segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Spätzle Grundrezept (alguém sabe pronunciar isso???)

Alemães adoram natal. Tanto, que eles dão um jeito de comemorar mais de uma vez. Aprendi sobre os domingos de advento com a família luterana de meu marido. Nos quatro domingos anteriores ao natal, acendem-se as velas do Adventskranz, uma por uma, simbolizando a chegada de luz na sua vida. [O nosso ganhamos dos meus sogros quando nos mudamos — a foto é velha, de quando as velas ainda estavam novas.] Apesar de não ser parte da minha religião, acho bonito e acho importante manter esse tipo de tradição, principalmente pensando nos pimpolhos por vir.


Já que o domingo seria já "temático", perguntei ao Allex se ele queria que eu preparasse algo alemão para o almoço. Achei que ele titubearia, mas sua resposta estava na ponta da língua: "Spätzle!", que ele comia sempre quando criança, tomando bronca por cobrir o Spätzle de mostarda escura.

Lá fui eu à feira comprar batatas. Porque, por algum motivo, em minha cabeça, Spätzle levavam batatas. Já que estava por lá mesmo, comprei repolho para fazer Sauerkraut. Afinal, quão difícil podia ser fazer Sauerkraut?

Pausa para os descendentes de alemães pararem de rir da minha cara.

Chegou o domingo, e hora de fazer o almoço. No entanto, eu acordara cedo àquele dia para participar de uma prova de 10km. Fiz meu melhor tempo até hoje (56'06"), e por isso cheguei em casa exausta.

"Chuchu? Pode ser jantar de advento, ao invés de almoço de advento?"

Pausa para todo mundo parar de rir da minha cara por eu chamá-lo de "chuchu". Começou como piada e acabou pegando. Vou fazer o quê? Amar é... chamar seu marido de apelidos humilhantes. E cozinhar comida alemã.

Lá pelas quatro horas da tarde, quando finalmente cansara de descansar, resolvi apanhar o livro de cozinha alemã e fazer o Sauerkraut. No entanto, a única receita existente era a tradicional, em que se deixa o repolho fermentando por dias a fio. Eu tinha certeza de que existia uma versão mais moderninha, e, sem querer passar sem o prato de que também gosto, saí à caça de receitas.

No fim das contas, encontrei a mesma receita em vários sites e blogs diferentes, todos sem menção de fonte, o que me deixou muito irritada. Não dá nem prá saber quem roubou a receita de quem primeiro. Mas ladrão que rouba ladrão... Bem... logo entendi os estranhos ingredientes. Obviamente a farinha, o sour cream e o vinagre ajudariam a fingir a consistência cremosa e o sabor ácido do verdadeiro Sauerkraut. Ok, ok, não era perfeito, mas seria uma boa experiência. Preparei 1/4 da receita, que me pareceu mais do que suficiente, e ajustei os temperos para coisas mais tradicionais, eliminando coisas como cravo e gengibre e usando bagas de zimbro e louro. O resultado ficou muito gostoso. Como "repolho cozido com molho". Não como Sauerkraut. Como disse meu marido, chamar aquilo de Sauerkraut seria como colocar Catupiry no tiramisù.

Então chegou a hora do Spätzle. Pego a receita. Farinha, ovo, sal, noz moscada e água.

"Cadê as batatas?"
"Não vai batata?"
"Não, não vai."
"Eu jurava que ia batata."
"Pois é, eu também. O que que eu vou fazer com as batatas, agora?"
"Batata cozida com mostarda escura."
"Spätzle com batatas? Minha nutricionista vai ter um colapso nervoso..."

Botei as batatas para cozinhar e comecei os Spätzle. A pouca familiaridade com o prato que eu comera não mais que 8 vezes em minha vida me fez sentir um pouco mais intimidada do que o necessário. No fim das contas, porém, ele é incrivelmente fácil. Em pouco tempo, peguei o jeitinho de raspar a massa melequenta para dentro da água fervente. Apanhei os Spätzle que estavam prontos com uma escumadeira, passei em baixo de água fria e escorri. Depois, reaqueci-os em um bom punhado de manteiga, até que ficassem dourados, acertei o sal e servi, com o Sauerkraut fajuto, as batatas cozidas e muita mostarda escura alemã. Só faltou uma Erdinger para acompanhar.

"Então é fácil fazer Spätzle?"
"Sim, muito fácil."
"Ah, então vai ter que fazer sempre."
"Sem problemas, mas quero achar algum prato de legumes alemão para acompanhar. Porque com batatas não vai."
"Mas legume alemão é isso: batata e repolho."
"Não é possível. A Alemanha fica do lado da Itália. Como é que pode ter tanta salada num país e nada no outro???"
"Batata e repolho."
"Não acredito. Vou pesquisar."
"Boa sorte... hehehe..."
[Piada feita por um descendente de alemães e austríacos; eu não tenho nada a ver com isso! heheh...]

SPÄTZLE GRUNDREZEPT (ou "receita básica de Spätzle")
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 2 porções como principal, 3 como acompanhamento

Ingredientes:
  • 200g de farinha de trigo
  • 2 ovos extra-grandes
  • 100ml de água
  • 1/4 colh. (chá) sal
  • noz moscada a gosto
  • 2 colh. (sopa) manteiga para a frigideira
Preparo:
  1. Misture numa tigela a farinha, os ovos, o sal, a noz moscada e a água e mexa vigorosamente com uma colher de pau até obter uma massa com cara de massa grossa de panqueca e ela começar a produzir bolhas de ar. Deixe descansar por 10 minutos e bata novamente.
  2. Coloque bastante água para ferver em uma panela larga. Molhe uma tábua de madeira e despeje 1/3 da massa sobre ela, alisando com uma espátula de metal molhada para que fique com uma espessura mais fina. Segure a tábua sobre a panela e, com a espátula molhada, raspe filetes de 0,5cm de largura em direção à água fervente. Quando os filetes subirem à superfície, estão cozidos. Retire com uma escumadeira, passe sob água fria para parar o cozimento e deixe escorrer numa peneira ou algo parecido. Repita o processo até acabar a massa.
  3. Derreta a manteiga numa frigideira grande e derrame os Spätzle escorridos nela. Mexa com cuidado, para recobrir toda a massa com a manteiga e cozinhe em fogo médio-baixo até que esteja quente novamente e ligeiramente dourado, com casquinhas secas e quebradiças em volta. Sirva imediatamente.

domingo, 30 de novembro de 2008

PADARIA DE DOMINGO 28: Pão de leite


Um dia, ah! um dia eu alcanço meu sonho de auto-suficiência.

Minhas neuroses não são à toa. Elas vêm de algum lugar. Quando era criança, tínhamos uma chácara no interior de São Paulo. Lá meu pai exercitava seu lado "a sociedade que se lasque, eu me viro sozinho", e colocava a mão na massa para construir um lugar onde não precisássemos de nada nem ninguém de fora. Tudo o que ele fez, dos terraços no terreno em declive, à plantação das parreiras e do milharal, passando pelo galinheiro amplo, foi feito seguindo uma coleção de livros da época, que tinha como subtítulo, se não me engano, "guia da auto-suficiência".

De fato, aqueles livros ensinavam de tudo: da construção de um forno de pizza à criação de cavalos puro-sangue. Mas o que mais me encantava naquelas páginas eram as ilustrações. Passava minhas tardes, quando não estava brincando por aí, sentada na varanda da pequena casa da chácara, bebendo chá de erva-cidreira gelado e folheando os livros. Ficava fascinada (tanto quanto uma criança de 9 anos pode ficar) com tanta informação: eu podia criar minhocas; podia construir um poço; podia plantar lichias; fazer meu próprio requeijão.

Aos poucos, o bicho do "faça você mesmo" incutido por meu pai foi pegando, pegando, pegando... e hoje posso dizer que ele está confortavelmente instalado em mim. Praticamente construindo um condomínio na minha cabeça e criando netos.


Fazer pão, iogurte e sorvete toda semana já virou um hábito e satisfez meu ímpeto "deixa que eu faço" por algum tempo. Agora quero mais. Quero fazer manteiga, geléia, moer minha própria polenta, quero fazer queijo! Por isso, quando vi um post antigo (com receita) do From my home to yours sobre queijo cottage caseiro, fiquei alucinada. Além de alimentar minha loucura, posso ainda usar a desculpa da economia no supermercado, uma vez que como queijo cottage todo dia no café da manhã.

Achei incrivelmente fácil, e o queijo fica muito gostoso. No entanto, meu queijo não formou as pelotinhas maiores, típicas do cottage. Sua textura ficou muito mais para ricotta. Sem problemas: adoro ricotta, e vou continuar fazendo queijinho em casa, sim, senhora. Esse cottage/ricotta ficou ótimo com o pãozinho de leite e azeite da semana, tostadinho na torradeira...

PÃO DE LEITE E AZEITE (adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 2h30
Rendimento: 1 pão grande
Ingredientes:
  • 400g farinha de trigo para pães
  • 40g cristal açúcar orgânico
  • 8g sal
  • 12g fermento ativo fresco
  • 1 ovo
  • 200ml de leite integral
  • 30g azeite extra-virgem
  • 6g extrato de malte
  • 1 ovo para pincelar
Preparo:
  1. Esfregue o fermento entre os dedos, junto com a farinha, até que ele esteja bem esmigalhado. Junte o restante dos ingredientes e mexa com uma colher até começar a formar uma massa. Sove por cerca de 10 minutos, evitando acrescentar mais farinha. A massa é grudenta.
  2. Forme uma bola e deixe fermentando em local morno (25ºC) por 1 hora a 1 hora e meia.
  3. Devolva a massa fermentada para uma superfície ligeiramente enfarinhada e abra-a como um retângulo, amassando-a para retirar-lhe o ar. Dobre um lado em direção ao meio, como quem faz um avião de papel, repita com o outro lado e dobre uma aba sobre a outra, sempre selando bem as bordas. Role a massa sob as palmas das mãos para arredondá-la e dar-lhe o comprimento desejado. Coloque o pão em uma assadeira polvilhada com farinha de milho, cubra com um pano e deixe fermentar novamente, por cerca de meia hora.
  4. Pincele com o ovo e faça um talho com uma faca afiada. Leve ao forno pré-aquecido a 220ºC até que esteja bem dourado e emita um som oco ao bater-lhe em baixo com os nós dos dedos.

Cozinhe isso também!

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