quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bolinhos de cenoura, o sucesso dos pepinos e a imprevisibilidade do paladar infantil

Já escrevi aqui algumas "dicas anti-stress" para alimentar uma criança pequena (ou pelo menos a MINHA criança pequena). Mas faltou uma. Uma boa para mãe que gosta de cozinhar mas não gosta de comer todo dia a mesma coisa: nunca presumo de antemão que o pequeno caçador de formigas vai recusar a comida que estou fazendo.

Porque é fácil fazer isso. Você, com uma vontade imensa de comer ensopado francês de peixe, imagina a criança lidando com aquele creme, os pedaços do peixe e frutos do mar, as texturas e temperos diferentes, a dificuldade com a colher, e repensa o jantar. E faz macarrão com molho de tomate, que é mais fácil. No dia seguinte, querendo soba com berinjela e manga, aparecem as mesmas inseguranças, seu dia foi cansativo, não está com o menor saco de lidar com criança birrenta... macarrão com molho de tomate. Pro pimpolho, apenas. Depois que ele vai dormir, você prepara seu soba para matar vontade.

Claro que às vezes eu caio nessa. Mas ando tentando não mais entrar na pegadinha da "comida fácil de criança". Principalmente quando Thomas me surpreende ao tomar um copo inteiro de lassi com água de rosas, chá de jasmim sem açúcar nenhum ou castanhas de caju crocantes e cheias de pimenta caiena. Nessas horas me lembro de que simplesmente não dá para prever o que uma criança vai gostar de comer ou recusar.

Tanto que, querendo ainda apresentar alimentos crus ao pimpolho, preparei essa raita? tzatziki? esse... pepino com iogurte para acompanhar os bolinhos de cenoura do Bill Granger. Presumi que ele comeria os bolinhos, pois bolinhos sempre fazem sucesso, e que talvez, se eu desse sorte, se interessasse em experimentar os pepinos, uma vez que estavam envoltos em iogurte e ele adora chuchar comida em molhos de qualquer espécie.

Surpresa: nem tocou nos bolinhos; comeu todo o pepino. o_O

Vai entender.

Fica a dica: não presuma nunca que o pimpolho vai ou não vai comer xis coisa baseado em experiências prévias. Lembra o vício em bananas do pequeno? Sumiu. Anda deixando bananas pela metade. Mas experimente deixar uma caixa de morangos à disposição. Tadinho, vai sofrer quando eles pararem de aparecer na banca orgânica.

Mesmo sem pimpolhos, no entanto, esse é um almocinho leve e muito gostoso. Apesar das inúmeras receitas, acabo fazendo os pepinos meio que sempre da mesma forma: fatiando fino, salgando e deixando numa tigela por um tempo, para sorarem. Espremo e descarto o líquido e misturo os pepinos a iogurte caseiro, um dente de alho bem picadinho, menta seca, cebolinha picada, pimenta-do-reino, um fio de azeite e mais sal, se julgar necessário.

Para os bolinhos, do ótimo livro Bill's Open Kitchen, de Bill Granger, misture numa tigela:
  • 60g (1/2 xic.) farinha de trigo
  • 125ml (1/2 xic.) de água com gás ou tônica
  • 1 ovo
  • 1/4 colh. (chá) de cominho moído
  • 1/4 colh. (chá) de sementes de coentro moídas
  • 1/4 colh. (chá) de cúrcuma
  • 1 colh. (chá) açúcar
  • 1 colh. (chá) de sal
  • 1 pimenta dedo-de-moça sem sementes e picada (ou a gosto)
  • 235g (1 1/2 xic.) cenoura ralada grosso
  • 8 talos de cebolinha picados
  • 25g (1/2 xic.) de coentro fresco picado
Aqueça uns 60ml de óleo numa frigideira grande e frite os bolinhos em porções de 2 colh. (sopa) cada, sem encher demais a frigideira. Frite por uns 2 minutos cada lado, até que dourem, escorra em papel-toalha e sirva quente, com um molhinho de iogurte à sua escolha ou os pepinos. Faz cerca de 12 bolinhos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Salada de arroz, pepino e mozzarella para um menino que ainda não come pepinos

Minha mais recente missão na cozinha tem sido ensinar o pequeno escalador de poltronas e perseguidor de Border Collie a comer coisas cruas. Agora que todos os seus dentes nasceram (os caninos já despontaram todos, e eram só os que faltavam), ele está pronto, a meu ver, para qualquer tipo de textura. Qualquer rejeição da sua parte será efeito do gosto ou costume, e não de uma dificuldade em mastigar, como era antigamente o caso de alguns alimentos como folhas e feijões. 

Foi engraçado notar que o primeiro entrave dele foi ter algo frio em seu prato na hora do almoço ou jantar, quando a comida vinha sempre fumegante. Juro que podia ver em seus olhinhos a expressão inconformada de "não vai esquentar isso não, mãe?". Mas aos poucos a coisa vai andando. 

Comecei com cenouras, que são doces, e que já haviam figurado cruas em seu prato há muitos meses atrás, quando usava apenas as gengivas para mastigar. Raladas bem fininhas, naquela textura para bolo de cenoura, elas viravam quase um purezinho cru, naturalmente docinho. Já naquela época eu misturava a passas escuras, temperava com sal, pimenta-do-reino, uma boa quantidade de azeite e um salpicar de vinagre de jerez. (Segredo de uma boa salada de cenoura: não economize no azeite ou óleo utilizado; salada de cenoura muito seca fica sem gosto.) A única diferença dessa para uma de minhas saladas de cenoura favoritas é o tamanho da cenoura ralada. Logo, quando preparei a versão adulta, com a raiz ralada grossa, não foi um estranhamento tão imediato. Ele olhou, olhou, apanhou uma passa, outra, e logo havia devorado toda a salada. 

Depois foram os tomates. Thomas come qualquer coisa que esteja envolta em molho de tomate, mas toda vez que eu colocava tomates frios no seu prato, ele estranhava e não comia. Mesmo quando tentei um molho de macarrão com tomates crus. Comeu toda a massa, deixou todo o tomate no prato. Desta vez, para acompanhar a omelete de talos de espinafre [melhor jeito de preparar talos de espinafre para qualquer uso: cozinhar em água fervente com sal até que fiquem bem macios, escorrer e refogar em alho e manteiga, temperando um pouquinho de suco de limão], fiz os tomates picadinhos, apenas temperados com sal, pimenta, azeite e vinagre de jerez, que junto com o de maçã é dos meus favoritos. Demorou, enrolou, fez que fez, não foi, acabou experimentando. E no que experimentou, tive de dar o que havia também no meu prato. 

Os pepinos tem sido mais difíceis. Tentei palitinhos de pepino temperadinhos, imaginando que ele acharia divertido mordiscá-los, mas nada. Quando mais novo, ele engasgava com folhas verdes que não estivessem bem picadinhas, e por isso criou uma cisma com coisas verdes grandes no prato, a não ser que sejam abobrinhas. Via de regra: se estiver irremediavelmente misturado ao resto, ele come as coisas verdes; se estiver remotamente separável, ele separa. Cuidadosa e meticulosamente. Então quando servi essa salada quente de arroz com pepinos e mozzarella, lá foi ele separar os pepinos. Eventualmente comeu um ou dois, meio que por engano. Mas eu não desisto. A próxima tentativa será num tzatziki, pois ele gosta um bocado de iogurte e adora comer qualquer coisa melequenta. Ainda estou pensando na melhor estratégia para apresentá-lo às folhas de alface. Hmmm...

Enquanto isso, esse é um almocinho tranquilo e gostoso: arroz integral cozido, misturado a pepinos fatiados bem fino, deixados previamente salgados durante o tempo de cozimento do arroz, e espremidos antes de serem juntados ao arroz ainda quente. Mozzarella de búfala em pedaços, algumas folhas de manjericão, cebolinha picada, casca ralada de um limão e um vinaigrette de azeite, suco de limão, sal e pimenta-do-reino. A proporção de arroz, pepinos e queijo depende do gosto do freguês: se estiver de dieta, mais pepinos; se for uma grávida faminta, mais arroz. ;)

Cozinhe isso também!

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