quinta-feira, 24 de julho de 2008

Enquete: panelofobia


Se você pensou que essa enquete serviria para alguma coisa... errou! O único propósito dela foi matar minha curiosidade... Fico muito contente em saber que Anthony Bourdain e eu não estamos sozinhos com nossa paúra de panelas de pressão.

Sinceramente, nunca conheci ninguém que tenha de fato tido algum acidente com elas. No entanto, o medo está ali, encutido desde a infância, e há já muito tempo que decidi que panelas de pressão (assim como forno microondas e vampiros) jamais serão convidadas a entrar em minha casa.

Quando criança, era sempre a mesma ladainha. Assim que minha mãe colocava o feijão na panela, vinha o aviso: "Não entrem na cozinha, que a panela de pressão está no fogo". E eu continuava no sofá da sala, esparramada, semiconsciente, vegetando em frente à tv. De vez em quando olhava de soslaio para a panela, no fim da cozinha comprida, e ela respondia bufando, irritada, como um francês nervoso, tremelicando sobre a boca do fogão.

Tchuf, tchuf, tchuf... Era como um trem se aproximando, trazendo consigo o cheiro do feijão pronto.

O silvo agudo e entrecortado que ela emitia era o alarme que soava quando eu tentava atravessar a barreira invisível da porta da cozinha para apanhar um copo d´água ou, como era mais comum, o pacote de bolacha de chocolate. Sinal de que a hora era crítica para estar ali, e tudo o que conseguia imaginar era aquela remota possibilidade, descrita por minha mãe tantas vezes, de uma minúscula e inocente casca de feijão subir e entupir a válvula de escape da panela.

Não podia deixar de fechar os olhos e imaginar que aquele apito estridente era o prenúncio de uma explosão inevitável, como nos filmes de ação.

Quem tira uma imagem dessas da mente de alguém cabeça-dura e impressionável como eu?

Prefiro o planejamento, o deixar de molho os feijões durante uma noite inteira, colocá-los na minha pequena, bonita, confiável e nada explosiva panela de barro, e cozinhá-los durante umas duas horas, devagar, em fogo baixo. Não fosse pelo episódio dos feijões esturricados, diria que esse modo é 100% seguro.

Aos que têm medo de ingredientes estrangeiros, não temam: existe sempre alguém para segurar em suas mãozinhas trêmulas e explicar o que é o quê. [Mamãe, o que é umbu? — Ahm... posso pensar?] Aos que sentem calafrios ao ouvirem a palavra "merengue", relaxem a bisteca, logo logo eu faço um passo-a-passo das claras em neve para iniciantes. Você, ah, você que não flambaria um par de crêpes se sua vida dependesse disso... não se sinta sozinho: nunca flambei nada em minha vida porque, francamente, morro de medo de colocar fogo em minhas próprias sobrancelhas. Mas para tudo há uma primeira vez (para flambar e para queimar as sobrancelhas). Quanto aos outros medos bizarros, nada me resta a não ser curiosidade, então adoraria saber quais são eles. Possuidores de sinistras fobias culinárias, manifestai-vos!

Claro que, como tudo aquilo que é um desserviço à humanidade, essa enquete só podia terminar em pizza...


terça-feira, 22 de julho de 2008

Evitando a loucura com spaghetti alla canella

Há meses atrás, expus aqui no blog meu problema com o mofo do armário, aquele mesmo que, num delírio psicodélico, eu queria transformar em queijo, para ver se algo de bom saía daquele inferno.

Alguns meses depois, laje impermeabilizada, o antimofo do armário finalmente parece um antimofo normal, e não um enorme coletor semanal de água. Tudo parecia muito bem e resolvido, até o dia em que minha vizinha de baixo reclamou de um vazamento. Desde então, têm sido meses tentando descobrir de onde diabos vem a água, uma vez que a regularidade dos pingos não é condizente com nossos hábitos dentro de casa.

Depois de aturar mau humor da vizinha, sabonetagem de zelador, mancadas de encanador e em vias de ter de quebrar o piso do meu banheiro com mero objetivo exploratório (lembro a vocês que trabalho em casa e tenho um cachorro hiperativo de 20kg que precisa ser passeado de 3 a 4 vezes por dia), faltava a gota d´água para que eu pirasse de uma vez por todas e mandasse o vazamento e todo mundo em volta para o raio que os parta.

Acordei cedo no primeiro domingo do mês, tomei meu café da manhã de pé, rapidamente, e saí para uma prova de corrida. Voltei contente, suada, cansada, e resolvi que, antes de tomar um banho e tirar um chochilo, queria mais um café. Lavei minha bialetti, enchi-a de pó de café e coloquei-a sobre a chama acesa do fogão.

"Plec!"

O chão sucumbe sobre meus pés, dou um berro e pulo para o lado, chamando meu marido.

O piso da cozinha erguera-se como se alguém estivesse escavando um túnel por debaixo dele, no melhor estilo desenhos animados de domingo de manhã. Nunca vira aquilo acontecer com pisos, mas bastou fotografar a aberração e mostrar a meu pai [engenheiro, a culpa é dele se sou organizada, metódica e gosto de precisão nas coisas] para que ele nos explicasse que aquilo acontecera devido aos "diferentes coeficientes de dilatação do piso e das lajotas de cerâmica".

Uau.

E eu com isso? Metade da minha cozinha está sem piso, direto no cimento. E as lajotas continuam levantando sob nossos pés e, conseqüentemente, quebrando-se. Decidimos deixar todo o absurdo coberto com um lençol velho, para evitar que um de nós ou o cachorro ferisse os pés nas possíveis lascas de cerâmica.

"A cerâmica é antiga e a fábrica faliu", explicou a proprietária, quando cobrada a respeito do conserto. "Estou procurando em cemitérios de azulejos, mas ainda não decidi se vou trocar apenas esses ou se vou refazer todo o piso de uma vez."

Excelente.

Há de se convir que estou num humor admirável para quem tem cozinhado pisando em cacos cobertos por um lençol há um mês. Meus instintos assassinos andam sob controle por enquanto, mas é melhor não me deixar sair de casa com minha faca nova.

Hoje foi um dos dias, no entanto, em que não consegui ficar na cozinha por mais de dez minutos sem sentir chegando aquele surto permanente, definitivo, aquele que nos faz sair babando por aí para conversar com postes de luz. Para esse tipo de emergência piscológica, tenho na manga um dos pratos mais simples que um ser humano pode preparar na cozinha. Spaghetti alla canella faz parte do repertório da cozinha vêneta, e era exatamente o que eu queria e precisava: a simplicidade dos spaghetti, o calor do azeite, o exotismo e a picância da canela, transformando o que seria um prato preguiçoso em um almoço aconchegante, interessante e inventivo.

SPAGHETTI ALLA CANELLA
Tempo de preparo: 20 minutos
Rendimento: 2 porções


Ingredientes:
  • 200g de spaghetti
  • 2 colh. (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
  • 1/4 de colh. (chá) de canela em pó ou a gosto

Preparo:
Cozinhe os spaghetti em água com bastante sal segundo as instruções do pacote. No fim do cozimento, aqueça em fogo baixo o azeite de oliva em uma frigideira grande. Escorra a massa e coloque-a na frigideira, misturando por um minuto. Desligue o fogo, polvilhe a canela por cima e misture. Sirva imediatamente, com mais um fio de azeite e, se quiser, parmesão ralado à parte.

Cozinhe isso também!

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