suco de couve depois da corrida, preparo também iogurte, leite de amêndoas e sorvete de doce de leite. O almoço é cevadinha com pesto de brócolis e abacate, e o jantar é a "crustless pizza" da Nigella. Assisto a programas da Bela Gil beliscando prosciutto e tomando um negroni. Quero preparar o pernil desfiado da Rita Lobo e as trufas de tâmara do Green Kitchen Stories. Sobre a mesa da cozinha, há biscoitos sem glúten feitos com farinha de teff e um bolo de limão que levou 600g de açúcar orgânico e um monte de cream cheese na massa.

Há quem diga que isso é loucura, que não tenho consistência. Com certeza, hoje, tenho prazer na minha comida. Não tenho invejinha do povo do suco de couve e não desdenho quem nunca comeu quinua. Quero fazer brownies de batata doce e vou preparar minhas próprias linguiças tão logo encontre os intestinos para comprar. Comida é comida e para mim só não pode ser trakinas e miojo. Mas se eu estiver morrendo de fome e um amigo querido me oferecer cebolitos, vou comer e agradecer a gentileza. Se o único cream cheese disponível tem goma, vou comprar um a cada seis meses e não toda semana.

Enquanto isso, me esbaldo com cuidado nesse bolo, que é tudo aquilo que sempre foi perdição para mim. Bolo perfumado e incrivelmente macio, daqueles que você come um pedaço, e outro e outro. Recomendo preparar e levar para dividir com amigos.

A menta na cobertura é tão sutil que pode ser omitida se você não tiver. Única mudança que faria da próxima vez é usar da técnica da Dorie Greenspan e incorporar a casca do limão já esfregada no açúcar, para liberar os óleos essenciais e espalhar melhor na massa. Da forma como estava na receita, de juntar na massa pronta, a casca formou gruminhos que não se espalharam uniformemente.

PS: vi um post engraçadíssimo no Facebook sobre um povo que foi preparar uma refeição inteira da Bela Gil e gastou uma fortuna e ficou horas na cozinha. Ri muito, mas lembro que quando fui fazer minha primeira refeição indiana, gastei os tubos com especiarias porque não tinha nada em casa e demorei horrores só pra separar os 17 temperos que iam em cada um dos pratos. Falta de hábito. Se você vai se enveredar por qualquer cozinha que não aquela com a qual você cresceu, vai gastar dinheiro para estocar a despensa com os básicos e vai demorar até pegar o jeito das preparações. Seja cozinha natureba, francesa, indiana, chinesa, vegana, alemã, o que for. Concordo muito com as críticas à Bela Gil como apresentadora, torço o nariz pra muita coisa que ela diz, mas continuo defendendo a comida, que é uma delícia, independente das meias informações que ela fala e das confusões que se arranja. Se você está de saco cheio dela mas quer explorar esse tipo de cozinha, recomendo os seguintes sites (em inglês):

Green Kitchen Stories (um dos meus favoritos, os livros são ótimos)
Deliciously Ella (achei recentemente e adorei. Os videos dela do youtube são fofos.)
Naturally Ella (também descoberta recente.)
Sprouted Kitchen (um pouco menos natureba comparado com os de cima)
101 Cookbooks (sempre, sempre confiável, as receitas da Heidi viravam até papinha das crianças)
Canelle et Vanille (não é vegetariano, mas é gluten free e lactose free, e uma delícia)

No momento, a Bela Gil para mim é uma boa opção por usar ingredientes brasileiros, apesar de tudo. Se você tiver uma boa indicação de site natureba brasileiro, por favor deixe aqui nos comentários. Obrigada! :D

"POUND CAKE" DE CREAM CHEESE E LIMÃO
(Do sempre ótimo Baking for All Occasions, de Flo Braker)
Rendimento: 1 bolo grande

Ingredientes:

  • 3 1/4 xic (370g) farinha de trigo*
  • 1/4 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 255g manteiga sem sal, em temperatura ambiente
  • 225g cream cheese, em temperatura ambiente
  • 3 xic. (600g) açúcar
  • 6 ovos grandes, em temperatura ambiente, levemente batidos
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
  • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
  • 3 colh. (sopa) suco de limão

(glacê)

  • 90ml água
  • 2 colh. (chá) casca ralada de limão
  • 2 colh. (sopa) suco de limão
  • 2 colh. (sopa) manteiga
  • 1/4 xic. folhas de hortelã apertadas na xícara
  • 1 1/4 xic. + 2 colh. (sopa) (140g) de açúcar de confeiteiro


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte generosamente com manteiga uma forma Bundt ou uma forma de furo no meio com capacidade para 12 xícaras. Polvilhe com farinha e retire o excesso.
  2. Peneire numa tigela a farinha, bicarbonato e sal. Em outra, esfregue o açúcar e a casca de limão com os dedos, para liberar os óleos. 
  3. Na tigela da batedeira, bata a manteiga e o cream cheese em velocidade média por 30-45 segundos, até que fique cremoso e uniforme. Vá acrescentando o açúcar com a casca de limão aos poucos, batendo por uns 5 minutos, até que fique bem claro e fofo.
  4. Vá juntando os ovos batidos devegar, de 2 em 2 colheres (sopa), batendo sempre, não demorando mais que 3 minutos para juntar tudo. 
  5. Junte a baunilha e o suco de limão. Não se preocupe se a mistura parecer talhada. Vá juntando a farinha e batendo em velocidade baixa, apenas até que a farinha tenha sido incorporada, raspando o fundo da tigela com uma espátula de vez em quando.
  6. Transfira para a forma e asse por 1h15 minutos, ou até que um palito saia limpo ao ser inserido no meio. Confira quando der 1 hora, pois o bolo pode já estar pronto. 
  7. Retire do forno e deixe sobre uma grade por 10 minutos antes de desenformar. Enquanto isso, faça a cobertura.
  8. Numa panela pequena, coloque a água, a manteiga, o suco de limão e folhas de hortelã. Leve ao fogo baixo apenas até que a mistura borbulhe nos cantos, desligue e deixe quieto por alguns minutos. Pressione as folhas com as costas de uma colher contra a lateral da panela, para liberar os óleos, e descarte. Junte à mistura de manteiga o açeucar e a casca de limão e misture bem. Desenforme o bolo e use um pincel para espalhar o glacê sobre todo o bolo quente. Deixe esfriar completamente antes de servir. 



*Ela pede "cake flour". Meça a farinha de trigo. Para cada xícara, retire 1 colh. (sopa) e substitua por 1 colh. (sopa) amido. Misture bem com um fouet.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Borcht com Pirochki, para quem não vive sem legumes


As coisas andam tão corridas, que esse era para ser um post de Reveillon, veja só. Com resoluções e o caramba. Engraçado como um mês depois você já se dá conta de que resoluções não levam a nada e que o melhor é simplesmente viver sua vida da melhor forma possível e não encanar muito com as coisas. [Viu? Isso era uma das resoluções, tentar ser menos dura, e levar as coisas de um jeito mais leve – só pra dizer que essa resolução tem beirado o impossível de manter.]

E tive mesmo de não encanar muito nos últimos meses, pois fui absorvida pelo trabalho durante as férias escolares, com direito a duas viagens internacionais que soaram bem mais interessantes do que foram de fato. Precisei de muita a ajuda de marido, mãe e sogra, para poder dar conta de tudo e basicamente qualquer atividade que eu tivesse planejado para janeiro (que era para ser minhas férias) teve que ser cancelada.

Agora o trabalho está um pouco mais tranquilo e as crianças voltaram para a escola, e estamos todos ainda nos adaptando à nova rotina, agora que a pequena Madame Bochechas também tem aulas. Consigo trabalhar a manhã toda, e um pouco mais à tarde, porque os dois cochilam após o almoço. (Aleluia!)

E tenho mais tempo para pensar melhor as refeições do meio da semana e até mesmo para voltar a fazer pão com regularidade.

E se as viagens a Trinidad não foram aquela coisa maravilhosa de dias no Caribe que as pessoas esperavam quando eu contava do trabalho, valeu para poder organizar a cabeça de novo e me dar conta de coisas nas quais não havia ainda prestado atenção.

Após uma reunião de três horas, o cliente pediu almoço para a equipe na sala de conferência antes da reunião seguinte... de três horas. Sempre que pediam comida no escritório a mistura era mais ou menos a mesma: algo indiano, algo chinês, algo com sotaque africano. Sempre um peixe ou uma carne com um molho doce e bem apimentado, algum curry, algum arroz ou macarrão chinês com legumes.

Muito gostoso. Comi bem todos os dias.

Mas não foi assim com todos nós. A equipe era chamada de "Nações Unidas", porque era composta de uma brasileira (eu), uma norueguesa, um romeno, um guatemalteco, um peruano e um chinês. O guatemalteco, logo notei, nunca comia nada. Naquele dia, havia um pãozinho indiano simples e delicioso, para ser comido junto com um curry que quase me fez lamber o prato. O rapaz comia apenas o pão.

O peruano lhe perguntou a respeito de sua dificuldade com a comida local.

"Não gosto de comida apimentada. Ou com muitos temperos. Não consigo comer."
"A comida na Guatemala não é apimentada?", perguntei.
"Não, é bem neutra de temperos, na verdade."

Pela localização geográfica, presumi que fosse muito quente na Guatemala, e que por isso, lá também, como todos os locais quentes, muita pimenta fosse usada. Mas não, a Guatemala é a "terra da primavera eterna", ele me explicou. E a comida reflete o clima ameno.

"Mas o que seria o básico da comida de lá? Do que você sente falta?", perguntou o peruano.
"Ah... feijão. Eu preciso de feijão. Se não tem feijão no meu prato, não é uma refeição", disse ele.
"Feijão? Hum... Para mim é arroz. Acho muito estranho não ter arroz. Fica faltando alguma coisa, não satisfaz", disse o peruano. "E você, Ana?"

Pensei um pouco.

"Como brasileira, acho que seria a combinação dos dois. No Brasil, pelo menos no sudeste, acho que arroz e feijão juntos são muito importantes."

Eles pareceram satisfeitos com essa resposta, mas eu, não. Continuei a comer meu curry de vagens, chuchando o pãozinho no molho cremoso e apimentado, e matutando no assunto. O que torna minha refeição uma refeição de fato? O que não pode faltar no meu prato? Do que mais sinto falta quando estou fora da minha casa?

Carne? Não, não preciso de nenhuma.
Arroz? Neh.
Feijão? Neh.
Queijo? Nem isso.

A resposta me surpreendeu um bocado e me encheu de satisfação ao mesmo tempo: verduras. Preciso de verduras e legumes no meu prato. Sempre. Nem que seja apenas uma folha de alface num sanduíche de queijo. Um pouco de couve para acompanhar o arroz com feijão.

Uma vez fiz uma frittata de mortadela da Nigella, que, apesar de deliciosa, causou-me muita estranheza: depois de uma vida fazendo frittata de legumes e verduras, ver proteína com proteína daquele jeito me pareceu pesado e redundante, e senti falta de algo bem verde e leve para suavizar a refeição. Posso comer um prato inteirinho de verduras e legumes, e para mim é almoço completo. Mas um prato sem eles parece tragicamente abandonado no meio do caminho.

Essa constatação me deixou muito feliz comigo mesma. Como disse a meu marido outro dia, parece que hoje, mesmo comendo carne eventualmente, eu poderia ser uma vegetariana melhor do que jamais fui. Consegui chegar num ponto em que realmente estou satisfeita com a minha alimentação. Meu prato me faz levantar da mesa leve e cheia de energia.

E fico contente vendo os pimpolhos seguindo o mesmo caminho.

Depois de pastar um bocado com o Matador de Dragões nos seus Terríveis Dois Anos, quando ele não queria provar nada verde e empurrava o prato para longe, e berrava e não comia e me deixava louca, finalmente posso simplesmente preparar o almoço com a maior quantidade de legumes e verduras possíveis, e não ficar muito encanada se aquilo será aceito ou não pelas crianças.

Porque mesmo que sem entusiasmo, eles pelo menos provam. Um influenciado pelo outro. Madame Bochechas passou voando pela fase do "não quero-não gosto", já que quer imitar o irmão, e se o irmão está comendo quiabo, então ela vai comer quiabo também. Ou Laura recebe palmas por comer toda a couve, e o ciúmes faz com que Thomas leve um garfo cheio de couve à boca, pedindo palmas também.

Às vezes tenho que me refrear e não ficar tão encanada com o fato de eles comerem tudo do prato ou não. E simplesmente fazer festa por terem provado algo novo. As broncas acontecem mais quando a brincadeira é tanta à mesa, que cotovelos batem em garfos e comida sai voando pelos ares. Ou quando Laura resolve colocar comida atrás da orelha.

Mas de vez em quando eles me surpreendem. Muito. Como quando você coloca à frente deles uma tigela de Borcht e pasteizinhos de repolho e eles comem sem titubear, sem pedir ajuda, viram as tigelinhas na boca e pedem mais, chucham os pasteizinhos no caldo púrpura brilhante, perguntam o que são as sementinhas ali dentro (alcaravia), repetem os nomes como conseguem e se esbaldam, quase não deixando nada para papai e mamãe.  

Penso de novo nisso de "cardápio infantil" ou "paladar infantil" e acho tudo uma grande bobagem. Vejo os dois tomando sopa de beterraba com repolho e comendo frutas de sobremesa e fico contente, acreditanto que eles também vão sempre buscar colocar uma folhinha de alface dentro de seus sanduíches de queijo. E que, principalmente, no dia em que estiverem na Tailândia, ou no Japão, ou na França, ou na Alemanha, ou em qualquer lugar do mundo, ou mesmo na casa de um amigo, nunca vão passar fome ou recusar comida de um anfitrião generoso. E essa perspectiva me deixa muito feliz.

Esse Borcht é vegetariano, olhe só. Eu sempre achei que Borcht levasse uma tonelada de carne. Só que não. Pelo menos essa versão. Essa sopa é mais saborosa e mais leve do que parece. Em temperatura ambiente, foi refeição em dias de calor brutal. O certo é colocar creme azedo por cima, mas uma colherada generosa de iogurte firme também serve. E não deixe de fazer os pasteizinhos, que são fáceis e deliciosos. E tanto a sopa quanto os pastéis congelam maravilhosamente bem. Foi minha saída, pois só no meio do preparo dei-me conta de que fazia Borcht e Pirochki para DEZ PESSOAS. o_O

BORCHT com PIROCHKI (vegetariano)
(do livro Culinária Ilustrada Passo a Passo, Legumes e Verduras, da PubliFolha)
Rendimento: 8-10 porções

Ingredientes:
(Borcht)

  • 1 repolho de 1,5kg, cortado em quartos e fatiado bem fino
  • 2 cenouras médias, picadas
  • 3 cebolas médias, picadas
  • um punhado de endro, picado
  • um punhado de salsinha, picada
  • 750g tomates, pelados e picados grosseiramente
  • 6 beterrabas médias, cozidas (ou assadas), descascadas e raladas grosso
  • 60g manteiga
  • 2 litros de caldo de galinha ou água
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • suco de 1 limão
  • 2-3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto
  • 125ml creme azedo (sour cream), para servir

(Pirochki)

  • 60g queijo minas
  • 2 colh.(chá) sementes de alcaravia (kümmel)
  • 175g farinha de trigo
  • 1 ovo
  • 60g manteiga sem sal, amolecida
  • 2 colh. (sopa) creme de leite
  • 1 ovo para pincelar


Preparo:

  1. Depois de picado o repolho, reserve 1/2 xic. de chá para rechear os pirochki.
  2. Para a massa dos pastéis, coloque a farinha numa tigela com a manteiga, o ovo e o creme de leite, 1/2 colh (chá) de sal e misture com a ponta dos dedos, juntando a farinha aos outros ingredientes aos poucos, até obter uma farofa grossa. Forme uma bola.
  3. Polvilhe uma superfície com farinha e sove a massa sobre ela por 1-2 minutos, até ficar bem lisa e soltar da superfície e dos dedos. 
  4. Embrulhe bem a massa em filme plástico e deixe na geladeira por 30 minutos. 
  5. Enquanto isso, faça a sopa. Derreta a manteiga em uma panela BEM GRANDE. Acrescente a cenoura e a cebola e cozinhe, mexendo, por uns 5 minutos, em fogo baixo, até os legumes fiquem macios, sem dourar. Retire 1/4 dos legumes passados na manteiga para o recheio dos pirochki.
  6. Junte à panela o repolho, a beterraba, o tomate, o caldo (ou água), açúcar, sal e pimenta a gosto e deixe abrir fervura.
  7. Abaixe o fogo e cozinhe por 45-60 minutos. Prove, corrija o tempero, se necessário, e adicione mais caldo ou água se a sopa estiver muito grossa (dependendo da panela, pode secar muito rápido, então fique de olho!). Desligue o fogo e reserve enquanto prepara os pirochki. Na hora de servir, junte as ervas picadas, o suco de limão e o vinagre e acerte o tempero. 
  8. Para o recheio dos pirochki, coloque o repolho reservado em uma tigela, cubra com água fervente e deixe ficar 2 minutos. Escorra, passe por água fria e escorra de novo, espremendo bem com as mãos. Pique finamente.
  9. Misture o repolho picado, o queijo, as sementes de alcaravia e as cenouras e cebolas refogadas. Tempere com sal e pimenta. 
  10. Polvilhe uma superfície com farinha e abra a massa com rolo até 3mm de espessura. Recorte discos de massa com um cortador ou um copo de borda fina. Deve render de 25-30 discos, mais ou menos. 
  11. Use uma colher de chá para colocar o recheio no centro dos pastéis. Pincele as bordas com um ovo batido com 1/2 colh. (chá) de sal. Feche bem os pasteizinhos em forma de meias-luas e coloque em uma assadeira. Pincele-os com o ovo batido. Leve à geladeira por 15 minutos.
  12. Aqueça o forno a 200ºC. Quando o forno estiver quente, asse os pastéis por 15-18 minutos, ou até que dourem. 
  13. Sirva os pastéis ao lado do borcht quente ou em temperatura ambiente, com uma colherada de creme azedo por cima. 






quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

De volta às aulas com o cliché do bolo de banana... com quinua


Hoje minha pequena princesa viking, Madame Bochechas, teve seu primeiro dia de aula. Entre olhinhos marejados (os meus, não os dela) e sorrisos, meus pimpolhos se aventuram em mais um ano de descobertas. Meu Matador de Dragões mal lembrou de dizer tchau pra mamãe, empolgado que estava em rever os amiguinhos. E eu, descobrindo que ele já terá aulas de inglês esse ano, sinto-me agradavelmente madura. Meu deus, meu filho mais velho já vai aprender inglês! o_O

Esse ano, sinto-me mais focada. E, cheia de foco, e reanimada pela retornado apetite dos pimpolhos, pretendo me empenhar mais nos lanches da escola esse ano. Principalmente por ter tido a boa surpresa de ver outras mães da escola querendo boicotar os sucos de caixinha e fazer um esforço coletivo para enviar lanches mais saudáveis aos pequenos, já que eles tendem a compartilhar e as bolachas em pacotes coloridos com personagens sempre chamam mais atenção que o bolinho feito em casa ou os palitos de cenoura.

Preparei esse bolo delicioso ontem à noite depois que as crianças foram dormir. Tão, tão fácil. Acho que bolo de banana é um cliché em lanche de escola, e eu mesma fiz tantas versões nos últimos dois anos, que enjoei e fiquei meses sem preparar nenhum. Aí me vi reservando bananas para um bolo novamente.

E bolo de banana com quinua é ótimo. Claro, poderia ter feito sem, outra receita qualquer. Afinal, pimpolhada come quinua numa boa, e os dois têm experimentado e comido sem grandes traumas a maioria das naturebices integrais que coloco no prato deles. Mas ando muito mais interessada na contribuição que essas mesmas naturebices dão ao sabor e à textura dos doces, do que apenas em seu valor nutricional.

Montei as lancheirinhas feliz da vida. Depois de um ano inteiro de lanches voltando inteiros, achei que a maldição do "lanche do amigo" teria acabado. Ledo engano. Laura atacou o lanche dela assim que chegou em casa, pois hoje foi dia de adaptação e ela só ficou lá até a hora do recreio. Thomas estava super contente quando fui buscá-lo, apesar do novo rombo no joelho, cheio de curativos.

E ousei perguntar...

"Comeu o lanche, Thomas?"
"Ahn... não."
"Não??"
"Ahn-ahn."
"Tomou o suco?"
"Sim."
"Comeu o melão?"
"Não."
"Mas VOCÊ pediu o melão!"
"Mas eu não quero melão."
"Comeu o bolo?"
"Também não."
"Por que não?"
"Porque não quero."
"E o que você comeu?"

...

"O lanche do amigo."
"E o que o amigo levou de lanche?"
"Bolacha doce."

¬_¬

Bom... a vida é assim.

Ele volta da escola, come o que tem no almoço, e no lanche da tarde ataca o bolo de banana e o melão com gosto. E a vida segue. E estou só esperando como vai ser com Madame Bochechas.

De qualquer forma, a Pat estava certa quando disse que eu ia adorar o livro de onde saiu esse bolo.

BOLO DE BANANA, NOZES E QUINUA
(Do ótimo SuperGrains, de Chrissy Freer)
Tempo de preparo: 1 hora
Rendimento: 1 bolo (8 porções)

Ingredientes:

  • 1 1/2 xic. de farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) canela em pó
  • 1 colh (sopa) fermento químico
  • 1 pitada de sal
  • 2/3 xic. quinua em flocos (comum ou vermelha)
  • 1/2 xic. de nozes picadas
  • 2 xic. banana amassada
  • 2 ovos
  • 1/2 xic. mel (ou melado)
  • 1/4 xic. sour cream
  • 1/3 xic. óleo vegetal 


Preparo:

  1. Unte ligeiramente uma forma de bolo inglês de 21cm e forre o fundo com papel manteiga. Pré-aqueça o forno a 180ºC. 
  2. Numa tigela, peneire farinha, fermento, canela e sal. Junte a quinua em flocos e 1/3 xic. das nozes e misture.
  3. Em outra tigela, junte o restante dos ingredientes até ficar mais ou menos homogêneo.
  4. Junte o conteúdo das duas tigelas e misture até não ver mais farinha. Despeje na forma, alise a superfície, polvilhe o restante das nozes e leve ao forno por 45 minutos, ou até que esteja dourado e um palito saia seco quando inserido no meio. 
  5. Retire do forno, deixe esfriar na forma por 10 minutos, desenforme e deixe esfriar completamente antes de fatiar. 


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Um mini-aviso para os desavisados

Quem tem facebook sabe que o blog anda super ativo por aquelas bandas (https://www.facebook.com/lacucinetta). Quem não tem, deve achar que o blog morreu.

O blog não morreu.

Eu juro.

Estou apenas atolada em trabalho desde o começo de dezembro e sem NENHUM tempo de escrever um post comprido.

Logo, paciência.

Eu volto assim que possível, mais provavelmente em fevereiro. ;)

Beijos a todos os meus leitores queridos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Couscous integral com ervas thai e cebola caramelizada, abóbora assada e acelga suíça, e depois de um ano com carne o que é que rola


Quando resolvi voltar a comer carne, sabia que a mudança, tonta que fosse, causaria todo um fuzuê. Primeiro, entre leitores do blog. Houve quem ficasse empolgado com a possibilidade de ver receitas carnívoras por aqui e houve quem me escrevesse num tom de extrema decepção. Teve gente que parou de ler. Ainda bem, a grande maioria deu tanta importância quanto se eu dissesse que parei de tomar sorvete de uva. Né? Ok.

Dentre os meus amigos, foi uma mini comoção. Decepção entre os vegetarianos (alguns veganos ficaram chocados) e comemoração entre os carnívoros. Há uns dez anos atrás, no auge do meu vegetarianismo fajuto e de minha militância, li um blogueiro de quem gostava muito dizendo que fora vegetariano por 20 anos e então simplesmente resolvera voltar a comer bife e estava feliz assim. Minha reação foi parecida com a de meus amigos e alguns leitores: sensação de decepção porque aquela pessoa não foi forte o bastante. A alegria dos carnívoros é o oposto: a felicidade em saber que você foi fraco. "Ah, eu sabia que você ia voltar!" Tudo muito bobo. Hoje eu sei.

Já minha mãe ficou aliviada. Disse que estava ficando sem ideias do que fazer para os meus filhos. O que eu achei muito bizarro, considerando que arroz, feijão, espinafre e ovo frito (que é o que ela mais prepara) é uma bela refeição e nunca me pareceu incompleta. Mas foi falar "oooook, eu voltei a comer carne" que de repente todo dia em que eu ia à sua casa tinha alguma. Era frango, era boi, era porco, o que fosse. De um dia para o outro, uma casa que havia aprendido a ser 70% vegetariana, parecia o festival da carne. Tudo uma delícia, e eu não vou fazer desfeita para minha mãe. Mas me fez matutar.

Dizer "eu voltei a comer carne" parece ter um significado diferente para mim que para os outros. Para mim, queria dizer que, não havendo uma boa opção de verduras no local onde estivesse, eu não passaria mais fome. Queria dizer que, num dia em que eu estivesse afim, poderia comprar um pedaço da carne que fosse para testar alguma técnica culinária que me deixou curiosa por todos esses anos à base de legumes e tofu.

E só.

O que me surpreendeu foi que, para os outros, voltar a comer carne não quer dizer o beslisquete ocasional que eu tinha em mente, mas se espera sim que eu coma todo dia, almoço e jantar. Oito ou oitenta. Povo tendo dificuldade de entender o meio termo. Se você diz que come castanhas, não quer dizer que coma todo dia. Certo? E você diz que como sorvete de uva, não quer dizer que queira um agora ou que seja obrigado a tomar sorvete de uva sempre que tiver um na minha frente.

Parece óbvio, mas pior foi perceber que não é. Achei essa expectativa meio engraçada, e me dei conta de que essa era a fonte da confusão dos meus amigos, toda vez que saíamos para comer.

O caso é que nisso de todo mundo achar que eu havia mergulhado no açougue, acabei sim comendo mais carne (porco, boi, aves) do que eu pretendia. Amigo chamava para comer... carne. Mãe chamava pra almoçar... carne. Justo naquela semana em que você havia comprado um pedacinho de algum bicho pra cozinhar dum jeito especial no meio de uma semana que deveria ter sido vegana. Mas não foi.

E isso foi uma experiência... interessante.

Primeiro, concluí que as carnes de fato voltaram a agradar meu paladar. Ainda que não de todo jeito. Preparara um dia um frango com melado que ficara delicioso, e, num churrasco, pediram para que preparasse novamente. Chego no mercado, o frango orgânico sumiu. Fiquei besta de ver como frango de granja é barato (barato que sai caro) e resolvi preparar a receita com o frango comum. Povo adorou, mas eu que tinha sentido o gosto do mesmo tempero num frango feliz, senti uma diferença brutal. E não fui só eu: minha irmã também. Como disse um chef na Menu desse mês, frango de granja tem gosto de poleiro. Um gosto plástico, químico, qualquer coisa esquisita que nem melado e muito alho conseguiram esconder. Se é caro, prefiro comer frango uma vez por ano, mas que seja orgânico. Frango de granja, nunca mais na vida. XP

Segundo, e esse segundo é o mais importante de todos... concluí que eu funciono infinitamente melhor... sem carne. (Vegetarianos mega felizes lendo isso.)

Pois é. Depois de alguns meses comendo mais carne do que comi  nos últimos dez anos, percebi que prefiro me manter 90% vegetariana. A carne faz com que meu corpo não funcione tão bem. Muda o cheiro do meu suor, a textura da minha pele, o meu hálito, muda meu estômago, meu intestino, muda principalmente meu estado de ânimo. Nesses últimos meses fiquei mais irritadiça e mais letárgica. E não fui só eu. Nada como ter crianças em casa, que foram vegetarianas por toda a sua longuíssima vida, comendo carne com frequência, pela primeira vez. Laura adora qualquer coisa que tenha andado ou nadado. Thomas parece mais fã de porco e frutos do mar (adorou lula, e comeu mexilhões na praia com curiosidade), mas parece rejeitar aves e carne bovina. O resultado da comilança não-vegetariana vê-se mais rápido do que em adultos: eles ficam com a barriguinha toda desregulada (constipados pelo excesso de proteína e depois desandados pelo de gordura) e ninguém, NINGUÉM quer chegar perto da fralda da pequena. :P Argh.

Definitivamente prefiro carne uma vez por mês. Se tudo isso. Idem pros pimpolhos. Continuo querendo fazer bouef bourguignon, mas sabendo que vai ter porco no Natal, prefiro dar uma desintoxicada e voltar para os meus adorados legumes. A carninha fancesa vai esperar mais um pouco.

Nesse meio tempo, ando cada vez mais adorando explorar tudo quanto é tipo de naturebice. Depois de uma semana viajando a trabalho e uma semana na praia – quinze dias a base de proteína e carboidrato – não via a hora de voltar pra casa e comer minha comida, cheia de frutas, verduras e coisinhas integrais. ^_^

Essa refeição, de couscous, abóbora e verduras, é exatamente o tipo de coisa que gosto de comer todos os dias. Leve, colorida, interessante, cheia de sabores e texturas. Ok, abóbora com gosto de abóbora foi demais para o marido. ;) Mas a pimpolhada comeu bem. O couscous é super perfumado e saboroso, e eu que sou fã de abóbora e de qualquer verdura escura, caí de amores por essa refeição.

Madame Bochechas, aliás, minha pequena adoradora de pancetta, ganhou um novo apelido do pai. Princesa? Ok. Mas não a Branca de Neve. Bianca di Lardo. Mais apropriado. ;) E a pequena Bianca di Lardo, depois de raspar o prato e ir brincar com o irmão, resolveu voltar e me fazer companhia enquanto eu lavava a louça. Ouço ela arrastando a cadeira e se empoleirando em cima. Ouço talheres. Olho para trás e pego a mocinha puxando a travessa de acelga suíça refogada em alho e gengibre para perto de si e dando uma garfada. E outra. E eu fiquei olhando, e eventualmente peguei a câmera para registrar o momento em que minha filha, Ex-Catadora de Salsinha, termina de comer quase 3 xícaras de verdura verde e amarga. Por livre e expontânea vontade.


Acho que não sou só eu que prefiro um bom prato de verdura. ^_^

COUSCOUS INTEGRAL COM ERVAS THAI E CEBOLA CARAMELIZADA, acompanhado de ABÓBORA ASSADA E VERDURAS COM GENGIBRE
(Ligeiramente adaptado do ótimo Whole Grains for the New Generation, de Liana Krissoff)

Ingredientes:
(abóbora)

  • meia abóbora japonesa pequena, sem sementes, cortada em cunhas, com a casca
  • azeite
  • sal e pimenta-do-reino

(couscous)

  • 2 colh. (sopa) manteiga sem sal
  • 1/2 cebola, em meias luas bem finas
  • sal
  • 1 xic. couscous marroquino integral
  • 2 folhas de limão kaffir (confesso que usei da lima da pérsia do quintal), fatiadas fino
  • 1/4 xic. coentro picado
  • 1/4 xic. menta/hortelã picada
  • 1/4 xic. manjericão (comum ou tailandês)

(verdura)

  • 1 maço de acelga chinesa, acelga suíça ou a verdura escura de sua escolha, cortada em tiras de mais ou menos 1cm de largura, incluindo os talos
  • 2 dentes de alho, fatiados fino
  • 1 pedaço de uns 3cm e gengibre, descascado e picado
  • óleo vegetal
  • sal


Preparo:

  1. Aqueça o forno a 200ºC. Tempere a abóbora com azeite, sal e pimenta e disponha numa assadeira, em camada única, e, de preferência, com algum espaço entre as cunhas, para que assem e não cozinhem no próprio vapor. Leve ao forno. O tempo de cozimento vai depender do tamanho das cunhas e da idade da abóbora, então fique de olho depois de uns 15 minutos, e assim que dourar um lado, tire do forno, vire as gunhas e volte ao forno para dourar o outro também. Está pronto quando um garfo espetar a abóbora como se ela fosse um purê. 
  2. Coloque água para ferver.
  3. Para o couscous derreta a manteiga em uma panela média e junte a cebola e uma pitada de sal. Cozinhe em fogo médio-baixo, mexendo sempre, até que as cebolas estejam bem douradas e quase crocantes (demora cerca de 10 minutos). Retire e reserve.
  4. Na mesma panela, coloque o couscous, as folhas de limão kafir, 3/4 colh. (chá) de sal e 1 1/2xic. de água fervente. Misture bem, cubra a panela e desligue o fogo. Deixe quieto por 10 a 15 minutos, até que o couscous tenha absorvido a água e esteja fofinho. Junte o restante das ervas, a cebola caramelizada e afofe com um garfo.
  5. Para as verduras, coloque um pouco de água com sal para ferver. Quando ferver, mergulhe as verduras na água por 1 minuto ou 2, (se os talos das verduras forem muito duros, coloque-os uns 2 minutos antes das folhas), retire e reserve.
  6. Aqueça uma frigideira grande. Coloque nela um fio generoso de óleo, o gengibre e o alho, e quando começar a querer dourar, junte as verduras escorridas. Tempere com sal e pimenta e misture bem para que as folhas se recubram do tempero. Sirva imediatamente. 






terça-feira, 4 de novembro de 2014

Chamemos as coisas pelos nomes delas: pavê de banana


Minha mãe, dia desses, deu-me de presente um pacote de "biscoitos champagne" de uma marca italiana que ela encontrara, e cujos ingredientes eram ingredientes de verdade, sem nenhuma traquitana nojentinha. Imediatamente olhei para aquilo e pensei TI-RA-MI-SÙ. Porque meus filhos nunca comeram tiramisù e está mais do que na hora.

Fui feliz e contente ao supermercado procurando mascarpone, apenas para cair sentada com o fato de 200g de mascarpone brasileiro custarem 40 reais. Uma sobremesa de 40 reais. Acho que não. Pensei em tentar fazer o mascarpone em casa, mas confesso que me deu uma preguiça de gastar também bons 20 reais em creme de leite fresco, sem saber se daria certo ou não.

Suspirei, decepcionada, e voltei para casa.

E lá, os biscoitos me esperavam. E também bananas. Muitas delas, olhando para mim e dizendo que não aguentariam o calorão por muitos dias mais.

Lembrei do banana pudding da Magnolia Bakery, que eu sempre quisera preparar. Porém... e esse é um porém que sempre me incomodou... a receita original usa, além de biscoitos, banana, creme de leite e leite condensado... pudim de baunilha instantâneo.

OK.

Claro, eu já estava usando biscoito comprado, por que não usar pudim comprado de uma vez? Bom... porque eu caí sentada de novo quando li a quantidade de ingredientes impronunciáveis e asquerosos que vão nos pudins instantâneos (edulcorante xyz, acessulfato do quê diabos??). O pudim de baunilha que eu faço em casa (desses de comer de colher) leva 5 ingredientes: leite integral, creme de leite fresco, amido de milho, açúcar orgânico e fava de baunilha (ou açúcar baunilhado e extrato natural, tudo caseiro, quando não tenho a fava).

Daí que fiquei morrendo de vontade de banana pudding, mas com a certeza de que jamais prepararia a receita original.

Antes de ficar deprimida, no entanto, resolvi que faria minha própria versão. Melhor, não sei. Nunca comi o tal banana pudding da Magnolia. Com melhores ingredientes? Sem sombra de dúvida. Delicioso? Opa! Muuuuito! :D

Mas banana pudding o caramba. Chamemos as coisas pelos seus nomes: pavê de banana, que é o que é de fato, com gosto de comida de vó, para aquele dia em que você quer um docinho bem docinho pra comer na sua tigelinha favorita, enroscada no sofá, vendo um filme gostoso. Digno de virar clássico aqui em casa. Estou pensando agora em como posso criar variações, com um nadinha de rum no pudim, ou um limãozinho nas bananas, para um toque ácido... Canela? Chocolate? Cardamomo, de repente? Hmmm... Vamos ver.

Nem consigo imaginar quão doce é a sobremesa original, pois leva leite condensado além de todo o açúcar contido na mistura em pó instantânea. Deve ser de cair os dentes. Minha versão, com apenas 3/4 de lata de leite condensado, já ficou bastante doce. Como disse, doce tipo sobremesa de vó brasileira. ;) Para quem quer algo mais suave, sugiro usar apenas meia lata. Para quem quer bem doce, lata inteira.

Lembre-se de deixar o pavê na geladeira por no mínimo 4 horas. Melhor ainda se for de um dia para o outro, pois não apenas o pavê firma, como o creme absorve maravilhosamente o sabor da banana.

Nonna em treinamento, doce de vó.

PAVÊ DE BANANA
Rendimento: 8-10 porções

Ingredientes:

  • 1 pacote de biscoitos tipo champagne caseiros ou de sua marca favorita
  • 4-5 bananas maduras mas ainda firmes (usei bananas prata)
  • 1 1/2 xic. leite integral
  • 1 1/2 xic. creme de leite fresco
  • 1/4 xic. amido de milho
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • 1/2 fava de baunilha (ou 1/2 colh. sopa de extrato natural de baunilha)
  • 3/4 lata de leite condensado (ou a gosto)


Preparo:

  1. Dissolva o amido em 1/2 xic. do leite dentro de uma panela. Junte o restante do leite e do creme de leite e o sal.
  2. Abra a meia fava com a ponta da faca e raspe as sementes para dentro da mistura de leite. Junte a fava aberta. 
  3. Leve ao fogo médio e cozinhe, mexendo sempre, até que ferva. Abaixe o fogo, misture bem por 1 minuto, deixando engrossar, e desligue o fogo. Junte o leite condensado, mexendo bem para que fique bem incorporado. (Se estiver usando extrato de baunilha, junte agora.)
  4. Escolha uma travessa refratária, de vidro ou cerâmica, que comporte pelo menos 2 camadas do pavê. Reserve 3 biscoitos para a farofa de decoração.
  5. Disponha uma parte do restante dos biscoitos, em camada única, dentro da travessa. Fatie as bananas em rodelas de não mais que 0,5cm, e disponha uma parte delas sobre os biscoitos, em camada única. Despeje uma parte do creme quente sobre as bananas, cobrindo bem. Repita as camadas, até terminar com creme, cobrindo bem todas as bananas, para que não escureçam. Pique na faca os biscoitos restantes, até obter um farofa grosseira, e polvilhe por cima. Leve à geladeira por no mínimo 4 horas. 




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Orecchiette de couve-flor com azeitonas pretas e o vôngole que não foi


Se existe um hábito que meus filhos estão pegando de mim é o de folhear livros de culinária. Aliás, tudo o que Madame Bochechas não curte assistir a desenhos com o irmão, ela gosta de ver programas de culinária comigo. Gordice corre no sangue.

Noutro dia, estou folheando um dos lindos livros da Rachel Khoo, com os dois pimpolhos olhando e me perguntando o que é cada item das fotos, meu Matador de Dragões enfia o dedo assertivo sobre uma fotografia de um prato de vôngole e ervilhas.

"Que é esse?"
"Vôngole. Von-go-le."
"Côncole?"
"É um bichinho, que vive dentro da concha, no fundo do mar. A gente cozinha e come o bichinho de dentro da concha. Essa parte aqui, ó."

Naquele momento eu me preparei para o famoso "eeeeeeeeeeca".
Mas não.

"Hmmm! Delí-shia!", exclamou.
"Você quer comer vôngole, Thomas?"
"Hm-rum!"
"Jura? Quer que a mamãe compre e prepare?"
"Sim!"

Eu tinha ervilhas-tortas. Tinha spaghetti. Tinha creme de leite e até um resto de Calvados eu tinha. Todos os ingredientes menos o vôngole. E eu não ia deixar escapar a oportunidade de fazer os pimpolhos experimentarem algo novo e que eu imaginava tão difícil de fazer uma criança apreciar.

Dois dias depois, dia de feira. Demorei anos para encontrar bons lugares para comprar peixe, e na época em que morava nos Jardins, havia já estabelecido uma boa relação com o peixeiro da feira de quinta, que, descobri depois, era também quem fornecia para o Alex Atala. Nunca tive problemas com ele, e foi ele quem me vendeu meus primeiros mariscos, fresquíssimos, com cheiro de maresia. (Dizem que ele pretendia abrir uma peixaria. Preciso ir atrás disso.)

Fiquei triste quando saí de São Paulo e perdi meu peixeiro. Não consigo confiar nas carnes e peixes dos mercados de onde moro. Nada parece super fresco. Dei um voto de confiança ao peixeiro da feira, muito simpático, apesar do salmão dele sempre parecer meio velho e os camarões sempre estarem com a cabeça caindo.  Eu usava do que conheço e escolhia o que havia de mais fresco, de preferência a partir do peixe inteiro, para que eu pudesse averiguar as escamas, os olhos, as guelras.

Aí um dia eu comprei uma bandeja de pescada. E quando fui empanar, ela se desmanchava nos meus dedos. Cheiro de mar sujo. Peixe estragado. Fiquei fula da vida, reclamei, acontece, ficou por isso mesmo.

Nesse dia de feira, resolvi dar outro voto de confiança. Afinal, vôngole é fácil de checar se está bom: se estiver aberto antes de cozinhar, está estragado. Se não abrir depois de cozinhar, também. Pedi um punhado generoso de vôngole e ainda especifiquei que pretendia dar aquilo aos meus dois filhos pequenos.

"Está bem fresquinho?"
"Sim, estão super vivos!", disse ele.

Ele embalou e levei para casa, feliz e contente. Havia dito ao pimpolho que prepararia o bichinho da conchinha, ele ficara bastante empolgado.

Em casa, abro o saquinho. Um odor pungente me atinge o nariz, como um vento num porto sujo em dia quente. Fico sem saber se aquilo é normal. Não preparava vôngole havia muitos anos, desde antes do Thomas nascer, e não me lembrava de como eles cheiravam.

Resolvi colocar de molho para tirar a areia. A água começou a ficar bem suja, e quando fui escorrê-los, percebi que metade estava aberta. Ao levar uma das conchas abertas ao nariz, ficou claro que aquilo era cheiro de bicho morto. Comecei a separar todos os abertos e jogar fora. Então deixei de molho de novo. E em dez minutos havia mais um punhado deles abertos, e o cheiro persistia.

Eventualmente, sobraram pouco mais de dez vongolezinhos, de 1kg que eu comprara. Mas eu já não queria mais comer aquilo, muito mais dar para meus filhos.

Fui buscar Thomas na escola e expliquei que o vôngole estava estragado e que não seria possível comê-los, mas que eu cozinharia um apenas para que ele visse como era por dentro.

Ele achou linda a conchinha fechada e ficou vidrado no bichinho aberto. Deixei que pegasse na mão e observasse. E, quando pensei que ele acharia tudo aquilo muito estranho, perguntou:

"Pode comer?"
"Não, meu amor, esse não está bom pra comer."
"Aaaaaaaaaah..."
"Mas mamãe vai comprar um que esteja bom pra você experimentar, ok?
"Aah... tá bom."

E lá fui eu improvisar almoço para uma criança que nunca deixa de me surpreender. E o almoço foram conchinhas que nunca me decepcionam. Ou orelhinhas. ;)

Esse prato de orecchiette é muito simples, mas muito, muito gostoso, leve e fresco. Usei a couve-flor no lugar do usual brócolis, e, ao invés de anchovas, pensei nos ingredientes de uma tapenade de azeitonas, pois couve-flor combina maravilhosamente bem com azeitonas pretas. Pimpolhada raspou o prato de qualquer forma (Madame Bochechas ADORA couve-flor), e lá vou eu agora começar a também comprar peixe em São Paulo e trazer na térmica, porque aquele peixeiro da feira eu não quero nunca mais olhar na cara.

ORECCHIETTE COM COUVE-FLOR E AZEITONAS PRETAS
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 320g orecchiette
  • 1 couve-flor pequena, cortada em floretes médios
  • 1/4 xic. azeite
  • 2 dentes de alho fatiado
  • alguns raminhos de tomilho fresco
  • pica umas 10 azeitonas pretas bem picadinhas
  • um punhado de salsinha bem picadinha
  • suco de meio limão (siciliano de preferência, mas pode ser tahiti)
  • parmesão ralado na hora (ralado fininho)


Preparo:

  1. Leve bastante água salgada à fervura, junte os floretes de couve-flor e cozinhe apenas até que estejam al dente. Retire com uma escumadeira e pique em pedacinhos pequenos (não maiores que o macarrão). Reserve. Cozinhe o macarrão na água da couve-flor.
  2. Numa frigideira grande, aqueça o azeite e junte o alho e o tomilho em fogo baixo. Quando o alho amaciar e começar a soltar perfume (sem dourar) junte a couve-flor picada. Misture bem e cozinhe mexendo de vez em quando. Você quer que a couve-flor termine de amaciar, mas não doure. 
  3. Junte à couve-flor as azeitonas, salsinha, suco de limão, misture e cozinhe por apenas 1 minuto.
  4. Escorra o macarrão, reservando 1/4 xic. da água do cozimento. Junte essa água e a massa à couve-flor, com mais 1/4 xic. de parmesão e 1 fio de azeite. Misture bem e acerte o tempero. Sirva imediatamente com mais parmesão por cima.


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um "ratatouille" italiano com coucous marroquino de ervas para um novo jeito de me complicar


Existe sempre um jeito de estragar o que está funcionando. Certo?

No meu caso, a rotina que funcionava bem, de colocar Madame Bochechas para dormir às 9h da manhã (lembrando que ela acorda às 6h e se acaba de brincar) para poder trabalhar, foi atropelada pela decisão de transformar o berço da pequena em mini-cama no fim de semana. Pois, afinal, fizemos o mesmo com Thomas por volta dessa idade, e ela já vinha pedindo por isso.

Foi felicidade total ver a mini-cama montada, e, assim como o irmão, na primeira noite ela foi dormir sozinha, sem nem precisar mandar.

"Olha só", disse meu marido, orgulhoso. "Ela não vai dar trabalho nenhum. Até a soneca da tarde ela foi tirar sozinha."
"Você não lembra de como foi com o Thomas, né? Ele fez a mesma coisa, e na noite seguinte já não queria mais ir pra cama."
"Ah, não, mas ela não vai ser assim, porque ela vê o irmão, tem o exemplo do mais velho."
"Tô te falando..."

Deveria ter apostado dinheiro. ¬_¬

Dia seguinte, coloco a mocinha na cama para o cochilo da manhã. Eu com três aquarelas atrasadas para entregar, emails de cliente para resolver e um projeto pessoal pro dia 8 de novembro que eu nem comecei a esboçar. Ela esperneia e sai da cama. Eu boto na cama de novo. Ela esperneia e sai. Eu boto. Ela sai. E assim sucessivamente até que já era tão tarde, quase na hora de buscar o Thomas na escola, e eu já estava tão cansada, que desisti e não consegui fazer nada a não ser resolver três emails enquanto ela brincava no quarto.

À noite, mesma coisa. Bota na cama, sai. Bota na cama, sai. O que parecia uma infinidade de vezes, mas que eu contei e foram 23, até ela enfim cansar e dormir.

Sempre em mente todos os milhares de episódios da Super Nanny que eu vi antes de ter filhos. Fofa e carinhosa pedindo pra ir pra cama. Só carinhosa botando na cama. Botando na cama sem falar nada. Eventualmente eu só me colocava à sua frente de braços cruzados e ela voltava para a cama, vencida por alguns 15 segundos, até eu dar as costas e ela achar que estava livre novamente.

Exercício de paciência infinita.

Rotina simples complicada por uma decisão simples e inevitável. Porque criança é assim mesmo. Tudo bem até incorporar uma nova variável na equação. Aí... fué. Dá-lhe se adaptar tudo de novo. E de novo. E outra vez. Ad infinitum.

Aí você tem aquela pilha de legumes na gaveta. Resolve que quer um cozido de todos eles, abobrinha, berinjela e tomates. Mas não quer tudo maçarocado com gosto de coisa nenhuma. Quer textura, e quer sentir o gosto de tudo individualmente. Aí você pega algo simples e complica. Mas há complicações que valem a pena.

Aprendi com o livro de Suzanne Goin, um que usava loucamente antes de ter filhos, que às vezes é bom cozinhar os elementos separadamente e juntá-los depois. Você respeita o tempo de cozimento de cada um e eles mantém sua textura e sabor individuais mesmo misturados. Pensei primeiro num ratatouille, mas quis usar manjericão no lugar do tomilho. Engraçado isso de perfil de sabor, como são exatamente os mesmos ingredientes e mesmo processo: com tomilho é francês, com manjericão, italiano. Depois que o cozido estava pronto, descobri, num livro da Rachel Khoo recentemente comprado (parte da leva de aniversário), que se você mistura as fatias desses legumes artisticamente numa travessa e assa tudo de uma vez, é tian de legumes; se você cozinha todos separadamente e junta tudo no final, num cozido, é ratatouille. Eu achando que ratatouille se cozinhava tudo junto e descubro que antes de mim os franceses já complicavam as coisas.

Para absorver o caldinho do cozido, preparei um couscous marroquino. Mas queria que ele tivesse alguma personalidade também, então juntei a ele ervas e castanhas, para textura. O conjunto da obra fez sucesso, especialmente com Madame Bochechas, que bem sabe quando convém complicar minha vida ou deixar mamãe feliz.

RATATOUILLE ITALIANO COM COUSCOUS MARROQUINO DE ERVAS
Rendimento: 4 porções adultas

Ingredientes:

  • azeite
  • 1 cebola grande, picada
  • 3 dentes de alho, picados
  • 2 abobrinhas grandes ou 4 bem pequenas
  • 2 berinjelas grandes ou 4 bem pequenas
  • 4 tomates grandes, pelados (ou 1 lata de tomates pelados)
  • 1 punhado de salsinha, talos separados das folhas e reservados
  • 1 punhado generoso de folhas de manjericão
  • 1 1/2 xic. couscous marroquino
  • 1/3 xic. castanha de caju torrada, picada
  • sal e pimenta-do-reino


Preparo:

  1. Corte a berinjela em cubos de cerca de 2cm, com a casca. Coloque em um escorredor, polvilhe com sal e deixe sorar por meia hora. Enquanto isso, corte a abobrinha em quartos no sentido do comprimento e então em triângulos de 1cm de espessura. Se estiver usando abobrinhas menores, corte apenas ao meio e então meias-luas. Pique os talos da salsinha bem miudinho para usar no cozido. Pique os tomates (se estiverem na lata, pode apenas cortá-los com uma tesoura, sem precisar retirar da lata). Quando terminada a meia hora, passe a berinjela sob um pouco de água corrente para retirar o excesso de sal e esprema bem entre os dedos. 
  2. Numa frigideira grande,  aqueça um fio de azeite e 1/3 do alho picado. Junte a abobrinha antes do alho dourar, tempere com sal e pimenta e cozinhe em fogo médio-alto, mexendo de vez em quando, até que a abobrinha esteja dourada e macia. Retire da frigideira e reserve em uma tigela.
  3. Na mesma frigideira, coloque um pouco mais de azeite (umas três colheres) e junte a berinjela e mais 1/3 do alho. Tempere com pimenta e pouco sal (experimente para ver se a berinjela já não estava salgada o bastante) e cozinhe em fogo médio-alto, mexendo com certa frequência, até dourar e ficar macia. Coloque na tigela junto com a abobrinha.
  4. Ainda na mesma frigideira, aqueça mais um fiozinho de azeite e junte a cebola e o restante do alho. Cozinhe em fogo BAIXO, mexendo de vez em quando, para que a cebola e o alho amaciem bem devagar, cerca de 10 minutos.
  5. Quando começarem a dourar, junte os talos de salsinha e o tomate picado. Misture bem, cozinhe por dois minutos, e então junte os legumes reservados e 1/2 xic. água. Leve à fervura, então abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 10 minutos, ou até que o caldo engrosse um pouco. Corrija o sal e pimenta. Rasgue metade das folhas de manjericão e junte ao cozido. Desligue o fogo.
  6. Coloque o couscous numa tigela resistente ao calor. Ferva 1 1/2 xic. de água. e derrame sobre o couscous. Tampe com um prato e deixe descansar 5 minutos.
  7. Pique a salsinha e o restante do manjericão e junte numa tigelinha com as castanhas, sal, pimenta e 2 colh. (sopa) azeite. Junte ao couscous já inflado, misturando com um garfo para não empelotar. Corrija o sal e a pimenta. 
  8. Sirva o cozido sobre o couscous, com mais um generoso fio de azeite por cima. 






quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um bolo de rapadura, tapioca e castanhas para meu pai e minha amiga


No que meu filho passou o fim de semana com o que acreditávamos ser uma forte reação alérgica a corantes alimentícios (segundo o médico), com pereba até a orelha, fiquei pensando nessa mentira que repetimos para nós mesmos de que infância não é infância sem uma porcaria de vez em quando. Pensei em de onde veio essa ideia de que criança = doce. De que se você não comer um pacote de salgadinho sabor artificial de qualquer coisa, você não teve infância.

Lembrei-me de um episódio do Two Greedy Italians, em que eles discutem a obesidade infantil na Itália, e comentam sobre sua infância brincando na rua e roubando frutas do vizinho. FRU-TAS. E falando de figos e tangerinas como ouço crianças falando de bolacha recheada.

Pensei em como Thomas e Laura, apesar de já terem experimentado fora de casa toda a sorte de porcarias, adoram frutas e mel, e roubam tomates do quintal, e saem correndo por aí roendo cenouras inteiras, com a mesma empolgação de quando lhes dou uma colherada de sorvete ou um pedaço de bolo. Eles não passam o dia inteiro me pedindo biscoito recheado. Passam o dia inteiro me pedindo colheradas de mel. E bananas. E maçãs. E melancia. E iogurte. Sem açúcar. Não porque eles sejam alienados da sociedade, não porque não saibam o que é um danoninho, não porque sejam crianças esquisitas. Mas porque o que há disponível na despensa é banana, não biscoito. O que tem na geladeira é iogurte natural, não danoninho. Porque criança tem potencial para comer direito, se você der comida boa. E porque, pra mim, criança não é doce. Criança é brincadeira. E criança distraída não pede comida o tempo todo. Criança distraída fica com fome de verdade. E criança com fome come o que tem. Come maçã.

E aprende a gostar de maçã. Aprende que maçã é lanche, é sobremesa. Que maçã é doce. Que é gostosa. Que fica melhor ainda com uma pitadinha de canela em pó por cima. Assada, então, nem se fala. Mas maçã assim, fresquinha, de comer de dentada, é campeã.

Thomas quase nunca come o lanche dele na escola. Mesmo os bolos, mesmo os queijos, mesmo suas frutas favoritas. A curiosidade daquilo que não tem em casa é maior, e ele surrupia o que pode do lanche dos outros. Não dá uma hora depois do almoço, no entanto, já o encontro abrindo a lancheira e procurando o lanche outrora ignorado. E come tudo. A fruta, o queijo, o chá, o bolo, o pão, o que for. Não me preocupo. Sei que, apesar da ocasional porcaria fora de casa, ele está sim aprendendo a comer direito. E espero que logo a curiosidade passe e ele faça boas escolhas sozinho.

Ainda assim, fiquei matutando em como nossa geração foi martelada com esse conceito de que criança que não come porcaria está sendo privada de sua infância. Quando penso numa criança feliz, a última imagem que me vem à cabeça é uma criança cheia de brinquedos e comendo Trakinas. Penso numa criança com espaço pra correr, amigos, família que a ame e, se é para falar de comida, comida boa, aquele frescor de frutas da estação num dia quente com pés na grama. Uma fatia gorda de melancia suculenta no verão.

Mas não há propaganda de melancia na televisão.

Crianças com imaginação tomam toddynho. No meu mundo, crianças que tomam toddynho correm risco de terem seus estômagos queimados por substâncias tóxicas, que é o que vem acontecendo (me pergunto se ninguém mais lê jornal, pois para mim não há recall e pedido de desculpas que me convença a comprar um Toddynho). E crianças que tomam toddynho estão jogando o dinheiro de seus pais no lixo, porque o que custa aquele soro de leite com chocolate de terceira, eu poderia derreter chocolate belga num copo de leite integral.

De todas as lembranças de infância que eu tenho, as mais positivas são desvinculadas de produtos alimentícios e ligadas diretamente a comida de verdade. Emporcalhar o uniforme da escola na amoreira do estacionamento. Tomar sorvete de limão caseiro da minha avó, na chácara. Roubar massa fresca crua de sua mesa na cozinha. Sovar panettone numa bacia com meu pai, e o dia em que o panettone dele virou um poste, porque ele colocou massa de três em uma só forma. O bolo de cenoura da minha mãe, o mesmo a vida toda. Minha mãe e sua amiga enrolando brigadeiro na cozinha um dia antes do meu aniversário. A primeira vez em que comi palmito, quando serviram potinhos de salada na pré-escola. A torta fina de goiabada que as freiras da escola serviam em dias comemorativos (uma fatia para cada aluno). O arroz doce que a avó de uma amiga sempre preparava para mim quando eu ia à sua casa. A primeira vez que comi gorgonzola, na casa dessa mesma amiga.

Os danoninhos, os yakults, as bolachas de chocolate... todos se perderam, pois estavam lá e eram só combustível. Não me lembro de momentos especiais ligados a eles, porque não havia pessoas envolvidas. Eram só coisas comestíveis. Eram apenas para preencher espaço e tempo.

Lembro-me das propagandas, no entanto. Cada uma delas. Isso deve querer dizer alguma coisa.

Então, no tempo entre escrever esse post e publicá-lo, a alergia do pequeno não melhorou, e o levamos ao hospital. Lá, descobrimos que mesmo crianças vacinadas pegam catapora, mas uma versão mais leve, que é frequentemente confundida com alergias alimentares.

Menos mal, pois seria um martírio controlar o que esse menino rouba das lancheiras dos amigos.

Agora ele está em casa, e é férias tudo de novo, só que sem poder sair no quintal pra brincar. Todo mundo trancado do lado de dentro correndo e enlouquecendo um pouco a mamãe. E no meio dos "Mamã! Iocúte cum mel por quima!" do Thomas, tem uns "Mamã! Bolo!" da Laura. O gene das sobremesas cremosas passou de pai pra filho, e o gene dos bolos passou de mãe pra filha. Vai entender.

Esse bolo foi uma estranha surpresa. Gostei da receita, pois foi daqueles momentos em que, apesar dos ingredientes diferentes, eu tinha absolutamente tudo em casa. Inclusive a rapadura e as castanhas de caju torradas, trazidas por meu pai de Fortaleza. A surpresa foi que, com tanta coisa que vai nesse bolo, eu esperava um gosto assertivo como acontece com um gingerbread. No entanto, o resultado é tão suave, inclusive em doçura, que até dá vontade de fazer uma calda. A erva-doce e a canela ficam bastante suaves, e parece que tudo se encaixa.

É também uma boa opção para quem não quer fazer bolo com açúcar branco, ou quem quer diminuir um pouco a farinha de trigo, pois quase metade é farinha de tapioca. Tapioca, aliás, que eu também tinha em casa por conta de uma amiga querida, Marina, que sempre me prepara tapioca e café quando vou à sua casa.

Daí que quando servi o bolo às crianças no meio da tarde, me peguei pensando neles: meu pai e minha amiga, e quis mandar um pedaço para que eles experimentassem, mas o bolo não coincidiu com meu pai em São Paulo, e toda a maratona da alergia-catapora impediu que eu fizesse uma visita a qualquer amiga.

Pode vir a propaganda de chocolate e salgadinho que quiser falando de compartilhar comida. Não há biscoito industrializado que se compare a dividir um bolo feito em casa com alguém.

BOLO DE RAPADURA, TAPIOCA E CASTANHAS 
(do livro Cozinhando Para Amigos 2, de Heloisa Bacellar)

Ingredientes:

  • 500g rapadura cortada em cubos, ou 3 xic. açúcar mascavo
  • 1 3/4 xic. leite de coco
  • 100g manteiga em cubinhos
  • 2 colh. (chá) canela em pó
  • 1/4 colh. (chá) cravo em pó
  • 1 colh. (chá) semente de erva-doce
  • 1 1/2 xic. coco fresco ralado
  • 1 1/2 xic. castanha de caju torrada, grosseiramente moída
  • 1 1/4 xic. farinha de tapioca
  • 2 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (sopa) fermento em pó
  • 4 ovos, separados
  • Açúcar e canela para polvilhar por cima


Ingredientes:

  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Unte com manteiga uma forma grande para pudim. 
  2. Numa panela média, aqueça a rapadura e o leite de coco, até dissolver. 
  3. Retire do fogo, junte a manteiga, canela, cravo, erva-doce e misture bem. 
  4. Junte o coco ralado, castanha, farinha de trigo e de tapioca, o fermento e as gemas e misture até que fique homogêneo.
  5. Bata as claras em neve e incorpore rápido mas delicadamente à massa. (Misture sempre uma colherada cheia das claras à massa, batendo bem, para tornar mais leve a massa, de modo que o restante das claras seja incorporado mais facilmente. Sempre funciona.)
  6. Despeje na forma, alise a superfície, e asse por 40-45 minutos, até que fique bem dourado e um palito inserido no meio saia limpo. (Fique atento, o meu, aos 40 minutos, já estava chamuscado em cima.)
  7. Retire do forno e deixe que esfrie na forma antes de passar uma faquinha nas laterais e desenformar. Polvilhe açúcar e canela por cima. 





segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O bolo de aniversário que não era pra ser, tentou ser, quase não foi mas acabou fondo.

Foi um aniversário meio esquisito.

Primeiro, eu me acostumara a ficar um mês planejando o evento, por menor que fosse, escolhendo quitutes a preparar e, principalmente, o bolo. Mas já há alguns anos (hmmm... coincidentemente desde que Thomas nasceu), que me pego surpreendida pelo meu aniversário apenas alguns dias antes. Mas já chegou? Mesmo? Eu não planejei nada!

Esse ano ainda, eu ando meio avessa a doces, para a alegria da minha cintura. Ok, o goró corre solto, mas doce... eh. Faço para que Thomas leve de lanche, faço porque o marido pede, mas raramente me deu vontade de verdade de algum doce específico. E com o bolo, mesma coisa. Fucei, fucei, em todos os livros e revistas da casa, e não encontrei nada que me apetecesse.

Acordei no meu aniversário e não tinha bolo nenhum. Não dera tempo, não dera vontade. O café na cama não aconteceu, porque era preciso levar o pimpolho à escola e já estava todo mundo atrasado. Fico meio chateada com o pimpolho que se recusa a dar parabéns pra mamãe, porque cismou de alguma forma que o aniversário é da vovó. Volto pra casa e descubro que a luz acabou, eliminando meu plano de uma manhã tranquila botando em dia minhas séries e filmes.

Laura cochila, e eu, meio fula, querendo voltar pra cama, resolvo que o melhor a fazer é pintar, já que isso não requer eletricidade. Meu humor melhora conforme vou trabalhando, e assim que assino a tela, a pequena acorda e a luz volta. Sorrio, pensando no funcionamento do universo.

Há tempo ainda, antes de buscar o pimpolho na escola, e resolvo fazer meu bolo, afinal. O que deveria ser o bolo de aniversário mais fácil do mundo.

Apanho uma receita ponta-firme da Alice Medrich, de uma tigela só, e em cinco minutos o bolo está no forno. Duas camadas lindonas que pretendo rechear com um brigadeiro de baunilha e morangos frescos.

Não queria um bolo sofisticado. Algo de nostálgico me pegou de jeito e eu queria daqueles bolos simples de chocolate e morango, doces, úmidos, de infância, de confeitarias de bairro, antes de a gente crescer e saber o que é chocolate belga e morango orgânico.

Enquanto o bolo assa e dona Laura brinca loucamente lá fora, coloco uma lata de leite condensado na panela, uma colher de manteiga e meia fava de baunilha e cozinho até dar ponto de brigadeiro. Deixo numa tigela e, quando esfria um pouco, junto um pouquinho de creme de leite fresco.

Os bolos saem perfeitos, como sempre. Receita confiável é uma alegria só. Vou buscar Thomas na escola, almoçamos rapidamente uma massa alla carbonara de abobrinhas, e enquanto as crianças terminam de comer, resolvo montar o bolo.

Então me empolgo. Tudo está correndo bem, afinal. Olho para aqueles bolos e resolvo que vou transformá-los em quatro camadas ao invés de duas. Porque havia muito recheio para apenas intercalar dois bolos. Corto um dos bolos com fio dental, técnica linda que vou usar pelo resto da vida. O sucesso do corte me empolga mais ainda. O recheio. Hmmm... talvez tenha pouco para quatro camadas. Junto mais creme de leite. Na tigela, o ponto parece bom. Espalho colheradas na primeira camada, cubro com morangos fatiados e a segunda camada de bolo. Tudo vai bem. Mas então, ao colocar a segunda camada de recheio, o leite condensado começa a escorrer. Os morangos começam a cair pra fora. E eu vou ficando meio louca, meio desesperada, o sentimento de tudo dando errado no meu aniversário se apoderando de mim.

Me dá um siricotico, jogo todo o recheio por cima do bolo, jogo o bolo dentro da geladeira e ligo o botão do "f*da-se". A outra camada de bolo, que eu não dividi ao meio, embrulho e atiro no freezer. Thomas continua se recusando a aceitar que é aniversário da mamãe e isso me joga de novo no poço fedorento do mal humor de aniversário.

À noite as crianças ficam com a vovó e vou ao show da banda do marido, que é ótimo como sempre. Duas Guinness a mais, e minha ressaca na manhã seguinte é garantida, o que me faz acordar grogue e com a certeza de ter estragado o que deveria ser meu agradável sábado de aniversário.

Só que não.

As crianças dormiram na avó. Marido me traz café na cama e eu cochilo mais um pouco, coisa que nunca, NUNCA tenho oportunidade de fazer. Ele me leva para almoçar num bistrô tranquilo, e eu finalmente tenho oportunidade de estrear um daqueles vestidos de cintura marcada, meio anos 50, que eu queria desde a gravidez do Thomas e que comprara recentemente. O almoço é uma delícia. Vamos a uma exposição de arte contemporânea, e nos divertimos xingando quase tudo o que vemos. Meu deus, que exposição ruim. Ainda bem que a companhia é ótima. Minha mãe me liga pedindo pra deixar as crianças mais um dia, e conseguimos mais tempo para nós.

No dia seguinte, eleição e catar de volta a pimpolhada. Apanho o bolo da geladeira, já suspirando de decepção, e eis que Thomas se empolga.

"Eba! Parabens pa mamã!"
"Parabéns pra mamãe?"
"É. Aniquecaio da mamã! Cadê a quela?"
"A vela?"
"É."
Vou apanhar uma velinha perdida na gaveta.
"O cogo! O cogo!"
"O fogo?"
"É."

Acendo a vela e ele corre para apagar a luz da cozinha. E canta parabéns pra mamãe a plenos pulmões. E me dá um beijo. E agradece pela fatia de bolo. E o bolo, no fim, está uma delícia. Assim, desmontando, assim, com leite condensado escorrendo para fora do prato em direção à prateleira da geladeira. Marido rouba uma garfada. Ele que não gosta de bolo. "Pô, esse bolo ficou bom!" O bolo que quase não foi mas acabou fondo, num aniversário quase esquisito, mas que no fim, foi fantástico.

^_^

Deixo a receita do bolo em si, pois é infalível, e do recheio como sugestão, no ponto anterior ao momento em que me empolguei e estraguei tudo. Com 1/4 de xícara de creme, e deixado na geladeira para firmar, ele não vai dar problemas de escorrer. Eu produzira o dobro da receita abaixo, pois queria duas camadas gordinhas ou quatro fininhas. Mas como acabei usando um bolo só, dividido ao meio, deixo a receita original.

O BOLO DE CHOCOLATE MAIS FÁCIL DO MUNDO
(de um dos meus livros de sobremesa favoritos: Sinfully Easy Delicious Deserts, de Alice Medrich)
Rendimento: 1 bolo de 20cm alto o bastante para ser dividido ao meio

Ingredientes:

  • 1 xic. farinha de trigo (125g)
  • 1/3 xic. + 1 colh. (sopa) cacau em pó não adoçado (35g) – ela pede natural, mas eu uso o alcalinizado e não tenho nenhum problema
  • 1 xic. + 2 colh. (sopa) açúcar (225g)
  • 1/2 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 1/4 colh. (chá) cheia de sal
  • 8 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida (115g)
  • 2 ovos grandes
  • 1/2 xic  água quente
  • 1/2 colh. (chá) extrato natural de baunilha
  • 1 1/2 xic. da cobertura de sua escolha*


Preparo:

  1. Posicione a grade do forno no terço inferior. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga uma forma de 20cm, com cerca de 5cm de altura, e forre o fundo com papel-manteiga. 
  2. Numa tigela grande, misture com um fouet a farinha, cacau, açúcar, sal e bicarbonato.
  3. Junte a manteiga derretida e os ovos e misture com o fouet (se for um fouet mais pesado; senão, use um garfo, pois a massa fica bem firme) até que a massa esteja toda úmida e pareça uma pasta bem grossa. Então bata vigorosamente, umas 30-40 batidas. 
  4. Use uma espátula para misturar a água quente e a baunilha, raspando bem as laterais. A massa ficará brilhante, uniforme, e bem mais líquida. 
  5. Despeje na forma e asse por 35-40 minutos, até que um palito inserido no meio saia limpo. Deixe que bolo esfrie na forma, sobre uma grade. Então passe uma faquinha nas laterais e desenforme, retirando o papel do fundo. Assim, já frio, o bolo se mantém em temperatura ambiente por 4 dias ou no freezer, embrulhado, por 3 meses.
  6. Para cortá-lo ao meio, apanhe um fio-dental comprido e passe à volta do bolo, como quem mede uma cintura com fita métrica. Se achar necessário, pode espetar palitos à volta, para apoiar o fio e ter certeza de que está na altura certa. Então cruze as pontas do fio-dental e puxe, como se fosse dar um nó. O fio passará por todo o centro do bolo, cortando-o de modo uniforme. 
  7. Recheie como quiser.


* Sugestão de recheio: coloque uma lata de leite condensado, 1 colher (sopa) de manteiga e meia fava de baunilha em uma panela em fogo médio-baixo e cozinhe, mexendo, até o ponto de brigadeiro. Deixe esfriar um pouco e misture 1/4 xic. creme de leite fresco. Leve à geladeira para firmar um pouco antes de usar. Então espalhe uma parte na camada de baixo do bolo, distribua morangos frescos fatiados por cima, posicione a camada superior do bolo e termine de espalhar o leite condensado por cima, decorando com mais morangos frescos. 





Cozinhe isso também!

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