sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Primeiro bolo da casa nova: banana, coco e pecãs

Eita.

Janeiro foi um mês de correria desenfreada, esforço além da conta, encaixota, desencaixota, arruma, organiza, joga fora, monta, compra, instala, conserta, anda prá lá, corre prá cá, carrega, leva, traz, limpa, esfrega, aspira, coloca no lugar.

E ainda não acabou.

O quarto ainda está sem lustre, minhas tralhas de arte ainda não têm armário, o quarto do bebê ainda é um depósito do que não tem lugar definitivo, o depósito ainda tem latas de tinta, a cozinha não tem prateleira embaixo da pia, e quase todas as minhas formas e panelas continuam dentro de uma enorme caixa de papelão, esperando seu destino final.

Não estivesse grávida, talvez estivesse tirando tudo isso de letra, mas confesso que não foram poucas as noites de pés inchadíssimos em que quis sentar no chão e chorar de exaustão. Não via a hora de poder olhar em volta e começar a me sentir razoavelmente em casa, ao invés de ter aquela estranha e inquietante sensação de estar morando na casa de praia de outra pessoa.

Saí tanto da minha rotina (e sou metódica, lembram?), que quando fui ao mercado pela primeira vez depois da mudança, não fazia a menor ideia do quê comprar para preencher a geladeira vazia. Senti-me como uma mocinha recém-casada que não sabe preparar arroz. Demorei alguns bons dias para restabelecer a força de vontade e a confiança em preparar uma refeição na cozinha nova: esse espaço estranho onde as coisas não estão em seu lugar e onde você ainda não sabe se movimentar direito.

Bem... o resultado da maratona toda foi que, além de desidratar um bocado na onda de calor da semana passada, fiquei anêmica. O médico não acreditava no resultado dos exames, feitos há alguns dias atrás. "Mas você come tão direitinho...", balbuciou ele. "Não esse mês", expliquei. Durante os 30 dias que o processo de mudança levou, vi minha dieta balanceada ser rapidamente substituída pelo que eu chamo de "O Modo Como os Outros Comem": muita comida pronta, muito take-out, muito pão com queijo, suco mequetrefe, refrigerante, comida rápida, restaurante. Detalhe: não estou falando de McDonald's e lasanha congelada, mas as opções TEORICAMENTE mais saudáveis do mundinho do industrializado. Aquelas que dizem não ter gordura trans e estar cheias de vitaminas.

Se por um lado fiquei enfurecida e chateada com o resultado dos exames (sem contar preocupada), por outro senti-me profundamente convicta de meu estilo de vida. Minha comida me deixava saudável. O Modo Como os Outros Comem, não. Para onde foi a vitamina C do suco de laranja de garrafa? Pro meu corpo é que não foi. Enquanto isso, minhas laranjas orgânicas, minha salsinha e meu espinafre nunca me deixaram na mão. Se eu já não acreditava em inserção de nutrientes em alimentos, em vitaminas isoladas, agora o negócio ficou feio.

Era o chute na busanfa que faltava para me jogar de volta ao fogão. Fui ao mercado e comprei tudo o que gostaria de ter preparado em janeiro e não pude, tirei algumas panelas da caixa e mãos à obra. A primeira garfada no arroz integral com noz moscada e pecãs, omelete e salada de tomates orgânicos me fez suspirar e perceber o quanto eu sentira falta de minha própria comida. Há um frescor nela que não encontrei em nenhum outro lugar no mês que se passou.

Isso também me fez correr para minha estante de livros de culinária. Mesmo mandando alguns volumes embora, eu continuava acreditando que havia mais livros ali do que deveria. Eles continuavam ocupando duas fileiras, uma atrás da outra, nas prateleiras, e isso me incomodava. Em contraste com o que já estava organizado na sala, aquilo parecia incrivelmente entulhado. Retirei todos do lugar então, e comecei a guardá-los novamente. Primeiro, meus favoritos. Depois, os que ainda estou explorando. E então me dei conta da quantidade de livros que andava guardando que estava sem uso. Não por serem ruins, mas porque não condiziam mais com o tipo de cozinha que, hoje em dia, mais me agrada. Passara pela fase de exploração de técnicas complicadas de confeitaria ou de pratos "práticos" ou excessivamente rebuscados, e, no meio do processo, encontrara meu nicho: confeitaria americana e italiana, bem confort food, e pratos muito frescos, não necessariamente rápidos de fazer, mas usando ingredientes bons e acessíveis.

Coloquei na pilha do UT todos aqueles que não entravam mais nessas categorias. E vi minhas prateleiras finalmente limpas, em fileira única, contendo apenas os livros que eu de fato uso e aprecio. Mais de 100 livros tornaram-se 70. Um bocado ainda, eu sei, mas eu realmente uso esses 70. Eu juro.

Reenergizada por essa limpeza e pela boa comida, achei que era hora de fazer minha cozinha nova ter cheiro de bolo. Antecipando a nova (e bem-vinda) correria que acontecerá daqui a 8 semanas (e também porque a tomada reservada para minha batedeira ainda não está funcionando), escolhi uma receita simples da dona Martha Stewart, que não apenas pode ser feita com uma colher, como faz dois bolos, um dos quais será congelado para uso posterior.

Foi muito bom ter agora o apoio de uma mesa na cozinha, além da pia e da bancada. Ver o livro de receitas aberto com espaço entre as tigelas, sem ficar caindo da beirada, foi reconfortante. Quando a casa se encheu do perfume quente de banana, coco e nozes, a sensação dos ladrilhos antigos na sola dos pés pareceu subitamente familiar. Ver o cão deitado sob a mesa da cozinha pareceu uma imagem habitual, e eu finalmente me senti em casa.

O bolo ficou fantástico. Muito macio e saboroso, cheio de texturas, perfumadíssimo. Comi duas fatias, uma após a outra. Posso agora retomar minha rotina. Minha cozinha, minha comida, meus legumes, meus bolos. Em dois dias comendo minha comida (que tem muito pouco sal), meus pés desincharam consideravelmente e meu humor melhorou um bocado. Nunca mais. Nunca mais vou comer dO Modo Como os Outros Comem. Principalmente agora, com mais espaço para minhas desventuras culinárias. É hora então de me preparar para mais um período em que não terei tempo ou forças para cozinhar. Mas desta vez, haverá muitos pães, bolos, caldos e bases de torta congelados. Tudo caseiro. Tudo de verdade. E meu bolo de banana.

BOLO DE BANANA, COCO E PECÃS
(do Livro Martha Stewart's Baking Handbook)
Tempo de preparo: 20 min. + 60 min. de forno
Rendimento: 2 bolos ingleses

Ingredientes:
  • 3 xic. farinha de trigo
  • 1 colh. (chá) bicarbonato de sódio
  • 3/4 colh. (chá) sal
  • 3 ovos grandes, orgânicos
  • 2 xic. açúcar orgânico
  • 1 1/3 xic. óleo vegetal
  • 2 colh. (sopa) extrato natural de baunilha
  • 1 1/2 xic. bananas maduras amassadas (cerca de 3 nanicas)
  • 1 xic. coco ralado
  • 1 xic. pecãs, tostadas e picadas
  • 1/2 xic. buttermilk (leite + uma colherinha de vinagre)

Preparo:
  1. Unte com óleo em spray ou manteiga duas formas de bolo inglês e pré-aqueça o forno a 180ºC. 
  2. Numa tigela, misture com um fouet a farinha, o bicarbonato e o sal. Em outra, misture os ovos, o óleo e o açúcar, até que fique homogêneo. 
  3. Junte a farinha à mistura de ovos, misturando com a colher apenas até que não se vejam mais pontos de farinha. Acrescente a baunilha, a banana, o coco, as nozes e o buttermilk e misture apenas o bastante para que fique tudo bem combinado. 
  4. Distribua nas formas, alisando com a espátula de necessário, e leve ao forno por 60-65 minutos, invertendo as formas no meio do tempo. Asse até que um palito inserido no centro dos bolos saia limpo.
  5. Retire do forno e deixe esfriar sobre uma grade por 10 minutos antes de desenformá-los. Remova das formas e deixe que esfriem completamente. Bem embalados, os bolos ficam em temperatura ambiente por 1 semana, ou congelados, por 3 meses.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Grandes mudanças. De verdade.

Esse dia tinha de chegar, eventualmente. Afinal, uma mesa de desenho, um cachorro e um bebê não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Logo, estamos nos mudando.

O que era para serem férias tornou-se uma maratona de contratação de serviços de mudança e reforma, compra de materiais e todos aqueles extras que surgem quando se muda de casa, e muito, muito empacotamento. Começamos pelos livros, que pareciam ser – e foi confirmado – a maior quantidade de itens do apartamento. Mesmo mandando 84 livros para doação, ainda conseguimos empacotar 10 caixas, sendo 4 só de culinária. Não vou nem dizer que há mais dois livros a caminho via Amazon nesse mesmo instante... vício maldito. Mas, como eu sempre digo, poderia ser pior: poderiam ser sapatos.
Enquanto tiro as coisas de seus lugares, avalio, separo em "fica" e "vai" e empacoto, ainda é preciso fazer um esforço para terminar com toda a comida da geladeira. Para dar fim às 9 claras congeladas, sobras dos sorvetes feitos no Natal, preparei um Angel Food Cake. Assá-lo pela segunda vez [agora confiando no palito limpo e sem a paranóia de querer dourá-lo além da conta] só fez confirmar meu veredito original: esse bolo é delicioso. E fácil, o danado! 

Os mirtilos congelados não são o suficiente para uma sobremesa, mas amanhã pontilharão de azul minhas panquecas. Hoje à noite, o caldo de legumes caseiro congelado se misturará ao restante do arroz arbóreo e virará um risotto de legumes de verão, com vagens, tomates e milho verde. O almoço agora foi o último pezinho de alface americana misturado a tomates, croûtons de ciabatta, mozzarella de búfala e manjericão. E um copão de chá vermelho gelado, que é uma delícia. A partir de hoje, tudo será preparado na única panela e frigideira não empacotadas e consumido nos únicos dois copos e duas tigelas deixadas de fora. E de volta ao empacotamento e ao trabalho, pois as "férias" terminaram. 

Nisso, resolvo empacotar meu armário. Apesar de só me mudar daqui a uma semana, não faz sentido para mim deixar isso para a última hora, se apenas 1/5 do meu guarda-roupa serve no meu momentâneo e crescente barrigão. Melhor que vá para a caixa de uma vez.

Todo mundo que se muda sabe como é: retirar suas coisas dos armários faz você ficar se perguntando por que diabos guardou aquela xícara lascada que ninguém usa, aquela sandália de tira estourada que você nunca mandou consertar, etc... Mais do que mandar embora itens quebrados e sem serventia, estou tentando aplicar alguns conselhos aprendidos no Zero Waste Home e no Apartment Therapy:
  • Não ter nada que você não ame. Se você gosta mais ou menos, mande embora.
  • Se tem valor sentimental, deixe à mostra; se for para guardar numa caixa no fundo de um armário, não faz sentido: jogue fora.
  • Só manter aquilo que você de fato usa regularmente.
Tem sido fácil e interessante exercitar o desapego. Estendemos um lençol na sala e estabelecemos aquele espaço como o "out box" [que acabou virando "UT box", depois que comecei a brincar de falar com um sotaque nórdico inventado].  Viraram "UT" livros de culinária ruins, literatura mequetrefe ou que não pretendemos ler de novo, repetidos, séries de quadrinhos incompletas, livros de referência ou técnicos ultrapassados e mesmo minhas gramáticas de Latim e Grego Antigo, compradas quando eu era nova e tinha tempo para aprender idiomas sozinha, mas que ficarão ainda mais abandonadas depois que meu filho nascer. É preciso ser realista: se eu não tenho tempo agora, terei menos ainda depois.

Também foram pro "UT" canecas sem uso, copos chatos de lavar, TODOS os potes e utensílios de plástico (que já foram ou serão substituídos por vidro e inox), cd's que não ouvimos mais, suas versões "pirata", toalhas velhas, e uma miríade de objetos sem nenhuma utilidade que vinham apenas ocupando o escasso espaço de nosso pequeno apartamento. Minha regra mental é não levar nada que precise ser guardado "lá atrás", no depósito: se não tiver espaço em seu respectivo cômodo é UT.

Quando o cão resolveu tirar um cochilo sobre o lençol, corremos para tirá-lo de lá. "O Gnocchi não é UT! Ele vai com a gente!" ;)

É catártico e um alívio pensar que só estamos levando para o apartamento novo aquilo que é de fato útil. Principalmente pensando que daqui a dois meses e meio teremos um novo membro da família acumulador de tranqueiras.

Mas voltando ao armário. Tenho plena consciência de que faz muitos parágrafos que parei de falar de comida, e eu juro que o próximo post será exclusivamente a respeito de feitos culinários. Mas eu precisava dividir meu espanto com alguém.

Separei as roupas que me servem e que serão usadas pelos próximos sete dias, e comecei a retirar o restante do armário. Conforme fui redobrando as peças, aproveitei para, mais uma vez, separar o que eu não queria mais. Olha, separa, dobra, empilha. Levei minhas poucas malhas para a caixa de papelão e voltei para o quarto. Observei as pilhas de blusas, saias, vestidos e calças. E me parabenizei mentalmente. Parecia pouco, considerando a gaveta de pijama e roupas de ginástica no armário e os poucos casacos de inverno ainda nos cabides. 

Então, só por curiosidade, resolvi contar. 

Eu desafio todo mundo que, como eu, acha que não tem um guarda-roupa imenso, a contar o número exato de peças que tem no armário. Você diria que nessa foto há 54 blusas, 15 vestidos, 8 saias e 7 calças?? O que mais me incomodou foi o número de blusas. No volume parece pouco, pois mulheres usam tecidos fininhos que não ocupam espaço. Mas elas estão lá. Todas elas. E fiquei me perguntando: por que diabos uso todo dia a mesma coisa se tenho 54 opções? Ou pra que demônios tenho 54 blusas se uso sempre as mesmas três ou quatro favoritas? Ou ainda pior: 90% do que está aí já não me serve há 3 meses e não tenho sentido falta de usar quase nada.   

 Choque total.

Se eu, que compro uma roupa nova por ano, tenho tão mais do que preciso, fiquei imaginando o pessoal que não consegue ver liquidação sem entrar. O que me deixou ressabiada foi me dar conta de que eu ando por aí de blusa furada e reclamando, enquanto tenho várias peças bonitinhas guardadas "para uma ocasião especial". :P
Tudo o que está na foto vai para o armário novo. Mas com uma missão: assim que eu voltar a ter cintura [o que eu espero que volte a acontecer, e acho que vai, porque engordei só 1kg por mês até o momento], vou me dar um prazo de 6 meses para usar essa roupaiada. O que não sair do cabide, virará UT.

Engraçado foi ver o guarda-roupa inteiro cabendo em uma única caixa, enquanto há mais três de mesmo tamanho para itens de cozinha, sendo uma APENAS de formas e assadeiras. Dá pra ver bem qual é minha prioridade na vida.

Enquanto eu me livro das tralhas e encaixoto cinco anos da minha vida, resta esperar ansiosa pela cozinha nova, bem maior, finalmente, com espaço para muitas futuras desventuras culinárias. :)

Cozinhe isso também!

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