quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Gordices e bolo de chocolate e manteiga de amendoim (sem farinha)

É claro que os quilos de morango orgânico que saí comprando feito uma louca varrida viraram sorvete. Hmmmm... delicioso sorvete de morango. Morango, creme de leite bem gordo e açúcar. Ninguém vai me convencer de que há algo melhor no mundo.

No entanto, minha cabeça cheia de gordices estava alucinadamente buscando algo achocolatado para combinar com o sorvete refrescante. Fui direto na minha bíblia de tudo o que é de chocolate, o livro da minha diva da confeitaria, Alice Medrich: Bittersweet. Fuça, fuça, fuça, dei de cara com uma de suas inúmeras variações do bolo "Rainha de Sabá", que levava manteiga de amendoim e pedia para ser servido com sorvete de creme e calda de morango. Há!, esquece o sorvete de creme e a calda de morango, junta tudo numa coisa só e esse bolo ficará ótimo com meu adorado sorvetinho que me aguarda no freezer.

Dito e feito.

O bolo é fácil, delicioso, e, de fato, como diz Alice no livro, parece um desastre "inservível" depois que desinfla, como um soufflé fracassado. Mas é tão bom... Não imaginei que tão pouca manteiga de amendoim contribuísse de forma significativa no sabor do bolo, mas você pode sim senti-la galgando seu lugar ao sol em meio ao chocolate. Se você não é fã de um bolo com textura tão "mousse", basta guardá-lo na geladeira para que fique mais firme e não menos gostoso.

E para quem sempre me pede receitas sem glúten, esse bolo não leva nem um grama de farinha. :)

Quando uma menina que estava ao meu lado outro dia recusou-se a tomar um sorvete porque tinha X número de calorias e ai dela que não queria engordar um grama, pensei com meus botões se seria sábio de minha parte dividir com ela que não só eu fazia questão de que meus sorvetes tivessem muita gordura, como eu ainda inventara de fazer bolo de chocolate para acompanhar.

Resolvi deixar quieto, uma vez que esse tipo de pessoa ainda não entendeu que não é o leite integral no bolo que a faz engordar, mas o fato de ela comer o bolo inteiro sozinha. :P

BOLO DE CHOCOLATE E MANTEIGA DE AMENDOIM (sem farinha)
(do livro Bittersweet, de Alice Medrich)
Tempo de preparo:  35-40 minutos
Rendimento: 12-14 porções comedidas

Ingredientes:
  • 115g chocolate meio-amargo, picado (usei 60% de cacau)
  • 1/2 xic. açúcar cristal orgânico
  • 2 colh. (sopa) manteiga de amendoim natural*
  • 1/8 colh. (chá) sal
  • 6 colh. (sopa) de manteiga sem sal em pedaços, ligeiramente amolecida
  • 4 ovos grandes, tirados direto da geladeira
  • 1 colh. (sopa) de Bourbon ou Whiskey (usei rum escuro)
  • 1 colh. (chá) extrato de baunilha
*Para fazer manteiga de amendoim natural em casa, apenas bata no processador de alimentos amendoins sem pele e torrados sem sal até que se transformem numa pasta, em alguns minutos. Transfira para um pote bem fechado e mantenha na geladeira. Caso a manteiga se separe (óleo de amendoim fique na parte de cima), basta misturar novamente com uma colher antes de usar. Fonte: Joy The Baker

Preparo:
  1. Posicione a grade na parte mais baixa do forno e pré-aqueça a 180ºC (parece estranho não assar o bolo no meio do forno, mas acredite na receita). Escolha uma forma de fundo falso ou de mola de 20cm de diâmetro por uns 7,5cm de altura. Se não pretende servir direto no fundo de metal da forma, forre esse fundo com papel-manteiga. Não é preciso untar a forma.
  2. Aqueça o chocolate em banho-maria até que esteja quase totalmente derretido. Remova do fogo e mexa com uma espátula para terminar de derretê-lo e transfira para a tigela da batedeira. (Se a tigela da sua batedeira for de metal, coloque-a direto em banho-maria, como eu fiz, evitando sujar uma tigela extra.)
  3. Junte o açúcar, a manteiga de amendoim e o sal ao chocolate, e bata por alguns segundos em velocidade baixa, com o batedor de arame de batedeira, só para misturar.
  4. Junte a manteiga e bata em velocidade média, até que esteja cremoso e homogêneo.  
  5. Junte os ovos, um a um, batendo em velocidade média-alta, por cerca de 2-3 minutos, até que a massa esteja clarinha e muito leve, com consistência de cobertura amanteigada de bolo. 
  6. Transfira para a forma, espalhando com uma espátula e alisando a superfície tanto quanto possível, e leve ao forno por 25-30 minutos, ou até que um palito inserido a 5cm da borda da forma saia limpo, e inserido no centro do bolo saia ainda com gruminhos de massa grudados. 
  7. Retire do forno e coloque em uma grade para esfriar, período durante o qual o bolo vai desinflar completamente e desgrudar das laterais da forma.
  8. Para desenformar, passe uma faquinha na lateral da forma para terminar de soltar o bolo. Inverta-o numa grade, retire o papel-manteiga e inverta-o novamente num prato de servir. Polvilhe com açúcar de confeiteiro, se quiser. O bolo frio pode ser coberto por filme plástico até a hora de servir ou desenformado, embrulhado em filme plástico e conservado em temperatura ambiente por 3 dias ou congelado por 3 meses. Para descongelar, basta desembrulhar e deixar voltar à temperatura ambiente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Padaria de quinta-feira: Pão de forma com quinua (ou sem)

Foi por culpa da Fer que corri atrás dos livros da Tessa Kiros. Como ela, fico completamente encantada pelo resultado fenomenal de suas receitas enganosamente simples, pelas fotografias, pela delicadeza da edição. Quando comprei o Apples for Jam, no entanto, tive medo de ter me empolgado demais e ter levado para casa um livro talvez... básico demais. Mas é sempre bom dar uma chance, às vezes duas, a alguém, e o livro se revelou ao longo do tempo uma excelente aquisição. A primeira receita que testei foi para dar fim a alguns damascos importados e sem graça que eu tinha em casa. Nada melhora frutas meio sem gosto como cozinhá-las, e o Apricot Sauce me fez querer comprar mais damascos sem graça para comer aquele purezinho doce e alaranjado pelo resto da vida. Então foi a vez do iogurte com mel, canela, pecans e romã. E o delicioso "pão-soufflé" de vagens. E a focaccia. E tantas outras coisas.

Até chegar a esse pão de forma.

Sempre fico ligeiramente irritada com pães de forma feitos sem a tampa, quando suas laterais ficam lindas, douradas e apetitosas e a parte de cima, mesmo pincelando com ovo, parece não acompanhar aquele delicioso tom castanho. Não é o caso deste. O ovo, a manteiga e a bela quantidade de leite na receita tornam a massa bastante propícia a dourar lindamente sem ajuda nenhuma. E o miolo fica muito muito macio, e com um fantástico perfume amanteigado. A casca fica apenas ligeiramente crocante.

Não apenas isso, ele é FÁCIL de fazer. A massa é um nadinha grudenta, e por isso você a sova dentro da própria tigela [portanto escolha uma tigela bem grande], e mesmo sovando com uma só mão, do modo mais mequetrefe e desleixado do mundo, depois de dez minutos ela de fato fica mais macia, elástica e começa a desgrudar dos dedos. E como cresce, a danada! Portanto, se sua casa estiver beirando os 30ºC durante o verão (como acontece com a minha), use o leite em temperatura ambiente, ou mesmo gelado, para retardar um pouco a fermentação.

Quando resolvi preparar esse pão, estava um pouco atarantada na cozinha. Tinha muito trabalho para entregar, uma reunião no fim do dia, mas estava decidida a comer pão caseiro na manhã seguinte. Sabia que a massa não me roubaria mais do que 15 minutos de mistura, sova e molde, o que me fez sentir menos irresponsável enquanto ouvia o som tilintante de aviso de recebimento de emails que meu computador emitia a alguns metros de distância.

No entanto, faltando 2/3 de xícara de farinha para pães... bem, faltaram 2/3 de xícara de farinha para pães. O pote estava vazio, assim como o de farinha branca comum. Pensei no que fazer. Não tinha tempo para ir ao mercado. O pão não seria branco, então. E ao observar minha seleção de farinhas, foi a de quinua que escolhi. Por um momento temi que a massa sofresse pela falta de glúten da quinua, mas 1 hora e meia depois, ao ver o tamanho da massa crescida, joguei as preocupações para o alto.

O pão ficou ótimo, com um gosto bastante acentuado de quinua. Caso você ache a quinua muito forte, use apenas 1/3 de xícara, ou substitua esses 2/3 de xícara pela farinha que quiser, pois estou chegando à conclusão que essa é uma receita que aceita muitas variações. Segundo Tessa, você pode moldar a massa em vários pãezinhos, também, se quiser.

Alguns dias depois, o pão desaparecera da cozinha. Então, já munida de farinha tipo 1 orgânica (minha favorita para pães), resolvi fazer a receita original, sem mudar nada. Nham! Delícia!


PÃO COM QUINUA (ou não)
(ligeiramente adaptado do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 3h30
Rendimento: 1 pão de forma grande

Ingredientes:
  • 1 xic. de leite integral morno (não deixe passar de 60ºC)
  • 1 tablete de 15g de fermento fresco
  • 1 colh. (chá) mel
  • 3 xic. farinha de trigo para pães ou orgânica (ou 3 2/3 xic. para a receita original, omitindo a quinua)
  • 2/3 xic. farinha de quinua orgânica
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 ovo, ligeiramente batido
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida

Preparo:
  1. Coloque o leite, o mel e o fermento numa tigela grande, misture até o mel derreter e deixe fermentar por 5-10 minutos. Junte o ovo e a manteiga e misture bem.
  2. Junte as farinhas e o sal e misture até formar uma massa grudenta. Então com as mãos ligeiramente enfarinhadas, sove a massa por aproximadamente 10 minutos, dentro da própria tigela, até que ela pareça mais uniforme e elática, não necessariamente deixando de grudar nos dedos. Resista à tentação de adicionar mais farinha. 
  3. Forme uma bola, cubra a tigela com um pano de prato, e deixe em local morno e sem vento  (cerca de 21ºC, longe do sol direto) por 1h30 a 2h, até que a massa tenha dobrado de tamanho e seu dedo levemente pressionado na massa deixe uma marca que não volta para o lugar. 
  4. Unte ligeiramente uma forma de pão com manteiga e enfarinhe. Afunde a massa com o punho, forme uma bola novamente e então molde no formato da forma. Coloque a massa lá dentro, com a superfície mais lisa para cima, cubra com um pano e deixe fermentar novamente, por 40-60 minutos, ou até que a massa ultrapasse a borda da forma e seu dedo levemente pressionado nela deixe uma marca que volte lentamente para o lugar. Se a marca sumir imediatamente, deixe mais 10-15 minutos. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 190ºC. 
  5. Asse o pão por 25 minutos ou até que esteja castanho em cima e emita um som oco ao bater na parte de baixo com os nós dos dedos. Se o pão não estiver pronto, volte-o para forma e asse mais um pouco. Retire do forno, remova da forma e deixe esfriar sobre uma grade. Quando completamente frio, guarde-o em um saco ou pote bem fechado, em local fresco e longe do sol e consuma em poucos dias.

Cozinhe isso também!

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