sexta-feira, 16 de outubro de 2009

UMA SEXTA FEIRA FRUGAL 5: Camarões com feijão fradinho e salsão congelado

Meu marido detesta camarão. Minha teoria é de que é por falta de hábito, uma vez que sua irmã é altamente alérgica. Sabendo que seria uma refeição única e solitária, então, fui à feira, olhei para a senhora que atendia atrás dos bandejões de camarões de diferentes tamanhos, apontei para o escolhido e disse:

"Quero um pouquinho desse aqui."
"Um pouquinho? Quão pouquinho??"
"Tipo assim", expliquei, colocando as duas mãos em uma concha encolhidinha. "É só para mim, e não quero que estrague."
"Assim tá bom?", perguntou, meio desconfiada, ao colocar na bandejinha um punhadinho bem pequeno.
"Perfeito!"
"Mas é tão pouquinho..."

Eu nunca havia preparado camarão antes. Comer? Opa! Adoro camarão! Mas quando estava limitada ao tamanho (e preço) monstro das bandejas pré-pesadas de supermercado, camarão era algo fora de meu alcance. Principalmente sem ter com quem comê-los.

Esse foi meu almoço solitário. Talvez pelo fato da revista Gourmet ter fechado suas portas [um minuto de silêncio, por favor], eu ando fuçando mais nelas em busca de inspiração, o que me deixa ainda mais deprimida por saber que o número de outubro foi provavelmente o último a chegar na minha casa, apesar da minha assinatura ir até dezembro... :(

E tendo preparado feijão fradinho, adorei a ideia de combiná-los aos camarões. Acabei adaptando um pouco, omitindo as cenouras e o bacon, usando pimenta fresca ao invés de seca e usando pimentão vermelho no lugar do verde. Mas ficou delicioso mesmo assim. O caldinho que ficou no fundo me deixou muito na dúvida: não sabia se bebia, entornando o potinho ou se embebia um pãozinho nele. :)

Para uma porção, aqueci uma colher de azeite numa frigideira média e refoguei 1/2 dente de alho pequeno, 1/2 pimenta dedo-de-moça picada, 3 cebolinhas picadas, 1/4 xíc. de pimentão vermelho picado, 1/4 xic. salsão picado, 1 folha de louro, 1/2 colh. (chá) tomilho seco, sal e pimenta-do-reino. Cozinhei até que começassem a dourar. Então juntei 1 xic. do feijão fradinho com seu caldo de cozimento, abaixei o fogo, acertei o tempero e cozinhei em fogo brando por mais 5 minutos. Enquanto isso, aqueci mais um pouco de azeite em outra frigideira e juntei a outra metade de alho picado e um punhado de camarão limpo e sem casca, temperado com sal e pimenta-do-reino, cozinhando por uns 3 minutos em fogo médio-alto, até que estivessem opacos. Juntei tudo na tigelinha e nham!

A DICA FRUGAL: SALSÃO/AIPO CONGELADO
Salsão sempre vem naqueles maços imensos, que, a menos que você o coloque em tudo que cozinha, acaba ficando molenga na geladeira e estragando. Compre-o, lave-o, retire as folhas. Separe o coração do aipo, com as folhas verde-claras e pequenas, para saladas, pois essa é a melhor parte do salsão. O restante, pique. Ou tudo de um tamanho que você use sempre, ou metade em pedaços grosseiros, para cozidos, metade miúdo, para refogar com cebola. Ferva água em uma panela grande, e tenha uma tigela também grande ao lado, com água e cubos de gelo. Jogue o salsão picado na panela e ferva por 1 minuto. Então retire com uma escumadeira e jogue na tigela de água gelada, para parar o cozimento. Escorra bem e espalhe em uma camada só o salsão sobre uma assadeira que caiba no seu freezer. Os pedaços não devem ficar grudadinhos uns nos outros, ou eles congelarão grudados. Leve ao freezer por algumas horas. Quando estiverem bem congelados, passe-os para um saquinho ou tupperware e volte-o ao freezer. O branqueamento (fervura e água gelada) faz com que o salsão não perca sua textura crocante com o congelamento. E o congelamento individual faz com que os pedacinhos permaneçam soltos dentro do saquinho depois, deixando mais fácil a tarefa de retirar apenas a porção necessária. Claro, deixe os pedaços maiores num saco e os miudinhos em outro. Fazendo isso, se você for uma consumidora de salsão não muito voraz como eu, precisará comprar salsão uma vez a cada três ou quatro meses, e poderá usá-lo sempre que quiser.

Honey-glazed corn bread de um livro esquecido

Há muito tempo atrás, quando postei uma receita de corn bread, um pão rápido de milho típico do sul dos Estados Unidos, houve quem me massacrasse, dizendo que aquilo não era pão coisa nenhuma, que tinha ficado com textura de bolo, etc e tal. Aaaah, as barreiras da língua... O corn bread, normalmente consumido com outros pratos salgados, está mais para um muffin em textura e preparo do que para um pão. Assim como sua versão doce se parece mais com um bolo de fubá. Acontece que existe toda uma categoria de "quick breads", que ao meu ver ficam naquele meio termo, não tão doces para serem bolos, não tão massudos para sarem pães, geralmente feitos em uma tigela, com colher de pau, e comidos no café-da-manhã, que não temos por aqui. Bolo é bolo, pão é pão.

Então pensem nesse "pão de milho" como um bolinho de fubá muito úmido e com um delicioso equilíbrio entre o sal e o açúcar, excelente para acompanhar o café preto, para ser comido puro ou fatiado mais fino, tostado na torradeira e recoberto de requeijão, como fiz hoje de manhã. Aliás, para quem não costuma gostar de bolos de fubá e pães de milho por eles ficarem muitas vezes sequinhos demais, esse vai conquistá-los, uma vez que, saído do forno, o corn bread é ensopado em uma calda de manteiga e mel que o deixa úmido e macio por muitos dias.

Engraçado que a receita veio de outro livro que andava encostado havia muito muito tempo. Nunca preparara nada dele, principalmente porque, apesar de ter receitas muito interessantes, tanto complexas quanto simples, as fotos são de doer. Parecem ter sido tiradas nos anos 80, e conseguem fazer biscoitos de aveia parecerem ultra-complexos e difíceis. O livro acabou ficando na parte de trás da prateleira, esquecido, apesar de todas as receitas de brownies, flans, cheesecakes, muffins e biscoitos que me esperavam. Ironicamente, a foto deste corn bread é uma das únicas mais simples e contemporâneas do livro. Talvez por isso tenha ido direto a ela.

HONEY-GLAZED CORN BREAD
(do livro Desserts by the Yard, de Sherry Yard)
Tempo de preparo: 50 minutos
Rendimento: 1 assadeira de 22x33cm


Ingredientes:
  • 1 xic. farinha de milho (fina ou polenta/sêmola de milho)
  • 1 xic. farinha de trigo comum
  • 1 xic. farinha de trigo para bolos (cake flour)
  • 1 xic. açúcar
  • 2 colh. (sopa) fermento químico em pó
  • 1 1/2 colh. (chá) sal
  • 4 ovos grandes, em temperatura ambiente
  • 85g manteiga sem sal
  • 1/3 xic. óleo vegetal
  • 1 xic. leite
  • 1/2 xic. buttermilk
(calda)
  • 85g manteiga sem sal
  • 1/4 xic. mel
  • 1/3 xic. água

OBS: substitua a "cake flour" pela mesma quantidade de farinha comum; retire 1 1/2 colh. (chá) da farinha e substitua pela mesma quantidade de amido de milho (maizena). Mais informações sobre a cake flour e sua substituição aqui.
OBS2: substitua o buttermilk, enchendo a 1/2 xíc. com leite, deixando uns 2mm de espaço até a marcação. Preencha o restante com vinagre branco, misture bem e use normalmente.
OBS3: você pode usar azeite extra-virgem no lugar do óleo vegetal, mas o bolo terá um sabor ligeiramente pronunciado do mesmo. Eu usei metade canola, metade azeite, pois meu óleo de canola acabou, e ficou muito gostoso.
OBS4: tanto faz usar farinha de milho fina, ou cornmeal, sêmola de milho ou polenta (bramata). A diferença é que os três últimos dão uma textura mais granulosa e interessante ao bolo. Usei metade farinha de milho fina e metade polenta.


Preparo:
  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC. Forre uma assadeira de 22x33cm com papel alumínio e unte o papel alumínio com manteiga.
  2. Peneire juntos as farinhas, o fermento, açúcar e sal. Peneire novamente.
  3. Em outra tigela, bata ligeiramente os ovos com um batedor de arame ou um garfo. Derreta a manteiga e junte imediatamente aos ovos, num fio devagar, enquanto mistura bem. Junte o óleo, leite e buttermilk.
  4. Junte os ingredientes secos à tigela, misturando apenas até que estejam combinados. Despeje na assadeira forrada e untada e leve ao forno por 30 minutos.
  5. Abra o forno, gire a assadeira 180ºC, feche e asse por mais 10 minutos, ou até que um palito inserido no centro saia limpo. Meu corn bread não dourou por cima, apesar de estar muito bem assado, enquanto os da foto do livro estavam bem douradinhos. Então, tanto faz. Se estiver seco, está bom.
  6. Retire do forno e espete o palito no corn bread, num intervalo de uns 2cm. Derreta a manteiga numa panelinha. Junte o mel e a água e mexa até dissolver. Despeje a calda sobre o corn bread, de modo uniforme, para que todo ele absorva o líquido. Deixe esfriar completamente antes de desenformar e corte em cubos.

Cozinhe isso também!

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