quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Padaria de quinta-feira: Pão de forma com quinua (ou sem)

Foi por culpa da Fer que corri atrás dos livros da Tessa Kiros. Como ela, fico completamente encantada pelo resultado fenomenal de suas receitas enganosamente simples, pelas fotografias, pela delicadeza da edição. Quando comprei o Apples for Jam, no entanto, tive medo de ter me empolgado demais e ter levado para casa um livro talvez... básico demais. Mas é sempre bom dar uma chance, às vezes duas, a alguém, e o livro se revelou ao longo do tempo uma excelente aquisição. A primeira receita que testei foi para dar fim a alguns damascos importados e sem graça que eu tinha em casa. Nada melhora frutas meio sem gosto como cozinhá-las, e o Apricot Sauce me fez querer comprar mais damascos sem graça para comer aquele purezinho doce e alaranjado pelo resto da vida. Então foi a vez do iogurte com mel, canela, pecans e romã. E o delicioso "pão-soufflé" de vagens. E a focaccia. E tantas outras coisas.

Até chegar a esse pão de forma.

Sempre fico ligeiramente irritada com pães de forma feitos sem a tampa, quando suas laterais ficam lindas, douradas e apetitosas e a parte de cima, mesmo pincelando com ovo, parece não acompanhar aquele delicioso tom castanho. Não é o caso deste. O ovo, a manteiga e a bela quantidade de leite na receita tornam a massa bastante propícia a dourar lindamente sem ajuda nenhuma. E o miolo fica muito muito macio, e com um fantástico perfume amanteigado. A casca fica apenas ligeiramente crocante.

Não apenas isso, ele é FÁCIL de fazer. A massa é um nadinha grudenta, e por isso você a sova dentro da própria tigela [portanto escolha uma tigela bem grande], e mesmo sovando com uma só mão, do modo mais mequetrefe e desleixado do mundo, depois de dez minutos ela de fato fica mais macia, elástica e começa a desgrudar dos dedos. E como cresce, a danada! Portanto, se sua casa estiver beirando os 30ºC durante o verão (como acontece com a minha), use o leite em temperatura ambiente, ou mesmo gelado, para retardar um pouco a fermentação.

Quando resolvi preparar esse pão, estava um pouco atarantada na cozinha. Tinha muito trabalho para entregar, uma reunião no fim do dia, mas estava decidida a comer pão caseiro na manhã seguinte. Sabia que a massa não me roubaria mais do que 15 minutos de mistura, sova e molde, o que me fez sentir menos irresponsável enquanto ouvia o som tilintante de aviso de recebimento de emails que meu computador emitia a alguns metros de distância.

No entanto, faltando 2/3 de xícara de farinha para pães... bem, faltaram 2/3 de xícara de farinha para pães. O pote estava vazio, assim como o de farinha branca comum. Pensei no que fazer. Não tinha tempo para ir ao mercado. O pão não seria branco, então. E ao observar minha seleção de farinhas, foi a de quinua que escolhi. Por um momento temi que a massa sofresse pela falta de glúten da quinua, mas 1 hora e meia depois, ao ver o tamanho da massa crescida, joguei as preocupações para o alto.

O pão ficou ótimo, com um gosto bastante acentuado de quinua. Caso você ache a quinua muito forte, use apenas 1/3 de xícara, ou substitua esses 2/3 de xícara pela farinha que quiser, pois estou chegando à conclusão que essa é uma receita que aceita muitas variações. Segundo Tessa, você pode moldar a massa em vários pãezinhos, também, se quiser.

Alguns dias depois, o pão desaparecera da cozinha. Então, já munida de farinha tipo 1 orgânica (minha favorita para pães), resolvi fazer a receita original, sem mudar nada. Nham! Delícia!


PÃO COM QUINUA (ou não)
(ligeiramente adaptado do livro Apples for Jam, de Tessa Kiros)
Tempo de preparo: 3h30
Rendimento: 1 pão de forma grande

Ingredientes:
  • 1 xic. de leite integral morno (não deixe passar de 60ºC)
  • 1 tablete de 15g de fermento fresco
  • 1 colh. (chá) mel
  • 3 xic. farinha de trigo para pães ou orgânica (ou 3 2/3 xic. para a receita original, omitindo a quinua)
  • 2/3 xic. farinha de quinua orgânica
  • 1/2 colh. (chá) sal
  • 1 ovo, ligeiramente batido
  • 3 colh. (sopa) manteiga sem sal, derretida

Preparo:
  1. Coloque o leite, o mel e o fermento numa tigela grande, misture até o mel derreter e deixe fermentar por 5-10 minutos. Junte o ovo e a manteiga e misture bem.
  2. Junte as farinhas e o sal e misture até formar uma massa grudenta. Então com as mãos ligeiramente enfarinhadas, sove a massa por aproximadamente 10 minutos, dentro da própria tigela, até que ela pareça mais uniforme e elática, não necessariamente deixando de grudar nos dedos. Resista à tentação de adicionar mais farinha. 
  3. Forme uma bola, cubra a tigela com um pano de prato, e deixe em local morno e sem vento  (cerca de 21ºC, longe do sol direto) por 1h30 a 2h, até que a massa tenha dobrado de tamanho e seu dedo levemente pressionado na massa deixe uma marca que não volta para o lugar. 
  4. Unte ligeiramente uma forma de pão com manteiga e enfarinhe. Afunde a massa com o punho, forme uma bola novamente e então molde no formato da forma. Coloque a massa lá dentro, com a superfície mais lisa para cima, cubra com um pano e deixe fermentar novamente, por 40-60 minutos, ou até que a massa ultrapasse a borda da forma e seu dedo levemente pressionado nela deixe uma marca que volte lentamente para o lugar. Se a marca sumir imediatamente, deixe mais 10-15 minutos. Enquanto isso, pré-aqueça o forno a 190ºC. 
  5. Asse o pão por 25 minutos ou até que esteja castanho em cima e emita um som oco ao bater na parte de baixo com os nós dos dedos. Se o pão não estiver pronto, volte-o para forma e asse mais um pouco. Retire do forno, remova da forma e deixe esfriar sobre uma grade. Quando completamente frio, guarde-o em um saco ou pote bem fechado, em local fresco e longe do sol e consuma em poucos dias.

Cozinhe isso também!

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