Os comentários do post anterior com certeza me encheram de alegria. É sempre bom saber da experiência de quem foi mais ou menos pelo caminho que tento trilhar e que tem boas histórias para contar.
No mais, o "relaxômetro" anda atingindo níveis jamais vistos nessa casa nos últimos anos. Tanto, que até o pseudo-vegetarianismo anda mais "pseudo" que o normal.
Desde a gravidez da Madame Bochechas que ando encafifada com carnes, e tenho voltado a comer algumas, e com certeza tido vontade de preparar outras. No fim das contas, acho que todo mundo deveria ter uma fasesinha vegetariana na vida, por menor que seja. Mesmo que volte em definitivo a comer carne, esses últimos dez anos tornaram minha alimentação extremamente variada, leve e interessante, e certamente aprendi a cozinhar legumes direito. Mesmo que nunca mais volte a me auto-intitular "vegetariana", nunca mais conseguirei voltar ao hábito do bife no prato todo dia. Carne vira aquela coisa especial de vez em quando, ou apenas um ingrediente usado como tempero, para ressaltar o legume (caso do bacon, por exemplo).
Estranho que seja, mas uma das coisas que mais me deu vontade de voltar a comer carne foi assistir a programas de culinária em que a pessoa cria o bicho, mata ela mesma, limpa e aproveita cada pedacinho, do nariz ao rabo. Admiro isso. É o mínimo que se pode fazer, uma vez que você matou o animal: não desperdiçar absolutamente nada dele. Algumas preparações começaram a me apetecer muito, principalmente o aproveitamento das sobras, transformando em novos pratos, coisa que adoro fazer na minha cozinha com legumes e o que for. Sinto-me extremamente competente e me encho de satisfação quando consigo transformar um resto de ontem em algo mais saboroso que o prato original, sem desperdiçar coisa nenhuma.
Daí que pela primeira vez na vida, preparei um "escondidinho". Havia purê de mandioquinha do dia anterior, e um pote congelado de frango desfiado catado do frango assado que preparara há algumas semanas, e vi aquela oportunidade de um almoço gostoso para mim e para as crianças, aproveitando itens já prontos e que eu não queria simplesmente requentar.
Numa frigideira grande, refoguei em um naco de manteiga e um fio de azeite uma cebola picada, 2 dentes de alho picados, 1 cenoura pequena picada e 1 talo bem pequenininho de salsão, com as folhas também picadinhas. Quando tudo amoleceu e começou a dourar, juntei cerca de 2 xícaras de frango desfiado já descongelado, misturei, deixando cozinhar um pouco, acrescentei 2 tomates picados, um punhado de salsinha picadinha, sal e pimenta-do-reino. Deixei cozinhar um minutinho ou dois e juntei meia xícara de água. Deixei ferver, e reduzir, mexendo de vez em quando para não queimar, até que quase não houvesse nenhum líquido na panela. Provei. Faltava acidez, então acrescentei uma colher de sopa de vinagre de vinho tinto, misturei bem deixando evaporar, e transferi a mistura para uma travessa untada com azeite. Cobri com o purê de mandioquinha (cerca de 3 xic.) misturado a um pouco de creme de leite fresco até ficar com consistência boa para espalhar, um punhado de parmesão ralado, sal e pimenta-do-reino. Levei ao forno a 180ºC até dourar.
Ficou muito muito bom. Laura adorou. Thomas comeu só o purê. Marido nem soube da existência do escondidinho, uma vez que ele não come frango. Ficou bem escondido mesmo. ;) (Piada infame.)
Provavelmente aparecerão mais coisinhas carnívoras por aqui de vez em quando. Principalmente assados, coisa que sempre quis fazer. Um dado curioso, no entanto, é que de todas as carnes que provei depois de tanto tempo pseudo-vegetariana, de fato carne de boi é a que me nos gosto. Aliás, não gosto mesmo. Comi num hambúrguer e achei esquisitíssima. Engraçado perceber como eu comia dela por puro hábito quando nova. Gosto de aves. Adorei pato, que provei no meu aniversário do ano passado, pela primeira vez. Mas porco... ah, porco é a razão pela qual acho que nunca consegui ser totalmente vegetariana.
Aos vegetarianos que me leem, não se desesperem: continuo me sentindo melhor comendo uma dieta vegetariana em 90% das refeições. Carne é gostosa mas me pesa um bocado. E quero os pimpolhos com certeza crescendo sabendo que legumes bastam e que o bichinho no prato é ocasião especial.
Mas apesar de não gostar de carne bovina, tem uma coisa que eu simplesmente preciso fazer só pela técnica, e que provavelmente vou experimentar e chamar amigos carnívoros para raspar a panela por mim (já tenho gente na fila, aliás): boeuf bourguignon. Vá, vocês me entendem. Depois de tanto alarde a respeito nos últimos anos desde o fenômeno Julie & Julia, acho que só os vegetarianos mesmo é que não tentaram isso em casa. ;)
[Obs: juro que este ano vou tentar voltar a escrever mais por aqui, que sei que os últimos anos esse blog ficou às moscas.]
[Obs2: o mais engraçado de voltar a comer carne é a felicidade incontida dos seus amigos carnívoros quando você conta isso a eles.]
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Chips de couve criança solta no mundo
Foi um ano de siricuticos mil por pessoas de dentro e fora da família oferecerem ao moleque toda sorte de "coisas-comestíveis-semelhantes-a-alimentos-não-pré-aprovados". Desde o hambúrguer no buffet infantil, ao suco em pó radioativo, danoninho, gelatina diet, refrigerante light, cebolitos e miojo. Os dois últimos, aliás, colaboração do pai, o que causou um siricutico mais intenso que os outros.
Antes do Matador de Dragões começar a escola, eu sofria pensando em como eu não teria mais o controle total e completo (argh) sobre a alimentação dele, como ele experimentaria a bolacha de morango do amiguinho, tomaria suco de caixinha no passeio da escola e coxinha de frango não orgânico na festinha.
Ah, controle.
Sabe o que eu aprendi esse ano?
Que controle não existe.
E que eventualmente você precisa relaxar a bisteca e começar a confiar no trabalho que está fazendo. Tem que confiar que seu filho está, de fato, aprendendo alguma coisa com você. E está. No meio das birras do "não-como-não-gosto-não-quero" às vezes é difícil enxergar um futuro em que o Catador de Salsinhas coma couve-de-bruxelas.
Mas esse futuro está lá.
Porque ele cata a couve refogada de dentro do risotto, mas comeu todos os chips de couve e de lanche ainda apanhou a tigela com o que restara e mandou para dentro basicamente meio maço de couve sozinho.
Daí que foi isso o que matutei:
- O fato de seu filho comer danoninho na casa do amigo não me obriga a comprar danoninho também. E eu sei que esse é o maior pânico da mãe natureba: que o filho experimente e fique enchendo os pacová no supermercado para você comprar até você ceder. Pode pedir. Minha resposta será NÃO por toda a eternidade. Come na casa do amigo, então.
- Experimentar suco de caixinha no passeio da escola não faz seu filho desaprender a beber água ou chá sem açúcar. A não ser que você pare de dar água e chá sem açúcar e comece a embebedá-lo unicamente de suco de caixinha. [Meu maior medo continua sendo encontrar um dedão dentro da caixinha cujo conteúdo não se vê.]
- Não tem problema se ele experimentar do lanche do amigo. De repente o amigo experimenta do lanche dele, e isso é bom.
- Ninguém desaprende a gostar de comida de verdade.
- Se sua casa for esse oásis de comida boa, lugar onde ele come todos os dias quase todas as refeições, a coxinha mequetrefe do buffet não vai fazer a menor diferença.
- Presumir e aceitar o fato de que seu filho não está amarrado no seu pé, tem vida própria, experiências próprias e gostos próprios, e que vai sim comer o sanduíche de pão de forma industrializado, cream cheese light e peito de peru do amigo, e que isso NÃO VAI MATÁ-LO, traz de volta à sua vida aquela leveza da Era Pré-Filhos, quando você tinha menos preocupações.
- Se meu filho come chips de couve com a mesma empolgação com que come Doritos quando o pai abre um pacote, então está tudo muito, muito bem.
Está ouvindo isso? Preste atenção! É o som dos músculos dos meus ombros relaxando. ;)
CHIPS DE COUVE
Como pude deixar a moda dos "kale chips" vir e ir embora e não preparar isso antes?
Preste atenção, pois é SUPER complicado: lave e seque a couve, retire os talos (guarde para aferventar e refogar como qualquer outro legume, aliás), corte as folhas em quadrados grandes e tempere com azeite, sal, pimenta-do-reino e páprica doce (ou qualquer outra pimenta, ou nenhuma, se preferir); esfregue bem o tempero nas folhas, e espalhe-as em uma assadeira grande; leve ao forno médio (uns 180ºC) por 15-20 minutos, ou até que estejam secas e quebradiças, com cuidado para não queimar (fique de olho no tempo, pois vai depender da quantidade de folhas e se estão empilhadas ou em camada única). Só isso. Elas se mantém crocantes o dia todo, mesmo frias. Maneire no sal no começo, pois conforme elas perdem água, o sal concentra-se. Melhor acertar o sal com elas prontas.
O risotto de couve foi feito com meio maço de couve (a outra metade virou chips). Enquanto os chips assavam, refoguei a couve fatiada fininho em azeite e um dente de alho, com sal e pimenta-do-reino, e reservei. Na mesma panela, dourei um pouco de speck em cubos em mais um fio de azeite (pode ser bacon defumado; o speck foi trazido da Itália por minha sogra). Retirei, reservando o speck num pratinho e deixando o óleo e gordura do speck na panela. Juntei uma cebola picada e os talos da couve picadas bem miudinho, junto de uma pitada de pimenta-calabresa seca. Refoguei até amolecer e juntei uma xícara e meia de arroz arbóreo e 1/3 de xícara de purê de brócolis que eu tinha descongelado sem querer achando que era pesto de couve (a ideia era um risotto com couve de 4 jeitos diferentes – mas brássica é brássica, e couve e brócolis vão bem juntos – mas ainda quero refazer com o pesto, que teria dado um quê a mais). Prossegui com o risotto normalmente [clique aqui para ver o processo, caso tenha dúvidas], acrescentando caldo de legumes caseiro quanto bastou, e, quando ficou pronto, juntei um naco de manteiga, um punhado de parmesão, a couve refogada e o speck dourado. Tampei, deixei descansar alguns minutos e servi com mais parmesão ralado e os chips de couve por cima. Nham.
[DISCLAIMER: se há uma coisa que você descobre quando vira mãe, é que está SEMPRE errada. Sei que vai ter gente que não concorda comigo e que vai comentar que estou... bem... errada. Então lembre-se de que estou dividindo as MINHAS experiências aqui, e que isso não quer dizer que você tenha de começar a deixar seu filho comer danoninho na casa do amigo e nem que você mais esteja certa ou mais errada do que eu. Vivamos em paz com nossas diferenças.]
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