terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O melhor sorvete de uva do mundo


Está bem, talvez seja um exagero. Mas por unanimidade foi votado aqui em casa o melhor sorvete de uva que Allex e eu já comemos. Muito provavelmente isso tenha a ver com o fato de ser feito... ahn... de uva. De verdade. E na época certa, o que faz com que ela esteja já incrivelmente doce e saborosa.

Há já alguns anos que esperamos ansiosamente pelo mês de fevereiro para encontrar daquela uva pretinha, redonda e doce que parece só existir nessa época. Tudo começou quando fomos passar as férias na casa de um amigo que mora próximo ao balneário de Camboriú, em Santa Catarina. Passeando por uma praia qualquer, resolvemos parar em um quiosque para tomar um suco, e enquanto todos pediam os básicos laranja, limão e abacaxi, um amigo levantou o dedo e pediu um suco de uva.

"Uva?? Mas suco de uva nunca é fresco!", reclamamos todos em uníssono, ao que ele respondeu dando de ombros. Os sucos chegaram, e ao primeiro gole o dono do suco de uva deu um berro.

"Meu Deus! O que é que é isso?? Que maravilha de suco!"
"Ah, vá, só porque tiramos com a sua cara...", provocamos, conhecendo-o o suficiente para saber que ele só poderia estar brincando.
"Sério! Mesmo! Experimenta aê!"

Passamos o copo de um para o outro e todos tiveram exatamente a mesma reação. Era suco de uva fresquinha, de um jeito que nunca havíamos experimentado antes, tão acostumados a suco concentrado ou de caixinha. "Um choque no cérebro", como disse nosso amigo. Não tivemos dúvida. Com nossos sucos ainda pela metade, pedimos também suco de uva. E quando acabamos, pedimos outro. E pediríamos o terceiro, se o dono do quiosque não tivesse vindo à mesa avisar que a uva havia acabado.

"Meu Deus! Que uva é essa? Precisamos fazer esse suco em casa!"
"Ah, só dá agora em fevereiro. Eu compro lá em Joinville...", explicou o senhor do quiosque. Infelizmente, no ano seguinte, quando nossos amigos voltaram ao quiosque, ele havia sido vendido e o novo dono não se dava mais ao trabalho de comprar frutas frescas.

Desde então, chega fevereiro e eu saio maluca vigiando todas as bancas de feira e supermercados atrás de alguma uva pretinha e redonda com a promessa de um suco tão doce. Como não tenho o nome da bendita, no entanto, fui indo na tentativa e erro, até descobrir que a uva mais parecida com aquela era a Isabel. Quando vi a bandejinha baratinha no supermercado esses dias, não tive dúvida e levei para casa. Mas nesse calorão, achei que seria uma ótima oportunidade para testar uma receita de sorvete simplíssima de Marcella Hazan, do livro Fundamentos da Cozinha Italiana Clássica. Não podia ter tomado melhor decisão.

Para fazer o sorvete, no entanto, você precisa de um passa-verdura. Só esse processador manual é que consegue arrancar a polpa das uvas e triturar-lhes parte da casca, mantendo, no entanto, as sementes intactas e separadas. Batendo no liqüidificador, você tritura as sementes e elas liberam um gosto adstringente desagradável. Talvez seja possível amassá-las contra uma peneira, mas acho que daria um trabalho fenomenal e espirraria suco cor-de-beterraba em toda a sua roupa. E suco de uva mancha que é uma beleza.

Para fazer o gelato de uvas pretas, lave as uvas Isabel (450-500g) e tire-as dos cabinhos. Coloque 2/3 xíc. de açúcar cristal orgânico e 1/2 xíc. de água em uma panela e leve ao fogo médio até que o açúcar esteja dissolvido. Coloque esse xarope ralo em uma tigela grande, apóie o passa-verdura (com o disco dos furos maiores) e triture as uvas, deixando que sua polpa caia sobre o xarope de açúcar. Recolha qualquer semente que tenha passado, e misture bem, deixando esfriar completamente. Então bata 1/4 de xíc. creme de leite fresco até quase o ponto de chantilly e adicione à mistura de uva, misturando bem. Apesar de não constar na receita, eu acrescentei uma pitada de sal. Leve à geladeira para resfriar um pouco e congele na sorveteira como ensina o fabricante.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sexta-feira de pizzoccheri

Costumava precisar de massa para viver. Não sabe o que almoçar? Massa. Está com pressa? Massa. Muito criativa/nada criativa? Massa. Por isso surpreendi-me com a mudança de hábitos quando o macarrão foi banido da minha vida (temporariamente) pela nutri. Subitamente aquela caixa de fusilli começou a parecer não ter mais fim. A massa de todo dia foi trocada por feijões de vários tipos e uma infinidade de grãos integrais. A única exceção é sexta-feira à noite. Como tenho treino longo de corrida na manhã seguinte, o macarrão não apenas é permitido, como obrigatório. No fim das contas, é um hábito que pretendo levar para sempre, pois meu lado metódico gostou e muito de tornar sexta-feira o "dia do macarrão" em casa.

Claro que a nutri tinha em mente uma massinha com molhinho de tomate, bem levinho. Mas não tenho pudores em admitir que minha noite de massa é uma enfiada de pé na jaca. Quer queijo? Bota queijo. Quer manteiga? Taca manteiga. Quem se importa? Vou correr 12km no dia seguinte; tenho certeza que será tudo bem gasto.

Nesta sexta-feira, pude enfim preparar um de meus pratos favoritos: pizzoccheri. Já escrevi sobre ele por aqui. Havia muito tempo queria prepará-lo de novo, e o fato de meus sogros, retornados da Itália, terem nos presenteado com uma caixa de meio quilo da massa foi um sinal dos deuses.

Pena que nunca vi pizzoccheri para vender por aqui, nem em seções de importados. Mas se houver farinha de sarraceno no seu supermercado, não se acanhe em produzir sua própria massa. Vale cada minuto de trabalho. Esta receita com batatas, queijo e repolho, que pode ser tanto o branco quanto o crespo, mais verdinho, é a mais tradicional. Mas ele fica delicioso com abóbora e radicchio, e de outras inúmeras formas. É uma ótima massa para ir ao forno, pois é bem firme e não desmancha fácil, e seu sabor combina muito bem com queijos amarelos fortes e verduras amargas.

Enfim, só quero deixar claro que pizzoccheri é aparentemente "infotografável". Tinha esperanças de tirar uma foto à altura do prato para compensar a imagem horrorosa do primeiro post, mas não teve jeito. :P

Cozinhe isso também!

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