quarta-feira, 10 de agosto de 2011

7grãos com pesto e verduras e meu fornecedor de orgânicos

Foi na semana em que Thomas nasceu que mudei muita coisa a respeito da minha cozinha e minha forma de comprar comida. Primeiro, porque imediatamente após a primeira mamada do bebê, dei-me conta de que tudo o que pusesse na boca viraria o corpo do meu filho. Segundo, porque a mudança em minha rotina me forçou a buscar soluções mais práticas, que não me tirassem de casa o tempo todo. E terceiro, porque só pensar nas fraldas descartáveis que ele usaria já me fazia tremer e querer compensar a natureza de alguma forma: trazer menos embalagens para casa e gerar menos lix, por exemplo.

Foi no blog Fogão Azul que encontrei a indicação para o website do Fernando, antes Cesta Orgânica, e agora renomeado Alimento Sustentável, que faz a distribuição de produtos de pequenos produtores de orgânicos, pescadores que trabalham com espécies sustentáveis e pesca não-predatória e produtores de queijos artesanais, como o queijo Serrano e o Canastra. Receber pela primeira vez aquela cesta de vime cheia de frutas e verduras soltas me deixou emocionada: finalmente aquilo me parecia coerente. Na semana seguinte, quando mais uma cesta foi entregue, a primeira foi devolvida, junto com o saquinho de pano onde vieram os cogumelos e a caixa onde vieram os ovos, para que tudo fosse reutilizado.

Ao longo desses meses, todas as minhas frutas e verduras têm vindo dele. Peço sempre uma grande quantidade de produtos, o que me força a preparar uma boa variedade nas refeições e a economizar as viagens ao mercado, onde acabo comprando apenas alguns poucos itens de mercearia e confeitaria que ainda não constam de sua lista.

O fato de ser tudo muito fresco ajuda um bocado (quase tudo é produzido em até 150km de São Paulo, e colhido praticamente no dia anterior à entrega). As verduras, depois de lavadas, secas e acondicionadas em potes fechados na minha geladeira, chegam a durar duas semanas ou mais, e as frutas têm vindo especialmente saborosas. Fazia anos que não comia kiwis tão doces. Aliás, escrevi esses dias um email ao Fernando, perguntando sobre a espécie de maçã que vinha na cesta (Gala, por sinal, pequenas, mas muito doces), e lhe contando algo bizarro que me acontecera: durante a semana em que ele não entregou os produtos, reorganizando o novo site, acabei comprando maçãs comuns no supermercado. Maçãs enormes, lindíssimas, Oregon, muito vermelhas, e Granny Smith, verdinhas. Foi fatiar a maçã Oregon para ter uma estranha surpresa: o movimento da faca estava manchando de vermelho a carne clara da fruta. Pensei que tivesse cortado o dedo. Olhei novamente e fiquei em choque: a casca vermelha era puro corante. Também a maçã verde, quando cortada, revelou-se tão verde-radioativa no interior quanto no exterior, como se lhe tivessem injetado aquela cor. "Isso não é normal", pensei. De volta às maçãs orgânicas, para sempre. :)

Desde então tenho me comprometido a consumir a maior quantidade possível de orgânicos em detrimento dos produtos "comuns", uma vez apresentada a devida qualidade. Até minha nêmesis aqui em casa, os "flocos de milho açucarados" daquele tigre maldito foram enfim abolidos, substituídos por sua excelente versão orgânica. O marido aprovou de boca cheia e o tigre não entra mais aqui.

Ironicamente, desde que comecei a comprar mais orgânicos, tenho gasto menos em supermercado. Justamente por limitar minha escolha de ingredientes ao que há disponível, muita compra por impulso foi impedida nesse processo. E, de quebra, sinto que, podendo fazer isso, estou, como diz Michael Pollan, "votando três vezes ao dia", estimulando a produção de algo em que acredito, na esperança de que um dia um tomate orgânico seja um tomate comum e não precise mais de predicado.

Esse almoço supimpa foi feito com as verduras da cesta e arroz 7 grãos orgânico. Aliás, a única coisa não-orgânica aqui era o extrato de tomate italiano (justo quem, mas fazer o quê? eu disse que estou tentando, e não que consegui). Tudo delicioso, adaptado novamente do livro Nature, de Alain Ducasse. Thomas olhava maravilhado para o prato colorido e esticava os bracinhos, tentando alcançar meu garfo. Não resisti. Mergulhei meu dedinho no arroz para lambuzá-lo bem e levei-o à boca do pequeno. Ele cheirou, esticou a linguinha para fora e experimentou. Primeiro o choque. Sabor novo. O que é isso? Então se refestelou, puxando meu dedo inteiro para dentro. Bom saber que gostou, filhão; isso um dia vai virar papinha para você. ;)

Para preparar o arroz, refogue meia cebola picada em um pouco de azeite. Junte 1/2 xícara de arroz 7 grãos, mexa um pouco, tempere com sal e acrescente 1 1/2xic. de água quente (ou a proporção de água indicada no pacote). Deixe ferver, tampe e cozinhe por 15 minutos. Destampe, junte 1 colh. (sopa) extrato de tomate, tampe novamente e continue cozinhando por mais 15 minutos, até que o arroz esteja cozido. Enquanto isso, corte 1 cenoura, 4-6 rabanetes e meio bulbo pequeno de funcho em fatias o mais finas possível. Reserve. Num pilão, ou num processador, triture um punhado de coentro, um de manjericão e dois punhados de salsinha acompanhados de 1 dente de alho pequeno, 1 colher (sopa) de amendoins crus (ou pinoli, ou castanha de caju, ou castanha do Pará...), 1 colh. (sopa) azeite e 3 colh. (sopa) de leite. Tempere com sal e pimenta. Na hora de servir, misture o arroz pronto e quente aos legumes fatiados e tempere com o pesto de ervas.

Para quem mora na área de entrega do Alimento Sustentável, recomendo muitíssimo: www.alimentosustentavel.com.br

Para quem acha que eu recebi alguma coisa por esse post, saiba que não: eu é que entrei em contato com o Fernando perguntando se poderia escrever a respeito e recomendá-lo. É justamente por não fazer propaganda por aqui que eu espero que vocês levem a sério minhas recomendações. :)




Cozinhe isso também!

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