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quarta-feira, 27 de março de 2019

Caindo do cavalo, levantando de novo, um frango, um croquete, uma torta de maçã, um funcho e sei lá o que mais

Passeando sobre o lago congelado. Tão congelado, que fiz até anjinho de neve, bem no meio dele, deitadona olhando pra cima, a uns 30 metros de distância da beirada.
Gnocchi se diverte horrores no inverno. Mas estou feliz que é Primavera de novo.

 Fevereiro e Março foram meses estranhos. Cansaço generalizado do inverno que nunca tem fim, com direito a palavrões e bufadas a cada abrir de janela de manhã, revelando uma nova nevasca. Chega! Chega de neve! Chega de gelo na calçada! Chega de slush, neve suja, derretida, tornando a rua (e o parque) um pântano! Vejo fotos da Europa primaveril com verde e flores e casacos leves, e a carranca de todo mundo aqui aumenta. Nos poucos dias que surgem com temperaturas positivas, 4 graus, 8 graus, saímos sem gorro e sem luvas, casaco aberto, e Laura diz contente: "parece Verão, mamãe!" Seres humanos se apinham sob os raios de sol, esquentando o rosto e fingindo que o Inverno acabou.

Depois de passar os últimos dois meses resolvendo um momento bastante turbulento relativo a trabalho, a família parece ter voltado à rotina no mesmo momento em que a última (espero) neve se foi e os primeiros pássaros retornam à cidade. A Primavera chegou enfim, ainda que apenas no calendário.

Foram dois meses de bastante... economia. De colocar à prova aquilo que havia tempos eu exercitava pelo mero prazer criativo: gastar pouco e fazer refeições renderem, coisa que nesses meses precisei fazer por necessidade e não escolha. Abri mão de muitos itens orgânicos em detrimento dos comuns, evitei repor qualquer item que não fosse absolutamente necessário (como tahini, ou azeitonas, por exemplo), e eliminei completamente as carnes, que são o elemento mais caro de qualquer cardápio. Baseando nossos pratos no bom e velho arroz e feijão, no entanto, que comprados em sacos grandes saem muito baratos, e evitando preparar sobremesas, mantive a família toda maravilhosamente bem alimentada e dentro do budget emergencial.

Arroz integral, feijão preto, abóbora assada e espinafre refogado. Uma combinação deliciosa, que fez Laura começar a gostar de abóbora E de espinafre.
Em tempo, porque acho que nunca mencionei isso antes: eu nunca refogo o feijão com bacon; o que uso para trazer defumado e complexidade é um pouco de sementes de cominho, refogadas junto com a cebola e o alho, e, recentemente, uma polvilhada de páprica picante. Logo antes de servir, tempero com uma colher de vinagre (cuja acidez aviva o sabor do feijão) e misturo a salsinha ou coentro picado, se houver.

Essa mistura de arroz integral, feijão preto, espinafre refogado com cebola e manteiga e abóbora assada (com casca ou sem, fatiada, temperada com azeite, sal, pimenta, dentes de alho e folhas de sálvia ou alecrim, e levada ao forno médio até dourar dos dois lados) virou uma de minhas favoritas de todos os tempos, e já preparei de novo umas quatro vezes desde a primeira. Allex continua torcendo o nariz para a abóbora, mas come na frente das crianças, que dão um show e raspam o prato com gosto. "Não precisa gostar, papai", diz Laura. "Só precisa experimentar."

Em momentos como esse, foi muito bom já ter no automático o hábito de comprar as frutas e verduras da promoção e de saber reaproveitar as sobras.

A foto é feia mas o sabor é muito bom.

A couve-flor, que estava baratíssima e foi cortada, temperada com sal, azeite, pimenta-do-reino e espalhada numa assadeira, para ir ao forno a 180oC e cozinhar e dourar até chamuscar as pontinhas (uns dez, quinze minutos?) Dourada, misturei  a cebolas fatiadas bem fininhas, que eu deixara marinando em vinagre e sal, e cuja marinada entrou também como tempero dessa salada quente. Eu tinha coentro, então ele entrou na dança, mas poderia ter sido salsinha. Se tivesse azeitonas pretas, teriam ficado deliciosas ali.

Num dia, essa salada quente de couve-flor acompanhou o arroz e feijão. No outro, foi jogada crua e temperada com sal e azeite sobre a massa da pizza com molho de tomates e levada para assar. No meio do cozimento acrescentei o queijo e as azeitonas pretas (que tinha poucas e escolhera não usar na salada, para complementarem a pizza), e enquanto o queijo derretia, elas terminaram de chamuscar e amaciar. Adoro pizza de couve-flor! (E às vezes substituo metade da farinha branca da pizza por integral, porque acho que fica saborosa.)

Quando há batatas (com alho e cebolas, se houver), sempre dou um jeito de preparar alguma versão desse tray bake, cujo processo já descrevi inúmeras vezes aqui: as batatas foram primeiro, a 190oC, e quando já estavam quase perfeitamente douradas, vieram os brócolis, tudo sempre previamente temperado com sal e azeite. Quando esses ficaram prontos, vieram os ovos. E quando as claras estavam já opacas, as ervilhas congeladas entraram apenas para se aquecerem. Coloco a assadeira inteira na mesa, às vezes com um vidro de mostarda ao lado, e o jantar está servido. O trabalho foi de cortar batatas e os brócolis e só, pois o forno fez todo o resto, e com o timer apitando sempre que era hora de acrescentar mais um elemento, tive tempo de cuidar de outras coisas ou mesmo sentar e ler enquanto as crianças tomavam banho. (Vantagem de deixar a pimpolhada se virar sozinha de vez em quando: criança independente é sinônimo de menos ocupações para pai a mãe.)


O que restou do tray bake entrou nessa torta. Esta é uma versão com iogurte do Mark Bittman, que resolvi testar, mas que achei muito seca em relação à de minha mãe, que continua campeã. Talvez ficasse melhor com o recheio original pretendido por Bittman, pois as verduras soltam mais líquido e a massa ficaria mais úmida. A de minha mãe é ótima para aproveitar legumes que já fora cozidos ou assados.



Uma receita, no entanto, que também veio de Mark Bittman, e valeu a pena ser anotada, foram os hambúrgueres de feijão. Eu já havia feito anteriormente pequenos hambúrgueres de grão de bico e abóbora assada que haviam sobrado do jantar anterior, mas sempre preparei tudo muito no olho, mesmo naquela época em que era de fato vegetariana. Gostei de ter uma receita básica com as proporções "corretas", para não ter que ficar brincando de cientista maluca enquanto misturo os ingredientes. 

Hambúrgueres empanados de feijão preto, com queijo derretido por cima e saladinha. Almocinho danado de bom!
HAMBÚRGUERES DE FEIJÃO E AVEIA
(Do livro How to Cook Everything Vegetarian, de Mark Bittman)
Rendimento: 4 hamburgueres grandes oi 8 pequenos

Ingredientes:
  • 2 xíc de qualquer tipo de feijão já cozido (sem o caldo - reserve para outro uso)
  • 1 cebola picada
  • 1/2 xic de aveia laminada
  • sal e pimenta-do-reino
  • (qualquer outra erva, tempero, verduras ou legumes cozidos que queira acrescentar)

Preparo:
  1. Bata o feijão e a cebola no processador até que vire um purê grosseiro. Junte a aveia (e qualquer outro tempero) e pulse algumas vezes até que vire uma maçaroca que você consegue tirar com uma colher de forma razoavelmente firme. Se estiver muito seco, junte um pouco do caldo dos feijões. Se estiver muito molenga, junte mais aveia. Acerte o tempero. 
  2. Forme hambúrgueres do tamanho que quiser (os do tamanho de sua palma, com 2cm de altura são ideais) e coloque em uma assadeira untada de azeite, para que não grudem. Você também pode empaná-los em farinha de rosca  e colocá-los na assadeira sem untar. Leve à geladeira por umas duas horas para que firmem bem antes de fritar. 
  3. Frite os dois lados por 1-2 minutos cada em um pouco de azeite e sirva quente.


Na corrida do simples, foi momento de relembrar uns clássicos de muito tempo atrás, de um livrinho que vendi há muito muito tempo (acho que se chamava As Ervas do Sítio, ou algo assim). É uma massa com molho de espinafre, simplíssima, mas que na minha parca experiência, sempre virava uma sopa rala láaaaa quando eu ainda tinha acabado de mudar para meu apartamentinho com meu então namorado. Acontece que eu nunca deixava a água do espinafre evaporar o suficiente e, ainda influenciada pelo macarrão nadando em molho dos restaurantes de São Paulo até então, sempre colocava mais creme de leite do que o necessário na receita, achando que não havia molho o bastante. Isso fazia com que o molho ficasse todo no fundo da panela e o macarrão totalmente pelado na hora de servir.

Eu tinha uma porçãozinha pequena de espinafre congelado (o equivalente a 1 xícara de espinafre congelado bem apertado na xícara) e um restinho de creme de leite fresco, restinho mesmo, acho que nem meia xícara. Refoguei cebola picada em manteiga até dourar, juntei o espinafre descongelado (que já vinha picado), temperei com sal e pimenta e mexi com uma colher de pau até que ele tivesse sequinho de toda aquela água que ele solta e tivesse absorvido bem a manteiga e o gostinho da cebola. Juntei o creme de leite, misturei bem e deixei apenas levantar fervura, o bastante para o molho engrossar levemente, e desliguei o fogo. Se o creme estiver muito líquido, ele simplesmente não vai aderir ao macarrão. Taí o pulo do gato que eu não sabia quando era jovenzinha. (Fica a dica: molho de macarrão não pode sobrar, aguado, no fundo da panela. Se sobrou, é porque tinha que ter reduzido mais. Bem reduzido, ele adere à massa corretamente e a tempera direito.)

Acertei o tempero. Escorri o macarrão (linguini funciona bem nesse caso), juntei à panela do molho com mais um naco de manteiga e um punhado de parmesão e voi là: linguini ao molho de espinafre. Sucesso geral.

Lembrei com certa alegria e saudades daquela época em que comecei a cozinhar de fato todo dia, recém saída da casa de meus pais, e como um fettuccine com molho de tomates crus parecia o ápice da sofisticação. Logo antes de eu começar o blog, há tantos anos atrás, havia uma inocência deliciosa na cozinha, pois ela era exclusivamente para mim e para quem comia comigo. Eu tinha pouquíssimos livros de cozinha e assistia aos programas do Jamie Oliver, e aquela comida pseudo-italiana simples era o o que havia de mais complexo a que meu ego aspirava. Não havia encontrado blogs e sites de cozinha, eu era a única pessoa da minha idade de meu círculo social que gostava de cozinhar, e a aventura de testar uma receita ou uma técnica nova era uma jornada individual cujo prazer não se equipara a essa estranha ansiedade gerada pela postagem de uma foto e uma receita nas redes sociais. Às vezes simplesmente paro e volto àquela época, e cozinho para mim, e esqueço os ingredientes que usei e como preparei, e o prato fica lindo e colorido, mas o celular está desligado, e sinto um prazer imenso naquela beleza fugaz desaparecendo aos poucos a cada garfada até nunca ter existido, a não ser no sabor no fundo da língua, que se demora antes de dissolver-se para sempre.

O prazer do particular que nossa sociedade começa a desconhecer, ao transformar todo privado em público. (Sim, a ironia de escrever isso num blog a respeito de minha vida e minha comida.)

.....

Quando vieram as boas notícias e pudemos todos relaxar novamente, logo antes do Carnaval, as maçãs que eu havia comprado em promoção foram transformadas num bolo. Ou torta. Ou bolo-torta, porque "torta" em italiano quer dizer bolo, de qualquer forma. Essa receita da Tessa Kiros é facílima e deliciosa. Num primeiro momento achei até que levava pouco açúcar, mas ela é doce o bastante e acho inclusive que pode ser preparada com um pouco menos de açúcar na massa sem nenhum prejuízo. O resultado me lembrou demais os Apfelkuchen (acho que era esse o nome) que eu costumava comer na casa da avó do Allex, e eu não duvidaria se as receitas fossem de fato parecidas. A torta, ou bolo de maçã da avó alemã era maior e mais fina, baixinha, não sei se de propósito ou por razões circunstanciais. Acabamos saboreando a torta no café da manhã de um dia particularmente frio e sem graça, e as maçãs envolvidas nessa massinha macia com certeza foram bom acompanhamento para o cappuccino.


TORTA-BOLO DE MAÇÃS
(Do livro Recipes and Dreams from an Italian Kitchen, de Tessa Kiros)

Ingredientes:
  • 9 colh. (sopa) manteiga em temperatura ambiente (cerca de 130g)
  • 2/3 xic. açúcar demerara
  • 1 ovo
  • 1 2/3 xic. farinha de trigo
  • 1/2 colh(chá) fermento químico em pó
  • 1/2 colh(chá) bicarbonato de sódio
  • 1/2 colh (chá) extrato de baunilha
  • 4 maçãs (de preferência com alguma acidez) - cerca de 450g
  • açúcar de confeiteiro para polvilhar

Preparo: 
  1. Pré-aqueça o forno a 160oC. Unte com manteiga e farinha uma forma de 22-24cm de diâmetro, de mola ou fundo falso.
  2. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar até que fique bem cremosa.
  3. Junte o ovo e misture bem.
  4. Junte a farinha, o fermento, o bicarbonato e a baunilha e misture em velocidade baixa até que comece a ficar firme demais para o batedor. Pare e termine de sovar ligeiramente com as mãos, apenas até que todos os ingredientes estejam bem incorporados. 
  5. Ponha 2/3 da massa na forma. Pressione firmemente com as mãos a massa no fundo, empurrando-a paredes acima, até que a massa ocupe todo o fundo e cerca de 2/3 da altura da forma, mais ou menos. Pode parecer que está muito fina, mas está tudo bem. 
  6. Descasque as maçãs, retire as sementes e descarte (não jogue no lixo, guarde para fazer geleia!). Pique as maçãs e cubos de 1,5-2cm. 
  7. Distribua os cubos sobre a massa de forma uniforme, checando para não deixar nenhum espaço sem maçãs. 
  8. Esfarele o restante da massa entre os dedos, em pedaços de tamanhos variados, e espalhe esses pedacinhos de massa por sobre a maçã. 
  9. Asse por 55-60 minutos, ou até que a massa esteja dourada e firme. Lá pelo fim do tempo, cubra a massa com uma folha de papel-alumínio se estiver com cara de que começa a queimar.
  10. Remova do forno e deixe esfriar. Polvilhe com açúcar de confeiteiro. O bolo/torta se mantém em temperatura ambiente de um dia para o outro, e depois disso deve ir à geladeira.


Vida de volta ao normal, e marido viajando para o treinamento de seu novo emprego. E daí que resolvi fazer a vontade das crianças e preparar um frango assado, assim numa terça-feira, porque as crianças sempre pedem, e como Allex não gosta, nunca faço. (Também porque frango aqui não é lá muito barato, ainda mais orgânico.)

A receita que escolhi era da Marcella Hazan, simplíssima. Você apanha um limão siciliano, rola ele entre a palma e a bancada para soltar bem os sucos, e espeta todo ele diversas vezes com um palito. O limão vai assim, furado e inteiro, para dentro do frango já bem temperado com sal  e pimenta. Fecha-se a cavidade do frango com linha ou palitos de dente, e ele é colocado na assadeira, sem óleo nem nada, de peito para baixo. Assa-se no forno a 180oC por meia hora, e então com cuidado ele é virado de peito para cima e volta ao forno por mais meia hora. Aumenta-se a temperatura para 200oC e ele fica ali mais meia hora até dourar e e os sucos saírem claros quando a carne é espetada com um garfo na junção da sobrecoxa com o corpo. (Calcula-se uns 25 minutos para cada meio quilo de frango.)

Junto do frango ainda cru, coloquei batatas cortadas e temperadas com sal e azeite, para assarem junto, absorvendo os sucos que o frango libera. Nos últimos quinze minutos, acrescentei os brócolis temperados para assarem e chamuscarem também.

O frango acabou ficando super suculento, ainda que não suficientemente dourado (a pele do peito, no entanto, estava crocante), porque eu esqueci de aumentar a temperatura do forno naquela última meia hora, e ele acabou assando a 200 graus apenas nos quinze minutos finais. Mas priorizei carne suculenta à pele crocante. Frango seco é uma desgraça.

O frango já cortado em pedaços, como foi servido à mesa.

A refeição foi uma alegria, seguida de sorvete de amêndoas com cerejas em calda, que eu preparara do livro The Perfect Scoop. O sorvete ficou gostoso sim, mas também mais doce e mais intenso do que eu imaginava (Laura não gostou, porque não gosta de nada muito doce). Eu provara um sorvete de missô com cerejas em calda na Bang Bang, minha sorveteria favorita em Toronto (porque é a única que não coloca um quilo de açúcar no sorvete), e era isso o que eu tinha em mente: um sabor e uma textura mais delicada. Todo o mini-banquete de frango assado com sorvete de terça-feira acabou servindo para comemorar a queda do primeiro dentinho da Laura. Foi mesmo uma comemoração, pois depois de ter de levar Thomas duas vezes ao dentista para arrancar os dentes de leite teimosos que se recusavam a dar espaço para o permanente já nascido atrás, foi um alívio ver Laura correndo para a sala com minúsculo dente na mão, feliz, contente, e de boca sangrando. ;) A animação dela foi tanta que, no dia seguinte, ela chacoalhou tanto o dente do lado, que também estava mole, que conseguiu fazê-lo cair também, ao que ela teve uma visita dupla da fada do dente, e agora, ao invés de uma janelinha, exibe um janelão com vista pro lago. A gente brinca e pede para ela "fazer o Ogro", ao que ela empurra o maxilar pra frente, com os dentes laterais por sobre o lábio superior e envesga os olhos, meu mini-ogro que sai correndo atrás do irmão com uma espada na mão, fazendo sons de monstro.

"Laura, o que você quer ser quando crescer?" 
"Uma guerreira, mamãe."

Como eu adoro transformar tudo em bolinho, o que sobrou do frango virou croquete. Claro. Tessa Kiros ao resgate, como sempre. Já disse o quanto amo os livros dela? Claro que sim.

Do frango inteiro, eu comera uma sobrecoxa, e as crianças haviam dado cabo das duas coxas, uma sobrecoxa, as duas asinhas e meio peito. Daí que havia sobrado um peito e meio e todo aquele frango desfiado que a gente consegue esmiuçando a carcaça com os dedos, nos lugares em que a lâmina da faca não tira um corte limpo e bonito para apresentar no prato. Depois de dar uns naquinhos de frango pro Gnocchi, que estava aguando do meu lado o tempo todo em que eu mexia na carcaça, considerei que se tratava de meio frango, assim no olho, e, como a receita da Tessa pedisse um frango inteiro, fiz meia receita. Trata-se de um croquete tradicional: carne com molho bechamel grosso, empanado e frito. Renderam bem uns seis ou sete croquetes para cada um de nós, que servi com uma salada simples de cenoura e bok choy (acelga chinesa, a verdura em promoção), fatiada, refogada em alho e óleo de gergelim e temperada com shoyu. 

A parte especial foi ter Laura como ajudante, que moldou e empanou metade dos croquetes comigo. 

CROQUETE DE FRANGO
(ligeiramente adaptado do Livro Apples for Jam)
Faz cerca de 25-30 croquetes, dependendo do tamanho.
 
Ingredientes:
  • carne de 1 frango inteiro, picada
  • 3 colh. (sopa) manteiga
  • 1 cebola pequena, picada
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsão, picadas (eu não tinha salsão e usei um talinho de erva-doce)
  • 1 1/2 colh (sopa) folhas de salsinha, picadas
  • 2 dentes de alho pequenos, picados
  • 1 tomate, picado
  • 1 1/2 colh. (sopa) farinha de trigo
  • 1 xic. leite
  • 1 ovo
  • sal
  • farinha de rosca
  • óleo para fritar

Preparo:
  1. Derreta metade da manteiga numa frigideira e junte a cebola e uma pitada de sal, mexendo até começar a dourar. 
  2. Junte o salsão, salsinha e alho e misture bem, até que sentir o aroma do alho.
  3. Junte o tomate, amassando bem com a colher e misturando, até que ele se dissolva bem.
  4. Junte o frango picado, misture muito bem, acerte o tempero e transfira para uma tigela. 
  5. Em outra panela, derreta o resto da manteiga. 
  6. Junte a farinha, misturando bem, e então o leite, aos poucos, misturando com um fouet, até formar um molho branco, espesso e liso. Tempere com sal e pimenta e transfira para a tigela com o frango.
  7. Junte o ovo, misture bem, acerte o tempero e leve a tigela à geladeira por pelo menos meia hora, até que tudo firme o bastante para que você consiga formar os croquetes. 
  8. Se ainda estiver mole demais, junte um pouco de farinha à mistura. 
  9. Apanhe colheradas da mistura, e forme os croquetes, do comprimento do seu dedão e com não mais que dois dedos de espessura (achei esse tamanho fácil de manusear - até a Laura conseguiu). Passe o croquete na farinha de rosca, e deixe num prato. Repita com o restante da mistura até ter todos os croquetes estejam formados. Leve à geladeira enquanto esquenta o óleo (uns 2 dedos de óleo na panela). 
  10. Frite os croquetes até que dourem por igual, alguns por vez, em óleo a 180oC. Deixe escorrer sobre papel-toalha e sirva ainda quente.
 

Só eu achei isso lindo?

No dia seguinte, eu ainda tinha farinha de rosca e óleo de fritura, e resolvi dar cabo de tudo com esse funcho empanado da Marcella Hazan. Taí uma vantagem de ter menos livros de cozinha: tantos anos na minha estante, e eu NUNCA preparara essa lindeza. Você coloca o bulbo em pé e corta dele fatias de 1,5cm de espessura, tentando manter a raiz firme para que as camadas não se soltem. Como meu funcho era bem grande, cortei também ao meio, para facilitar na hora de empanar e fritar. Cozinhe as fatias de funcho na água fervente com sal por alguns minutinhos, apenas até o miolo próximo à raiz pareça macio, mas ainda resistente, ao ser espetado por um garfo. Escorra bem, passe as fatias cozidas em ovo batido, depois farinha de rosca, apertando para que os farelos de pão grudem, e frite normalmente, até dourar dos dois lados. 

As crianças e eu comemos o bulbo de funcho frito inteirinho, e houve até briga pelos dois últimos pedaços, que consegui guardar para meu almoço do dia seguinte. Para acompanhar, no jantar, arroz cozido com talos de brócolis e temperado com salsinha, e uma saladinha simples de tomates.  No dia seguinte, em meu almoço solitário, cobri os dois pedaços de funcho empanado com fatias grossas de tomate, orégano e mozzarella, e esquentei no forno minha parmiggiana vegetariana, que acompanhei com uma saladinha de alface.
Meu prato.
Prato to Thomas, que me pediu para fotografar a montagem sua montagem super criativa.

Agora, de volta à vida normal, que depois de dois meses de incertezas, visitas durante o Carnaval (que não existe aqui, by the way), March Break (uma semana de férias escolares) e uma semana com marido fora de casa, eu preciso literalmente sair correndo, e retomar minha rotina: minha meditação, meus exercícios físicos, minha escrita, minha pintura... e veja só: semana que vem meu Matador de Dragões faz 8 anos e eu ainda tenho que descobrir que bolo ele vai querer. :)



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Um aniversário simples mas não um simples aniversário + coxas de frango e um bolo de anos atrás

Princesa viking na neve brincando com boneca.


Agora que a fase das visitas passou, a vida voltou ao normal. Bem, até o clima voltou ao normal, mandando embora aquela onda de -30oC e trazendo de volta os agradáveis -10oC. Houve até uma semana inteira de temperaturas positivas, vejam só! Lembro da vida na Aldeia da Serrra, tilintando de frio no vento ao passear o cachorro, toda encapuzada, três blusas, gorro, cachecol, maldizendo aqueles 8oC. Ha. Ha. Ha. Vale dizer que depois de passar pelos -30oC, Laura e eu nos vimos andando no parque, cercadas de neve derretendo, sem gorro, sem luvas, sem cachecol, apenas camiseta e o casaco aberto para refrescar. Fazia 3oC nesse dia. TRÊS. O ar é totalmente diferente no seu rosto, quando a temperatura é positiva, mesmo que seja apenas um grau acima de zero. Referências. Ah, referências. Comecei a entender bem aquelas fotografias engraçadas de gringo de short em dia frio. É sempre muito interessente perceber como nosso corpo se adapta rápido.


Passou Natal, passou Reveillon, sogra foi embora, e rapidamente me dei conta de que o próximo grande evento da família estava logo ali: o aniversário da Laura.

Quando ela me perguntou se os amigos do Brasil viriam visitá-la no aniversário, confesso que meu coração afundou. É sempre difícil lidar com essas perguntas de forma sincera mas leve. Difícil explicar que não é simples para os amigos visitarem, que custa caro, e que... bem... os pais dos amigos precisam de fato quererem vir aqui. E, vamos combinar, amizade de jardim de infância só dura se as crianças continuam estudando juntos. Essa parte é bem, bem difícil. A saudade que tenho dos meus amigos é dura. As saudades que as crianças têm dos seus amigos me faz sofrer bem mais.
Minha pequena lenhadora num dia de -10oC.
Assim que eu expliquei a ela que não, ninguém viria do Brasil para o seu aniversário, ela imediatamente supôs que faríamos uma grande festa e chamaríamos seus trinta colegas de classe.

Respira no saquinho.

"Não, querida, os pais e mães ainda não se conhecem direito, ainda é seu primeiro ano aqui, a gente não sai fazendo festa grande assim logo de cara. Precisa conhecer melhor os amiguinhos antes de chamar em casa. Além disso, o apartamento é pequeno, não tem espaço para a festa grande."
"Tem sim! Ó, cabe ali do lado do sofá todo mundo!"
"Cabe não, Laura."
"Tá. E o que é que a gente faz então, mamãe? Que é que faz no aniversário aqui no Canadá?"
"A gente canta parabéns na escola e manda as lembrancinhas. Você me ajuda a fazer os gift bags?"
 "SIIIIIIIIIIIIIIIMMMM!!!!!"

Pronto, os olhinhos dela estavam iluminados de novo.

Quando Thomas nasceu, prometi a mim mesma que não me meteria nessa de festão de criança. Havia comparecido a suficientes aniversários de 1 ano em buffet para saber que isso era roubada. Eu não faria festa até a criança de fato pedir por uma, e quando fizesse seria simples e caseiro como foram os meus na minha infância, e não daria presentes aos meus filhos até eles terem idade para saberem o que é um aniversário.

Isso não funcionou muito bem. Nada te faz morder mais a língua do que maternidade.

Logo no primeiro aniversário do Thomas, eu despiroquei. Nós não faríamos nada, nada mesmo, só um bolinho para nós três. Mas enquanto eu preparava o bolo, tive um siricotico, e comecei a achar que eu era a pior mãe do mundo, que todo mundo se importava com festa de 1 ano menos eu, que algo deveria estar errado comigo. De uma hora para a outra chamamos umas vinte pessoas que podiam vir, passei 6 horas enfurnada na cozinha, e fizemos uma festa meio esquisita e improvisada, que claro, não aplacou essa minha sensação de ser a pior mãe do mundo. Nenhum dos nossos amigos tinha filho ainda, então Thomas era o único bebê ali, e meia hora depois dos convidados chegarem, ele teve de se retirar para sua soneca habitual.

ISSO NÃO FAZ SENTIDO NENHUM.

No ano seguinte, as coisas foram mais tranquilas. Thomas fez dois anos no início de seu primeiro ano de escola, e me lembro de ter apenas enviado um bolinho de chocolate para a escola e foi isso aí. Paz de espírito, criança feliz comendo chocolate sem saber exatamente por quê. Achei que tinha voltado ao meu eu habitual.

Mas não.

Começaram a aparecer os convites para as festinhas dos colegas. As "festinhas de criança" eram verdadeiros festões, bailes de debutante, principalmente quando o aniversário era de menina. Entretenimento, DJ, barracas de comida, garçons, pula-pula inflável do tamanho da minha casa, pais estressados reservando data de aniversário com todo mundo 6 meses antes, lembrancinhas mais caras do que o presente que meu filho levava.

Depois de meia dúzia destas festas, Thomas começou a criar sérias expectativas a respeito de seu próprio aniversário. Ele mal falava direito, mas já sabia pedir uma festa de aniversário com dragões e dinossauros e todos os seus amigos. >_< Então, aos três anos, Thomas ganhou sua primeira festa com os coleguinhas da sala, aquela fatídica em que ele teve estomatite e chorou porque não conseguia comer brigadeiro. Aquilo deveria ter sido interpretado como um sinal para largar mão e voltar ao meu plano original. Mas é impressionante como o ambiente mexe conosco, desequilibra, tira o foco. Eu já não tinha mais firmeza para insistir no que eu achava que era certo, porque já não tinha mais certeza de coisa nenhuma, desprovida de qualquer outra referência em que me apoiar. Depois de todo aquele frio de -30oC, eu estava achando que 3oC era verão. Eu era praticamente a única mãe que fazia festa para menos de 60 convidados com bolo feito em casa, então pensar em algo ainda menor, um bolo só com os avós, parecia impensável, uma enorme injustiça com a coitada da criança.

Laura era outro tipo de abacaxi: no Brasil, ela jamais teria o bolinho na escola, pois seu aniversário é em Janeiro. Então veio outro jogo de culpa, aquele comum nas mães, de tentar resolver problema antes de ele de fato ter aparecido. Na minha cabeça, Laura se perguntaria por que o irmão teve festa e ela não teve, por que tinha foto de um monte de gente e um monte de comida no primeiro ano dele, e no dela só tinha pai e mãe e um bolinho. Loucura total. E pronto, Laura teve festa no primeiro ano, com um dos melhores bolos que já fiz, bolo branco classicão de 1 tigela da Alice Medrich (aquele de fazer no processador) e a cobertura adaptada de mascarpone do bolo de Tiramisú da Dorie Greenspan do livro Baking From My Home To Yours, que eu nunca postei aqui porque estava meio que de férias do blog na época.
Lembra dessa bochecha???? Muito amor. Olha esse bolo. Nham!
O BOLO DE TIRAMISÚ DO PRIMEIRO ANO DA LAURA
Rendimento: esse bolo da foto, alimentou um monte de gente e o povo lambeu o prato.

Ingredientes: 
(bolos)
  • 2  xic. farinha de trigo
  • 2 1/2 colh. (chá) fermento
  • 6 ovos
  • 1 3/4 xic. açúcar
  • 1 colh (sopa) extrato de baunilha
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 6 colh (sopa) manteiga sem sal, derretida
  • 2/3 xic. creme de leite fresco, em temperatura ambiente
(xarope de café)
  • 1 xicarazinha normal de café espresso ou café bem forte (tipo 60ml de café, e não uma xícara-medida)
  • 1/2 xic. água 
  • 1/3 xic. açúcar
  • 1 colh (sopa) de Marsala, outro vinho doce fortificado ou conhaque
(cobertura)
  • 1 pote de marcarpone (uns 250g) (qualquer marca que tenha apenas creme de leite e ácido cítrico na composição, sem gomas ou coisas estranhas)
  • 3/4 xic. creme de leite
  • 1/2 xic. açúcar de confeiteiro
  • 150g chocolate amargo picado
  • cacau para polvilhar

Preparo:
(bolos)
  1. Coloque a grade na parte inferior do forno e pré-aqueça a 180oC.Unte e enfarinhe duras formas redondas de 20cm. Forre o fundo com papel-manteiga. 
  2. No processador, coloque o açúcar, farinha, sal e fermento e pulse para misturar. Junte o creme e a manteiga epulse rapidamente, 8-10 vezes, até que os ingredientes estejam misturados.
  3. Junte os ovos e a baunilha de uma vez e pulse mais 5-6 vezes. Raspe as laterais da tigela de processador com uma espátula, tomando cuidado com a lâmina, e então pulse mais 5-6 vezes, até estar tudo homogêneo, não mais que isso.
  4. Divida a massa entre as formas, espalhando uniformemente, e asse por 30-35 minutos, até um palito inserido no meio sair limpo. Coloque o bolo para esfriar numa grade por 10 minutos antes de desenformar e retirar o papel de baixo do bolo. Deixe que esfrie completamente antes de embrulhar bem os bolos em filme plástico individualmente e levar à geladeira. É mais fácil decorar o bolo depois de um dia na geladeira.
(xarope)
  1. Coloque a água e o açúcar numa panela e aqueça apenas até que todo o o açúcar se dissolva e o líquido fique transparente outra vez. Desligue, junte o café e o Marsala. Deixe esfriar.
(cobertura)
  1. Na hora de decorar o bolo, numa tigela, misture o mascarpone e o açúcar até que fique homogêneo e bem cremoso. Na batedeira, bata o creme de leite em ponto de chantilly. Junte algumas colheradas ao mascarpone, misturando delicadamente com uma espátula para deixar a mistura mais leve e então incorpore o restante do creme batido, como você faria com claras em neve. Leve à geladeira até a hora de usar. 
  2. Desembrulhe um dos bolos, e, usando um pincel, pincele metade do xarope por cima. Cubra com algumas colheradas do creme de mascarpone, polvilhe com 1/3 do chocolate picado, e cubra com a outro bolo. Pincele com a outra metade do xarope. 
  3. Passe uma camada fina da cobertura de mascarpone por todo o bolo e leve à geladeira por umas duas horas. 
  4. Retire o bolo da geladeira e termine de espalhar toda a cobertura uniformemente. Polvilhe com cacau a parte de cima e o restante do chocolate picado.

E assim foi indo, ano após ano, eu tentando simplificar as festas, trocando pastelzinho de palmito por biscoito de polvilho e cupcake por fruta, achando que isso ia resolver, e mesmo assim enfiando o pé na jaca e me dando mal todo ano.

Até o ano passado.

Já sabíamos que viríamos para o Canadá. Não tínhamos data certa, mas viríamos. E enfiei na minha cabeça que, aquele sendo o último aniversário com os amigos do Brasil, eu precisava fazer uma festa. Afinal, Thomas tivera festa de 4 anos, era justo que ela tivesse também. De novo, mãe resolvendo problema que ainda não existe. Por que é que a gente se complica tanto??

Chama todos os amiguinhos da sala. Cada amiguinho da sala vem com pai, mãe, irmão, e alguns, até com primo e avó. MESMO. O que poderia ser uma festinha para vinte crianças, vira uma festa para sessenta pessoas. Eu tento manter a coisa simples, mas claro que me atrapalho com o excesso de expectativa da Laura. Gasto mais dinheiro do que posso, gasto mais tempo do que gostaria, cozinho mais do que pretendia. No dia da festa, cai uma tempestade, destas de escurecer o céu. Ficamos todos enfurnados dentro de casa. É um caos. Comida e suco por todos os lados, brinquedos dos meus filhos espalhados por todo canto, gente que eu de verdade não conheço abrindo minha geladeira para procurar mais cerveja, criança sendo extremamente mal educada comigo quando peço para não pular no sofá e pais vendo isso acontecer  e não fazendo nada. Na época não quis comentar nada disso aqui no blog, e só coloquei as fotinhos fofas da mesa. Mas de verdade, foi um trauma.

Canta-se parabéns. Minha família se despede. Meus amigos se despedem. Mas há todo um grupo ali que entra na cozinha, pega de volta a cerveja e os sanduíches que eu já havia tirado da mesa, e continua sua festinha particular na varanda, ignorando a anfitriã com o saco de lixo limpando a casa. Detalhe: já se haviam passado 2 horas do horário de término da festa avisado no convite. As mesmas crianças mal educadas brincam de virar copo com resto de suco, eu grito com elas e ninguém liga. Ninguém dá bronca.

Quando finalmente consigo pôr fim àquilo e ter minha casa de volta (ou o que sobrou dela), pergunto à Laura se ela gostou da festa.

"Não. A Celine não estava aqui."

Meu mundo caiu. A melhor amiga ficara presa na estrada por causa da tempestade e não pudera vir. Eu passara por tudo aquilo, gastara tempo e dinheiro, e no fim das contas, eu só precisava ter chamado a melhor amiga.

Quando chegou o aniversário do Thomas, usei aquilo de exemplo. Chamei os três melhores amigos para passarem o dia brincando com ele. E foi isso. Fiz macarrão para todo mundo, comemos brigadeiro, e mandei um bolo para a escola. Thomas adorou. Foi divertido para todo mundo, INCLUSIVE PARA MIM.

Vir para cá foi de certa forma uma libertação dos aniversários escalafobéticos. Por conta de alergias alimentares, não se pode mandar bolo de aniversário para a escola. Mas pode-se mandar lembrancinhas. Você vai numa loja de 1,99, enche a sacola de cacareco, do tipo canetinha colorida, balão, borrachinha de bichinho, adesivo e língua de sogra, no melhor estilo aniversário de antigamente. Gasta-se muito pouco. Bota num saquinho colorido (tem toda uma sessão de Gift Bags nas lojas), e manda a criança para a escola para distribuir aquilo para os amigos.

Só isso já acho positivo: é aniversário da criança, mas é ela que dá os presentinhos, ao invés de ficar esperando receber dezenas de brinquedos e tralhas.

Laura AMOU separar todos os cacarecos e arrumar nos saquinhos e foi para a escola toda orgulhosa. Depois que ela entendeu e aceitou que seríamos só nós quatro a cantar parabéns, ela olhou bem para mim e disse:"tá bom; mas eu quero um bolo de chocolate e quero brigadeiro e balões, ok?"

Ok.



Preparei o mesmo bolo de chocolate que eu fizera no meu aniversário, mas numa forma quadrada, para ficar mais fácil cortar em pedaços para mandar de lanche depois. Usei confeitos coloridos, bem porcaria e cheios de corante, que eu sei que ela adora, fiz uma porção de brigadeiros e enchi com as forças restantes dos meus pulmões de quase quarenta anos pelo menos uns vinte balões - e descobri que os balões canadenses são mais espessos que os brasileiros, e, portanto, mais difíceis de encher. Afe. Povo aqui adora cartões de todos os tipos, então lhe comprei um cartão de unicórnio.

O dia do seu aniversário amanheceu lindo. Um céu azul limpíssimo, uma temperatura agradável, e neve fresca e fofinha para brincar. Um presentão, disse a ela. Assim que acordou, foi imediatamente brincar com seu presente de aniversário: ela pedira uma mala de madeira com tintas em tubos, pincéis e papel duro como o da mamãe, e achei lindo quando ela dividiu o presente com o irmão. Pintaram lindas pinturas até a hora de ir para a escola, e ela fez questão de carregar sozinha a sacola das lembrancinhas. Quando fui buscá-la, levei o trenó e meu canecão térmico cheio de chocolate quente, e ficamos no parque brincando na neve até quase escurecer. Voltamos para casa, Allex chegou cedo, e cantamos parabéns, jantamos bolo e brigadeiro e comemos pão de queijo de sobremesa. É, nessa ordem mesmo. ;)

 

Eu morrendo de dor na bunda por ter caído no gelo, e a brincadeira das crianças é justamente escorregar nele e cair.

Eles foram tomar banho, e deixei que brincassem na banheira até cansarem. Lemos um milhão de histórias antes de dormir, e quando fui dar um beijo de boa noite, Laura me deu um abraço e disse: "Eu adorei meu aniversário, mamãe!".

Foi a primeira vez que ela disse isso. E vir assim, expontaneamente, sem a chatice da mãe buscando aprovação, perguntando se o filho gostou da festa... foi a cereja do bolo, a certeza de que tudo o que a gente precisa é se ouvir mais, ser mais fiel a si mesmo e aos nossos princípios. E que criança quer mesmo é passar tempo com a gente, tempo de qualidade, quer mesmo é brincar e comer brigadeiro, e não precisa de DJ, nem garçom, nem princesa.

Fico contente que as coisas aqui pareçam, de modo geral, um pouco mais tranquilas. Claro, é uma cidade de imigrantes, e as referências de festas de crianças são muitas, e tem de tudo. Mas por ter de tudo, não tem problema ser só um bolinho. Ou só chamar a melhor amiga para um playdate. Ou só passar a tarde depois da escola brincando na neve e tomando chocolate quente.

Declaro aqui o fim dos aniversários escalafobéticos e o início da minha paz de espírito. Recomendo muito a todos. Faz bem.

Agora Laura anda toda orgulhosa. Cinco anos. Meia década. Uma mão cheia. Uma menina grande. Minha Madame Bochechas que agora perdeu a carinha de nenê completamente.
"Agora que eu tenho 5 anos eu já posso dormir na parte de cima do beliche, não é?"

Ai, ai, ai.

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O resto do mês de janeiro foi bem comum. Tão comum e nos eixos, que consegui voltar a pintar. E consegui remontar meu portfólio para buscar trabalhos de ilustração em Toronto: www.anaelisagranziera.com
Ainda faltam alguns ajustes, mas vamos lá que está indo bem.

  
A vida culinária por aqui continua relativamente simplificada. Tray bakes são ainda o modo mais simples de montar uma refeição: assei batatas com alhos e cebolas (batatas previamente cozidas por 10 minutos, para ficarem bem macias por dentro e crocantes por fora), e quando ficaram prontas, juntei ervilhas congeladas por alguns minutinhos e quebrei alguns ovos para meio que fritarem / assarem no calor residual do forno. Polvilhei de salsinha e cebolinha, e voilà: almoço de sábado.
Em outro dia, fiz parecido com abóboras.  A butternut squash, com seu gostinho amanteigado, está virando uma de minhas abóboras favoritas. Assei cubos dela com cebolas, e quando prontas, juntei grão-de-bico cozido para aquecer e couve (black kale) rasgada por uns 5 minutinhos, para que cozinhasse e ficasse crocante nas beiradas. Servi com um molhinho simples de iogurte, tahini, azeite, limão, sal e pimenta-do-reino (as proporções são a gosto, e depende do quão amargo é o tahini e do quão azedo é o iogurte, mas é sempre mais iogurte e azeite do que tahini e limão).  As sobras, no dia seguinte, reaqueci e completei com um ovo frito.

Ainda que se possa comer a casca da abóbora, o pessoal aqui em casa não aprecia muito a característica coreácea que a casca adquire depois de assada. Então o que fiz foi guardar no freezer a casca da abóbora para usar num caldo, como sempre fizera. Mas quando vi que tinha já num saco separado casca de 2 abóboras inteiras, resolvi testar outra coisa: cozinhei as cascas em água fervendo até ficarem bem macias, escorri (guardando a água para uma sopa ou um pão) e bati no processador as cascas cozidas até obter um purê bem homogêneo. Surpresa! Você vê esse purê cor-de-laranja e nem acredita que eram as cascas, parece mesmo purê de polpa de abórora. Congelei porções de duas xícaras  (cascas de 2 butternut squash com alguma polpa agarrada a elas renderam 4 xícaras de purê). Uma dessas porções virou ESSE BOLO DELICIOSO DE ABÓBORA com cobertura de cream cheese e mel.
Tinha sobrado grão de bico cozido e molho de tahini. Então piquei a couve crua, misturei a fatias finas de beterraba amarela, sementes de romã, cebolinha e comi acompanhado de uma frittata simples de batata e salsinha. Salada de couve crua é ótima para levar de almoço, pois ela não murcha já temperada. E as sobras ficam ótimas com fatias de queijo dentro de um sanduíche tipo wrapp.
 Janeiro foi também o mês em que o Papai Noel trouxe de presente atrasado uma máquina de waffles. Os primeiros waffles canadenses foram intensamente comemorados por todos aqui em casa. E eu imediatamente lembrei das receitas de waffles do Good to The Grain, da Kim Boyce, e me arrependi de ter vendido o livro. Quem comprou, cuida bem, tá? Muito amor por esse livrinho.

Então, no fim de janeiro, fiquei sozinha pela primeira vez desde que cheguei em Toronto: Allex foi viajar a trabalho. Aproveitei para mimar as crianças, pois Thomas vive me pedindo para fazer coxa de frango para ele comer com a mão, e nunca faço porque Allex detesta carne de aves. Dei vazão à minha curiosidade culinária e preparei essas coxas com molho agridoce da Tessa Kiros. E como o que estava em promoção no mercado eram rutabagas e não batatas, o acompanhamento foi purê de rutabaga. Ligeiramente adocicado, como um purê de batatas com maçãs. Mas muito bom. O que sobrou dele no dia seguinte, misturei a ovos e farinha e fermento até conseguir consistência de massa de panqueca, e fiz panquequinhas de rutabaga no forno com salada de alface, e as crianças gostaram tanto, que levaram de almoço na escola.
  

COXAS E ASAS DE FRANGO COM MOLHO AGRIDOCE DE LARANJA E TOMATE
(Do livro Apples for Jam, da Tessa Kiros)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1 /2 xic. açúcar mascavo
  • 1 1/2 xic. suco de laranja fresco
  • 3/4 xic molho de tomate, de preferência caseiro (eu sempre tenho um pouco de molho pronto, sobra de quando faço pizza)
  • 1 1/2 colh (sopa) shoyu
  • 1 1/2 colh (sopa) molho inglês
  • 6 coxas de frango
  • 6 asas frango (fiz metade da receita do molho, omitindo as asas e usando só as coxas)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 160oC. Coloque o açúcar, suco de laranja, molho de tomate, shoyu e molho inglês numa panela, leve à fervura, mexendo para dissolver o açúcar. Cozinhe em fervura branda por 5 minutos.
  2. Espalhe as peças de frango numa assadeira ou refratário de bordas altas em que as peças caibam numa camada única, mas encostando umas nas outras. Despeje o molho por cima. 
  3. Asse por 2 horas a 2 horas e meia, regando o frango com o molho de vez em quando e virando as peças, até que p frango esteja crocante e pegajoso, e o molho esteja espesso e brilhante. Sirva quente ou em temperatura ambiente.
Lembrei-me também de outra receita de livro perdido, um cake salée da Dorie Greenspan, cuja receita eu achei que havia anotado, mas não. Catei na internet (RECEITA DA VERSAO DE QUEIJO ORIGINAL AQUI)e fiz novamente, trocando o parte de queijo por bacon douradinho e figos secos e servindo com uma salada de alface com vinaigrete de bacon: você doura os pedacinhos de bacon (uma fatia por pessoa), retira da panela, deixando a gordura lá, com fogo apagado, mistura o vinagre e a salsinha ali na panela mesmo e cobre as folhas com o molho quente e o bacon. Delícia. De novo, as sobras do cake salée foram enviadas de almoço para as crianças. 



Estou pegando o jeito de novo. :)

SE VOCÊ É UM PURISTA DA COMIDA JASPONESA, POR FAVOR PULE ESSE PARÁGRAFO - estou prestes a assassinar a culinária japonesa. ;) Mesmo.

Num dia em que comprei uma marca diferente de arroz e ele empapou além da salvação, ao invés de fazer bolinhos, catei nori no armário (pimpolhada adora levar pedaços de nori de lanche), espalhei o arroz grudento, temperei com vinagre de maçã e uma pitada de açúcar (não tinha Mirin), recheei com cenouras coloridas cortadas em palitos, versões vermelha e amarela, e escataplá: "hosomaki vegetariano". Ficou bem sushi de posto de gasolina, segundo Thomas, mas deu bem para o gasto e os dois pediram para que eu fizesse de novo e mandasse de almoço. Logo, sucesso.

Sushi de cenoura de posto de gasolina. ;)

Spaghetti com molho de tomate de ontem, manda DO BRASIL, cenoura colorida, queijo e passas cobertas de iogurte.
Toda a coisa do lanche da escola anda bem mais descomplicada, mas vou deixar isso para o post seguinte. Uma coisa que anda aparecendo mais aqui é pão de queijo, a mesma receita do aniversário da Laura, passada a mim por minha melhor amiga, que me dá uma saudade imensa lá do Brasil. Eu amo receita fácil de lembrar, e essa é uma delícia de fácil.

PÃO DE QUEIJO DA MARINA
Rende: um monte

Ingredientes:
  • 1 xic. leite
  • 1 xic. óleo
  • 1 xic. água
  • 4 xic. de polvilho, tudo doce ou misturado com o azedo (no caso, o pacote inteiro que consigo comprar aqui, de 567g, que é doce - ainda não achei polvilho azedo - para quem mora fora do Brasil, eu compro o Bob´s Red Mill Tapioca Flour (Tapioca Starch), que se encontra em qualquer supermercado e é puramente polvilho doce, apesar do nome)
  • 1 ovo
  • 1 "prato" de queijo ralado grosso

Preparo:
Na panela, junte o óleo, o leite, a água e um pouco de sal, que vai depender do quão salgado é o queijo que você está usando. Leve à fervura. Desligue e junte o polvilho, de uma vez, mexendo sempre até amornar. Eu prefiro fazer isso na batedeira planetária, claro, então deixo o polvilho esperando na tigela da batedeira e despejo o líquido fervendo em cima. Bato por vários minutos em velocidade bem baixa, pois o grude é forte. Se sua batedeira for dessas de plástico, melhor quebrar o braço de cansaço mexendo com colher do que quebrar a batedeira. Quando estiver morno, misture o ovo até que esteja bem incorporado. Então misture o queijo e pronto. Forme montinhos com a colher, ou bolinhas com a mão, se não estiver grudando, e asse em forma sem untar, a 180oC por pelo menos 20 minutos, dependendo do tamanho ou até que estejam dourados embaixo e com pontinhos dourados em cima. Assei metade da massa e o resto congelei numa assadeira, depois transferindo as bolinhas cruas para um saco. Do freezer pro forno, demoraram uns 5-8 minutos a mais para ficarem prontos.
 
Ah, o que mais aconteceu em Janeiro? Claro, a placa-mãe do computador queimou, eu caí no gelo em cima do meu celular, que quebrou, razão pela qual quase não teve post em janeiro, a máquina de lavar roupa morreu... eh, laiá. Ainda bem que já é Fevereiro.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Dezembro, o Frio, o Natal e um purê de cenoura


Faz 8oC lá fora, está escuro, apesar de serem sete e vinte da manhã, e eu não sei como vestir as crianças para a escola. Olho pela janela e há neve ainda remanescente das duas semanas de frio intenso pelas quais passamos. Mas chove. E a neve derrete em ritmo rápido, formando poças de água escura circundando ilhas altas de neve suja, que me lembram aquela espuma esquisita que flutua sobre rios muito poluídos. Apesar disso, o dia está "quente". Visto um jeans fino de verão, uma camiseta de manga curta e - aí que vira bagunça - as botas de neve, para não encharcar os pés e o casaco de neve porque eu não tenho um de chuva. Apesar da temperatura positiva, as crianças vão de luvas, para poderem brincar com o que restou de neve no pátio da escola.

Andamos até a escola meio desajeitados. Há pedaços inundados pela neve derretida, há pedaços ainda com gelo escorregadio sobre as calçadas, há momentos em que não se pode fazer nada a não ser enfiar o pé inteiro naquela neve suja para poder atravessar a rua, ao mesmo tempo em que você pede pela décima vez para que as crianças não brinquem nas poças e no gelo, pois a neve conforme derrete revela presentinhos de gente mal educada que não sabe onde existe lixeira e não recolhe dejetos caninos. 

Volto da escola e é todo um processo para limpar o cachorro, que parece saído do meio de um manguezal, imundo até a barriga e cheio de pedras de sal nas patas. Depois de limpá-lo e secá-lo, é a vez de limpar a entrada do apartamento, enlameada e grudenta de sal, independente de termos colocado junto à porta um enorme tapete de borracha.

Apesar disso, as coisas vão bem.

É delicioso sair na rua sem luvas depois de duas semanas mal tendo o nariz exposto ao frio. Quando meus pais vieram visitar eles trouxeram o calor, fazendo a neve da semana anterior desaparecer e facilitando nossos passeios, apesar do vento intenso e das eventuais temperaturas negativas. Foi bom ter sua companhia aqui, poder mostrar-lhes nossa casa, nossa vida, nossa rotina. Isso parece ter tornado mais concreto o fato de morarmos aqui. Não são férias. Não vamos voltar e mostrar as fotos da viagem.

Aproveitei o fato de que as crianças estavam o dia todo na escola e os levei para passear, para conhecer a cidade que eu mesma não conhecia ainda, concentrada que andava na rotina da casa e na adaptação das crianças. 

Nós saímos algumas vezes para comer, e outras ficamos em casa, e adorei cozinhar para todos nós a nossa comidinha de sempre, como AQUELA SOPA DE ABÓBORA SIMPLES E DELICIOSA, que meus filhos amam e o marido que não gosta de abóbora aprendeu a comer. Sempre a preparei com abóbora japonesa, mas desta vez foi com a Butternut Squash.

Falando em abóboras, demorei o Outono inteiro para mergulhar nelas, ainda tirando proveito da variedade de legumes e verduras que desapareceriam durante o inverno. A Spaghetti Squash foi um sucesso com todo mundo menos com Laura, que andava numa fase meio do contra desde que eu voltara do Brasil (ela ficou brava porque não a levei junto). É de se amar muito uma abóbora que, depois de assada, desfia-se assim como spaghetti, firminho e delicioso. Coisa linda, imaginei logo simplesmente misturá-la a um molho alho e óleo, mas resolvi seguir os planos com a receita do blog Sprouted Kitchen, Lasagna Style Spaghetti Squash. Eu não tinha carne ou espinafre, mas tinha o molho de tomate que sobrara da pizza dos dias anteriores e um bocado de queijo. Thomas pede para comprar essa abóbora de novo toda vez que a avista no mercado.



Essa falta de variedade de verduras no inverno não é sentida por todo mundo não. Assim como no Brasil, os supermercados tendem a se abastecer de comida do mundo inteiro. Então se o verão acabou e Ontario não produz mais blueberries, não entre em pânico: temos mirtilos chilenos por apenas o dobro do preço e metade do sabor. Via de regra, tenho comprado minhas frutas e verduras no mercado orgânico. E como sigo sempre a regra de só comprar comida importada que venha do mesmo hemisfério (mesma estação do ano) em que estou, isso acaba naturalmente limitando as escolhas. Pouca coisa tenho conseguido que seja produzida no Canadá: quase tudo raízes, tubérculos e maçãs. Nenhum problema, tem sido interessante descobrir o que fazer com nabos (sopa francesa deliciosa de nabos e batatas), rutabagas (funciona em qualquer receita de batata), pastinacas, raízes de aipo, diferentes tipos de batata e todas as cores de beterrabas e cenouras. Toda semana o mercado coloca em promoção uma saca diferente de maçãs, e toda semana temos mais 1,5kg de maçãs pra comer. Havia peras de Washington que já sumiram, caquis espanhóis, marmelos italianos e romãs americanas. Bananas são a única exceção que faço, pois são produzidas o ano inteiro e precisam necessariamente vir de algum país tropical. Quem me salva muito é a Califórnia (oi, titia!). Querida Califórnia ensolarada que nos provê de muitos tipos diferentes de couves:  curly kale, cavolo nero, purple kale, collard greens... E couve é algo que tenho sempre, sempre, de dois a quatro pés, e eu saio rasgando e colocando em tudo, em saladas, em sopas, no macarrão... Mas meu jeito favorito de comê-las é mesmo numa torrada.


Assim, couve picada, com cabinho e tudo, refogadinha no alho só até amolecer. Polvilho de queijo, desligo a frigideira e tampo, deixando o queijo derreter com o calor ali dentro da panela. Transfiro tudo isso para cima de um pão integral torrado e com uma passadela de tahini, polviho de gergelim e sou feliz. Naquele dia da foto usei tomates pretos, locais, orgânicos, mas de estufa, que são sempre os olhos da cara, mas que estavam em promoção, e minha saudade de tomate não me deixou passá-los.

O hábito da torrada com legumes de almoço tem tornado minha vida infinitamente mais simples. Não preciso cozinhar nada complexo para mim e isso resolve quando tudo o que sobrou do jantar foi meia xícara de legumes, ou uma única concha de sopa. É fácil adaptar essa sobra para uma torrada. Eu almoço leve, continuo o dia me sentindo produtiva, não aumento minha cintura e não tenho trabalho extra.

Esta da foto embaixo, complementada por alface romana de onde? de onde? da Califórnia, claro, tinha tahini por baixo, o purê de cenoura do jantar, queijo feta e sementes de abóbora. Esse purê de cenoura foi uma revelação: sempre via nas competições de culinária o pessoal se dando mal por conta de purê de cenoura ralo e granuloso, e confesso que fiquei com medo de tentar.

Mas eu havia comprado um belo Artic Char em promoção (já deu pra notar que só compro no mercado orgânico aquilo que está em promoção, certo?), um peixe de águas geladas, que parece salmão, cozinha-se como salmão, mas é bem mais suave e menos fishy. Sem saber o que fazer com ele, acabei me guiando pelos legumes que tinha: adivinha! cenoura e beterraba. A receita da Suzanne Goin, do livro Sunday Suppers at Lucques, que quase vendi um punhado de vezes mas acabei trazendo comigo, grelhava um filé de Snapper (Vermelho) e servia com beterrabas ao gengibre e purê de cenoura. E eu tinha TODOS os ingredientes na despensa, até a harissa para o peixe. Quão raro é isso?

Tanto as beterrabas quando o purê ficam sensacionais. O prato todo, com o peixe, ficou absolutamente delicioso... não fosse o fato de ter ficado todo meio rosa-cor-de-laranja. A única coisa que esqueci de comprar foi a rúcula, e ela traria verde e contraste ao prato. Com o peixe de carne branca deve ficar lindo. Mas não havia luz que fizesse o meu prato ficar apetitoso na foto. Então desisti. Mas deixo aqui a receita. O peixe fica picante, as beterrabas refrescantes e o purê de cenoura adocicado e incrivelmente cremoso, graças  a uma dose cavalar de azeite para emulsionar tudo. Mas como eu sou a primeira a colocar meio tablete de manteiga dentro do purê de batatas, não me senti nem um pouco incomodada. Bota todo o azeite sem dó. É uma delícia.



PEIXE APIMENTADO, COM BETERRABAS AO GENGIBRE E PURÊ DE CENOURA
(adaptado do livro Sunday Suppers at Lucques, de Suzzane Goin)
rendimento: 6 pessoas

Ingredientes:
  • 6 filés de peixe, com pele, de cerca de 150-180g cada
  • harissa (ela pede 3/4 xic de pasta de harissa feita em casa, mas usei o tempero seco, e foi no olho, tipo pitadas, apenas o suficiente para temperar, para não matar de pimenta a boca dos meus filhos.)
  • cerca de 10 beterrabas pequeninas
  • azeite de oliva
  • 2 colh. (sopa) cebola picada bem fininha
  • 1/2 (chá) alho picado bem fininho
  • 2 colh. (chá) gengibre ralado
  • 1/4 xic hortelã fresca picada
  • 1/4 xic coentro fresco picado
  • 2 colh (chá) suco de limão
  •  1 maço pequeno de rúcula
  • 1/2 limão
  • sal e pimenta
(purê de cenoura)
  • 900g cenoura, descascada e cortada em rodelas de 0,5cm
  • Um punhado cheio de talos de coentro + 1/4 xic. das folhas
  • 3/4 xic azeite de oliva
  • 1 xic. cebola picada
  • sal e pimenta

Preparo:
  1. Esfregue a harissa e um fio de azeite nos filés de peixe, cubra e refrigere por pelo menos 4 horas. 

(beterrabas)
  1. Pré-aqueça o forno a 205oC. Corte os talos das beterrabas, deixando 1cm deles ainda agarrados às beterrabas (guarde as folhas para outra receita, se houver). Limpe-as bem, misture a 2 colh,(sopa) de azeite  e 1 colh (chá) de sal. Coloque numa assadeira com um splash de água no fundo, cubra com papel alumínio e asse por 40 minutos, até que estejam macias. Retire do forno, deixe esfriar, arranque as peles, e corte as beterrabas em cunhas. 
  2. Numa tigela, misture a cebola, alho, gengibre, coentro, hortelã, e 6 colh. (sopa) de azeite. Junte as beterrabas, 1/4 colh (chá) de sal, um pouco de pimenta do reino e suco de limão. Experimente e ajuste o tempero.

(Purê de cenoura)
  1. Cozinhe as cenouras e os talos de coentro no vapor por 20 minutos, até que fiquem macias.
  2. Aqueça em fogo alto uma panela de fundo grosso, despeje 1/2 xic. do azeite e então a cebola. Tempere com 2 colh. (chá) sal e 1/4 colh (cha) de pimenta do reino. Cozinhe por 5 minutos, até que a cebola fique translúcida. 
  3. Junte as cenouras, as folhas de coentro, e cozinhe por mais uns 8 minutos, mexendo e raspando o fundo com uma colher de pau, até que as cenouras estejam ligeiramente caramelizadas, com cuidado para não queimar. 
  4. Passe a mistura pelo mixer ou processador até que fique lisa. Com a máquina ligada, despeje devagar o azeite restante, e processe até que esteja incorporado e o purê esteja bem homogêneo.

(peixe)
  1. Aqueça bem uma frigideira grande em fogo alto. Tempere o peixe com sal e pimenta (não muito, pois a harissa já tem os dois) e coloque na frigideira, pele para baixo, cozinhando por 3-4 minutos, sem mexer.Se estiver grudando, é porque a pele ainda não est[a crocante o bastante. Vire o peixe e cozinhe por mais alguns minutos, Não passe do ponto.
  2. Coloque uma colher do purê no centro do prato. Espalhe um pouco de rúcula por cima. Coloque o filé de peixe em cima. Tempere-o com suco de limão e uma colherada das beterrabas ao gengibre por cima e em volta do peixe. 

E então foi chegando o Natal. Enquanto meus pais estavam aqui, eles conseguiram participar da compra da árvore e da colocação dos enfeites. E assim que eles foram embora, o calor se foi e começou a nevar outra vez. Uma neve forte e intensa, que deixou tudo muito branco por muito tempo, e as crianças ficaram empolgadas em ter um Natal com neve. 

De repente, os biscoitos, os pães, os assados, as frutas secas, tudo fez sentido. Ao olhar do lado de fora da janela e perceber que no meio daquele mundo monocromático e dormente, apenas o verde dos pinheiros, evergreens, surgia, você entende o por que de trazer para dentro de casa um símbolo de que nem tudo morreu e aquele não é o fim. São as únicas árvores com folhas, onde os pássaros encontram proteção, e é só aproximar-se de um deles para ouvi-los cantar, em bandos imensos. Fiquei pensando nas crenças pagãs, no mundo antigo lidando com o inverno. 

Na vida moderna, no entanto, o Natal é igual em qualquer lugar do mundo. As decorações, o consumo desenfreado, o frenesi dos presentes, das festas de fim de ano de empresa, os amigos secretos, as promoções nas lojas, os papais-noéis fajutos de shopping centers, o lanche comunitário da pré-escola, a apresentação de música do primeiro ano, o trânsito louco de feriado, a pressão psicológica para a produção de momentos perfeitos e memoráveis.

Verdade verdadeira, eu estava exausta demais para aproveitar qualquer coisa do Natal.

Quando meus pais foram embora, me senti na obrigação de voltar à rotina e aos meus rituais, para não sentir tanto o baque da saudade. Meus pequenos rituais importantes que me trazem conforto. Como voltar da escola de manhã e tomar meu Chai e meu iogurte com frutas antes de começar qualquer outra atividade.

Maçã ralada, pedaços de pera, iogurte, linhaça, sementes de abóbora e mel.

Quando eu achava que retomaria a rotina normal da casa para me preparar para o fim do ano, veio o frio e a neve de uma vez por todas, de verdade agora, trazendo toda uma série de novidades com as quais me adaptar. 

  1. Não, não dá para confiar nas crianças. Elas saem sem luvas, sem fleece, botam tênis no lugar da bota de neve e regata embaixo do casaco. Tem que ficar monitorando cada peça de roupa que eles vestem. E tem um montão de peças. E tem que ver se eles voltaram da escola com todas elas. Thomas perdeu 2 gorros e um par de luvas na primeira semana (e enquanto escrevo isso descubro que mais um par de luvas se foi para o buraco negro do lost and found da escola).
  2. Neve tem diferentes texturas. Quando acaba de cair, é fofa, faz barulho de polvilho quando pisada, e te dá a sensação de andar em areia branquinha de praia. Depois de um tempo já acomodada, ela fica com cara de açúcar de confeiteiro, e conforme vai compactando, vai virando uma enorme pedra de gelo que escorrega pra chuchu. Conforme ela derrete nas calçadas por causa do sal, ela pode congelar de novo numa película de gelo que é como azulejo de cozinha ensaboado, ou formar uma lama com cara de raspadinha derretendo, que é bem como andar na lama mesmo: seu pé gira e desliza para fora a cada pisada. Ou seja, depois de um dia andando nisso tudo, você descobre dor em músculos que não sabia que tinha.
  3. Frio cansa. Seu corpo gasta muita energia para te manter quente. Quando você tem que esperar 30 minutos em pé do lado de fora entre a saída da escola da filha mais nova e a do filho mais velho, acrescido do tempo que eles querem gastar brincando na neve depois da aula, não há pilha que dure.
  4. Tudo demora o dobro quando tem neve. Seja porque você acaba andando mais devagar, seja porque você tem que ficar berrando pros seus filhos pararem de brincar com a neve ou eles chegarão atrasados à escola.
  5. Criança parece meio daltônica pra neve: você fala pra ela brincar só com a neve branquinha do parque, mas ela insiste em se jogar na neve cinzenta da beira da calçada, no slush preto do asfalto, e até na neve amarela, que você deve bem saber do que se trata. É virar os olhos e tá lá seu filho lambendo o poste gelado. É uma atrás da outra.
  6. Fim de ano é fim de ano em qualquer lugar do mundo, e se no Brasil eu já não conseguia mais relaxar para o Natal com as crianças de férias, verão, aquilo tudo, aqui que as aulas vão até dia 23 de dezembro, com evento na escola à noite, um milhão de reuniões com professores, meus dois dias de voluntariado na escola, lição de casa, cachorro, lanche comunitário de um, passeio de outro, preparação para receber a sogra, tudo regado a neve e slush e criançada tão cansada e histérica quanto você... simplesmente não sobrou muito espírito natalino dentro de mim.
Eu só queria férias.

Então não me coloquei muita pressão a respeito das comidas do Natal. Assim como ano passado, fui fazendo conforme dava vontade. Então saíram os Spekulatius de sempre na primeira semana de dezembro, como todo ano. As crianças se divertiram tanto cortando os biscoitos que decidi que só faria cut-out cookies. Eles pediram Gingerbread Men, então fui atrás de boas referências de receita: e a Deb, do Smitten Kitchen, recomendava muito bem os da Martha Stewart. E, de fato, a recomendação vale. Um dos MELHORES GINGERBREAD MEN que já fiz e comi, senão o melhor. Também fiquei com receio da quantidade astronômica de especiarias, mas a verdade é que elas tornam o biscoito realmente especial. Quando, na semana seguinte, fiz o Gingerbread finlandês da Tessa Kiros, eles empalideceram em comparação aos da Martha. Mesmo já tendo passado o Natal, recomendo. Você sempre pode fazer como eu fazia: assava gingerbread em formatos não-natalinos em julho e agosto, no inverno brasileiro, quando as especiarias faziam mais sentido para o meu paladar.
 

Dona Martha, na verdade, tem sido grande companheira nesse inverno. A única revista de culinária que guardei e trouxe durante todo esse processo de mudança foi uma Food Everyday - Holiday Baking edition, da titia Martha. Ao contrário de muitos livros de cozinha que eu tive na vida, eu realmente queria cozinhar TUDO daquela mini revistinha, e tudo o que eu já fizera ficara muito bom. Dele preparei Chocolate Shortbreads no dia do evento de Natal da escola. Tendo horário para sair, as crianças pedindo para experimentar o biscoito ainda esfriando na grade, não tive dúvida: coloquei a forma quente na varanda e contei cinco minutos. Estava -12oC lá fora, mais frio que meu freezer, e rapidinho os biscoitos ficaram frios para serem cortados. Só fiquei de olho para não ser assaltada por uma gaivota passante.

Também preparei o Applesauce Cake da revista. Com aquela infinidade de maçãs consumidas, eu tinha miolos de fruta para um galão de geleia. Mas nunca tendo preparado tanta geleia de uma vez, ela não pegou o ponto, e ficou meio molengona. Usei as duas xícaras restantes da geleia molinha no lugar do applesauce e obtive um bolo muito muito fofo e gostoso. Lembrando que Applesauce nada mais é que purê de maçã.



Outro bolo muito, muito, MUITO bom foi o Fresh Ginger Cake. Foi difícil achar um melado saboroso como o do Brasil, pois os daqui quase todos têm gosto de queimado e textura de graxa. Esse é um bolo que não vejo a hora de fazer de novo. Ele é muito fácil e deveria ter crescido lindamente, não fosse o fato de eu ter ficado no papo com a minha irmã pelo Skype e o forno ter aquecido além da conta. Mesmo afundando, o bolo ficou fantástico. :D

Para a ceia a ideia era manter simples e sazonal, e Allex teve a ideia de irmos ao St. Lawrence Market, o "Mercadão" de Toronto, e comprar uma carne já preparada de um dos lindos açougues por lá. Compramos Peameal Bacon feito com açúcar mascavo e um outro, cru, para tentarmos fazer outro dia. Esse segundo, que achei que ficou mais gostoso, foi regado com uma calda de Maple Syrup, mostarda de Dijon  e alecrim, um glaze que deve ficar delicioso no tender brasileiro. Batatas e rutabagas assadas para acompanhar e couves de bruxelas braseadas que, estavam tão fresquinhas que passaram do ponto mais rápido do que a receita previa. Ficaram muito moles, mas ficaram bem gostosas.

Coisas gostosas compradas no St Lawrence Market
Peameal bacon, brussel sprouts, roasted potatoes and rutabagas amd apple sauce.
Depois que o natal passou, preparei o panforte da Alice Medrich, empolgada por finalmente ter um forno que assa as coisas a temperaturas menores que 180oC, ao contrário do meu forno no Brasil. Também dei pulinhos de alegria por uma coisa muito besta: o papel-manteiga daqui DE FATO não gruda. Não precisei correr atrás de papel-arroz para forra a forma do panforte. Segui a receita, usando o papel-manteiga untado, e ele desgrudou sem a menor dificuldade. Às vezes não sei como posso ser uma pessoa tão complicada, se coisas tão simples me deixam tão feliz. Vai entender.

O tempo todo em que minha sogra esteve aqui a temperatura despencou. Quando chegou a -20oC, ficamos cautelosos, mas o frio (e meu marido ansioso em aproveitar as férias) não nos impediu de sair. Fomos ver o lago congelado, fazer trilha com snow shoes, descer morros de trenó e andar no parque. Quando chegou a -30oC, no entanto... Alguém tinha que passear o cachorro. E lá fui eu, apenas olhinhos de fora. Não precisa sequer ventar. O ar é tão gelado que sua primeira respiração do lado de fora faz seu nariz congelar e grudar por dentro. Você olha para aquele céu azul sem nuvem nenhuma e não acredita que está tão frio. Tão frio que as nuvens não se formam. Qualquer pele exposta simplesmente dói. Enrolei meu cachecol em volta do rosto até cobrir o nariz, puxei o zíper do casaco até o alto (ele cobre minha boca) e acomodei o capuz com peles o mais por cima da testa que pude. E saí. Lá fora, não se via ninguém que não PRECISASSE estar lá. No parque, meia dúzia de cães e seus donos passeavam, os cães felizes e contentes, afundando na neve e brincando com galhos, os donos encolhidos, mãos segurando copos fumegantes de café em canecas térmicas. Nos parabenizávamos com o olhar por sermos tão bravos e intrépidos, enfrentando o frio por nossos amigos peludos. O frio é assim: parou, congelou. Enquanto Gnocchi e eu nos movêssemos, estávamos bem. Andávamos, pés afundando na neve, silêncio absoluto à nossa volta, nenhum animal selvagem, nenhum passarinho à vista. Depois de uns dez minutos caminhando, eu finalmente sentia minhas mãos quentes outra vez. Pois roupa térmica tem disso: ela não esquenta, ela só mantém o calor. Se seu corpo está frio, ele continuará frio. Precisei começar a gerar calor no corpo para que as luvas cumprissem seu papel e mantivessem aquele calor ali dentro. Enquanto isso, minha respiração quente condensava na lã do cachecol e nos pelos do capuz, e imediatamente congelava, criando minúsculas estalactites penduradas em frente aos meus olhos.


Foi uma experiência e tanto.

E quando, no dia seguinte à partida de minha sogra, a temperatura voltou a ZERO graus, parecia verão. Sensação gostosa no rosto, cabeça sem gorro, casaco meio aberto, calça jeans sem calça térmica por baixo. Referência é tudo na vida. Aquele dia de sensação de -17oC que descrevi em outro post, do vento como apanhar com um bacalhau congelado? Nada. Tranquilo. Sossegado. Passou. Nos próximos dias a temperatura deve despencar de novo, mas agora já sei no que estou me metendo.



Há um mês atrás, tive uma conversa rápida de porta de escola com a mãe croata de uma colega da Laura. E ela me disse: só sofre no inverno quem fica dentro de casa. E isso é verdade. Não se pode ter medo do frio. Conheço gente que ficou o recesso de natal inteirinho trancafiado dentro de casa, com medo daqueles -20oC. Você tem que dar a cara a bater para aquele bacalhau congelado, se agasalhar DIREITO, com ROUPAS APROPRIADAS, e ir brincar na neve. Porque uma das coisas mais legais daqui, é que adulto tem permissão para brincar. A gente o morro de trenó com filho ou sem filho, faz boneco de neve, se mete no meio do mato, cutuca o gelo do lago com galho, faz castelo de areia na praia cheia de neve. Depois que você pega a manha da parte chata do inverno, que é o slush, que é o cansaço, que é o tira-e-põe infinito de bota e casaco e a sujeirada que invade invariavelmente sua casa - e depois que dá uma relaxada com a porcariada que as crianças fazem com neve suja e poça preta - o inverno é tão divertido quanto o verão. Só requer cuidados específicos.

No último dia com neve, antes da temperatura subir e o gelo começar a derreter, fui buscar as crianças com o trenó debaixo do braço e uma caneca térmica cheia de Chai fumegante. Laura brincou com os colegas nos morrinhos da escola enquanto esperávamos Thomas, e assim que ele saiu, fomos ao parque mais próximo para brincar. Fazia 0 graus. Começou a chover leve. Ficamos ainda uma hora debaixo da chuva, rolando blocos imensos de gelo morro abaixo. Havia mais duas ou três famílias fazendo o mesmo. Vendo a pimpolhada se divertir enquanto eu me aquecia sob a chuva com minha bebida quentinha, senti que havia passado no teste de admissão canadense.

No dia seguinte, o que encontrei na escola foi o que parecia um pátio imenso coberto por raspadinha de limão derretida. :P Esperemos pela próxima neve, que eu e minha caneca térmica estamos prontas.


 




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