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quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Frio, mexilhões, minhas tralhas, minha cozinha

Mexilhões com tomate. Simples, bom e barato. Morri de orgulho da criançada pedindo mais e mais.
Numa manhã, tomávamos café à mesa sob a janela, e fomos surpreendidos por uma mancha escura no céu, sobrevoando o prédio e se afastando em direção ao sul. De todos os lados, vimos pontos negros surgindo de trás das árvores, dos prédios, das casas, e se unindo àquela massa de pássaros.

"Os gansos foram embora", eu disse, em mono tom, anestesiada por aquela visão.

Houve um momento de empolgação por aquela demonstração da natureza. Mas o que restou, conforme terminávamos nossas panquecas e sentíamos o café esfriando no fundo da xícara, foi uma estranha sensação de abandono. Como o silêncio antes da tempestade.

Alguns dias depois, os corvos chegaram.

Dois anos antes, em nossa visita a Vancouver, eu havia ficado impressionada pela quantidade de corvos na cidade, na mesma proporção de pombas em São Paulo, e surpreendi-me ao chegar a Toronto durante o fim do verão e não encontrar nenhum deles.

E ei-los aqui agora. Pretos, imensos, empoleirados sobre os semáforos, sobrevoando os parques de árvores desfolhadas, grasnando alto seu chamado metálico como o cinza das nuvens que acobertam o céu, buscando naqueles que não fugiram do inverno seu alimento.

Veio a primeira neve e um frio inesperadamente intenso, recorde de temperaturas baixas para esta época do ano, e lá fomos nós para a rua, empacotados como presentes, sentindo o vento cortante no rosto, em direção à escola.

-17oC.

Frio.


O vento. Havia ouvido falar do vento, mas você só entende quando o sente, como uma parede gelada a ser transposta. Ou, como brinquei com amigos, como se alguém espancasse você constantemente com um bacalhau da noruega congelado.

Thomas escorrega no chão gelado e aterrissa em cheio sobre o bumbum. Ainda bem, a calça de neve é fofinha e ninguém se machuca. Eu patino um pouco sobre a mistura de folhas e gelo na calçada perto da escola. Gnocchi tenta me puxar para o lado, derrapa e espatifa o focinho na neve.

Quando chegamos à escola, sou surpreendida pelo clima alegre. Não se vê ninguém amuado nos cantos, encolhido, tremelicando. Todas as crianças correm pelo pátio, fazem bolas de neve, divertem-se com a fina cobertura branca no playground. Olho para o lado, e Laura está deitada, rindo, agitando braços e pernas, fazendo um anjinho naquele um centímetro de neve que jaz sobre o chão de cimento.

Quando as crianças entram na escola quentinha, Gnocchi me puxa para o parque em frente, alucinado. Solto sua guia e ele corre feliz sobre a neve, calda em riste de alegria, latindo e me chamando para correr atrás dele; e ao fazer isso, aqueço um pouco mais meu corpo e me dou conta de que aquele cão, descalço e desagasalhado, está sequer tremendo sob a sensação térmica de -17oC. Evoluída sou eu, certo? que tenho de gastar os tubos em casacos e botas e luvas e camadas de blusas e calças térmicas para não congelar, e lá vai o Gnocchi, rolando no gelo contente. Ok, então.

Volto para casa e preparo um Chai bem quente, aquele chá preto com especiarias, leite e açúcar mascavo. Uma xícara imensa, que ganhei de presente de aniversário do marido junto de chás especiais, um kettle e o livro novo do Neil Gaiman.

O kettle é um apetrecho muito útil por aqui. É vantajoso ter algo que esquente água mais rápido e usando menos energia, uma vez que o fogão é elétrico. Além do kettle, repus também rapidamente meu processador de alimentos e minha batedeira. Como disse no post anterior, foi muito bonito isso de tentar viver uma vida simples com uma tigela e uma colher de pau, mas quando o assunto é facilitar minha vida para prover as refeições da família em casa, na escola e no trabalho, não tive dúvidas e corri atrás dos meus queridos eletrodomésticos.

No restante da cozinha entretanto, as coisas de mantiveram mais acomodadas no reino da simplicidade. Como agora tenho poucos livros de cozinha, foi possível sentar e folheá-los e ter uma noção mais exata do que eu de fato precisava. Basta de ter uma forma especial para uma receita só.

Compramos louça na Ikea apenas para o realmente necessário.

E para o baking em geral, apanhei numa loja:

  • UMA assadeira bem grande de bordas baixas, onde asso legumes e faço minha pizza retangular toda sexta-feira.
  • UMA forma retangular de 23x33x5cm, onde faço bolo, lasanha, barrinhas, o que for; ou seja, faz as vezes de travessa também.
  • DUAS formas de pão de 23x13x8cm, que fazem pão de forma grande o bastante para bons sanduíches.
  • DUAS formas de bolo inglês de 22x10x8cm, porque quase todas as receitas de bolo inglês que tenho fazem dois bolos, e congelar um para outro dia é sempre esperto.
  • UMA forma redonda de aro com mola de 23cm, para bolos e cheesecakes.
  • UMA forma de 22x5cm para bolos em geral (dava para usar a de mola para tudo, mas bolos de massas muito líquidas correm o risco de vazarem).
  • UMA forma de muffins com 12 cavidades.
  • UM refratário de vidro quadrado de 20cm, para brownies e qualquer outra coisa, na verdade.
  • UM prato refratário de vidro para tortas de 23cm, que pretendo usar para quiches também.
  • E a forma de furo no meio, com capacidade para 12 xícaras, velha, riscada e amassada, roubada da minha mãe; essa forma que fez todos os bolos de cenoura da minha infância.


Também me arranjei um jogo de 8 tigelas de vidro refratário que se encaixam uma na outra, economizando espaço no armário: a maior sendo perfeita para fermentar receita dupla de pão, e a menorzinha, sinceramente... não imagino ela servindo para nada além de separar algum ingrediente delicado em pequena quantidade - é tão pequena, na verdade, que virou piada aqui em casa, a mini-mini-mini-mini-mini-tigelinha. Mas todas as outras entre esses extremos têm sido diariamente usadas para misturar ingredientes, separar ovos, derreter manteiga, ou simplesmente guardar restos na geladeira.

Comprei-me aqui um raspador de massa, colheres e xícaras medidoras, uma jarra de vidro medidora, duas espátulas de silicone, um descascador de legumes, e um único fouet, pois meu antigo ficou com minha mãe. Mas trouxe duas colheres de pau, as únicas que sobraram da minha coleção: uma pequena, presente de minha cunhada, e uma grande, boa para mexer polenta e panelões cheios. Fora isso, na viagem para apanhar o Gnocchi, trouxe na mala minha máquina de macarrão, presente de minha mãe quando casei, a máquina alemã de Spaetzle, presente da minha sogra, e meu passa-verdura, que uso para fazer desde geleia de maçã até purê de batatas.

Só que de todos os utensílios de cozinha comprados aqui, o que mais gostei foi meu rolo de massa: inteiriço, bem comprido, com extremidades que afunilam. É o melhor rolo que já tive, infinitamente mais fácil de usar do que aqueles que giram sobre um eixo.

É lógico que estar num ambiente novo, numa cidade nova, num país novo, deixa você desnorteado. E minha cozinha com certeza passou por esse processo. Primeiro, encantada com os ingredientes à disposição que eu sempre cobiçara lá no Brasil, saí metendo os pés pelas mãos e comprando mais do que o necessário, tentando fazer todas as receitas de uma só vez. Animei-me com a biblioteca do bairro e saí retirando livro de cozinha atrás de livro de cozinha, acreditando que prepararia mil pratos de cada um. Sem saber o que era mais barato e onde, perdi dias incontáveis indo a todos os mercados do bairro, várias vezes por semana e saindo de cada um deles mais perdida.

O que aconteceu, no entanto, quando voltei da viagem do Gnocchi, foi que fiquei doente. Um bocado doente. Todo o stress dos meses anteriores parecia ter finalmente atingido seu ápice naquelas duas viagens internacionais em menos de cinco dias, e na tensão de embarcar meu melhor amigo numa gaiola. Meu sistema imunológico explodiu enfim, quando pus os pés em casa, e passei quase vinte dias me sentindo um lixo.

E esses vinte dias me fizeram pensar mais um bocado.

E eu olhei para aqueles livros emprestados da biblioteca e concluí que essa fase havia passado. Que eu não queria fazer nada complicado, que eu não queria correr até o outro lado da cidade para um ingrediente especial, e que eu não tinha mais paciência para comida que não tivesse gosto de comida de pai e mãe. Devolvi todos os livros.

E cansei dessa correria por preço baixo em supermercado longe. Noutro dia, encontrei um casal conhecido no metrô. Eles estavam indo até um mercado umas duas estações para leste, pois o frango lá era muito mais barato. Fiquei pensando que eles estavam gastando pelo menos 12 dólares indo e voltando de metrô os dois juntos, e que provavelmente isso cobriria a diferença de preço entre o frango do mercado lá longe e o daqui da vizinhança. Fora o tempo. Tempo é precioso.

Resolvi que iria apenas uma vez por semana ao mercado. Porque qualquer mercado aqui é a quinze minutos à pé de casa. Levo o cão comigo, passeamos juntos, e resolvo a compra da semana no mercado orgânico, comprando apenas o que está em promoção, e o que falta, no mercado barato, vinte minutos na outra direção, onde também tem a padaria de que gosto, a biblioteca, a farmácia, a loja a granel e a loja de bebidas.

Tudo resolvido num dia só. A gente cozinha com o que tem. Se os ingredientes não se encaixam em nenhuma receita, a gente inventa. E se faltar alguma coisa, ok, eu pego na semana que vem. Basta de pulinhos no mercado, que eu perco tempo e gasto dinheiro.

A gente se vira com o que tem: conchiglie com broccoli salteado no alho, azeite e pimenta calabresa. O parmesão tinha acabado, então fiz o que os italianos pobres do sul faziam: dourei farinha de rosca caseira em azeite, alho e salsinha (usei um filé de anchova amassadinho junto para trazer o umami do queijo), e polvilhei por cima no lugar do parmesão. 

Isso começou a me dar mais tempo para respirar, e um norte na cozinha. E percebi que fico empolgada com coisas bestas como receber por email o flyer com as promoções do mercado orgânico  para a semana. Sento no domingo, analiso o flyer, e escolho umas duas ou três receitas-chave para preparar na semana seguinte. Há sempre uma carne e um peixe interessante em promoção. E tenho me aproveitado disso, pois como aconteceu nos últimos anos, meu vegetarianismo parece hibernar durante o tempo frio, e meu lado carnívoro aflora.

Quem quer comer salada enquanto faz -5oC lá fora? Eu não.

Pense num almoço bom. :)
Comecei a trocar as saladas dos meus almoços solitários por torradas com verduras refogadas ou variações sobre o tema. Num dia em que achei inhame no mercado, descasquei-os, ralei-os na parte grossa do ralador, e apertei-os em forma de panquequinhas na frigideira bem quente com manteiga, até que as panquequinhas dourassem. Assim, um inhame virou uma panqueca. Num dia, cobri com folhas de beterraba refogadas em alho, azeite, uma folha de louro e uvas passas. Polvilhei com salsinha e hortelã, nozes e queijo feta esmigalhado. Sensacional, e durante a semana toda repeti a receita apenas para mim, até que os ingredientes acabassem.

Numa semana, fiz o dobro da receita de cozido de carne com cenoura da Tessa Kiros, cuja metade congelei. E comprei Vermelho para preparar no forno com tomates e servir com arroz, e seis filés renderam bastante para o jantar e para levar de almoço no dia seguinte. Faço o dobro de molho de tomate para a pizza de sexta, pois o o molho que resta cobre macarrão cozido de manhã para o almoço da segunda.

Já tinha preparado isso antes no Brasil, mas a carne aqui me pareceu mais marmorizada e mais maturada, então ela dourou mais fácil e ficou extremamente macia. Melhor picadinho que já fiz. As batatas, bem cerosas e de polpa clarinha, produziram um purê branquinho e delicioso.
Há sempre um saco de 3 libras de maçãs diferentes em promoção no mercado, e levo quase que um por semana para casa. As abóboras do Halloween renderam não só decoração, mas uma Pumpkin Pie devorada em dois dias, e meia receita extra de massa de torta no meu freezer. No mesmo dia do cozido de carne, descongelei a massa, abri, e recheei com as maçãs, poquíssimo açúcar (as maçãs Gala estavam bem doces), canela, noz moscada e manteiga, e fiz uma galette para a sobremesa, bem rústica e de improviso.

O novo saco de maçãs, Golden Delicious, está virando barrinhas de maçã e aveia, receita de um dos livros do Magnolia Bakery. Claro que a receita pedia uma lata de apple pie filling, e claro que eu fiz meu próprio recheio (4 xícaras cheias de maçãs descascadas e fatiadas + 1 colh (chá) canela + 1/3 açúcar + 3 colh (sopa) amido de milho cozinhando na panela em fogo baixo apenas até a maçã soltar um pouco de líquido, a maçã amaciar e o amido engrossar - deixe esfriar completamente antes de usar). Thomas anda numa fase em que se recusa a comer frutas no lanche da escola, então saio metendo frutas nos snacks que posso produzir em casa.

O que sobrou de purê de abóbora virou Pumpkin Spice Muffins para levar para a escola, que Thomas me ajudou a fazer, empoleirado no banquinho da cozinha. Nenhuma receita que achei na internet me agradou, e acabei inventando em cima daquela mesma receita básica de muffin da Martha Stewart do post anterior.

Cavoquei a abóbora, as crianças desenharam as caretas com canetinhas, e eu cortei com uma faquinha.

Depois de cavocar com uma colher e separar as sementes, cozinhei a polpa no vapor até conseguir transformá-la num purê com o passa verdura. Depois coloquei sobre uma peneira grande e fininha, sem apertar, e deixei pingando o excesso de água durante a noite na geladeira. No dia seguinte o purê estava bem sequinho, pronto para usar na torta.

Esta semana, os mexilhões estavam em promoção. Mexilhões lindos assim, em suas conchas negras como os bicos dos corvos, como eu nunca encontrava em São Paulo. Não sei porque, eles vinham sempre fora de suas conchas, sufocados em sacos plásticos. E eu perguntava aos peixeiros como diabos saberia se estavam bons, se estavam fora de suas conchas. E eles nunca sabiam me responder. Esses vieram fresquíssimos. De 4kg, acho que 4 conchinhas foram para o lixo, quebradas. Os outros moluscos espiavam por dentro das conchas abertas, e quando lhes tamborilava os dedos, toc-toc-toc, eles se fechavam rapidamente. Um truque que fez sucesso com a pimpolhada.

Da próxima vez vou fazer assim para as crianças. :)

O jantar foi um panelão de mexilhões com tomate e fatias de pão. Thomas passou o alho sobre as fatias e as colocou sobre a grelha, e depois me ajudou a colocar os mexilhões cuidadosamente na panela. As crianças se refestelaram. Tanto, que tive medo de que tivessem dor de barriga. Afinal, comemos em três uma porção para seis pessoas. Allex preparou um miojo, pois durante quinze anos juntos, eu não sabia que ele não podia nem com o cheiro dos mexilhões. Uma pena, pois estava delicioso. Guardei uma porção extra de mexilhões ainda vivos para meu almoço no dia seguinte, e os preparei gratinados, e ficaram ainda melhores.

E assim as coisas vão caminhando e se encaixando, e eu vou reencontrando o simples na minha cozinha, e o conforto, e a rotina, lembrando de não estressar demais com nutricionismos, e simplesmente relaxar e preparar comida gostosa de comer. Agora que toda a burocracia da mudança está resolvida, basta deixar a vida terminar de se assentar em seu novo local.

Depois daquele dia gelado, as temperaturas subiram de novo. Peguei-me passeando o cão à noite na chuva fininha, a 8oC, e falando para o marido que "estava uma noite gostosa para passear". Ou comentando de manhã com as crianças, ao ver os 3oC marcados no aplicativo do celular, que "não precisa botar muito agasalho porque o dia está mais quente". Referência é tudo na vida.

Que venha o inverno gelado. Que eu sei que assim que estivermos confortáveis, vem toda uma nova adaptação ao frio mais intenso, à neve que não derrete nunca, ao vento absurdo. Mas tudo bem. Respira fundo e encara a bucha. Vou continuar caminhando até o mercado, Gnocchi ao meu lado, contente em apanhar meu cream cheese sem gomas, as maçãs de um tipo que nunca provei, a carne de boizinho sem antibiótico em promoção. O bom do frio é que o sorvete não derrete no caminho. Só fico com um olho no céu para os corvos à espreita. Esse bife é meu, sai prá lá. Opa, um olho no chão também para não escorregar no gelo de bunda no chão. 

ZUPPA DI COZZE (Mexilhões em caldo de tomate)
Do livro Twelve - A Tuscan Cook Book, de Tessa Kiros).
Rendimento: 6 porções

Ingredientes:

  • 1,5kg mexilhões em suas conchas
  • 3 colh. (sopa) azeite de oliva
  • 3 dentes de alho, descascados e picados, + 1 dente extra para esfregar no pão
  • pimenta calabresa à gosto
  • 1 maço pequeno de salsinha, picado
  • 1 lata de 200g de tomate pelado, com seu suco, transformado em purê
  • pelo menos 6 fatias grossas de pão italiano ou de casca grossa e crocante


Preparo:

  1. Lave cuidadosamente em água fria corrente os mexilhões, tirando qualquer sujeira grudada nas conchas. Se houver barba, segure, e com movimentos para cima e para baixo, arranque-as. Jogue fora qualquer mexilhão que esteja aberto e não feche sua concha ao ser cutucado. Os outros, coloque numa tigela, cubra com um pano úmido e deixe na geladeira até a hora de usar. 
  2. Aqueça o azeite numa panela grande. Junte o alho, a pimenta e metade da salsinha.
  3. Quando o alho perfumar, junte os tomates e cozinhe por 5-10 minutos, até apurar um pouco. Tempere com sal e pimenta do reino
  4. Junte os mexilhões, misture bem, aumente o fogo e tampe. Cozinhe por cerca de 6 minutos, ou até que os mexilhões tenham aberto suas conchas. Descarte qualquer um que tenha permanecido completamente fechado. 
  5. Polvilhe o resto da salsinha. 
  6. Grelhe o pão e esfregue o alho em sua superfície quente e dourada. Sirva o pão acompanhando os mexilhões e seu caldo, imediatamente.   


COZZE GRATINATE (mexilhões gratinados - lembrando que gratinar não quer dizer derreter queijo por cima, ao contrário do que o povo acha)
Do livro Twelve - A Tuscan Cook Book, de Tessa Kiros.
Rendimento: 6 porções - fiz uma porção só para meu almoço, mas vale a pena ter a receita inteira para fazer

Ingredientes:

  • 1kg mexilhões em suas conchas
  • 1 maço médio de salsinha, picado
  • 4 dentes de alho, descascados e picados
  • 100g (1xic) farinha de rosca caseira
  • 4 colh (sopa) de azeite + extra para regar
  • Fatias de limão


  1. Preparo:
  2. Lave cuidadosamente em água fria corrente os mexilhões, tirando qualquer sujeira grudada nas conchas. Se houver barba, segure, e com movimentos para cima e para baixo, arranque-as. Jogue fora qualquer mexilhão que esteja aberto e não feche sua concha ao ser cutucado. Os outros, coloque numa tigela, cubra com um pano úmido e deixe na geladeira até a hora de usar. 
  3. Pré-aqueça o grill do forno ou ligue o forno na temperatura máxima.
  4. Coloque os mexilhões numa panela grande, ligue o fogo alto, tampe e cozinhe por alguns minutinhos apenas até que abram. Remova do fogo. Descarte qualquer um que permaneça completamente fechado.
  5. Abra os mexilhões e descarte a concha vazia, mantendo só as metades com os moluscos. Volte-os para a panela, ou para uma travessa refratária se eles não couberem numa camada só na panela.
  6. Misture bem o alho, salsinha, azeite e farinha de rosca numa tigela. Com uma colherinha, distribua a mistura sobre os mexilhões. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Regue com mais um fio de azeite e leve ao forno por 5-10 minutos, até que a mistura de farinha de rosca esteja dourada. 
  7. Sirva imediatamente com as fatias de limão.





segunda-feira, 11 de abril de 2016

Grão de bico com pimentões e tomates assados, um celular quase perdido, uma vida que é só minha



Depois de dois meses atordoada com um imprevisto atrás do outro, sem conseguir controlar minha agenda ou seguir com sequer meio planejamento, com idas a hospitais, a dentistas, gripes acachapantes e um sem número de eventos que me deixaram de cabelo em pé, os nervos à flor da pele e um estômago queimando de gastrite nervosa, eu decidi que era hora de simplesmente abrir mão.

Naquela manhã eu disse à mim mesma que eu não me importava mais. Que não me deixaria descontrolar pelos imprevistos da vida, e que deixaria as intempéries virem e irem sem me deixar afetar tanto.

E depois de tudo o que já havia acontecido nos últimos sessenta dias, quando me inclinei para beijar a testa do meu filho na natação e meu celular escorregou da bolsa e mergulhou com um sonoro "BLUMP!" no fundo da piscina, só consegui rir, divertida com o alvoroço das pessoas à minha volta, compadecidas por minha perda e desesperadas em apanhar de volta aquele que costuma ser um enorme pedaço de suas vidas.

Olhando aquele celular embaixo do azul da piscina, borbulhando devagar, surpreendi-me ao sentir alívio. Eu vinha pensando em como era a vida na época em que eu esquecia meu celular desligado o tempo todo – e tomava bronca da família e dos amigos por isso – ou como era quando ele não tinha internet.

Àquela tarde, dirigindo para São Paulo e ouvindo rádio Cultura, uma música de Gabriel Fauré imediatamente me transportou para minha juventude, a época em que eu tocava violino e minha melhor amiga na época, flauta transversal, e tentávamos tocar juntas essa melodia, atrapalhadas, errando o tempo.

E lembrei-me de como eu era, de quem eu era, do que era importante para mim e como aquilo se perdera ao longo do tempo, influenciada pelo que eu julgava se tratar de amadurecimento, mas que na verdade era eu me perdendo no meio das cobranças por uma vida que não era a minha.

Minha única responsabilidade é educar meus filhos para que eles sejam pessoas boas e independentes. E garantir que eles tenham todos os dias um prato de comida à sua frente e um teto sobre suas cabeças. Todo o restante pareciam cobranças por comportamentos que não tinham nada a ver comigo ou com minha visão de mundo. Tudo aquilo que me estressava e fazia meu estômago queimar tinha a ver com o que o mundo esperava de mim e não com o que eu queria de mim mesma.

Eu só preciso ser a artista que eu sou.
Eu só preciso ser a mãe que eu sou.
Eu só preciso ser a pessoa que eu sou.
O tempo é meu.
De ninguém mais.

E aquela música suave retumbando em minha mente. As cobranças são sempre acerca dos resultados. Resultados, resultados... Mas eu sempre fui uma pessoa apaixonada pelos processos. O processo de aprender um instrumento. O processo de aprender um idioma. O processo de transformar uma imagem em uma pintura. O processo de apreender a realidade de um rosto em um desenho. O processo de fazer um pão. A vida lenta envolvida no ofício do artista que pára e observa. A observação de uma paisagem, de folhas ao vento, de músculos contraindo e relaxando no movimento, a observação dos sons à minha volta e da sinfonia que cada ruído individual ajuda a completar.

Eu nunca fui uma pessoa focada em resultado. Quando comento isso com meu marido, ele ri, dizendo que estou atestando o óbvio.

Talvez minha facilidade em girar sobre os calcanhares e mudar de caminho quando bem quero venha disso. E quão difícil é viver numa sociedade voltada para o resultado. Quando você tem que mostrar uma obra pronta que demonstre o resultado do seu estudo, mas não se dá o tempo do estudo porque ele não parece conter a importância do resultado que se pode mostrar. Quando você tem que mostrar através do sucesso dos seus filhos o resultado dos seus esforços de criação, e se sente uma mãe ruim quando seus filhos não têm atestados de que estão em primeiro, de que estão melhores que os outros, de que estão fadados a virar presidente do mundo. Quando sua conta bancária e seu número de seguidores nas redes sociais é seu atestado de uma vida de sucesso, um resultado palpável, mensurável, comparável, e você precisa necessariamente fotografar a si mesmo rindo para ter certeza de que o resultado daquele momento de esforço em se divertir de fato foi diversão.

Todas as vezes que persegui o resultado fui infeliz. Não por não obtê-lo. Mas porque perseguir um resultado é ignorar a fluidez da vida. A vida não é uma série de resultados. Ela é um processo. Estar no processo é estar imerso na vida enquanto ela acontece. Eu não leio livros para terminá-los. Eu gosto de lê-los. Apenas.

Aquela música deliciosa em minha mente me lembrou da época em que eu não me sentia massacrada pelas responsabilidades de gerir o que eu julgava ser uma vida adulta correta e simplesmente me preocupava em estudar violino porque era o que eu amava aprender, descobrir, entender. Eu não queria tocar em uma orquestra. Eu sequer queria tocar para os outros. Era para mim. Era sentir meu cérebro expandir e relaxar toda vez que eu finalmente ENTENDIA aquela melodia. Eu gostava de estudar. Sempre gostei de estudar.

É aquilo que eu mais amo hoje quando estudo desenho e pintura. Quando o tempo pára e eu estou naquela imagem, na resolução daquele problema, completamente mergulhada no processo de compreender como o modo como seguro o lápis afeta a compreensão do peso e da massa daquela figura. Como eu preciso mudar o jeito como enxergo um rosto para poder retratar os pensamentos por trás daqueles olhos. É um processo lento. Exaustivo às vezes. Um caminho de observação e disciplina. Mas que me faz sentir que estou no mundo e que aquele meu tempo está valendo a pena. Estou compreendendo o mundo através daquele desenho. Observando. Sem me preocupar com o resultado do desenho. Se vai ficar bonito ou feio. Certo ou errado. Porque quando me preocupo com o resultado, eu me engesso, eu me preocupo com o certo e o errado, o bonito ou feio, e paro de prestar atenção ao que aquele desenho pede, preocupada em como aquele desenho será julgado.

Se preocupar com o resultado é se preocupar com o que os outros pensam de você. E preocupada com o resultado da criação dos meus filhos, com o resultado dos meus esforços profissionais, com o resultado dos meus esforços em gerir uma agenda complexa e cheia de imprevistos... eu me vi atropelada pelas cobranças. Cobranças que me impediam de relaxar e cuidar da vida que é minha de verdade, cobranças que me impediam de observar com cuidado, cobranças que me impediam de sentar e ler um livro, que me impediam de simplesmente estudar sem me preocupar com quantas obras prontas serão vendidas, cobranças que me faziam enxergar apenas o que eu não estava conseguindo fazer, ao invés de ver tudo o que eu já estava fazendo.

Eu parei de me divertir.

A vida tem que ser divertida. TEM QUE SER. Senão, o que estamos fazendo aqui?

Quando o professor de natação me devolve meu celular encharcado, quase me pego triste em ver que, milagrosamente, ele ainda está funcionando. As pessoas em volta continuam preocupadas com aquele tijolinho de plástico na minha mão. Sorrio, agradeço, enxugo o celular com uma toalha, com preguiça de abri-lo como me recomendam, e enfio o bicho de volta na bolsa.

O celular continuou funcionando enquanto eu comia biscoitos de polvilho e conversava com minha mãe, levantando os olhos às vezes para ver o pimpolho nadando, contente.

No dia seguinte, acordo com a certeza de que terei um dia bom. Passo tempo com minha filha na aula de música da escola, vou tomar um café com as mães da escola sem me preocupar uma eficiência mecânica de quem trabalha em escritório, e dou um pulo no mercado para comprar linguiças para fazê-las assadas com cebolas, pimentões e batatas, aquela receita feita pela terceira ou quarta vez do livro Easy do Bill Granger, um dos que mantive na estante com prazer. O almoço é delicioso e exatamente o que eu queria, acompanhado de suco de maracujá feito na hora. Um almoço de dia de sol, com todos os amarelos e vermelhos vibrando no meu prato.

Basta colocar as linguiças, pimentões fatiados, cunhas finas de cebola, um fio de azeite, sal, pimenta, e um pouco de sementes de erva-doce em uma assadeira e assar em forno médio por 45 minutos ou 1 hora. Tempere com vinagre balsâmico, folhas de manjericão e sirva. Eu costumo colocar batatas em pedaços pequenos, previamente cozidas por uns dez minutos, para cozinhar junto até que dourem. 

Enquanto as crianças cochilam na rede, sovo rapidamente um pão de fermentação natural. Resolvo alguns emails de trabalho. E quando as crianças acordam da soneca, vamos passear de bicicleta. Eles com suas pequeninas, eu com a que peguei emprestada de minha irmã. Delícia andar de bicicleta, isso que eu não fazia desde a infância. O vento no rosto, as crianças apostando corrida e passando voando por sobre as lombadas da rua. Minha mente livre de cobranças e sobre o que eu deveria ou não estar fazendo. Quem gere o meu tempo sou eu.

"Mamãe, quero ir ao parquinho!"

Vamos. Levo um livro. Sento no balanço e de repente me dou conta de que o celular ficou em cima da mesa da sala. Dou de ombros, abro meu livro e leio. Hemingway. Paris é Uma Festa. As crianças sobem e descem pelo escorregador, e pelas escadas de cordas, e fazem castelos de areia, e colecionam pedras e gravetos. Eu leio meu livro, deliciada pela história de uma vida em Paris, numa época calma. De um artista dizendo que escrevia pela manhã e saía para passear à tarde com a esposa. E relatos de caminhadas na montanha, e jantares em bistrôs, e idas às corridas de cavalos, e conversas com outros artistas sobre literatura, e pintura, e escultura, e teatro e o ofício de artista.

Sinto o sol nas minhas costas, esquentando a pele sob a camiseta. Meus dedos dos pés tocam a areia abaixo de mim e se movimentam, empurrando o balanço para frente e para trás, devagar e suavemente. Uma cigarra canta insistente à minha direita. Tão insistente de fato, que mal chega aos meus ouvidos o ruído dos carros na rua ao lado. Sem o celular, não sei que horas são ou há quanto tempo estou ali, a não ser que preste atenção ao tom de amarelo-dourado da luz sobre as páginas do livro ou o modo como as sombras se movimentam e estendem na areia onde as crianças brincam.

A fome indica que é hora de preparar o jantar.

Voltamos para casa e Laura empurra uma cadeira para frente do fogão para me ajudar. Ela mexe o risotto, concentrada, por vinte minutos, enquanto eu pico as vagens e o pimentão amarelo e acrescento caldo ao arroz. Tento ensiná-la a pronunciar o "r" forte do risotto, mas ela ainda tem dificuldade e nos últimos dias tem arrastado seus erres com um forte sotaque do interior que só posso acreditar ter vindo dos amigos e que me diverte horrores.

Enquanto o risotto descansa na panela tampada, deito na rede. Laura pede para ler para ela o seu livrinho de cozinha favorito, aquele de bolos italianos de avós, todo ilustrado. Passo dez minutos lendo em voz alta receitas em italiano, enquanto ela observa a noite caindo, deitada na rede comigo. Thomas está em algum canto passando tempo com o pai que acabou de trabalhar.

Jantamos e as crianças sentam com o pai para ver desenhos japoneses enquanto asso meus pães para o dia seguinte. Elas vão dormir mais tarde que o habitual e capotam sob os lençóis no meio da primeira história que lhes leio.

Abro uma cerveja. Suspiro contente quando deito na rede novamente, sentindo o frescor da noite no rosto e ouvindo o silêncio das aranhas no jardim.

Um dia bom.

Penso num café filosófico que assisti outro dia, sobre a beleza. "Com o que você está alimentando sua mente?", diz ele. Se você só se alimenta de feiúra, você perde a habilidade de ver a beleza sutil da vida. Com o que você está alimentando sua mente? De feiúra do facebook? De idiotices? De música ruim? De cobranças estúpidas?

Apanho meu livro novamente, minha cerveja, meu pedaço de pão quente fresquinho com manteiga. Decidida de me alimentar de beleza em minha vida, decidida a aproveitar os minutos que tenho nessa terra sem me preocupar se acham que sou uma artista assim ou assado, uma mãe desse jeito ou de outro, decidida a enxergar a beleza à minha volta e colecionar em meu peito essas memórias de uma vida boa.

Sinto alívio em ter eliminado o Facebook. Sinto alívio quando esqueço o celular em cima da mesa. Sinto-me feliz ao sentar e ler como lia antes, ao invés de ser sugada para o mundo da internet, da tv, do youtube. Sinto prazer na tentativa de não me cobrar mais por resultados. Prazer em mergulhar tão fundo na observação e no processo, na lentidão da vida de verdade, sem me preocupar se isso vai me trazer mais ou menos dinheiro, mais ou menos sucesso, mais ou menos amigos. Sinto um peso enorme arrancado dos ombros ao ver as coisas vendidas indo embora e meu ambiente ficando mais leve. Sinto-me justamente leve ao preparar novamente, oito anos depois (antes sozinha agora com minha filha me ajudando), aquele mesmo risotto de pimentão amarelo e vagens da Marcellla Hazan, que andava esquecido, soterrado por outros livros.

Fico contente em ver que aqueles "poucos" livros que selecionei para ficarem comigo estão sendo plenamente úteis enfim. Quando tenho grão-de-bico e pimentões para usar no jantar, apanho o livro que ficou do Nigel Slater, que sempre foi meu favorito dele, Notes From the Larder, e faço esses pimentões e tomates assados com grão-de-bico e harissa, deliciosos. Uso de inspiração as verduras e o limão em conserva que ele sugere e preparo uma farofa de couve temperada com suco de limão, deliciosamente amanteigada, e verde, e ácida para contrabalançar a doçura do grão de bico.

Fico feliz em ver a família raspando o prato. Fico feliz em me ver capaz de enfim relaxar e ter dias tranquilos, sem me estressar com minha agenda auto-imposta, sem me destemperar com os imprevistos da vida. Fico feliz em desviar os olhos dos fins para me concentrar nos meios novamente. Em lembrar que eu sou dona do meu tempo e que, estando meus filhos bem, nada mais importa, e eu posso me preocupar em amar minha vida. Fico feliz olhando para um celular debaixo d'água e sabendo que é só um celular, e que talvez perdê-lo ou vislumbrar essa possibilidade fosse a melhor coisa que poderia acontecer.



GRÃO DE BICO COM HARISSA E PIMENTÕES E TOMATES ASSADOS
(livremente adaptado do livro Notes from the Larder, de Nigel Slater)
Rendimento: 4 porções generosas

Ingredientes: 

  • 800g tomates, cortados em seis pedaços
  • 500g pimentões amarelos e vermelhos, cortados em pedaços médios
  • 1/3 xic azeite
  • 3 colh. (sopa) vinagre de vinho tinto (usei de sidra)
  • 1 colh (chá) sementes de cominho
  • 2 latas de 400g grão de bico ou o equivalente em volume de grão de bico cozido em casa
  • 1 colh (chá) harissa (o que eu tenho em casa é em pó – alguns são bem apimentados, então acrescente a gosto)
  • um punhado de manjericão fresco


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 200ºC. Num refratário grande, coloque os tomates, pimentões, vinagre, azeite, cominho, sal e pimenta. Misture e asse por 50 minutos a 1 hora, at´´que os legumes estejam bem macios e comecem a dourar e chamuscar. 
  2. Junte o grão de bico escorrido e a harissa e volte ao forno por mais uns dez ou quinze minutos, até que o grão de bico esteja quente e o caldo borbulhante. 
  3. Junte o manjericão, acerte o tempero e sirva com arroz, pão ou uma farofa de couve com limão.


Para a farofa, basta refogar alho e cebola em azeite, juntar a couve fatiada bem fininha, com sal e pimenta a gosto e refogar até que a couve murche. Junte uma colherada bem generosa de manteiga e a farinha de mandioca e misture até a farinha dourar. Tempere com suco de limão a gosto.








terça-feira, 10 de novembro de 2015

A ida e a volta da porca louca – trabalhando com o que se tem. No caso, rabada.

Quando tinha meus poucos 11 anos, desenhando loucamente minhas ideias descabidas, comprei um livro recém-editado chamado "Como Fazer Histórias em Quadrinhos", da editora Global. Nele, havia a seguinte tira: "A Ida e a Volta da Porca Louca".


Essa é a sensação que ficou de meus sete dias de férias em Paris: a ida e a volta da Ana Elisa a Paris. Foi, voltou, acabou. Foi tão curto. Foi tão rápido. Mas foi tão, tão bom.

Como dizia Mark Twain, você jamais saberá o asno que pode ser até viajar para o exterior. (“The gentle reader will never, never know what a consummate ass he can become until he goes abroad.” – Mark Twain, The Innocents Abroad) 

Viajar te deixa menos burro.

Aprendi em Paris que uma cidade pode ser linda e suja ao mesmo tempo. Como haviam me alertado, fiquei desconcertada com a quantidade de lixo no chão em áreas menos turísticas. Um amontoado de cocô de cachorro, bitucas de cigarro e embalagens vazias de isopor com restos de comida da madrugada passada. Dependendo do horário que você passa na rua, se o lixeiro ainda não passou, você até acha São Paulo mais limpa que Paris. No entanto, você olha para cima e parece que há um descompasso na noção de respeito com o passado, pois se por um lado os parisienses não titubeiam antes de jogar um cigarro aceso na calçada, por outro aqueles prédios de centenas de anos estão todos ali, conservados, reformados, coerentes com a paisagem, lindos mesmo quando ligeiramente decadentes. Assim como me aconteceu em Milão, não foi difícil vislumbrar como seria o centro de São Paulo se alguém tivesse tido a boa vontade de conservar as construções mais antigas do modo como elas mereciam, antes de virarem cortiços, garagens ou lojas de produtos contrabandeados, descaracterizando ou mesmo destruindo fachadas, condenando as casas e prédios antes lindos e históricos à fatídica demolição ansiada pelos especuladores imobiliários.

Também aprendi que, de modo geral, os parisienses têm aquela característica que muito aprecio, o orgulho de se fazer bem feito. Não fui a nenhum restaurante mega estrelado, nenhum lugar moderno e inovador e cheio de frufru. Nenhum lugar caro, se você desconsiderar a explosão do euro. Mas comi maravilhosamente bem em todas as refeições.



No Astier, pedi pato confitado, de pele crocante e carne macia, e uma tábua de queijos descomunal e deliciosa. Meu primeiro confit de canard, e aquele que será para sempre a base de comparação. Marido que não gosta de pato provou e aprendeu que daquele pato ele gostava.



No Comptoir Saint Germain, pé de porco desossado e empanado, acompanhado de purê de maçãs, a carne, a gordura e a cartilagem derretendo deliciosamente na boca. Aprendi que se você não se aventurar na hora da comida, jamais vai descobrir como pode ser gostoso um pé de porco, por mais estranha que a ideia soe. De sobremesa, um financier de pistache com sorvete de queijo de cabra e coulis de manjericão, acompanhado de frutas vermelhas. Ok, esse era mais moderno. Mas surpreendentemente bom e refrescante. Do tipo que quero reproduzir em casa.

No Café Constant, pernas de rã com purê de salsinha, deliciosa codorna recheada de foie gras, e îles flotantes, um merengue cozido nadando num creme pontilhado de sementes de baunilha e coberto de caramelo. Achei que a sobremesa era grande demais para mim, mas sem demora o prato estava vazio e teria sido lambido se eu estivesse no conforto de minha casa. Marido cheio de gordice roubava do meu creme para banhar seu enorme pedaço de crème caramel.

No Au Pied du Fouet, terrine de campagne absolutamente cremosa e deliciosa, uma salada verde com tomates, lardons (bacon) e queijo de cabra, e ameixas ao vinho de sobremesa (ex-vegetariana comendo carne todo dia com certeza precisa de ameixas ao vinho no meio da viagem).

Aprendi que se tivesse ido à França vegetariana, teria sido a viagem do omelette. Porque até a salada vinha com bacon. Melhor coisa que fiz pelo meu amor à comida foi ter ido a Paris depois de voltar a comer carne, ou talvez tivesse saído de lá um pouco frustrada.

No Café des Musées, foie gras com pãozinho de figo e geleia e steak tartare. E depois de comer duas vezes foie gras, aprendi que é sim muito gostoso, mas não tanto assim pra justificar o que se faz com o pobre ganso ou pato. Patê de fígado de frango basta pra mim. Nesse café aprendi também que as crianças francesas se comportam tão bem em restaurantes quanto uma criança pode se comportar. Elas não paravam quietas nas cadeiras, perambulavam por todo o restaurante e falavam alto como todas as crianças. Um casal de franceses ao nosso lado bufou e reclamou durante todo o jantar da algazarra dos pimpolhos. Tendo já presenciado coisa bem pior em restaurantes do Brasil, achei louvável os adultos tentarem controlar a pimpolhada sem nenhum jogo eletrônico, e achei toda a movimentação e barulho bem ok. O casal reclamão me incomodou bem mais.



No Robert et Louise, onde estávamos presos no restaurante por uma chuva forte, aprendi que adoro boudin noir (linguiça de sangue) com purê de maçã. Também pedi gigot d'agneau (um bife de cordeiro maravilhoso) feito numa chapa de ferro dentro de uma enorme lareira no fundo do salão, acompanhado das melhores batatas sautée que comi na vida, cozidas e salteadas na gordura restante na chapa de ferro. Aprendi que esse é o único jeito de se fazer batatas sauté. Pura perfeição. E de sobremesa, o melhor crème brulée da minha vida, com a proporção perfeita de gemas, amarelo, cremoso mas firme, substancioso, repleto de sementes de baunilha. Também aprendi que adoro Armagnac.

No Breizh Café, galette complète, um crepe fino de trigo sarraceno, com queijo gruyère de leite cru, presunto da Savóia e ovo frito, e de sobremesa um simples crêpe com limão e mel da Bretanha. Tão. Bom. Aprendi que aquilo que eu chamava de galette não é galette. Até eu conseguir produzi-la tão fina quanto se deve, eu simplesmente não estou fazendo direito.



Na Du Pain et Des Idées, simplesmente a melhor flûte (uma baguette menorzinha) e excelente pain au chocolat. Aprendi que um pão excelente e um queijo ok podem ser um jantar melhor do que um queijo excelente num pão mequetrefe. Aprendi que a gente definitivamente não sabe fazer pão direito e não tem o menor respeito por pão. Aprendi que o pãozinho está sempre lá para ser embebido no que resta de molho no prato, e isso é uma delícia, porque mesmo que você coma uma salada, o pãozinho está ali para saciá-lo. E que se você vai num pub e pede um hambúrguer (marido pediu um hambúrguer de porco espanhol que estava uma delícia), você recebe pãozinho pra acompanhar. Porque... né? Pão pra acompanhar o sanduíche. Por que não?

Também aprendi que os parisienses servem cerveja sem espuma. WTF? Só vinho salva.



Na Éclairs de Génie, aprendi que existe uma bomba de baunilha para estragar seu paladar para sempre. Nunca mais vou conseguir comer outra. Marido mandou eu comprar o livro do homem e aprender a fazer igual. Taí uma meta.

Na Bertillon, aprendi que uma bolinha minúscula de um sorvete extremamente bem feito pode ser melhor do que um pote inteiro de um sorvete mediano. Quando serviram o sorvete de baunilha, achei esquisito ele ser cinza, até olhá-lo de perto e me dar conta de que eram todas aquelas sementes de baunilha no sorvete claro que davam esse efeito. O sorvete de chocolate é tão escuro, denso e intenso, que também estraga você para a vida. Tipo colocar uma barra de chocolate belga inteira no freezer. Só que cremosa.

Aprendi também que a coisa toda das mulheres parisienses parecerem bonitas sem esforço é meio que verdade. Mas que o tal glamour parisiense é um mito descabido. Andei por toda a cidade em todos os horários, e as únicas pessoas vestidas de parisienses glamourosas eram as turistas tentando parecer parisienses glamourosas. O que vi, no entanto, foram mulheres francesas sabendo usar o que elas têm de melhor ao invés de tentar mudar o que são. Não vi uma francesa de chapinha no cabelo. Quem tinha cabelo liso, tinha cabelo liso, quem tinha cacheado tinha cacheado, etc, etc. Aquela coisa linda de ter o cabelo crespo ou cacheado ou ondulado e simplesmente dar uma arrumada com os dedos e sair na rua, e deixar o cabelo meio bagunçado porque é isso aí, a gente é assim, e cabelo cacheado que foi penteado fica horroroso.

Marido num dado momento começou a me perguntar por que diabos as francesas não penteavam o cabelo. Porque mesmo quem tinha cabelo liso escorrido parecia ter prendido o cabelo num rabo sem olhar no espelho. Expliquei o conceito engraçado do "sou linda, acordei assim". Ele riu. Então notei como isso só funcionava porque elas estavam minimamente maquiadas. Minimamente mesmo. Do tipo que você olha de longe e parece que só tem um realce nos olhos, um corado saudável nas bochechas. Nada de sombras pesadas, contornos evidentes.

Fiz o teste em mim mesma. Acordei com o cabelo do cão chupando manga. Coisa fácil para quem tem cabelo meio liso na raiz, meio cacheado no meio, meio ondulado nas pontas, e cheio de poinhóin que nasce torto bem no alto da testa e que se recusa a formar cacho ou seguir liso. Altos traumas com os poinhóin, esse cabelo que fica uma aura de desleixo em torno no rosto e que foi alvo já de muita escova, chapinha e até tratamento químico.

Larguei o cabelo como estava e ao invés de tentar domá-lo, amassei-o para fazer ainda mais volume. Com aquela cara cinza de quem dormiu nada, parecia que eu tinha saído do hospício. Então fiz minha maquiagem. Nem tanta coisa assim. Um bb cream bem leve, um jeito nas sobrancelhas falhadas, corretivo, rímel (porque meus cílios são inexistentes) e blush bem levinho. De longe, tô usando nada. Só trazendo à tona aquilo que se tem de bom.

Olhei no espelho.

I woke up like this. Flawless.

Uma roupa simples que me vestia bem, uma maquiagem simples bem feita, e o meu cabelo o mais natural possível. E ao invés de ficar com cara de quem tinha levado quarenta minutos pra se arrumar, aquele jeito de quem  simplesmente tá se esforçando além da conta, que sempre fica meio ridículo, fiquei com cara de "sou linda, acordei assim". Funciona de um jeito tão fantástico, que tive vontade de voltar no tempo e avisar meu eu-adolescente dessa coisa mágica de parar de gastar tanto tempo com cabelo e simplesmente usá-lo do jeito que ele é.

Aceitação. Sabe? É. Larga o terapeuta e simplesmente aceita o teu cabelo. Pronto. Problemas resolvidos.

No fim, o marido mesmo começou a notar como parecia que esse jeito de se aceitar e usar o que se tem de melhor parecia permear franceses e francesas de todas as idades. Com peito, sem peito, com bunda, sem bunda, magrinha, gordinha, todos pareciam vestir bem seus corpos como eles eram ao invés de se espremerem em modelos inapropriados para suas formas ou suas idades. Logo... todos pareciam elegantes e bonitos, mesmo de jeans e camiseta branca.

Enfim... aprendi que bonito é se trabalhar com o que se tem e saber tirar o melhor do que você é, ao invés de se apertar em soutiens que apertam os peitos, estragar o cabelo com a chapinha, e ficar usando roupas para uma realidade que não é a sua, seja sua idade, sua condição financeira ou seu tipo físico.

Também aprendi que o seu dia fica de fato mais gostoso quando todo mundo com quem você fala te diz "bom dia" e te deseja uma "boa jornada" quando você se despede. Um hábito que eu já tinha e que, aqui onde eu moro, me irritava muito por não ser correspondido. Brasileiro pode ser um povo muito caloroso em alguns aspectos, mas, meu deus, como é difícil arrancar um "bom dia" de um ser humano em São Paulo. Cansei de olhar nos olhos das pessoas, abrir um sorriso e dizer "boa tarde" e ser completamente ignorada. Mesmo nos restaurantes em que os garçons eram muito ocupados e o serviço era brusco, um "bom dia" e um elogio à comida bastavam para que eles sorrissem de volta, contentes, em Paris.

E não tem como: viajar deixa você menos burro porque você tem a oportunidade de confrontar sua realidade com a dos outros, e, então, aprender alguma coisa com esse evento. Que toda cidade grande tem problemas, que o que torna algumas mulheres mais bem resolvidas pode ser justamente o tipo de auto-aceitação que me faltava, que eu amo arte tanto quanto ou mais do que comida, que eu sou mais cosmopolita do que gostaria de admitir, e que talvez meu problema não fossem cidades em geral, e sim apenas São Paulo. Porque eu me sinto muito à vontade em outras grandes cidades do mundo, de um jeito que não me sinto mais em São Paulo, que parece me agredir os sentidos toda vez que piso nela.

Pensei no modo como os condomínios de apartamentos são cada vez mais feitos para que você nunca precise sair de casa, até mesmo incorporando shoppings centers e clubes. Como aqui nós estamos relacionando cada vez mais qualidade de vida à possessão de coisas: casa grande, carro bom, sofá caro, tv gigante, varanda gourmet... Quando fui à Amsterdam, chamou-me a atenção os apartamentos pequenos, clean, minimalistas. E agora em Paris, o mesmo. Marido ficou em choque com o apartamento de 25m2 que alugamos, e mais ainda quando expliquei que aquilo era meio que padrão, mesmo para alguém de classe média. Mas quando você entende o quanto sua vida acontece do lado de fora, o quanto a cidade permite que você fique ao ar livre, você se dá conta de que não precisa mesmo de mais espaço. Sua geladeira pode ser um frigobar (como era o caso no apartamentozinho) se você tem acesso fácil a comida fresca todos os dias. Você não precisa de um carro se o transporte público funciona. Você não precisa de uma tv gigante se a cidade provê cultura e entretenimento variado fora da sua sala. Você não precisa de clube se os parques são seguros e agradáveis.

Enfim.

Sua mente se expande e nunca mais volta ao tamanho original, e você aprende, então, muitas coisas a seu respeito, sobre o que é importante para você e o que é de fato qualidade de vida.

E enquanto eu bebericava meu vinho bom e barato e beliscava mais um pedaço de boudin noir, vi-me explicando ao marido porque todos os cardápios dos bistrozinhos pareciam ter apenas cortes "estranhos" de carnes. Eram pés, orelhas, rins, fígados, cabeças... Dividindo espaço com rãs e codornas e foie gras e peixes nobres. Fiquei pensando sobre quanta fome um ser humano precisou ter para catar um sapo no brejo e resolver comê-lo. Mas achei lindo ter tanta variedade desses cortes e partes mais "difíceis". Primeiro, porque estava morrendo de vontade de experimentar tudo. Segundo, porque amo essa noção de que se é pra matar um bicho para comer, é bom usá-lo todo. Quando vejo essa bizarrice de povo que só come o peito do frango, me dá aflição.

Povo! Compre o frango inteiro, pelamordedeus, que é bem mais barato e você tem mais refeições variadas, saborosas e interessantes do que comprando uma bandeja só de peito.

Além disso, isso dos "cortes estranhos" mostra claramente como comida excelente precisa de ingredientes BONS, não ingredientes CAROS. Lembrei de um artigo publicado há muito tempo atrás de alguém xingando o fato de todos os restaurantes paulistanos servirem o mesmo atum selado em crosta de gergelim. Eu ri. Porque era verdade. Conheço muita gente que não come nada além de "carne de primeira" (termo estúpido) e peitinho de frango, porque acha que todo o restante é "comida de pobre". Chique é falar de "cucina povvera" italiana. Mas comer língua ninguém quer. Bobagens, bobagens. Troco um filé mignon por uma rabada numa boa.

Peraí. Essa frase ficou horrível. >_<

Vamos começar de novo.

Aprendi que cozinha francesa mesmo, assim como a italiana, é muito mais pautada no que o povo teve que usar para se virar e encher a barriga do que em qualquer fricote de pratinhos minúsculos de ingredientes carésimos. Uma terrine de porco bem feita, cheia de partes "estranhas" dá um couro em qualquer foie gras. Pelo menos eu acho.

Voltei da França com vontade de continuar me cuidando, com vontade de pintar alucinadamente, com vontade de comer pão bom em todas as refeições, com vontade de terminar todas as refeições com queijos, com vontade de cozinhar carnes "estranhas".

Começando com rabada (oxtail), que comi pela primeira vez em Trinidad & Tobago, e adorei.

Essa é receita de Nigel Slater, e ficou deliciosa. As crianças acharam esquisito mas interessante comer o rabo do boi, ou, como diz Thomas, "a cauda". Ficou muito bom com purê de batatas bem cheio de manteiga e o molho é de lamber o prato. Único problema é que eu calculei mal o tempo de forno e tive de tirar o bicho lá de dentro antes de estar de fato desmanchando, o que nos fez comer uma rabada ainda um pouco dura. Outra coisa: as ameixas ficam deliciosas, mas achei 200g coisa demais. Recomendo que se use menos. Ninguém consegue comer tanta ameixa em uma só refeição.

Enfim, fico feliz de ter conseguido FINALMENTE colocar esse post no ar. A vida anda uma loucura e uma bagunça, cheia de novidades e contratempos. Uma novidade é o meu canal de Youtube, Desenhoquê (Ana Elisa Gaiarsa Granziera), em que estou postando videos semanais com meu processo de trabalho. Porque, como eu disse, descobri em Paris que arte é de fato o que mais amo na vida, (tanto que fotografei mais quadros do que comida) e gostaria de enfim dedicar mais tempo "de internet" ao meu ofício de verdade. Além disso, ando muito empolgada com a linguagem do video, enquanto a do blog tem me cansado um pouco. Os posts aqui continuam existindo, mas mais esporadicamente. Espero que compreendam, que me visitem lá no meu canal e que gostem do meu trabalho. :)

Também espero que gostem de rabada... ;)



RABADA COM AMEIXAS SECAS
(do livro Notes from the Larder, de Nigel Slater)
Rendimento: 2 porções bem servidas

Ingredientes:

  • 2 colh. (sopa) azeite
  • 1,3kg rabada
  • 2 cebolas picadas grosseiramente
  • 5-6 tiras de casca de uma laranja + o suco da laranja
  • 200g ameixas secas macias, sem caroço
  • 1 colh. (chá) sementes de zimbro
  • 2 xic. vinho tinto


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 220ºC.
  2. Aqueça o azeite em uma panela grande, com tampa, que comporte toda a rabada numa camada única e que possa ir ao forno.
  3. Junte os pedaços de rabada, lado cortado para baixo, e cozinhe por 4-5 minutos de cada lado, até que o óleo esteja chiando e a carne esteja dourada. Transfira para um prato.
  4. Junte as cebolas ao óleo quente, e refogue em fogo mais baixo, até que comecem a amolecer. 
  5. Volte a rabada para a panela, junte as cascas de laranja, o suco, as ameixas, o zimbro e o vinho. Tempere com sal e pimenta.
  6. Aumente o fogo e leve à fervura. Tampe imediatamente e transfira para o forno. 
  7. Cozinhe por 25 minutos, então abaixa o fogo para o mínimo e cozinhe por 2 horas ou até que a carne esteja se soltando do osso facilmente. (Se parecer que o líquido está reduzindo muito rápido, acrescente um pouco de água ao molho e tampe novamente.)


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Pato, Purê, Paris, Mãe, Maçã, Maquiagem



Título de doido. Mas vem comigo.

Depois de um ano e meio de reeducação alimentar e muita, muita corrida, eu finalmente me sentia bem comigo mesma. Estava em forma, com uma rotina saudável, o trabalho apontava para direções animadoras, e tudo ia muito bem. Tão bem, que decidi que era hora de vir o primeiro pimpolho.

O primeiro pimpolho veio, e com ele aquele choque em perceber que um filho não era apenas mais uma tarefa incorporada ao seu dia, mas meio que o seu dia inteiro. Junto com todo o amor e a coisa doida que é ver aquela fofura se tornando um ser humano independente e com personalidade, veio aquele outro choque: eu sou mãe. Rolou uma bizarrice de sair me livrando de roupas que eu não julgava mais apropriadas para minha nova fase, rolou um stress de querer ser um modelo de perfeição natureba suprema para meu filho, e, como toda a despirocação para um extremo, o pêndulo volta todo o caminho e você despiroca pro lado oposto não muito tempo depois. E de jogar fora minha saia curta e sair vestida igual à minha mãe de sessenta anos, eu comprei um novo par de coturnos, usei meu short jeans até ele ter mais buracos do que jeans de fato, e... pintei o cabelo de roxo. ROXO. Mesmo. Inteiro. Roxo.

Eu quis pintar o cabelo de roxo minha adolescência inteira, mas não conhecia na época um cabeleireiro que tivesse uma tintura mais ousada do que o vermelho que a Claire Danes usou em Minha Vida de Cão. Precisei esperar ter mais de trinta anos, mais coragem e mais saco cheio daquilo que eu achava que esperavam de mim por ser mãe.

Erro.

Pintar cabelo colorido é um comprometimento. E eu já estava comprometida com meu filho e meu trabalho. Cabelo colorido que a gente não tem tempo de cuidar fica um show de horror. E pouco tempo depois de pintar o cabelo, eu engravidei de novo, e tive de passar nove meses com o cabelo descolorido-amarelo-piupiu, manchado de roxo-desbotado e com textura ressecada de cabelo de Barbie enfiada na piscina cheia de cloro.

Olhar para isso no espelho durante quase um ano não foi legal.

O cansaço de trabalhar, cuidar de casa, de criança na fase dos terríveis dois anos e de um bebê recém-nascido também não ajudou.

Passaram-se quatro anos desde o nascimento do meu primeiro filho, e parecia que o trabalho ainda não tinha engatado de novo do jeito que era, eu não conseguira voltar a correr todos os dias, a segunda gravidez deixou meu abdome mais flácido do que a primeira, não dava tempo de ir ao cabeleireiro, e aos poucos eu fui esquecendo de cuidar de mim. A gente fica trancafiada em casa, olhando só pra criança, pra prancheta e pro computador, e começa a achar que dá pra ir buscar os filhos na escola de chinelo e sem pentear o cabelo. Eu tivera aquele plano lindo de vestidos de cintura marcada, mas me via todo dia com o mesmo moletom velho.

:(

A gota d'água foi ir ao supermercado com minha filha, eu vestida de mendigo, ela fazendo uma birra escalafobética porque estava entediada e o moço dos frios estava demorando vinte minutos para cortar 200g de queijo Prato, e aparece, linda, radiante, perfumada, uma das mães da escola, super simpática, e sempre impecável – aquele tipo que você quer muito odiar, porque ela tem tempo de lavar o cabelo e você não. Ela vem, conversa, e eu me sentindo um lixo, tentando impedir a pimpolha revoltada de escalar a prateleira de vinhos. Estrelinha para a mãe simpática que teve a classe de ignorar a birra e agir como se nada estivesse acontecendo. [Sério, você que não tem filhos, nunca, nunca olhe feio para uma mãe tentando conter a birra do filho em local público. Você simplesmente não sabe o que está de fato acontecendo, e a mãe já está se sentindo suficientemente mal sem precisar de olhares de julgamento sobre sua capacidade materna.]

Voltei para casa querendo chorar de raiva. Raiva de mim.

Então, num dia particularmente cansativo, marido chega em casa, liga o rádio e coloca Charles Aznavour. Eu sorri, contente pela delicadeza: ele sabe como gosto de Chanson Française e como esse tipo de música melhora meu humor. Ouço um "pirulim!" vindo do meu celular ao lado, de capinha roxa como um dia fora meu cabelo. Apanho o aparelho para pegar uma mensagem do wasapp e demoro um bocado a entender quando vejo uma imagem de uma confirmação de vôo.

Para Paris.

Amo meu marido, pois nos momentos em que mais preciso, ele sabe como me motivar novamente. Seja com um cafuné, minha cerveja favorita ou uma viagem para um dos lugares que mais quero conhecer na vida.

Comecei a pesquisar loucamente sobre Paris. Coisas pra fazer, para ver, para comer. E o que vestir. Porque no auge do cabelo roxo, eu estava na Itália. Em outra viagem de uma semaninha que marido usou para me resgatar das minhas nóias "Maternidade x Individualidade". E, de cabelo roxo, maquiagem feita, me sentindo estilosa mas meio cheinha (estava na primeira semana da gravidez e não sabia, inchada sem saber por quê), vem um velhinho e, ignorante do fato de que falo italiano, virou pro colega e me chamou de Medusa.

:(

Adoro acreditar que sou o tipo de pessoa que não se importa com a opinião dos outros. Mas eu me importo sim, e aquilo doeu. Então, sim, quis saber o que vestir. Não só para não fazer muito feio, mas porque não fazia ideia do clima de lá na época em que vou.

Acabei caindo em um monte de sites de moda, coisa em que não fuçava havia anos. Eu sempre curti dar uma fuçada em sites de moda e sempre gostei de maquiagem, razão pela qual ninguém da família entendia porque diabos eu andava tão porqueira. Mas no pós-filhos, todas as vezes em que tentei me inspirar nesses sites para me arrumar mais, foi uma frustração atrás da outra. Porque você via um look legal, e percebia que tinha todas as peças menos AQUELA jaqueta que era o que compunha tudo de um jeito fantástico. E a grana pra comprar aquela jaqueta? Quem tem? Eu não. Ou quando você tinha TODAS as peças necessárias para ficar fantástica como aquela foto, mas você então se dava conta de que a razão pela qual a foto era maravilhosa era o fato de a mocinha ali ter dez anos a menos e não ter nenhuma pelanca marcando na camiseta. Todo mundo sabe como isso é troncho e besta, mas como te pega de jeito em momentos em que você está mais insegura. E o pior era perceber que aos trinta e cinco anos eu ainda estava insegura feito meu eu-adolescente. Muito disso vinha do fato de que eu ainda não conseguia me enxergar com meus trinta e cinco anos.

Por isso amei a coisa toda do Parisian Chic, do minimalismo francês e do "capsule wardrobe". Que coisa genial. Finalmente parecia ter encontrado algo que casava minha falta de tempo para ficar pensando em roupa de manhã, minha muquiranice, minha falta de saco para comprar roupa, meu desejo de minimalismo e praticidade e minha vontade de voltar a sair por aí... bonita. Olhei meu guarda-roupa e me dei conta de que já metade dele era preto, branco, cinza e listrado: fácil de combinar. O problema é que havia tantas, tantas outras peças escalafobéticas, difíceis de combinar, velhas capengas, que a vida de manhã cedo andava difícil e eu acabava usando sempre a mesma porcaria fácil e confortável, mas velha e mal ajambrada.

Fiz a rapa nos livros, mas também fiz a rapa no guarda-roupa. Mandei embora uma quantidade absurda de coisas velhas ou que eu não usava, comprei três ou quatro blusas básicas, uma botinha e um tênis para substituir o velho rasgado que fora pro lixo, e reorganizei meu armário, maravilhada com a mudança. Agora tudo combinava, nada tinha cara de farrapo, e, principalmente, tudo vestia bem no meu corpo, mesmo ele ainda não estando do jeito que eu gostaria. Finalmente fui ao cabeleireiro e deixei lá uma aquarela e meia por uma hidratação e um corte perfeito [eu meço coisas caras em termos de quantas aquarelas preciso vender para pagar por aquilo].

E enquanto continuava a fuçar em coisas de Paris, caí num vlog de viagem da Chata de Galocha (de quem eu nunca ouvira falar, veja só como sou alienada com algumas coisas...) e adorei o jeito dela; identifiquei-me com muitas coisas pessoais suas. E ainda que não tenha me interessado muito pela parte da moda, pois acho que temos gostos diferentes e eu realmente gostei da ideia do minimalismo francês, dei-me conta de que eu já havia sido uma pessoa que se dava quinze minutos para passar um creminho, só pra ter aquela coisa gostosa de ir dormir com o cheirinho gostoso que você escolheu. Aquele cuidadinho com você. Aquele cuidado que eu tinha parado de ter nos últimos quatro anos, tão preocupada em cuidar dos outros.

Voltei a usar um creminho. A passar hidratantezinho especial pro rosto. A passar maquiagem antes de sair de casa. E de repente a vontade de correr voltou. Voltou forte o bastante para me forçar a sair e correr e treinar ANTES de cuidar de qualquer tarefa de casa ou de trabalho. Pois eu sempre fui muito responsável, e acreditava que precisava primeiro dar conta das obrigações, para então ter lazer. Nunca me dei conta de que bastava encarar a corrida e os cuidados comigo como uma tarefa tão prioritária quanto responder email de cliente ou lavar a louça.

E voltei a correr de manhã, junto com o cachorro. Coisa pouca por enquanto, 3,5km, que é a volta do muro do condomínio, com direito a duas ladeiras consideráveis. Volto para casa, e faço um treino bom de kettlebell, que sumiu com a corcunda de mãe, tem botado aquela pelanca no lugar e fez meus braços e pernas afinarem super rápido, além da maravilha que é simplesmente ficar mais forte (não grande, que kettlebell não incha músculo, mas FORTE): poder pegar um filho em cada braço sem morrer de dor nas costas, por exemplo, é lindo. Se sentir saudável novamente é fantástico.

De repente me olhei no espelho e pela primeira vez vi aquela pessoa de trinta e cinco anos na minha frente. Mas não era mais uma mulher cansada vestindo as roupas da faculdade. Eu realmente gostei do que vi. :)

Nunca pensei que essa viagem a Paris seria o empurrãozinho que me faltava para voltar a ser Ana Elisa. Busquei a mim mesma durante todos esses anos nas minhas atividades, tentando voltar a ser a Ana que lia, a Ana que trabalhava, a Ana que que ia a museus, a Ana que saía à noite com os amigos, e esqueci completamente que, antes de ser alguém que fazia coisas, eu era simplesmente alguém que precisava de um pouco de carinho de mim mesma, e que eu só precisava olhar no espelho e gostar de mim de novo. E gostando de mim, eu me permito relaxar mais, eu me cobro menos, eu me estresso menos com coisas bestas. Até com a bagunça da casa, veja só.

Claro que a pesquisa sobre Paris rendeu dezenas de anotações sobre lugares e coisas para comer no meu pequeno guiazinho azul. E minha curiosidade foi atiçada a tal ponto, que comecei a ter uma vontade louca de preparar pratos franceses.

Pato é com certeza uma carne bem comum na França, bem menos do que aqui no Brasil. O que é uma pena, pois acho uma delícia, e no que se refere às coxas e sobrecoxas, tão fácil de preparar quanto frango.

Os pimpolhos adoraram, e no dia seguinte o Matador de Dragões veio pedir pra comer pato de novo. As maçãs assadas, as cebolas, o molho, o purê de batatas bem amanteigado, tudo combina e se complementa de um jeito tão perfeito... você precisa colocar no garfo bocados com todos os elementos ao mesmo tempo. E a gordura do pato, que a receita manda retirar duas vezes durante o processo, eu guardei num pote na geladeira para dourar batatas alguns dias depois. Delícia. :D

Às vezes me pergunto se eu compartilho demais das minhas loucuras aqui. Mas então penso que pode ter outra mãe cansada se afundando em obrigações e que possa, de repente, querer um empurrãozinho para voltar a se cuidar também. Eu me enganava dizendo a mim mesma de que não precisava de nada disso. Tentei me enfiar pelas vias naturebas mais extremas, mas eventualmente a gente tem que dar o braço a torcer e admitir que é muito lindo e ecológico o conceito de usar vinagre e bicarbonato pra tudo, mas que eu curto mesmo é um cheirinho de lavanda, e que meu cabelo meio ondulado, meio cacheado, precisa sim de um creminho modelador de vez em quando, e que eu amei o modo como o bb cream tirou um 5 anos do meu rosto (nunca tinha usado nenhum tipo de base antes, e agora estou apaixonada por esse troço). ;) Eu acho que eu mereço algum cuidado, eu mereço um tempo para mim, eu mereço sentar e ler um livro ao invés de tirar pó dos móveis e eu com certeza mereço um jantarzinho de pato assado enquanto a viagem a Paris não chega.

PATO COM MAÇÃS E CEBOLAS
(Ligeiramente adaptado do ótimo Good Things to Eat, de Lucas Hollweg)
Rendimento: 4 porções

Ingredientes:

  • 4 cebolas bem pequenas, descascadas e cortadas em quartos
  • azeite de oliva
  • 4 pernas de pato (coxa e sobrecoxa juntas)
  • sal e pimenta-do-reino
  • 2 grandes galhos de alecrim fresco
  • 3 anis-estrelados
  • 1 pau de canela, quebrado ao meio
  • 4 maçãs, sem miolo e cortadas em quartos
  • 200ml vinho branco seco (usei um pouco de Calvados com água, pois não tinha o vinho na hora)
  • 1 colh. (sopa) mel


Preparo:

  1. Pré-aqueça o forno a 240ºC.
  2. Espalhe as ervas e especiarias em uma assadeira. Misture as cebolas com um pouco de azeite e disponha na assadeira, sobre as ervas. 
  3. Esfregue as pernas de pato com azeite e tempere generosamente com sal e pimenta. (Pode abusar um pouquinho do sal. Eu coloquei bem mais do que costumo usar na comida e mesmo assim havia partes mais internas da carne sem sal.)
  4. Disponha as pernas na assadeira e leve ao forno, imediatamente abaixando a temperatura para 180ºC. Cozinhe por trinta minutos.
  5. Regue o pato com a gordura que tiver se depositado na assadeira, então retire quase toda ela, deixando apenas 2 colh. (sopa), mais ou menos. Junte as maçãs, volte ao forno e cozinhe por mais 30 minutos.
  6. Retire a gordura novamente, deixando qualquer molho escuro ou meleca grudada na assadeira. Misture o vinho ao mel, junte à assadeira, raspando com uma espátula de madeira, para soltar qualquer coisa grudada no fundo que vá formar o molho. Volte ao forno por 15 minutos. 
  7. Cheque o tempero e sirva quente, regado de molho. Lucas Hollweg sugere acompanhar com purê de batatas, batatas assadas ou uma salada de agrião. Eu fui com o purê de batatas e acho que fui bem feliz na minha escolha.  

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Escondidinho de frango e mandioquinha e o relaxômetro

Os comentários do post anterior com certeza me encheram de alegria. É sempre bom saber da experiência de quem foi mais ou menos pelo caminho que tento trilhar  e que tem boas histórias para contar.

No mais, o "relaxômetro" anda atingindo níveis jamais vistos nessa casa nos últimos anos. Tanto, que até o pseudo-vegetarianismo anda mais "pseudo" que o normal.

Desde a gravidez da Madame Bochechas que ando encafifada com carnes, e tenho voltado a comer algumas, e com certeza tido vontade de preparar outras. No fim das contas, acho que todo mundo deveria ter uma fasesinha vegetariana na vida, por menor que seja. Mesmo que volte em definitivo a comer carne, esses últimos dez anos tornaram minha alimentação extremamente variada, leve e interessante, e certamente aprendi a cozinhar legumes direito. Mesmo que nunca mais volte a me auto-intitular "vegetariana", nunca mais conseguirei voltar ao hábito do bife no prato todo dia. Carne vira aquela coisa especial de vez em quando, ou apenas um ingrediente usado como tempero, para ressaltar o legume (caso do bacon, por exemplo).

Estranho que seja, mas uma das coisas que mais me deu vontade de voltar a comer carne foi assistir a programas de culinária em que a pessoa cria o bicho, mata ela mesma, limpa e aproveita cada pedacinho, do nariz ao rabo. Admiro isso. É o mínimo que se pode fazer, uma vez que você matou o animal: não desperdiçar absolutamente nada dele. Algumas preparações começaram a me apetecer muito, principalmente o aproveitamento das sobras, transformando em novos pratos, coisa que adoro fazer na minha cozinha com legumes e o que for. Sinto-me extremamente competente e me encho de satisfação quando consigo transformar um resto de ontem em algo mais saboroso que o prato original, sem desperdiçar coisa nenhuma.

Daí que pela primeira vez na vida, preparei um "escondidinho". Havia purê de mandioquinha do dia anterior, e um pote congelado de frango desfiado catado do frango assado que preparara há algumas semanas, e vi aquela oportunidade de um almoço gostoso para mim e para as crianças, aproveitando itens já prontos e que eu não queria simplesmente requentar.

Numa frigideira grande, refoguei em um naco de manteiga e um fio de azeite uma cebola picada, 2 dentes de alho picados, 1 cenoura pequena picada e 1 talo bem pequenininho de salsão, com as folhas também picadinhas. Quando tudo amoleceu e começou a dourar, juntei cerca de 2 xícaras de frango desfiado já descongelado, misturei, deixando cozinhar um pouco, acrescentei 2 tomates picados, um punhado de salsinha picadinha, sal e pimenta-do-reino. Deixei cozinhar um minutinho ou dois e juntei meia xícara de água. Deixei ferver, e reduzir, mexendo de vez em quando para não queimar, até que quase não houvesse nenhum líquido na panela. Provei. Faltava acidez, então acrescentei uma colher de sopa de vinagre de vinho tinto, misturei bem deixando evaporar, e transferi a mistura para uma travessa untada com azeite. Cobri com o purê de mandioquinha (cerca de 3 xic.) misturado a um pouco de creme de leite fresco até ficar com consistência boa para espalhar, um punhado de parmesão ralado, sal e pimenta-do-reino. Levei ao forno a 180ºC até dourar.

Ficou muito muito bom. Laura adorou. Thomas comeu só o purê. Marido nem soube da existência do escondidinho, uma vez que ele não come frango. Ficou bem escondido mesmo. ;) (Piada infame.)

Provavelmente aparecerão mais coisinhas carnívoras por aqui de vez em quando. Principalmente assados, coisa que sempre quis fazer. Um dado curioso, no entanto, é que de todas as carnes que provei depois de tanto tempo pseudo-vegetariana, de fato carne de boi é a que me nos gosto. Aliás, não gosto mesmo. Comi num hambúrguer e achei esquisitíssima. Engraçado perceber como eu comia dela por puro hábito quando nova. Gosto de aves. Adorei pato, que provei no meu aniversário do ano passado, pela primeira vez. Mas porco... ah, porco é a razão pela qual acho que nunca consegui ser totalmente vegetariana.

Aos vegetarianos que me leem, não se desesperem: continuo me sentindo melhor comendo uma dieta vegetariana em 90% das refeições. Carne é gostosa mas me pesa um bocado. E quero os pimpolhos com certeza crescendo sabendo que legumes bastam e que o bichinho no prato é ocasião especial.

Mas apesar de não gostar de carne bovina, tem uma coisa que eu simplesmente preciso fazer só pela técnica, e que provavelmente vou experimentar e chamar amigos carnívoros para raspar a panela por mim (já tenho gente na fila, aliás): boeuf bourguignon. Vá, vocês me entendem. Depois de tanto alarde a respeito nos últimos anos desde o fenômeno Julie & Julia, acho que só os vegetarianos mesmo é que não tentaram isso em casa. ;)

[Obs: juro que este ano vou tentar voltar a escrever mais por aqui, que sei que os últimos anos esse blog ficou às moscas.]
[Obs2: o mais engraçado de voltar a comer carne é a felicidade incontida dos seus amigos carnívoros quando você conta isso a eles.]


Cozinhe isso também!

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