sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Um aniversário simples mas não um simples aniversário + coxas de frango e um bolo de anos atrás

Princesa viking na neve brincando com boneca.


Agora que a fase das visitas passou, a vida voltou ao normal. Bem, até o clima voltou ao normal, mandando embora aquela onda de -30oC e trazendo de volta os agradáveis -10oC. Houve até uma semana inteira de temperaturas positivas, vejam só! Lembro da vida na Aldeia da Serrra, tilintando de frio no vento ao passear o cachorro, toda encapuzada, três blusas, gorro, cachecol, maldizendo aqueles 8oC. Ha. Ha. Ha. Vale dizer que depois de passar pelos -30oC, Laura e eu nos vimos andando no parque, cercadas de neve derretendo, sem gorro, sem luvas, sem cachecol, apenas camiseta e o casaco aberto para refrescar. Fazia 3oC nesse dia. TRÊS. O ar é totalmente diferente no seu rosto, quando a temperatura é positiva, mesmo que seja apenas um grau acima de zero. Referências. Ah, referências. Comecei a entender bem aquelas fotografias engraçadas de gringo de short em dia frio. É sempre muito interessente perceber como nosso corpo se adapta rápido.


Passou Natal, passou Reveillon, sogra foi embora, e rapidamente me dei conta de que o próximo grande evento da família estava logo ali: o aniversário da Laura.

Quando ela me perguntou se os amigos do Brasil viriam visitá-la no aniversário, confesso que meu coração afundou. É sempre difícil lidar com essas perguntas de forma sincera mas leve. Difícil explicar que não é simples para os amigos visitarem, que custa caro, e que... bem... os pais dos amigos precisam de fato quererem vir aqui. E, vamos combinar, amizade de jardim de infância só dura se as crianças continuam estudando juntos. Essa parte é bem, bem difícil. A saudade que tenho dos meus amigos é dura. As saudades que as crianças têm dos seus amigos me faz sofrer bem mais.
Minha pequena lenhadora num dia de -10oC.
Assim que eu expliquei a ela que não, ninguém viria do Brasil para o seu aniversário, ela imediatamente supôs que faríamos uma grande festa e chamaríamos seus trinta colegas de classe.

Respira no saquinho.

"Não, querida, os pais e mães ainda não se conhecem direito, ainda é seu primeiro ano aqui, a gente não sai fazendo festa grande assim logo de cara. Precisa conhecer melhor os amiguinhos antes de chamar em casa. Além disso, o apartamento é pequeno, não tem espaço para a festa grande."
"Tem sim! Ó, cabe ali do lado do sofá todo mundo!"
"Cabe não, Laura."
"Tá. E o que é que a gente faz então, mamãe? Que é que faz no aniversário aqui no Canadá?"
"A gente canta parabéns na escola e manda as lembrancinhas. Você me ajuda a fazer os gift bags?"
 "SIIIIIIIIIIIIIIIMMMM!!!!!"

Pronto, os olhinhos dela estavam iluminados de novo.

Quando Thomas nasceu, prometi a mim mesma que não me meteria nessa de festão de criança. Havia comparecido a suficientes aniversários de 1 ano em buffet para saber que isso era roubada. Eu não faria festa até a criança de fato pedir por uma, e quando fizesse seria simples e caseiro como foram os meus na minha infância, e não daria presentes aos meus filhos até eles terem idade para saberem o que é um aniversário.

Isso não funcionou muito bem. Nada te faz morder mais a língua do que maternidade.

Logo no primeiro aniversário do Thomas, eu despiroquei. Nós não faríamos nada, nada mesmo, só um bolinho para nós três. Mas enquanto eu preparava o bolo, tive um siricotico, e comecei a achar que eu era a pior mãe do mundo, que todo mundo se importava com festa de 1 ano menos eu, que algo deveria estar errado comigo. De uma hora para a outra chamamos umas vinte pessoas que podiam vir, passei 6 horas enfurnada na cozinha, e fizemos uma festa meio esquisita e improvisada, que claro, não aplacou essa minha sensação de ser a pior mãe do mundo. Nenhum dos nossos amigos tinha filho ainda, então Thomas era o único bebê ali, e meia hora depois dos convidados chegarem, ele teve de se retirar para sua soneca habitual.

ISSO NÃO FAZ SENTIDO NENHUM.

No ano seguinte, as coisas foram mais tranquilas. Thomas fez dois anos no início de seu primeiro ano de escola, e me lembro de ter apenas enviado um bolinho de chocolate para a escola e foi isso aí. Paz de espírito, criança feliz comendo chocolate sem saber exatamente por quê. Achei que tinha voltado ao meu eu habitual.

Mas não.

Começaram a aparecer os convites para as festinhas dos colegas. As "festinhas de criança" eram verdadeiros festões, bailes de debutante, principalmente quando o aniversário era de menina. Entretenimento, DJ, barracas de comida, garçons, pula-pula inflável do tamanho da minha casa, pais estressados reservando data de aniversário com todo mundo 6 meses antes, lembrancinhas mais caras do que o presente que meu filho levava.

Depois de meia dúzia destas festas, Thomas começou a criar sérias expectativas a respeito de seu próprio aniversário. Ele mal falava direito, mas já sabia pedir uma festa de aniversário com dragões e dinossauros e todos os seus amigos. >_< Então, aos três anos, Thomas ganhou sua primeira festa com os coleguinhas da sala, aquela fatídica em que ele teve estomatite e chorou porque não conseguia comer brigadeiro. Aquilo deveria ter sido interpretado como um sinal para largar mão e voltar ao meu plano original. Mas é impressionante como o ambiente mexe conosco, desequilibra, tira o foco. Eu já não tinha mais firmeza para insistir no que eu achava que era certo, porque já não tinha mais certeza de coisa nenhuma, desprovida de qualquer outra referência em que me apoiar. Depois de todo aquele frio de -30oC, eu estava achando que 3oC era verão. Eu era praticamente a única mãe que fazia festa para menos de 60 convidados com bolo feito em casa, então pensar em algo ainda menor, um bolo só com os avós, parecia impensável, uma enorme injustiça com a coitada da criança.

Laura era outro tipo de abacaxi: no Brasil, ela jamais teria o bolinho na escola, pois seu aniversário é em Janeiro. Então veio outro jogo de culpa, aquele comum nas mães, de tentar resolver problema antes de ele de fato ter aparecido. Na minha cabeça, Laura se perguntaria por que o irmão teve festa e ela não teve, por que tinha foto de um monte de gente e um monte de comida no primeiro ano dele, e no dela só tinha pai e mãe e um bolinho. Loucura total. E pronto, Laura teve festa no primeiro ano, com um dos melhores bolos que já fiz, bolo branco classicão de 1 tigela da Alice Medrich (aquele de fazer no processador) e a cobertura adaptada de mascarpone do bolo de Tiramisú da Dorie Greenspan do livro Baking From My Home To Yours, que eu nunca postei aqui porque estava meio que de férias do blog na época.
Lembra dessa bochecha???? Muito amor. Olha esse bolo. Nham!
O BOLO DE TIRAMISÚ DO PRIMEIRO ANO DA LAURA
Rendimento: esse bolo da foto, alimentou um monte de gente e o povo lambeu o prato.

Ingredientes: 
(bolos)
  • 2  xic. farinha de trigo
  • 2 1/2 colh. (chá) fermento
  • 6 ovos
  • 1 3/4 xic. açúcar
  • 1 colh (sopa) extrato de baunilha
  • 1/2 colh (chá) sal
  • 6 colh (sopa) manteiga sem sal, derretida
  • 2/3 xic. creme de leite fresco, em temperatura ambiente
(xarope de café)
  • 1 xicarazinha normal de café espresso ou café bem forte (tipo 60ml de café, e não uma xícara-medida)
  • 1/2 xic. água 
  • 1/3 xic. açúcar
  • 1 colh (sopa) de Marsala, outro vinho doce fortificado ou conhaque
(cobertura)
  • 1 pote de marcarpone (uns 250g) (qualquer marca que tenha apenas creme de leite e ácido cítrico na composição, sem gomas ou coisas estranhas)
  • 3/4 xic. creme de leite
  • 1/2 xic. açúcar de confeiteiro
  • 150g chocolate amargo picado
  • cacau para polvilhar

Preparo:
(bolos)
  1. Coloque a grade na parte inferior do forno e pré-aqueça a 180oC.Unte e enfarinhe duras formas redondas de 20cm. Forre o fundo com papel-manteiga. 
  2. No processador, coloque o açúcar, farinha, sal e fermento e pulse para misturar. Junte o creme e a manteiga epulse rapidamente, 8-10 vezes, até que os ingredientes estejam misturados.
  3. Junte os ovos e a baunilha de uma vez e pulse mais 5-6 vezes. Raspe as laterais da tigela de processador com uma espátula, tomando cuidado com a lâmina, e então pulse mais 5-6 vezes, até estar tudo homogêneo, não mais que isso.
  4. Divida a massa entre as formas, espalhando uniformemente, e asse por 30-35 minutos, até um palito inserido no meio sair limpo. Coloque o bolo para esfriar numa grade por 10 minutos antes de desenformar e retirar o papel de baixo do bolo. Deixe que esfrie completamente antes de embrulhar bem os bolos em filme plástico individualmente e levar à geladeira. É mais fácil decorar o bolo depois de um dia na geladeira.
(xarope)
  1. Coloque a água e o açúcar numa panela e aqueça apenas até que todo o o açúcar se dissolva e o líquido fique transparente outra vez. Desligue, junte o café e o Marsala. Deixe esfriar.
(cobertura)
  1. Na hora de decorar o bolo, numa tigela, misture o mascarpone e o açúcar até que fique homogêneo e bem cremoso. Na batedeira, bata o creme de leite em ponto de chantilly. Junte algumas colheradas ao mascarpone, misturando delicadamente com uma espátula para deixar a mistura mais leve e então incorpore o restante do creme batido, como você faria com claras em neve. Leve à geladeira até a hora de usar. 
  2. Desembrulhe um dos bolos, e, usando um pincel, pincele metade do xarope por cima. Cubra com algumas colheradas do creme de mascarpone, polvilhe com 1/3 do chocolate picado, e cubra com a outro bolo. Pincele com a outra metade do xarope. 
  3. Passe uma camada fina da cobertura de mascarpone por todo o bolo e leve à geladeira por umas duas horas. 
  4. Retire o bolo da geladeira e termine de espalhar toda a cobertura uniformemente. Polvilhe com cacau a parte de cima e o restante do chocolate picado.

E assim foi indo, ano após ano, eu tentando simplificar as festas, trocando pastelzinho de palmito por biscoito de polvilho e cupcake por fruta, achando que isso ia resolver, e mesmo assim enfiando o pé na jaca e me dando mal todo ano.

Até o ano passado.

Já sabíamos que viríamos para o Canadá. Não tínhamos data certa, mas viríamos. E enfiei na minha cabeça que, aquele sendo o último aniversário com os amigos do Brasil, eu precisava fazer uma festa. Afinal, Thomas tivera festa de 4 anos, era justo que ela tivesse também. De novo, mãe resolvendo problema que ainda não existe. Por que é que a gente se complica tanto??

Chama todos os amiguinhos da sala. Cada amiguinho da sala vem com pai, mãe, irmão, e alguns, até com primo e avó. MESMO. O que poderia ser uma festinha para vinte crianças, vira uma festa para sessenta pessoas. Eu tento manter a coisa simples, mas claro que me atrapalho com o excesso de expectativa da Laura. Gasto mais dinheiro do que posso, gasto mais tempo do que gostaria, cozinho mais do que pretendia. No dia da festa, cai uma tempestade, destas de escurecer o céu. Ficamos todos enfurnados dentro de casa. É um caos. Comida e suco por todos os lados, brinquedos dos meus filhos espalhados por todo canto, gente que eu de verdade não conheço abrindo minha geladeira para procurar mais cerveja, criança sendo extremamente mal educada comigo quando peço para não pular no sofá e pais vendo isso acontecer  e não fazendo nada. Na época não quis comentar nada disso aqui no blog, e só coloquei as fotinhos fofas da mesa. Mas de verdade, foi um trauma.

Canta-se parabéns. Minha família se despede. Meus amigos se despedem. Mas há todo um grupo ali que entra na cozinha, pega de volta a cerveja e os sanduíches que eu já havia tirado da mesa, e continua sua festinha particular na varanda, ignorando a anfitriã com o saco de lixo limpando a casa. Detalhe: já se haviam passado 2 horas do horário de término da festa avisado no convite. As mesmas crianças mal educadas brincam de virar copo com resto de suco, eu grito com elas e ninguém liga. Ninguém dá bronca.

Quando finalmente consigo pôr fim àquilo e ter minha casa de volta (ou o que sobrou dela), pergunto à Laura se ela gostou da festa.

"Não. A Celine não estava aqui."

Meu mundo caiu. A melhor amiga ficara presa na estrada por causa da tempestade e não pudera vir. Eu passara por tudo aquilo, gastara tempo e dinheiro, e no fim das contas, eu só precisava ter chamado a melhor amiga.

Quando chegou o aniversário do Thomas, usei aquilo de exemplo. Chamei os três melhores amigos para passarem o dia brincando com ele. E foi isso. Fiz macarrão para todo mundo, comemos brigadeiro, e mandei um bolo para a escola. Thomas adorou. Foi divertido para todo mundo, INCLUSIVE PARA MIM.

Vir para cá foi de certa forma uma libertação dos aniversários escalafobéticos. Por conta de alergias alimentares, não se pode mandar bolo de aniversário para a escola. Mas pode-se mandar lembrancinhas. Você vai numa loja de 1,99, enche a sacola de cacareco, do tipo canetinha colorida, balão, borrachinha de bichinho, adesivo e língua de sogra, no melhor estilo aniversário de antigamente. Gasta-se muito pouco. Bota num saquinho colorido (tem toda uma sessão de Gift Bags nas lojas), e manda a criança para a escola para distribuir aquilo para os amigos.

Só isso já acho positivo: é aniversário da criança, mas é ela que dá os presentinhos, ao invés de ficar esperando receber dezenas de brinquedos e tralhas.

Laura AMOU separar todos os cacarecos e arrumar nos saquinhos e foi para a escola toda orgulhosa. Depois que ela entendeu e aceitou que seríamos só nós quatro a cantar parabéns, ela olhou bem para mim e disse:"tá bom; mas eu quero um bolo de chocolate e quero brigadeiro e balões, ok?"

Ok.



Preparei o mesmo bolo de chocolate que eu fizera no meu aniversário, mas numa forma quadrada, para ficar mais fácil cortar em pedaços para mandar de lanche depois. Usei confeitos coloridos, bem porcaria e cheios de corante, que eu sei que ela adora, fiz uma porção de brigadeiros e enchi com as forças restantes dos meus pulmões de quase quarenta anos pelo menos uns vinte balões - e descobri que os balões canadenses são mais espessos que os brasileiros, e, portanto, mais difíceis de encher. Afe. Povo aqui adora cartões de todos os tipos, então lhe comprei um cartão de unicórnio.

O dia do seu aniversário amanheceu lindo. Um céu azul limpíssimo, uma temperatura agradável, e neve fresca e fofinha para brincar. Um presentão, disse a ela. Assim que acordou, foi imediatamente brincar com seu presente de aniversário: ela pedira uma mala de madeira com tintas em tubos, pincéis e papel duro como o da mamãe, e achei lindo quando ela dividiu o presente com o irmão. Pintaram lindas pinturas até a hora de ir para a escola, e ela fez questão de carregar sozinha a sacola das lembrancinhas. Quando fui buscá-la, levei o trenó e meu canecão térmico cheio de chocolate quente, e ficamos no parque brincando na neve até quase escurecer. Voltamos para casa, Allex chegou cedo, e cantamos parabéns, jantamos bolo e brigadeiro e comemos pão de queijo de sobremesa. É, nessa ordem mesmo. ;)

 

Eu morrendo de dor na bunda por ter caído no gelo, e a brincadeira das crianças é justamente escorregar nele e cair.

Eles foram tomar banho, e deixei que brincassem na banheira até cansarem. Lemos um milhão de histórias antes de dormir, e quando fui dar um beijo de boa noite, Laura me deu um abraço e disse: "Eu adorei meu aniversário, mamãe!".

Foi a primeira vez que ela disse isso. E vir assim, expontaneamente, sem a chatice da mãe buscando aprovação, perguntando se o filho gostou da festa... foi a cereja do bolo, a certeza de que tudo o que a gente precisa é se ouvir mais, ser mais fiel a si mesmo e aos nossos princípios. E que criança quer mesmo é passar tempo com a gente, tempo de qualidade, quer mesmo é brincar e comer brigadeiro, e não precisa de DJ, nem garçom, nem princesa.

Fico contente que as coisas aqui pareçam, de modo geral, um pouco mais tranquilas. Claro, é uma cidade de imigrantes, e as referências de festas de crianças são muitas, e tem de tudo. Mas por ter de tudo, não tem problema ser só um bolinho. Ou só chamar a melhor amiga para um playdate. Ou só passar a tarde depois da escola brincando na neve e tomando chocolate quente.

Declaro aqui o fim dos aniversários escalafobéticos e o início da minha paz de espírito. Recomendo muito a todos. Faz bem.

Agora Laura anda toda orgulhosa. Cinco anos. Meia década. Uma mão cheia. Uma menina grande. Minha Madame Bochechas que agora perdeu a carinha de nenê completamente.
"Agora que eu tenho 5 anos eu já posso dormir na parte de cima do beliche, não é?"

Ai, ai, ai.

...............................

O resto do mês de janeiro foi bem comum. Tão comum e nos eixos, que consegui voltar a pintar. E consegui remontar meu portfólio para buscar trabalhos de ilustração em Toronto: www.anaelisagranziera.com
Ainda faltam alguns ajustes, mas vamos lá que está indo bem.

  
A vida culinária por aqui continua relativamente simplificada. Tray bakes são ainda o modo mais simples de montar uma refeição: assei batatas com alhos e cebolas (batatas previamente cozidas por 10 minutos, para ficarem bem macias por dentro e crocantes por fora), e quando ficaram prontas, juntei ervilhas congeladas por alguns minutinhos e quebrei alguns ovos para meio que fritarem / assarem no calor residual do forno. Polvilhei de salsinha e cebolinha, e voilà: almoço de sábado.
Em outro dia, fiz parecido com abóboras.  A butternut squash, com seu gostinho amanteigado, está virando uma de minhas abóboras favoritas. Assei cubos dela com cebolas, e quando prontas, juntei grão-de-bico cozido para aquecer e couve (black kale) rasgada por uns 5 minutinhos, para que cozinhasse e ficasse crocante nas beiradas. Servi com um molhinho simples de iogurte, tahini, azeite, limão, sal e pimenta-do-reino (as proporções são a gosto, e depende do quão amargo é o tahini e do quão azedo é o iogurte, mas é sempre mais iogurte e azeite do que tahini e limão).  As sobras, no dia seguinte, reaqueci e completei com um ovo frito.

Ainda que se possa comer a casca da abóbora, o pessoal aqui em casa não aprecia muito a característica coreácea que a casca adquire depois de assada. Então o que fiz foi guardar no freezer a casca da abóbora para usar num caldo, como sempre fizera. Mas quando vi que tinha já num saco separado casca de 2 abóboras inteiras, resolvi testar outra coisa: cozinhei as cascas em água fervendo até ficarem bem macias, escorri (guardando a água para uma sopa ou um pão) e bati no processador as cascas cozidas até obter um purê bem homogêneo. Surpresa! Você vê esse purê cor-de-laranja e nem acredita que eram as cascas, parece mesmo purê de polpa de abórora. Congelei porções de duas xícaras  (cascas de 2 butternut squash com alguma polpa agarrada a elas renderam 4 xícaras de purê). Uma dessas porções virou ESSE BOLO DELICIOSO DE ABÓBORA com cobertura de cream cheese e mel.
Tinha sobrado grão de bico cozido e molho de tahini. Então piquei a couve crua, misturei a fatias finas de beterraba amarela, sementes de romã, cebolinha e comi acompanhado de uma frittata simples de batata e salsinha. Salada de couve crua é ótima para levar de almoço, pois ela não murcha já temperada. E as sobras ficam ótimas com fatias de queijo dentro de um sanduíche tipo wrapp.
 Janeiro foi também o mês em que o Papai Noel trouxe de presente atrasado uma máquina de waffles. Os primeiros waffles canadenses foram intensamente comemorados por todos aqui em casa. E eu imediatamente lembrei das receitas de waffles do Good to The Grain, da Kim Boyce, e me arrependi de ter vendido o livro. Quem comprou, cuida bem, tá? Muito amor por esse livrinho.

Então, no fim de janeiro, fiquei sozinha pela primeira vez desde que cheguei em Toronto: Allex foi viajar a trabalho. Aproveitei para mimar as crianças, pois Thomas vive me pedindo para fazer coxa de frango para ele comer com a mão, e nunca faço porque Allex detesta carne de aves. Dei vazão à minha curiosidade culinária e preparei essas coxas com molho agridoce da Tessa Kiros. E como o que estava em promoção no mercado eram rutabagas e não batatas, o acompanhamento foi purê de rutabaga. Ligeiramente adocicado, como um purê de batatas com maçãs. Mas muito bom. O que sobrou dele no dia seguinte, misturei a ovos e farinha e fermento até conseguir consistência de massa de panqueca, e fiz panquequinhas de rutabaga no forno com salada de alface, e as crianças gostaram tanto, que levaram de almoço na escola.
  

COXAS E ASAS DE FRANGO COM MOLHO AGRIDOCE DE LARANJA E TOMATE
(Do livro Apples for Jam, da Tessa Kiros)
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:
  • 1 /2 xic. açúcar mascavo
  • 1 1/2 xic. suco de laranja fresco
  • 3/4 xic molho de tomate, de preferência caseiro (eu sempre tenho um pouco de molho pronto, sobra de quando faço pizza)
  • 1 1/2 colh (sopa) shoyu
  • 1 1/2 colh (sopa) molho inglês
  • 6 coxas de frango
  • 6 asas frango (fiz metade da receita do molho, omitindo as asas e usando só as coxas)

Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 160oC. Coloque o açúcar, suco de laranja, molho de tomate, shoyu e molho inglês numa panela, leve à fervura, mexendo para dissolver o açúcar. Cozinhe em fervura branda por 5 minutos.
  2. Espalhe as peças de frango numa assadeira ou refratário de bordas altas em que as peças caibam numa camada única, mas encostando umas nas outras. Despeje o molho por cima. 
  3. Asse por 2 horas a 2 horas e meia, regando o frango com o molho de vez em quando e virando as peças, até que p frango esteja crocante e pegajoso, e o molho esteja espesso e brilhante. Sirva quente ou em temperatura ambiente.
Lembrei-me também de outra receita de livro perdido, um cake salée da Dorie Greenspan, cuja receita eu achei que havia anotado, mas não. Catei na internet (RECEITA DA VERSAO DE QUEIJO ORIGINAL AQUI)e fiz novamente, trocando o parte de queijo por bacon douradinho e figos secos e servindo com uma salada de alface com vinaigrete de bacon: você doura os pedacinhos de bacon (uma fatia por pessoa), retira da panela, deixando a gordura lá, com fogo apagado, mistura o vinagre e a salsinha ali na panela mesmo e cobre as folhas com o molho quente e o bacon. Delícia. De novo, as sobras do cake salée foram enviadas de almoço para as crianças. 



Estou pegando o jeito de novo. :)

SE VOCÊ É UM PURISTA DA COMIDA JASPONESA, POR FAVOR PULE ESSE PARÁGRAFO - estou prestes a assassinar a culinária japonesa. ;) Mesmo.

Num dia em que comprei uma marca diferente de arroz e ele empapou além da salvação, ao invés de fazer bolinhos, catei nori no armário (pimpolhada adora levar pedaços de nori de lanche), espalhei o arroz grudento, temperei com vinagre de maçã e uma pitada de açúcar (não tinha Mirin), recheei com cenouras coloridas cortadas em palitos, versões vermelha e amarela, e escataplá: "hosomaki vegetariano". Ficou bem sushi de posto de gasolina, segundo Thomas, mas deu bem para o gasto e os dois pediram para que eu fizesse de novo e mandasse de almoço. Logo, sucesso.

Sushi de cenoura de posto de gasolina. ;)

Spaghetti com molho de tomate de ontem, manda DO BRASIL, cenoura colorida, queijo e passas cobertas de iogurte.
Toda a coisa do lanche da escola anda bem mais descomplicada, mas vou deixar isso para o post seguinte. Uma coisa que anda aparecendo mais aqui é pão de queijo, a mesma receita do aniversário da Laura, passada a mim por minha melhor amiga, que me dá uma saudade imensa lá do Brasil. Eu amo receita fácil de lembrar, e essa é uma delícia de fácil.

PÃO DE QUEIJO DA MARINA
Rende: um monte

Ingredientes:
  • 1 xic. leite
  • 1 xic. óleo
  • 1 xic. água
  • 4 xic. de polvilho, tudo doce ou misturado com o azedo (no caso, o pacote inteiro que consigo comprar aqui, de 567g, que é doce - ainda não achei polvilho azedo - para quem mora fora do Brasil, eu compro o Bob´s Red Mill Tapioca Flour (Tapioca Starch), que se encontra em qualquer supermercado e é puramente polvilho doce, apesar do nome)
  • 1 ovo
  • 1 "prato" de queijo ralado grosso

Preparo:
Na panela, junte o óleo, o leite, a água e um pouco de sal, que vai depender do quão salgado é o queijo que você está usando. Leve à fervura. Desligue e junte o polvilho, de uma vez, mexendo sempre até amornar. Eu prefiro fazer isso na batedeira planetária, claro, então deixo o polvilho esperando na tigela da batedeira e despejo o líquido fervendo em cima. Bato por vários minutos em velocidade bem baixa, pois o grude é forte. Se sua batedeira for dessas de plástico, melhor quebrar o braço de cansaço mexendo com colher do que quebrar a batedeira. Quando estiver morno, misture o ovo até que esteja bem incorporado. Então misture o queijo e pronto. Forme montinhos com a colher, ou bolinhas com a mão, se não estiver grudando, e asse em forma sem untar, a 180oC por pelo menos 20 minutos, dependendo do tamanho ou até que estejam dourados embaixo e com pontinhos dourados em cima. Assei metade da massa e o resto congelei numa assadeira, depois transferindo as bolinhas cruas para um saco. Do freezer pro forno, demoraram uns 5-8 minutos a mais para ficarem prontos.
 
Ah, o que mais aconteceu em Janeiro? Claro, a placa-mãe do computador queimou, eu caí no gelo em cima do meu celular, que quebrou, razão pela qual quase não teve post em janeiro, a máquina de lavar roupa morreu... eh, laiá. Ainda bem que já é Fevereiro.

Cozinhe isso também!

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