domingo, 13 de janeiro de 2008

Fettuccine reconfortante para marido gripado em tarde de chuva

Para quem costuma publicar dois ou três posts por dia, eu até que dei uma desaparecida durante este fim de semana. É difícil cozinhar algo que valha a pena ser comentado quando se tem um marido febril, de cama, e uma tonelada de trabalho a ser feito. Ah, sim, pois não é porque sou freelancer que escapo dos ocasionais engarrafamentos de trabalho. O cliente enrola, enrola, enrola, e resolve que quer tudo finalizado em uma semana, quando o cronograma havia previsto um mês. Normal. Acontece. Mas quando acontece, é fogo. Já vou avisando, então, que esta semana será bastante atípica no La Cucinetta. Não sei se conseguirei cozinhar alguma coisa que preste e, se o fizer, se terei tempo de fotografar e escrever a respeito. Há quem acredite que vida de ilustrador é sossegada, pois "é só desenhar" o dia todo. Estou, no entanto, com um pepino colossal nas mãos, e tenho dois trabalhos de ilustração finalizando essa semana, ao mesmo tempo, ambos igualmente importantes, e um deles envolve a ilustração, digitalização e pintura de cerca de 200 peças. Só não comecei a arrancar os cabelos ainda porque sei que vai dar tempo. Tem que dar tempo. Preciso acreditar nisso.

Pensando na semana corridíssima, e lembrando-me de que talvez tenhamos convidados para jantar em casa no meio da semana, adiantei-me preparando o sorvete de creme, para servir com os ********* (segredo!) do próxima "Vítimas Culinárias". Desta vez, no entanto, usei a receita do The Ultimate Frozen Desserts Book, que foca em gelati, com muito mais gemas e uma proporção maior de leite em relação ao creme de leite. Concluí que esse livro é fabuloso (apesar de feinho e repetitivo) para sorvetes desse tipo, como chocolate, nozes, caramelo e afins. Ele peca nos sorvetes de fruta, usando muitas frutas em lata e (sabe-se deus lá como) em pasta. Enquanto isso, o The Perfect Scoop tem sido uma maravilhosa fonte de sorvetes de frutas frescas, mas peca um pouco nos mais leitosos, por excesso de creme de leite. O seu de baunilha tem um retrogosto muito carregado de gordura de creme de leite, o que não me agradou muito. Enquanto a receita do David produz um sorvete muito amarelo-pálido, quase cru, a de Bruce e Mark produz um creme amarelo forte como gemada bem batida. Ainda quero testar um dia a receita mais simples de todas que já encontrei para sorvete de creme, ou base de gelati, no Culinária Itália: gemas, leite integral e açúcar.

Como abrira o creme de leite fresco e usara quase nada de seu conteúdo para o gelato, achei que seria bom preparar o almoço com o que restara dele, para que não estragasse. Porque havia brócolis japonês orgânico na geladeira, adaptei uma receita de Jamie Oliver, do livro Jamie at Home. Usei o creme de leite fresco no lugar do crème fraîche, tomilho no lugar de manjerona, brócolis japonês ao invés do comum, parmesão ao invés de fontina, e um ovo inteiro ao invés de apenas gemas. Para um pouco da acidez que o crème fraîche conferiria ao prato, usei vinagre de Champagne, mais suave. O prato ficou deliciosamente reconfortante, com sabores bastante suaves e bem amalgamados, e pretendo repeti-lo outras vezes mais.

FETTUCCINE AO MOLHO DE BRÓCOLIS E CREME DE LEITE
(Adaptado do livro Jamie at Home)
Tempo de preparo: 30 minutos
Rendimento: 2 porções


Ingredientes:
  • 200g de fettuccine de ovos
  • 2 xíc. de ramos de brócolis e talos cortados finos
  • 125ml de creme de leite fresco
  • 2 xíc. de parmesão ralado grosso
  • 1 colh. (chá) de vinagre de champagne
  • folhas de 2-3 ramos de tomilho fresco
  • 1 ovo orgânico
  • 1 colh. (sopa) de manteiga sem sal
  • sal e pimenta-do-reino a gosto
Preparo:
  1. Leve 2-3 litros de água a ferver. Salgue bem e cozinhe o macarrão, os ramos inteiros de brócolis e os talos cortados bem finos.
  2. Enquanto isso, misture o creme de leite, o queijo, o vinagre, sal e pimenta e leve ao fogo baixo até derreter o queijo. Não deixe ferver. Tempere com sal e pimenta moída na hora.
  3. Escorra o fettuccine e o brócolis, e junte-o ao molho, mexendo bem. Junte a manteiga, o tomilho e o ovo batido e misture com dois garfos, rapidamente. Sirva imediatamente, com parmesão à parte.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

VÍTIMAS CULINÁRIAS 1: Doughnuts!!

Ok, esse é o primeiro Vítimas Culinárias, mas começou sendo justamente um crime sem vítimas. Hoje Allex acordou chumbado de gripe, com febre, e acabou ficando em casa. Então, nada de chamar ninguém aqui para comer doughnuts, mas eu simplesmente precisava fazê-los, como mera tentativa de deixar o marido de melhor humor.

Bom... a técnica funcionou.

Doughnuts são muito mais fáceis de se fazer do que imaginava. [É claro que sou obrigada a lembrá-lo de que costumo fazer grande distinção entre o que é difícil e o que é trabalhoso.] A massa é simples, com ou sem batedeira com gancho. Ela é inadvertidamente grudenta, no entanto. Mas depois do brioche, toda vez que me deparo com receitas de medidas exatas que produzem massas grudentas, eu resisto à vontade histérica de sair colocando xícaras inteiras de farinha e tento trabalhar a danada da melhor forma possível, mesmo que metade dela termine grudada em meus dedos. E esse é bem o caso da massa-desgraçada-que-não-quer-sair-do-meu-dedo. O importante é não desesperar, e tentar de alguma forma depositar a massa (desencane da idéia de transformá-la numa bolinha perfeita) em uma tigela enfarinhada para que fermente; tudo com a certeza de que, após fermentada, a massa será completamente manipulável (e será, eu garanto!).

Fora esperar uma fermentação de uma hora e meia, não há muito trabalho envolvido. Em uma batedeira, resolve-se a massa em 8 minutos. Enquanto fermenta, você limpa a batedeira e vai ler um livro. Passado o tempo exato, basta estender a massa (ela estende de forma surpreendentemente fácil e não gruda no rolo) e cortá-la com um cortador de biscoitos, um copo, ou qualquer coisa disponível. As rebarbas de massa podem ser reamassadas, reestendidas e cortadas novamente. Então deixam-se os doughnuts pálidos e desmilingüidos fermentando novamente. Enquanto isso, aqueci o óleo de canola. Em uma panela pequena, pois, já que não posso fritar vários de uma vez, para que a temperatura do óleo caia, não faz sentido usar uma quantidade abissal de óleo em uma panela grande.

Aí entra minha quinquilharia nova! É incrível como a vida torna útil objetos que sempre consideramos completamente estúpidos. Eu nunca — NUNCA — pensei que seria o tipo de pessoa que tem um termômetro para doces. Pois é. Mas agora eu sou. Fiquei tão encafifada com a receita dos doughnuts, não querendo estragá-los justamente nos 45 do segundo tempo, que corri para comprar um — incrivelmente barato — termômetro de doces, que pode ser usado em óleo quente também. Testei-o, como manda a embalagem, em água fervente, e fiquei feliz feito criança ao vê-lo marcar 100ºC. Desta forma, pude manter a temperatura do óleo a exatos 190ºC o tempo todo, garantindo doughnuts uniformemente dourados, com interiores cozidos à perfeição e bastante sequinhos. Principalmente, tive certeza de que teria dado tudo errado sem ele, pois fiquei muito surpresa ao ver quanto tempo demorou para que o óleo atingisse a temperatura certa. Eu teria jogado os doughnuts lá dentro na metade da temperatura, e teria produzido uma batelada de frituras encharcadas e mal cozidas. Adorei meu termômetro: tenho vontade de ferver até a água do macarrão com ele!

Na hora de cortar os benditos, entretanto, eu só tinha à disposição um cortador redondo que viera de brinde há séculos numa revista. E, na espessura que eu abrira a massa (1cm), ele produzia doughnuts de 35g, quando eu precisava de 45g. Tive, então, de recalcular o tempo de fritura, e reduzi-o de 2 minutos e meio para 1 minuto e meio.

Você pode, com os doughnuts fritos e já frios, fazer como vovó fazia com bolinhos de chuva, e simplesmente rolá-los em açúcar e canela. Mas nãaaaaao... Ana Elisa gosta de complicar. Como os favoritos de Allex são a rosca simples, com cobertura de chocolate, e o doughnut recheado de baunilha, cortei-os nos formatos certos (usando o descaroçador de maçãs para cortar o furo menor no centro da rosca), recheei de crème pâtissière os redondos (rolando-os no açúcar em seguida) e mergulhei na ganache de chocolate amargo as roscas.

Todo o trabalho com certeza compensou, ao ver o marido levantar da cama para comer os doughnuts e responder de boca cheia:

"Você está f*dida..."
"Por quê????"
"Porque isso ficou muito bom, e você vai ter que fazer sempre..."


DOUGHNUTS
(Ligeiramente adaptado do livro Professional Baking)
Tempo de preparo: 30 min. + 2h de fermentação + 20 minutos de fritura
Rendimento: 10-12 doughnuts


Ingredientes:
  • 120g de água morna
  • 4g de fermento ativo seco instantâneo
  • 25g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
  • 30g de açúcar
  • 4g de sal
  • 1g de noz-moscada ralada
  • 10g de leite desnatado em pó
  • 30g de ovo
  • 220g de farinha de trigo especial para pães
Preparo:
  1. Misture o fermento com parte da água e reserve.
  2. Bata a manteiga, o açúcar, o sal, a noz-moscada e o leite em pó até que fique homogêneo, mas não até afofar e ficar claro. Junte o ovo e misture bem.
  3. Acrescente o fermento e o restante da água e misture brevemente, incorporando a farinha até que forme uma massa uniforme mas ainda grudenta (na batedeira, 8 minutos em velocidade 2).
  4. Coloque em uma tigela enfarinhada e deixe fermentar por 1 hora e meia.
  5. Afunde a massa com o punho para retirar-lhe todo o ar e estenda-a com um rolo em uma superfície enfarinhada até a espessura de 1,2cm. Deixe a massa descansar por 5 minutos. Com um cortador de biscoitos, corte 10 círculos de 45g, aproveitando o espaço o melhor possível. Amasse novamente as rebarbas, estenda e corte novamente até tê-la utilizado toda. Se quiser roscas, corte um buraco menor (1-2cm) no centro e amasse essas rebarbas com as outras para reestender e cortar. Cubra com um pano e deixe fermentar até quase dobrar de tamanho.
  6. Enquanto isso, aqueça o óleo a 190ºC.
  7. Deposite com cuidado os doughnuts no óleo quente, de dois em dois, fritando-os por 2 minutos e meio, e virando-os 1 vez na metade desse tempo. Retire, deixe pingar o excesso de óleo e deixe que esfriem em uma única camada, sobre papel absorvente. Espere que esfriem completamente antes de rolá-los em açúcar, caldas ou recheá-los.

Cozinhe isso também!

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